Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Contextos Clínicos, 10(1):99-109, janeiro-junho 2017 Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2017.101.08 Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados. Resumo. A literatura descreve que usuários de drogas apresentam baixos escores em habilidades sociais e que estas podem ser desenvolvidas atra- vés do Treinamento em Habilidades Sociais (THS). Entretanto, carecem de sistematizações sobre tal intervenção no contexto nacional e internacional. Dessa forma, objetiva-se identificar estudos empíricos sobre o THS para usu- ários de drogas em tratamento, analisando como a intervenção vem sendo utilizada, principais benefícios e eventuais limitações de sua aplicação com esse público. Trata-se de uma revisão sistemática de literatura nas bases de dados Medline Complete, Scopus, IBECS, Index Psi e LILACS. Foram utili- zados os descritores e operadores booleanos “social skills” AND “training” AND “substance-related disorders”. Foram incluídos cinco artigos que con- templaram os critérios de inclusão: ser artigo empírico, ter como público- -alvo pessoas com transtorno por uso de substância e ter utilizado o THS no tratamento do uso de drogas. Observou-se que a intervenção vem sendo realizada de maneira complementar a outras técnicas, mostrando-se bené- fica no aumento das habilidades sociais em usuários de drogas. Todavia, a maioria dos estudos não apresentou resultados que fossem exclusivos do THS, carecendo de instrumentos específicos para a avaliação das HS. Tal questão implica na necessidade de estudos que identifiquem os efeitos do THS e descrevam detalhadamente seus procedimentos. Palavras-chave: habilidades sociais, treinamento, transtorno relacionado ao uso de substâncias. Abstract. Literature describes that drug users have low scores in social skills and that these can be developed by the Social Skills Training (SST). Howev- er, they need systematizations about such intervention in the national and international contexts. Thus, the objective of his paper is to identify empiri- cal studies on SST for drug users in treatment, analyzing how the interven- tion has been used, benefits and possible limitations of its application with this population. This study is a systematic review of literature on Medline Complete, Scopus, IBECS, Index Psi and LILACS. The descriptors and bool- ean operators “social skills” AND “training” AND “substance-related dis- orders” were used. There were included five articles that contemplated the inclusion criteria: empirical article, having as target people with disorder by substance use and who have used SST in the treatment for drug use. It was observed that interventions have been performed to complement oth- er techniques, being beneficial to the increase of social skills of drug users. However, most studies did not show results that were unique to the THS, Treinamento em habilidades sociais para usuários de drogas: revisão sistemática da literatura Social skills training for drug users: Systematic literature review Jéssica Limberger, Vanessa Trintin-Rodrigues, Bruna Hartmann, Ilana Andretta Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei, 93022-750, São Leopoldo, RS, Brasil. jessica.limberger.psi@gmail.com, vantrintin@gmail.com, bruna.hartmann@hotmail.com, iandretta@unisinos.br Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017100 Treinamento em habilidades sociais para usuários de drogas: revisão sistemática da literatura As habilidades sociais são consideradas como importantes fatores de proteção ao de- senvolvimento humano, relacionando-se ao menor risco para o uso drogas (Larrosa e Palo- mo, 2010; Morales et al., 2011; Seitz et al., 2013; Torres et al., 2006). Tais habilidades constituem um conjunto de comportamentos emitidos por uma pessoa em seu meio social, através dos quais expressará os seus sentimentos, opiniões e direitos, de maneira adaptativa e assertiva, diminuindo a probabilidade do surgimento de dificuldades futuras (Caballo, 2003). A avaliação do prejuízo no repertório de ha- bilidades sociais se dá a partir de instrumentos de autorrelato e de protocolos observacionais, além da identificação de déficits de aquisição, de desempenho e de fluência (Barreto et al., 2011; Del Prette e Del Prette, 2010). Com base nisso, entende-se que o sujeito que nunca emi- te determinada habilidade apresenta déficit de aquisição, pois a habilidade não está presente em seu repertório. Já o sujeito que emite a ha- bilidade avaliada apenas às vezes, manifesta prejuízo de desempenho, indicando a presen- ça dessa habilidade em seu repertório, mas lhe falta motivação ou incentivo para tal. Por sua vez, percebe-se falha de fluência na emissão de habilidades sociais quando o indivíduo emite a habilidade com grande dificuldade, sem ser algo espontâneo (Barreto et al., 2011). Prejuízos nas habilidades sociais podem contribuir com o uso de drogas, na medida em que os usuários se utilizam da droga como uma maneira desadaptativa de lidar com as pressões externas e as situações interpessoais (Sá e Del Prette, 2014). Além disso, ser inábil socialmente ocasiona piores respostas fren- te ao uso de drogas, dificultando a recusa de drogas principalmente nas relações próximas, conforme apontam revisões sistemáticas (Viei- ra e Feldens, 2013; Wagner e Oliveira, 2007). Estudos internacionais apontam prejuízos nas habilidades sociais de usuários de drogas. Em um estudo norte americano, realizado com 250 homens, identificou-se que quanto menor a habilidade de recusa de drogas, maior era a frequência e a quantidade de uso de metanfe- tamina (Semple et al., 2011). Por sua vez, défi- cits nas habilidades sociais de enfrentamento/ autoafirmação com risco e conversação e de- senvoltura social foram encontrados em usuá- rios de drogas ilícitas, quando comparados ao grupo de não usuários, conforme um estudo português com 124 participantes (Sintra et al., 2011). Além disso, baixas habilidades sociais foram evidenciadas em usuários de álcool, com diferenças estatisticamente significativas quando comparados com o grupo de não usu- ários, conforme um estudo italiano, com 44 participantes (Amenta et al., 2013). No contexto brasileiro, prejuízos nas habi- lidades de conversação e desenvoltura social e autocontrole da agressividade em situações aversivas foram identificados em usuários de crack, com diferenças estatisticamente signi- ficativas em relação ao grupo controle, em um estudo com 113 participantes (Schneider, 2015). Outro estudo brasileiro, com 63 mu- lheres usuárias de crack, evidenciou déficits na conversação e desenvoltura social, autoex- posição a desconhecidos e situações novas e autocontrole da agressividade em situações aversivas (Limberger e Andretta, s.d.