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Introdução O conhecimento da possibilidade de se realizar a anestesia do neuroeixo remonta o século XIX; desde então, o conhecimento e a pesquisa em relação à utilização das técnicas de bloqueio espinhais vêm se desenvolvendo de maneira contínua. A anestesia do neuroeixo, raquianestesia e/ou peridural tem sido utilizada de maneira rotineira na prática anestésica, não somente devido ao fato de ser uma técnica há muito tempo conhecida, mas também por apresentar vários fatores que a tornam em muitas situações a primeira opção como técnica anestésica. Dentre estes fatores, os mais importantes são os descritos por Rodgers et al.:1 redução em um terço na mortalidade, no risco do desenvolvimento da trombose venosa profunda e no tromboembolismo pulmonar, na incidência de infarto do miocárdio, na necessidade de transfusão sangüínea tanto no peri quanto no pós- operatório, na incidência de infecção (incisão cirúrgica e/ou pulmonar), na incidência de depressão respiratória e na incidência de insuficiência renal. Entretanto, apesar da evidente importância da técnica de bloqueio espinhal a técnica isolada de raquianestesia e a peridural apresentam limitações, o que torna difícil em algumas situações a escolha da técnica mais apropriada. A partir desta dúvida e com o desenvolvimento de novos materiais e medicações a opção da realização da técnica combinada de raquianestesia e peridural (duplo bloqueio) tornou-se uma nova opção, ou melhor, uma opção renovada de anestesia regional. Este capítulo tem como objetivo discorrer sobre as técnicas neuroaxiais contínuas. Bloqueio peridural contínuo Anatomia O espaço peridural foi descrito como uma cavidade potencial entre o ligamento amarelo e a duramáter, e que se estende, lateralmente, com as bainhas das raízes nervosas. Anteriormente, o espaço peridural é limitado pelo ligamento longitudinal posterior; lateralmente, pelos pedículos e foramens intervertebrais; e, posteriormente, pelo ligamento amarelo. Voltar | Próxima É mais amplo ao nível lombar, em especial entre L3 e L5, o que favorece os bloqueios a esse nível, e mais estreito entre T3 e T6. Como o espaço diminui em sentido lateral, 2 o risco de perfuração da dura-máter aumenta quando a agulha se desvia da linha média durante sua inserção. Antes da identificação do espaço peridural, é necessária a colocação da agulha no ligamento amarelo. A espessura do ligamento amarelo e as distâncias entre a pele e a dura-máter variam nas diferentes porções da coluna vertebral.3 O ligamento amarelo é mais espesso ao nível lombar, tornando-se mais delgado em direção cervical.3 Na região lombar, o ligamento amarelo está localizado a cerca de 4 cm da pele (3,5 a 6 cm) e possui espessura de 5 a 6 mm na linha média.4 A maior distância até a perfuração da dura-máter está exatamente na linha média. Em indivíduos idosos, o ligamento amarelo pode estar calcificado e oferecer importante resistência à inserção da agulha. O saco dural termina, em média, ao nível do terço médio de S2, variando entre as bordas superiores de S1 e S4. 5 A medula espinhal se estende, nos adultos, até o nível da borda inferior de L1. O conteúdo do espaço peridural (raízes nervosas, gordura, tecido areolar, vasos sangüíneos) está disposto em uma série de compartimentos circunferências descontínuos.2 Os vasos peridurais estão dispostos no espaço peridural anterior e lateral.6 A ausência do plexo venoso na linha média indica que o uso da via mediana para a punção peridural se relaciona à menor ocorrência de trauma e sangramento. Técnica Determinação do local da punção A medula espinhal termina, em média ao nível L1-L2. 