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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
 Informativo 892-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos e por ter sido decidido com base em peculiaridades 
do caso concreto: ADPF 165/DF. 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
ADPF 
 É possível celebrar acordo em ADPF. 
 
DIREITO ELEITORAL 
LEI DA FICHA LIMPA 
 É aplicável a alínea “d” do inciso I do art. 1º da LC 64/90, com a redação dada pela LC 135/2010, a fatos anteriores 
a sua publicação. 
 
DIREITO AMBIENTAL 
CÓDIGO FLORESTAL 
 Análise da constitucionalidade do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012). 
 
DIREITO CIVIL 
TRANSGÊNERO 
 Transgênero pode alterar seu prenome e gênero no registro civil mesmo sem fazer cirurgia de transgenitalização e 
mesmo sem autorização judicial. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
RECURSOS 
 Não cabe recurso extraordinário contra decisão do TST que julga PAD. 
 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
 É possível que as associações privadas façam transação em ação civil pública. 
 
DIREITO PENAL 
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 
 Em caso de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
HABEAS CORPUS 
 Em regra, não cabe habeas corpus contra decisão transitada em julgado. 
 
 
 
 
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DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
ADPF 
É possível celebrar acordo em ADPF 
 
Importante!!! 
Não tem nos livros!!! 
É possível que seja celebrado um acordo no bojo de uma arguição de descumprimento de 
preceito fundamental (ADPF)? 
SIM. É possível a celebração de acordo num processo de índole objetiva, como a ADPF, desde 
que fique demonstrado que há no feito um conflito intersubjetivo subjacente (implícito), que 
comporta solução por meio de autocomposição. 
Vale ressaltar que, na homologação deste acordo, o STF não irá chancelar ou legitimar 
nenhuma das teses jurídicas defendidas pelas partes no processo. 
O STF irá apenas homologar as disposições patrimoniais que forem combinadas e que 
estiverem dentro do âmbito da disponibilidade das partes. 
A homologação estará apenas resolvendo um incidente processual, com vistas a conferir 
maior efetividade à prestação jurisdicional. 
STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892). 
 
É possível que seja celebrado um acordo no bojo de uma arguição de descumprimento de preceito 
fundamental (ADPF)? 
SIM. 
É possível a celebração de acordo num processo de índole objetiva, como a ADPF, desde que fique 
demonstrado que há no feito um conflito intersubjetivo subjacente (implícito), que comporta solução 
por meio de autocomposição. 
Vale ressaltar que, na homologação deste acordo, o STF não irá chancelar ou legitimar nenhuma das 
teses jurídicas defendidas pelas partes no processo. 
O STF irá apenas homologar as disposições patrimoniais que forem combinadas e que estiverem dentro 
do âmbito da disponibilidade das partes. 
A homologação estará apenas resolvendo um incidente processual, com vistas a conferir maior 
efetividade à prestação jurisdicional. 
STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892). 
 
Exemplo: 
As pessoas que tinham dinheiro em conta poupança nos anos de 1986 a 1991 foram prejudicadas pelos 
planos econômicos editados neste período (Planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor II). Isso porque esses 
planos fizeram a conversão dos valores depositados de forma errada (os chamados “expurgos 
inflacionários”). 
Em razão disso, tais poupadores ingressaram com ações judiciais pedindo a correção disso e o pagamento 
das diferenças. Além das ações individuais, também foram propostas ações coletivas ajuizadas por 
associações de defesa do consumidor e por associações de poupadores. 
Os juízes e Tribunais estavam todos decidindo em favor dos poupadores. 
A fim de tentar reverter a situação, Confederação Nacional do Sistema Financeiro (CONSIF) ajuizou, no 
Supremo Tribunal Federal (STF), a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 165, 
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pedindo, com eficácia erga omnes (para todos) e efeito vinculante, a suspensão de qualquer decisão 
judicial que tivesse por objeto a reposição das perdas decorrentes dos planos econômicos. 
Na ação, a CONSIF alegava a plena constitucionalidade dos referidos planos, de forma que os poupadores 
não teriam nada a receber. 
Ao longo da tramitação da ADPF, as várias associações de defesa do consumidor e dos poupadores, que 
haviam ajuizado ações coletivas tratando do tema, pediram para intervir no processo na qualidade de 
amicus curiae (ex: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Associação Brasileira do Consumidor, 
entre outras), o que foi aceito pelo STF. 
Depois de quase 9 anos tramitando no STF, houve um acordo entre a CONSIF (autora da ADPF) e as 
associações de defesa do consumidor/poupadores. 
Vale ressaltar que a AGU atuou como mediadora desse ajuste (art. 4º da Lei nº 13.140/2015), por meio da 
Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal. 
Por meio desse acordo, os bancos aceitam pagar os poupadores segundo cronograma e condições que 
estão no ajuste e, em troca, os correntistas desistem das ações individuais que possuíam contra as 
instituições financeiras. Além disso, as associações de defesa do consumidor comprometeram-se a 
peticionar nas ações civis públicas que ingressaram requerendo a extinção do processo pela transação 
(art. 487, III, “b”, do CPC). 
Os termos do acordo preveem o pagamento de mais de 12 bilhões de reais aos poupadores, que serão 
inscritos em plataforma digital preparada pelo CNJ. Os bancos irão analisar os requerimentos dos 
interessados. Os pagamentos serão feitos nas contas correntes dos beneficiários, que receberão os 
respectivos valores à vista ou parceladamente, a depender do montante. 
Terão direito à reparação todos que haviam ingressado com ações coletivas e individuais para cobrar das 
instituições financeiras os valores referentes às correções. No caso das ações individuais, poupadores ou 
herdeiros que ingressaram judicialmente dentro do prazo prescricional de 20 anos da edição de cada plano 
também poderão receber os valores. Igualmente poderão aderir os poupadores que, com base em ações 
civis públicas, requereram execução de sentença coletiva até 31/12/2016. 
 
E o que a aconteceu com a ADPF? 
Foi extinta, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC: 
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: 
(...) 
III - homologar: 
(...) 
b) a transação; 
 
Apesar de a resolução da ADPF ter sido com resolução do mérito, ressalte-se, mais uma vez, que o STF, ao 
homologar o acordo, não concordou com nenhuma das teses jurídicas defendidas pelas partes no 
processo, ou seja, não disse que os poupadores ou que os bancos tinham razão. Isso não foi analisado na 
homologação do acordo. 
 
Existe previsão legal de que as associações autoras de ações civis públicas possam fazer transação 
nessas ações? 
NÃO. A Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os órgãos públicos podem fazer acordos nas 
ações civis públicas em curso, não mencionando as associações privadas. Confira: 
Art. 5º (...) 
§ 6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de 
ajustamento de sua conduta às exigências legais,mediante cominações, que terá eficácia de título 
executivo extrajudicial. 
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Mesmo sem previsão legal as associações privadas podem transacionar em ações civis públicas 
O STF afirmou que, mesmo sem previsão normativa expressa, as associações privadas também podem 
fazer acordos nas ações coletivas. 
Assim, a ausência de disposição normativa expressa no que concerne a associações privadas não afasta a 
viabilidade do acordo. Isso porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos 
diz respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos entes privados 
é dado fazer tudo que a lei não proíbe. 
Para o Min. Ricardo Lewandoswki, “não faria sentido prever um modelo que autoriza a justiciabilidade 
privada de direitos e, simultaneamente, deixar de conferir aos entes privados as mais comezinhas 
faculdades processuais, tais como a de firmar acordos.” 
 
 
 
DIREITO ELEITORAL 
 
LEI DA FICHA LIMPA 
É aplicável a alínea “d” do inciso I do art. 1º da LC 64/90, com a 
redação dada pela LC 135/2010, a fatos anteriores a sua publicação 
 
Importante!!! 
A condenação por abuso do poder econômico ou político em ação de investigação judicial 
eleitoral, transitada em julgado, “ex vi” do artigo 22, inciso XIV, da Lei Complementar 64/90, 
em sua redação primitiva, é apta a atrair a incidência da inelegibilidade do artigo 1º, inciso I, 
alínea "d", na redação dada pela Lei Complementar 135/2010, aplicando-se a todos os 
processos de registros de candidatura em trâmite. 
STF. Plenário. RE 929670/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado 
em 1º/3/2018 (repercussão geral) (Info 892). 
 
