Buscar

Legislação Penal Especial - Sílvio

Prévia do material em texto

LEI 9.296/96 - LEI DAS INTERCEPTAÇÕES
1. INTRODUÇÃO
A interceptação telefônica é autorizada constitucionalmente pelo art. 5º, XII da CF, onde está disciplinado a inviolabilidade de: correspondências, comunicações telegráficas, dados e comunicações telefônicas.
Somente o sigilo das comunicações telefônicas podem ser quebradas judicialmente, havendo duas correntes que interpretam 
1ª Corrente: Dados e comunicações telefônicas;
2ª Corrente: Apenas comunicações telefônicas.
2. REQUISITOS
a) A CF exigiu uma lei regulamentadora;
b) Ordem judicial;
c) Utilização das interceptações telefônicas para investigação criminal ou instrução processual penal.
Caso a interceptação não atenda aos requisitos acima, a prova será considerada ilícita.
A decretação de ilicitude da interceptação causa duas conseqüências: 
 - 1ª Exclusão da interceptação dos autos do processo (art. 5º, LVI da CF – Regra da Exclusão do direito norte-americano). Temos dois sistema de provas ilícitas: 
Sistema da Admissibilidade, onde a prova ilícita fica no processo, mas é declarada ilícita na sentença. Este sistema foi adotada até início da década de 70. 
Sistema da Inadmissibilidade (Exclusionary Rule) a prova não deve ser juntada nos autos e se for, deve ser desentranhada do processo (art. 157 do CPP). Este é o sistema que vige atualmente no CPP e na CF.
- 2ª Gera Nulidade no Processo e Falta de Justa Causa, se ela for a única prova do processo; Ou o processo continua se houver outras provas lícitas e autônomas da interceptação. STF (RHC 88.371/SP, 14/11/06) e STJ (HC 65.818, 17/04/07)
3. INTERCEPTAÇÃO ANTES DA LEI 9.296/96
Entre 1988 e 1996 as interceptações eram realizadas com base no Código Brasileira das Telecomunicações, em seu art. 57, II, a.
Segundo o STF considerou todas as interceptações telefônicas anteriores à edição da Lei 9.296/96, como ilícitas, mesmo que autorizadas judicialmente, pelos seguintes motivos.
a) O artigo acima não foi recepcionado pela CF/88;
b) O artigo constitucional que possibilita as interceptações telefônicas necessitaria de lei futura, não podendo ser regulamentado por lei anterior (STF HC 72.588 e HC 81.494 e RESP 225.450).
4. CONCEITOS
4.1 Interceptação Telefônica
É a captação de conversa telefônica feita por um terceiro sem o conhecimento de nenhum dos interlocutores da conversa.
4.2 Escuta Telefônica
Escuta telefônica é a captação da conversa telefônica feita por um terceiro, com o conhecimento de um dos interlocutores da conversa.
4.3 Gravação Telefônica (Clandestina)
É a captação da conversa telefônica feita por um dos interlocutores da conversa.
4.4 Interceptação Ambiental
É captação da conversa ambiente feita por um terceiro, sem o conhecimento de nenhum dos interlocutores da conversa.
4.5 Escuta Ambiental
É a captação da conversa ambiente feita por um terceiro, com o conhecimento de um dos interlocutores e sem o conhecimento do outro.
4.6 Gravação Ambiental
É a captação da conversa ambiente feita por um dos interlocutores da conversa.
5. REGRAS DE JURISPRUDÊNCIA
Somente os itens 2.1 e 2.2 é que estão submetidas ao regime do art. 5º, XII da CF e da Lei 9.296/92.
As demais situações não estão submetidas ao regime do art. 5º, XII da CF e da Lei 9.296/92. Via de regra podem ser feitas sem ordem judicial, sendo que serão consideradas provas lícitas, salvo se atingirem a intimidade do interlocutor que desconhece a captação. A ilicitude ocorra, neste caso, pelo disposto no art. 5º, X, que tutela a intimidade. 
Conversa íntima é aquela que se refira exclusivamente à assunto particular entre as partes do diálogo. 
O STF (HC 80.949, AP 447) decidiu que gravação ambiental é lícita e independe de autorização judicial (votos vencidos: Marco Aurélio e Menezes Direito). 
O STJ (RMS 5.352), 
A gravação telefônica não se confunde com interceptação telefônica, pois não há a figura do terceiro interceptador. A gravação é feita pelo próprio participante da conversa.
Já a interceptação ambiental, a escuta ambiental e a gravação ambiental não entram no regime da Lei 9.296/96 e do art. 5º, XII da CF, porque não são conversas telefônicas e sim ambientais.
5.1 Gravação Ambiental Feita Pela Polícia Para Obter Confissão
O STF entende que é prova ilícita, pois é forma de interrogatório sub-reptício, feito sem as formalidades legais e sem as garantias constitucionais (STF, HC 80.949).
Segundo o art. 2º, IV da Lei 9.034/95 a gravação ambiental é válida, desde que com autorização judicial.
5.2 Interceptações das Conversas Telefônicas do Advogado
a) Conversa reservada entre advogado e cliente: A interceptação é sempre ilícita, pois a conversa está protegida pelo sigilo profissional e pelo direito de não se auto incriminar. STJ ( HC 59.967);
b) Conversa entre advogado e cliente captada entre as conversas dos criminosos: Segundo o STJ, as conversas e o cliente são excluídas e as demais conversas entre os criminosos são aproveitadas. (HC 66.368 – 05/06/2007)
c) Advogado suspeito de crime: Quando o advogado é o próprio suspeito do crime a interceptação é valida, pois neste caso ela não viola as prerrogativas dos advogado, porque ele não está sendo interceptado nessa qualidade, mas sim de suspeito de crime. STJ (HC 20.087 – 19/08/03). O advogado será interceptado tão somente em relação ao crime pelo qual ele está sendo investigado. As demais conversas com clientes que não tenham relação com o crime que o advogado está sendo investigado, continuam invioláveis, acobertadas pelo sigilo profissional.
5.3 Quebra Do Sigilo Telefônico (Relação das Ligações Recebidas e Efetuadas) 
É o acesso à relação das ligações efetuadas e recebidas (hora e dia), sem acesso ao conteúdo das conversas.
Sua quebra ocorre requisitando se uma cópia da conta telefônica à companhia.
Não se constitui em interceptação telefônica, portanto não se submetendo à Lei 9.296/96, mas exige ordem judicial por envolver direito de intimidade. STJ (Embargos de Declaração em RMS 17732 – 23/08/05).
5.4 Relação das Ligações Constantes na Memória do Celular
A polícia pode ter acesso, sem ordem judicial a 
à relação das ligações constantes na memória do celular, pois isso não é nem interceptação telefônica (pois não houve acesso ao teor das conversas) e nem quebra de sigilo telefônico, pois não houve acesso a lista geral das chamadas efetuadas e recebidas. STJ (HC 66.368 – 05/06/07).
5.5 Interceptação Antes da Instauração do Inquérito Policial
É perfeitamente possível, uma vez que tanto o art. 5º, XII da CF quanto o art. 1º da Lei 9.296/96 utilizam a expressão “investigação criminal” e não inquérito policial. STJ (RESP 827.940 – 14/02/08).
A interceptação telefônica somente pode ser realizada no âmbito de investigação criminal e em processo penal.
5.6 Interceptação Como Prova Emprestada
A interceptação somente pode ser decretara em investigação criminal ou processo penal, não podendo ser decretada em processo civil, administrativo, tributário, etc.
O STF, por maioria de votos, e o STJ, entretanto admitem que a interceptação telefônica realizada no âmbito criminal seja emprestada em processo administrativo disciplinar contra os servidores interceptados no processo criminal e contra outros servidores descobertos em razão da interceptação. STF (INQ/QO 2424/RJ – Pleno, 20/06/07; IQ – QO 2725/SP – Pleno, 25.06.08) e STJ (RMS 16.429/SC, 03/06/08).
5.7 Ordem do Juiz Competente para a Ação Principal
A CF exige “ordem judicial”. Mas o art. 1º da Lei 9.296/96 exige mais, pois exige “ordem do juiz competente da ação principal”.
Conclusão: Se a interceptação não for autorizada pelo juiz da ação principal ela será considerada ilícita. Ex.: Inquérito Policial Militar onde a autorização foi concedida por Juiz Comum Estadual. STJ (HC 49.179/RS, 05. 09.06)
5.8 Modificação de Competência
Quando houver modificação de competência em razão justamente das interceptações, a interceptação autorizada pela justiça anterior,poderá ser utilizada na nova instância. Ex.: juiz estadual autoriza interceptação em tráfico de drogas local, sendo que por conta dessas, descobre-se que se trata de tráfico transnacional, devendo o inquérito ser remetido à Justiça Federal, devendo as interceptações telefônicas ocorridas no juízo estadual serem consideradas no juízo federal. STF(HC 85.962/DF, 25/11/08) e STJ (HC 66873, 15/05/07)
5.9 Natureza Jurídica
A natureza jurídica da interceptação telefônica pode possuir os seguintes conceitos: Medida Cautelar Preparatória quando decretada na fase de investigação, ou Medida Cautelar Incidental, quando decretada na fase do processo.
Quando decretada na fase de investigação como medida cautelar preparatória a exigência de que se já feita pelo juiz da ação principal deve ser mitigada, relativizada, vista com temperamentos, para não causar obstáculo à aplicação da justiça. STJ (RESP 770.418/ES, 07/03/06) e STF (HC 81.260 – Pleno 14.11/01).
5.10 Juízes das “Centrais de Inquérito”
Em razão de regras de competência estaduais alguns juízes não julgam, mas somente atuam na fase de inquérito (central de inquéritos), não atuando na ação principal.