7 Por isso, no bloqueio peridural lombar, a agulha é inserida geralmente nos interespaços L3-L4 ou L4-L5. A linha que liga as espinhas ilíacas ântero-superiores (linha de Tuffier) é usada comumente como referência para a punção peridural, e atravessa a linha média sobre L4, ou o espaço entre L4 e L5. Todavia, comumente, tendo a linha de Tuffier como referência, o espaço intervertebral escolhido para punção peridural está, na verdade, um ou dois segmentos acima do estimado.8 Apenas 29% dos locais de punção são identificados corretamente.8 Por isso, Broadbent et al.8 recomendam a inserção da agulha um espaço abaixo daquele indicado pela linha de Tuffier. Com auxílio da ultra-sonografia, a identificação do espaço intervertebral apresentou melhor correlação com a radiografia simples da coluna.9 Além disso, apesar de não haver diferença na incidência de falhas e de bloqueio irregular, a punção peridural e a inserção do cateter peridural são realizadas em menor número de espaços e tentativas.10 É possível identificar o melhor espaço intervertebral para punção, a direção ideal para avançar a agulha e, principalmente, a distância entre a pele e o espaço peridural. Introdução do cateter peridural O uso do cateter peridural permite estender a anestesia e analgesia peridural por tempo mais prolongado. Para sua inserção, a agulha deve ser introduzida no espaço peridural, idealmente, na linha média. Quando se desvia da linha média, o cateter poderá tomar uma posição lateral, ou mesmo sair através de um forame intervertebral, e produzir bloqueios falhos ou unilaterais. O cateter é inserido cerca de 3 a 5 cm no espaço peridural.3 Quando inserido maior comprimento do cateter, aumenta a probabilidade de mau posicionamento, e de migração intravascular ou intratecal.3 Devido às características segmentares do bloqueio peridural, recomenda-se que o local da punção esteja localizado no ponto médio dos segmentos envolvidos pelo ato cirúrgico. O posicionamento do cateter peridural nos dermátomos que sofrerão a lesão cirúrgica é fundamental para garantir a qualidade da analgesia, e permitir a administração de doses menores de anestésicos locais (AL) e opióides. Com isso, a incidência de efeitos adversos e bloqueio motor dos membros inferiores é minimizada. Um tema bastante controverso é a administração de dose-teste para identificar o posicionamento inadvertido da agulha ou do cateter em um vaso sangüíneo peridural ou no espaço subaracnóideo. A descrição original da dose-teste usou 15 g de adrenalina em 3 mL de AL.11 A elevação da freqüência cardíaca após a administração da dose-teste indicaria injeção intravascular devido ao efeito betaadrenérgico da adrenalina, enquanto a presença de bloqueio sensitivo desproporcionalmente alto indicaria administração intratecal. Todavia, situações, como o uso de beta-bloqueadores, podem confundir a interpretação da dose-teste. Esses pacientes não apresentam aumento da freqüência cardíaca. Na verdade, a freqüência poderá, mesmo, diminuir, enquanto a pressão arterial aumenta. Dessa forma, devido ao baixo valor preditivo da dose-teste, a melhor estratégia para evitar acidentes com injeções intravasculares ou intratecais é realizar aspirações repetidas e cuidadosas, e administrar a dose do AL lenta e fracionadamente. Durante a realização do bloqueio, lesão nervosa pela agulha ou cateter deve ser suspeitada se ocorre parestesia persistente ou dor durante a injeção.12 A introdução ou a presença do cateter peridural constitui fonte adicional de trauma. A ocorrência de parestesia durante a inserção do cateter é freqüente, sem, entretanto, significar lesão radicular. Puolakka et al.13 observaram incidência duas vezes maior de parestesias e alterações neurológicas quando foi usada técnica contínua de analgesia peridural. As lesões nervosas traumáticas desencadeadas pela agulha ou pelo cateter peridural raramente são permanentes ou incapacitantes. Analgesia Peridural A técnica ideal de analgesia peridural após cirurgias de grande porte deve promover alívio efetivo da dor, com efeitos adversos mínimos, e com o máximo de satisfação do paciente. Deve, ainda, bloquear a sensibilização central e as disfunções orgânicas induzidaspela dor, e, com isso, melhorar o desfecho clínico. A eficácia da analgesia peridural é difícil de ser analisada devido ao grande volume de dados disponíveis na literatura. É técnica que pode ser administrada antes ou após as mais variadas cirurgias: combinar o uso de grande número de agentes injetados em diferentes níveis do espaço peridural e através de diferentes técnicas. As técnicas de administração da analgesia peridural podem ser usadas com, ou sem, o auxílio de bombas de infusão microprocessadas. Quando tal recurso não está disponível, o método mais simples de analgesia peridural é a administração manual intermitente de doses em bolus de opióides, combinados ou não a anestésicos locais. A administração