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ARTIGO VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO

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VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO: UM MAL DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.
RESUMO: Este artigo aborda a maneira como o idoso vem sendo tratado no cenário brasileiro. Procura relatar como a sociedade de uma forma geral, negligência o idoso e interfere em seu espaço social e familiar, violentando seus direitos constitucionais. Violência essa, não só física, mas psicológica e que na maioria das vezes parte de pessoas próximas e supostamente de confiança. O abandono nos asilos e casas de repouso, a falta de carinho, a pressão psicológica e o descaso são formas de agressão que muitas vezes passam despercebidas. No entanto estas também são classificadas como agressão. As leis de proteção ao idoso confiam à família e ao Estado a obrigação de assegurar os direitos básicos dos idosos.
PALAVRAS-CHAVES: Sociedade, violência, negligência, maus-tratos.
INTRODUÇÃO
Devido ao crescente aumento da expectativa de vida registrado no Brasil estudos demonstram que nos próximos anos a população brasileira será uma população idosa. Em conseqüência desse envelhecimento populacional, o idoso tornar-se alvo da violência. A agressão a população acima de 60 anos dá-se de diversas formas, a falta de carinho, atenção, pressão psicológica, negligência, abusos financeiros e sexuais e a agressão física propriamente dita. O número de idosos que sofrem algum tipo de abuso é tão grande que esse caso já se tornou um problema de saúde pública. Vale ressaltar que muitas vezes as agressões podem resultar em invalidez ou até mesmo a morte. 
Outro fator que intriga a população em geral é o fato de que a maioria dessas agressões parte de pessoas da família, como filhos e conjugues. A escolha deste tema se deu a partir da necessidade de se conhecer a realidade vivida pelos idosos no Brasil e a partir daí buscar soluções para a falta de iniciativas no combate à violência contra o idoso. Partindo do pressuposto de que os idosos têm muito a contribuir para com a sociedade contemporânea, acredita-se que estudos referentes à realidade vivenciada por eles no contexto social e/ou familiar se tornam imprescindíveis.
É importante salientar que a proposta deste artigo é despertar o interesse da sociedade em compreender a situação da população idosa no Brasil e alertar contra os maus tratos e a negligência sofrida pelos mesmos. Visando colaborar com a formação de uma sociedade consciente e capaz de lidar com as indigências e fragilidades de pessoas com faixa etária acima de 60 anos sem, contudo, desrespeitar seus direitos constitucionais e atender às necessidades básicas dos mesmos.
O presente trabalho iniciará com uma breve explanação sobre como o idoso é tratado no contexto social, enfatizando o direito à vida e como o mundo capitalista trata as pessoas colocadas à margem do mercado de trabalho. No decorrer deste trabalho, será abordado ainda dados referentes à violência contra o idoso no Brasil, as terminologias empregadas para caracterizar cada tipo de violência e por fim dados numéricos referentes ao tema estudado.
DESENVOLVIMENTO
A QUESTÃO DO IDOSO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.
Não é novidade para ninguém que a sociedade mundial vem passando por um acelerado processo de envelhecimento. Por outro lado, não parece ter ficado claro para a comunidade em geral e para as autoridades as causas e as conseqüências desse processo de envelhecimento. Que diz respeito diretamente à própria afirmação dos direitos humanos. Já que a velhice significa o próprio direito que cada ser humano tem de viver muito, mas, certamente, viver com dignidade.
A Constituição federal nos garante o direito à vida, logo todos os seres humanos têm o direito e/ou dever de lutar por condições adequadas e satisfatórias que favoreçam a longevidade. O Estado de uma forma generalizada (esferas federais, estaduais e municipais) precisa desenvolver e disponibilizar as pessoas idosas toda uma rede de serviços capaz de assegurar os seus direitos básicos, no intuito de preservar a dignidade e participação social destas. Quando pensamos em participação social somos remetidos a pensar na maneira com que a sociedade trata os idosos. 
Observa-se ao longo do processo de pesquisa uma intensa contradição. Na maioria das vezes passa a visão negativa do envelhecimento, pois mantém e reproduz a idéia de que a pessoa vale o quanto produz e o quanto recebe por isto e por isso, os mais velhos, à margem do mercado de trabalho e quase sempre, ganhando uma “miserável” aposentadoria, podem ser descartados: são considerados inúteis, sem nenhuma utilidade para o mundo. Mas há também uma visão positiva: aquela que vem da convivência e da valorização da pessoa idosa por sua história, experiência, sabedoria e contribuição às famílias e à sociedade. Carvalho e Papaléo (2006) confirmam o que foi exposto acima quando afirmam que:
(...) vivemos numa sociedade que tem se caracterizado por uma visão utilitarista do ser humano. Freqüentemente, as pessoas são valorizadas pelo critério de ter ou de poder, mais do que pelo de ser. O idoso, freqüentemente improdutivo materialmente e intelectualmente diminuído, corre o risco de ser considerado um indivíduo menos útil e, portanto, menos digno, não só pela sociedade, mas também, infelizmente, pelos próprios profissionais da saúde.