O juiz da central de inquéritos, que só atua e decide sobre questões relativas à investigação por regras de competência estadual, e que não julgam a ação principal, é competente para autorizar interceptações telefônicas. STJ ( RHC 92.354/SP, 20/11/07 e RHC 15.128/PR, 03/02/05).
5.11 Infrações que se Estendem por Várias Localidades
Pelo princípio da prevenção, quem decreta a interceptação é o juiz que primeiro tomar conhecimento da infração. STF (HC 82.009/
A decretação da interceptação torna prevento o juízo. Ex.: juiz de São Bernardo do Campo autoriza interceptação, entretanto o flagrante de prisão ocorreu em Praia Grande, o juiz competente para a ação criminal é o de São Bernardo do Campo, pois ele se tornou prevento. STF 93.762/SP, 29/04/08) e STJ (HC 85.068/SP).
5.12 CPI e Interceptação Telefônica (Art. 58, § 3º da CF)
Segundo o artigo acima, as CPI terão poderes próprios das autoridades judiciais. Poderes próprios de investigação não significam poderes idênticos. Nos caso nos quais a constituição exige expressamente ordem judicial o ato só pode ser praticado pelo poder judiciário (Princípio da Reserva de Jurisdição).
Conclusão: CPI não pode autorizar interceptação telefônica, porque o art. 5º , XII exige expressamente ordem judicial. Também não pode solicitar à companhia telefônica a transcrição das conversas telefônicas, pois estas conversas estão sobre segredo de justiça. A CPI deve requisitar judicialmente tais transcrições. STF (MC 27.483/DF)
Entretanto a CPI pode quebrar sigilo telefônico (somente os dados, sem a escuta) sem autorização judicial.
5.13 Acesso do Advogado às Interceptações Telefônicas
O advogado não pode ter acesso às interceptações telefônicas que estão em andamento, mas pode ter acesso às interceptações já transcritas e juntadas aos autos da investigação (degravação). STF (HC 90.232/AM, 18/12/06).
O fundamento deste julgado é o seguinte: embora no inquérito não haja ampla defesa, já existe defesa, sendo possível a contratação de advogado para acompanhar as investigações, entretanto não poderá realizar intervenções, pois estas necessitam da ampla defesa, que não vige no inquérito.
A Súmula Vinculante 14 do STF, informa que o advogado pode ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório, realizado por órgão com competência de polícia judiciária, que digam respeito a direito de defesa. No caso de investigação realizada pelo MP? A interpretação razoável é que neste caso o MP estaria exercendo competência de polícia judiciária.
6. COMENTÁRIOS AO § ÚNICO DO ART. 1º
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
        Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática.
O § único é constitucional ao autorizar a interceptação de comunicação de dados?
1ª Corrente: A interceptação de dados (comunicação por dados) autorizada pelo art. 1º, § único, é constitucional (LFG, Raul Servine, Alexandre de Moraes, para este último tendo em vista , Lênio Luiz Streck, para este é a única forma de se combater a criminalidade da pós-modernidade). O STF adota esta corrente.
2ª Corrente: A interceptação das comunicações de dados, autorizada pelo art. 1º, § único, é inconstitucional, pois o art. 5º, XII da CF somente autorizou a interceptação das comunicações telefônicas (Antônio Magalhães Gomes Filho e Vicente Greco Filho).
6.1 Apreensão de Computadores
A apreensão de computadores é lícita, porque o que o art. 5º, XII da CF protege é o sigilo das comunicações de dados e não dos dados em sim mesmos, armazenados na base física do computador. Esse dados equivalem aos documentos armazenados em armários tradicionais. STF (RE 418.416/SC, 10/05/06).
A apreensão de computadores depende de ordem judicial e deve a autorização estar delimitada, indicando quais as máquinas que deverão ser apreendidas.
6.3 Salas de Bate-Papo
As conversas em salas de bate papo não estão protegidas pelo sigilo das comunicações, pois o ambiente é de acesso público e destinado a conversas informais. STJ (RHC 18.116/SP, 16.02.06).
6.4 Monitoramento de Interceptação e Flagrante
A prisão em flagrante em razão do monitoramento por interceptações telefônicas é válida, não se trata de situações de flagrante provocada, mas de flagrante esperado. STJ (HC 89.808/SP, 27/03/08 e HC 72.181/SP, 02/10/07).
7. REQUISITOS DA AUTORIZAÇÃO PARA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA (ART. 2º)
        Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:
        I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;
        II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
        III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.
        Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
São considerados requisitos para a emissão de autorização para interceptação telefônica:
a) Indícios razoáveis de autoria/participação na infração penal: aqui vige o princípio do in dúbio pro societati.
b) Indispensabilidade da interceptação: Quando não houver outro meio de busca da prova, havendo perigo de perecimento da mesma;
c) Crime punido com reclusão: Não cabe interceptação para apuração de crimes de contravenção penal e nem de crime punidos com detenção.
Seria possível a utilização da interceptação como prova de crime punido com detenção? Sim, desde que o crime punido com detenção seja conexo ao crime punido com reclusão para o qual foi autorizada a interceptação. 
Não pode haver autorização direta para o crime punido com detenção, mas se no curso da interceptação autorizada para apuração de crime apenado com reclusão, descobrir-se a ocorrência de conexo de crime apenado com detenção, esta prova será lícita. Ex.: autorização por crime de tráfico drogas, descobre-se crime conexo de ameaça, a prova é valida. STF (HC 83.515/RS, Pleno).
7.1 Descoberta Fortuita de Novos Crimes
O art. 2º, § único exige que no pedido de interceptação seja indicada a infração a ser investigada e as pessoas que serão investigadas. Se porém durante as interceptações forem descobertos novos crimes ou novos envolvidos a interceptação poderá ser utilizada como prova, desde que haja relação com o delito objeto da investigação.
Mesmo que o novo crime não tenha relação com aquela escuta, a interceptação poderá ser usada como prova. STJ(HC 69.552/PR, 06/02/07 e APN 425/ES, 16/11/05 – Corte Especial). Quanto a descoberta de novos envolvidos: STJ (HC 33.462/DF e 33.553/CE), desde que relacionado com fato criminoso objeto da investigação.
8. DECRETAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO (ART. 3º)
A decretação pode ser determinada por:
a) Juiz ou Tribunal de ofício;
Seria constitucional a decretação de ofício pelo juiz?
1ª Corrente: É inconstitucional se decretada na fase investigatória e na fase processual, pois viola o devido processo legal, imparcialidade do juiz e sistema acusatório (LFG).
2ª Corrente: É inconstitucional na fase investigatória, mas é constitucional na fase processual (Paulo Rangel e MPF), pois seria uma medida cautelar como qualquer outra. A ADIN 3.450 requer a decretação da inconstitucionalidade da decretação de ofício na fase investigatória, mas não na fase processual.
b) Juiz a requerimento da autoridade judicial da fase da investigação e do MP na fase da investigação ou do processo.
8.1 Remédio Cabível contra Negativa de Interceptação
Segundo LFG e Ada, o remédio cabível seria o mandado de segurança, pois é o único que se amolda a este caso.
8.2 Remédio Cabível contra Autorização de Interceptação
A medida cabível contra a medida que autoriza a interceptação telefônica é o habeas corpus.
8.3 Investigação Própria do MP e Interceptação
A segunda turma do STF informa que o MP pode investigar. Dentro desta investigação ele pode requerer interceptação telefônica? Sim, o MP pode requerer interceptação nas investigações que ele mesmo realiza. STJ (RHC 10.984/SP).
8.4 Supressão de Instância
Se a ilicitude da prova não foi argüida na instância inferior, a matéria não poder ser analisada na instância superior, sob pena de supressão de instância. STJ (HC 91.115/RJ – 20/05/2008).
9. PEDIDO VERBAL (§ 1º, ART. 4º)
O pedido de interceptação pode ser feito, excepcionalmente, de forma verbal, mas a concessão da interceptação dependerá da redução a escrito.
10. PRAZO DE DURAÇÃO (ART. 5º)
A decisão de autorização dever ser fundamentada, sob pena de habeas corpus na instância superior.
Pela literalidade do art. 5º o prazo máximo de interceptação é de 30 dias, ou seja, “15 dias renovável por igual período”, mas o STF e o STJ pacificaram o entendimento de que a prorrogação pode ocorrer quantas vezes forem necessárias, desde que fundamenta a necessidade de cada prorrogação. STF (RHC 88.371/SP, de 14/11/06) e STJ 60.809/RJ, 15/05/07).
Observação: No HC 76.686/PR a Sexta Turma do STJ, tendo como relator o ministro Nilson Naves, considerou ilícita uma interceptação prorrogada por 02 anos, sob os seguintes argumentos:
a) Normas restritivas de direitos fundamentais deve ser interpretadas restritivamente;
b) Se o legislador quisesse permitir intermináveis prorrogações, ele teria usado a expressão “renováveis por iguais períodos);
c) No caso do estado de defesa o sigilo das comunicações telefônicas somente pode ser excepcionado por 60 dias (art. 136, § 1º, c e § 2º da CF);
d) No caso concreto houve violação ao princípio da razoabilidade. No conflito de normas de inspirações ideológicas opostas deve prevalecer a que privilegiar a liberdade.
O art. 6º prevê que quem preside as interceptações é o delegado de polícia que cientifica o MP que poderá acompanhar as diligências.
Observações:
1. PRF: caso em que a PRF conduziu/presidiu as investigações. O STJ afirmou que é lícito. 
O decreto 1.655/95, art. 1º, X informo que a função da PRF situa-se também na atuação de prevenção e repressão a crimes. Deste decreto autoriza a PRF na colaboração da prevenção e repressão ao tráfico. Tal decreto foi alvo de ADI e o STF entendeu que o mesmo é constitucional. Com base neste decisão, o STJ aceitou como lícita uma interceptação telefônica conduzida pela PRF (HC 46.630/RJ), apesar da lei informar que a responsabilidade é da autoridade policial.