Causas de inelegibilidade previstas na legislação infraconstitucional 
A Constituição Federal, em seu art. 14, § 9º, dispõe que lei complementar deverá estabelecer casos de 
inelegibilidade a fim de proteger: 
• a probidade administrativa 
• a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato e 
• a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do 
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. 
 
A inelegibilidade consiste na ausência de capacidade eleitoral passiva. 
Inelegibilidade = impossibilidade jurídica de ser candidato. 
A Lei Complementar mencionada pelo § 9º do art. 14 é, atualmente, a LC 64/90. 
 
Lei da Ficha Limpa 
Em 2010, foi aprovada a LC 135/2010, que teve como objetivo alterar a LC 64/90, incluindo novas 
hipóteses de inelegibilidade para proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do 
mandato. 
A LC 135/2010 foi resultado de uma intensa mobilização da sociedade civil organizada que arrecadou mais 
de 1,3 milhão de assinaturas de cidadãos para apresentar o projeto de lei ao Congresso Nacional. 
A LC 135/2010 ficou conhecida como “Lei da Ficha Limpa”. 
 
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Ampliação do prazo de inelegibilidade para as condenações por abuso de poder 
Uma das alterações promovidas pela Lei da Ficha Limpa foi que ela ampliou, de 3 para 8 anos, o prazo de 
inelegibilidade para os casos em que o político é condenado por abuso de poder econômico ou político. 
Veja como foi a mudança: 
Antes da LC 135/2010 Depois da LC 135/2010 
Art. 1º São inelegíveis: 
I - para qualquer cargo: 
(...) 
d) os que tenham contra sua pessoa 
representação julgada procedente pela Justiça 
Eleitoral, transitada em julgado, em processo de 
apuração de abuso do poder econômico ou 
político, para a eleição na qual concorrem ou 
tenham sido diplomados, bem como para as que 
se realizarem 3 (três) anos seguintes; 
Art. 1º São inelegíveis: 
I - para qualquer cargo: 
(...) 
d) os que tenham contra sua pessoa 
representação julgada procedente pela Justiça 
Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou 
proferida por órgão colegiado, em processo de 
apuração de abuso do poder econômico ou 
político, para a eleição na qual concorrem ou 
tenham sido diplomados, bem como para as que 
se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; 
(Redação dada pela LC 135/2010) 
 
Antes da LC 135/2010 Depois da LC 135/2010 
Art. 22 (...) 
XIV - julgada procedente a representação, o 
Tribunal declarará a inelegibilidade do 
representado e de quantos hajam contribuído 
para a prática do ato, cominando-lhes sanção de 
inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 
3 (três) anos subseqüentes à eleição em que se 
verificou, além da cassação do registro do 
candidato diretamente beneficiado pela 
interferência do poder econômico e pelo desvio ou 
abuso do poder de autoridade, determinando a 
remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, 
para instauração de processo disciplinar, se for o 
caso, e processo-crime, ordenando quaisquer 
outras providências que a espécie comportar; 
Art. 22 (...) 
XIV – julgada procedente a representação, ainda 
que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal 
declarará a inelegibilidade do representado e de 
quantos hajam contribuído para a prática do ato, 
cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as 
eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos 
subsequentes à eleição em que se verificou, além 
da cassação do registro ou diploma do candidato 
diretamente beneficiado pela interferência do 
poder econômico ou pelo desvio ou abuso do 
poder de autoridade ou dos meios de 
comunicação, determinando a remessa dos autos 
ao Ministério Público Eleitoral, para instauração 
de processo disciplinar, se for o caso, e de ação 
penal, ordenando quaisquer outras providências 
que a espécie comportar; (Redação dada pela LC 
135/2010) 
 
Desse modo, antes da Lei da Ficha Limpa, o político condenado por abuso de poder teria que ficar 3 anos 
sem disputar novas eleições. Com a mudança, ele passou a ter que ficar 8 anos inelegível. 
 
STF julgou a validade da Lei da Ficha Limpa 
O STF decidiu que essa previsão, assim como todos os outros dispositivos da Lei da Ficha Limpa (LC 
135/2010), são constitucionais. 
STF. Plenário. ADC 29/DF, rel. Min. Luiz Fux, 15 e 16/2/2012, ADC 30/DF, rel. Min. Luiz Fux, 15 e 16/2/2012 
e ADI 4578/DF, rel. Min. Luiz Fux, 15 e 16/2/2012. 
 
 
 
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A Lei da Ficha Limpa somente foi aplicada a partir das eleições de 2010 
A Lei da Ficha Limpa foi promulgada em 4 de junho de 2010. Como entrou em vigor menos de 1 ano antes 
das eleições gerais de 2010, o STF entendeu que ela não poderia ser aplicada naquele pleito por força do 
que dispõe o art. 16 da CF/88: 
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se 
aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. 
 
Essa decisão foi tomada no RE 633703, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/03/2011. 
 
Imagine agora a seguinte situação adaptada: 
João concorreu ao cargo de Vereador e foi condenado, nos autos de representação eleitoral por abuso de 
poder econômico e compra de votos por fatos ocorridos em 2004. 
Naquela época não havia ainda a Lei da Ficha Limpa. Vigorava a redação originária do art. 1º, I, “d”, da LC 
64/90. Logo, a Justiça Eleitoral determinou que João ficasse inelegívelpor 3 anos. Relembre o que dizia a Lei: 
Art. 1º São inelegíveis: 
I - para qualquer cargo: 
(...) 
d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, 
transitada em julgado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para 
a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem 3 
(três) anos seguintes; 
 
O processo transitou em julgado em 2004 e João cumpriu os 3 anos de inelegibilidade, conforme havia 
sido determinado. 
Nas eleições de 2008, já livre da inelegibilidade, ele concorreu e foi eleito para o cargo de Vereador. Ele 
conseguiu concorrer porque já havia passado o prazo de 3 anos (2004 + 3 = 2007). 
Nas eleições de 2012, ele tentou concorrer novamente ao mandato de Vereador, mas seu registro foi 
indeferido sob o argumento de que entrou em vigor a Lei da Ficha Limpa e que aquela sua condenação 
(que já transitou em julgado e que ele já cumpriu) aumentou de 3 para 8 anos. Assim, segundo a nova 
redação do art. 1º, I, “d”, da LC 64/90, ele teria que ficar inelegível de 2004 até 2012 (2004 + 8 = 2012). 
Resumindo: 
• em 2004, João praticou abuso de poder econômico e foi condenado a uma inelegibilidade de 3 anos, 
conforme previa a redação originária do art. 1º, I, “d”, da LC 64/90. 
• esse processo transitou em julgado e, em 2007, João terminou de cumprir o prazo de inelegibilidade 
para o qual foi condenado. 
• em 2010, a Lei da Ficha Limpa (2010) aumentou a punição prevista no art. 1º, I, “d”, da LC 64/90 de 3 
para 8 anos. 
• a Justiça Eleitoral entendeu que, mesmo a Lei da Ficha Limpa tendo entrado em vigor após o fato 
praticado por João, este novo diploma deveria ser aplicado ao caso concreto. Logo, a inelegibilidade de 
João, que era de 3 anos (e que acabou em 2007), subiria para 8 anos (e a proibição permaneceria para as 
eleições de 2012). 
 
