Buscar

Celso Furtado. Uma visão estruturalista - Resenha

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FIGUEIREDO, José Ricardo. Celso Furtado. Uma visão estruturalista. In: ______. Modos de Ver a Produção do Brasil. - São Paulo: Educ; Campinas, SP: Editora Autores Associados, 2004. p. 219-231.
O autor do livro Modos de Ver a Produção do Brasil que inclui o capítulo intitulado Celso Furtado. Uma visão estruturalista é José Ricardo Figueiredo, graduado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1975); possui mestrado em Engenharia Mecânica na área de Térmica e Fluidos pela Universidade Estadual de Campinas (1980) e doutorado na mesma área e mesma instituição (1988). Atualmente é Professor Assistente Doutor MS-5 da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas.
O capítulo, assim como parece ser o restante do livro, é estruturado de forma que o autor deixa com que os próprios teóricos e suas obras, objetos de sua pesquisa, falem por si através de citações. O autor, portanto, fica restrito a dar um entendimento direcionado a respeito do essencial que deve ser retido da obra de cada teórico, com comentários intercalados às citações que visam esclarecer o contexto e a intenção do conteúdo das mesmas. 
No já referido capítulo, trata-se do economista Celso Furtado e, mais particularmente, de sua monumental obra Formação Econômica do Brasil, que acabou tornando-se um clássico pra historiografia econômica brasileira. Além de, ao final do capítulo, se expor trechos do A fantasia desfeita, livro autobiográfico de Furtado, que conta a experiência pioneira do economista com o planejamento regional no Nordeste nos fins dos anos 1950 até o golpe militar em 1964, que acabou conduzindo Celso ao exílio. Vale salientar que os trechos extraídos pelo autor das obras referidas têm o objetivo de elucidar a produção histórico-econômica brasileira e, por isso, só são expostas as citações que, de certa forma, cumprem com esse papel em sua essência, não significando, portanto, que o capítulo seja exaustivo no que diz respeito à obra furtadiana.
Tendo isso em vista é que resolvemos, a partir da análise do que é exposto no capítulo e através de outras fontes, utilizar a perspectiva de Furtado pra vislumbrar uma questão que foi objeto de estudo, por sinal, de toda a sua vida: o subdesenvolvimento. Em A fantasia organizada, livro de memórias intelectuais de Celso, o autor nos narra quando atentou pra temática do subdesenvolvimento e assim se impôs a tarefa de estudar pelo resto da vida a razão do Brasil encontrar-se nesse estado e as possibilidades de superá-lo. Foi na CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), em fins da década de 1940, quando desenvolvia um relatório a ser apresentado pela comissão a respeito da situação econômica da América Latina, que percebeu a pobreza do cenário econômico brasileiro até mesmo em comparação com economias como a do Chile, Argentina e México. Dizia que um misto de vergonha e revolta o tomou ao se dar conta desse estado e que, pra ele, era inconcebível que um país, como o Brasil, de tantas potencialidades humanas e naturais apresentasse dados econômicos e sociais tão alarmantes. 
Quanto travou contato com Raúl Prebisch, economista argentino fundador do Banco Central de mesma nacionalidade, na própria CEPAL, Celso Furtado tomou conhecimento de um artigo de Prebisch que tratava da relação centro-periferia. Nele, estava exposta a análise de que os países, tidos por periféricos, por conta de uma situação estrutural, não poderiam alcançar o patamar civilizacional dos países do centro seguindo a receita que estes proclamavam no terreno de politica econômica. Isso porque, nessas receitas, incluía-se que os países periféricos, em sua maioria, deveriam especializar-se na produção de bens primários por serem grandes espaços dos mesmos e por ser isso que a teoria das vantagens comparativas, desenvolvida pelo economista inglês David Ricardo, advogava em favor das riquezas nacionais. Entretanto, o artigo de Prebisch dava a entender que essa teoria, na prática, não vigorava por ignorar a gradativa diminuição dos termos de intercâmbio em desfavor de economias predominantemente agrícolas, situação esta agravada pela dependência de importação de produtos manufaturados por parte dessas economias.
Ao deparar-se com a análise de Prebisch, Furtado prevê que ela tocava em um ponto primordial pra entender a situação da economia brasileira. Por isso, pede pra traduzir o escrito e assim publicar no Brasil, causando certo alvoroço na imprensa da época. Daí em diante, juntamente com seu trabalho desenvolvido na CEPAL até fins da década de 1950, Celso Furtado destina-se a estudar a formação histórica e econômica brasileira com foco no aspecto do subdesenvolvimento, razão de ser de sua pesquisa. Esse estudo, autoimposto durante dez anos, culminará em seu Formação Econômica do Brasil de 1959, que traz análise originalíssima no que tange à historiografia econômica brasileira.
