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Relatório Anual 20 0 4 PELOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE PG 01 Capa Port (baixa) 7/9/05 9:12 AM Page 1 MISSÃO Promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania das crianças e dos adolescentes VISÃO Uma sociedade justa e responsável pela proteção e pleno desenvolvimento de suas crianças e adolescentes VALORES Ética Transparência Solidariedade Diversidade Foco na criança e no adolescente Autonomia e independência FOCOS DE AÇÃO Educação com ênfase na participação da família e da comunidade na educação Proteção especial Funcionamento do Sistema de Garantia de Direitos, com ênfase em Conselhos Tutelares ESTRATÉGIAS Propor e influenciar políticas públicas Disseminar concepções e metodologias Mobilizar e se articular com outros setores e atores da sociedade Atuar em rede Fortalecer a sociedade para exercer o controle social Atuar de forma inovadora 320 0 4 Relatório Anual PG 03 Abrinq Missao ok√√ 7/8/05 6:11 PM Page 3 4 PALAVRA DA DIRETORIA Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente completa 15 anos em 2005 – mesma idade que tem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Aqui está uma coincidência que muito nos agrada e que gostamos de frisar, pois o ECA é uma legislação progressista, que propõe a corresponsabilidade entre Estado, família e sociedade na proteção aos brasileiros que não completaram 18 anos. São seres em formação, cidadãos donos de direitos nem sempre observados, sobre os quais repousam nossas esperanças futuras. O ECA foi fruto de uma ampla mobilização da sociedade e no bojo desse movimento de cidadania e participação política nasceu a Fundação Abrinq. Durante o ano de 2004, tal qual um adolescente que faz planos para o futuro, a Fundação Abrinq também decidiu pensar no longo prazo, pensar longe, pensar grande. E no horizonte dos próximos 15 anos o que mais se destaca é a necessidade de atuarmos nos municípios. Nossa base de ação terá de ser a cidade, pois é nela que vive hoje a maioria das crianças e adolescentes. Esse estimulante, complexo e por vezes tortuoso processo de repensar nosso papel e nossa forma de atuação fez com que chegássemos a três grandes áreas de ação prioritárias: educação, com ênfase na participação da família e da comunidade na escola; proteção especial, com ênfase nas medidas socioeducativas previstas pelo ECA (e quase sempre não implementadas por completo); e funcionamento do Sistema de Garantia de Direitos, com especial atenção aos Conselhos Tutelares. Definir esses focos foi de grande valia para uma organização que aprendeu a abraçar múltiplas ações que tinham como fim último a proteção de nossas crianças. Intensos debates internos reforçaram nossa convicção de que as organizações do Terceiro Setor precisam, cada vez mais, saber claramente o que querem, como querem e por quê. A definição desses focos também implicou a escolha das melhores estratégias para atingi-los. Algumas já se encontram em execução, como a tentativa de influenciar as políticas públicas. O Programa Prefeito Amigo da Criança, estabelecido como um programa de acompanhamento e qualificação das gestões municipais, caminha nesse sentido. Da mesma forma, o Projeto Presidente Amigo da Criança, que gerou o relatório Um Brasil para a Criança e o Adolescente, elaborado pela Rede de Monitoramento Amiga da Criança. O documento é um verdadeiro “marco zero” da situação da infância e da adolescência, produto da ação conjunta de dezenas de organizações da sociedade civil, que avaliaram dados e as propostas do governo Federal para as áreas de Educação, Saúde, Proteção, combate ao HIV/Aids e o próprio orçamento da União. Outra estratégia definida em nosso planejamento de longo prazo foi a de disseminar concepções e metodologias que pudessem servir, pelo poder do exemplo, para governos, outras organizações não-governamentais e empresas. As quatro publicações dos vencedores do Prêmio Criança 2004 são prova e fruto disso. Dos primeiros 15 anos aos próximos 15… A PG 04-05 Abrinq Editorial ok√√ 7/8/05 6:13 PM Page 1 Rubens Naves Diretor-presidente Carlos Tilkian Presidente do Conselho de Administração 520 0 4 Relatório Anual Também buscamos fortalecer os instrumentos de controle que a Constituição Federal criou, como os Conselhos Tutelares e os Conselhos Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCAs). Entendemos que quanto mais atuantes e presentes na vida do município eles forem, melhor as crianças ali viverão. Temos claro que o caminho a ser percorrido é longo. Um capítulo deste Relatório é dedicado a mostrar o quadro nada tranqüilizador da infância e da adolescência em nosso País. Mas as páginas que se seguem a ele pretendem mostrar que existem soluções. Também mostrarão depoimentos de vida, de esperança, de superação. Histórias de pessoas que, lá na ponta final da cadeia de ajuda, tiveram algum ganho, algum proveito, uma ação concreta de nossos 15 programas que tenta desmentir o cotidiano de descaso e abandono em que a maioria de nossas crianças e adolescentes se encontra. Este Relatório Anual de nossas atividades se dedica a elas, aos nossos parceiros e apoiadores e aos que nunca deixam de acreditar que um Brasil mais justo e solidário é possível, desde que deixemos de apenas sonhar e cada um tome para si a parte que lhe cabe nessa tarefa. E se essa tarefa parece ser tão gigantesca quanto nosso próprio País, gigantesca também deve ser a nossa força para executá-la. PG 04-05 Abrinq Editorial ok√√ 7/8/05 6:13 PM Page 2 DIRETORIA EXECUTIVA Diretor-presidente: Rubens Naves Diretora Vice-presidente: Isa Maria Guará Diretor-tesoureiro: Synésio Batista da Costa CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Presidente: Carlos Antonio Tilkian Secretário: Ismar Lissner Membros efetivos: Aloísio Wolff,Audir Queixa Giovani, Carlos Rocha Ribeiro da Silva, Daniel Trevisan, Emerson Kapaz, Guilherme Peirão Leal, Hans Becker, José Berenguer, José Eduardo P. Pañella, Lourival Kiçula, Maria Ignês Bierrenbach, Oded Grajew, Ricardo Sayon, Sérgio E. Mindlin e Therezinha Fram Membros suplentes: Antônio Carlos Ronca, João Nagano Júnior, Márcio Ponzini, Natânia do Carmo Sequeira e Ricardo Vacaro CONSELHO FISCAL Membros efetivos: José Francisco Gresenberg Neto, Mauro Antônio Ré e Vitor Aruk Garcia Membros suplentes: Alfredo Sette, Érika Quesada Passos e Rubem Paulo Kipper CONSELHO CONSULTIVO Presidente: Therezinha Fram Vice-presidente: Isa Maria Guará Membros efetivos: Aldaíza Sposati, Aloísio Mercadante Oliva, Âmbar de Oliveira Barros, Antônio Carlos Gomes da Costa, Araceli Martins Elman, Benedito Rodrigues dos Santos, Dalmo de Abreu Dallari, Edda Bomtempo, Helena M. Oliveira Yazbeck, Hélio Pereira Bicudo, Ilo Krugli, João Benedicto de Azevedo Marques, Joelmir Beting, Jorge Broide, Lélio Bentes Corrêa, Lídia Izecson de Carvalho, Magnólia Gripp Bastos, Mara Cardeal, Marcelo Pedroso Goulart, Maria Cecília C. Aranha Lima, Maria Cecília Ziliotto, Maria Cristina de Barros Carvalho, Maria Cristina S.M. Capobianco, Maria de Lourdes Trassi Teixeira, Maria Machado Malta Campos, Marlova Jovchelovitch Noleto, Marta Silva Campos, Melanie Farkas, Munir Cury, Newton A. Paciulli Bryan, Norma Jorge Kyriakos, Oris de Oliveira, Pedro Dallari, Rachel Gevertz, Ronald Kapaz, Rosa Lúcia Moysés, Ruth Rocha, Sandra Juliana Sinicco, Sílvia Gomara Daffre,Tatiana Belinky,Valdemar de Oliveira Neto e Vital Didonet SECRETARIA EXECUTIVA GERÊNCIA EXECUTIVA OPERACIONAL Gerente: Ely Harasawa Equipe: Cristiane de Oliveira Aureliano GERÊNCIA EXECUTIVA DE RELACIONAMENTO Gerente: Luis Vieira Rocha Equipe: Ana Rita Peres da Silveira, Eliane Helena de Souza e Fernanda Guarita ÁREA ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA Gerente: Victor Alcântara da Graça Equipe: Cosmo dos Santos, Élida Gomes, Jefferson Lopes Viana, Maria Cristina Brito, MariaDolores de Oliveira, Mariane Konder Comparato, Marli Bispo de Oliveira, Paulo Rogério Pires e Valéria do Nascimento G. Borazo ÁREA DE COMUNICAÇÃO Gerente: Renata Cook Equipe: Ricardo Prado (Coordenador), Amanda Kartanas, Andrea Sarubby, Fernanda Favaro, Larissa Martins, Solange Tassotti e Vilma Amaro ÁREA DE INFORMAÇÃO Gerente: Walter Meyer Karl Equipe: Daniela Maria Fonseca, Erina Yoshizawa, Fabiana de Lima Loures, Felipe Martins Pereira, Marcelo Martins, Marco Antonio Martins Jr., Pablo Finotti e Christina Almeida (consultora) ÁREA DE MOBILIZAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS Gerente: Itamar Batista Gonçalves Equipe: Alejandra Meraz Velasco, Daniela Rodriguez de Castro, Maria de Lourdes Rodrigues e Nádia Alves ÁREA DE MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS Gerente: Lygia Fontanella-Deadman Equipe: Agnes Miyuki Nakyama, Danillo Kott, Fernando Dourado Costa, Milene de Oliveira Sousa Silva, Pricila Yamada e Silvia Rosa ÁREA DE PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO Coordenador: José Cláudio da Costa Barros Equipe: Edson Maurício Cabral e Silvia Kawata ASSESSORIA DA PRESIDÊNCIA Assessora: Ana Maria Wilheim PROGRAMAS E PROJETOS Programa Adotei um Sorriso Equipe: Denise Cesário (Coordenadora), Isabel Rego e Márcia Thomazinho Programa Biblioteca Viva Coordenadora: Ely Harasawa Execução: A Cor da Letra - Centro de Estudos, Assessoria e Pesquisa em Leitura e Literatura Infantil Programa Crer Para Ver Equipe: Celso Seabra Santiago (Coordenador), Amélia Isabeth Bampi Paines, Catiane Gomes Silva e Tatiana M.Viana da Silva Programa de Educação Infantil Equipe: Márcia Quintino (Coordenadora) e Nelma dos Santos Silva Execução: Instituto Avisalá Programa Empresa Amiga da Criança Equipe: Marisa Tardelli de Azevedo (Coordenadora), Andrea Santoro Silveira, Daniela