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i) aqueles cujos valores de manutenção estão abaixo dos valores de ressarcimento, ou seja, esses países lucram ao participar das operações (sobretudo, os países de menor desenvolvimento relativo, como Bangladesh, Paquistão e Nepal, e os países do leste europeu); e ii) aqueles cujos gastos estão acima dos valores de reembolso, ou seja, países que perdem recursos com suas participações (países industrializados e alguns em desenvolvimento). 82 O modelo-padrão consta do doc. A/45/594 e foi aprovado pela Resolução nº 45/75, 11/ 12/90. 83 As dificuldades para a assinatura de acordos SOMA podem ser ilustradas pelo episódio da cessão da tropa brasileira à ONUMOZ em 1994: a tropa foi desdobrada em junho/julho de 1994, o acordo de cessão de tropa foi celebrado por troca de notas em setembro em Nova Iorque e a tropa regressou ao Brasil até fins de dezembro de 1994. A tramitação no Executivo estendeu-se até abril de 1995, quando, então, seguiu para o Congresso Nacional mesmo após a repatriação da companhia brasileira. O acordo só veio a ser aprovado pelo Congresso mediante a promulgação do Decreto Legislativo nº 25, de 7/5/97. OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 125 Consta do livro The Evolution of UN peacekeeping estudo realizado pela ONU em 1991, segundo o qual nas forças de paz coexistem tropas cujos custos para os países de origem variam de US$ 280 homem/mês até US$ 4.400 homem/mês. No entanto, o valor médio do reembolso pago pela ONU é de US$ 988 homem/mês. Em linhas gerais, a prática seguida pelas Nações Unidas é de que o pessoal militar, policial e civil cedido para servir em missões de observação mantém seus vínculos trabalhistas e contratuais com suas organizações de origem. Recebe da ONU diárias de alimentação (que variam de país a país) e hospedagem (que podem ser substituídas pelo oferecimento de alojamento), além de passagens de ida e de regresso ao país de origem. Os integrantes de forças de paz, por sua vez, recebem diretamente das Nações Unidas somente uma pequena ajuda diária, atualmente no valor de US$ 1,28, a título de “reembolso de despesas pessoais”, que é aumentada para US$ 10,50 durante os 15 dias de licença anual. Os demais pagamentos são efetuados diretamente aos governos e consistem hoje nos seguintes reembolsos mensais inalterados desde 1991, com base na aprovação da Resolução 46/ 185: (a) US$ 988,00 por militar, de qualquer patente; (b) bonificação adicional de US$ 291 para gastos envolvidos na cessão de unidades de maior especialização, extensiva, entretanto, a não mais de 25% do contingente mobilizado nas unidades logísticas e a 10%, nas demais unidades; (c) US$ 65,00 por desgaste de equipamento e fardamento pessoais; e (d) US$ 5,00 por armas de uso pessoal e respectiva munição. REEMBOLSO PELO USO DE EQUIPAMENTO DO CONTINGENTE E DE BENS DE CONSUMO Outra questão que preocupa os Estados que contribuem com tropas e equipamentos para operações de paz da ONU é o chamado 126 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA “reembolso pelo uso de equipamento de propriedade dos contingentes e bens de consumo”. Esse reembolso era baseado na inspeção de todo o material por ocasião da chegada das tropas (o chamado “in- survey”), com listagem abrangente e avaliação do valor de cada item, de acordo com seu custo inicial, tempo de uso e estado de conservação. Quando o contingente deixava a área da missão, nova inspeção era levada a cabo (o chamado “out-survey”) e o reembolso era calculado com base no fator de depreciação (30% do valor do bem no primeiro e segundo anos de uso, 20% nos anos seguintes). Esse sistema exigia grande carga burocrática e os serviços de pessoal especializado em equipamentos militares, acarretando atrasos no reembolso. Pela Resolução 49/233 A, de 23/12/94, a AGNU autorizou o Secretário-Geral a rever, em colaboração com os Estados membros, essa sistemática. Em 11/4/96, a AGNU aprovou, pela