Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Anotações Helson Nunes da Silva DIR120 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Leonardo Vieira Santos leonardo@ocav.com.br (Professor) 2018.2 DIR120 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 65 A lógica é que a garantia hipotecária normalmente não cobre o crédito todo, então o credor ainda precisa concordar. 9.5. Cessão de posição contratual 9.6. Outros modos de transmissão Em uma abordagem multidisciplinar, surgem outros modos de transmissão. Usufruto de créditos – direito real que confere ao usufrutuário amplas prerrogativas semelhantes ao proprietário, mas não todas, a exemplo de não poder dispor dos créditos. Observação O usufruto pode recair sobre os créditos. Fato é que ao se tornar usufrutuário do crédito, é como se houvesse ocorrido a transmissão do crédito, ainda que provisória. Penhor de créditos – a garantia real que recai sobre bem móvel pode ser oferecida como crédito. Se o credor executar a garantia, haverá a transmissão desse penhor, por vias transversas, de modo que o credor passa a ser seu proprietário. Endosso – nota promissória ou cheque. Se o detentor do título endossar para terceiros, haverá a transmissão do crédito. Cessão da garantia sobre o crédito. 10. Adimplemento obrigacional. Teoria do pagamento. 10.1. Meios de extinção das obrigações Pagamento direto Forma mais valorizada pelo sistema jurídico. Pagamento indireto As hipóteses estudadas sobre novação, transação, consignação em pagamento, etc. Sem pagamento Consiste em meios atípicos de extinção da obrigação: o Prescrição; Existe uma crítica, na medida em que a prescrição não extingue o elemento débito, senão, tão somente, o elemento responsabilidade; o Impossibilidade do pagamento sem culpa do devedor; Resolve-se a obrigação, extinguindo-se o liame obrigacional, seja na obrigação de dar coisa certa, de fazer ou de não fazer. 66 Anotações de Helson Nunes da Silva 10.2. O adimplemento obrigacional 10.2.1. Pagamento direto Modalidade em que o devedor observa rigorosamente aquilo que está previsto no título de origem, ficando ao final livre do liame obrigacional. Curiosidade Parte da doutrina sustenta que o pagamento direto pode ser considerado pagamento em sentido estrito. Quem deve pagar (solvens) O próprio devedor O pagamento pelo próprio devedor extingue o liame obrigacional, sem outras consequências previstas no Código. Terceiro com interesse jurídico O ordenamento permite que terceiros com interesse jurídico efetuem o pagamento do objeto do liame obrigacional. Considera-se “interesse jurídico” as situações em que o não pagamento pode repercutir no patrimônio do terceiro. O código estabelece algumas consequências para as situações de pagamento por terceiro com interesse jurídico no adimplemento da obrigação. o SUB-ROGAÇÃO – o terceiro com interesse jurídico que efetuou o pagamento substitui a posição do credor original em todas as suas prerrogativas. o O terceiro com interesse jurídico pode, ainda, MANEJAR MEDIDAS NECESSÁRIAS, inclusive judiciais, para fazer valer sua intenção de pagar, caso o credor oponha resistência injustificada ao pagamento. Um exemplo de medida a ser manejada é a consignação em pagamento. Exemplos de terceiros com interesse jurídico: o Herdeiro; o Sublocatário – tem interesse em pagar a dívida do locatário perante o locador (para não ser despejado). Como consequência, o sublocatário pode cobrar os valores que ele desembolsou para pagar diretamente ao credor, quando quem deveria pagar era o locatário. Nessa hipótese, o sublocatário sub-roga-se em relação ao locatário com todas as prerrogativas do credor originário, inclusive podendo cobrar as multas e juros decorrentes do atraso. Terceiro sem interesse jurídico o Em nome do devedor O recibo de quitação sai em nome do devedor. Assim, esse pagamento constitui uma DOAÇÃO INDIRETA. O terceiro não interessado que efetuou essa modalidade de pagamento não tem o direito de exigir absolutamente nada, nem mesmo exercer alguma prerrogativa do credor originário. DIR120 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 67 Curiosidade A quitação diz respeito ao recibo que comprova o pagamento, não sendo, juridicamente falando, sinônimo de adimplemento. o Em nome próprio do terceiro não interessado O recibo de quitação sai em nome do próprio terceiro que efetuou o pagamento. Assim, esse pagamento irá gerar tão somente o DIREITO AO REEMBOLSO (sem multa, sem juros ou encargos previstos no contrato), que se afigura em um direito menos que a SUB-ROGAÇÃO, embora superior à DOAÇÃO INDIRETA. Código comentado Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Hipótese do pagamento por terceiro juridicamente interessado. Sub-rogação e possibilidade de manejar medidas necessárias para fazer valer sua intenção de pagar (consignação em pagamento). Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. Hipótese de Doação indireta Igual direito cabe ao terceiro não interessado – refere-se ao direito de manejar uma consignação em pagamento, desde que faça em nome e à conta do devedor, e que este não se oponha. A consignação em pagamento pressupõe que o devedor tem o direito de honrar sua obrigação. Salvo oposição deste – O devedor deve justificar sua oposição ao pagamento do terceiro, para não recair em abuso de direito. Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor. Hipótese de terceiro não interessado, pagando em seu próprio nome. Direito ao reembolso, sem se sub-rogar nos direitos do credor. Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento. O direito ao reembolso será no vencimento, para não prejudicar o devedor que já tinha essa previsão no contrato, senão o terceiro encurtaria o prazo que o devedor teria para pagar. Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação. Meios para ilidir a ação – significa que o devedor possuía meios para justificar o não pagamento da obrigação. 68 Anotações de Helson Nunes da Silva Assim, nessa hipótese, se um terceiro procede ao pagamento sem o conhecimento do devedor, não terá o direito ao reembolso. Exemplo: o O devedor possuía uma razão forte para não ter efetuado o pagamento ao credor, a exemplo de uma exceção pessoal contra o credor, mas o terceiro, sem consultar ao devedor, procede ao pagamento (“Peru de fora!”). Assim, o terceiro não terá direito de reembolso, pois o devedor não pode sair em prejuízo não provocado por ele. Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. Discorre sobre o óbvio. Apenas está disposto para criar as bases que explicam, logo em seguida, o parágrafo único. Se o pagamento importa transmissão de propriedade, ele só produzirá eficácia jurídica se quem fez o pagamento podia alienar o objeto. Exemplo: o “A” tem um crédito a receber de “B” que é um copo de água mineral. “B”, aproveitando a ausência de “C”, que havia deixado um copo de água mineral à mesa, pega e entrega a “A”, para adimplir sua obrigação. Esse pagamento não terá eficácia, pois o copo de água mineral transmitido para “A” não era de propriedade de “B”. Se “A” (credor)tivesse conhecimento de que o copo de água não pertencia a “B” (devedor), configura-se a má-fé de “A” (credor). Caso contrário, sem conhecer da conduta sub-reptícia de “B” (devedor), considera-se a boa-fé de “A” (credor). Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la. Se o credor estiver de boa-fé, então o proprietário da coisa fungível e consumível não poderá reclamar diretamente ao credor que recebeu o pagamento, mas poderá ingressar uma ação contra o devedor. Se fosse uma coisa infungível e não consumível, não poderia aplicar o parágrafo único. Nessa hipótese, ainda que de boa-fé, o credor terá que devolver a coisa ao proprietário de direito. Curiosidade Uma coisa de gênero/espécie raríssima, tal como um vinho raro, com produção de apenas poucas garrafas no mundo, é considerado infungível, mas é consumível. Daqueles a quem se deve pagar (Accipiens) Ao próprio credor Terceiro diverso do credor o Procurador ou mandatário – idêntico a pagar ao credor. DIR120 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 69 o Credor putativo – situação em que os fatos levam o devedor (paradigma da pessoa média) a crer que o se está diante do real credor, quando na realidade não se está. Se for escusável, o devedor estará livre da obrigação. Exemplo: Devedor paga ao herdeiro do credor que faleceu. Mas, após o pagamento, descobre-se que ele possuía herdeiros bastardos. Por ter pagado ao credor putativo de forma escusável, o devedor estará livre, e o herdeiro que recebeu o pagamento deve restituir aos demais. o Portador da quitação é o sujeito que possui a prova do pagamento (ex. recibo). A regra é que se pode pagar ao portador da quitação. Salvo se as circunstâncias do caso desautorizarem o pagamento. o Se pagar ao menor, quem pagou tem que provar que o pagamento foi revertido ao proveito do menor. O correto é pagar ao representante. Código comentado Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. Ao próprio credor ou ao representante de direito; Pagando a terceiro diverso, o devedor estará livre se conseguir comprovar que o pagamento reverteu em proveito do credor. Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor. De boa-fé – caracterizada por um erro escusável, com base no paradigma da pessoa média. Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu. Exemplo do pagamento a um menor incapaz, em que o devedor só estará desobrigado se comprovar que o valor pago foi revertido ao menor. O ônus da prova é do terceiro que efetuou o pagamento ao menor incapaz. Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante. Quitação – é a forma do pagamento, a exemplo do recibo. O portador da quitação está autorizado a receber o pagamento, ainda que não seja o credor de direito. Esse pagamento ao portador da quitação, em regra, produz plenos efeitos, exonerando o devedor de sua obrigação com o credor de direito. “Salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante” – deve-se avaliar as circunstâncias do caso concreto para saber se há algum elemento que desabone a apresentação da quitação. 70 Anotações de Helson Nunes da Silva Exemplos: o Fato notório que o credor original é inimigo declarado do portador que chegou com a quitação para receber o crédito em nome de seu desafeto. É prudente que o devedor entre em contato com o credor para se certificar da validade da quitação apresentada pelo portador; o Durante 12 meses, sempre quem apareceu para receber o valor foi um mesmo preposto, identificado por crachá e uniforme. No mês subsequente, entretanto, aparece outro portador, sem uniforme, sem crachá, mas com a quitação assinada pelo credor original. É prudente que o devedor entre em contato com o credor, pois as circunstâncias contrariam a presunção resultante. Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor. “Quem paga mal paga duas vezes”. Se o devedor pagar ao credor, apesar de comunicado da penhora do crédito por terceiros, o pagamento não valerá contra estes (terceiros). Assim, os detentores da penhora de crédito poderão exigir ao devedor que pague novamente. Nesse caso, o devedor que pagou ao credor, pode requerer o regresso do valor pago indevidamente. Atenção Em situações de penhora de crédito, o devedor deve pagar em juízo. Impugnação a ele oposta por terceiros – se o devedor tiver dúvida de quem é o verdadeiro credor, deve fazer uma consignação em pagamento. Objeto do pagamento e sua prova Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. Retoma a regra geral, onde o devedor deve cumprir a prestação estabelecida pelo título obrigacional original. TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL Afigura-se em uma exceção à regra, derivada do princípio da boa-fé objetiva, com raízes em Clóvis de Couto e Silva: “A obrigação como um processo”. Quando houver um adimplemento tão expressivo, que se aproxime do total de forma muito intensa e decisiva, a teoria do adimplemento substancial IMPEDE que o credor cogite a consequência jurídica da resolução. “Trata-se do adimplemento tão próximo do resultado final que, tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo-se tão somente o pedido de indenização” (Clóvis de Couto e Silva). Exemplo: o O devedor paga 35 das 36 parcelas de um contrato parcelado. Em regra, não houve o adimplemento, mas afigura-se um adimplemento substancial, que impede jurisprudencialmente que o credor exija a resolução da obrigação. DIR120 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 71 Qual seria o parâmetro para configurar um adimplemento substancial? Não existe um parâmetro objetivo, então sempre vai depender das circunstâncias do caso concreto. Parcelamento de dívida divisível – exceção ao art. 314, CC O art. 314 dispõe que ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. Contudo, em se tratando de regra específica para o processo de execução, disposta no Código de Processo Civil de 2015, possibilita-se ao executado (devedor), desde que depositando cerca de 20% a 30% do total da dívida (com custas, honorários, etc.), parcelar o restante, independentemente de concordância do credor. A viabilidade dessa exceção guarda relação com o Diálogo das fontes (Cláudia Lima Marques), que propicia um diálogo entre o Código Civil e o Código de Processo Civil. Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes. Em moeda corrente – a moeda atual vigente no país. Pelo valor nominal – Em regra, pelo valor de face disposto no título obrigacional original. Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestaçõessucessivas. Aumento progressivo de prestações sucessivas – permite-se a atualização monetária. A atualização monetária deve estar EXPRESSA no título executivo ou extrajudicial. No processo civil, permite-se a atualização monetária sem estar expressa no título original, mas só atualiza do ajuizamento em diante, perdendo-se daí para trás. Atenção Atualização monetária não se confunde com juros remuneratórios. Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. Aplicação da TEORIA DA IMPREVISÃO, nas obrigações pecuniárias. Evita que um fato que seja IMPREVISÍVEL para as partes e SUPERVENIENTE ao ajuste original comprometa o equilíbrio originário, fazendo com que uma parte tenha um lucro excessivo ao preço de um prejuízo muito grande da outra parte. Desproporção manifesta – à luz das circunstâncias do caso concreto. Exemplo: o Estelionato de FHC em manter câmbio de 1 para 1 com dólar. 72 Anotações de Helson Nunes da Silva Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial. Como regra geral, há uma vedação legal para que os negócios sejam celebrados com convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional. Excetuados os casos previstos na legislação especial. Negócios envolvendo o comércio exterior (importação e exportação) podem ser celebrados em moeda estrangeira. Quitação A partir do art. 319, tratar-se-á do instituto da quitação, que não se confunde com o pagamento, como amplamente difundido no imaginário popular. O devedor que pagar e não tiver o comprovante de quitação corre o risco de cair na máxima do “quem paga mal paga duas vezes”. Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. A lei dá direito ao devedor de inclusive reter o pagamento, se o credor não providenciar o documento de quitação. Se a quitação continuar a ser negada, o devedor poderá invocar a aplicação da consignação em pagamento. O ônus da prova da quitação é do devedor. Se o ônus da prova fosse do credor, seria a chamada “prova diabólica”. Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Requisitos formais que deverão constar no documento de quitação: o Valor e a espécie da dívida quitada; o Nome do devedor ou de quem efetuou o pagamento; o O tempo do pagamento o Assinatura do credor ou de seu representante. Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida. O parágrafo único flexibiliza a formalidade do documento de quitação, admitindo-se outras formas de se provar o pagamento da dívida. Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido. Situações em que o título da obrigação é uma “nota promissória” ou “um cheque- calção”. Nelas, o “credor” retém o título, devendo devolver ao devedor no momento do pagamento, razão por que se diz que a quitação consiste na devolução do título. DIR120 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 73 Quitação consista na devolução do título – o título de crédito corporificado, tal como uma nota promissória ou cheque-calção, deve ser devolvido ao devedor no momento do pagamento. Declaração do credor que inutilize o título desaparecido – caso o credor tenha perdido o título corporificado, ele deverá declarar que o devedor fez o pagamento e que o título não foi devolvido por alguma justificativa, tal como um extravio. Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. A quitação de determinada quota acarreta a presunção juris tantum de que as anteriores também foram quitadas. Observação Presunção juris et de jure – Presunção absoluta; Presunção juris tantum – Presunção relativa, que admite prova em contrário. Não é uma regra cogente, então as partes podem pactuar de forma diferente, assim como acontece com boletos onde consta a observação de que “o pagamento dessa quota não pressupõe o pagamento das quotas anteriores”. Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos. Sem reserva dos juros – a quitação do principal sem ressalvas quanto ao não pagamento dos juros faz presumir que ambos foram pagos. É uma presunção relativa para explicar que o acessório (juros) segue o principal. Exemplos: o O credor deve explicitar na quitação que está recebendo apenas o principal, sem os juros, que deverão ser pagos posteriormente. Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Se o credor devolve o título ao devedor, haverá presunção de que houve o pagamento. Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento. Flexibiliza o art. 324, já que possibilita ao credor provar que, embora tenha efetuado a quitação, não houve efetivamente o pagamento. O dispositivo estabelece o prazo de sessenta dias. Na prática, não é tarefa muito fácil. Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida. Certos pagamentos pressupõem despesas. Elas serão arcadas, em regra, pelo devedor. Mas se as despesas aumentarem por conduta atribuída ao credor, este suportará a despesa que foi acrescida. o Mudança de endereço do fornecedor, de Salvador para Aracaju. Não poderá o fornecedor imputar os custos extras da logística (combustível, diária de 74 Anotações de Helson Nunes da Silva motorista, etc.) ao devedor, pois foi ele (o credor) que deu causa a esse aumento inesperado. Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução. Cláusula geral – sua compreensão demanda a uma remissão para elementos colhidos fora do código. O alqueire baiano tem medidas diversas de outros lugares. Se não houver indicado no título qual a medida a ser utilizada, deve-se utilizar a medida ou peso do lugar da execução. Lugar do pagamento No título de origem da obrigação normalmente deve ter indicado o lugar do pagamento, previsão que, em determinados tipos de obrigação, ficou mitigada. Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. No silêncio das partes, o lugar do pagamento será o domicílio ATUAL do devedor. Dívida QUESÍVEL – que deve ser paga no domicílio do devedor. Dívida PORTÁVEL – em que o lugar do pagamento será o domicílio do credor. Exemplo: o Fisco – domicílio do credor; Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. Faculta ao credor fazer a escolha, nas hipóteses em que houver designado mais de um lugar para pagamento. Art. 328. Se o pagamento consistir na tradiçãode um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem. Razoabilidade – se o objeto do pagamento é um bem imóvel, a tradição ou a prestação do pagamento deverá ser no endereço do próprio imóvel, pois seria impossível mover o bem. Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. Motivo grave – Se o lugar do pagamento for local perigoso, o devedor pode fazê-lo em outro local. Sem prejuízo para o credor – O entendimento doutrinário é que as despesas incorridas pela mudança de endereço serão imputadas a quem deu causa, não sendo imputadas a nenhum dos dois, se ninguém foi responsável pela causa. DIR120 – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 75 Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. Venire contra factum proprium – o pagamento feito REITERADAMENTE em outro local gera legitima expectativa para o devedor de que o credor não irá voltar a exigir o pagamento no lugar pactuado. Tempo do pagamento Tempo de pagamento está associado ao VENCIMENTO. Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. A regra no silêncio das partes é que se o vencimento não for ajustado, o pagamento deverá ser IMEDIATO. O dia interpela pelo homem (dies interpelat pro homine) – Se foi fixada a data de vencimento, ela define a data do pagamento. Se não foi fixada a data, espera-se que o credor interpele o devedor para efetuar o pagamento em prazo razoável, ao invés de cobrar imediatamente. Art. 332. As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor. Vencimento ocorre quando a condição é implementada, sendo que o credor deve providenciar que o devedor tenha tido ciência do implemento. Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. Situações excepcionais que forçam o vencimento antecipado da dívida. Inciso I – Se o devedor abrir falência ou em hipótese de concurso de credores, o credor pode exigir antecipamente o cumprimento da obrigação, pois não faz sentido o credor aguardar a data de vencimento (futura), já que iria por em risco seu crédito e consequentemente seu patrimônio. Curiosidade A falência é uma espécie de concurso de credores Limite para créditos trabalhistas A nova lei das falências (de 2005) estabeleceu o limite de cem salário mínimos para os créditos trabalhistas (preferencias), pois havia muita fraude: Forjavam-se reclamações trabalhistas milionárias com interpostas pessoas ligadas às empresas que pediam falência, para transferir os recursos do concurso de credores para eles próprios – Lei de Gerson. 76 Anotações de Helson Nunes da Silva Inciso II – Hipótese em que a dívida estava com garantia real, o que deixava o credor está absolutamente tranquilo, até que outro credor tenha penhorado o bem que lhe foi dado em garantia (penhor ou hipoteca). Não é razoável o credor esperar o vencimento para exigir o pagamento, já que o crédito ficou sem cobertura. Inciso III – Muito semelhante à essência do inciso II, pois trata da hipótese de que própria garantia da prestação se tornou insuficiente, diferenciando da hipótese anterior em que outro credor penhorou o crédito.
Compartilhar