Queiroz Lino, Edmilson Selarin Jr., Elaine Cristina Rodrigues Barros e Flávia Lotito Cardoso Programa Garagem Digital Equipe: Roseni Aparecida dos Santos Reigota (Coordenadora), Arlete Felício Graciano Fernandes, Fátima Aparecida da Silva, Hérica dos Santos Aires, Karen Alonso Horn e Renata Lopes Projeto Geração Jovem Equipe: Márcia Quintino (Coordenadora), Maria do Carmo Krehan e Nelma dos Santos Silva Projeto Mudando a História Equipe: Márcia Quintino (Coordenadora) e Nelma dos Santos Silva Execução: A Cor da Letra - Centro de Estudos, Assessoria e Pesquisa em Leitura e Literatura Infantil Programa Nossas Crianças Equipe: Denise Cesário (Coordenadora), Angela Matoso, Angélica Domingues e Daniela Florio Projeto De Olho no Orçamento Criança Equipe: Itamar Batista Gonçalves (Coordenador) e Alejandra Meraz Velasco Programa Prefeito Amigo da Criança Equipe: Raul de Carvalho (Coordenador), Abgail Silvestre Torres, Ana Valim, Ivone Silva, José Carlos Bimbatte Jr., Mônica Takeda, e Rosana Paula Orlando Programa Prêmio Criança Equipe: Leila Midlej (Coordenadora), Maria do Carmo Krehan e Nelma dos Santos Silva Projeto Presidente Amigo da Criança Equipe: Itamar Batista Gonçalves (Coordenador), Alejandra Meraz Velasco, Amanda Kartanas, Ana Maria Wilheim e Daniela Rodriguez de Castro Projeto Virada de Futuro Equipe: Márcia Quintino (Coordenadora), Maria do Carmo Krehan e Nelma dos Santos Silva6 PG 06-07 Abrinq Sumario ok√√ 7/8/05 6:28 PM Page 1 SUMÁRIO 1. MISSÃO,VISÃO,VALORES, FOCOS E ESTRATÉGIAS ........................................................pg. 3 2. PALAVRA DA DIRETORIA .................................................................................................pg. 4 3. CENÁRIO DA INFÂNCIA NO BRASIL ...............................................................................pg. 8 4. RESULTADOS DA FUNDAÇÃO ABRINQ EM 2004 4.1 PROGRAMAS E PROJETOS........................................................................................pg. 14 4.2 AÇÃO POLÍTICA........................................................................................ ................pg. 50 4.3 COMUNICAÇÃO.......................................................................................................pg. 56 4.4 DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL........................................................ ................pg. 60 4.5 SUSTENTABILIDADE.................................................................................... ................pg. 62 5. DEMONSTRATIVO FINANCEIRO.............................................................,... .....................pg. 68 20 0 4 Relatório Anual 7 PG 06-07 Abrinq Sumario ok√√ 7/8/05 6:28 PM Page 2 8 O controle social e a criança CENÁRIO DA INFÂNCIA NO BRASIL Uma análise sobre o alcance das Metas do Milênio para a Infância e a Adolescência no Brasil PG 08-13 Abrinq Cenario ok√√ 7/9/05 8:31 AM Page 1 920 0 4 Relatório Anual PG 08-13 Abrinq Cenario ok√√ 7/9/05 8:31 AM Page 2 m maio de 2002, durante a Sessão Especial da Assembléia Geral das Nações Unidas sobre a Criança, mais de 180 países se comprometeram com as 21 metas do documento Um Mundo para as Crianças. Inspiradas nos Objetivos do Milênio, da ONU, estas metas trouxeram para os países o desafio de melhorar, significativamente, até 2010, os indicadores de saúde, proteção e educação das crianças e adolescentes. Com base neste documento, no segundo semestre de 2002, a Fundação Abrinq iniciou o Projeto Presidente Amigo da Criança, com o qual os quatro principais candidatos à presidência de então se comprometeram com uma gestão que desse absoluta prioridade a estas 21 metas. Formalizando esse compromisso, todos os candidatos assinaram um termo que, além de comprometê-los com a elaboração de um plano com metas anuais, previa a inclusão, nas leis orçamentárias, dos recursos necessários para o cumprimento das ações e o não-contingenciamento desses recursos. Em 2003, o presidente Luis Inácio Lula da Silva, que assinou o termo enquanto candidato, entregou o seu Plano Presidente Amigo da Criança, com um orçamento de R$ 56 bilhões de reais para executar cerca de 200 ações que envolvem as crianças e os adolescentes. A Fundação Abrinq, então, propõe a formação da Rede de Monitoramento Amiga da Criança (RMAC),* composta por organizações não-governamentais nacionais e internacionais especialistas em saúde, educação, proteção especial, entre outros temas, para acompanhar as ações Prioridade orçamentária no centro das discussões E CENÁRIO DA INFÂNCIA NO BRASIL 10 *Rede formada por mais de 30 organizações não-governamentais brasileiras e internacionais para monitorar o cumprimento das metas do milênio para a infância pelo governo brasileiro. PG 08-13 Abrinq Cenario ok√√ 7/9/05 8:31 AM Page 3 governamentais. Em 2004, a RMAC lançou seu primeiro relatório, analisando a situação das crianças e adolescentes brasileiros por meio de quase 60 indicadores nos eixos Saúde, Educação, Proteção e HIV/Aids. Nele, a RMAC apresenta um prognóstico em relação ao cumprimento das metas, tendo como referência o Plano Presidente Amigo da Criança. Os resultados principais são apresentados a seguir: SAÚDE – Na área da saúde o relatório mostra que, sem dúvida, o destaque na última década é a redução de 41% sobre a taxa de mortalidade infantil. Entretanto, fortes desigualdades regionais ainda são identificadas no combate à mortalidade infantil, como no caso do Alagoas, onde a taxa de 58 por mil nascidos vivos é bem superior a média nacional de 28. A meta estabelecida pelo governo Federal é reduzir a taxa para 24 por mil nascidos vivos até 2007, metade do caminho em direção a meta estabelecida pelo Um Mundo para as Crianças, de 19,8 para ser atingida em 2010. Com relação às políticas previstas, o Plano destina 40% do orçamento da saúde e 95% dos recursos de segurança alimentar e combate à fome para programas de transferência de renda para famílias em situação de pobreza extrema e para a distribuição da merenda escolar. Entretanto, a RMAC considera que essasações não compõem uma estratégia eficaz no combate à desnutrição, que pode ter sua origem em outros fatores além da fome, como o desmame precoce e dieta e higiene inadequadas. Acreditamos ainda que a desnutrição deve estar no centro das discussões sobre saúde por ser a base de várias causas de mortalidade infantil que envolvem questões relativamente simples como infecções respiratórias ou parasitárias. EDUCAÇÃO – De acordo com o relatório, o Brasil avançou significativamente, promovendo o acesso ao ensino fundamental. O percentual de crianças de 7 a 14 anos fora da escola entre 1992 e 2002 caiu de 13,4% para 3,1%. Entretanto, o acesso não é igual para todos: 14,2% das crianças indígenas nessa faixa etária estão fora da escola. O Plano Presidente Amigo da Criança prevê uma meta de universalização do ensino fundamental e infantil para 2007, que só será possível com estratégias diferenciadas para as populações menos favorecidas. Apesar do maior acesso à educação, a evolução das notas nas provas de proficiência do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é preocupante. Entre 1995 e 2001, o percentual de crianças na 4ª série do ensino 11 PG 08-13 Abrinq Cenario ok√√ 7/9/05 8:31 AM Page 4 fundamental em um nível muito crítico de proficiência, ou seja, praticamente analfabetos, passou de 9,1% para 22,2%. Apesar de a Constituição não atribuir ao governo Federal a responsabilidade pelo ensino fundamental, espera-se que use sua liderança para coordenar esforços junto aos governos estaduais e municipais para melhorar esses indicadores. Os principais investimentos previstos no Plano Presidente Amigo da Criança no eixo educação se destinarão à produção de livros didáticos (17%) e à transferência de renda condicionada à freqüência escolar (44%). PROTEÇÃO ESPECIAL – A proteção de crianças e adolescentes contra todo tipo de violência e abuso estabelece um desafio adicional para o monitoramento devido à deficiência de dados que permitam estabelecer metas. No entanto, o avanço do Brasil no combate ao trabalho infantil merece destaque. O percentual de crianças com idade entre 10 e 15 anos trabalhando caiu de 23,6% para 13,5% (dos 20 milhões nessa faixa etária, ou seja, 2,7 milhões de crianças e adolescentes) entre 1992 e 2002. Porém, as perspectivas para a área da proteção, como um todo, não são alentadoras, considerando o reduzido número de recursos públicos disponíveis. O orçamento dedicado às ações de proteção para o quadriênio 2004–2007 corresponde a apenas 2% do orçamento total do Plano Presidente Amigo da Criança, com preponderância de gasto no combate ao trabalho infantil. A atual situação de violações no Brasil, onde a taxa de mortalidade por homicídio de crianças e adolescentes passou de 3,9 por 100 mil habitantes em 1990, para 7,1 em 2002, aponta para uma necessidade cada vez maior de investir em políticas de prevenção e atendimento. HIV / AIDS – Nessa área, o efetivo combate à doença no Brasil deve ainda alcançar crianças e adolescentes vítimas do vírus ou cujas famílias foram vitimadas pela doença, e que ainda não têm programas que atendam suas necessidades específicas. Entre 1990 e 2001, a taxa de novos casos de Aids notificados passou de 4,2 para 8 por 100 mil habitantes na faixa etária de 15 a 24 anos. RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS – Para um país com aproximadamente 64 milhões de crianças e adolescentes, o Plano apresenta ações com um orçamento total de 55,9 bilhões de reais para o quadriênio 2004–2007, dos quais mais de 30% se destinam a programas de transferência de renda vinculados principalmente à atenção à saúde e à CENÁRIO DA INFÂNCIA NO BRASIL 12 