[a]). Por sua vez, déficits na autoexposição a desco- nhecidos e situações novas e autocontrole da agressividade em situações aversivas foram identificados em adolescentes usuários de maconha, com diferenças significativas em relação ao grupo controle, conforme um estu- do brasileiro com 98 participantes (Wagner e Oliveira, 2015). Diante dos prejuízos de usuários de subs- tâncias psicoativas nas classes específicas de habilidades sociais, estudos sugerem a rea- lização do Treinamento em Habilidades So- ciais - THS (Del Prette et al., 2015; Hulka et al., 2014; Limberger e Andretta, s.d.[a]; Petersen et al., 2007; Wagner e Oliveira, 2015). O THS é uma intervenção vivencial, de caráter gru- pal, que objetiva a prática de comportamen- tos específicos de habilidades sociais, a fim de que novos comportamentos sejam integrados no repertório do indivíduo (Caballo, 2003; Del Prette e Del Prette, 2011). Para tanto, são utilizados procedimentos como instruções, modelação, ensaio de comportamento, retro- so that there is the need for special tools for assessing socialskills. This issue implies the need for studies to identify the effects of SSTT and describe its procedures in detail. Keywords: social skills, training, substance-related disorders. Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017 101 Jéssica Limberger, Vanessa Trintin-Rodrigues, Bruna Hartmann, Ilana Andretta alimentação e reforço (Caballo, 2003). Nessa perspectiva, compreende-se que o THS para usuários de drogas pode contribuir no desen- volvimento das habilidades deficitárias e no aperfeiçoamento das habilidades existentes (Limberger, 2016). Intervenções com vistas a prevenir o uso de drogas têm utilizado o THS principalmente no contexto escolar, apresentando resultados favoráveis tanto na melhora de habilidades so- ciais, quanto na redução e prevenção de com- portamentos de risco (Dias et al., 2015). Con- forme uma revisão sistemática da literatura nacional sobre o THS, evidenciou-se que a in- tervenção foi utilizada na prevenção primária, secundária e terciária, inclusive no contexto escolar, com o público de alunos, pais e pro- fessores, apresentando resultados positivos (Murta, 2005). Entretanto, apesar da importân- cia apontada pela literatura, o THS com usu- ários de drogas ainda é pouco difundido e a literatura ainda se mostra incipiente, tendo em vista que o foco dos estudos sobre habilidades sociais e drogas têm sido de caráter avaliativo e não com ênfase nas intervenções (Schneider et al., 2016). De acordo com uma revisão sis- temática da literatura nacional e internacional acerca das habilidades sociais e uso de drogas, no período de 2004 a 2014, foram encontrados 13 estudos. Destes, apenas três avaliaram os resultados do THS em tal população, sendo duas intervenções de caráter preventivo e ape- nas uma intervenção com usuários de drogas (Schneider et al., 2016). Considerando os aspectos apresentados, o THS ainda é comumente utilizado com foco na prevenção ao uso de drogas. Entretanto, ca- recem sistematizações acerca dos estudos que tenham utilizado tal intervenção quando o transtorno já está instalado. Nesse sentido, ob- jetiva-se identificar estudos empíricos acerca do THS direcionados aos usuários de drogas, analisando como a intervenção vem sendo uti- lizada, seus principais benefícios e eventuais limitações de sua aplicação com esse público. Método As buscas foram realizadas nas bases de dados Medline Complete, Scopus, IBECS, In- dex Psi e LILACS. Foram utilizados os des- critores e operadores booleanos “social skills” AND “training” AND “substance-related di- sorders”. Tais descritores foram selecionados a partir do dicionário Mesh (Medical Subject Headings). Salienta-se que, como não há um descritor específico para o Treinamento em Habilidades Sociais, optou-se por dois des- critores que constavam no Mesh, utilizando o operador booleano “AND”. Por sua vez, a op- ção pelo descritor “substance-related disorders” se deu por ser um descritor que contempla o transtorno por uso de diversas substâncias, foco do presente artigo. A busca foi realizada em maio de 2016, por dois juízes independen- tes, com avaliações às cegas. Diante dos arti- gos selecionados por cada juiz, buscou-se o consenso entre ambos na definição dos artigos que estavam de acordo com os critérios de in- clusão. Em caso de discordância, um terceiro juiz seria acionado. Além disso, a reportagem da revisão sistemática ocorreu de acordo com o check-list PRISMA - Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses, cujo acesso é livre (Moher et al., 2009). Os critérios de inclusão foram: ser artigo empírico, ter como público alvo pessoas com transtorno por uso de substância e ter utili- zado o THS no tratamento do uso de drogas. Com isso, foram incluídos apenas estudos que declararam que a intervenção utilizada era de- nominada como THS. Por sua vez, os critérios de exclusão foram: artigos teóricos, disserta- ções, teses, capítulos de livros, publicações em anais de eventos e artigos com texto completo indisponível. Salienta-se que não houve restri- ção quanto ao ano de publicação e ao idioma. Tais critérios foram definidos com a finalidade de contemplar o objetivo proposto, permitindo analisar com maior profundidade o THS espe- cífico para usuários de drogas em tratamento. O risco de viés, de acordo com o protocolo PRISMA, foi analisado a partir dos seguintes itens da Tabela 1: objetivos, delineamento, ins- trumentos, participantes, estrutura do treina- mento, habilidades sociais trabalhadas, condu- ção da intervenção e resultados do THS. Resultados Foram