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A Indústria Farmacêutica no Brasil 1 – INTRODUÇÃO Em termos mundiais, o mercado farmacêutico encontra-se em expansão há vários anos, de maneira continuada e a uma taxa média anual que varia entre 7 e 8%. A Organização Mundial da Saúde – OMS estima que atualmente mais de 1/3 da população mundial ainda não tem acesso regular aos medicamentos essenciais. Esse crescimento do faturamento não tem proporcionado nem significado melhoria da eqüidade no acesso aos fármacos. Exemplo – AIDS – Vendas globais rendem dezenas de bilhões de dólares. Na África (70% dos 34,3 milhões de portadores do vírus HIV) as vendas representam apenas 1,3%. Europa e a América do Norte 60% do faturamento total. A Indústria Farmacêutica no Brasil No Brasil, somente 1/5 da população é consumidora regular de medicamentos. Perfil do consumo brasileiro de medicamentos, segundo a faixa de renda da população (Adaptado de ABIFARMA, 1999, apud Cohen, 2000) . A Organização Mundial da Saúde – OMS ressalta: “ Ainda que os produtos farmacêuticos, por si só, não sejam suficientes para proporcionar uma atenção à saúde adequada, em verdade desempenham uma importante função na proteção, conservação e recuperação da saúde dos cidadãos [...]. Se reconhece, com toda generalidade, que os medicamentos devem considerar-se como ferramentas essenciais para a assistência à saúde e para a melhoria da qualidade de vida... “ (OMS, 1978: 5). A Indústria Farmacêutica no Brasil Política Nacional de Medicamentos do Brasil, (Portaria nº. 3.916, de 1998). Lei nº. 8.080/90, que, em seu art. 6º., estabelece como campo de atuação do Sistema Único de Saúde – SUS, a "...formulação da política de medicamentos […] de interesse para a saúde…". “...garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais”. A Indústria Farmacêutica no Brasil Ciclo da Assistência Farmacêutica (adaptado de um consenso estabelecido pelo grupo técnico que assessora a ASSFARM/MS e a OPAS14 na área de medicamentos, 1999) A Indústria Farmacêutica no Brasil Papel do Estado na regulação do funcionamento dos mercados farmacêuticos: a) formulação de políticas farmacêuticas nacionais; b) regulamentação farmacêutica; c) normatização das diversas profissões da área da saúde relacionadas com a produção, prescrição, administração e dispensação de medicamentos; d) garantia do acesso aos medicamentos essenciais; e e) promoção do uso racional dos medicamentos. A principal estratégia de competição dos maiores laboratórios farmacêuticos fundamenta- se na diferenciação de produtos, especialmente por meio das marcas comerciais, consolidadas pelo marketing. Tal cenário elimina e/ou reduz substancialmente a competição via preços. A Indústria Farmacêutica no Brasil 2 – O MERCADO E A SAÚDE Para que um mercado seja considerado aberto e operando livremente admite-se que não haja nenhuma interferência ou controle externo às forças do próprio mercado. Em tese, as leis do mercado operando livremente (“oferta e demanda”), onde as empresas e consumidores buscarão maximizar seus anseios – lucro e satisfação, respectivamente – devem ou deveriam ser capazes de ajustar a disponibilidade dos bens e serviços a todas as necessidades existentes, a preços justos e equilibrados, num dado período de tempo. Porém, a realidade corrobora essa teoria? A Indústria Farmacêutica no Brasil Curvas da Oferta e Demanda: equilíbrio de mercado. De acordo com a literatura econômica: Quando existir excesso de procura surgirão pressões no sentido de os preços subirem, pois: a) os compradores, incapazes de comprar tudo o que desejam ao preço existente, se dispõem e passam a pagar mais; b) os vendedores vêem a escassez e percebem que podem elevar os preços sem queda em suas vendas. Quando existir excesso de oferta surgirão pressões para os preços caírem, pois: a) os vendedores percebem que não podem vender tudo o que desejam, seus estoques aumentam e, assim, passam a oferecer a preços menores; b) os compradores notam a fartura e passam a regatear no preço. A Indústria Farmacêutica no Brasil 3 - MERCADO FARMACÊUTICO De acordo com OMS, até os anos 40, a indústria farmacêutica consistia essencialmente na manufatura de produtos que já se encontravam disponíveis. Os avanços científicos e tecnológicos (1940 à 1950) resultaram no desenvolvimento de uma grande quantidade de novos produtos. Com a maior competitividade do novo cenário mundial (após a Segunda Guerra), as grandes empresas internacionalizaram-se, conquistando posição de liderança mundial. O setor farmacêutico atual caracteriza-se por ser extremamente complexo, devido