O STF e o STJ autoriza também a condução de interceptação pelo MP nos casos em que ele investiga, pois se trata de diligência dentro do processo investigativo.
Discute no STF, se todo o período de escuta deve der transcrito ou apenas trecho, conforme § 1º do art. 5º. No HC-MC 91.207/RJ DE 11.06.07 pelo Pleno, entendeu-se, por maioria de votos, que bastam a transcrição dos trechos necessários ao embasamento da denúncia (vencidos Marco Aurélio, Sepúlveda), isto é, basta uma transcrição parcial.
Segundo o STJ, se o réu reconhecer que a voz é sua, a defesa não pode alegar nulidade da prova por falta de laudo de degravação da voz (HC 65.604/DF de 04.10.2007).
O § 2º informa que cumprida a diligência, a autoridade policial deve remeter ao juiz ao resultado da interceptação acompanhado de laudo circunstanciado com o resumo das operações realizadas. Presente laudo não de confunde com o relatório final do inquérito, até porque as interceptações correm em autos apartados.
O auto circunstanciado é formalidade essencial da prova, mas a sua falta ou defeito gera apenas nulidade relativa ou seja, depende da comprovação de prejuízo pela parte (STF HC 87.859 de 12.06.07).
11. CRIMES (ART. 10)
O crime do artigo 10 possui duas condutas criminosas.
A primeira delas é realizar a interceptação ilegal por falta de autorização judicial ou por objetivos não autorizados em lei.
O sujeito ativo desta primeira conduta é comum, pois pode ser praticado por qualquer sujeito. Idem para o sujeito passivo.
Sua consumação ocorre no momento em que a interceptação começa a ocorrer e o agente toma conhecimento da conversa. Nesta primeira conduta não é necessária a revelação para terceiros para que o crime seja consumado.
A tentativa é possível, que se dá quando o agente não consegue realizar a interceptação por razões alheias a sua vontade (exemplo: indivíduo que é pego no momento que em instalava os mecanismos de instalação).
A segunda conduta consiste na quebra de segredo de justiça sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
Segundo a doutrina, o sujeito ativo desta conduta é próprio, isto é, somente aquele que está envolvido nos procedimentos de investigação e tenha o dever de manter o segredo.
LFG entende que se trata de crime próprio, mas não funcional (cometido por funcionário público), pois advogados e jornalistas podem praticar tal crime. Por outro lado, Vicente Greco Filho entende que o crime é próprio e funcional, somente podendo ser cometido por funcionário público (juiz, autoridade policial, perito). Para Greco se outro comente esta conduta e não é funcionário publico, estaria praticando o crime de violação de segredo profissional previsto no Código Penal.
A consumação, segundo a doutrina, se dá quando o agente revela a existência de uma interceptação que está sendo realizada ou seu conteúdo. Exemplo: se policial revelar que está havendo escuta telefônica já se consuma o crime, independente da revelação de seu conteúdo, uma vez que a escuta ocorre em segredo de justiça. Desta forma, não é necessário, nesta conduta, a revelação do conteúdo, bastando a revelação do próprio ato.
Na forma escrita é possível a tentativa.
A justiça estadual é competente para processar e julgar o crime previsto no art.10, deste que não haja interesse da União (STF CC 40.113/SP).
CRIMES AMBIENTAIS – LEI 9.605/98
A Lei dos Crimes Ambientais possui duas partes: parte geral (art. 2º ao 28) e parte especial, onde são definidos os crimes (art. 29 e seguintes). O art. 1º está vedado.
A parte geral possui particularidades em face da parte geral do CP, fazendo com que seja bastante exigida.
1. PARTE GERAL (ART. 2º AO 28)
1.1 Art. 2º
Esta norma informa que é possível haver concurso de pessoas em crimes ambientais. 
Segue a teoria unitária ou monista, ou seja, a mesma do art. 29 do CP: autores, co-autores e participes, respondem pelo mesmo crime, sendo a pena dosada de acordo com a culpabilidade de cada um.
A expressão culpabilidade refere-se na maior ou menorimportância da participação no crime e não ao terceiro substrato do conceito de crime.
A segunda parte deste artigo criou o chamado dever jurídico de agir nos crimes ambientais para: diretor, administrador, conselheiro, integrante de órgão técnico, auditor, o gerente, o preposto ou mandatário, o que torna a omissão penalmente relevante nos termos do art. 13, § 2º, a do CP (casos em que a pessoa tem o dever jurídico de agir: obrigação por lei de cuidado, proteção e vigilância).
Conclusão: esta pessoas respondem quando praticam o crime ambiental e quando se omitem e não impedem o crime ambiental, ou seja, respondem tanto por ação como por omissão nos crimes ambientais. No caso de omissão, o artigo exige dois requisitos:
- A pessoa deve ter ciência do crime;
- A pessoa possa evitar o crime.
A exigência destes requisitos tem o condão de se evitar a responsabilidade penal objetiva, isto é, sem dolo e sem culpa, pois é vedada no ordenamento jurídico brasileiro.
O STF e o STJ consideram ineptas as chamadas denúncias genéricas, que são denúncias que não estabelecem o mínimo vínculo entre a conduta (ação ou omissão) do agente e o crime ocorrido, incluem a pessoa no pólo passivo da ação penal apenas pelo fato do acusado ser gerente, preposto ou mandatário da pessoa jurídica (STF HC 86.879/SP: mudou-se a orientação jurisprudencial, que antes se aceitava a denúncia geral, tendo em vista que a responsabilidade de cada um dos acusados seria delimitada no curso do processo. Agora não mais se admite, devendo constar da inicial tal delimitação)
Paccelli distingue as chamadas denúncias genéricas das denúncias gerais (Jane Silva – STJ adotou esta distinção). A denúncia genérica é aquela que não imputa nenhum delito a pessoa, incluindo-a no pólo passivo em razão do cargo que a mesma possui na pessoa jurídica (qualidade da pessoa). Por sua vez, denúncia geral é a aquela que descreve um fato criminoso com todas as suas circunstâncias e o imputa a todos os acusados sem detalhar a conduta de cada um deles. Para Paccelli a denúncia geral não seria inepta.
1.2 Art. 3º
Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica
A discussão da responsabilidade penal da pessoa jurídica iniciou-se no Brasil com o advento da atual Carta Constitucional. Tal discussão aprofundou-se com a entrada em vigor da Lei dos Crimes Ambientais.
O art. 225, § 3º prevê a responsabilidade penal das pessoas jurídicas. O art. 3º, caput da Lei dos Crimes Ambientais também prevê esta responsabilidade.
Apesar desta disposições temos no Brasil três correntes acerca da responsabilidade penal das pessoas jurídicas.
a) 1ª Corrente: a CF não criou e não prevê a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Sua sustentabilidade se baseia nos seguintes argumentos:
- A conduta praticada pela pessoa física gera sanção penal e a atividade praticada pela pessoa jurídica gera sanção administrativa e ambas geram responsabilidade civil. Assim, o art. 225, § 3º não estabeleceu responsabilidade penal à pessoa jurídica;
- Princípio da Pessoalidade da Pena (Princípio da Incomunicabilidade ou Intransmissibilidade da Pena), pelo qual pena deve recair exclusivamente na pessoa do infrator, isto é, a responsabilidade penal é exclusiva da pessoa física que cometeu a infração penal, não podendo ser comunicada à pessoa jurídica (art. 5º, XLIV).
Desta forma, esta corrente sustenta que a CF não previu responsabilidade penal da pessoa jurídica (Miguel Reale Júnior, Bittencourt, Pierangelli, Renê Ariel Dotti, Luiz Regis Prado, Luiz Vicente Cernicchiaro).
Sob a ótica desta corrente o art. 3º da Lei dos Crimes Ambientais é inconstitucionais pois estabelece responsabilidade penal da pessoa jurídica não prevista na CF. Ofende materialmente os artigos 225, § 3º e o art. 5º XLIV que vedam a responsabilidade penal da pessoa jurídica.
b) 2ª Corrente: pessoa jurídica não pode cometer crimes, ou seja, “societas delinquere non potest”.
Baseia-se na Teoria Civilista da Ficção Jurídica de Savigny e Feurbach. Para esta teoria as pessoas jurídicas são meras abstrações/ficções legais, ou seja, não são entes reais, mas entes fictícios desprovidos de consciência, vontade e portanto não podem praticar condutas tipicamente humanas como por exemplo crimes.
Com base no pressuposto acima, esta corrente sustenta que a pessoa jurídica não pode cometer crimes em razão de:
- Pessoa jurídica não tem capacidade de conduta, isto é, não age com consciência finalidade e vontade, logo não age com dolo ou com culpa. Assim, responsabilizar a pessoa jurídica é estabelecer a responsabilidade penal objetiva.
- As pessoas jurídicas não agem com culpabilidade (potencial consciência da ilicitude, imputabilidade e exigibilidade de conduta diversa), pois não tem potencial consciência da ilicitude e não tem imputabilidade (capacidade mental de entender), portanto são isentas de pena.
- As penas são inúteis para a pessoa jurídica (argumento de Luiz Régis Prado), pois é incapaz de assimilar as finalidades da pena (finalidade preventiva e retributiva).
Adotam esta corrente todos os doutrinadores que adotam a primeira corrente, mais Zaffaroni, Rogério Greco, Luiz Flávio Gomes, Francisco de Assim Toledo, Mirabette, Delmanto e por ai vai. Este últimos diferem do primeiro por acreditar que a CF prevê a responsabilidade penal da pessoas jurídicas
c) 3º Corrente: pessoa jurídica pode cometer crime, pois societas delinquere potest”.