Resolução 50/ 222, novo procedimento de reembolso por “Equipamento de Propriedade do Contingente e Bens de Consumo” (denominado de COE — Contingent-Owned Equipment and Consumables) baseado no conceito de leasing, segundo o qual há acordo prévio sobre os equipamentos que cada unidade militar deve colocar à disposição das Nações Unidas84. Caso o país contribua com menos equipamentos que o estipulado, há redução na taxa de reembolso; por outro lado, qualquer contribuição superior à prevista no acordo passa a ser de inteira responsabilidade do país contribuinte. O sistema prevê, ainda, que as Nações Unidas passem a reembolsar, como serviços, o fornecimento de equipamentos menores e de bens de consumo não diretamente relacionados ao equipamento principal85. O novo sistema de reembolso vige desde 1/7/96. 84 O país contribuinte pode optar pelo “wet lease”, pelo qual se compromete a fornecer tanto o equipamento principal como sua manutenção, ou pelo “dry lease”, caso em que o país fornece apenas o equipamento principal e as Nações Unidas assumem a responsabilidade por sua manutenção (para maiores detalhes, ver doc. A/50/807, de 8/12/95). 85 Neste caso, o reembolso é calculado com base no tamanho do contingente, funções específicas e padrões estabelecidos, aplicando-se as tabelas de “custo de auto-suficiência” contidas no apêndice II, seção B do documento A/C.5/49/70, de 20/7/95. OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 127 INDENIZAÇÕES POR MORTE E INVALIDEZ Nos casos de acidente ou morte de pessoal a serviço da operação, as Nações Unidas comprometem-se a pagar indenização, cujos valores máximos, para observadores, eram estipulados inicialmente em US$ 50 mil ou duas vezes o valor do salário anual básico do interessado. Porém, nos casos de tropas colocadas à disposição das forças de paz, existia forte iniqüidade no tratamento relativo às indenizações, visto que a Organização baseava-se no sistema de indenizações adotado pelo país de origem do falecido ou inválido. Essa diferenciação de tratamento ficou patente nas intervenções das Nações Unidas na Somália e na Bósnia-Herzegovina, quando os valores de indenizações por morte ou invalidez para militares procedentes dos países em desenvolvimento eram muito inferiores àqueles dos países desenvolvidos. As distinções ganharam dimensões políticas sensíveis no Comitê Especial sobre Operações de Manutenção da Paz e na AGNU, com acusações de que a vida de alguns integrantes de operações de manutenção da paz valia mais que a de outros. Para solucionar o problema, a AGNU aprovou, pela Resolução 52/218 E(II), de 17/6/ 97, um sistema de seguro individual com taxas uniformes e padronizadas de indenização por morte ou invalidez, que passaram a ser aplicadas em casos de acidentes ocorridos após 30/6/9786. Para fins de registro, cumpre assinalar que de 1948 a 1987, ou seja em 40 anos, foram registradas 754 baixas fatais, período em que prevaleceram contendas interestatais, e, a partir de 1988 até setembro de 1998, isto é em 11 anos, houve 827 mortes, quando passaram a 86 A indenização por morte no exercício de função oficial em uma operação de manutenção da paz passou a ser padronizada em US$ 50,000.00, enquanto a indenização por invalidez passou a ser calculada com base em percentuais que incidem sobre o valor da indenização por morte, de acordo com a tabela constante do Anexo I doc. A/49/906 e Corr.1. Ver também os docs. A/48/945 e Corr.1; A/50/1009; A/49/664; A/50/684; A/51/646; A/52/410 e Resolução nº 52/177, de 18/12/97. 128 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA predominar conflitos intra-estatais, perfazendo um total de 1.581 falecimentos para o período de 1948-9887. AS DEMAIS INSTÂNCIAS DO SISTEMA DAS NAÇÕES UNIDAS Os demais atores das Nações Unidas que interagem com as operações de manutenção da paz são os representantes das Agências Especializadas, Fundos e Programas. Cumpre ressaltar a atuação do Alto Comissariado das Nações Unidas para