PG 08-13 Abrinq Cenario ok√√ 7/9/05 8:31 AM Page 5 freqüência escolar. Sirva como referência que, segundo estimativas do governo Federal, o gasto social no Brasil alcançou 14% do PIB em 2001, sendo que, desse total, apenas 7,6% se gasta com crianças e adolescentes. Assim, para alcançar as metas até 2010, a RMAC, com base em metodologia do Unicef e Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), estima que na primeira década do século XXI serão gastos apenas 56% dos recursos necessários para alcançar as metas. Identificou-se ainda que a maior brecha de gasto, de 1% do PIB ao ano, está na educação infantil e no ensino médio onde, durante o período 2004–2007, o governo federal gastará apenas 20% dos recursos necessários. Vale lembrar que no Brasil, em 2002, 47% das crianças e adolescentes entre 0 e 17 anos viviam em famílias com renda per capita inferior a meio salário mínimo. Esse percentual se manteve praticamente inalterado desde 1992, quando era 50,4%. Esse dado mostra o quanto é importante uma melhor distribuição dos recursos públicos para o efetivo alcance das metas. Verificamos assim que, se não forem tomadas medidas específicas, o Brasil alcançará apenas três metas: acesso a saneamento básico, redução da mortalidade infantil e acesso ao ensino fundamental. A Fundação Abrinq, por meio do Projeto Presidente Amigo da Criança e do Projeto de Olho no Orçamento Criança, atua ao lado de outros parceiros no necessário controle social, monitorando e cobrando do governo Federal ações e recursos que conduzam ao cumprimento dos Objetivos do Milênio relativos a crianças e adolescentes. Esperamos, assim, contribuir para que o governo Federal se esmere não apenas na execução das políticas públicas da sua competência, mas também no seu papel fundamental de articulador e incentivador das unidades da Federação, da sociedade civil e da comunidade internacional para somar esforços e alcançar as metas até 2010. 13 PG 08-13 Abrinq Cenario ok√√ 7/9/05 8:31 AM Page 6 RESULTADOS DA FUNDAÇÃO ABRINQ Programas e projetos Canais de participação da sociedade na defesa dos direitos da criança e do adolescente14 PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 14 20 0 4 Relatório Anual 15 PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 15 16 A Fundação Abrinq acredita que, assim como a Mayara, todas as crianças e os adolescentes do nosso país deveriam ter seus sorrisos adotados por pessoas como a Dra. Ednice. Esse é o trabalho do Programa Adotei um Sorriso: fazer com que cada vez mais voluntários adotem os sorrisos de cada vez mais crianças. Para isso, o programa mobiliza profissionais de oito categorias (dentistas, médicos pediatras, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos, advogados e arquitetos) para que assumam um compromisso com a melhoria da qualidade de vida de crianças vindas de organizações sociais. Por suas condições de vida, muitos desses meninos e meninas nunca tiveram acesso aos cuidados que precisam e têm direito: tratamento odontológico, acompanhamento pediátrico, orientação psicológica e nutricional etc. Quando integram o programa, os voluntários passam a oferecer-lhes todos esses direitos, seja atendendo no consultório, realizando palestras educativas sobre saúde ou repassando orientações técnicas para organizações sociais ligadas ao programa. CAPACITAÇÃO DE VOLUNTÁRIOS E EXPANSÃO PELO BRASIL SÃO DESTAQUES Primeiro, a doutora Ednice fez uma limpeza nos meus dentes e eles ficaram muito mais clarinhos... todo mundo percebeu. Depois, me ensinou a escovar os dentes direitinho e, então, eu ensinei para o meu pai, minha mãe e outro irmão meu, que fazia tudo errado. Quero ser médica porque deve ser muito legal ver uma pessoa ficar alegre quando fica boa de uma doença. E quero ser igual à doutora Ednice. Mayara de Cássia Lins, 9 anos, da Associação Cristã de Moços, atendida pela Dra. Ednice Boscaratto, voluntária do Programa Adotei um Sorriso. “ ADOTEI UM SORRISO programaS E PROJETOS “ PARCERIA FINANCEIRA PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 16 RESULTADOS DE 2004 Em 2004, 4.226 voluntários do Adotei um Sorriso, entredentistas, advogados, fonoaudiólogos, médicos pediatras, arquitetos, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas “adotaram o sorriso” de 4.785 crianças e adolescentes vindos de organizações sociais de 127 cidades em 20 estados do País. Para fortalecer o impacto dessa ação, durante o ano o Adotei um Sorriso capacitou voluntários e organizações sociais para atualizar constantemente suas informações no sistema eletrônico do programa, rede virtual que conecta demandas e ofertas de trabalho voluntário. As organizações passaram a identificar de forma muito mais rápida os voluntários disponíveis e, por conseguinte, o encaminhamento das crianças aos atendimentos tornou-se mais ágil e eficiente. Também buscou a valorização do voluntário por meio de encontros para troca de experiências e eventos de reconhecimento em que pais, educadores e crianças puderam mostrar sua gratidão a esses profissionais. No dia do reconhecimento, muitos voluntários relataram que nunca haviam tido uma sensação tão intensa de gratificação. Em entrevista ao Informativo Adotei um Sorriso, a médica pediatra Solange Maria de Sabóia resumiu esse sentimento: “De repente, a gente se sente fundamental para a criança”. A mobilização de novos voluntários e a expansão do programa pelo Brasil também foram focos de trabalho. Os coordenadores locais – voluntários que representam o Adotei um Sorriso em várias regiões do país – conseguiram parcerias com veículos de imprensa, que publicaram matérias sobre o programa, e lideraram eventos locais, conseguindo a adesão de mais profissionais à iniciativa. Por fim, uma primeira experiência de expansão de sete categorias profissionais para outras cidades do país, além da região metropolitana de São Paulo, foi iniciada em Araxá (MG), a partir da parceria com dois profissionais da região, um deles ligado ao Programa Empresa Amiga da Criança. 4.226 voluntários 4.785 crianças e adolescentes atendidos com ações clínicas 46.935 crianças e adolescentes atendidos com ações institucionais 200 organizações sociais 127 cidades em 20 estados do País (AM, AP, BA, CE, DF, ES, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RO, RS, SC, SE e SP) NÚMEROS DE 2004 17 PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 17 18 Todas as crianças e adolescentes têm o direito de freqüentar uma escola pública boa de aprender, brincar, crescer e conviver. Uma escola que tenha professores preparados e que gostem de ensinar, com instalações e equipamentos limpos e completos, com conteúdos e pedagogia adequados às necessidades e à realidade dos seus alunos e com recursos modernos para as aulas. Em 1995, a Fundação Abrinq e a Natura Cosméticos decidiram fazer a sua parte para que esse direito se torne realidade para mais crianças e adolescentes a cada dia. Juntas, iniciaram o Programa Crer para Ver, que oferece apoio técnico e financeiro a projetos de educação que contribuam para melhorar a qualidade do ensino público no país. Para fazer isso, o programa mobiliza profissionais de escolas, comunidades e organizações não-governamentais para que mostrem seus projetos de melhoria da educação, e então seleciona e apóia estes projetos. Mais de 300 mil consultoras Natura são envolvidas na divulgação do programa e de suas idéias, bem como na venda dos produtos com a marca Crer para Ver, como camisetas, embalagens e cartões, cuja renda é destinada ao financiamento dos projetos. EDUCAÇÃO DE JOVENS GANHA ESPAÇO ENTRE OS BONS PROJETOS JÁ APOIADOS Gosto do programa porque com ele temos acesso a filmes que não passam na TV, nem no cinema. Agora, minha escola faz mostras de cinema e os professores utilizam filmes em classe. Outro dia, por exemplo, eu assisti a um documentário muito legal sobre lixo e preservação ambiental. Foi participando desse projeto que comecei a sonhar em ser diretora de cinema. É um mundo fascinante. Participei do curso de leitura audiovisual e no ano que vem vou participar de um curso de produção. Não vejo a hora. Depois vou tentar prestar um vestibular para cinema. Tabata Ribeiro Lemes, 17 anos, aluna da Escola Estadual Madre Paulina, Itaim Paulista, e participante do Projeto Cinema e Vídeo Brasileiro nas Escolas, apoiado pelo Programa Crer para Ver, São Paulo (SP) “ CRER PARA VER programaS E PROJETOS “ PARCERIA ESTRATÉGICA PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 18 19 Até 2004, 148 projetos aplicados em 3.638 escolas públicas do país haviam recebido apoio do programa, totalizando 899.224 alunos beneficiados. Alguns deles, como o Projeto Chapada, desenvolvido em 911 escolas rurais e urbanas de 12 municípios da Chapada Diamantina (BA), tornaram-se referência e provocaram uma mudança de estratégia no programa: apoiar projetos com maior abrangência e duração, criando as condições para se transformarem em políticas públicas. RESULTADOS DE 2004 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Em 2004, o programa iniciou uma campanha pela melhoria da qualidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). A campanha nasceu de um levantamento sobre a situação da EJA no país. Cerca de 16 milhões de jovens pararam seus estudos, ou nunca chegaram a freqüentar a escola, em grande parte, para poder trabalhar em atividades subqualificadas, comprometendo sua formação e seu futuro. Fazem parte da campanha três ações – A primeira envolve o apoio a cinco projetos de formação de professores de EJA. O primeiro, Compartilhando Experiências, Organizando Propostas Educativas, desenvolvido pela Ação Educativa Assessoria Pesquisa e Informação em Cajamar (SP), é um