Baseia-se na Teoria Civilista da Realidade ou da Personalidade Real do alemão Otto Gierke, que sustenta que as pessoas jurídicas são entes reais, não sendo meras abstrações jurídicas, possuindo capacidade e vontade próprias e distintas da pessoas físicas que a compõe. São realidades independentes.
Seus argumentos são:
- A responsabilidade penal da pessoa jurídica está expressa na CF (art. 225, § 3º) e na Lei dos Crimes Ambientais (art. 3º, caput) portanto é induvidosa a responsabilidade penal das pessoas jurídicas;
- A pessoa jurídica possui culpabilidade. Não a culpabilidade individual clássica, própria do Finalismo, mas sim uma culpabilidade social, que é a empresa como centro de emanações de decisões, chamada de “Ação Delituosa Institucional” (Sérgio Salomão Schecaira);
- A pena criminal tem simbologia muito mais forte do que as sanções administrativas, por isso cumpre muito melhor a finalidade dos crimes ambientais;
- Punir a pessoa física exclusivamente significa utilizá-la como escudo de proteção para a impunidade da pessoa jurídica, que é a grande beneficiária do crime (este argumento pode ser revertido).
Aceitam a responsabilidade penal da pessoa jurídica no Brasil: Nucci, Paulo Afonso Lemos Machado, Edis Milaré, Damásio, Ada Pelegrini Grinover, dentre outros.
São requisitos cumulativos para se responsabilizar penalmente a pessoa jurídica:
1) que a decisão do crime tenha sido adotada por representante legal ou por órgão colegiado da pessoa jurídica.
2) que a infração tenha sido praticada no interesse ou benefício da pessoa jurídica.
Sem este dois requisitos cumulativamente é impossível responsabilizar penalmente a pessoa jurídica.
Exemplo: funcionário da motosserra decide, por sua conta e risco, avança em área de preservação ambiental e corta árvores – a responsabilidade é exclusiva do funcionário; vazamento de óleo no mar por petroleiro da Petrobrás, como não houve interesse ou benefício da pessoa jurídica e a conduta foi culposa (Edis Milaré só concorda com a responsabilização da pessoa jurídica em infrações dolosas, pois nos crimes culposos falta a decisão do representante ou do colegiado, o STJ entende que não houve o implementos dos requisitos necessários, não podendo falar em responsabilidade criminal neste caso.
A pessoa jurídica pode ser punida no Brasil somente por atos das pessoas físicas (Sistema da Responsabilidade Penal por Empréstimo ou por Ricochete, que é um sistema francês). Assim a pessoa jurídica é punida reflexamente por atos cometidos pela pessoa física isolada ou em órgão colegiado que a representa(Sistema Francês da Responsabilidade da Pessoa Jurídica).
Conclusão: Na jurisprudência: TRF’s – todos admitem a responsabilidade penal da pessoa jurídica; STJ – admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica deste que ela seja denunciada juntamente com a pessoa física que executou o crime (Sistema de Responsabilidade Penal Por Empréstimo ou por Ricochete), portanto o não admite denúncia de crime ambiental somente em relação à pessoa jurídica (STJ RE 847.746/SC de 05.05.2008), sendo inepta a denúncia do MP que não fizer constar as pessoas físicas (no caso de HC onde se tranca a ação em relação aos diretores em face de denúncia genérica, o STJ trancou de ofício da ação em relação à PJ); STF ainda não tem decisão acerca de responsabilidade penal da pessoa jurídica, mas no HC 92.921/BA (neste caso o STF entendeu que não cabe HC para pessoa jurídica, exceto o Ricardo Lewandovisky), a 1ª Turma informou de passagem (obter dicta), a existência de responsabilidade penal da pessoa jurídica. César Peluso entende ao contrário ao dizer claramente que a pessoa jurídica não possui responsabilidade penal.
Não cabe HC para trancar ação penal em face de pessoa jurídica, pois possui a finalidade de proteger exclusivamente a liberdade de locomoção. 
Segundo o STJ o remédio cabível neste caso é o mandado de segurança.
Cabe denúncia de crime ambiental contra pessoa jurídica de direito público (município, estado, etc.) ou mesmo de direito privado, mas que faça parte da administração pública? Temos duas correntes:
a) 1ª Corrente: pessoa jurídica de direito público pode ser denunciada por crime ambiental, pois nem a CF e nem a Lei de Crimes Ambientais diferenciam pessoas jurídicas de direito público de pessoa jurídicas de direito privado, logo podem também ser punidas (Nucci, Paulo Afonso Machado – onde a lei não distingue, não cabe ao interprete distinguir – César Salomão Schecaria – admite somente para pessoas jurídicas de direito privado integrantes da administração – Walter Claudius Rhotemburg)
b) 2ª Corrente: pessoa jurídica da administração direta e indireta não pode ser responsabilizada, pois a imposição de pena ao estado seria inócua, pois o estado não pode punir a si mesmo. Outro argumento é que a responsabilização e punição imposta a pessoa jurídica de direito público recai sobre a própria sociedade, nem cabendo penas alternativas (exemplo: prestação de serviços, pois o estado já possui responsabilidade de prestar serviço público) ou restritivas de direito (exemplo: fechar posto de saúde por determinado tempo).
Sistema da Dupla Imputação ou Sistema de Imputação Paralela (§ Único)
É possível, não obrigatório e impositivo, punir a pessoa física e a pessoa jurídica pelo mesmo fato. Ao contrário o Sistema de Responsabilidade por Empréstimo ou Ricochete é que pregar que não há possibilidade de se punir a pessoa jurídica sem punir a pessoa física.
O Sistema da Dupla Imputação aceita a possibilidade de se punir duplamente, mas não de um modo impositivo. Este sistema tenta afastar o bis in idem: permite a dupla punição ao mesmo fato de pessoas distintas, e não a mesma pessoa, o que configuraria o bis in idem (RESP 610.114/RN de 19.12.0).
1.3 Art. 4º
Desconsideração da Personalidade da Pessoa Jurídica
Poderá ser desconsiderada a personalidade jurídica sempre que esta for um obstáculo ao ressarcimento de prejuízos. A sanção recaíra sobre a pessoa física.
Exemplos: pessoa repassa o patrimônio da pessoa jurídica para seu patrimônio pessoal para se furtar a pagar credores.
Pelo princípio constitucional da incomunicabilidade ou instransmissibilidade da pena, a desconsideração da personalidade jurídica não pode ser aplicada no âmbito penal, ou seja, a pena criminal da pessoa jurídica não pode ser transmitida para a pessoa física.
Para a doutrina, a norma do art. 4º seria instituto do direito civil, não se aplicando ao direito penal, apesar de estar na Lei dos Crimes Ambientais. 
1.4 Art. 6º, 7º, 10, 13, 14 e 15
Aplicação da Pena no CP
O juiz aplica a pena em três etapas:
1) Cálculo da Quantidade da Pena: É fixada com base no art. 68 do CP (Critério Trifásico):
a. Fixa a pena-base com fundamente no art. 59 do CP;
b. Sob a pena base são aplicados agravante e atenuantes genéricas;
c. Após, são aplicadas as causas gerais/especiais de aumento e diminuição de pena.
2) Regime Inicial de Cumprimento de Pena: estabelece-se o regime inicial de cumprimento da pena.
3) Possibilidade de Substituição da Pena de Prisão por:
a. Restritiva de Direitos;
b. Multa;
c. Ou se é possível a concessão do sursis.
Observação: Mesmo se a pena for restritiva de direitos, o juiz deve fixar o regime inicial de cumprimento, pois se o agente descumprir a restrição de direitos, deverá cumprir a pena neste regime inicialmente fixado.
Aplicação da Pena na Lei de Crimes Ambientais
A lei ambiental tem as suas próprias circunstâncias judiciais
No art. 6º o juiz deve levar em consideração as conseqüências do crime para o meio ambiente e para a saúde pública, dos antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação ambiental e sua situação econômica em caso de multa. Por sua vez no art. 59 as conseqüências são consideradas em relação à vitima e a condição econômica do infrator não é circunstância judicial.
No cálculo da pena deve ser levar em consideração o art. 59 do CP combinado com o art. 6º da Lei de Crimes Ambientais.
A Lei de Crimes Ambientais tem suas próprias atenuantes e agravantes, conforme art. 14 e 15. 
São circunstâncias que atenuam a pena (art. 14, incisos):
I- baixo grau de instrução ou escolaridade do agente (Atenção: se esse baixo grau causar total inconsciência da ilicitude haverá erro de proibição, conforme art. 21 do CP, e portanto não haverá crime);
II – arrependimento do infrator manifestado pela reparação do dano ou diminuição da degradação ambiental causada (Atenção: E se é feita antes da aplicação da pena? Aplica-se a atenuante e não o arrependimento posterior do art. 16 do CP: Delmanto entende que mesmo que a reparação ocorra antes do recebimento da denúncia não se aplica o arrependimento posterior do art. 16 do CP, aplica-se sempre a atenuante do art. 14, II da Lei Ambiental, por ser norma especial.
IV – ter o agente colaborado com a vigilância ambiental (Delmanto denomina de Deleção Premiada Ambiental)
São circunstâncias que agrava a pena, quando não constituem ou qualificam o crime (art. 15, inciso)
I – Reincidência nos crimes de natureza ambiental: somente se aplica no caso de reincidência específica de crimes ambientais (Atenção: condenação por crime ambiental, deve haver reincidência específica, mas se for condenação por crime comum, a condenação ambiental anterior serve para gerar reincidência).
Tentativa, concurso são casos gerais de aumento de pena.
À Lei de Crimes Ambientais aplica-se as causa de aumento e diminuição de pena do CP.