É importante ressaltar que antes mesmo de Furtado redigir seu Formação, a análise de Prebisch, em suas mãos, já tinha servido de fio condutor pra uma perspectiva bastante original a respeito do subdesenvolvimento e da situação particular brasileira. Seu enfoque, pra além do ponto de vista conduzido pelas terminologias econômicas keynesianas, contém profunda preocupação social. Isso se deve, certamente, às três correntes principais formadoras de seu pensamento. Em primeiro lugar a positivista, sobretudo no que tange a crença no progresso da humanidade através da ciência. Em segundo vem a marxista no que diz respeito ao possível entendimento da história e de um determinado devir histórico que poderia vir a ser fruto desse correto entendimento e, por sua vez, de nossa inserção como agentes capazes de mudar a história. Acreditamos ser este o mais importante, inclusive, na explicação desse caso. E por último, viria a influência da sociologia norte-americana, em particular da teoria antropológica da cultura. Estas três linhas teóricas talvez tenham confluído pra Furtado alegar que nunca pode compreender a existência de um problema “estritamente econômico”. 
Por tudo isso, no que tange a formulação do problema do subdesenvolvimento, Celso já via pra além da dinâmica centro-periferia exposta no artigo de Prebisch, pois via também a conformação de um país desigual construído historicamente e, com isso, a formação do caráter colonial de nossas elites que ansiavam manter um padrão de vida dos países desenvolvidos, mesmo este se dando sobre bruta extração de riqueza da maior parte da população. Contudo, além de ter essa perspectiva social, não deixou de analisar o problema brasileiro sob a luz da macroeconomia keynesiana, dizendo que, justamente, a ânsia por parte das elites coloniais de manter tal padrão de vida semelhante aos países desenvolvidos, significava tremenda propensão a importar, o que gerava extremo desequilíbrio externo e que a saída pros impasses brasileiros seria a industrialização. Com tudo isso já estudado, desenvolvido e debatido ao longo de dez anos é que Celso Furtado passará pra redação de seu Formação Econômica do Brasil.
A citação dos diversos trechos da obra prima de Furtado, feita por Figueiredo, sintetiza bem o que de essencial há nesse livro. Passando pelos ciclos econômicos açucareiro, pecuário, mineiro e cafeeiro, vemos se configurar os processos econômicos que, ao ponto que dão lugar um ao outro, não conseguem fazer emergir uma economia e uma nação independente. Em grande parte destes ciclos, seus pontos dinâmicos se deveram ao papel desempenhado pelo setor externo e quase nunca obtiveram um crescimento interno que pudesse sinalizar pra construção de uma economia independente. Portanto, o entendimento do nascimento, desenvolvimento e declínio das diversas estruturas econômicas e sociais, que se formaram em torno de cada ciclo econômico, é crucial pra entender o subdesenvolvimento brasileiro e vislumbrar sua possível superação.
 A questão de que parte Furtado em seu Formação Econômica do Brasil é de como Portugal conseguiu financiar a ocupação do territóriobrasileiro. A resposta encontrada é a de que, sem o êxito da empresa agrícola do açúcar, essa ocupação não teria dado certo, já que a grande quantia de metais preciosos que esperava se achar por essas terras, não fora encontrada de início, fazendo da defesa do território brasileiro um enorme custo baseado numa, quiçá, utopia. Se se leva em conta os recursos necessários para o desenvolvimento dos negócios com as Índias orientais, que era algo com retorno bem mais certo, a vontade de se abandonar as terras brasileiras, logo no início de sua ocupação, ao se detectar a escassez de metais, seria, talvez, determinante não fosse o sucesso da agricultura açucareira. Por isso aqui o destaque pra tal empresa agrícola. Porém, isso tudo dá margem pra nova pergunta: quais fatores foram responsáveis para o êxito da empresa do açúcar?
Na resposta a esta nova pergunta, Celso Furtado destaca o fato de Portugal ter iniciado tempos antes da colonização brasileira, em escala relativamente grande, nas ilhas do Atlântico, a produção do açúcar. Isso contribuiu pro desenvolvimento técnico e pra produção de equipamentos, por parte de Portugal, necessários ao êxito da empresa açucareira brasileira. Entretanto, o domínio da produção do açúcar pelos colonos portugueses não lhes assegura o domínio de sua comercialização e distribuição. Quanto a estas, o controle será feito pelos holandeses. Esse fato nos parece, excluindo-se o fato de nascermos como colônia, logicamente, o primeiro indício de nosso destino como economia dependente. Que, no primeiro momento, o Brasil se submetesse ao monopólio comercial holandês pra fazer com que sua produção chegasse até a Europa, é aceitável. Mas daí, como narrado por Furtado, se formar uma elite açucareira que pouco se preocupava com o destino de seus produtos, limitando-se, com o passar do tempo, a simplesmente receber renda pelas suas terras cultiváveis ignorando as possibilidades lucrativas de controle do inteiro circuito de suas mercadorias, denota o atraso da nação que nos colonizou. 
O desenvolvimento da economia açucareira inclui a substituição da mão de obra escrava indígena pela escrava africana, pois esta era mais apta pra trabalhar nos engenhos. Portugal acaba se saindo bem nesse quesito, por ter um profundo conhecimento no arregimento de escravos na África há mais de um século, desde o tempo de Dom Henrique. Mas passado o período áureo dos engenhos, depois da invasão dos holandeses pelas terras nordestinas e sua posterior expulsão, o conhecimento adquirido nas técnicas do açúcar por parte dos flamengos, faz com que se instale uma indústria concorrente no caribe, baixando, inicialmente, pela metade o preço do açúcar. É chegado, portanto, o período de estagnação da nação açucareira.