projeto-piloto iniciado em 2004 que beneficia 1.608 jovens entre 15 e 24 anos. Os outros quatro terão início em 2005: Educadores em EJA em Ação, será desenvolvido pelo Centro de Formação Profissional de Ribeirão Preto (SP); Em Cada Saber um Jeito de Ser, será realizado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada em Juazeiro (BA); Projeto CAAPIÁ, desenvolvido pela Associação Latino-Americana de Pesquisa e Ação Cultural no Rio de Janeiro (RJ); e o Roda Gaúcha, que será realizado pelo Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Ijuí (RS). Pe d ro R u b en s e Se n d i M o ra es – C as a d o A p re n d er PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 19 20 programaS E PROJETOS A segunda ação é o Prêmio Crer para Ver – Inovando a EJA, realizado em parceria com o Ministério da Educação (MEC), que vai identificar e premiar, em 2005, práticas inovadoras de escolas e professores pela boa qualidade do ensino supletivo de jovens e adultos. E a terceira é uma ação em que as consultoras Natura identificarão e encaminharão, de volta à escola, jovens que não terminaram seu ciclo de escolarização. ENSINO FUNDAMENTAL Em 2004, três projetos de ensino fundamental, selecionados em anos anteriores, continuaram sendo apoiados pelo Crer para Ver. São eles: Projeto Janelas Cruzadas – Fruto de uma parceria com o Instituto Pé no Chão e a Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, o projeto tem como eixo central o resgate e a valorização da memória. O desenvolvimento e a valorização da formação dos professores em diferentes linguagens artísticas é um dos destaques do projeto. O público beneficiado pela iniciativa abrange 3.993 alunos e 190 professores. Escolas Indígenas na Floresta – Apoiado pelo Crer para Ver desde 2003, o projeto, desenvolvido pela ONG Comissão Pró-Índio (CPI), vem aprimorando o acompanhamento pedagógico de 31 escolas localizadas em 16 terras indígenas de oito municípios do interior do Acre, propiciando a capacidade de reflexão do professor indígena sobre sua prática escolar e a elaboração dos projetos políticos pedagógicos dasescolas indígenas. A população indígena e estudantil beneficiada até hoje soma 2.859 pessoas. CRER PARA VER Cinema e Vídeo Brasileiro nas Escolas – O projeto em parceria com a ONG Ação Educativa utiliza a produção audiovisual brasileira para contribuir com a aprendizagem em escolas públicas do município de São Paulo. Iniciado em 2003, o projeto tem como público-alvo 1.300 professores, supervisores e técnicos das secretarias de educação de escolas da zona leste de São Paulo e aproximadamente 118.300 alunos. DESTAQUE: PROJETO CHAPADA Além das ações de apoio financeiro, o programa realizou uma avaliação externa dos quatro anos do Projeto Chapada. Entre os principais resultados, estão: • Melhorou consideravelmente o desempenho escolar dos alunos, passando de um dos piores índices da região para um dos melhores do país; • Obteve índice de quase 100% de alfabetização de crianças de 1ª a 4ª séries; • Reduziu a praticamente zero o índice de evasão escolar; • Possibilitou que todas as escolas participantes do projeto estabelecessem um processo de formação continuada dos professores, que passaram a ser regularmente acompanhados em sala de aula por coordenadores; • Incentivou a participação da população (pais e comunidade) nas escolas. Junto com os idealizadores do Projeto Chapada e o Programa Prefeito Amigo da Criança, o Crer para Ver participou da campanha Chapada pela Educação, que comprometeu os candidatos a prefeito da região, durante o processo eleitoral, com a melhoria da qualidade da educação oferecida por suas gestões. PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 20 5 projetos apoiados 171.896 alunos 1.053 escolas 1.608 adolescentes beneficiados pelo Projeto EJA NÚMEROS DE 2004 21 PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 21 22 A Constituição Federal diz que a criança é prioridade número um do governo. O que pouca gente sabe é que, para ter um lugar privilegiado nos programas e políticas públicas, ela precisa ser colocada em primeiro lugar na hora de o governo decidir quanto e para onde dirigir seus recursos. Em outras palavras, para garantir escola, atendimento médico, comida, remédio, esporte, lazer e assistência social para as crianças, prefeituras, estados e União precisam reservar e aplicar recursos suficientes para tudo isso. O Projeto De Olho no Orçamento Criança foi criado para colocar nas mãos das pessoas o poder de fiscalizar o orçamento público destinado à infância e à adolescência das cidades onde vivem. Para isso, ensina as organizações da sociedade civil, que representam essas pessoas, a acompanhar o orçamento e agir politicamente, cobrando sua execução. Nascido em 2003, como resultado de uma parceria entre a Fundação Abrinq, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e o Unicef, o projeto já vinha monitorando a execução orçamentária federal na área da infância e adolescência, por meio de uma metodologia de acompanhamento orçamentário federal que existe desde 1996. Em 2004, o projeto elaborou uma metodologia pautada nas metas do documento Um Mundo para as Crianças, da ONU, que pode ser aplicada também aos orçamentos das esferas NASCE UMA REDE DE “FISCALIZADORES” DO ORÇAMENTO PARA A ÁREA DA CRIANÇA programaS E PROJETOS PARCERIA ESTRATÉGICA estaduais e municipais. Com isso, iniciou a capacitação de organizações da sociedade civil que podem acompanhar o Orçamento Criança de suas localidades. Desse movimento surgiu a primeira experiência-piloto de monitoramento orçamentário nos estados de São Paulo, Ceará e Pernambuco, neste último em parceria com a Save the Children Reino Unido. Essas organizações fazem parte de uma rede ainda embrionária de “fiscalizadores” do Orçamento Criança: a Rede de Olho no Orçamento Criança. Alguns resultados da experiência-piloto: • Elaboração, por meio de um processo participativo no qual estiveram envolvidos todos os parceiros, inclusive as organizações com atuação local – Instituto Pólis (SP), Cedeca (CE) e Centro de Cultura Luís Freire (PE) –, de cartilhas de apuração e ação política pelo Orçamento Criança para capacitar organizações da sociedade civil em estados e municípios; • Reestruturação do site De Olho no Orçamento Criança, que passou a divulgar novos materiais e análises produzidos nas localidades; • Fornecimento de análises orçamentárias para o relatório da Rede de Monitoramento Amiga da Criança, por meio de uma articulação com o Projeto Presidente Amigo da Criança. DE OLHO NO ORÇAMENTO CRIANÇA PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 22 23 PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 23 24 Toda criança pequena precisa de cuidado e educação para alcançar seu pleno desenvolvimento. Mas a maior parte das crianças brasileiras com menos de seis anos não freqüenta creches ou centros de educação infantil, ainda que as famílias precisem muito desse serviço. De acordo com dados do IBGE, em 2002 apenas 36,5% das crianças brasileiras de 0 a 6 e 11,7% das de 0 a 3 anos de idade freqüentavam creches e pré-escolas. E mesmo assim, nem sempre essas crianças estavam em centros de educação infantil de qualidade. Atentas a esse problema, a Fundação Abrinq e a Fundação Filantrópica Safra desenvolvem desde 1996 o Programa de Educação Infantil. A proposta da iniciativa envolve construir e equipar núcleos de atendimento em educação infantil que sejam referências para outras creches da comunidade e promover a formação continuada de educadores de crianças, procurando qualificar cada vez mais seu trabalho. Dois núcleos foram construídos: a Casa da Criança, na zona leste de São Paulo, entregue em 1997, e a Casa do Aprender, em Osasco, entregue em 1998. Ambos são espaços educacionais diferenciados, seja por suas instalações adequadas às necessidades de desenvolvimento das crianças pequenas, seja pelo ciclo contínuo de qualificação de seus profissionais, das diretoras até as cozinheiras. Outro COMEÇAM OS TRABALHOS PARA A CONSTRUÇÃO DO TERCEIRO NÚCLEO, EM PARELHEIROS Já sei escrever o meu nome completo, o nome da minha mãe, do meu pai e dos meus irmãos. Sei fazer palavras cruzadas e também gosto de ler o livro da Branca de Neve, que tem na casa do meu pai. Mas o que eu mais gosto de fazer é ler os gibis da turma da Mônica. Aqui na escola tem vários. Gosto do Cebolinha, o cabelinho dele é bem legal. Aqui na escola, meus melhores amigos são o Bruno, o Talisson e o Guilherme. A gente brinca de “lencinho na mão, caiu no chão” e corre bastante. A gente também faz bagunça, mas depois arruma tudo. Gabriel da Silva Casademunt, 6 anos, aluno da Casa do Aprender – Associação das Mulheres pela Educação (AME), núcleo de educação infantil do Programa Educação Infantil, Osasco (SP) “ programaS E PROJETOS “ PARCERIA FINANCEIRA PARCERIA TÉCNICA EDUCAÇÃO INFANTIL PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 24 25 diferencial está no envolvimento das comunidades e das famílias no dia-a-dia dos núcleos e sua participação em encontros sobre a importância da educação infantil. Juntas, a Casa da Criança e a Casa do Aprender beneficiam diretamente cerca de 260 crianças por ano. No entanto, considerando-se a formação estendida a profissionais de outros núcleos vizinhos, 1.361 crianças já foram beneficiadas até hoje pelo programa. RESULTADOS DE 2004 FORMAÇÃO E AMPLIAÇÃO O programa iniciou a formação de equipes, entre educadores, coordenadores pedagógicos, diretores e equipe operacional, de oito organizações sociais de São Paulo localizadas na região de Parelheiros, onde será construído o terceiro núcleo de educação infantil do programa. São 147 profissionais que participam de um processo de capacitação que dura 20 meses. O Centro Social São José, uma das organizações em formação, foi escolhido parareceber o novo núcleo em 2005, que atenderá diretamente a 130 crianças de até 6 anos de idade. MELHORIA DO ATENDIMENTO Em 2004, os núcleos de educação infantil apresentaram mudanças importantes no seu cotidiano, com o objetivo de melhorar a qualidade do atendimento. Esses ajustes foram impulsionados pelas formações realizadas. Alguns deles: • Uso mais racional dos espaços, por exemplo, por meio do planejamento das brincadeiras no pátio; • Implantação de hemerotecas (coleção de jornais e revistas), buscando incentivar a leitura de jornais de circulação diária pelos profissionais da creche; • Maior tomada de consciência das equipes sobre a importância das brincadeiras para a criança pequena; • Implantação de rotina de formação continuada dos profissionais. No ano de 2004, o programa também iniciou os primeiros trabalhos no sentido de sistematizar e disseminar sua experiência. 