peridural de morfina é a técnica de analgesia mais amplamente usada devido ao seu perfil farmacocinético mais seguro em relação aos opióides lipofílicos. Dose única de morfina peridural promove alívio da dor visceral e somática durante 12 a 24 horas, a depender da extensão da lesão tecidual, da dose e do local de administração (lombar ou torácico). Esse método, entretanto, apresenta desvantagens. O paciente, comumente, apresenta episódios de dor, principalmente durante os movimentos. A abertura constante do sistema peridural permite a injeção inadvertida de drogas impróprias e facilita a contaminação da solução analgésica e infecção peridural. Quando é usado AL, a dose em bolus pode determinar bloqueio motor e instabilidade hemodinâmica. Uma técnica de analgesia peridural também baseada na administração de doses em bolus pode ser usada com auxílio de uma bomba de infusão. Pequenas doses em bolus são administradas a intervalos regulares pré-programados (Bolus peridurais intermitentes programados). O objetivo é evitar grandes flutuações no nível sensitivo.14 Essa técnica se mostrou mais eficaz que a infusão peridural contínua, com menor consumo de AL e opióide.14 A técnica de infusão contínua visa manter um nível constante de analgesia, e minimizar os efeitos cardiovasculares e respiratórios dos AL e opióides.15 Produz analgesia ininterrupta, garantindo melhor controle da dor, maior versatilidade com o uso de opióides lipofílicos e maior nível de satisfação dos pacientes. Por outro lado, podem ocorrer problemas, como a ocorrência de escapes de dor durante as mobilizações e de bloqueio motor nos membros inferiores. Esses problemas persistiram apesar do uso de diferentes combinações de ritmos de infusão, concentrações de AL e combinações de aditivos. A analgesia peridural controlada pelo paciente (APCP) é um desenvolvimento da analgesia peridural, em que, além de uma infusão contínua basal, o paciente é capaz de demandar doses em bolus predefinidas da solução analgésica à medida que a intensidade da dor varia. Nessa técnica, o paciente tem controle da sua analgesia. A decisão individual de apertar o botão de demanda é primordial para o sucesso da técnica. Medo, confusão mental e outros fatores psicológicos podem fazer o paciente aceitar a dor de maior intensidade e torná-lo incapaz de obter o máximo proveito da técnica. A analgesia proporcionada é superior àquela obtida com a infusão peridural contínua, com maior satisfação, menor consumo das drogas analgésicas e menos efeitos adversos.16 O paciente consegue equilibrar o alívio da dor e a ocorrência de efeitos adversos. Eficácia da analgesia peridural Na tentativa de determinar o papel da analgesia peridural contínua no tratamento da dor pós-operatória, Wu et al.17 compararam em uma revisão sistemática a analgesia peridural em infusão contínua, a APCP e a analgesia venosa controlada pelo paciente (AVCP). Como observado em outras revisões sistemáticas que compararam a eficácia da analgesia peridural e dos opióides sistêmicos,18 quando consideradas em conjunto, as duas técnicas de analgesia peridural promoveram controle mais eficaz da dor pós-operatória, em repouso e durante os exercícios, com a exceção da administração de opióides hidrofílicos isolados.17 Quando comparada à infusão peridural contínua, a APCP foi clinicamente equivalente no alívio da dor.17 Os regimes com opióides lipofílicos isolados, AL isolados ou combinações de AL e opióides se mostraram igualmente efetivos.17 Com relação aos efeitos adversos, as técnicas de analgesia peridural, como um todo, apresentaram menor incidência de náuseas, vômitos e sedação, mas uma ocorrência maior de prurido, retenção urinária e bloqueio motor. Quando comparadas as duas técnicas de analgesia peridural, a infusão peridural contínua produziu freqüências maiores de náuseas, vômitos e bloqueio motor, e menor ocorrência de prurido. Falhas da analgesia peridural A ação anestésica desigual e irregular no espaço peridural pode limitar a efetividade da analgesia. A assimetria do bloqueio anestésico peridural é um fenômeno comum e pode ocorrer em até 21% dos pacientes.19 As causas propostas para a distribuição desigual do AL no espaço peridural incluem o posicionamento da ponta do cateter peridural fora da linha média, a presença de bolhas