encontrados 89 artigos, sendo cinco selecionados para compor a presente revisão sistemática. A partir da análise independente dos juízes, houve consenso quanto aos arti- gos selecionados, não havendo a necessidade de acionar um terceiro juiz. O detalhamento da seleção dos artigos pode ser observado na Figura 1. Todos os estudos analisados foram escritos em língua inglesa, entre 1982 e 2009, e realiza- dos nos Estados Unidos, Dinamarca e Austrá- lia. Em sua maioria, eram quantitativos, com Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017102 Treinamento em habilidades sociais para usuários de drogas: revisão sistemática da literatura apenas um estudo qualitativo (Tenhula et al., 2009). As principais características dos estudos podem ser observadas na Tabela 1. Em todos os estudos, o THS foi conduzido em formato grupal e em apenas um estudo ele foi o principal alvo do estudo (Lin et al., 1982), sendo que os demais fizeram parte de intervenções maiores. Os participantes dos estudos se encontravam em tratamento de- vido às diferentes substâncias psicoativas, como álcool, cocaína, maconha, heroína e opioides. Dessa forma, o THS não foi realiza- do para usuários de drogas específicas, mas sim com usuários de diferentes drogas na mesma intervenção. O THS foi utilizado nas intervenções ava- liadas pelos estudos, porém estava inserido em tratamentos maiores. Apenas um dos progra- mas de intervenção teve como foco o THS de maneira exclusiva (Lin et al., 1982), sendo tam- bém o único que utilizou um instrumento de avaliação das habilidades sociais. Salienta-se que um dos estudos não descreveu o tempo da intervenção em que o THS foi realizado (Teich- ner et al., 2001). Dentre as habilidades sociais trabalhadas, destaca-se a recusa de drogas (Lin et al., 1982; Bellack et al., 2006; Tenhula et al., 2009), sendo que um dos estudos abordou apenas essa ha- bilidade (Tenhula et al., 2009). As habilidades de relacionamento interpessoal também foram descritas nos artigos (Lin et al., 1982; Bellack et al., 2006, Petersen et al., 2007; Tenhula et al., 2009), bem como habilidades de expressão de opiniões e sentimentos negativos e positivos e resolução de conflitos (Lin et al., 1982; Peter- sen et al., 2007). Em um dos estudos, ainda que tenha ocorrido o THS, as habilidades sociais trabalhadas nesta intervenção não foram des- critas (Teichner et al., 2001). Em geral, o THS foi conduzido pelos profissionais dos centros de tratamento e hospitais, como médicos psi- quiatras, enfermeiras e psicólogos, com capa- citação prévia para a intervenção. Destaca-se que no estudo de Lin et al. (1982), foi discutido com o grupo para que escolhessem sete habi- Figura 1. Fluxograma de identificação e seleção das publicações. Figure 1. Flowchart of identification and selection of publications. Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017 103 Jéssica Limberger, Vanessa Trintin-Rodrigues, Bruna Hartmann, Ilana Andretta Ta be la 1 . C ar ac te rí st ic as d os e st ud os e re su lta do s. Ta bl e 1. S tu dy c ha ra ct er is tic s an d re su lts . A ut or es e an o O bj et iv os D el in ea m en to e pa rt ic ip an te s In st ru m en to s Es tr ut ur a do T re in am en to d e H ab ili da de s So ci ai s (T H S) H ab ili da de s So ci ai s (H S) tr ab al ha das e co nd uç ão R es ul ta do s do TH S Li n et a l. (1 98 2) D es cr ev er co m o o tr ei - na m en to e m ha bi lid ad es s o- ci ai s po de s er em pi ri ca m en te de se nv ol vi do pa ra a te nd er à ne ce ss id ad e do s us uá ri os de d ro ga s. Es tu do c om p ré e pó s- te st e, c om gr up o co nt ro le . A s el eç ão d os pa rt ic ip an te s fo i ra nd om iz ad a. Pa rt ic ip ar am 4 5 us uá ri os d e ál co ol e ou tr as d ro ga s, ho sp ita liz ad os em u m C en tr o de Tr at am en to p ar a us uá ri os . Es ca la A SE S - A du lt Se lf- Ex pr es io n Sc al e. O T H S fo i c om po st o po r 2 s es sõ es se m an ai s, d e 90 m in ut os , n o de co r- re r d e 4 se m an as . C ad a se ss ão fo i co m po st a do s el em en to s: re vi sã o da ta re fa d e ca sa ; i ns tr uç ão g ui ad a so br e a H S a se r a pr en di da ; e sc ut a e di sc us sã o de a co m pa nh am en to da m od el ag em a tr av és d e ví de o; en sa io c om po rt am en ta l; at ri bu iç ão da li çã o de c as a; p au sa d e 10 m in u- to s, s eg ui do d a in st ru çã o gu ia da . O fe ed ba ck e o re fo rç o so ci al fo ra m ut ili za do s di fe re nt es m om en to s. O T H S fo i c on du zi do p or p ro fis si on ai s do C en tr o de T ra ta m en to , t re in ad as a pa rt ir d e in st ru çã o ve rb al e m od el ag em . Fo ra m e le ita s as h ab ili da de s so ci ai s: di ze r n ão d ia nt e de u m p ed id o ra zo áv el ; re cu sa r d ro ga s; e xp re ss ar s en tim en to s de ra iv a; e xp re ss ar d es ej os e m oc io na is ; ex pr es sa r a fe to ; r es po nd er à re je iç ão , re sp on de r a c rí tic as ; r es po nd er a u m in - su lto ; e xp re ss ar u m a re cl am aç ão ; e sc ut ar co m a te nç ão ; f az er a m iz ad es e fa ze r u m pe di do . D es ta s, o g ru po e sc ol he u se te H S pa ra s er em tr ab al ha da s. O g ru po q ue pa rt ic ip ou d o TH S au m en to u su bs ta nc ia lm en te su as p on tu aç õe s do p ré -te st e pa ra o pó s- te st e, e m co m pa ra çã o co m o gr up o co nt ro le , co m m el ho ra n os co m po rt am en to s as se rt iv os d os us uá ri os . Te ic hn er et a l. (2 00 1) Ex am in ar a co nt ri bu iç ão da n eu ro ps ic o- lo gi a no tr at a- m en to d o us o de s ub st ân ci as . Es tu do tr an sv er sa l, qu an tit at iv o. Pa rt ic ip ar am 8 5 us uá ri os d e ál co ol , co ca ín a e m ac on ha em in te rn aç ão ho sp ita la r. In ve nt ár io d e de pr es sã o de Be ck e S cr ee - ni ng n eu ro p- si co ló gi co A lé m d o TH S, fo ra m re al iz ad os gr up os c og ni tiv o- co m po rt am en - ta is , d e pr ev en çã o à re ca íd a, la ze r e pl an ej am en to d e vi da . O s gr up os fo ra m o fe re ci do s no n ív el b ás ic o e av an ça do . O g ru po fo i c on du zi do p or p ro fis si on ai s tr ei na do s em tr at am en to s po r u so d e su bs tâ nc ia . N ão s ão re fe ri da s qu ai s H S fo ra m tr ab al ha da