1.105 crianças beneficiadas pelos dois centros de educação infantil do programa 147 profissionais, de oito organizações sociais, formados NÚMEROS DE 2004 Pe d ro R u b en s e Se n d i M o ra es – C as a d o A p re n d er PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 25 26 Há nove anos, quando lançou o Programa Empresa Amiga da Criança, a Fundação Abrinq apostou que era possível exterminar um monstro que acabava com a infância de milhões de brasileiros em locais como plantações, carvoarias e fábricas: o trabalho infantil. Venceu o preconceito da sociedade, chamou lideranças e engajou empresas nessa luta. As primeiras Empresas Amigas da Criança receberam um selo de reconhecimento por não utilizarem mão-de-obra infantil e por exigirem a mesma postura de seus fornecedores, além de investir em ações sociais que beneficiassem crianças e adolescentes. A aposta deu certo. De 1992 para 2001, o país registrou uma queda de 35% no número de crianças e adolescentes trabalhadores, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios (PNAD). Embora o programa continue atuando para acabar com o problema, que ainda é grande, vem trabalhando também para ampliar o compromisso das empresas com a criança. Hoje, para receber o selo Empresa Amiga da Criança, elas não podem utilizar trabalho infantil e devem realizar ações de incentivo à educação, saúde e direitos civis dos filhos de NÚMERO DE JOVENS APRENDIZES E DE EMPRESAS ENGAJADAS CRESCE COM AÇÕES DO PROGRAMA Com oito anos de idade comecei a trabalhar nas fábricas de cerâmica daqui da região, para ajudar no sustento de casa. Saía de casa de manhã e ia para a fábrica, trabalhava até a hora de ir para a escola, saia da escola e voltava direto para a fábrica. Às vezes, chegava em casa depois das oito da noite.Tudo isso para ganhar mais ou menos 30 reais por mês. Quando fiz 14 anos, comecei a participar do Peti* e do Projeto Russas. Parei de trabalhar, fiz vários cursos, tive reforço escolar e estou terminando o ensino médio. Agora, quero fazer uma faculdade de computação ou matemática. Imar Mendes, 18 anos, jovem apoiado pelo Projeto Russas, desenvolvido na cidade de Russas (CE) pela Empresa Amiga da Criança BankBoston “ programaS E PROJETOS “ * Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. EMPRESA AMIGA DA CRIANÇA PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 26 27 seus funcionários, além de investir em projetos sociais que beneficiam crianças e adolescentes. São dez compromissos que, juntos, influenciam a vida de todas as crianças da comunidade ou da cidade onde a empresa está instalada. RESULTADOS DE 2004 MOBILIZAÇÃO DE NOVAS EMPRESAS AMIGAS DA CRIANÇA O Programa Empresa Amiga da Criança engajou 176 novas Empresas Amigas da Criança, totalizando 1.041 empresas credenciadas – um aumento de 20% em relação ao ano passado. Essas novas empresas, somadas às que já participavam do programa, destinaram em 2004 R$ 388 milhões para projetos e ações sociais voltados ao bem-estar de crianças e adolescentes e R$ 19,4 milhões para os Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente. No total, esses investimentos beneficiaram 14.338.652 crianças e adolescentes em todo o país, um aumento de 137% em relação a 2003 (8,2 milhões). Desse universo de novas empresas engajadas, destaca-se o caso da cidade de Araxá, Minas Gerais. Até o ano de 2000, existiam apenas duas Empresas Amigas da Criança naquele município. Com o engajamento da franquia da Bit Company em Araxá e da Associação Comercial e Industrial da cidade, o programa iniciou uma parceria regional para mobilizar empresas araxaenses e, hoje, a cidade tem 24 Empresas Amigas da Criança, perdendo, em número, apenas para São Paulo, com 271 empresas, e Rio de Janeiro, com 36 empresas. A experiência inspirou o programa a desenvolver, em 2005, novas parcerias regionais pelo país. LEI DO APRENDIZ Além da mobilização de novas Empresas Amigas da Criança, o programa lançou, em parceria com o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, uma campanha para difundir a Lei de Aprendizagem (nº 10.097), que determina que empresas contratem adolescentes entre 14 e 18 anos como aprendizes. O objetivo foi informar e conscientizar o empresário sobre a necessidade e importância de aplicar a lei. A campanha, produzida voluntariamente pela agência McCann Ericson, consistiu em um filme, spot de rádio e anúncios para veículos impressos, estrelados pelos atores adolescentes Darlan Cunha e Douglas Silva, os personagens Acerola e Laranjinha da série de TV Cidade dos Homens. Foram produzidos, também, materiais de apoio, como site e folders e a publicação Lei do Aprendiz: responsabilidade social na formação profissional do adolescente , lançada em 2003, que foi distribuída para diversas organizações e empresas ligadas ao assunto durante o ano. Duas pesquisas realizadas durante o ano com as Empresas Amigas da Criança revelaram os efeitos da campanha. Na primeira, feita antes da iniciativa, 75% das empresas ouvidas disseram não conhecer a lei. Na segunda, realizada em novembro, alguns meses depois do lançamento, 97% disseram conhecer a lei e 44% disseram ter sido informadas por meio das ações da Fundação Abrinq. A mesma pesquisa mostrou que, de abril a novembro, houve um aumento de 116% no número de aprendizes contratados pelas empresas. Das 56 empresas que informaram ter aprendizes em seus quadros, 36% disseram que contrataram a partir das ações da Fundação Abrinq. AVALIAÇÃO DOS PACTOS Outro fato que marcou o ano foi a avaliação dos pactos setoriais pela erradicação do trabalho infantil, estratégia estimulada desde 1996 pela Fundação Abrinq junto aos setores sucroalcooleiro, calçadista, fumageiro e citricultor. Cerca de nove anos depois de firmados, os pactos revelam resultados surpreendentes, como a diminuição sensível do trabalho infantil em diversas regiões, bem como a formação de alianças entre empresas para o combate a essa prática. 176 novas Empresas Amigas da Criança 1.041 empresas credenciadas 388 milhões de reais dirigidos pelas empresas para projetos e ações sociais 19,4 milhões de reais destinados aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente 14.338.652 crianças e adolescentes beneficiados NÚMEROS DE 2004 PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 27 28 A Fundação Abrinq acredita que um computador pode abrir portas para muitas coisas: conhecimentos, mundo do trabalho, cidadania, direitos, sonhos. Por isso, em parceria com a HP Brasil, iniciou em 2001 o Programa Garagem Digital. A proposta da iniciativa é desenvolver o potencial de jovens utilizando como ferramentas as tecnologias da informação e da comunicação. Os jovens aprendem a utilizar o computador e modernos recursos de informática para elaborar produtos como sites e jornais eletrônicos. Nessa caminhada, elesexercitam sua criatividade, desenvolvem a capacidade de se comunicar e conviver em grupo, adquirem conhecimentos sobre temas como direitos e cidadania, e participam de ações em suas comunidades. Além da formação, os jovens passam a fazer parte da Rede de Oportunidades, que foi criada em 2004 para lhes proporcionar oportunidades de emprego, geração de renda, apoio a projetos empreendedores, formação e ampliação do universo cultural, entre outras ações. A idéia é buscar a participação ativa de empresas e organizações sociais que possam oferecer oportunidades reais para que esses jovens conquistem sua cidadania e realizem seus projetos de vida. Assim, empresas, universidades e instituições do terceiro setor podem se cadastrar no site da Fundação Abrinq para oferecer vagas de estágio, emprego, cursos ou bolsas de estudos, entre outras oportunidades. CEARÁ RECEBE SUAS PRIMEIRAS GARAGENS DIGITAIS O que posso falar do Garagem? Que foi maravilhoso pra mim. Eu não tinha idéia de que a gente poderia fazer um site, pra gente aquilo era coisa de outro mundo. Mas não, a gente viu que também pode... que também é capaz de fazer esse milagre acontecer. Eu também nem sonhava em abrir uma empresa, essa vontade surgiu com o programa. É maravilhoso imaginar que a primeira Garagem de Limoeiro do Norte já está gerando uma empresa. Por isso eu acho que o Garagem não pode acabar nunca, por que ele é uma verdadeira rede de oportunidades. Gyldemberg Barroso Malagueta, 19 anos, jovem formado pela Garagem Digital de Limoeiro do Norte (CE) “ GARAGEM DIGITAL programaS E PROJETOS “ PARCERIA ESTRATÉGICA PARCERIA TÉCNICA PARCERIA GOVERNAMENTAL PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 28 29 RESULTADOS DE 2004 O Programa Garagem Digital iniciou sua expansão para outras regiões do país. Em parceria com o governo do estado do Ceará e o Instituto Centec, três novas Garagens