Na segunda etapa de fixação da pena o juiz somente fixa regime inicial de cumprimento de pena se o condenado for pessoa física.
Estabelecido o regime inicial de cumprimento de pena, se for pessoa física, passamos para a terceira fase, que é a possibilidade de substituição da pena de prisão por restritivas de direitos, multa ou o sursis.
São requisitos necessários para a substituição da pena de prisão por restritivas de direitos os estabelecidos no art. 7º da lei.
	Art. 7º da Lei de Crimes Ambientais
	Art. 44 do CP
	I - Crime culposo ou se crime doloso, pena inferior à 4 anos
	I- Crime culposo ou se crime doloso pena igual ou inferior a 4 anos
	II - Circunstâncias judiciais favoráveis
	II – Que o crime seja sem violência ou grave ameaça a pessoa
	A lei ambiental permite a substituição mesmo que o condenando seja reincidente em crime doloso.
	III – Que o condenado não seja reincidente em crime doloso.
	
	IV – Circunstâncias judiciais favoráveis 
Observação: a diferença situa-se nos incisos II e III do art. 44 do CP, que trás dois requisitos a mais.
A duraçãoda pena restritiva de direitos é o mesmo tempo da pena de prisão substituída, conforme o art. 7º, § único da Lei Ambiental. A exceção é a pena temporária de interdição de direitos (art. 10) que terá duração de 05 anos se foi crime doloso, ou três anos se for crime culposo.
Para Delmanto os prazo do art. 10 não se aplicam, pois estão com contradição lógica com o § único do art. 7º, que diz que a restritiva deve ter a mesma duração da privativa e os prazos o art. 10 ferem o princípio da razoabilidade, já que a pena restritiva será maior do que a pena privativa substituída. 
Para o professor os prazos do art. 10 são exceção ao art. 7º, entretanto crê que fere o princípio da razoabilidade.
O art. 13 prevê a pena de recolhimento domiciliar, que baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, onde o condenado deverá trabalhar, estudar e ir para sua casa.
No CP não existe esta espécie de pena, mas sim o recolhimento em caso do albergado (que não existe e na prática acaba se tornando prisão domiciliar).
Desta forma, a pena do art. 13 é cumprida em regime domiciliar e não se confunde com a pena de limitação de fim de semana (art. 48 do CP) pela qual o condenado deve recolher-se por 05 horas aos sábados e domingos em caso do albergado ou estabelecimento similar.
Flora
É a totalidade das espécies vegetais que compreendem a vegetação de uma determinada região, sem qualquer expressão de importância individual (todas as espécies vegetais). Compreende as algas e os fitoplactons marinhos flutuantes (exemplo: vitória régia)
Antes do surgimento da Lei dos Crimes Ambientais, as infrações contra a flora não eram crimes, mas sim meras contravenções, previstas em lei de 4.77.1/65. Após o advento da Lei dos Crimes Ambientais, todas as contravenções foram revogadas, exceto as previstas no art. 26, “c”, “j”, “l” e “m”, que continuam em vigor, dispostas no Código Florestal (exemplo de contravenção: fazer fogo em floresta, sem as devidas precauções legais).
Art. 38
O art. 38 da Lei dos Crimes Ambientais, revogou tacitamente o art. 26, “a” do Código Florestal.
Objeto jurídico do crime são as florestas consideradas de preservação permanente (ato do poder público).
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o proprietário da área onde está a floresta. O sujeito passivo é a coletividade e eventualmente o proprietária da área atingida, se a floresta estiver em área particular.
As condutas são:
- Destruir: aniquilar, fazer desaparecer a floresta;
- Danificar: causar danos na floresta, sem destruí-la.
Mesmo que não haja finalidade lucrativa, existe o crime, pois a proteção refere-se ao meio ambiente, que é destruindo com ou sem lucro.
O objeto material são as florestas consideradas de preservação permanente. Para o STJ e a doutrina o elemento central é o fato de ser constituída por árvores de grande porte, desta forma, não abarca a vegetação rasteira, ou seja, é área densa constituída por árvores de grande porte (STF RE 783 de 2006). Floresta de preservação permanente é nada mais do que uma APP – Áreas de Preservação Permanente.
As APP’s estão previstas nos art. 2º e 3º do Código Florestal definem o que são áreas de preservação permanente. O art. 2º trás um rol do que são consideradas APP. O art. 3º informa que também são APP aquelas que são determinadas por ato do poder público. Desta forma, temos as APP’s Legais, que são aquelas do art. 2º e as APP’s Por Ato do Poder Público (estadual, distrital, federal ou municipal), que são aquelas do art. 3º. APP por Ato do Poder Público é norma penal em branco, pois é complementada por norma.
Segundo o Código Florestal, as APP’s não são intocáveis, podendo excepcionalmente serem destruídas total ou parcialmente nas seguintes ocasiões:
- quando houver prévia aprovação do Poder Executivo e essa destruição for necessária para a execução de obras, planos ou projetos de utilidade público ou de interesse social (art. 4º, §§1º a 7º). Este artigo foi alterado em 2001 por MP, que foi submetido a ADIN 3540, entretanto o STF entendeu como constitucional.
As florestas de área indígena são sempre permanentes, conforme o art. 3º, § 2º do Código Florestal, independente de ato do poder público, ou seja, são APP por força de lei.
O tipo penal do art. 38 protege as florestas, mesmo que em formação. A jurisprudência aplica esta parte do artigo através de exame pericial informando que a vegetação em crescimento comporá uma futura floresta.
Existem também florestas artificiais que são objetos de preservação permanente (florestas artificiais são aquelas feitas pelo homem por florestamento ou reflorestamento). O professor Paulo Afonso considera equivocada esta dinstinção, pois somente teríamos florestas naturais, independente do modo de como surgiram (natureza ou homem).
O crime é punido de forma dolosa ou culposa. O elemento subjetivo é o dolo ou a culpa.
A forma dolosa está no caput, enquanto que a forma culposa está no § 1º.
Vamos diferenciar o crime do art. 38 de outros crimes:
- se houver incêndio em APP aplica-se o art. 41, em razão do princípio da especialidade. 
- As florestas nacionais são Unidades de Conservação de Uso Sustentável, portanto o crime praticado em uma floresta nacional caracteriza o crime do art. 40.
- Cortar árvores, sem a autorização da autoridade competente, em floresta de preservação permanente, caracteriza o crime do art. 39. Este artigo é desnecessário, pois cortar árvores seria uma forma de destruição ou danificação de floresta. A diferença entre ambos os artigos (38 e 39) é somente o verbo (núcleo do tipo), no mais aplica-se tudo ao que foi dito em relação ao art. 38.
Art. 41
A conduta pode ser dolosa ou culposa. 
Neste artigo a Lei não protege somente florestas de preservação permanente, mas protege qualquer tipo de floresta (conceito do STJ) e matas (conforme a doutrina, matas são extensões de terras onde se agrupam árvores nativas ou plantadas que não sejam de grande porte, pois se assim forem, teremos as florestas.
Duas distinções são importantes:
	Art. 41, da Lei 9.605/98
	Art. 26, “e” da Lei 4.771/65
	- Provocar incêndio em florestas ou matas
	- Fazer fogo em florestas sem as devidas precauções.
	- Crime Ambiental
	- Contravenção Ambiental, que segundo a doutrina continua em vigor.
	
	- Se o incêndio se alastrar, teremos não a contravenção, mas sim o crime do art. 41, em sua modalidade culposa.
	Art. 41, da Lei 9.605/98
	Art. 250, § 1º, “h” 
	- Provocar incêndio em florestas ou matas
	- Provocar incêndio em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
	
	- Estaria a parte relativa a “mata ou floresta” estaria tacitamente revogada pela Lei 9.605/98? Segundo a doutrina não, pois se o incêndio causar perigo contra a incolumidade de alguém seria crime contra a incolumidade pública do art. 250, entretanto se não causar risco a incolumidade pública aplica-se o art. 41 da Lei (Bitencourt e Capez). Já Nucci entende que o art. 250, § 1º, “h” está tacitamente revogado na parte que se refere a mata ou floresta.
Art. 42
A conduta de fabricar, vender, transportar ou soltar balões é crime ambiental. Para caracterizar o crime basta vender ou transportar ou fabricar ou soltar balões. O balão deve ser apto a provocar o incêndio, inclusive a doutrinadores que informam que para os três primeiros verbos haveria a necessidade de exame pericial.
Trata-se de crime de perigo, que se vier ocorrer, teremos o tipo do art. 41.
Art. 44
Extrair de florestas de domínio público (isto é, aquelas de propriedades do poder público) ou consideradas de preservação permanente, sem autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais.
A competência para julgar esse crime é da Justiça Federal, pois os bens minerais são de propriedade da União.
Se a floresta estiver dentro de área particular e a extração estiver ali ocorrendo, há um entendimento minoritário, de que a competência seria da Justiça Estadual, pois segundo o STF a competênciada União em crimes ambientais somente se perfaz se o ato prejudicar diretamente aquela, e não de modo indireto.
Se a extração de minerais ocorrer fora de florestas de domínio público e nem aquelas consideradas de preservação permanente haverá o crime do art. 55 (pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, concessão ou licenças ou em desacordo com a obtida.
Assim, se a extração ocorrer em floresta de domínio público ou de preservação permanente, há o crime do art. 44 e se não, haveria o crime do art. 54.
Art. 54
As condutas são três:
- Executar pesquisa mineral: é a execução dos trabalhos de definição da jazida, sua avaliação e a determinação da exeqüibilidade de seu aproveitamento econômico. Para tanto, deve haver a autorização do órgão público competente.
- Executar lavra: conjunto de operações coordenadas objetivando o aproveitamento industrial da jazida, desde a extração até o beneficiamento das mesmas;
- Executar a extração: retirada do mineral.