A indústria do açúcar conviverá, depois disso, com períodos de recessão, seguidos por pequenos surtos de prosperidade. E o que era pra dá margem à criação de novas atividades que expandisse o mercado interno e talvez ensaiasse o início de uma produção autônoma, diversificada da açucareira em declínio, acaba por aumentar as atividades de subsistência ligadas, sobretudo, à criação de gados. Aí se percebe a análise estruturalista de Furtado apontando pra um contexto que, por situações estruturais, não encontrava saída dentro de si mesmo. Era preciso que um elemento ou atividade de fora apontasse pra novos caminhos. E esse elemento veio: descobriu-se o ouro em Minas Gerais.
A economia Mineira apresenta alguns aspectos cruciais que diferem da açucareira. Por isso mesmo, representa um passo a mais no crescimento e na interação econômica do país. Figueiredo é bem oportuno em destacar isso na obra de Furtado. Primeiramente, parte-se do princípio de que o nível de capitalização inicial exigido pro indivíduo inserir-se na economia mineira é muito pequeno. Isto fez com que grande parte da mão de obra livre dos engenhos em estagnação, migrasse paro os garimpos com chances de enriquecer. Outro ponto é que, apesar de a economia mineira ter base escravista, grande quantitativo de sua mão de obra era de imigrantes europeus. Isso provoca grande mudança no perfil populacional de uma e outra economia. Além do que, mesmo os escravos africanos detinham um regime de trabalho diferenciado dos do engenho. Isso se deve ao fato de muitos deles serem obrigados a, somente, pagarem uma quantia fixa de dinheiro ao dono das terras garimpadas, vendo a possibilidade, inclusive, de comprar sua própria liberdade. Só esse fato já representa uma grande mudança por possibilitar o aumento do nível mental dessa mão de obra. 
Bem se vê, portanto, que a economia mineira foi responsável por criar um potencial mercado interno com o significativo aumento da circulação monetária. A extração de grande quantidade de metais e a grande quantidade de massa de trabalho atraída por essa atividade impacta na procura de produtos alimentícios e, principalmente, na procura de gado pra corte e transporte e muares. Por essa época, instalasse e desenvolvesse a pecuária no Rio Grande do Sul, que será o principal abastecedor do mercado criado pela economia mineira. Grandes hordas de gados e mulas, saídas do sul do país, são transportados pra grandes feiras em São Paulo com o objetivo de atender a procura de pessoas de todos os lugares do país, mas principalmente daquelas provindas da economia mineira que viam na pecuária a principal atividade de suporte de suas próprias atividades. Percebe-se, com isso, que a economia mineira foi a grande responsável por, inicialmente, integrar economicamente as regiões do país. 
Entretanto, como era previsto, em dado momento, mas exatamente aos fins do século XVIII, exaure-se a produção aurífera. A economia mineira regride muito rapidamente atingindo o nível de subsistência, dispersando-se e formando pequenos núcleos coloniais separados uns dos outros. Em sua obra, Celso Furtado chega a dizer que nunca se viu na história da Latino-América regressão tão rápida em termos econômicos. Com uma população dispersa a economia do país volta a patinar, dado que a economia mineira servia de sustentáculo pra outras atividades. Por longo tempo permaneceu assim e, ainda segundo a ótica estrutural de Furtado, era necessário que um novo fator se fizesse presente pra retirar o país daquela estagnação que parecia ser perpétua. Era necessário que o país encontrasse um produto que se inserisse com capacidade de competir nos mercados de produtos internacionais. Novamente, portanto, percebemos a dependência da dinamicidade de nossa economia do setor externo, própria de uma economia subdesenvolvida.
Entretanto, pra além disso, o Brasil acabou encontrando seu produto que criaria um novo ciclo de crescimento e, pela primeira vez, ensaiaria a possibilidade de iniciar-se um ciclo de desenvolvimento com a industrialização, futuramente. Este produto foi o café. Cultivado, primeiramente, em regiões de Minas Gerais e Rio de Janeiro, seu maior foco acabou sendo as terras paulistas depois de um ano. Aproveitando-se da população mineira que tinha regredido ao nível de subsistência é que pode criar sua mão de obra e empresariado. Nesse ponto é importante destacar o fato da classe dominante cafeeira diferenciar-se bastante da classe retrógrada e rentista açucareira. Essa diferença deriva-se do fato de grande parte desse empresariado já ter experiência comercial, além de iniciar uma produção com a preocupação do controle de todo o circuito produtivo. Isso propicia com que esses cafeicultores tenham melhor visualização de seus verdadeiros interesses, fazendo com que buscassem o poder político do Estado como elemento fundamental pra concretização de seu poder econômico. Tal síntese entre poder político e econômico se dará plenamente com a proclamação da república, criando o que conhecemos por “República dos Cafeicultores”.

Continue navegando