Digitais foram implementadas nas cidades de Beberibe, São Gonçalo do Amarante e Limoeiro do Norte. As novas Garagens e a que já funciona no Centro de Profissionalização Padre José Bello dos Santos (CPA), em São Paulo, beneficiaram 210 jovens durante o ano. Por meio da formação, esses jovens aprenderam a utilizar as ferramentas da tecnologia da informação, adquiriram conhecimentos nas áreas de ciências sociais, arte e design, administração e marketing, linguagem e comunicação e debateram questões relacionadas à sexualidade, educação ambiental, saúde, cidadania e ética. Como produto da formação, os jovens desenvolveram coletivamente sete sites: www.riojaguaribe.com.br; www.limoeiroterranossa.com.br; www.conhecendobeberibe.com.br; www.visitesaogoncalo.com.br; www.jovensativistas.com.br; www.galerativa.com.br; www.preservacaoambiental.com.br RESULTADOS NA VIDA DOS JOVENS Facilitou seu ingresso no mundo do trabalho e em novas oportunidades de formação. Foram efetivadas 136 novas oportunidades de formação e/ou trabalho aos jovens que passaram pelo programa durante o ano. Desse total, três jovens foram contratados por empresas participantes da Rede de Oportunidades, que cadastrou 15 empresas durante o ano. Potencializou seu envolvimento em ações sociais; ampliou a visão de mundo; desenvolveu o trabalho em equipe e a capacidade de resolver problemas em grupo. Os jovens participaram de encontros comunitários em prol da inclusão digital nas regiões onde vivem. Também apoiaram o movimento da população usuária para o acesso livre; e envolveram-se em Grêmios Estudantis e em reuniões de Associações de Moradores. Além disso, escolheram aspectos de suas comunidades como temas de seus produtos para Web. Para isso, entrevistaram a população, mapearam oportunidades, pesquisaram sobre a história local etc. O acesso a novos conhecimentos ampliou a visão de mundo e desenvolveu uma PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 29 30 convidados para atuar como monitores em laboratórios de informática de escolas públicas. Já com o acesso livre, as portas das Garagens foram abertas para que a população local pudesse aprender e utilizar os computadores e a internet, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida daqueles que não tinham acesso às tecnologias. Pela primeira vez, muitas pessoas resolveram problemas simples, como pagamentos de contas, sem sair do bairro. Outras elaboraram seu primeiro currículo. E muitas puderam procurar oportunidades de trabalho, desenvolver pesquisas escolares e conhecer mundos novos proporcionados pela navegação nos sites da internet. Ao todo, foram beneficiadas 1.500 pessoas, que realizaram 6.500 acessos. PRÊMIOS Em 2004 o Garagem Digital foi reconhecido pelo Prêmio Info de Inclusão Digital, realizado pela revista Info Exame e pelo Top IT 2004, da revista Information Week (http://www.itweb.com.br/topit2004). postura crítica dos jovens em relação à sua realidade, facilitando a construção de seus projetos de vida. A COMUNIDADE NA GARAGEM DIGITAL A estratégia de expandir o benefício do programa alcançou também as comunidades do entorno das Garagens Digitais já implementadas. Graças ao sucesso que obtiveram na Garagem do CPA em São Paulo, duas experiências inovadoras foram replicadas nas Garagens do Ceará: as Rodas de Inclusão Digital, encontros que reúnem organizações sociais, iniciativa privada, poder público e comunidade para organizar ações conjuntas pela inclusão digital nas regiões onde o programa está inserido, e o Acesso Livre, que abre as portas da Garagem para a comunidade. Como primeiros resultados das “rodas”, o CPA está mapeando, por meio de software de geoprocessamento, as oportunidades de inclusão digital e educacionais do bairro de São Mateus (SP); e jovens de Beberibe e São Gonçalo do Amarante e Limoeiro do Norte foram programaS E PROJETOS 210 jovens beneficiados pelas quatro Garagens Digitais em funcionamento 3 novas Garagens Digitais implementadas 7 web sites elaborados pelos jovens beneficiados 6.500 acessos livres realizados por 1.500 pessoas 49 organizações participaram das Rodas de Inclusão Digital 15 empresas cadastradas na Rede de Oportunidades 136 oportunidades efetivadas para os jovens (entre empregos, cursos, oficinas e participação em Programa de Mentoring) NÚMEROS DE 2004 GARAGEM DIGITAL PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 30 31 PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 31 32 A Fundação Abrinq acredita que todo jovem pode fazer diferença na comunidade em que vive. De 2001 até 2003, o Projeto Geração Jovem fez exatamente isso: ajudou jovens a se tornarem lideranças positivas em seus bairros, escolas, ruas. Primeiro, eles participaram de oficinas sobre temas ligados à sua realidade sociocultural: artes; pluralidade cultural; memória e história; saúde e meio ambiente. Depois, aplicaram esses conhecimentos em benefício da comunidade, por meio de projetos com início, meio e fim. Nos três anos de projeto, 551 jovens de 15 organizações sociais das cidades de São Paulo e Campinas (SP) despertaram para sua cidadania, liderando ações comunitárias como: revitalização de espaços públicos, intervenções artísticas em muros, apresentações de peças teatrais e musicais, produção de vídeos que resgatam a história de seus bairros, realização de exposições fotográficas e de pinturas, orientação da população sobre coleta seletiva, entre muitas outras iniciativas. Quando assumiram essas tarefas, muitos dos jovens viveram, pela primeira vez, a experiência de participar ativamente em suas comunidades; outros destacaram-se como lideranças jovens e, incentivados pelos educadores que acompanharam o projeto, ampliaram sua presença em espaços como o Orçamento Participativo Criança, Conferências dos Direitos da Criança e do Adolescente e outros. PUBLICAÇÃO REÚNE APRENDIZAGENS DE TRÊS ANOSDO PROJETO Hoje enxergo o mundo com outro olhar. Passei a acreditar que meus sonhos podem ser possíveis e desejo que o espaço onde vivo se modifique. É necessário que a mudança comece dentro de mim, que avalie as minhas atitudes. Parei de me sentir inferior por ter nascido na periferia, acredito que sou capaz de mudar minha história, terei moradia digna, cursarei uma faculdade, meus filhos serão gerados de acordo com as minhas condições financeiras.Tive a oportunidade de conhecer a arte, aquela que me trouxe a conscientização, que me proporcionou cultura; aprendi a lutar pelos meus ideais e, principalmente, nunca me sentir inferior. Suzana Alzira Vicente, de 17 anos, da Fundação Gol de Letra, participou do Projeto Formação de Agentes Comunitários, apoiado pelo Geração Jovem “ GERAÇÃO JOVEM programaS E PROJETOS “ PARCERIA FINANCEIRA PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:50 AM Page 32 33 Esses e outros aprendizados do projeto foram organizados em 2004 e reunidos no livro Juventude Presente: Lições do Projeto Geração Jovem. O lançamento da publicação aconteceu em dois eventos: um em Campinas, em parceria com a Federação de Entidades Sociais de Campinas (Feac) e com o Sesc Campinas, e outro em São Paulo, em parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Com a publicação, a Fundação Abrinq pretende inspirar outras organizações que desenvolvem projetos de protagonismo juvenil. Nesse sentido, além do lançamento, a publicação foi oferecida em um evento, realizado em Brasília, que reuniu as organizações governamentais de todo o país que trabalham com o Programa Agente Jovem, do governo Federal. Uma das aprendizagens mais importantes, identificada no projeto, foi a necessidade que o jovem tem de encontrar espaço para ser protagonista na própria organização social na qual é beneficiário. A experiência mostrou que, quando os temas e propostas de intervenção partiram do grupo de jovens, de forma legítima, os resultados foram efetivos, com o envolvimento e compromisso de todos. O Geração Jovem levou a uma conclusão simples, porém essencial: trabalhar com os jovens e não para os jovens. 551 jovens beneficiadas entre 2001 e 2003 15 organizações sociais envolvidas no projeto NÚMEROS DE 2004 D iv u lg aç ão PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 33 34 A Fundação Abrinq acredita que o livro pode ser um poderoso instrumento para construir um país com crianças e jovens plenos de cidadania. Por isso desenvolve desde 2001, em parceria com a Nokia e a International Youth Foundation (IYF), o Projeto Mudando a História, que forma jovens como mediadores de leitura. Os mediadores lêem histórias para crianças, estimulando a imaginação e o gosto dos pequenos pelos livros e pela leitura. Quando chegam com suas mochilas cheias de livros, em poucos minutos enchem de histórias e poemas locais como creches e escolas. Mas, principalmente, eles são beneficiados pela mediação: tornam-se mais críticos, passam a gostar de ler, ampliam sua visão de mundo, sentem-se importantes e superam obstáculos que acreditavam ser insuperáveis em si mesmos. Mais do que isso, eles formam outros jovens como mediadores, tornando-se multiplicadores dessa iniciativa. RESULTADOS DE 2004 Em 2004, o Projeto Mudando a História ampliou o número de mediadores de leitura e de crianças que receberam mediação e realizou o primeiro intercâmbio internacional entre jovens de projetos ligados ao programa Make a Connection, da Nokia e International Youth Foundation. PARCERIA PERMITE FORMAÇÃO DE 400 NOVOS MEDIADORES DE LEITURA Mediar leitura mudou minha visão sobre os deficientes. Eu mediava numa classe de crianças e tinha um menininho com deficiência mental que não participava de nada, não falava comigo, ficava totalmente separado das outras crianças. Um dia, peguei ele no colo e resolvi deixar