Os conceitos acima estão no Decreto Lei 227/67, que é o Código de Mineração.
O crime somente existe se foi praticado sem autorização, concessão ou a permissão ou em desacordo com esta, que é a forma mais comum desta prática de crime. Outra pratica comum é a licença para explorar um determinado local, mas explora outro, configurando o desacordo da mesma.
É pacifico no STJ que caracteriza concurso formal os crimes do art. 55 da Lei dos Crimes Ambientais, com o crime de usurpação previsto no art. 2º, caput, da Lei 8.176/91, que protege os bens da União (crime contra a ordem econômica).
No entanto a doutrina entende que o art. 2º, caput, da Lei 8.176/91 está tacitamente revogado pelo art. 55 da Lei dos Crimes Ambientais, havendo divergência fatal com o STJ, o que devemos seguir.
RESP 92258/07 – BA do STJ – Não haveria conflito aparente de normas, pois tutelam bens jurídicos distintos, havendo entre eles concurso formal.
A competência para julgar esses crimes, segundo jurisprudência anterior do STJ, seria da Justiça Estadual se o mesmo ocorreu em área particular. Atualmente não importa onde o crime ocorreu, pois o crime é em face de patrimônio da União, sendo a competência única da Justiça Federal.
Demais crimes ambientais serão disponibilizados no material.
Lei 4.898/65 - ABUSO DE AUTORIDADE
O ato de abuso de autoridade em si não é um crime, e enseja tríplice responsabilidade: administrativa, civil e penal.
A questão é saber se a Lei de Abuso de Autoridade regulamenta as três responsabilidades. Apesar de ser essencialmente criminal, a lei em tela prevê das demais responsabilidades: administrativa e penal.
O art. 6º, § 1º informa que a sanção administrativa leva em consideração a gravidade do abuso praticada. Em suas alíneas prevêem as sanções, que tendo em vista a gravidade do ato praticado, o servidor poderá receber deste uma advertência até ser demitido a bem do serviço público.
O § 1º do art. 7º informa que o processo administrativo (inquérito administrativo) será disciplinado nas leis municipais, estaduais ou federais e caso não houver lei regendo o processo administrativo disciplinar aplica-se subsidiariamente as normas previstas na Lei 8.112/90, que é o Estatuto do Servidores Públicos da União.
Se o ato de abuso de autoridade é praticado por membro do MP ou da Magistratura, somente em processo judicial poderão ser demitidos, não ocorrendo demissão por processo administrativo, pois possuem vitaliciedade.
Por seu turno, a responsabilidade civil está prevista no art. 6º, § 2º, que deve ser entendido assim: é sempre possível o juiz fixar o valor do dano.
Observação: art. 387, IV, CPP, que nos diz que o juiz pode, na sentença penal, condenar o réu a pagamento de indenização, é se perfaz em título executivo, não havendo necessidade de se liquidar a sentença no juízo civil.
1. Aspectos Penais
1.1 Sujeito Ativo
Pode ser sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público no exercício de suas funções ou qualquer pessoa que exerça uma função pública, seja ou não integrante da administração pública.
O art. 5º dá a autoridade pública o mesmo conceito de funcionário público para fins penais do art. 327, caput, do CP.
Portanto, o crime de abuso de autoridade é crime próprio ou seja, exige uma condição especial do sujeito ativo, que no caso seja autoridade pública. São crimes funcionais, cujo exemplo é o abuso de autoridade.
Alguns autoridade denominam os crimes de abuso de autoridade, de crimes de responsabilidade impróprios.
Se diferenciam dos crimes de responsabilidades próprios, que são as infrações político-administrativas da Lei 1.079/50.
No conceito de autoridade público estão incluídas pessoas que não integram a administração pública, mas que exerçam função pública, temporária ou transitoriamente (exemplo: jurado, mesário).
Não estão inclusa no conceito de autoridade as pessoas que exerçam múnus público, que é um encargo imposto pela Lei ou pelo Juiz para defesa de interesse particular ou social (exemplo: depositário judicial, administrador de falência, advogado, tutores dativos, curadores dativos)
Particular que não exerça função pública, portanto não enquadrado como autoridade, pode cometer abuso de autoridade? Sim, deste que ela pratique o crime em participação ou co-autoria com uma autoridade público e saiba que o comparsa seja servidor público, ou seja, pratica o crime, deste que pratique o crime em concurso com autoridade pública sabendo que o comparsa sustenta essa qualidade (aplica-se o art. 30 do CP, pelo qual as condições se estendem, deste que sejam elementares do tipo penal).
Exemplo: policial de estádio de futebol batendo em pessoas com auxílio de terceiros que não sejam autoridade. Responde os terceiros pelo crime de abuso de autoridade.
1.2 Sujeito Passivo
Os crimes de abuso de autoridade tem dupla subjetividade passiva, o que significa a existência, sempre, de dois sujeitos passivos. 
Temos o sujeito passivo imediato ou principal que é a pessoa física ou jurídica que sofre a conduta abusiva. Por outro lado temos o sujeito passivo mediato ou secundário que é o Estado, pois todo ato de abuso de autoridade prejudica a regular prestação de serviços públicos. Assim todo aquele que pratica abuso de autoridade prejudica, além da pessoa física ou jurídica que sobre o abuso, o Estado, pois prejudica o regular serviço prestado por este.
Poderá ser sujeito passivo imediato ou principal, qualquer pessoa física capaz ou incapaz, nacional ou estrangeira. No caso de criança ou adolescente poderá configurar crime previsto no ECA.
Autoridade Pública pode ser alvo de abuso de autoridade.
Pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado também podem ser sujeito passivo do crime de abuso de autoridade, conforme o art. 4º, “h”.
1.3 Objetividade Jurídica
Os crimes de abuso de autoridade tem dupla objetividade jurídica, pois protegem dois bens jurídicos:
a) Objetividade Jurídica Imediata ou Principal: são os direitos e garantias individuais e coletivos das pessoas físicas e jurídicas.
Todos os crimes de abuso de autoridade violam as garantias estipuladas pelo art. 5º da CF.
b) Objetividade Jurídica Mediata ou Secundária: a lei visa proteger a normal e regular prestação dos serviços públicos.
1.4 Elemento Subjetivo
É somente o dolo. Não se pune o crime a título de culpa.
Se uma autoridade por culpa excede os limites de sua atuação, não haverá crime de abuso de autoridade, embora o ato ilegal, possa ser ato de abuso de autoridade e não crime.
A doutrina informa que não basta somente o dolo para caracterizar a conduta, sendo necessário também o elemento subjetivo do injusto, isto é, somente haverá crime, se autoridade agiu com a vontade deliberada e inequívoca de abusar.
Se o agente na honesta intenção de cumprir seu dever de proteger interesse público e social acaba se excedendo haverá a ilegalidade do ato, mas não crime de abuso de autoridade,por ausência da finalidade específica de abusar.
1.5 Formas de Conduta
Os crimes de abuso de autoridade podem ser praticados tanto por ação como por omissão, isto é, podem ser comissivos ou omissivos.
Em regra são cometidos por uma ação, mas podem vir a ocorrem através de uma omissão.
Os crimes do art. 4º, “c”, “d” “g” e “i”, somente podem ocorrer através de uma omissão, se configurando em crimes omissivos puros ou próprios. A conduta descrita no tipo penal é uma omissão.
1.6 Consumação e Tentativa
Os crimes estão previstos nos arts. 3º e 4º da lei.
Segundo o art. 3º constitui abuso de autoridade qualquer atentando, portanto, não admitem a tentativa, uma vez que a lei informa que o simples atentado já considera-se crime consumado.
Rogério Greco tem entendimento isolado acerca da possibilidade de tentativa em crime atentando. No entanto não podemos considerar este entendimento, que é contrário a toda a doutrina.
Os crimes do art. 4º, “c”, “d” “g” e “i” também não admitem tentativa, pois não se admite esta em crimes omissivos puros ou próprios.
Por exclusão, os demais crimes admitem a tentativa.
A consumação, por sua vez, nos crimes de abuso de autoridade ocorre com a simples prática da conduta prevista no tipo.
1.7 Espécies de Ação Penal
Segundo o art. 12, os crimes de abuso de autoridade são de ação pública incondicionada. 
A expressão “representação” inserta no artigo não é considerada como condição de procedibilidade, isto é, não está em seu sentido técnico de condição de procedibilidade da ação penal, mas apenas reflete o direito de petição contra abuso de poder, previsto no art. 5º, XXXIV, “a” da CF.
A Lei 5.249/67, em seu artigo 1º, informa que os crimes de abuso de autoridade são de ação pública incondicionada.
1.8 Competência
É crime comum, logo, em regra, é de competência da Justiça Comum Estadual, salvo se o crime atingir bens interesse ou serviços da União, onde será da competência da Justiça Federal.
Atenção: Como o crime de abuso de autoridade é infração de menor potencial ofensivo, sua competência dos Juizados Especiais, estaduais ou federais, pois possuem pena inferior a 06 meses.
Se o crime de abuso de autoridade é cometido em concurso com outro que não seja, a competência será do juízo comum, com a seguinte observação: de acordo com o art. 60, § único da Lei. 9.099/95 (que foi alterado pela Lei. 11.313/06): se um crime de menor potencial ofensivo for cometido em conexão com outro que não seja, ambos são julgados pelo juízo comum e neste caso, ainda sim, neste juízo, com relação ao crime de abuso de autoridade, será possível a transação e a composição civil dos danos.
Abuso de autoridade cometido por militar é julgado pelo Juizado Especial, estadual ou federal, de acordo com a Súmula 172 do STJ, pois não se trata de crime militar. Mesmo que o crime seja cometido em serviço a competência será do Juizado Especial.