Infelizmente a sociedade atual vê os idosos como um peso que deve ser suportado e carregado nas costas pela população jovem. Na atual fase do capitalismo, fase esta que o financeiro, o dinheiro, a riqueza e o patrimônio são taxados como bens e/ou valores mais importantes que a solidariedade, o amor, a paciência e a fraternidade, não é raro deparar-se com atos desumanos e de pura crueldade contra pessoas acima de 60 anos. 
VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO NO BRASIL.
Tanto no Brasil quanto em todo o resto do mundo, as violencias contra pessoas a partir dos 60 anos se expressam de forma discriminatoria, como o atributo que lhes é impresso como inúteis para a sociedade contêmporanea. Por parte do Estado, o idoso é responsabilizado pelo custo insustentável da Previdência Social, o que se trata de um grande paradoxo já que a grande maioria de idosos deste país não recebem mais de que um misero salário minimo. No ano de 1994 foi promulgada a Lei Federal 8.842 (Brasil, 1994), buscando ordenar a proteção aos idosos. No entanto, como é o caso de muitas leis no Brasil, a implementação é ainda precária. No âmbito das instituições de assistência social e saúde, são freqüentes as denúncias de maus tratos e indolências. Mas nada se iguala aos abusos e descuido no interior de seus respectivos lares.
 A Violência é um comportamento que causa dano a outra pessoa, ser vivo ou objeto. Nega-se autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado. O termo deriva do latim violentia (que por sua vez o amplo, é qualquer comportamento ou conjunto de deriva de vis, força, vigor); aplicação de força, vigor, contra qualquer coisa ou ente. Em um sentido ainda mais amplo para a Rede Internacional para a Prevenção dos Maus Tratos contra o Idoso a violência contra esse grupo etário define-se como “um ato (único ou repetido) ou omissão que lhe cause dano ou aflição e que se produz em qualquer relação na qual exista expectativa de confiança”. Ou seja, quando se diz respeito à violência contra o idoso não se deve pensar apenas em lesões corporais, mas também ao ato de ofender com palavras, denegrir a imagem do idoso ou impedi-los de exercer seus direitos enquanto pessoas, cidadãos. 
 Assim sendo as violências contra idosos se manifestam de três formas, assim classificadas: a estrutural, caracterizada pela desigualdade social evidenciada nas manifestações de pobreza e de discriminação; a interpessoal, refere-se às interações e relações familiares e/ou sociais e a institucional que se refere a aplicação ou à omissão dos direitos assegurados ao idoso pelas instituições de assistência social. A Rede Internacional para a Prevenção dos Maus Tratos contra o Idoso estabeleceu algumas terminologias para designaras várias formas de violências praticadas contra a população idosa, vale salientar que tais terminologias foram oficializadas no documento de Política Nacional de Redução de Acidentes e Violências do Ministério da Saúde (2001). E foram assim classificadas:
Abuso físico, maus tratos físicos ou violência física: se referem ao uso da força física para forçar os idosos a fazerem o que não desejam, para feri-los, provocar-lhes dor, incapacidade ou morte.
Abuso psicológico, violência psicológica ou maus tratos psicológicos: referem-se a agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, humilhar, restringir sua liberdade ou isolá-los do convívio social.
Abandono: manifestado pela ausência ou descaso dos responsáveis governamentais, institucionais ou familiares.
Negligência: refere-se à omissão de cuidados indispensáveis aos idosos, por parte dos responsáveis familiares ou institucionais.
Abuso financeiro e econômico: manifestado na exploração ilegal dos idosos ou ao uso não consentido por eles de seus recursos financeiros e patrimoniais.
Auto-negligência: diz respeito à conduta da pessoa idosa que ameaça sua própria saúde ou segurança, pela recusa de prover cuidados necessários a si mesma. 
As várias terminologias citadas acima vêm enfatizar que a violência contra o idoso é algo concreto e que se dá de várias formas sendo a negligência uma das formas de violência contra o idoso mais presente no Brasil, e geralmente se manifesta, associada a outros abusos que geram lesões e traumas físicos, emocionais e sociais, ocorrem principalmente contra os idosos que se encontram em situação de dependência ou incapacidade. Vários estudos sobre o tema abordado enfatiza, como a mais freqüente forma de violência contra os idosos, a que acorre no âmbito familiar. Chavez (2002) e Kleinschmidt (1997) demonstram que 90% dos casos de maus-tratos e negligência contra idosos ocorrem nos lares. Além disso estes estudos demonstram que na maioria dos casos os agressores são filhos, conjugues ou outros parentes de primeiro e terceiro grau. A questão da negligência contra os idosos não é um fenômeno novo. “No entanto, apenas nas últimas duas décadas é que essa questão começou a despertar o interesse da comunidade científica” (FREITAS et al, 2006).