ele explorar o livro. Ele então mexeu no livro de todos os jeitos, até queria morder e rasgar. Achei que ele não tinha gostado do livro. No dia seguinte a professora da classe me disse: ‘O Caio está com saudades de você, quer que você leia para ele de novo’. A partir daí, toda vez que eu entrava na classe, o Caio vinha correndo e não desgrudava de mim, era o mais interessado. Eu achava que os deficientes eram pessoas que não tinham solução, mas aprendi que isso é mentira. A partir dessa experiência pude ver a força que o livro tem sobre uma criança. Glauber da Silva Quirino, mediador de leitura formado pela parceria do Mudando a História com o Programa Bolsa-Trabalho “ programaS E PROJETOS “ PARCERIA FINANCEIRA PARCERIA TÉCNICA MUDANDO A HISTÓRIA PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 34 35 BOLSA-TRABALHO A partir de uma parceria com a Prefeitura de São Paulo, 40 jovens multiplicadores de leitura do Mudando a História formaram outros 403 jovens participantes do Programa Bolsa-Trabalho, um dos programas da Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo. Durante dez meses, os 400 bolsistas receberam formação para atuar como mediadores de leitura para crianças e adultos em diversos espaços públicos, como creches, escolas, bibliotecas, postos de saúde, centros culturais, abrigos de idosos e parques. Também participaram de oficinas sobre direitos e deveres de cidadania, geração de renda e meio ambiente, além de passeios e atividades culturais. Os bolsistas escolhidos vivem nos sete distritos da cidade de São Paulo com maior exclusão social, de acordo com o Mapa da Exclusão Social, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Assistência Social de São Paulo: Vila Curuçá, Lajeado, Guaianazes e José Bonifácio, na zona leste, e Jardim São Luiz, Grajaú e Parelheiros, na zona sul. Nos primeiros encontros, esses jovens relatavam a dificuldade de entender a importância do mediador e, principalmente, de como poderiam fazer dessa atividade uma fonte de geração de renda. Com a participação nas oficinas e mediações, começaram a perceber as possibilidades de atuação do mediador de leitura, sobretudo na transformação das comunidades em que estão inseridos, e se sentiram estimulados. Ao final do curso, dos 403 jovens que participaram do primeiro bimestre, 302 permaneceram – um índice de evasão relativamente baixo quando considerado o perfil do grupo. Esses adolescentes mediaram em várias instituições, chegando a ler regularmente para cerca de 16 mil crianças, e outras 4 mil crianças durante uma atividade nas férias de julho, no projeto municipal Recreio nas Férias. No evento de encerramento do projeto, os jovens relataram que: • Tomaram gosto pela leitura e os livros; • Superaram a inibição e as dificuldades de comunicação oral; • Aprenderam a lidar com situações conflituosas; • Entenderam a importância da mediação como instrumento de transformação e cidadania; • Perceberam que as crianças passaram a gostar de livros, se tornaram mais concentradas e estão melhorando seu rendimento escolar; • Sentiram-se valorizados por perceberem o impacto da mediação na vida das crianças; • Mudaram sua postura em relação às crianças, especialmente àquelas portadoras de deficiências; • Entenderam a importância da informação e do conhecimento para a própria formação e como cidadãos; • Disseram que a experiência de mediar fez com que decidissem batalhar para se formar na universidade, especialmente como pedagogos e professores. INTERCÂMBIO NO MÉXICO Ao mesmo tempo que formava os bolsistas, o Mudando a História concretizou a segunda fase do intercâmbio entre jovens de projetos latino-americanos que, como o Mudando a História, são apoiados pelo Programa Make a Connection, da Nokia. Em 2003, jovens do projeto !Cámara! Ahí nos Vemos, desenvolvido pela Fundación Vamos,do México, em parceira com a IYF, passaram 12 dias na cidade de São Paulo, onde participaram de atividades culturais e trocaram experiências com os jovens do Mudando a História, que os recepcionaram junto com uma equipe de profissionais do projeto. Em 2004, dez jovens mediadores de leitura de São Paulo e Manaus foram recebidos na Cidade do México, pelos jovens da Fundación Vamos. Com a experiência, os jovens fizeram amigos e reconheceram a importância da diversidade e do intercâmbio entre países da América Latina. 604 mediadores e multiplicadores formados 20 mil crianças, aproximadamente, foram beneficiadas com a mediação de leitura 4 cidades do país com novos projetos: São Paulo, Manaus, Ribeirão Preto e Rio de Janeiro NÚMEROS DE 2004 PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 35 36 A Fundação Abrinq acredita que todo mundo pode ajudar a fazer com que mais jovens como o Marcelo tenham suas vidas transformadas por lugares como a Vale da Benção. Desde 1993, o Programa Nossas Crianças junta estas duas pontas: pessoas ou empresas que acreditam que podem ajudar – seja com recursos financeiros, produtos ou serviços voluntários – e organizações que trabalham, dia-a-dia, pela qualidade de vida das crianças e dos adolescentes das comunidades. Essa ponte se chama adoção financeira, que permite a qualquer pessoa doar um valor mensal correspondente ao custo de manutenção de uma nova vaga em uma organização social. Esses recursos, chamados de contribuições, são dirigidos pelo programa a instituições previamente selecionadas na região metropolitana de São Paulo que atendem crianças e adolescentes em projetos de educação infantil, abrigos, educação profissionalizante, educação complementar à escola e medidas socioeducativas em meio aberto. Isso não é tudo. Quando integram o programa, essas organizações desenvolvem mais que projetos de atendimento: elas passam também a participar da Rede Nossas Crianças, que permite participação em capacitações, atividades de articulação política, encontros AVALIAÇÃO E FORTALECIMENTO DA REDE NOSSAS CRIANÇAS SÃO FOCOS DO ANO Eu era uma pessoa que só pensava em ter moral na minha rua, andar com roupa de marca, tênis caro. Mas a Vale da Benção me fez sair dessa ilusão. Aqui, descobri que preciso gostar de mim do jeito que sou e encarar a vida de frente e de outro jeito. Já saí da Liberdade Assistida*, mas até hoje tenho saudades da minha educadora. Ela me ajudou muito, fez diferença mesmo. O meu sonho? Acho que é ter uma família feliz, ser um bom pai para os meus filhos. E também quero levar o trabalho que faço como líder jovem da minha igreja para outros jovens da Febem. Marcelo, 17 anos, foi acolhido pela Vale da Benção, organização social da zona norte de São Paulo apoiada pelo Programa Nossas Crianças, onde cumpriu duas Liberdades Assistidas “ programaS E PROJETOS “ * Uma das seis medidas socioeducativas previstas no ECA para o acompanhamento e a ressocialização de adolescentes autores de ato infracional. PARCERIA FINANCEIRA APOIO NOSSAS CRIANÇAS PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 36 37 para troca de experiências e outras iniciativas importantes para a qualificação de seus atendimentos e ampliação de seu impacto. Essa é a maneira como o Programa Nossas Crianças busca fortalecer a ação primordial das organizações sociais de atendimento na mudança da situação da realidade da criança e do adolescente, seja no bairro ou no município onde atuam. RESULTADOS DE 2004 NOVOS CONVÊNIOS E AVALIAÇÃO Em 2004, o Programa Nossas Crianças trabalhou para que novos sonhos, como os de Marcelo, pudessem se tornar realidade. Com o convênio de mais nove organizações, 422 crianças e adolescentes passaram a receber atendimento em educação infantil, abrigos, educação profissional, educação complementar à escola e em medidas socioeducativas. E as quase 3 mil crianças que já são atendidas por essas organizações passaram a ser beneficiadas pelo convênio de maneira indireta, uma vez que a troca de experiências, conhecimentos e parcerias entre as organizações da Rede Nossas Crianças proporciona a melhoria da qualidade do atendimento global dessas entidades. O programa também desvendou muitas boas histórias. Junto com a Área de Planejamento e Avaliação da Fundação Abrinq, iniciou uma primeira experiência de avaliação permanente dos impactos dos 43 projetos que apóia por meio da aplicação de recursos financeiros doados por contribuintes. Entre os resultados que afloraram da avaliação há alguns surpreendentes: organizações que prestam atendimento em Liberdade Assistida descobriram que seus projetos conseguiram reduzir a quase zero o índice de reincidência (novo ato infracional cometido pelo jovem); projetos realizaram ajustes que proporcionaram um melhor rendimento no aprendizado escolar da criança; e, ao incluir todos os seus profissionais, famílias e parceiros na avaliação, muitas organizações tiveram, pela primeira vez, uma visão rica e clara de seus pontos fracos e de seus pontos fortes. REDE FORTE E PARTICIPANTE Ao lado da avaliação, 2004 foi dedicado ao fortalecimento da ação da Rede Nossas Crianças, que teve mais participantes incluídos em suas comissões temáticas – que trabalham assuntos como desenvolvimento institucional, ação política, articulação de parcerias e comunicação – e buscou ampliar sua presença em espaços políticos. Destaca-se a capacitação realizada pelo programa sobre o processo de eleições para os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, que resultou na eleição de representantes da Rede Nossas Crianças em conselhos de 10 municípios da região metropolitana de São Paulo. Outro resultado importante foi obter o compromisso de 22 organizações da Rede Nossas Crianças de se transformar em pólos de prevenção de violência doméstica. Essa mobilização é fruto de uma ação em parceria com o Programa Prêmio