Alguns autores informam que se o crime é cometido entre dois militares, o crime seria da Justiça Militar, entretanto o professor não entende assim, pois neste caso não importa o sujeito passivo ou ativo e sim a natureza do crime, que não é militar.
Se o crime é cometido por servidor público federal, segundo Nucci, será da competência da Justiça Estadual, no entanto esse entendimento é isolado. Desta forma, a competência é da Justiça Federal, pois no caso em tela, o servidor está prejudicando regular serviço público federal (STJ CC 20. 779/RO de 1998). 
Se a vítima for servidor público federal, a competência para julgar o abuso será da Justiça Federal (STJ CC 89.397/AC de 2008).
O STF reconheceu a possibilidade de concurso de crime entre lesão e abuso e entre violação de domicílio de abuso (HC 92.912 de 2007), mas mandou separar os processos, violação de domicilio e lesão, foram para a Justiça Militar, pois neste caso eram crimes militares, e o abuso foi para a Justiça Comum. No mesmo sentido HC 81.752 do STJ.
É possível o concurso de crime contra a honra e abuso de autoridade? Sim é possível (RESP 684.532 do STJ).
A doutrina informa que o art. 350 do CP estaria revogado pelo crime de abuso de autoridade, mas o STJ não entende assim, informando que seu caput está revogado, mas não seu inciso IV do § único, que continua em vigor (HC 65499 STJ/SP de 27/03/08 e HC 48.083/MG de 20.11.07 e STF RE 73.914/SP e HC 63.612/60).
1.9 Comentários aos Tipos Penais
Art. 3º
Segundo parte da doutrina informa que os crimes previstos no art. 3º seriam inconstitucionais, pois feririam o princípio da taxatividade, pois são vagos e imprecisos.
Já o STF e o STJ os entende como constitucionais.
Se a conduta de enquadra simultaneamente nos arts. 3º e 4º, prevalece o crime do art. 4º, que é taxativo. 
Portanto, o crime do art. 3º é subsidiário, pois se aplica deste que a conduta não configure nenhum crime do art. 4º.
Constituem abuso de autoridade qualquer atentado:
a) à liberdade de locomoção (a liberdade de uma pessoa somente pode ser cerceada por flagrante ou ordem judicial), que compreende o direito de permanecer em determinados locais (exemplo: conduta de policial que solicita que alguém se retire de um determinado local).
Os atos decorrentes do poder de polícia estatal como são auto- executáveis, não configuram abuso de autoridade se justificados, sendo exercício legítimo do poder de polícia (exemplo: bloqueio policial).
Ébrios e doentes mentais: podem ser retirados de determinados locais e retidos em órgãos públicos ou encaminhados para suas casas deste que estejam perturbando a ordem pública ou colocando em perigo a segurança própria ou alheia. 
Prisão para averiguação: é sempre abuso de autoridade. Prisão para averiguação não significa detenção momentânea para se conferir a autenticidade de seus documentos ou para saber se está sendo procurado, que é legítima, desde que a pessoa fique na delegacia o tempo necessário para a diligência.
b) Inviolabilidade de domicilio, exceto nas hipóteses legais.
Domicílio é qualquer local não aberto ao público que seja utilizado para o trabalho ou para moradia, ainda que momentânea. Quarto de hotel é domicilio, sala de contador de Escritório de Contabilidade é domicilio (aos agentes da administração fazendária, conforme entendimento atual do STF e do STJ, necessitam de ordem judicial para ingressarem em escritórios fechados de contabilidade ou de empresas. A falta de mandado gera a ilicitude da prova, podendo ensejar abuso de autoridade se o ato foi praticado com a finalidade abusiva).
O STF e STJ anularam operações conjuntas da PF e Receita Federal e MPF e Receita Federal, pois os fiscais, policiais e procuradores ingressaram no local sem autorização judicial.
c) Violação ao sigilo da correspondência
Somente estão protegidas pelo sigilo as correspondências fechadas. As correspondências abertas perdem o caráter da sigilosidade.
Este artigo revogou tacitamente o art. 151, § 1º, I do CP. Se a conduta foi cometido por autoridade, o crime, pelo princípio da especialidade, será considerada crime de abuso de autoridade.
Observações: Exceções ao sigilo, pois não nenhuma inviolabilidade é absoluta:
- Durante o estado de defesa e o estado de sítio (art. 136, § 1º “b” e 139, III) o direito ao sigilo das correspondências pode ser excepcionado.
- Crime organizado: o art. 2º, III da Lei 9.034/95, segundo o sigilo pode ser violado, desde que existe ordem judicial. Essa violação pode ocorrer em qualquer fase (persecução penal ou inquérito policial), desde que com ordem judicial.
O preso tem direito ao sigilo de correspondência, conforme art. 41, XV da LEP, entretanto o sigilo pode ser excepcionado se devidamente justificado, pois pelo contrário, implica em abuso de autoridade. O HC 70.814, cujo relator é o Ministro Celso de Melo, o STF decidiu que a administração público penitenciária pode, sempre excepcionalmente, interceptar a correspondência dos presos, pois a inviolabilidade do sigilo, não pode servir de escudo da prática de ilícitos.
Correspondênciade advogado, segundo o art. 7º, II do Estatuto da OAB (Lei 8.906/04) informa que somente pode ser aberta por ordem judicial e na presença de representante da OAB). A ultima expressão foi alvo da ADIN 1105/DF e 1127/DF, onde o STF decidiu que a mesma é constitucional, mas na seguinte leitura: se a OAB comunicada a abrir o representante, mas não indicá-lo, a abertura poderá se dar sem a presença do representante, deste que haja ordem judicial.
Conversas obtidas em chats: Segundo o STJ as conversas obtidas em salas de bate-papo não estão preservadas ao sigilo das comunicações, pois se trata de ambientes públicos e de caráter informal.
d) À liberdade de consciência e de crença
e) Ao livre exercício do culto religioso
É abuso de autoridade coibir manifestações ordeiras.
Não haverá auso de autoridade, se esta tiver justo motivo para coibir a manifestação. Exemplo: passeata religiosa com depredação ao patrimônio, culto com sacrifício de animais ou de pessoas.
A Convenção de Viena, de 1971, acerca de substâncias psicotrópicas, permite a utilização em rituais religiosos de tais sustâncias. A lei de drogas expressamente permite esta utilização.
f) Qualquer atentado à liberdade de associação:
Segundo a CF as associações podem ser criadas livremente, independente de ordem do poder público. Veda-se somente as de caráter ilícito e as de cunho paramilitar.
Exceto tais hipóteses, qualquer ingerência configura abuso de autoridade.
g) Aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto
Devemos nos atentar que esta hipótese pode configurar crime eleitoral e ao contrário, quando estivermos estudando crime eleitoral, poderá configurar o crime da hipótese em tela.
h) Ao direito de reunião
É permitido pela CF, desde que seja reunião pacífica, sem armas próprias ou impróprias e em local público, desde que não prejudique outra reunião anteriormente marcada para o local e haja prévio aviso à autoridade competente. Este aviso não é uma espécie de solicitação, mas somente de dar ciência do encontro.
Haverá abuso de autoridade em qualquer ato que vise frustrar reuniões com as características acima. 
Ao revés, se a reunião estiver sendo feita de forma desordeira ou violenta, a autoridade pode fazer cessar a reunião, inclusive com prisão dos desordeiros. Exemplo: passeata com pessoas armadas; reunião em local com reunião anterior previamente marcada (ocorre em regra em épocas eleitorais, com os comícios políticos).
i) Qualquer atentado à incolumidade física do indivíduo
Este atentado varia deste uma vias de fato, até um homicídio.
Questão: atentado à incolumidade psíquica do indivíduo? Prevalece o entendimento que pode ocorrer, não se tratando de analogia in malan partem ou de interpretação extensiva, mas sim de se dar o exato significado ao texto da lei.
O simples fato de colocar em perigo a incolumidade física de uma pessoa já configura o crime de abuso de autoridade.
E se efetivamente ocorrer a lesão, haverá o crime de abuso de autoridade em concurso formal (art. 70 do CP) com o crime, por exemplo, de homicídio tentado ou consumado. Há entendimento minoritário de que o concurso seria material, uma vez que os tipos protegem bens jurídicos distintos (o bom andamento dos serviços públicos também está protegido).
Este crime não fica absorvido pelo crime de lesão corporal ou de homicídio, havendo concurso formal ou material (este na ótica de alguns doutrinadores).
Observação: Nucci entende que o crime de lesão corporal leve fica absorvida pelo abuso de autoridade. Não é posição majoritária.
Se o crime de atentado configurar tortura prevalece o entendimento que esta absorve a figura do crime de abuso de autoridade.
j) Qualquer atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional:
Trata-se de hipótese de norma penal em branco, pois o direito e garantia profissional deve estar previsto em outra lei. Portanto este artigo é completado por outras leis.
Exemplo: violar abusivamente os direitos do advogado, garantidos no art. 7º o Estatuto da OAB, como o direito de consultar o inquérito policial (a Súmula Vinculante 14 também garante este direito, ao que já encontra-se documentado nos IP); conduta de delegado que impediu membro do MP de visitar cadeia pública, uma vez que a LEP informa que o MP é o fiscal da execução da pena; juiz que se recusa a receber advogado, porque é direito deste falar pessoalmente com o juiz (STF RMS 18.296/SC, de 28.08.07, onde entendeu-se que o juiz que se recusa a receber advogado, durante horário de expediente do fórum, está praticando ilegalidade e pode configurar abuso de autoridade.