à quantidade de atores envolvidos e seus diferentes papéis, que vão desde a pesquisa e desenvolvimento, passando pela produção e comercialização, até o consumo e pós-consumo dos medicamentos. A Indústria Farmacêutica no Brasil É um mercado de bens que apresenta peculiaridades que tornam difícil a sua comparação com algum outro setor especificamente. “ Por seu alto ritmo inovativo se assemelha ao mercado de informática; pela diversidade dos produtos, tamanhos e complexidades das empresas produtoras poderia assemelhar-se à indústria alimentícia. Pelo volume do faturamento poderia ser comparável à indústria bélica. Pela quantidade de intermediações e em especial de atores que participam em seu financiamento, é muito similar ao setor de serviços médicos.” Fundação Isalud (1999) A indústria farmacêutica, considerando-se as diferentes atividades que compõem o processo de concepção, desenvolvimento, produção e comercialização de medicamentos, pode ser desmembrada em 4 estágios: - pesquisa e desenvolvimento; - produção de fármacos; - produção de especialidades farmacêuticas; e - marketing e comercialização. A Indústria Farmacêutica no Brasil Nos países desenvolvidos, coexistem todos os 4 estágios. No Brasil e em outros países em desenvolvimento, as empresas que atuam nesse mercado, tanto as nacionais como as transnacionais, não operam no primeiro e segundo estágios tecnológicos. A inovação no mercado brasileiro depende da estratégia global de lançamento do produto e, no caso das firmas nacionais, da proteção patentária – desde 1996 – e da rapidez da difusão internacional da tecnologia. O mercado farmacêutico possui três características marcantes: a internacionalização, a diversificação e a concentração. A Indústria Farmacêutica no Brasil 4 - O SISTEMA DE PATENTES FARMACÊUTICAS “ Propriedade Intelectual é uma expressão genérica que corresponde ao direito de apropriação que o homem pode ter sobre suas criações, obras e produções do intelecto, talento e engenho. Abrange duas grandes áreas: Direito do Autor e Propriedade Industrial. O Direito do Autor ou Copyright fornece proteção aos trabalhos literários, artísticos, fotográficos, cinematográficos e aos softwares (Ben-Ami, 1983). A Propriedade Industrial é um nome coletivo para um conjunto de direitos relacionados com as atividades industriais ou comerciais do indivíduo ou companhia. A fim de proteger a produção, a Propriedade Industrial aparece na forma de patentes de invenção, modelos de utilidade e modelos de desenhos industriais, que são monopólios legais, que reconhecem o privilégio de uso e exploração exclusiva ao inventor por um prazo determinado, visando encorajar o desenvolvimento da indústria para o bem da comunidade em geral “ (Bermudez et al., 2000: 51). A Indústria Farmacêutica no Brasil Os direitos de propriedade intelectual são protegidos internacionalmente por acordosque remontam aos séculos passados. As opções de patenteabilidade das invenções farmacêuticas são, basicamente, três: a) não adoção de patentes para as invenções farmacêuticas de todas as classes; b) adoção de patentes para os produtos e, por conseguinte, proibição aos não titulares de sua fabricação e comercialização por qualquer procedimento; c) adoção de patentes para os novos processos desenvolvidos na obtenção de um novo produto ou de um produto já conhecido. Entretanto não protege o produto em si. A Indústria Farmacêutica no Brasil Rodada do Uruguai no âmbito do Acordo Geral de Tarifas e Comércio – GATT (1986). Trade Related Aspects of Intellectual Rights Including Trade in Counterfeit Goods – TRIPS, (abril de 1994), Marrakesh, 123 países, incluindo o Brasil. No Brasil - O patenteamento para a área farmacêutica foi abolido por completo em 1969, pelo Decreto-lei nº. 1.005/69, que permaneceu em vigor até a adoção da atual Lei de Propriedade Industrial – Lei nº. 9.279/96 – que procurou atender às exigências do Acordo TRIPS. DISCUSSÕES: 1. Quais os possíveis efeitos para os países em desenvolvimento, no que se refere ao acesso aos medicamentos, de um monopólio absoluto estabelecido pelas patentes de produtos farmacêuticos? 