de ar, e a presença de barreiras fibrosas no espaço peridural.20 Hogan20 determinou através de tomografia computadorizada a posição da ponta do cateter peridural e os padrões de distribuição da solução anestésica no espaço peridural. Apesar da analgesia peridural ter se mostrado eficaz em todos os pacientes estudados, o autor descreveu que, em apenas 40% dos pacientes, a ponta do cateter estava na porção posterior do espaço peridural. Em metade dos pacientes, a ponta estava no forame intervertebral enquanto nos demais 10% o cateter alcançou o tecido paravertebral. Paralelamente, também não houve um padrão comum de dispersão da solução anestésica. A dispersão foi mais uniforme quando volumes maiores da solução anestésica foram utilizados. Esse achado está de acordo com outros autores que demonstraram que bloqueios assimétricos podem ser melhorados com a injeção de bolus adicionais da solução anestésica.19 Algumas vezes, as falhas na analgesia se devem a problemas técnicos relacionados à bomba de infusão ou ao cateter peridural. Quando esses problemas ocorrem, a ausência de uma estratégia analgésica alternativa ou a demora para o reconhecimento do problema, poderá determinar falha da analgesia pós-operatória até que outra medida possa ser adotada. A incidência de deslocamento prematuro do cateter descrita na literatura varia entre 5,7% e 13%.21,22 Nos estudos de Scott et al. 23 e Niemi et al.24 a ocorrência de problemas técnicos com o cateter peridural ou falhas na bomba de infusão foram determinantes para a interrupção precoce da analgesia pós-operatória de 9% e 15%, respectivamente. A desconexão do injetor e a exteriorização da ponta do cateter corresponderam a 80% dessas complicações.25 Outras causas potenciais de falha da analgesia devido ao cateter peridural incluem sua dobra, migração ou oclusão. Agentes usados na analgesia peridural A analgesia peridural utiliza, habitualmente, a combinação de um AL e um opióide. Os AL não são, geralmente, administrados como droga única devido à elevada taxa de falha na analgesia, resultante da regressão do bloqueio sensitivo e da grande incidência de bloqueio motor e de hipotensão arterial.26 Por outro lado, o uso isolado do fentanil peridural comumente não é capaz de aliviar a dor dinâmica. A combinação de AL e de opióides limita a regressão dos bloqueios sensitivo e motor, e o alívio da dor dinâmica ocorre de forma mais efetiva.27 Permite também reduzir as doses individuais de cada droga e, assim, minimizar a ocorrência de efeitos adversos.28 Ainda são necessários estudos para determinar a melhor combinação de opióides e AL na analgesia peridural. A concentração ótima de fentanil não é conhecida, mas parece estar entre 1 e 5 g.mL.-1 29 A ropivacaína é um AL que apresenta um perfil de toxicidade mais favorável e que produz bloqueio motor de menorintensidade que a bupivacaína quando administrada pela via peridural.30 A concentração ótima da ropivacaína, quando usada isoladamente, é 2 mg.mL.-1 31 De fato, a adição de fentanil à ropivacaína 0,2% resulta em potencialização da analgesia e reduz o consumo da solução anestésica após cirurgias abdominais de grande porte.28 Igualmente, a infusão peridural contínua de ropivacaína 0,1% combinada ao sufentanil 1 g.mL-1 promoveu analgesia adequada sem o bloqueio motor associado à infusão de ropivacaína 0,2%.32 Por outro lado, os efeitos adversos dos opióides aumentam de forma dose-dependente, 23 assim como os custos do tratamento. Apesar de difundida a idéia de que a ropivacaína se associa a bloqueio motor de menor intensidade, é possível que esse efeito seja relevante apenas quando usadas altas concentrações, como na anestesia cirúrgica. As diferenças entre os AL não seriam significativas quando usados em baixas concentrações, como na analgesia peridural pós-operatória. Outro tema bastante discutido é o local de ação dos opióides lipofílicos. O efeito analgésico do fentanil peridural se dá, principalmente, através de uma ação espinhal.33 Quando administrado pela via peridural e comparado à via venosa, há uma redução de duas vezes na concentração analgésica local mínima da bupivacaína. Todavia, quando usado em doses elevadas ou em infusões prolongadas, parte da dose é absorvida e poderá exercer um efeito supra-espinhal. Em estudo que avaliou