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em uma crescente obsolescência dos equipamentos das Forças Armadas, por falta de reposição ou manutenção165, mas também a inexistência de uma legislação salarial apropriada faz com que os voluntários selecionados ganhem os respectivos soldos e ajuda de custo, nos termos da Lei nº 5.809, de 10/10/72, que “dispõe sobre a 165 Skidmore, (1998). O professor Thomas Skidmore comenta no seu livro “Uma História do Brasil” que, entre outros fatores, a crise financeira vivida pelas Forças Armadas serve para ilustrar o declínio da influência dos militares na vida pública brasileira após 1985. Por exemplo, na página 302, o autor observa que “com exceção de um ano (1990), os militares assistiram entre 1985 e 1993 a uma diminuição de ¼ de sua cota. Claramente, o Brasil havia entrado numa nova era.” 228 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA retribuição e direitos do pessoal civil e militar em serviço da União no exterior, e dá outras providências”. A tropa que serviu na ONUMOZ custou R$ 29.504.612,00 (por cerca de 6 meses) e na UNAVEM III, R$ 236.647.332,00 (por aproximadamente 2 anos), perfazendo um total de R$ 266.151.944,00, recursos estes aprovados pelo Legislativo antes do desdobramento da tropa ou ao longo de sua permanência no terreno. Desse total, R$ 102.086.435,00 cobriram despesas de “pessoal” e R$ 164.065.509,00 foram gastos na rubrica “outras despesas correntes e capital”. Os valores não utilizados foram restituídos ao Tesouro Nacional. Uma das preocupações das Forças Armadas foi sempre a de prestar contas sobre as despesas incorridas, de modo a não dar margem a críticas ou suspeitas de malversação de fundos. O ônus financeiro incorrido pelo Brasil nas missões de paz é atenuado quando se tem presente o fato de que a manutenção dessa tropa e seu adestramento no Brasil implicaria, de qualquer modo, em despesas de custeio e que os recursos foram empregados mormente para adquirir equipamentos de empresas brasileiras, não havendo evasão de divisas. Recorde-se, ademais, que o custeio das operações de manutenção da paz é uma obrigação imposta a todos os Estados membros, conforme explicado no capítulo I. Caso o Brasil não participe, em nível adequado, a contribuição brasileira será usada para reembolsar as despesas de terceiros países. Até o momento, cerca de US$ 36 milhões foram reembolsados até 1/7/99, mas ainda há recursos a serem recebidos, cujo pagamento está dependendo do equacionamento satisfatório dos problemas financeiros por que passa a ONU. À parte das iniciativas internas das Forças Armadas para mobilização, preparo e assistência dos contingentes brasileiros em operações de manutenção da paz, foram adotadas medidas para melhor acompanhar a evolução das operações das quais o Brasil participava e defender os interesses nacionais. Assim, o Itamaraty e as Forças PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 229 Armadas empenharam-se, nos últimos anos, em incrementar a presença brasileira em diferentes atividades das operações de manutenção da paz, especialmente na ocupação de postos-chave tanto no terreno como no DPKO, em Nova Iorque, o que será analisado a seguir. PARTICIPAÇÃO DE OFICIAIS BRASILEIROS EM POSTOS DE CHEFIA NAS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDAS O GTI identificou a oportunidade de o Brasil vir a preencher cargos de chefia nas operações de manutenção de paz como meio de resguardar os interesses das tropas a serem cedidas às Nações Unidas, assim como para motivar a oficialidade dos comandos militares no tratamento do assunto. A tabela, abaixo, relaciona o nome de alguns dos oficiais brasileiros que ocuparam cargos de chefias nas missões de paz da ONU. TABELA Nº 9 NÚMERO DE MILITARES QUE PARTICIPOU DAS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDAS DE 1989 A 1999¹ Fonte: publicação The Blue Helmets das Nações Unidas e MRE. 230 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA A experiência acumulada pelo Brasil revela que a seleção de militares para cargos de chefia responde a critérios eminentemente políticos, num processo em que interagem, em graus distintos, interesses dos principais países que contribuem com tropas, do Secretariado, das partes em conflito, dos países vizinhos ao conflito e do país convidado a fazer a cessão do oficial-general. Além disso, o DPKO busca garantir certa proporcionalidade entre efetivos cedidos e os quadros de pessoal nos comandos regionais e no estado-maior da missão, mas isso não significa necessariamente que serão oferecidos ao país que aporta número significativo de pessoal postos mais elevados na cadeia de comando. Em Angola, o Brasil indicou 43 militares para o estado-maior e os comandos regionais, mas apenas um pequeno número desses militares ocupou efetivamente cargos de chefia na UNAVEM III, apesar de o País ter sido, juntamente com a Índia, um dos principais contribuintes de tropa. Por outro lado, na Guatemala, em Moçambique e na antiga Iugoslávia onde, em contraste, o Brasil teve engajamento menos expressivo, o Exército foi convidado a ceder um oficial-superior para ser o subcomandante da MINUGUA e dois oficiais-generais para ocuparem cargos de comando na ONUMOZ e na UNPROFOR. Em tese, a participação de militares brasileiros no planejamento das ações, mediante a assunção de cargos outros de direção, permitiria ajudar a adequar o emprego das tropas brasileiras à sua real capacidade operacional, preservando o equipamento próprio nacional (por exemplo, atribuindo aos contingentes brasileiros tarefas de patrulhamento em zonas que contam com infra-estrutura física adequada — estradas asfaltadas, menores ameaças de minas etc.) e reduzindo custos (favorecendo o desdobramento da tropa em locais de fácil acesso para a prestação de apoio logístico). Embora a capacidade de influência do Brasil no processo de seleção seja limitada, é importante que o Secretariado incorpore militares brasileiros aos estados-maiores e aos escalões de maior PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 231 responsabilidade dos comandos regionais das operações de manutenção da paz de que o país venha a participar, sobretudo quando envolver a cessão de tropas. De acordo com o Comando o Exército e o Ministério da Defesa — entidades sucessoras do Ministério do Exército e do EMFA — esta é uma das principais lições do engajamento de tropas do Brasil na ONUMOZ em Moçambique e na UNAVEM III em Angola. CESSÃO DE OFICIAIS BRASILEIROS PARA O DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DO SECRETARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS Diante da crescente presença do Brasil nas atividades de manutenção da paz das Nações Unidas, o GTI considerou, em 1993, que a cessão gratuita de oficiais para o DPKO, sem ônus para a ONU, deveria ser explorada para tentar influenciar o planejamento e a execução das diferentes operações das Nações Unidas, bem como para velar pelos interesses das Forças Armadas no tocante ao processamento de pedidos de reembolso e de indenização por morte e invalidez. Depois de várias gestões, e credenciado então pelo engajamento das tropas do Exército nas operações de paz em Moçambique (1994) e, subseqüentemente, do Exército e da Marinha em Angola (1995-97), o Brasil foi formalmente convidado a integrar o DPKO em 1994. Para fins de registro, segue tabela contendo o nome e as funções exercidas pelos oficiais cedidos gratuitamente ao DPKO. 232 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA TABELA Nº 10 OFICIAIS CEDIDOS GRATUITAMENTE AO DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DO SECRETARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS1 Fonte: MRE. Essa tabela mostra que os militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica vêm atuando em várias unidades no DPKO. Como resultado, tiveram acesso a informações sobre a montagem de missões de observação e forças de paz166 e puderam acelerar a tramitação interna dos pedidos de reembolso e de indenizações. Em 30/6/98, o 166 Em 9/1/98, o SGNU enviou missão técnica a