2. O sistema de patentes é realmente uma condição necessária para o desenvolvimento tecnológico e industrial do setor farmacêutico nos países em desenvolvimento? A Indústria Farmacêutica no Brasil No Brasil foi observado um incremento significativo dos seus preços, com a conseqüente perda do bem-estar para a população. Apesar do não reconhecimento de patentes para os produtos farmacêuticos até meados da década dos 90, as grandes empresas transnacionais desse setor continuaram com grande interesse em atuar no País. Baseia-se principalmente no ambiente político e econômico vigente em cada país, assim como na existência de um bom mercado consumidor, disputando fatias desse mercado. O reconhecimento das patentes farmacêuticas em alguns países desenvolvidos A Indústria Farmacêutica no Brasil 5 – CONCENTRAÇÃO NO MERCADO Mercado farmacêutico mundial: volume de vendas e participação segundo as regiões Mercado farmacêutico latino-americano: volume de vendas e participação no total, segundo o país A Indústria Farmacêutica no Brasil Mercado farmacêutico no Brasil: distribuição das vendas de medicamentos por origem de capital das empresas Somente 21% das solicitações para comercializar novos fármacos foram aprovadas pela Food and Drug Administration – FDA, sob a rubrica de entidades moleculares novas no período de 1979-2003. O tempo médio para produzir um novo fármaco saltou de 35 meses, no início dos anos 60, até mais de 145 meses ao final dos anos 80. Além disso, os custos dessa atividade têm alcançado 280 milhões de dólares para cada nova monodroga desenvolvida. A Indústria Farmacêutica no Brasil 6 - O MARKETING COMO SOLUÇÃO ESTRATÉGICA PARA O SETOR FARMACÊUTICO De maneira geral, os gastos da indústria farmacêutica mundial com publicidade e atividades correlatas são estimados em cifras que oscilam entre 20% e 40% do total, representando mais do que o dobro do montante destinado à P&D de novos fármacos Fontes de informação e influência na prescrição – Os "Propagandistas de Laboratório" são a fonte mais freqüentemente citada com relação ao conhecimento de uma nova droga. Duas outras fontes são anúncios de jornais e propaganda enviada pelo correio. Sempre que há percepção de riscos associados ao uso do medicamento, os "colegas" atuam como importante agente de legitimação A Indústria Farmacêutica no Brasil - 640 para 2.000 médicos, na Guatemala; - 9.000 para 32.000 médicos, no México; -14.000 para 45.000 médicos, no Brasil. 1/3} As comissões e salários dos vendedores representariam, em média, acima de 60% das despesas com vendas, realizadas pelas firmas, no Brasil. A principal estratégia de competição no setor farmacêutico ocorre pelo caminho “extrapreço”, principalmente pela diferenciação de produtos e do marketing. As especialidades farmacêuticas mais caras são as mais vendidas, mesmo havendo outros medicamentos mais baratos e terapeuticamente substitutos. O poder do trinômio : Diferenciação de produtos – MARCA – Marketing e promoção de vendas, Assimetria de informações. A Indústria Farmacêutica no Brasil Os laboratórios não disponibilizam produtos no mercado para os quais não obtenham um ganho mínimo aceitável e/ou para os quais a demanda não justifique os investimentos e a conseqüente produção – medicamentos órfãos (malária, tuberculose, chagas). “...drogas potencialmente úteis, mas não disponíveis no mercado. Sua exploração não é considerada lucrativa por várias razões, como dificuldades de produção ou porque são destinadas ao tratamento de doenças raras “ Chirac et al., 1999, apud Silva, 2000 A Indústria Farmacêutica no Brasil 7 - A REGULAÇÃO DO SETOR FARMACÊUTICO Aspectos sanitários - Busca a garantia da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos disponibilizados, por meio de um marco legislativo e normativo adequado, assim como de uma estrutura de vigilância apropriada. Regulamentação da conduta ética e da atuação dos profissionais ligados à saúde, direta ou indiretamente, especialmente no que diz respeito à relação com os usuários e com a indústria. Aspectos econômicos, relacionados com a regulação dos preços, tanto pelo controle direto deles, quanto dos mecanismos de controle “extrapreço”: genéricos, legislação antitruste, desenvolvimento da ciência e tecnologia reduzindo, redução da carga tributária, controle dos gastos institucionais, melhoria da eficiência na gestão e utilização dos recursos, entre outros. A Indústria Farmacêutica no Brasil 8 – GENÉRICOS (Lei Federal nº. 9.787, de 10 de fevereiro de 1999, e sua regulamentação pelo Decreto nº. 3.181, de 23 de setembro de 1999) A estratégia dos medicamentos genérico é uma ferramenta capaz de fomentar a competição via preço. Baseia-se em dois fundamentos principais: o uso destacado da denominação genérica para os medicamentos sem proteção patentária; e a certificação da qualidade, eficácia e segurança desses produtos, identificados como equivalentes terapêuticos. Dividi-se em duas fases. A primeira, que vai da década dos 50 até meados dos anos 70, e caracteriza-se por um alto ritmo inovativo e grande desenvolvimento econômico. A