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pela OTAN na República Federal da Iugoslávia em 1999, sem o respaldo do CSNU, parece muito válida a posição apresentada pelo Embaixador Celso Amorim, então Representante do Brasil junto às Nações Unidas, em seu discurso sobre o item 11 da Agenda (“Relatório das atividades do CSNU”) da 53ª AGNU, pronunciado no dia 11/10/98: “... it is unsettling to witness our commonly accepted basis for legitimate A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 193 international action in the field of peace and security — the U. N. Charter — being circumvented, for whatever reasons. Without going into the individual merits of specific decisions by regional organizations and other non-universal bodies, these waivers proclaimed outside the UN standard are symptomatic of a lack of confidence in the Council’s judgement, which should be a matter for reflection by all Member States. It would be truly disheartening if the post cold war period, instead of setting the stage for an era of greater international cohesion, were to degenerate into new patterns of fragmentation and spheres of influence, to the detriment of the principles and objectives of the UN Charter”. Tal amplitude de ação dos organismos e arranjos regionais e sub-regionais poderia ser atenuada mediante a adoção de um sistema eficaz de prestação de contas ao CSNU — o que asseguraria a primazia da ONU na avaliação do cumprimento das resoluções aprovadas sobre os diferentes conflitos — e por meio da aprovação de mandatos precisos, que delimitassem explicitamente as funções a serem delegadas. O Presidente do CSNU emitiu declaração em 30/ 11/98, relacionando sugestões para minimizar o problema, tais como a designação de funcionários civis para integrar as operações delegadas, a indicação de oficiais de ligação e uma maior troca de informações entre a ONU e os países envolvidos. No entanto, caso as propostas aventadas não venham a ser institucionalizadas, seus efeitos serão muito limitados, com riscos de que os organismos e arranjos regionais e sub- regionais continuem a agir de forma desimpedida no terreno. Aprimoramento da capacidade dos países africanos para participar de operações e manutenção da paz A década de 90 assistiu a um aumento de conflitos e de situações de emergência humanitária na África. Em 1998, as duas únicas operações de manutenção da paz criadas pelo Conselho de Segurança 194 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA foram a MINURCA, para atuar na República Centro-Africana, e a UNOMSIL, em Serra Leoa, ao passo que em 1999, foi estabelecida a MUNUC, para servir na República Democrática do Congo. Nem sempre, porém, as Nações Unidas têm tido êxito, haja vista sua incapacidade de resolver o problema da Somália e o do genocídio em Ruanda. Os relatórios do Secretário-Geral da ONU intitulados Preparedness for Conflict Prevention and Improving Peacekeeping in Africa, de novembro de 1995, e The Causes of Conflict and Promotion of Durable Peace and Sustainable Development in Africa, de abril de 1998, assim como a realização da Segunda Reunião Ministerial dos Membros do Conselho de Segurança sobre a África, em 24/9/98, e as sucessivas declarações presidenciais emitidas pelo CSNU sobre o assunto, testemunham, entre outros exemplos, a preocupação das Nações Unidas nessa matéria. É nesse contexto que os países africanos têm buscado criar ou revigorar órgãos próprios para tratar da resolução de conflitos regionais. Os países desenvolvidos também têm debatido a questão, provavelmente motivados pela necessidade de identificar cursos de ação capazes de afastar o risco de terem de enviar tropas, sem despertar, ao mesmo tempo, críticas internas de que estariam abandonando a África à sua sorte. Por exemplo, a União Européia tem-se reunido com a OUA periodicamente, desde dezembro de 1993, alternadamente em Adis Abeba e em Bruxelas, para aprofundar a cooperação em matéria de diplomacia preventiva. Os EUA, por sua vez, promoveram, com fins semelhantes, a Conferência Internacional sobre a Diplomacia Preventiva e a Manutenção da Paz na África, cujas sessões se realizaram em Washington (maio de 1995), Bruxelas (janeiro de 1996) e Madri (junho de 1996). Os Estados Unidos, a França e o Reino Unido vêm empreendendo, ademais, esforços independentes para adestrar tropas de países africanos e, em alguns casos, fornecer-lhes determinados equipamentos não-letais, com o objetivo de habilitá-las a participar de A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 195 operações de manutenção da paz. Em maio de 1997, os três países assinaram um memorando de entendimento em Nova Iorque lançando as bases de uma futura iniciativa conjunta na África. Essa seria baseada em quatro princípios: a) melhora, a longo prazo, da capacidade dos países africanos de promover respostas coletivas rápidas e eficazes a crises humanitárias e outras crises (o que seria atingido por meio de esforços coordenados e contínuos de treinamento, exercícios conjuntos e desenvolvimento de doutrina comum); b) legitimidade (as atividades deveriam ser implementadas em consulta e coordenação com a Organização de Unidade Africana e as Nações Unidas; c) abertura (todos os países africanos e outros doadores estariam aptos a participar, com exceção dos que estão sob sanções do Conselho de Segurança da ONU); e d) transparência (por meio do estabelecimento de um órgão deliberativo em Nova Iorque denominado Grupo de Apoio à Manutenção da Paz Africana (African Peacekeeping Support Group- APSG), do qual fariam parte a ONU, a OUA, os países africanos e potenciais países doadores. Na ocasião, os Governos estadunidense, britânico e francês acordaram em criar não uma força africana permanente de pronto emprego (standing African force), mas sim uma “capacidade” de atuação conjunta. Em realidade, a celebração do memorando de entendimento entre os três países foi apenas um esforço de coordenação das iniciativas individuais, que terão continuidade como programas nacionais. O APSG reuniu-se duas vezes: uma em 5/12/97 e outra em 26/5/98, sob a coordenação do Chefe do Departamento de Operações de Manutenção da Paz, Bernard Miyet. Além disso, uma reunião de trabalho informal realizou-se em 21/1/99. As deliberações não alcançaram resultados concretos, cingindo-se ao anúncio genérico da disposição dos doadores de participarem do esforço de treinamento. Várias delegações africanas e de outros continentes manifestaram que a iniciativa de coordenação dos três Estados estaria servindo de mero escudo para a preservação ou alargamento de suas zonas de influência 196 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA no continente africano, além de criar condições que permitissem que o treinamento das tropas africanas e o apoio às mesmas tornem desnecessário o envio de militares seus, decisão esta nem sempre bem compreendida pelas respectivas opiniões públicas. Nos corredores da sede da ONU em Nova Iorque chegou-se a comentar, até mesmo, que a ACRI, a RECAMP e a API poderiam incentivar uma corrida armamentista na África, tendo em vista os problemas de instabilidade política existentes naquele Continente: diversos grupos étnicos disputam o poder dentro de um mesmo país e muitos países nutrem desconfianças e inimizades recíprocas. É oportuno descrever, resumidamente, as iniciativas que vêm sendo executadas pelos EUA, França e Reino Unido na África, até o momento, por serem os principais protagonistas nesse campo de cooperação. “INICIATIVA AFRICANA DE RESPOSTA A CRISES” DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Inicialmente denominada de Força Africana de Resposta a Crises (African Crisis Response Force-ACRF), essa iniciativa dos EUA objetivou, em meados de 1996, instituir, em seis meses, uma força multinacional africana para atuar em situações de emergência humanitária — em um primeiro momento, a força destinava-se a ser empregada em eventual crise no Burundi. A iniciativa foi sendo modificada, com base