s. A d im in ui çã o do s ní ve is d e de pr es - sã o e o au m en to da a te nç ão fo ra m fa to re s pr ed iti vo s pa ra o ê xi to d a in te rv en çã o. Be lla ck et a l. (2 00 6) A va lia r a ef ic ác ia d o Tr at am en to C om po rt am en - ta l p ar a A bu so de S ub st ân ci as e D oe nç as M en ta is G ra - ve s e Pe rs is te n- te s (B eh av io ra l Tr ea tm en t f or Su bs ta nc e A bu se in S er io us an d Pe rs ist en t M en ta l I lln es s - BT SA S) Es tu do ra nd om iz a- do , c om fo llo w -u p de tr ês e s ei s m es es . Pa rt ic ip ar am 12 9 us uá ri os d e co ca ín a, h er oí na , m ac on ha e ó pi o, co m e sq ui zo fr en ia , in te rn ad os e m c lí- ni ca s co m un itá ri as e ho sp ita is . Es ca la b re ve de q ua lid ad e de v id a e ex am e to xi co - ló gi co . D oi s m od el os d e in te rv en çõ es fo ra m c om pa ra do s. O T H S fo i u til iz ad o no T re in am en - to C om po rt am en ta l p ar a A bu so d e Su bs tâ nc ia s (B TS A S) , q ue ta m bé m in cl ui u en tr ev is ta m ot iv ac io na l e pr ev en çã o à re ca íd a. O s eg un do m od el o, T re in am en to S up or te p ar a Re cu pe ra çã o, o co rr eu e m g ru po s pe qu en os , u sa nd o té cn ic as d e su po rt e em oc io na l e a po io . T ai s in te rv en çõ es o co rr er am d ur an te se is m es es , d ua s ve ze s po r s em an a, se nd o re al iz ad as c om b as e em pr ot oc ol o es pe cí fic o, m as n ão e st á di sp on ív el n o ar tig o. A in te rv en çã o fo i c on du zi da p or te ra - pe ut as , a pó s tr ei na m en to d e se is m es es . A s H S tr ab al ha da s fo ra m : h ab ili da de s de re cu sa à s dr og as , c on ta to s oc ia l e e n- ga ja m en to e m o ut ra s at iv id ad es s oc ia is . O T H S, in se ri do no T re in am en to C om po rt am en ta l pa ra A bu so d e Su bs tâ nc ia s, te ve m ai or e fic ác ia e m co m pa ra çã o ao o u- tr o tr at am en to , p or di m in ui r o u so d e dr og as e a um en ta r a ca pa ci da de d e re al iz ar a tiv id ad es di ár ia s. Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017104 Treinamento em habilidades sociais para usuários de drogas: revisão sistemática da literatura Pe te rs en et a l. (2 00 7) A va lia r s e o tr at am en to in tit ul ad o O PU S re du z o nú m er o de in te rn aç õe s de p ac ie nt es co m a bu so d e su bs tâ nc ia s e se h á m el ho ra no re su lta do cl ín ic o e so ci al no g ru po d e to xi co de pe n- de nt es a pó s do is a no s, co m pa ra do co m o tr at a- m en to p ad rã o. Es tu do c om g ru po co nt ro le , p ar tic i- pa nt es e sc ol hi do s al ea to ri am en te . H ou ve fo llo w -u p de 2 an os . Pa rt ic ip ar am 54 7 us uá ri os d e m ac on ha , á lc oo l, op io id es e c oc aí - na , e m in te rn aç ão ho sp ita la r. A s co m or bi da de s fo ra m e sq ui zo fr e- ni a e he pa tit e C . En tr ev is ta c lí- ni ca , C lin ic al A ss es sm en t i n N eu ro ps yc hi a- tr y, a va lia çã o de s in to m as de e sq ui zo - fr en ia e A va - lia çã o G lo ba l do F un ci on a- m en to . O T H S fo i i ns er id o em u m tr a- ta m en to in te gr ad o (O PU S) , e m co m pa ra çã o co m o tr at am en to us ua l. O s pa rt ic ip an te s es ta va m em tr at am en to m ed ic am en to so pa ra e sq ui zo fr en ia . O s en co nt ro s fo ra m s em an ai s, e m u m p er ío do de 2 a no s. O T H Sfo i r ea liz ad o pe la e qu ip e m ul - tid is ci pl in ar (p si qu ia tr a, e nf er m ei ra ps iq ui át ri ca , p si có lo go , t er ap eu ta o cu - pa ci on al , a ss is te nt e so ci al e c on se lh ei ro pr of is si on al ). O s pa rt ic ip an te s re al i- za ra m tr ei no a ss er tiv o e em p ac ie nt es co m H S de fic itá ri as , a ê nf as e oc or re u na c on ve rs aç ão , s ol uç ão d e pr ob le m as , ha bi lid ad es d e re so lu çã o de c on fli to s e m an ej o da m ed ic aç ão e d os s in to m as . O T H S, in se ri do no tr at am en to co m bi na do , a po n- to u m ai or a de sã o ao tr at am en to , re du çã o do te m po de p er m an ên ci a no ho sp ita l e re du çã o do u so d e dr og as , em c om pa ra çã o co m o tr at am en to us ua l. Te nh ul a et a l. (2 00 9) D es cr ev er e ilu st ra r, po r m ei o de u m ca so c lín ic o, um tr at am en to ba se ad o no m od el o de Tr at am en to C om po rt am en - ta l p ar a A bu so de S ub st ân ci as e D oe nç as M en ta is G ra - ve s e Pe rs is te n- te s (B TS A S) . Es tu do d e ca so ú ni - co , c om u m u su ár io de á lc oo l e c oc aí na , co m e sq ui zo fr en ia , em in te rn aç ão ho sp ita la r. En tr ev is ta c lí- ni ca e e xa m e de u ri na . Fo i u til iz ad o o pr ot oc ol o BT SA S. O p ro gr am a te ve d ur aç ão d e 52 en co nt ro s. A in te rv en çã o fo i c on du zi da p el o m éd i- co p si qu ia tr a. A s ha bi lid ad es tr ab al ha da s fo ra m d e re cu sa d e dr og as e d e es tr at ég ia s de en fr en ta m en to . O T H S co m bi na do co m o tr at am en to co m po rt am en ta l re su lto u no e ng aj a- m en to d o pa ci en te du ra nt e e ap ós a in te rv en çã o. U m a av al ia çã o re al iz ad a ap ós tr ês m es es id en tif ic ou p or m ei o do e xa m e de ur in a qu e nã o ho u- ve u so d e dr og as no ú lti m o m ês . Ta be la 1 . C on tin ua çã o. Ta bl e 1. C on tin ua tio n. Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017 105 Jéssica Limberger, Vanessa Trintin-Rodrigues, Bruna Hartmann, Ilana Andretta lidades sociais para serem trabalhadas, de um total de doze habilidades sociais propostas por Chaney et al. (1978). Os resultados do estudo que realizou espe- cificamente o THS apontam para um aumento significativo das habilidades sociais nas pon- tuações do pré-teste para o pós-teste, em com- paração com o grupo controle (que não rece- beu intervenção alguma no período do estudo, somente no mês seguinte do término do estu- do), aumentando os comportamentos asserti- vos dos usuários (Lin et al., 1982). Nos demais artigos, o THS junto de outras intervenções teve como resultados: maior engajamento do paciente durante o tratamento (Tenhula et al., 2009), maior adesão ao tratamento, redução do tempo de permanência no hospital e redução do uso de drogas (Petersen et al., 2007). O au- mento da atenção e a diminuição da sintoma- tologia depressiva foram fatores preditivos da eficácia da intervenção no estudo de Teichner et al. (2001). Além disso, o THS junto do BTSAS apresentou eficácia significativa em compara- ção com o tratamento usual, apontando para a diminuição do uso de drogas e o aumento da capacidade de realizar atividades diárias em usuários de drogas com esquizofrenia (Bellack et al., 2006). A análise do risco de viés permitiu iden- tificar que a maioria dos artigos apresentou apenas instrumentos de autorrelato, tanto na avaliação acerca do uso de drogas, como nas habilidades sociais. Apenas em uma interven- ção houve exame toxicológico (Tenhula et al., 2009). Também em somente um estudo houve uma descrição detalhada sobre como o THS foi feito (Lin et al., 1982). Assim, há dificuldade de replicar a intervenção a partir destes achados, bem como identificar quais dos resultados re- latados são específicos do THS. Além disso, em todas as intervenções há a informação so- bre quais profissionais a conduziram. Entre- tanto, dois artigos apresentam risco de viés por não descreverem se tais profissionais tive- ram treinamento prévio (Petersen et al., 2007; Tenhula et al., 2009). Outro viés foi encontrado no estudo de Teichner et al. (2001), em que não houve grupo controle. Discussão Os estudos analisados tiveram objetivos distintos, tendo em comum a investigação de diferentes tipos de tratamento para o uso de drogas, nos quais o THS se insere. Para atin- gir os objetivos propostos, foram identificados cuidados metodológicos nos estudos, como a escolha aleatória dos participantes, grupo con- trole e follow-up de três meses a dois anos em intervenções integradas ao THS. Ressalta-se que, de acordo com um estudo teórico acer- ca da utilização do THS em usuários de dro- gas, há indicação de um follow-up de dois e três meses (Staiger et al., 2014). Dessa forma, o follow-up torna-se um importante recurso metodológico, especialmente no Treinamento em Habilidades Sociais, permitindo identificar se as mudanças no repertório de habilidades sociais se mantêm tempos após a intervenção. No que diz respeito aos instrumentos utili- zados, apenas um estudo, que realizou o THS sem outras intervenções em conjunto, avaliou as habilidades sociais (Lin et al., 1982). Tal questão pode estar relacionada ao fato de que o principal objetivo dos demais estudos era avaliar a efetividade de tratamentos maiores e não especificamente do THS. Entretanto, ao não avaliar as habilidades sociais, há implica- ções na carência de dados sobre os resultados do THS. Uma alternativa a essa questão pode ser a inclusão de outras maneiras de mensura- ção que não sejam de autorrelato, como pro- tocolos observacionais e gravações das intera- ções sociais, por exemplo (Caballo, 2003). Os participantes dos estudos foram usuá- rios de diferentes substâncias. Conforme uma revisão de literatura sobre habilidades sociais e drogas, muitos artigos não especificam o tipo de droga utilizada pelos participantes, sendo apenas descritas como lícitas ou ilícitas (Sch- neider et al., 2016). Assim, pode-se compreen- der que os estudos de avaliação com usuários de drogas não dão ênfase ao tipo de droga uti- lizada, questão também evidenciada no THS com usuários. Entretanto, há necessidade de considerar que as habilidades sociais também possuem particularidades de acordo com as substâncias específicas. Conforme um estudo com 47 usuários de drogas em tratamento, foram apontadas dificuldades distintas: para alcoolistas, a dificuldade foi em iniciar um comportamento ou conversação, e em usuá- rios de crack a dificuldade foi na resposta a um comportamento adequado iniciado por outra pessoa (Sá e Del Prette, 2014). Assim, percebe- -se que o THS pode ocorrer com usuários de diferentes substâncias psicoativas, desde que seja possível considerar as necessidades dos usuários de cada substância. Os resultados mostram que, na maioria dos estudos, o THS foi acompanhado de ou- tras intervenções, indicando que o THS pode Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017106 Treinamento em habilidades sociais para usuários de drogas: revisão sistemática da literatura contribuir com outros tratamentos para o uso de drogas. De acordo com os princípios do tratamento eficaz do National Institute on Drug Abuse – NIDA (2012), a combinação de intervenções e serviços para as dificuldades e necessidades dos indivíduos contribui para mudanças. Além disso, estudos que avaliam a eficácia de tratamentos combinados,como en- trevista motivacional e terapia cognitivo-com- portamental em grupo (Sánchez et al., 2011), intervenções psicossociais (Dutra et al., 2008) e manejo de contingências, terapia de aceitação e compromisso, farmacoterapia (Kolling et al., 2011) potencializam o tratamento de pacientes com dependência por uso de substâncias. En- tretanto, salienta-se que a inclusão do THS em tratamentos maiores dificulta a identificação de resultados que ocorreram especificamente devido ao THS. O formato grupal foi adotado em todos os estudos e possui como vantagens a oportuni- dade de oferecer situações sociais estabeleci- das e modelos, possibilitando a aprendizagem vicária e a retroalimentação (Caballo, 2003). Argyle et al. (1974) compararam o THS em formato grupal e em formato de psicoterapia breve, apontando melhoras de comportamen- to em ambas as formas, sendo que o formato grupal tendia a manter o seu efeito por mais tempo, mesmo quando os pacientes de psico- terapia possuíam mais do dobro do número de horas de psicoterapia individual. No contexto escolar, também se observa o formato grupal do THS com foco no caráter preventivo ao uso de drogas (Dias et al., 2015). O contexto hospitalar foi referido na maior parte dos artigos. Salienta-se que as interna- ções hospitalares dos estudos ocorreram em países como Estados Unidos, Austrália e Di- namarca. No Brasil, por sua vez, a internação hospitalar possui como um dos principais ob- jetivos a desintoxicação, com internação de 21 dias em média (Crauss e Abaid, 2012). Assim, há desafios na implantação do THS em hospi- tais brasileiros, se for considerado o período mínimo de quatro semanas