Recurso extraordinário 
João não concordou com a decisão da Justiça Eleitoral e recorreu ao STF alegando que a inelegibilidade 
constitui espécie de sanção, razão pela qual a mudança legislativa não poderia retroagir por se tratar de 
lei mais grave (art. 5º, XXXVI, CF/88). Além disso, teria havido ofensa à coisa julgada. 
Para reforçar a sua tese, João argumentou que a própria LC 64/90 prevê a inelegibilidade como sanção: 
Art. 22 (...) 
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XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal 
declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, 
cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos 
subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato 
diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder 
de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério 
Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando 
quaisquer outras providências que a espécie comportar; (Redação dada pela LC 135/2010) 
 
A pergunta que se faz é a seguinte: esse aumento trazido pela Lei da Ficha Limpa já se aplica para a 
situação de João mesmo que o fato tendo ocorrido antes da vigência da nova Lei? 
SIM. O STF entendeu que é possível aplicar o prazo de 8 anos de inelegibilidade, introduzido pela LC 
135/2010 (Lei da Ficha Limpa), às condenações por abuso de poder, mesmo nos casos em que o processo 
já tenha transitado em julgado quando a Lei da Ficha Limpa entrou em vigor. 
O fato de a condenação nos autos de representação por abuso de poder econômico ou político haver 
transitado em julgado, ou mesmo haver transcorrido o prazo da sanção de três anos, imposta por força 
de condenação pela Justiça Eleitoral, não afasta a incidência da inelegibilidade constante da alínea “d” do 
inciso I do art. 1º da LC 64/90, cujo prazo passou a ser de 8 anos. 
 
Repercussão geral 
Sobre esse tema, o STF fixou a seguinte tese de repercussão geral: 
A condenação por abuso do poder econômico ou político em ação de investigação judicial eleitoral, 
transitada em julgado, “ex vi” do artigo 22, inciso XIV, da Lei Complementar 64/90, em sua redação primitiva, 
é apta a atrair a incidência da inelegibilidade do artigo 1º, inciso I, alínea "d", na redação dada pela Lei 
Complementar 135/2010, aplicando-se a todos os processos de registros de candidatura em trâmite. 
STF. Plenário. RE 929670/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 
1º/3/2018 (repercussão geral) (Info 892). 
 
Veja abaixo um resumo dos argumentos expostos pelo STF. 
 
Finalidade da Lei da Ficha Limpa 
O objetivo da Lei da Ficha Limpa foi o de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício 
de mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições 
contra a influência do poder econômico ou do poder político. 
Trata-se, portanto, de um verdadeiro “Estatuto da Moralidade do Processo Eleitoral”, expressão cunhada 
pelo ex-Ministro Joaquim Barbosa. 
Diante disso, o STF tem o dever de afastar interpretações que enfraqueçam os propósitos republicanos e 
moralizadores da Lei da Ficha Limpa. 
 
As hipóteses de inelegibilidade possuem caráter de sanção? 
NÃO. O Min. Luiz Fux sustentou que as hipóteses de inelegibilidade não apresentam caráter sancionatório. 
Como exemplo, ele cita o caso do art. 14, § 4º da CF/88, que prevê a inelegibilidade dos analfabetos. Ora, 
o objetivo do legislador constituinte não foi o de punir os analfabetos, não se podendo, portanto, dizer 
que se trata de uma sanção. 
 
Então qual é a natureza jurídica da inelegibilidade? 
A inelegibilidade ostenta natureza jurídica de “requisito negativo de adequação do indivíduo ao regime 
jurídico do processo eleitoral”. 
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Logo, as hipóteses de inelegibilidade previstas na LC 64/90 não possuem caráter sancionatório ou punitivo, 
mesmo no caso descrito no art. 22, XIV. 
Não existe no ordenamento jurídico brasileiro a figura da inelegibilidade-sanção. 
 
Mas o art. 22, XIV fala em sanção... 
Segundo o Min. Fux, houve uma atecnia do legislador, ou seja, uma falha de técnica legislativa ao se 
afirmar que a inelegibilidade do art. 22, XIV, seria uma hipótese de sanção. 
Além disso, a natureza de um instituto jurídico não deve ser interpretada pelo seu “rótulo legal”, mas sim 
pela a partir da análise dos efeitos jurídicos que efetivamente dele advêm. 
 
Não há retroatividade máxima 
As leis (em sentido amplo) podem apresentar três espécies de retroatividade: 
a) Retroatividade máxima 
(ou restitutória) 
b) Retroatividade média c) Retroatividade mínima 
(temperada ou mitigada): 
Ocorre quando a lei nova 
retroage para atingir fatos 
passados sem qualquer 
empecilho, mesmo que eles já 
estejam consumados. 
Se a retroatividade é máxima, a 
lei atinge, inclusive, direito 
adquirido, ato jurídico perfeito 
ou coisa julgada. 
Ex: na época da celebração do 
contrato, os juros de mora eram 
de 6% ao ano; veio uma nova lei 
aumentando para 12%; pela 
retroatividade máxima, essa 
mudança produz efeitos inclusive 
sobre as prestações já pagas. 
Ocorre quando a lei nova atinge 
efeitos pendentes de fatos 
praticados no passado. 
Ex: na época da celebração do 
contrato, os juros de mora eram 
de 6% ao ano; veio uma nova lei 
aumentando para12%; pela 
retroatividade média, essa 
mudança produz efeitos sobre as 
prestações em aberto (vencidas, 
mas não pagas) e sobre as 
prestações futuras; as 
prestações já pagas continuam 
com os juros anteriores. 
Ocorre quando a lei nova atinge 
efeitos futuros de fatos 
praticados no passado. 
Ex: na época da celebração do 
contrato, os juros de mora eram 
de 6% ao ano; veio uma nova lei 
aumentando para 12%; pela 
retroatividade mínima, essa 
mudança produz efeitos sobre as 
prestações futuras; as 
prestações já pagas e as 
prestações em aberto 
continuam com os juros 
anteriores. 
 
 
A lei possui, em regra, retroatividade mínima. 
O Poder Constituinte originário pode estabelecer a retroatividade máxima, no entanto, isso não é 
permitido ao legislador infranconstitucional, salvo algumas exceções, como é o caso da lei penal mais 
favorável ao réu. 
Voltando ao caso concreto. 
O recorrente alegava que a interpretação da Justiça Eleitoral de aplicar o prazo de 8 anos representaria 
uma retroatividade máxima, o que seria proibido por violar a coisa julgada. 
A maioria do STF, contudo, não concordou com a tese. 
 
Retroatividade inautêntica (ou retrospectividade) 
O Min. Luiz Fux sustentou que, como a inelegibilidade do art. 22, XIV, da LC 64/90 não se constitui em 
sanção, a ampliação do prazo nele previsto (de 3 para 8 anos) pela Lei da Ficha Limpa não representa 
ofensa à retroatividade máxima. 
Para o STF, aplicar a Lei da Ficha Limpa para fatos ocorridos antes da sua vigência não configura uma 
autêntica (uma verdadeira) retroatividade. Isso é aquilo que se pode chamar de retroatividade inautêntica 
(ou retrospectividade) 
A retroatividade autêntica é vedada pela CF. O texto constitucional não proíbe, contudo, a retrospectividade. 
A retrospectividade é parecida, mas não idêntica à retroatividade mínima. 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
• Retroatividade mínima: a nova lei altera as consequências jurídicas de fatos ocorridos antes da sua edição. 
• Retrospectividade: a nova lei atribui novos efeitos jurídicos, a partir de sua edição, a fatos ocorridos 
anteriormente. 
 
Nas palavras do Min. Fux: 
“A aplicabilidade da Lei Complementar nº 135/10 a processo eleitoral posterior à respectiva data de 
publicação é, à luz da distinção supra, uma hipótese clara e inequívoca de retroatividade inautêntica, ao 
estabelecer limitação prospectiva ao ius honorum (o direito de concorrer a cargos eletivos) com base em 
fatos já ocorridos. A situação jurídica do indivíduo – condenação por colegiado ou perda de cargo público, 
por exemplo – estabeleceu-se em momento anterior, mas seus efeitos perdurarão no tempo. Portanto, 
ainda que se considere haver atribuição de efeitos, por lei, a fatos pretéritos, cuida-se de hipótese de 
retrospectividade (...) 
Explica-se: trata-se, tão-somente, de imposição de um novo requisito negativo para a que o cidadão possa 
candidatar-se a cargo eletivo, que não se confunde com agravamento de pena ou com bis in idem.” 
 