Criança para a disseminação da experiência do Instituto Sedes Sapientiae, reconhecido com o Prêmio Criança 2002. CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO O ano também foi marcado por capacitações sobre temas urgentes na área da infância realizadas pelo programa e voltadas a outras organizações sociais, secretarias e prefeituras. Ao lançar a publicação digital Tecendo a Rede, que traz a experiência de fortalecimento institucional das PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 37 38 programaS E PROJETOS organizações da Rede Nossas Crianças, o programa buscou espalhar a semente da união de organizações. Também compartilhou conhecimentos importantes sobre municipalização de medidas socioeducativas ao distribuir quase 900 exemplares da publicação As Histórias de Ana e Ivan, que apresenta o passo a passo da implementação de um bom modelo de atendimento em Liberdade Assistida, em um seminário, promovido pelo programa, que contou com a participação de 22 municípios da região metropolitana de São Paulo e que teve como objetivo fornecer subsídios para os processos de municipalização nessas localidades. NOVAS PARCERIAS Outro destaque importante do ano foram os novos apoios e parceiros de produtos e serviços do Programa Nossas Crianças. Foram eles: • Parceira com Fundação Faria Lima (Cepam) em seu programa de férias Caravanas do Conhecimento – Redescobrindo o Interior, que levou 440 crianças de 11 organizações sociais da Rede Nossas Crianças a uma excursão de uma semana em cidades do interior do estado de São Paulo. • Parceria com a empresa Wal-Mart na Campanha Mundo Melhor, que resultou na doação, para organizações da Rede Nossas Crianças, de 9 mil quilos de alimentos, 50 mil produtos de higiene pessoal, 10 mil brinquedos e 200 mil itens de material escolar (doados pelas empresas Faber-Castell, Nestlé, Brinquedos Estrela e Johnson & Johnson). • Adesão do Banco CreditSuisse First Boston como novo parceiro financeiro na operação do programa. • Adesão de novos parceiros de produtos e serviços: Projectus Consultoria Ltda., Fundação Prefeito Faria Lima (Cepam), Secretaria Estadual de Assistência Social de São Paulo, Sun Microsystem, St. Giles, ESPM e Nando Olival (Projeto Cinebumba). CONTRIBUINTES ESPECIAIS O Programa Nossas Crianças agradece a participação dos seguintes contribuintes durante o ano de 2004: Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga; Fundação Djalma Guimarães; CCE da Amazônia S.A.; Ericsson Telecomunicações S.A.; Projectus Consultoria Ltda.; Eurofarma Laboratórios Ltda; Companhia Brasileira de Distribuição – Pão de Açúcar; Duoflex Indústria e Comércio Ltda.; Instituto HP; M Cassab Comércio e Indústria Ltda.; Renato Mazzucchelli; e Marcelo Pereira Lopes de Medeiros. Veja a lista completa de contribuintes do programa na página 118 119 organizações participantes da Rede Nossas Crianças 39.969 crianças e adolescentes beneficiados pela rede 2.401 crianças adotadas financeiramente 1.033 contribuintes 2.425.494,67 reais repassados para as organizações sociais de atendimento 32 parceiros de produtos e serviços NÚMEROS DE 2004 NOSSAS CRIANÇAS PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 38 39 PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 39 40 126 PREFEITURAS SÃO RECONHECIDAS COM O PRÊMIO PREFEITO AMIGO DA CRIANÇA programaS E PROJETOS PARCERIA FINANCEIRA A Fundação Abrinq acredita que todos os prefeitos e prefeitas brasileiros podem mudar as histórias das crianças e dos adolescentes de seus municípios – assim como fez Uruará, no Pará. Por isso, criou o Programa Prefeito Amigo da Criança. Desde sua primeira versão, 1997-2001, o programa vem incentivando com que os gestores municipais assumam a infância e a adolescência como prioridades em seus governos. Isso significa traçar um diagnóstico das condições de vida desta parcela da população e, com base nele, colocar em prática um plano estruturado – com metas, recursos e ações integradas – para melhorar essas condições. Ano a ano, a evolução das ações previstas nos planos das Prefeituras Amigas da Criança é acompanhada pelo programa, que também oferece aos gestores municipais subsídios técnicos como publicações e encontros para troca de experiência. Ao final da gestão, o programa realiza um prêmio, o Prêmio Prefeito Amigo da Criança, para reconhecer aqueles municípios que, pelo conjunto de suas políticas, conseguiram elevar os indicadores de saúde, proteção e educação e melhorar a vida de suas crianças e adolescentes. RESULTADOS DE 2004 Em 2004, marcando o fim da gestão 2001–2004, 126 municípios brasileiros foram reconhecidos com o Prêmio A vida das crianças e dos adolescentes de Uruará, município paraense localizado no coração da floresta Amazônica, mudou muito nos últimos quatro anos. Depois que a administração da cidade assumiu compromisso com a melhoria da situação de sua população infanto-juvenil, conseguiu aumentar em 73% o número de crianças matriculadas na escola. Fez isso, em primeiro lugar, olhando sua realidade, que mostrava que metade dos 45 mil habitantes tinha até 19 anos – e muitos deles pegavam em enxadas e não em livros. Então, elegeu uma prioridade: colocar as crianças e os adolescentes na sala de aula. Desse modo, destinou 55% do seu orçamento para o ensino fundamental, abriu novas vagas, colocou professores em formação contínua e implantou programas que levam a escola até as crianças que moram em regiões de difícil acesso. Para decidir todos esses caminhos e colocá-los em prática, juntou as secretarias de educação, assistência social e saúde, que elaboraram e implementaram ações integradas, e revalorizou o papel dos conselhos de direitos da criança e tutelares, órgãos fundamentais na defesa dos direitos da infância. PREFEITO AMIGO DA CRIANÇA PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 40 41 Prefeito Amigo da Criança 2004, pelos esforços empreendidos na melhoria da qualidade de vida de suas crianças e adolescentes. Entre eles, cinco cidades receberam menção de destaque: Uruará (PA), Santo André (SP), Goiânia (GO), Timon (MA) e Porto Alegre (RS). Para chegar a esse reconhecimento, as gestões passaram por uma trajetória longa, que começou com a adesão, em 2001, de mais de 1.500 prefeituras ao Programa Prefeito Amigo da Criança. Elas assumiram o compromisso de priorizar, em sua gestão, o atendimento às necessidades da população infanto-juvenil, investindo em saúde, educação, cultura, esporte, lazer e assistência social; de fortalecer e trabalhar em conjunto com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho Tutelar; manter a população informada sobre a situação de suas crianças e de mobilizar a sociedade local para garantir os direitos da criança e do adolescente sempre que estiverem ameaçados. Nos quatro anos desse processo, as prefeituras tiveram suas ações acompanhadas pelo Programa Prefeito Amigo da Criança a partir do preenchimento do Mapa da Criança e do Adolescente nas versões 2001, 2002 e 2003. Tais instrumentos, que exigiam a coleta de dados de diferentes fontes para o levantamento do diagnóstico da situação da criança e posterior construção de uma proposta de política pública, estimularam a cultura da participação, colocando juntas, por exemplo, secretarias que mal se comunicavam. As respostas do Programa Prefeito Amigo da Criança aos mapas foram dadas por pareceres técnicos, elaborados por especialistas reconhecidos na área da infância, que forneceram às prefeituras subsídios para fortalecer aspectos de suas políticas e corrigir rumos durante a caminhada. Esse diálogo, que incluiu a realização de seminários com prefeituras das regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Norte, fortaleceu ainda mais a cultura de gestão municipal planejada, participativa e integrada, incentivou a participação da sociedade civil nas gestões municipais e estimulou a articulação de parcerias. Por fim, escolheram-se as 126 prefeituras mais empenhadas na construção de uma nova realidade para as crianças e os adolescentes de suas cidades. As experiências reconhecidas inspiraram a idéia de uma publicação, com lançamento em 2005, que discutisse avanços e desafios das políticas públicas municipais para a criança e o adolescente. Também serviram de exemplo para a construção da Campanha Prefeito Amigo da Criança 2005–2008, que buscou a adesão ao Programa Prefeito Amigo da Criança dos candidatos aos executivos municipais para 2005-2008. Saiba quais foram as prefeituras reconhecidas pelo Prêmio Prefeito Amigo da Criança 2004 na página 124. 1.542 municípios participantes da Rede Prefeito Amigo da Criança 126 municípios reconhecidos com o Selo Prefeito Amigo da Criança, em 27 estados brasileiros, durante a gestão 2001–2004 12.422.528 de crianças e adolescentes que compõem a população infanto-juvenil das 126 cidades NÚMEROS DE 2004 PG 14-49 Abrinq Projetos ok√√ 7/9/05 8:37 AM Page 41 42 Programa fecha o ‘primeiro circuito’ do reconhecimento à disseminação Toda criança tem o direito de ser acolhida em todas as suas necessidades. E toda iniciativa que faça isso de maneira exemplar tem o direito de ser conhecida pelo maior número possível de pessoas. A Fundação Abrinq criou o Prêmio Criança em 1989, exatamente para mostrar para governos, organizações não- governamentais, empresas e pessoas a natureza e a atuação dos projetos que mais têm contribuído para a defesa dos direitos da criança de 0 a 6 anos. A cada dois anos, o programa seleciona e premia quatro iniciativas exemplares, de todo o país, em temas que vão da saúde à convivência familiar e comunitária. E, no espaço de tempo que vai de um prêmio até o próximo, trabalha na divulgação das práticas premiadas, produz e distribui publicações