para a intervenção ocorrer (Staiger et al., 2014), além das compli- cações clínicas envolvidas na primeira semana de tratamento, em que podem ocorrer sinto- mas de abstinência. Nessa perspectiva, acre- dita-se que o THS pode ser inserido em dife- rentes pontos da Rede de Atenção Psicossocial, como Comunidades Terapêuticas e Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD). Considerando que a internação chega a durar nove meses em Comunidades Terapêu- ticas, tal tempo necessita estar integrado de ações que contribuam na reabilitação psicosso- cial, sendo o THS uma possibilidade. Tal ques- tão também deve ser explorada nos CAPS AD, tendo em vista o eixo estratégico da Rede de Atenção Psicossocial que trata das ações inter- setoriais para reinserção social e reabilitação (Ministério da Saúde, 2011). A partir dos estudos analisados, percebe-se que o THS vem sendo realizado por profissio- nais da área da saúde (psicólogos, enfermei- ros e médicos), em sua maioria com capacita- ção prévia para a condução da intervenção. Tal questão possui relevância, pois há neces- sidade de um cuidado por parte de quem rea- liza a intervenção, a fim de que esta contribua no desempenho das habilidades sociais. Nes- sa perspectiva, compreende-se a importância de que os profissionais que conduzirão o THS tenham suas habilidades sociais e técnicas de- senvolvidas. Conforme um estudo america- no, houve melhoras significativas nas habili- dades sociais de adolescentes que tiveram um bom relacionamento com os profissionais que estavam conduzindo a intervenção (Sale et al., 2008). Com isso, há um desafio para os profis- sionais da saúde no cuidado aos usuários de drogas, carecendo de capacitação e tratamen- tos amparados empiricamente (Limberger e Andretta, 2015). Além da importância das habilidades so- ciais e técnicas dos profissionais, um fator que merece destaque é a motivação dos partici- pantes em realizar a intervenção. Conforme o estudo de Lin et al. (1982), os participantes es- colheram sete de doze habilidades sociais. Este fato pode contribuir na motivação dos partici- pantes durante o tratamento, pois em usuários de drogas há uma ambivalência quanto à mu- dança de comportamentos, e a tomada de de- cisão pode auxiliar no comprometimento com o tratamento (Andretta et al., 2014a, 2014b). Dentre as habilidades sociais trabalhadas nas intervenções analisadas, compreende-se que a habilidade de recusa de drogas precisa ser enfatizada no THS com usuários de dro- gas. Conforme um estudo qualitativo de casos múltiplos com três mulheres usuárias de crack, foram identificadas dificuldades na recusa de drogas por parte das participantes, especial- mente quando se tratava de pessoas próximas (amigos, familiares ou companheiros) que ofe- reciam a droga (Limberger e Andretta, s.d.[b]). Por sua vez, uma pesquisa realizada com 250 homens usuários de metanfetamina identifi- cou que o déficit na habilidade de recusa de Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017 107 Jéssica Limberger, Vanessa Trintin-Rodrigues, Bruna Hartmann, Ilana Andretta drogas se associou a maiores quantidades e frequência da utilização de anfetamina (Sem- ple et al., 2011). Dessa forma, percebe-se que o desenvolvimento dessa habilidade durante o tratamento pode contribuir na manutenção da abstinência após o tratamento. Nesse contexto, é indicado que sejam treinadas as habilidades de recusa de drogas, mas também de resolu- ção de problemas (Dolan et al., 2013) e expres- são de sentimentos (Wagner et al., 2010), ainda que pouco estudadas. Na literatura, há estudos teóricos que des- crevem modelos para a realização do THS, in- cluindo informações relativas ao conteúdo de cada sessão (Staiger et al., 2014). Por sua vez, nos artigos em questão, apenas um sistemati- zou os procedimentos realizados no THS (Lin et al., 1982). Nesse sentido, estudos de avalia- ção de intervenções que não contemplem a descrição dos procedimentos adotados especi- ficamente no THS estão sujeitos a risco de viés dos resultados apresentados sobre as habilida- des sociais, bem como dificultam a reprodução do modelo utilizado. Com isso, evidencia-se a carência de dados relacionados aos procedi- mentos adotados, o que contribuiria para a re- plicação do THS em outros estudos. Considerações finais A presente revisão sistemática aponta para resultados positivos do Treinamento em Ha- bilidades Sociais para usuários de diferentes substâncias psicoativas, principalmente em tratamentos integrados. Assim, o THS pode ser visto como uma possibilidade aos profissionais da saúde. Dentre as habilidades sociais traba- lhadas nas intervenções, a recusa às drogas foi apontada na maioria dos estudos, revelando sua importância durante e após o tratamento. Nesse sentido, também se torna relevante que as habilidades sociais a serem trabalhadas se- jam de interesse dos participantes, estando de acordo com as suas necessidades e motivação. Com isso, sugere-se que o THS preceda de uma avaliação que possibilite identificar as habilida- des em que há maior necessidade de desenvol- vimento. Além disso, podem ser apresentadas aos participantes um conjunto de habilidades sociais, para que o grupo eleja algumas das ha- bilidades a serem trabalhadas, a fim de aumen- tar a motivação do grupo para a realização e a permanência na intervenção. As principais limitações dos artigos dizem respeito ao fato de que a grande maioria dos estudos apresentou resultados do THS inseri- do com outras intervenções, deixando lacunas quanto às contribuições que podem ser espe- cíficas do treinamento, como a descrição de quais HS foram trabalhadas e quanto à capa- citação dos profissionais. Com isso, a presente revisão aponta a necessidade de mais investi- gações acerca do THS com usuários de drogas, avançando em estudos que vão além do THS de caráter preventivo. Por sua vez, as limita- ções da presente revisão sistemática também dizem respeito ao uso de apenas algumas ba- ses de dados, bem como a exclusão de artigos sem texto completo disponível. Sugere-se que futuros estudos empíricos realizem o THS em formato grupal com usu- ários de drogas, descrevendo com detalhes os procedimentos utilizados, com