E não haveria violação à coisa julgada? 
NÃO. A imposição do prazo de inelegibilidade configura uma relação jurídica continuativa, para a qual a 
coisa julgada opera sob a cláusula rebus sic stantibus. 
A decisão que reconhece a inelegibilidade somente produzirá seus efeitos na esfera jurídico-eleitoral do 
condenado se este vier a formalizar registro de candidatura em eleições vindouras. 
Em consequência disso, verificado o exaurimento do prazo de 3 anos, previsto na redação originária do 
art. 22, XIV, por decisão transitada em julgado, é perfeitamente possível que o legislador 
infraconstitucional proceda ao aumento dos prazos, o que impõe que o agente da conduta abusiva fique 
inelegível por mais 5 anos, totalizando os 8 anos, sem que isso implique ofensa à coisa julgada, que se 
mantém incólume. 
 
 
 
DIREITO AMBIENTAL 
 
CÓDIGO FLORESTAL 
Análise da constitucionalidade do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) 
 
Importante!!! 
O STF analisou a constitucionalidade do Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) e decidiu: 
1) declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e “instalações 
necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”, 
contidas no art. 3º, VIII, b, da Lei nº 12.651/2012; 
2) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, da Lei, de modo a se 
condicionar a intervenção excepcional em APP, por interesse social ou utilidade pública, à 
inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta; 
3) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para fixar 
a interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes configuram 
área de preservação permanente; 
4) declarar a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, contidas no 
art. 3º, parágrafo único; 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
5) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir 
compensação apenas entre áreas com identidade ecológica; 
6) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo a afastar, 
no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de 
regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais 
praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes, aplicando-se 
extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo o qual “a prescrição 
ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva”. 
Todos os demais dispositivos da Lei foram considerados constitucionais. 
STF. Plenário. ADC 42/DF, ADI 4901/DF, ADI 4902/DF, ADI 4903/DF e ADI 4937/DF, Rel. Min. Luiz 
Fux, julgados em 28/2/2018 (Info 892). 
 
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
Código Florestal 
A Lei nº 12.651/2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa, ficou conhecida como sendo o 
novo Código Florestal. 
Foram ajuizadas cinco ações discutindo a constitucionalidade desta lei: uma ADC e quatro ADIs. 
O STF realizou o julgamento conjunto dessas ações. 
 
Resultado 
O STF decidiu: 
1) declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e “instalações necessárias à 
realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”, contidas no art. 3º, VIII, b, 
do novo Código Florestal; 
2) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, de modo a se condicionar a intervenção 
excepcional em APP, por interesse social ou utilidade pública, à inexistência de alternativa técnica e/ou 
locacional à atividade proposta; 
3) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para fixar a interpretação de 
que os entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes configuram área de preservação 
permanente; 
4) declarar a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, contidas no art. 3º, 
parágrafo único; 
5) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir compensação apenas entre 
áreas com identidade ecológica; 
6) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo a afastar, no decurso da 
execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de regularização ambiental, o risco de 
decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções 
deles decorrentes, aplicando-seextensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo 
o qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva”; 
7) que todos os demais dispositivos do novo Código Florestal são constitucionais. 
 
ANÁLISE DOS DISPOSITIVOS DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS 
1) são inconstitucionais as expressões “gestão de resíduos” e “instalações necessárias à realização de 
competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”, contidas no art. 3º, VIII, b, do Código 
Florestal 
Veja o que diz a Lei: 
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: 
 Informativo 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
(...) 
VIII - utilidade pública: 
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, 
sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos 
Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, 
instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou 
internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro 
e cascalho; 
 
Esse conceito de “utilidade pública” é utilizado em diversas partes da Lei nº 12.651/2012 com a finalidade 
de excetuar a proteção às áreas de preservação permanente e de uso restrito. Veja, por exemplo: 
Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente 
somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto 
ambiental previstas nesta Lei. 
§ 1º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas somente poderá 
ser autorizada em caso de utilidade pública. 
 
Art. 11. Em áreas de inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos o manejo florestal sustentável e o 
exercício de atividades agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física associada 
ao desenvolvimento das atividades, observadas boas práticas agronômicas, sendo vedada a 
conversão de novas áreas, excetuadas as hipóteses de utilidade pública e interesse social. 
 
Assim, em casos de utilidade pública seria possível a “mitigação” da proteção ambiental. 
Ocorre que o STF, concordando com os argumentos de um dos autores da ADI (PSOL), entendeu que não 
se pode aceitar que um Estado, “ao qual é imposta constitucionalmente a defesa e preservação do meio 
ambiente, conceba a gestão de resíduos (construção de aterros sanitários) e o lazer como hipóteses de 
intervenção e supressão de vegetação em áreas de preservação permanente e em áreas de uso restrito”. 
Em outras palavras, não se mostra compatível com o art. 225 da CF/88 autorizar-se a relativização da 
proteção da vegetação nativa protetora de nascentes, por exemplo, para “gestão de resíduos” ou para a 
realização de competições esportivas. 
 
2) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, da Lei, de modo a se 
condicionar a intervenção excepcional em APP, por interesse social ou utilidade pública, à inexistência 
de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta. 
Veja o que diz a Lei: 
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: 
(...) 
VIII - utilidade pública: 
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária; 
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, 
sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos 
Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, 
instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou 
internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro 
e cascalho; 
c) atividades e obras de defesa civil; 
d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das funções 
ambientais referidas no inciso II deste artigo; 
 Informativo 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento 
administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento 
proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal; 
 
IX - interesse social: 
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como 
prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção 
de plantios com espécies nativas; 
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural 
familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura 
vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área; 
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e 
culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições estabelecidas 
nesta Lei; 
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por 
população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas 
na Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009; 
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados 
para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da atividade; 
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela 
autoridade competente; 
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento 
administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta, 
definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal; 
 
Conforme já explicado no item anterior, em casos de utilidade pública ou interesse social, seria possível a 
“mitigação” da proteção ambiental, como no exemplo do art. 8º: 
Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente 
somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto 
ambiental previstas nesta Lei. 
§ 1º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas somente poderá 
ser autorizada em caso de utilidade pública. 
 
A intervenção em áreas de preservação permanente deve ser excepcional, a fim de evitar o 
comprometimento das funções ecológicas de tais áreas. 
Diante disso, o STF afirmou que essa previsão do art. 3º, VIII e IX, é constitucional, mas que a interpretação 
a ser dada é a de que somente pode haver intervenção em área de proteção permanente (APP) em casos 
excepcionais e desde que comprovada a inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade 
proposta. 
 
3) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para fixar a 
interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes configuram área de 
preservação permanente. 
Veja o que diz a Lei: 
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: 
(...) 
XVII - nascente: afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá início a um 
curso d’água; 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
 
Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas,para os efeitos 
desta Lei: 
(...) 
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação 
topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros; 
 
A definição de nascente envolve perenidade (característica do que é perene = duradouro). Ocorre que o 
STF afirmou que não se pode negar proteção também aos entornos das nascentes e dos olhos d´água 
intermitentes. 
Assim, a interpretação deve ser a de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água, mesmo que 
intermitentes, também configuram área de preservação permanente. 
 
4) são inconstitucionais as expressões “demarcadas” e “tituladas”, contidas no art. 3º, parágrafo único. 
Veja o que diz a Lei: 
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: 
(...) 
V - pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada mediante o trabalho pessoal 
do agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de 
reforma agrária, e que atenda ao disposto no art. 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006; 
(...) 
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, estende-se o tratamento dispensado aos imóveis a que se 
refere o inciso V deste artigo às propriedades e posses rurais com até 4 (quatro) módulos fiscais 
que desenvolvam atividades agrossilvipastoris, bem como às terras indígenas demarcadas e às 
demais áreas tituladas de povos e comunidades tradicionais que façam uso coletivo do seu 
território. 
 
O Código Florestal, em diversos dispositivos, estabelece um tratamento diferenciado para a “pequena 
propriedade ou posse rural familiar”. Esse art. 3º, parágrafo único, confere o mesmo tratamento 
diferenciado às terras indígenas demarcadas e demais áreas tituladas de povos e comunidades 
tradicionais. 
O STF declarou a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, de forma que tais 
terras e áreas poderão receber o tratamento diferenciado mesmo sem demarcação e titulação. Isso 
porque a titulação do território das comunidades tradicionais e dos povos indígenas representa uma mera 
“formalidade”, de caráter declaratório (e não constitutivo). Em outras palavras, mesmo sem demarcação 
ou titulação, tais territórios já existem e devem receber tratamento diferenciado independentemente 
dessas formalidades. 
A exclusão dessas palavras foi, portanto, para beneficiar os povos indígenas e as comunidades tradicionais. 
 
5) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir compensação 
apenas entre áreas com identidade ecológica. 
Veja o que diz a Lei: 
Art. 48. A CRA pode ser transferida, onerosa ou gratuitamente, a pessoa física ou a pessoa jurídica 
de direito público ou privado, mediante termo assinado pelo titular da CRA e pelo adquirente. 
(...) 
§ 2º A CRA só pode ser utilizada para compensar Reserva Legal de imóvel rural situado no mesmo 
bioma da área à qual o título está vinculado. 
 
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CRA é a sigla para Cota de Reserva Ambiental. 
A compensação da Reserva Legal é um mecanismo previsto no Código Florestal segundo o qual o 
proprietário ou possuidor que não estiver cumprindo os percentuais de Reserva Legal em sua propriedade 
poderá regularizar a situação adquirindo (comprando) CRAs. 
Quem tem uma propriedade que cumpre os percentuais de Reserva Legal e possui vegetação excedente 
(“a mais” do que exige a lei) pode emitir CRA e quem tem déficit de Reserva Legal pode compensá-lo 
comprando CRA. Nesse sentido: http://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/decisao-do-stf-
sobre-o-novo-codigo-florestal-enfraquece-a-cota-de-reserva-ambiental/. 
O novo Código Florestal adotou o critério do bioma para fins de compensação da Reserva Legal. Assim, o 
§ 2º do art. 48 previu que a CRA pode ser utilizada para compensar Reserva Legal de imóvel situado no 
mesmo bioma da área à qual o título está vinculado. Em outras palavras, o proprietário que quiser adquirir 
CRA deverá comprar de imóveis rurais situados no “mesmo bioma”. 
O STF entendeu que a aquisição de uma área no mesmo bioma é insuficiente como mecanismo de 
compensação. Isso porque pode acontecer de, dentro de um mesmo bioma, existir uma alta 
heterogeneidade de formações vegetais. Assim, pela redação legal, o proprietário poderia, dentro de um 
mesmo bioma, “compensar” áreas com formações vegetais completamente diferentes, já que, como dito, 
existe essa grande heterogeneidade. 
Desse modo, o STF acolheu os argumentos técnicos no sentido de que as compensações devem ser 
realizadas somente em áreas ecologicamente equivalentes, considerando-se não apenas o mesmo bioma, 
mas também as diferenças de composição de espécies e estrutura dos ecossistemas que ocorrem dentro 
de cada bioma. 
Em outras palavras, não basta que a área seja do mesmo bioma, é necessário também que haja identidade 
ecológica entre elas. 
 
6) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo a afastar, no 
decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de regularização 
ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais praticados antes de 
22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes, aplicando-se extensivamente o disposto no § 1º do art. 
60 da Lei 12.651/2012, segundo o qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão 
da pretensão punitiva”. 
O art. 59, §4º e 5º conferiu uma espécie de anistia aos proprietários que cometeram ilícitos ambientais 
relacionados com a supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva 
Legal e de uso restrito, desde que cumpridos alguns requisitos. Confira: 
Art. 59. A União, os Estados e o Distrito Federal deverão, no prazo de 1 (um) ano, contado a partir 
da data da publicação desta Lei, prorrogável por uma única vez, por igual período, por ato do Chefe 
do Poder Executivo, implantar Programas de Regularização Ambiental - PRAs de posses e 
propriedades rurais, com o objetivo de adequá-las aos termos deste Capítulo. 
(...) 
§ 4º No período entre a publicação desta Lei e a implantação do PRA em cada Estado e no Distrito 
Federal, bem como após a adesão do interessado ao PRA e enquanto estiver sendo cumprido o 
termo de compromisso, o proprietário ou possuidor não poderá ser autuado por infrações 
cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação em Áreas de 
Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito. 
§ 5º A partir da assinatura do termo de compromisso, serão suspensas as sanções decorrentes das 
infrações mencionadas no § 4º deste artigo e, cumpridas as obrigações estabelecidas no PRA ou 
no termo de compromisso para a regularização ambiental das exigências desta Lei, nos prazos e 
condições neles estabelecidos, as multas referidas neste artigo serão consideradas como 
convertidas em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, 
regularizando o uso de áreas rurais consolidadas conforme definido no PRA. 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
 
22 de julho de 2008 foi a data da edição do Decreto nº 6.514/2008, que regulamentou a Lei nº 9.605/98 
(lei que trata sobre sanções penais e administrativas relacionadas com o meio ambiente). 
 
O STF afirmou que esses dispositivos são válidos, mas que se deve evitar a prescrição e a decadência. 
Assim, deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo que, durante a 
execução dos termosde compromissos subscritos nos programas de regularização ambiental, não corra o 
prazo de decadência ou prescrição. 
Aplica-se aqui a mesma solução prevista no § 1º do art. 60 da Lei nº 12.651/2012: 
Art. 60. A assinatura de termo de compromisso para regularização de imóvel ou posse rural 
perante o órgão ambiental competente, mencionado no art. 59, suspenderá a punibilidade dos 
crimes previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, enquanto o 
termo estiver sendo cumprido. 
§ 1º A prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva. 
§ 2º Extingue-se a punibilidade com a efetiva regularização prevista nesta Lei. 
 
ARGUMENTOS INVOCADOS PELO STF PARA A DECLARAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DOS DEMAIS DISPOSITIVOS 
Meio ambiente como direito e dever 
O art. 225 da Constituição Federal estabelece que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder 
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. 
Sob essa perspectiva, o meio ambiente assume função dúplice no microssistema jurídico, na medida em que 
representa simultaneamente um direito e um dever dos cidadãos, os quais se posicionam, paralelamente, 
também de forma simultânea, como credores e como devedores da obrigação de proteção respectiva. 
 
Homem é parte indissociável do meio ambiente 
O homem é parte indissociável do meio ambiente. Por intermédio das interações genéticas 
biologicamente evolutivas que se sucederam nos últimos milhares de anos, o meio ambiente produziu a 
espécie humana, cuja vida depende dos recursos nele contidos. Nesse ponto, nem os mais significativos 
avanços tecnológicos permitirão ao homem, em algum momento futuro, dissociar-se do meio ambiente, 
na medida em que a atividade humana inventiva e transformadora depende da matéria nele contida, sob 
todas as suas formas. 
 
Homem é produto (e não proprietário) do meio ambiente 
A capacidade de os indivíduos desestabilizarem o equilíbrio do conjunto de recursos naturais que lhes 
fornece a própria existência tem gerado legítimas preocupações, as quais se intensificaram no último 
século. Afinal, recursos naturais são escassos; determinados danos são irreversíveis ou extremamente 
agressivos à natureza; alterações climáticas tornaram-se problema real; e a poluição se alastra pelos 
grandes centros, entre outras evidências empíricas da crise ambiental. Portanto, o foco no crescimento 
econômico sem a devida preocupação ecológica consiste em ameaça presente e futura para o progresso 
das nações e até mesmo para a sobrevivência da espécie humana. 
O homem apenas progride como ser biológico e como coletividade quando se percebe como produto — 
e não proprietário — do meio ambiente. 
 
Políticas ambientais devem estar em harmonia com o mercado de trabalho e com o desenvolvimento social 
Por outro lado, as políticas públicas ambientais devem conciliar-se com outros valores democraticamente 
eleitos pelos legisladores, como o mercado de trabalho, o desenvolvimento social, o atendimento às 
necessidades básicas de consumo dos cidadãos etc. 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
Dessa forma, não é adequado desqualificar determinada regra legal como contrária ao comando constitucional 
de defesa do meio ambiente (art. 225), ou mesmo sob o genérico e subjetivo rótulo de “retrocesso ambiental”, 
ignorando as diversas nuances que permeiam o processo decisório do legislador, democraticamente investido 
da função de apaziguar interesses conflitantes por meio de regras gerais e objetivas. 
Não se deve desprezar que a mesma Constituição que protege o meio ambiente também afirma que o 
Estado brasileiro deve garantir a livre iniciativa (arts. 1º, IV, e 170) e o desenvolvimento nacional (art. 3º, 
II), erradicar a pobreza e a marginalização, e reduzir as desigualdades sociais e regionais (arts. 3º, III, e 170, 
VII), proteger a propriedade (arts. 5º, “caput” e XXII, e 170, II), buscar o pleno emprego (arts. 170, VIII, e 
6º) e a defender o consumidor (arts. 5º, XXXII, e 170, V). 
 