segunda fase, a partir de meados dos anos 70, quando o cenário começou a mudar, com um relativo e progressivo crescimento do mercado para os medicamentos genéricos. A Indústria Farmacêutica no Brasil Fatores que simultaneamente e de maneira complementar potencializaram os genéricos: a) um grande número de medicamentos – descobertos na década dos 50 – perdeu a proteção patentária na maioria dos países; b) o ritmo das descobertas de novos fármacos reduziu-se acentuadamente; c) o aumento do controle das autoridades sanitárias de vários países no que se refere à autorização de novos registros de medicamentos, restringindo sobremaneira as atividades de P&D e encarecendo-as cada vez mais; d) a crise econômica forçou uma revisão crítica de todos os gastos e da eficiência dos recursos empregados(os novos medicamentos são superiores e, por isso, seus preços mais elevados ?????????); e) a OMS passou a fomentar a implementação de Políticas Nacionais de Medicamentos para os países em desenvolvimento com base no conceito de medicamentos essenciais; A Indústria Farmacêutica no Brasil f) Desenvolvimento de uma grande estrutura de oferta de medicamentosgenéricos ou similares, constituída por empresas de médio e grande porte, especializadas nesse campo de atuação e capazes inclusive de competir com as grandes companhias pioneiras e detentoras dos produtos de marca. Obs: Há que se ressaltar a atuação dos laboratórios estatais, produzindo medicamentos nessa linha. Evidências internacionais demonstram que os medicamentos genéricos são comercializados a preços inferiores àqueles de marca, numa variação “a menor” da ordem de 40% a 70%, atribuíveis à redução dos gastos com marketing e promoção de vendas, além da ausência de gastos em P&D e do aumento da competição via preço. A Indústria Farmacêutica no Brasil DISCUSSÃO – Os medicamentos genéricos possuem uma real cobertura nosológica, já que seu elenco restringe-se àqueles livres de patentes ? Outros desafios: O questionamento e as dúvidas dos profissionais de saúde e da população quanto à qualidade dos produtos genéricos (status depreciado para os genéricos – como um produto de segunda linha. Em países como a Inglaterra e Alemanha, os médicos foram repreendidos e até punidos, por receitar de forma custosa e não pela denominação genérica. Não se deve permitir a difusão de concepções equivocadas, como a de que a prescrição e uso de medicamentos genéricos (sem marca) é apropriada somente para as camadas menos favorecidas da população, normalmente associadas aos sistemas públicos de saúde A Indústria Farmacêutica no Brasil Mecanismos para a promoção de uma estratégia para medicamentos genéricos A Indústria Farmacêutica no Brasil % de dominância do genérico em relação ao seu mercado total (Gerência Geral de Medicamentos Genéricos/ANVISA, 2003) Mercado farmacêutico no Brasil: distribuição das vendas de medicamentos por origem de capital – percentual em valores de U$, 1995 a 1998 A Indústria Farmacêutica no Brasil 9 – PROBLEMAS Laboratório Roche - Uma diferença de 5.202% no preço da importação de heparina em relação ao preço praticado no mercado internacional . Em 1996, o Laboratório Bristol que é o detentor da marca capoten importou mais de US$ 35 milhões ao preço FOB/kg de U$ 4,4 mil, enquanto a média no mercado internacional era de U$ 170. Glaxo-Welcome – Teve, em 1997, um custo adicional de US$ 3 milhões nas importações superfaturadas (aciclovir e ranitidina). Hoescht - 6,8 milhões nas importações superfaturadas (furosemida e dipirona). As justificativas apresentadas pelos representantes dessas empresas fundamentam-se na qualidade dos seus insumos e na necessidade de obterem retorno aos elevados gastos por eles despendidos em P&D ???????. A Indústria Farmacêutica no Brasil Mercado farmacêutico no Brasil, por tipo de medicamentos, em unidades farmacêuticas – 2001 (Gerência Geral de Medicamentos Genéricos/ANVISA, 2003) Evolução do preço médio dos medicamentos, em US$, para os três maiores mercados farmacêuticos da América Latina – 1988 a 1998 (Boletim PIA/Isalud, Abril/2001) A Indústria Farmacêutica no Brasil 10 - QUESTIONAMENTOS FINAIS 1 – Quem deve ser o responsável pela formulação e implantação de políticas que promovam a garantia e melhoria permanente do bem-estar social? 2 – Como proceder a regulação do setor sem afetar a competição ? 3 – Qual o papel da indústria farmacêutica na melhoria das condições de vida da população? 4 – Qual a principal ferramenta de marketing do setor farmacêutico? 5 – Os laboratórios públicos são viáveis? 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