Art. 4º
Constitui também crime de abuso de autoridade:
a) ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades ou com abuso de autoridade:
O crime em tela pode ocorrer de duas formas:
- Sem as formalidade legais ou (exemplo: manter preso em flagrante, sem lavrar o auto de prisão em flagrante, onde não temos uma arbitrariedade, mas sim uma ilegalidade)
- com abuso de poder (exemplo: cumprir mandado de prisão, algemando desnecessariamente – Súmula Vinculante 11, que informa que somente é lícito o uso de algemas no caso de resistência ou de justificada receio de fuga ou de perigo a integridade física ou alheia, por parte de preso ou de terceiros, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal).
O art. 4º, “a” revogou o art. 350, caput do CP. O art. 350 não está totalmente revogado.
Muitas das condutas previstas como abuso de autoridade, quando praticadas contra crianças e adolescentes configura crime do ECA, como já informado acima.
No caso do art. 4º, “a”, se o crime é praticado contra criança ou adolescente haverá o crime do art. 230 do ECA.
b) Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame e constrangimento não autorizado por lei:
O autor deste crime somente pode ser autoridade que tenha a guarda ou custódia da vítima.
Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo deste crime e não somente o preso (exemplo: pessoa que esteja cumprindo medida de segurança).
Consiste o crime, em submeter a pessoa à:
- Vexame ou constrangimento não autorizado por lei. Exemplo: impedir o preso, sem justa causa, de receber visita; submeter o preso a trabalho vexatório; expor a imagem da pessoa em imagem televisiva sem a necessária justificativa e sem que o mesmo queira.
Por outro lado, se o vexame ou constrangimento for legal, não haverá crime. Exemplo: suspender o direito de visita do preso por justo motivo (art. 41, § único da LEP – Lei 7.210/84, permite o diretor do estabelecimento prisional suspender o direito de visita).
Atenção: se a conduta do art. 4º, b, for praticada contra criança ou adolescente teremos o crime do art. 232 do ECA. Os tipos são idênticos, exceto que a expressão pessoa é substituída pela expressão criança ou adolescente.
c) Deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa:
Art. 5º, LXII da CF impõe que a comunicação seja realizada pelo juiz e à família do preso ou alguém por ele indicado.
O crime de abuso de autoridade se configura somente se a comunicação não se der ao juiz.
Não se configura o crime a não comunicação à família ou pessoa por ele indicada, uma vez que está forma de comunicação não está prevista no tipo. A razão disto é a anterioridade da Lei de Abuso de Autoridade em face da CF.
Questão: e se o delegado, de forma proposital, comunica juiz incompetente (exemplo: flagrante de crime local, mas envia para o juiz federal, ou vice e versa), está praticando crime de abuso de autoridade? Sim, pois a CF informa que a comunicação deve se dar a juiz competente.
Se por erro? Não, pois não existe crime de abuso de autoridade culposo.
A comunicação imediata deve ser interpretada à luz das instituições brasileiras, tendo em vista que nem sempre é possível a comunicação imediata. Devemos entender por imediatamente o seguinte: “na primeira oportunidade possível”.Se a vítima é criança ou adolescente, o crime será o do at. 231 do ECA, que informa que a apreensão do menor deve ser comunicada de forma imediata a apreensão de menor à autoridade judiciária e a sua família ou pessoa por ele indicada. Neste caso, a não comunicação à família e a pessoa por ele indicada está tipificada, sendo considerado crime a não comunicação.
d) Deixar o juiz de relaxar prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada:
Configura crime de abuso de autoridade da autoridade judiciária que toma conhecimento de prisão ou detenção ilegal e não adota as medidas para relaxar a prisão.
Juiz é conceito amplo para a lei, devendo nele constar: ministro de tribunal superior, desembargador, etc.
O crime contra criança e adolescente configura o art. 234 do ECA. Neste caso, o delegado de polícia também pode ser sujeito ativo deste crime, pois o tipo menciona “autoridade competente”
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei;
O delegado de polícia pode arbitrar fiança nos crimes apenas com detenção. O juiz pode nos caso de reclusão e detenção.
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor:
A lei não prevê cobrança de custas ou emolumentos, o que configura concussão, se for uma exigência ou corrupção passiva, se for uma solicitação.
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;
Pessoa jurídica pode ser vítima de do crime de abuso de autoridade.
Constitui crime lesar a honra ou o patrimônio de pessoa física ou jurídica com abuso de poder, desvio de poder ou sem competência legal para o ato.
Se a lesão ocorrer a honra ou patrimônio de alguém de forma lega, não haverá o crime de abuso de autoridade. Exemplo: vigilância sanitária interdita restaurante em razão de descumprimento de normas básicas de higiene.
Nesta mesma hipótese, se o fiscal interdita com abuso de autoridade, haverá a ocorrência do crime.
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade. (Incluído pela Lei nº 7.960, de 21/12/89)
O crime consiste em:
- Prolongar prisão temporária (05 dias, podendo ser prorrogada por igual período nos crimes comuns; 30 dias, prorrogáveis também por idêntico período, nos crimes hediondos e assemelhados). A lei da prisão temporária informa que decorrido o prazo desta, a autoridade policial deve soltar o preso, independentemente de ordem judicial.
- Prolongar pena: deve o juiz expedir alvará de soltura.
- Prolongar medida de segurança: deve o juiz expedir alvará de soltura.
O “prolongar” pode ocorrer nos casos em que o juiz deixa de expedir ordem de soltura ou deixando de cumprir a ordem de soltura.
Questão: se o delegado deixa de cumprir alvará de soltura referente a uma prisão preventiva? O tipo penal não menciona a prisão preventiva, portanto o delegado comete abuso de autoridade do art. 4º, b.
Se a vítima é criança ou adolescente, estaremos diante do crime do art. 235 do ECA.
Observação: Qual o prazo de prescrição nos crimes de abuso de autoridade?
A Lei de Abuso de Autoridade não prevê regras de prescrição. As regras de prescrição utilizadas são as do CP.
As penas máximas desta lei são de 06 meses. Configura crime de competência do Juizado Especial. A prescrição se dá em 02 anos.
As penas estão no art. 6º, § 3º.
§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em:
        a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
        b) detenção por dez dias a seis meses;
        c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos.
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.
As penas são de:
- Multa (não considerar o valor em cruzeiros);
- Detenção: 10 dias à 06 meses;
- Perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por até 03 anos.
Conforme o § 4º, as penas podem ser aplicadas de modo isolado ou cumulativamente.
A pena relativa ao perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública não é automática, devendo, se adotada na sentença, se justificada. Ao contrário, na Lei de Tortura, esta sanção é automática, pois trata-se de efeito da condenação e não pena.
Além da perda do cargo, gera a lei a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública, pelo prazo de até 03 anos (na Lei de Tortura o individuo perde o cargo e fica condenado pelo dobro do prazo da condenação impedido de exercer função pública).
LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS
Trata-se do Decreto-Lei 3.688/41.
No Brasil temos duas espécies de infrações penais:
- Crimes; e 
- Contravenções.
Ontologicamente, isto é, na essência, não existe diferença entre crime e contravenção, pois ambos são infrações penais, isto é, ambos representam e significam violação da lei penal. A diferença portanto, é de grau e quantidade: os crimes são infrações mais grave e as contravenções são infrações menos graves.
As contravenções são doutrinariamente denominadas de: crime anão, delito vagabundo ou delito liliputiano.
Apesar de não existir diferenças essenciais, temos diferenças legais:
	Crimes
	Contravenções
	- São punidos com reclusão ou detenção com e/ou multa;
	- São punidas com prisão simples cumulada ou não com multa ou só multa.
	- A tentativa de crime é punida.
	- A tentativa de contravenção não é punida, art. 4º da LCP. Atenção: a tentativa existe, mas não é penalmente relevante, não havendo interesse político de punir.
	- Os crimes podem ser de ação penal privada, ação penal pública condicionada e ação penal pública incondicionada (art. 100 do CP)
	- As contravenções são sempre de ação pública incondicionada (art. 17 da LCP). Atenção: Nas contravenções cabe ação privada subsidiária da pública, pois trata-se de direito fundamental previsto na CF.
	- Existe extraterritorialidade da lei penal em relação a crime.
	- Não há extraterritorialidade da lei penal em relação às contravenções penais.
	- Nos crimes o tempo máximo de comprimento da pena é de 30 anos (art. 75 do CP).
	- Nas contravenções, o prazo máximo é de 05 anos (art. 10 da LCP)
	- Aos crimes, não se aplica o chamado erro de direito (erro sobre a existência da lei)
	- Nas contravenções penais aplica-se o erro de direito. No caso de contravenção o juiz pode conceder o perdão judicial.
1. CONTRAVENÇÕES EM LEIS ESPECIAIS
Além das contravenções previstas na lei geral, temos outras contravenções previstas em legislação especial.
1.1 Contravenções Ambientais
Estão no art. 26, e, j, l, m do Código Florestal (Lei. 4.781/65).
1.2 Contravenções Referentes à Loterias
Estão no Decreto-Lei 6.259/44. Este decreto revogou os artigos 51 à 58 da Lei das Contravenções Penais.
1.3 Contravenção de Retenção Ilegal de Documentos
Está prevista na Lei 5.553/68 .
1.4 Contravenções contra a Economia Popular
Estão no art. 66, I a III da Lei 4.591/64.
1.5 Contravenção Prevista na Lei de Locação
Está no art. 43 da Lei de Locações (Lei 8.245/91
Observação: 
1. No Código Eleitoral temos infrações que estão no capítulo dos crimes eleitorais, mas que são punidas exclusivamente com multa. Portanto, há entendimento que tais infrações não são crimes, mas contravenções penais (Tourinho Filho).
Assim, para Tourinho, existem contravenções penais também no Código Eleitoral (Lei 4.737/65);
2. Lei 7.437/85 que prevê crimes de preconceito em razão da raça, cor,

Continue navegando