A proteção ambiental deve conviver com a tutela do desenvolvimento 
O desenho institucional das políticas públicas ambientais suscita, assim, o duelo valorativo entre a 
proteção ambiental e a tutela do desenvolvimento, tendo como centro de gravidade o bem comum e a 
pessoa humana, num cenário de escassez. Portanto, o desenvolvimento econômico e a preservação do 
meio ambiente não são políticas intrinsecamente antagônicas. 
 
Proteção ambiental não significa ausência completa de impacto do homem na natureza 
Nessa medida, a preservação dos recursos naturais para as gerações futuras não pode significar a ausência 
completa de impacto do homem na natureza, consideradas as carências materiais da geração atual e 
também a necessidade de gerar desenvolvimento econômico suficiente para assegurar uma travessia 
confortável para os nossos descendentes. 
O suposto conflito entre meio ambiente e desenvolvimento econômico é tão somente aparente, 
envolvendo diversas nuances, em especial a justiça intergeracional, demandando escolhas trágicas a 
serem realizadas pelas instâncias democráticas (Parlamento e chefia do Poder Executivo), não podendo 
ser decidido apenas com base na convicção de juízes, por mais bem-intencionados que sejam. 
 
Princípio da vedação ao retrocesso não está acima do princípio democrático 
Por fim, o STF ressaltou que o princípio da vedação ao retrocesso não se sobrepõe ao princípio democrático, 
no afã de transferir ao Judiciário funções inerentes aos Poderes Legislativo e Executivo, e nem justifica afastar 
arranjos legais mais eficientes para o desenvolvimento sustentável do país como um todo. 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
TRANSGÊNERO 
Transgênero pode alterar seu prenome e gênero no registro civil mesmo 
sem fazer cirurgia de transgenitalização e mesmo sem autorização judicial 
 
Importante!!! 
Os transgêneros, que assim o desejarem, independentemente da cirurgia de 
transgenitalização, ou da realização de tratamentos hormonais ou patologizantes, possuem o 
direito à alteração do prenome e do gênero (sexo) diretamente no registro civil. 
STF. Plenário. ADI 4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado 
em 28/2 e 1º/3/2018 (Info 892). 
 
Transgênero 
Transgênero é o indivíduo que possui características físicas sexuais distintas das características psíquicas. 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
É uma pessoa que não se identifica com o seu gênero biológico. 
A pessoa sente que ela nasceu no corpo errado. Ex: o menino nasceu fisicamente como menino, mas ele 
se sente como uma menina. 
Assim, o transgênero tem um sexo biológico, mas se sente como se fosse do sexo oposto e espera ser 
reconhecido e aceito como tal. 
 
Transexual 
Da mesma forma, o transexual também possui características físicas sexuais distintas das características 
psíquicas. Ele também não se identifica com o seu gênero biológico. 
Não existe ainda uma uniformidade científica, no entanto, segundo a posição majoritária, a diferença 
entre o transgênero e o transexual é a seguinte: 
Resumindo: 
• transgênero: quer poder se expressar e ser reconhecido como sendo do sexo oposto, mas não tem 
necessidade de modificar sua anatomia. 
• transexual: quer poder se expressar e ser reconhecido como sendo do sexo oposto e deseja modificarsua anatomia (seu corpo) por meio da terapia hormonal e/ou da cirurgia de redesignação sexual 
(transgenitalização). 
 
Identidade de gênero 
Significa a maneira como alguém se sente e a maneira como deseja ser reconhecida pelas demais pessoas, 
independentemente do seu sexo biológico. 
“A identidade de gênero se refere à experiência de uma pessoa com o seu próprio gênero. Pessoas 
transgênero possuem uma identidade de gênero que é diferente do sexo que lhes foi designado no 
momento de seu nascimento. 
Uma pessoa transgênero ou trans pode identificar-se como homem, mulher, trans-homem, trans-mulher, 
como pessoa não-binária ou com outros termos, tais como hijra, terceiro gênero, dois-espíritos, travesti, 
fa’afafine, gênero queer, transpinoy, muxe, waria e meti. Identidade de gênero é diferente de orientação 
sexual. Pessoas trans podem ter qualquer orientação sexual, incluindo heterossexual, homossexual, 
bissexual e assexual.” (Nota Informativa das Nações Unidas. Disponível em https://unfe.org/system/unfe-
91-Portugese_TransFact_FINAL.pdf?platform=hootsuite) 
 
Se o transexual faz a cirurgia de transgenitalização, ele poderá alterar o prenome e o sexo/gênero nos 
assentos do registro civil? 
SIM. Essa possibilidade já foi reconhecida há muitos anos pelo STJ: 
(...) A interpretação conjugada dos arts. 55 e 58 da Lei n. 6.015/73 confere amparo legal para que 
transexual operado obtenha autorização judicial para a alteração de seu prenome, substituindo-o por 
apelido público e notório pelo qual é conhecido no meio em que vive. (...) 
STJ. 4ª Turma. REsp 737.993/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 10/11/2009. 
 
Sendo realizada a retificação do registro, os documentos serão alterados e neles não constará nenhuma 
menção quanto à troca do sexo. 
 
E se não foi feita a cirurgia? Imagine a seguinte situação hipotética: 
Mário, pessoa maior de idade que se identifica como transgênero mulher, ajuizou ação de retificação de 
registro de nascimento para troca do prenome e do sexo masculino para o feminino. 
Na inicial, narrou que, desde tenra idade, embora nascida com a genitália masculina e nesse gênero 
registrada, sempre demonstrara atitudes de criança do sexo feminino. 
Afirmou que foi diagnosticada como portadora de "transtorno de identidade de gênero". 
Mário nunca realizou a cirurgia de transgenitalização. 
 Informativo 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Alegou que sofre muitos transtornos porque sente-se como mulher, veste-se como mulher, mas os dados 
que constam em seus documentos são masculinos (nome e sexo). 
Na ação, Mário pediu para que seu prenome seja alterado para Mariana e seu sexo para feminino. 
Contudo, o empecilho que encontrou foi pelo fato de que não fez a cirurgia de transgenitalização nem 
deseja realizar. 
 
A questão jurídica enfrentada, portanto, pelo STJ foi a seguinte: é possível que o transgênero altere seu 
nome e o gênero no assento de registro civil mesmo que não faça a cirurgia de transgenitalização? 
SIM. Inicialmente o STJ decidiu que: 
O direito dos transexuais à retificação do prenome e do sexo/gênero no registro civil não é condicionado 
à exigência de realização da cirurgia de transgenitalização. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.626.739-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/5/2017 (Info 608). 
 
Agora, o STF avançou sobre o tema e, de forma mais ampla, utilizou a expressão transgênero, afirmando que: 
Os transgêneros, que assim o desejarem, independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da 
realização de tratamentos hormonais ou patologizantes, possuem o direito à alteração do prenome e 
do gênero (sexo) diretamente no registro civil. 
STF. Plenário. ADI 4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 
28/2 e 1º/3/2018 (Info 892). 
 
Premissas da decisão do STF: 
1) O direito à igualdade sem discriminações abrange a identidade ou a expressão de gênero. O respeito à 
identidade de gênero é uma decorrência do princípio da igualdade. 
2) A identidade de gênero é uma manifestação da própria personalidade da pessoa humana. Logo, cabe 
ao Estado apenas o papel de reconhecê-la, nunca de constituí-la. Isso significa que o Estado não diz o 
gênero da pessoa, ele deve apenas reconhecer o gênero que a pessoa se enxerga. 
3) A pessoa não deve provar o que é, e o Estado não deve condicionar a expressão da identidade a 
qualquer tipo de modelo, ainda que meramente procedimental. Assim, se cabe ao Estado apenas o 
reconhecimento dessa identidade, ele não pode exigir ou condicionar a livre expressão da personalidade 
a um procedimento médico ou laudo psicológico. A alteração dos assentos no registro público depende 
apenas da livre manifestação de vontade da pessoa que visa expressar sua identidade de gênero. 
 