instrumentos observacionais complementares aos de au- torrelato na avaliação dashabilidades sociais. Também se sugere a seleção randômica dos participantes, avaliação pré e pós-teste e grupo controle. Futuras revisões sistemáticas acerca da temática poderiam analisar como o Treina- mento em Habilidades Sociais vem sendo rea- lizado junto de intervenções mais amplas nos diferentes contextos. Referências AMENTA, S.; NOEL, X.; VERBANCK, P.; CAMPA- NELLA, S. 2013. Decoding of emotional com- ponents in complex communicative situations (irony) and its relation to empathic abilities in male chronic alcoholics: an issue for treatment. Alcoholism: Clinical and Experimental Research, 37(2):339-347. https://doi.org/10.1111/j.1530-0277.2012.01909.x ANDRETTA, I.; LIMBERGER, J.; OLIVEIRA, M.S. 2014a. Abandono de tratamento de adolescentes com uso abusivo de substâncias que cometeram ato infracional. Aletheia, 43(44):116-128. ANDRETTA, I.; MEYER, E.; KUHN, R.P.; RIGON, M. 2014b. A entrevista motivacional no Brasil: uma revisão sistemática. Mudanças – Psicologia da Saúde, 22(2):15-21. ARGYLE, M.; BRYANT, B.; TROWER, P. 1974. So- cial skills training and psychotherapy: a com- parative study. Psychological Medicine, 4(4):435- 443. https://doi.org/10.1017/S003329170004589X BARRETO, S.O.; FREITAS, L.C.; DEL PRETTE, Z.A.P. 2011. Habilidades sociais na comorbidade entre dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento: uma avaliação multimodal. Psico, 42(4):503-10. Disponível em: http://revista- seletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/ article/view/7593/7457. Acesso em: 02/05/2016. BELLACK, A.S.; BENNET, M.E.; GEARON, J.S.; BROWN, C.H.; YANG, Y. 2006. A randomized clinical trial of a new behavioral treatment for drug abuse in people with severe and persis- Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017108 Treinamento em habilidades sociais para usuários de drogas: revisão sistemática da literatura tent mental illness. Archives of general psychiatry, 63(4):426-432. https://doi.org/10.1001/archpsyc.63.4.426 CABALLO, V.E. 2003. Manual de avaliação e treina- mento das habilidades sociais. São Paulo, Livraria Santos, 408 p. CHANEY, E.F.; O’LEARY, M.R.; MARLATT, G.A. 1978. Skill training with alcoholics. Journal of Con- sulting and Clinical Psychology, 46(5):1092-1104. http://dx.doi.org/10.1037/0022-006X.46.5.1092 CRAUSS, R.M.G.; ABAID, J.L.W. 2012. A depen- dência química e o tratamento de desintoxica- ção hospitalar na fala dos usuários. Contextos Clínicos, 5(1):62-72. https://dx.doi.org/10.4013/ctc.2012.51.07 DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z.A.P. 2011. Habi- lidades sociais: intervenções efetivas em grupo. São Paulo, Casa do Psicólogo, 288 p. DEL PRETTE, Z.A.P.; DEL PRETTE, A. 2010. Habili- dades sociais e análise do comportamento: Proxi- midade histórica e atualidades. Perspectivas em aná- lise do comportamento, 1(2):104-115. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S2177-35482010000200004&lng=pt&t lng=pt. Acesso em: 02/05/2016. DEL PRETTE, Z.A.P.; FERREIRA, B.C.; DIAS, T.P.; DEL PRETTE, A. 2015. Habilidades sociais ao longo do desenvolvimento: perspectivas de in- tervenção em saúde mental. In: S.G. MURTA; C. LEANDRO-GRAÇA; K.B. SANTOS (orgs.), Prevenção e Promoção em Saúde Mental: fundamen- tos, planejamento e estratégias de intervenção. Novo Hamburgo, Sinopys, p. 318-340. DIAS, T.P.; LOPES, D.C.; DEL PRETTE, Z.A.P. 2015. Programas de intervenção em habilidades so- ciais para crianças: propostas para a educação infantil e o ensino fundamental. In: Z.A.P. DEL PRETTE; A.B. SOARES; C.S. PEREIRA-GUIZO; M.F. WAGNER; V.B.R. LEME, Habilidades so- ciais: diálogos e intercâmbios sobre pesquisa e práti- ca. Novo Hamburgo, Sinopsys, p. 128-159. DOLAN, S.L.; ROHSENOW, D.J.; MARTIN, R.A.; MONTI, P.M. 2013. Urge-specific and lifestyle coping strategies of alcoholics: Relationships of specific strategies to treatment outcome. Drug & Alcohol Dependence, 128(1):8-14. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2012.07.010 DUTRA, L.; STATHOPOULOU, G.; BASDEN, S.L.; LEYRO, T.M.; POWERS, M.B.; OTTO, M.W. 2008. A meta-analytic review of psychosocial interventions for substance use disorders. Amer- ican Journal of Psychiatry. 165(2):179-87. https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2007.06111851 HULKA, L.M.; EISENEGGER, C.; PRELLER, K.H.; VONMOOS, M.; JENNI, D.; BENDRICK, K.; BAU- MGARTNER, M.R.; SEIFRITZ, E.; QUEDNOW, B.B. 2014. Altered social and non-social decision- -making in recreational and dependent cocaine users. Psychological Medicine, 44(5):1015-1028. https://doi.org/10.1017/S0033291713001839. KOLLING, N.D.M.; PETRY, M.; MELO, W.V. 2011. Outras abordagens no tratamento da depen- dência do crack. Revista Brasileira de Terapias Cog- nitivas, 7(1):7-14. Disponível em: http://pepsic. bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S1808-56872011000100003. Acesso em: 02/05/2016. LARROSA, S.L.; PALOMO, J.L.R. 2010. Factores de riesgo y de protección en el consumo de drogas en adolescentes y diferencias según edad y sexo. Psicothema, 22(4): 568-573. Disponível em: http:// www.redalyc.org/pdf/727/72715515007.pdf. Acesso em: 02/05/2016. LIMBERGER, J.; ANDRETTA, I. 2015. Novas pro- blemáticas sociais: o uso do crack em mulheres e a perspectiva de gênero. CS, 15:41-65. https://doi.org/10.18046/recs.i15.1965 LIMBERGER, J. 2016. Mulheres em Tratamento pelo Uso do Crack: Habilidades Sociais e Características Clínicas. São Leopoldo, RS. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Dissertação de Mestrado, 104 p. https://doi.org/10.13140/RG.2.1.1575.8326 LIMBERGER, J.; ANDRETTA, I. [s.d.]a. Associações entre Habilidades Sociais e Comorbidades Psi- quiátricas de Mulheres Usuárias de Crack. Estu- dos e Pesquisas em Psicologia. [No prelo]. LIMBERGER, J.; ANDRETTA, I. [s.d.]b. Desenvolvi- mento das Habilidades Sociais na Vida de Mu- lheres Usuárias de Crack. Temas em Psicologia. [No prelo]. LIN, T.; BON, S.; DICKINSON, J.; BLUME, C. 1982. Systematic Development and Evaluation of a Social Skills Training Program for Chemical Abusers. The International Journal of the Addic- tions, 17(4):585-596. https://doi.org/10.3109/10826088209053005 MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2011. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/2011/prt3088_23_12_2011_rep.html. Acesso em: 02/05/2016. MOHER, D.; LIBERATI, A.; TETZLAFFL, J.; ALT- MAN, D.G. 2009. Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses: The PRISMA Statement. Plos Medicine, 6(7):1-6. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1000097 MORALES, B.N.; PLAZAS, M.; SANCHEZ, R.; VENTURA, C.A.A. 2011. Factores de riesgo y de protección relacionados com el consumo de substancias psicoativas en estudantes de enfer- mería. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 19:673-683. https://doi.org/10.1590/S0104-11692011000700003 MURTA, S.G. 2005. Aplicações do Treinamento em Habilidades Sociais: Análise da Produção Na- cional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(2):283-291. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/ prc/v18n2/27480.pdf. Acesso em: 02/05/2016. NATIONAL INSTITUTE ON DRUG ABUSE (NIDA). 2012. Principles of Drug Addiction Treat- ment: A Research-Based Guide. 3ª ed. Disponível em: http://www.drugabuse.gov/publications/ principles-drug-addiction-treatment-research- -based-guide-third-edition/principles-effective- -treatment. Acesso em: 02/05/2016. PETERSEN, L.; JEPPESEN, P.; THORUP, A.; OH- LENSCHLAEGER, J.; KRAUP, G.; OSTER- GARD, T.; JORGENSEN, P.; NORDENTOFT, M. 2007. Substance abuse and first-episode schizo- Contextos Clínicos, vol. 10, n. 1, Janeiro-Junho 2017 109 Jéssica Limberger, Vanessa Trintin-Rodrigues, Bruna Hartmann, Ilana Andretta phrenia-spectrum disorders. The Danish OPUS trial. Early Intervention in Psychiatry, 1(1):88-96. https://doi.org/10.1111/j.1751-7893.2007.00015.x SÁ, L.G.S.; DEL PRETTE, Z.A.P. 2014. Habilidades Sociais como Preditoras do Envolvimento com Álcool e Outras Drogas: Um estudo explorató- rio. Interação Psicológica, 18(2):167-178.https://doi.org/10.5380/psi.v18i2.30660 SALE, E.; BELLAMY, N.; SPRINGER, J.F. 2008. Quality of Provider–Participant Relationships and Enhancement of Adolescent Social Skills. The Journal of Primary Prevention, 29(3):263-278. https://doi.org/10.1007/s10935-008-0138-8 SÁNCHEZ, L.; DÍAZ-MORÁN, S.; GRAU-LÓPEZ, L.; EIROA-OROSA, F. J.; RONCERO, C.; GON- ZALVO, B.; CASAS, M. 2011. Tratamiento am- bulatorio grupal para dependientes de cocaína combinando terapia cognitivo conductual y en- trevista motivacional. Psicothema, 23(1):107-113. Disponível em: http://www.psicothema.com/ pdf/3857.pdf. Acesso em: 02/05/2016. SCHNEIDER, J.A. 2015. Avaliação de Habilidades So- ciais nos Usuários de Crack em Tratamento no Con- texto das Comunidades Terapêutica. São Leopoldo, RS. Dissertação de Mestrado. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 84 p. Disponível em: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/ UNISINOS/4967. Acesso em: 02/05/2016. SCHNEIDER, J.A.; LIMBERGER, J.; ANDRETTA, I. 2016. Habilidades Sociais e Drogas: Revisão Sistemática da Produção Científica Nacional e Internacional. Avances en Psicología Latinoa- mericana, 34(2):339-350. Disponível em: http:// revistas.urosario.edu.co/index.php/apl/article/ viewFile/3373/3350. Acesso em: 02/05/2016. SEITZ, C.M.; WYRICK, D.L.; ORSINI, M.M.; MIL- ROY, J.J.; KENNEY, M.F. 2013. Coverage of Adolescent Substance Use Prevention in State Frameworks for Health Education: 10 Year Fol- low-Up. Journal of School Health, 83(1):53-60. https://doi.org/10.1111/j.1746-1561.2012.00747.x SEMPLE, S.J.; STRATHDEE, S.A.; ZIANS, J.; MC- QUAID, J.R.; PATTERSON, T.L. 2011. Drug as- sertiveness and sexual risk-taking behavior in a sample of HIV-positive, methamphetamine- -using men who have sex with men. Journal of substance abuse treatment, 41(3):265-272. https://doi.org/10.1016/j.jsat.2011.03.006 SINTRA, C.I.F.; LOPES, P.; FORMIGA, N. 2011. Condutas antissociais e delitivas e habilidades sociais em contexto forense. Psicologia Argumen- to, 29:383-399. STAIGER, P.K.; KYRIOS, M.; WILLIAMS, J.S.; KAMBOUROPOULOS, N.; HOWARD, A.; GRUENERT, S. 2014. Improving the retention rate for residential treatment of substance abuse by sequential intervention for social anxiety. BMC Psychiatry, 14(43):1-11. https://doi.org/10.1186/1471-244x-14-43 TEICHNER, G.; HORNER, M.D.; HARVEY, R.T. 2001. Neuropsychological predictors of the at- tainment of treatment objectives in substance abuse patients. International Journal Neuroscience, 106(3-4):253-263. https://doi.org/10.3109/00207450109149753 TENHULA, W.N.; BENNETT, M.E.; KINNAMAN, J.E.S. 2009. Behavioral treatment of substan- ce abuse in schizophrenia. Journal of Clinical Psychology, 65(8):831-841. https://doi.org/10.1002/jclp.20613 TORRES, I.C.S.; ARÉVALO, M.T.V.; CUEVAS, J.R.T.; RODRÍGUEZ, D.E.T. 2006. Construcción y validación de un cuestionario de factores de riesgo y de protección para el consumo de dro- gas en jóvenes universitários. Acta Colombiana de Psicología, 9(2):19-30. Disponível em: http:// www.redalyc.org/articulo.oa?id=79890203. Acesso em: 02/05/2016. VIEIRA, A.C.S.; FELDENS, A.C.M. 2013. Habili- dades sociais, dependência química e abuso de drogas: uma revisão das publicações científi- cas dos últimos 6 anos. Disponível em: https:// psicologia.faccat.br/blog/wp-content/uploa- ds/2013/07/Ana-Caroline-Sari-Vieira.pdf. Aces- so em: 02/05/2016. WAGNER, M.F.; OLIVEIRA, M.S. 2007. Habilida- des sociais e abuso de drogas em adolescentes. Psicologia Clínica, 19(2):101-116. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pc/v19n2/a08v19n2. Acesso em: 02/05/2016. WAGNER, M.F.; OLIVEIRA, M.S. 2015. Habilida- des sociais no abuso e na dependência de ma- conha. In: Z.A.P. DEL PRETTE; A.B. SOARES; C.S. PEREIRA-GUIZO; M.F. WAGNER; V.B.R. LEME, Habilidades sociais: diálogos e intercâmbios sobre pesquisa e prática. Novo Hamburgo, Sino- pys Editora, p. 329-348. WAGNER, M.F.; SILVA, J.G.; ZANETTELO, L.B.; OLIVEIRA, M.S. 2010. O uso da maconha as- sociado ao déficit de habilidades sociais em adolescentes. SMAD. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, 6(2):255-273. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/smad/article/ view/38716/41569. Acesso em: 02/05/2016. Submetido: 02/09/2016 Aceito: 12/12/2016
Compartilhar