a efetividade da analgesia peridural pós-operatória com bupivacaína 0,1%, adrenalina 1 g.mL-1 e fentanil 3 g.mL-1 administrados através de infusão contínua após diferentes intervenções cirúrgicas, mostrou-se que, no primeiro dia pós-operatório, 80% dos pacientes não apresentavam dor ou se queixavam de dor leve (escore menor que 3,0 cm na escala analógico-visual de dor) e no segundo dia este índice foi de 92,8%.25 Os efeitos adversos, apesar de freqüentes, não foram considerados graves. Todavia, este elevado índice de sucesso dependeu, diretamente, de vigilância e acompanhamento rigorosos do paciente. Efeitos Sobre a Morbi-Mortalidade Perioperatória Quando as técnicas de analgesia peridural e a administração sistêmica de opióides são comparadas, os benefícios da analgesia peridural sobre a morbidade e a mortalidade pós-operatórias ainda são controversos. Enquanto revisões sistemáticas demonstraram a superioridade da analgesia proporcionada pela técnica peridural,34 outros ensaios clínicos randomizados e revisões sistemáticas não permitem afirmar que a analgesia peridural contínua altera a evolução pós-operatória.35 Efeitos obtidos com a anestesia neuroaxial administrada em dose única para a cirurgia não podem ser extrapolados como benefícios obtidos também com técnicas contínuas de analgesia pós-operatória. Poucos estudos foram concebidos para avaliar a influência dos diferentes regimes de analgesia peridural sobre os desfechos pós-operatórios. Na revisão realizada por Wu et al.36 os riscos de morte e de outras complicações graves não diferiram 7 e 30 dias após artroplastia total do quadril se a analgesia pós-operatória foi cuidada com técnica peridural contínua ou outra técnica. Por outro lado, fatores que se relacionaram com a ocorrência de óbitos e de complicações graves incluíram a idade avançada e o sexo masculino. A anestesia peridural bloqueia a resposta ao estresse induzido pelo trauma cirúrgico, seja através do alívio da dor, seja pelo bloqueio da atividade simpática. Esses efeitos, juntamente com outras medidas como mobilização pós-operatória ativa e o retorno precoce da alimentação oral, levaram à proposta de que a analgesia peridural melhora a evolução destes pacientes, e pode reduzir a morbidade e mortalidade perioperatória.37 A analgesia peridural pós-operatória promove melhora da função pulmonar38 menor incidência de complicações cardiovasculares e tromboembólicas,39 mobilização e retorno da função intestinal mais precoces,40 permanência mais curta na unidade de terapia intensiva, e tempo de internação hospitalar mais curto.41 A analgesia peridural reduz as respostas simpáticas e, assim, exerce um efeito favorável reduzindo significativamente a ocorrência de complicações cardíacas.39 O íleo paralítico pós-operatório pode retardar a convalescença e prolongar a hospitalização. Sua ocorrência está ligada à ativação de reflexos esplâncnicos inibitórios que podem ser modificados pela anestesia peridural torácica.40 Entretanto, surpreendentemente, em estudos em que a analgesia peridural lombar foi usada inapropriadamente em cirurgias abdominais, houve, também, uma redução significativa na ocorrência de íleo pós-operatório.42 Uma metanálise demonstrou que a ocorrência de distúrbios cognitivos pós-operatórios não diferiu com a anestesia geral ou regional.43 Todavia, na maioria dos estudos, a anestesia neuroaxial foi administrada dose única, e os efeitos da analgesia peridural contínua ainda são incertos. A analgesia peridural contínua com anestésicos locais não diminuiu a incidência de distúrbios cognitivos após cirurgias do quadril.44 Por outro lado, em cirurgias abdominais, analgesia peridural com bupivacaína e morfina produziu melhora da função cognitiva pós-operatória.45 O uso da anestesia e analgesia peridural está associado à significativa redução da incidência de oclusão de enxertos vasculares, trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar após a cirurgia.43 Todavia, os mecanismos que estão por trás desse efeito ainda não são conhecidos. Tanto a melhora das condições reológicas associadas ao bloqueio simpático,46 quanto a inibição direta do sistema da coagulação47 e agregação plaquetária48 pelos anestésicos locais parecem estar implicadas.
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