Fundamentos jurídicos: 
Constituição Federal 
• direito à dignidade (art. 1º, III, da CF); 
• direito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem (art. 5º, X, da CF). 
 
Pacto de São José da Costa Rica 
• direito ao nome (artigo 18); 
• direito ao reconhecimento da personalidade jurídica (artigo 3); 
• direito à liberdade pessoal (artigo 7.1 do Pacto); 
• o direito à honra e à dignidade (artigo 11.2 do Pacto). 
 
Opinião Consultiva 24/17 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, sobre “Identidade de Gênero e 
Igualdade e Não Discriminação a Casais dos Mesmo Sexo”, publicada em 24.11.2017, na qual se definiram 
as obrigações estatais em relação à mudança de nome, à identidade de gênero e os direitos derivadas de 
um vínculo entre casais do mesmo sexo. Veja trecho da Opinião Consultiva: 
“(...) a Corte Interamericana deixa estabelecido que a orientação sexual e a identidade de gênero, assim 
como a expressão de gênero, são categorias protegidas pela Convenção. 
 Informativo 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Por isso está proibida pela Convenção qualquer norma, ato ou prática discriminatória baseada na 
orientação sexual, identidade de gênero ou expressão de gênero da pessoa. Em consequência, nenhuma 
norma, decisão ou prática do direito interno, seja por parte das autoridades estatais ou por particulares, 
podem diminuir ou restringir, de modo algum, os direitos de uma pessoa à sua orientação sexual, sua 
identidade de gênero e/ ou sua expressão de gênero”. (par. 78). 
“O reconhecimento da identidade de gênero pelo Estado é de vital importância para garantir o gozo pleno 
dos direitos humanos das pessoas trans, incluindo a proteção contra a violência, a tortura e maus tratos, 
o direito à saúde, à educação, ao emprego, à vivência, ao acesso a seguridade social, assim como o direito 
à liberdade de expressão e de associação.” 
 
Interpretação conforme a Constituição e o Pacto de São José da Costa Rica 
O art. 58 da Lei nº 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos) prevê: 
Art. 58. Qualquer alteração posterior de nome só por exceção e motivadamente, após audiência 
do Ministério Público, será permitida por sentença do Juiz a que estiver sujeito o registro, 
arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa. 
Parágrafo único. Poderá também ser averbado, nos mesmos termos o nome abreviado, usado 
como firma comercial registrada ou em qualquer atividade profissional. 
 
O STF, contudo, afirmou que se deve fazer uma nova interpretação desse art. 58 à luz da Constituição 
Federal e do Pacto de São José da Costa Rica. 
 
Exigir cirurgia ou outros procedimentos é contrário à dignidade da pessoa humana 
O Estado deve abster-se de interferir em condutasque não prejudicam a terceiros e, ao mesmo tempo, 
buscar viabilizar as concepções e os planos de vida dos indivíduos, preservando a neutralidade estatal. 
Mostra-se contrário aos princípios da dignidade da pessoa humana, da integridade física e da autonomia 
da vontade condicionar o exercício do legítimo direito à identidade à realização de um procedimento 
cirúrgico ou de qualquer outro meio de se atestar a identidade de uma pessoa. 
Inadmitir a alteração do gênero no assento de registro civil é atitude absolutamente violadora de sua 
dignidade e de sua liberdade de ser, na medida em que não reconhece sua identidade sexual, negando-
lhe o pleno exercício de sua afirmação pública. 
 
Opinião Consultiva 
Conforme consta da Opinião Consultiva 24/17 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, os Estados 
(países) têm a possibilidade de decidir qual é o procedimento que será adotado para a retificação do sexo 
ou nos registros e documentos. No entanto, segundo a Opinão, o procedimento de alteração adotado pelo 
Estado (inclusive o Brasil) deve cumprir os seguintes requisitos: 
a) o procedimento deve respeitar a identidade de gênero auto-percebida pela pessoa requerente; 
b) deve estar baseado unicamente no consentimento livre e informado do solicitante sem que se exijam 
requisitos como certificações médicas ou psicológicas ou outros que possam resultar irrazoáveis ou 
patologizantes; 
c) deve ser confidencial e os documentos não podem fazer remissão às eventuais alterações; 
d) deve ser expedito (célere), e na medida do possível, gratuito; e 
e) não deve exigir a realização de operações cirúrgicas ou hormonais. 
 
O Colegiado assentou seu entendimento nos princípios da dignidade da pessoa humana, da inviolabilidade 
da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem, bem como no Pacto de São José da Costa Rica. 
 
Vimos acima que o transgênero não precisa fazer cirurgia para requerer a alteração do prenome e do 
sexo. Ok. Uma última pergunta, apenas para não ficar dúvidas: a pessoa transgênera precisa de 
autorização judicial para essa alteração? 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
NÃO. O STF entendeu que exigir do transgênero a via jurisdicional para realizar essa alteração 
representaria limitante incompatível com a proteção que se deve dar à identidade de gênero. 
O pedido de retificação é baseado unicamente no consentimento livre e informado do solicitante, sem a 
necessidade de comprovar nada. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
RECURSOS 
Não cabe recurso extraordinário contra decisão do TST que julga PAD 
 
Não cabe recurso extraordinário contra decisão do TST que julga processo administrativo 
disciplinar instaurado contra magistrado trabalhista. 
Compete ao STF julgar, mediante recurso extraordinário, as “causas” decididas em única ou 
última instância (art. 102, III, da CF/88). 
O vocábulo “causa” referido no inciso III do art. 102 da CF/88 só abrange processos judiciais, 
razão pela qual é incabível a interposição de recursos extraordinários contra acórdãos 
proferidos pelos Tribunais em processos administrativos, inclusive aqueles de natureza 
disciplinar instaurados contra magistrados. 
STF. 2ª Turma. ARE 958311/SP, rel. org. Min. Teori Zavaski, red.p/ac. Min. Gilmar Mendes, julgado 
em 27/02/2018 (Info 892). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João era Desembargador do Trabalho aposentado. 
O TST instaurou processo administrativo disciplinar contra ele. 
Ao final, o TST determinou a cassação da aposentadoria de João. 
Contra esta decisão, João interpôs recurso extraordinário para o STF. 
 
Esse recurso extraordinário terá êxito? 
NÃO. O recurso extraordinário não deverá ser conhecido. 
Ao tratar sobre o recurso extraordinário, a CF/88 prevê em seu art. 102, III: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
(...) 
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, 
quando a decisão recorrida: 
a) contrariar dispositivo desta Constituição; 
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; 
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. 
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. 
 
O vocábulo “causa” referido no inciso III do art. 102 da CF/88 só abrange processos judiciais, razão pela 
qual é incabível a interposição de recursos extraordinários contra acórdãos proferidos pelos Tribunais em 
processos administrativos, inclusive aqueles de natureza disciplinar instaurados contra magistrados. 
 
 
 Informativo 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
No mesmo sentido: 
O recurso extraordinário, para revelar-se processualmente cabível, pressupõe, dentre outros requisitos, a 
existência de “causa”, que tenha sido decidida, em única ou última instância (CF, art. 102, III), por órgão 
do Poder Judiciário, no exercício da atividade jurisdicional. 
A decisão emanada de órgão judiciário, proferida em sede materialmente administrativa, de que haja 
resultado a imposição de sanção disciplinar, não se expõe à possibilidade de direta impugnação mediante 
recurso extraordinário, pelo fato de o procedimento disciplinar - em cujo âmbito o Poder Judiciário 
desempenha função de índole correcional - não se qualificar como “causa”, eis que deliberações adotadas 
na esfera meramente administrativa não se revelam impregnadas de caráter jurisdicional. 
STF. 2ª Turma. AI 316458 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 19/03/2002. 
 
Em suma: 
Não cabe recurso extraordinário contra decisão do TST que julga processo administrativo disciplinar 
instaurado contra magistrado trabalhista. 
Compete ao STF julgar, mediante recurso extraordinário, as “causas” decididas em única ou última 
instância (art. 102, III, da CF/88). 
O vocábulo “causa” referido no inciso III do art. 102 da CF/88 só abrange processos judiciais, razão pela 
qual é incabível a interposição de recursos extraordinários contra acórdãos proferidos pelos Tribunais 
em processos administrativos, inclusive aqueles de natureza disciplinar instaurados contra magistrados. 
STF. 2ª Turma. ARE 958311/SP, rel. org. Min. Teori Zavaski, red.p/ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 
27/02/2018 (Info 892). 
 
 
 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
É possível que as associações privadas façam transação em ação civil pública 
 
Importante!!! 
Não tem nos livros!!! 
A associação privada autora de uma ação civil pública pode fazer transação com o réu e pedir 
a extinção do processo, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC. 
O art. 5º, § 6º da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os órgãos públicos podem 
fazer acordos nas ações civis públicas em curso, não mencionando as associações privadas. 
Apesar disso, a ausência de disposição normativa expressa no que concerne a associações 
privadas não afasta a viabilidade do acordo. Isso porque a existência de previsão explícita 
unicamente quanto aos entes públicos diz respeito ao fato de que somente podem fazer o que 
a lei determina, ao passo que aos entes privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe. 
STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892). 
 
Existe previsão legal de que as associações autoras de ações civis públicas possam fazer transação 
nessas ações? 
NÃO. A Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os órgãos públicos podem fazer acordos nas 
ações civis públicasem curso, não mencionando as associações privadas. Confira: 
Art. 5º (...) 
 Informativo 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
§ 6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de 
ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título 
executivo extrajudicial. 
 
Mesmo sem previsão legal as associações privadas podem transacionar em ações civis públicas 
O STF afirmou que, mesmo sem previsão normativa expressa, as associações privadas também podem 
fazer acordos nas ações coletivas. 
Assim, a ausência de disposição normativa expressa no que concerne a associações privadas não afasta a 
viabilidade do acordo. Isso porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos 
diz respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos entes privados 
é dado fazer tudo que a lei não proíbe. 
Para o Min. Ricardo Lewandoswki, “não faria sentido prever um modelo que autoriza a justiciabilidade 
privada de direitos e, simultaneamente, deixar de conferir aos entes privados as mais comezinhas 
faculdades processuais, tais como a de firmar acordos.” 
 
Resumindo: 
A associação privada autora de uma ação civil pública pode fazer transação com o réu e pedir a extinção 
do processo, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC. 
STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892). 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 
Em caso de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada 
 
Importante!!! 
Atualize seus livros! 
A Súmula 608 do STF permanece válida mesmo após o advento da Lei nº 12.015/2009. 
Assim, em caso de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública 
incondicionada mesmo após a Lei nº 12.015/2009. 
STF. 1ª Turma. HC 125360/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado 
em 27/2/2018 (Info 892). 
 
Ação penal no crime de estupro 
A ação penal no crime de estupro deve ser analisada antes e depois da Lei nº 12.015/2009. Veja como 
essa Lei alterou o art. 225 do Código Penal: 
CÓDIGO PENAL 
Antes da Lei nº 12.015/2009 Depois da Lei nº 12.015/2009 
Art. 225. Nos crimes definidos nos capítulos 
anteriores, somente se procede mediante queixa. 
§ 1º Procede-se, entretanto, mediante ação pública: 
I - se a vítima ou seus pais não podem prover às 
despesas do processo, sem privar-se de recursos 
indispensáveis à manutenção própria ou da família; 
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II 
deste Título, procede-se mediante ação penal 
pública condicionada à representação. 
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante 
ação penal pública incondicionada se a vítima é 
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
II - se o crime é cometido com abuso do pátrio poder, 
ou da qualidade de padrasto, tutor ou curador. 
§ 2º - No caso do nº I do parágrafo anterior, a ação 
do Ministério Público depende de representação. 
 
O estupro pode ser praticado mediante grave ameaça ou violência. Se o estupro é praticado mediante 
violência real, qual será a ação penal neste caso? 
Em 1984, o STF editou uma súmula afirmando que se trata de ação pública incondicionada. Confira: 
Súmula 608-STF: No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública 
incondicionada. 
 
Com a edição da Lei nº 12.015/2009, a maioria da doutrina defendeu a ideia de que esta súmula teria sido 
superada. Isso porque o caput do art. 225 do Código Penal falou que a regra geral no estupro é a ação 
pública condicionada. Ao tratar sobre as exceções nas quais o crime será de ação pública incondicionada, 
o parágrafo único do art. 225 não fala em estupro com violência real. Logo, para os autores, teria havido 
uma omissão voluntária do legislador. 
 
O STF acatou esta tese? Depois da Lei nº 12.015/2009, o estupro praticado mediante violência real passou 
a ser de ação pública condicionada? Com a Lei nº 12.015/2009, a Súmula 608 do STF perdeu validade? 
NÃO. O tema ainda não está pacificado, mas a 1ª Turma do STF decidiu que: 
A Súmula 608 do STF permanece válida mesmo após o advento da Lei nº 12.015/2009. 
Assim, em caso de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada. 
STF. 1ª Turma. HC 125360/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 
27/2/2018 (Info 892). 
 
Faça essa observação nos seus livros porque a esmagadora maioria deles diz o contrário. 
Vale ressaltar que é dispensável a ocorrência de lesões corporais para a caracterização da violência real 
nos crimes de estupro. Em outras palavras, mesmo que a violência praticada pelo agressor não deixe 
marcas, não gere lesões corporais na vítima, ainda assim a ação será pública incondicionada. Nesse 
sentido: STF. 2ª Turma. HC 102683, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 14/12/2010. 
 
E no caso de estupro que resulta lesão corporal grave ou morte (art. 213, §§ 1º e 2º)? Qual será a ação 
penal nestas hipóteses? 
A doutrina também defende que neste caso a ação penal seria pública condicionada. 
A Procuradoria-Geral da República ajuizou até mesmo uma ADI contra a nova redação do art. 225 do 
Código Penal, dada pela Lei nº 12.015/2009. 
Na ação, a PGR pede que o caput do art. 225 seja declarado parcialmente inconstitucional, sem redução 
de texto, apenas “para excluir do seu âmbito de incidência os crimes de estupro qualificado por lesão 
corporal grave ou morte, de modo a restaurar, em relação a tais modalidades delituosas, a regra geral da 
ação penal pública incondicionada (artigo 100 do Código Penal e artigo 24 do Código de Processo Penal)”. 
Em outras palavras, a PGR pediu que o STF interprete o art. 225 do CP dizendo que o estupro que resulte 
lesão corporal grave ou morte será crime de ação pública incondicionada. 
O processo é a ADI 4301, que deve ser julgada ainda este ano. 
Vale ressaltar que, com a decisão acima explicada (HC 125360/RJ), ganha força essa ADI proposta pela 
PGR e a tendência é que ela seja julgada procedente. 
 
Resumindo. Ação penal no caso de estupro (após a Lei nº 12.015/2009): 
Regra: ação penal condicionada à representação. 
Exceções: 
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Informativo 892-STF (07/03/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
• Vítima menor de 18 anos: incondicionada. 
• Vítima vulnerável: incondicionada. 
• Se foi praticado mediante violência real: incondicionada (Súmula 608-STF). 
• Se resultou lesão corporal grave ou morte: polêmica acima exposta. Deve ser aplicado o mesmo 
raciocínio da Súmula 608-STF. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
HABEAS CORPUS 
Em regra, não cabe habeas corpus contra decisão transitada em julgado 
 
É cabível habeas corpus contra decisão judicial transitada em julgado? 
1ª) SIM. Foi o que decidiu a 2ª Turma no RHC 146327/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 
27/2/2018 (Info 892). 
2ª) NÃO. É a posição majoritária no STF e no STJ. Vale ressaltar que se houver alguma 
ilegalidade flagrante, o Tribunal poderá conceder a ordem de ofício. 
STF. 2ª Turma. RHC 146327/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/2/2018 (Info 892). 
 
É cabível habeas corpus contra decisão

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