	
OS NÚMEROS DA VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO NO BRASIL.
De acordo com o Censo 2000, os idosos no Brasil representavam 8,6% da população, o que equivale a um contingente de 14,5 milhões de pessoas. Em relação a 1991, houve um crescimento de 35,5% na quantidade total de pessoas idosas. O que demonstra o crescente aumento da população com faixa etária acima de 60 anos, em consequência, com o aumento populacional houve também o aumento de casos de maus tratos e negligência contra o idoso.
Pesquisas comprovam que no Brasil atualmente, as violências e os acidentes constituem 3,5% dos óbitos de pessoas com faixa etária acima de 60 anos, ocupando o sexto lugar na mortalidade, depois das doenças do aparelho circulatório, das neoplasias, das enfermidades respiratórias, digestivas e endócrinas. Um outro dado relevante e que deve-se levar em conta é que cerca de 13.000 idosos morrem por acidentes e violências por ano, totalizando, uma média de 35 óbitos por dia, sendo que destes (66%) são de homens e (34%), de mulheres. Acredita-se que a grande diferença no número de óbitos entre os sexos está no fato de os idosos do sexo masculino tentarem reagir às agressões. Cerca de 93.000 idosos que se internam por ano por causa de quedas (53%), violências e agressões (27%) e acidentes de trânsito (20%).
Observa-se ainda que a maioria de idosos que vivem em casa própria e a metade dos que vivem em instituições de cuidado ao idoso (asilos e/ou casa de repouso) sofrem pelo menos uma queda a cada ano. A fratura de colo e a do fêmur é a principal causa de hospitalização chegando a triste estimativa que metade desses idosos chegam ao óbito em menos de um ano, a outra metade se torna totalmente dependente de seus entes, o que favorece o crescimento de casos de maus tratos e abandono. De acordo com Souza et al (2007).
(..) as preocupações com os maus-tratos aos idosos aumentaram, também, em conseqüência de uma conscientização mundial de que, nas próximas décadas, haverá um importante aumento demográfico nesse segmento da população. Dessa forma, a Organização Mundial de Saúde entende por maus-tratos e negligência como uma ação única ou repetida, ou ainda a ausência de uma ação devida, que causa sofrimento ou angústia, e que ocorre em uma relação em que haja expectativa de confiança. 
Sousa aponta que quaisquer ações que causem sofrimento ou angustia deve ser considerado como maus tratos. Dessa forma a exploração financeira se qualifica como uma ação violenta contra o idoso. O que é um abuso já que, apenas 25% dos idosos aposentados vivem com três salários mínimos ou mais. Portanto, a maioria deles é pobre e miserável, fazendo parte de famílias pobres e miseráveis, e o pouco que ganham não é suficiente para suprir suas necessidades básicas, e ainda sim na maioria das vezes os próprios familiares se apoderam da aposentadoria dos mesmos. Embora a questão social seja um problema muito mais amplo do que o que aflige os mais velhos, eles são o grupo mais vulnerável (junto com as crianças) por causa das limitações impostas pela idade, pelas injunções das histórias de perdas e por problemas de saúde e de dependência, situações que na velhice são extremamente agravadas. 
Em nosso país, em 1994, após longos anos de cobranças de instituições da sociedade civil, o governo federal promulgou a Lei Federal 8.842/94, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, política essa que foi regulamentada em 1996. Por essa lei ficam definidos os direitos do idoso e as responsabilidades dos governos em níveis federal, estadual e municipal, no seu atendimento. É ressalvada também a responsabilidade da família e da sociedade no cumprimento da legislação (FREITAS et al, 2006). 
CONCLUSÃO
A imagem errônea de que o idoso é um peso morto, doente, apático, incapacitado e dependente faz com que o número de casos de agressão contra o idoso aumente cada vez mais gerando confrontos sociais e comportamentos hostis por parte de membros da família e/ou da comunidade a que o idoso está inserido. Tais comportamentos são, principalmente, praticados pelos mais jovens que se julgam fortes e capazes de controlar o seu meio. Por esta razão é importante um envelhecimento ativo e participativo em que toda família esteja envolvida nas atividades do cotidiano.
No entanto, uma parcela considerável da população brasileira se acha no direito de maltratar e abusar dessas pessoas que contribuíram durante boa parte de suas vidas para o crescimento e educação dos que na maioria das vezes são os seus carrascos. Na tentativa de legitimar os direitos dos idosos e assegurar que a família e o Estado se comprometam com o bem estar dessas pessoas o Ministério da Saúde (2003), afirma em seu artigo 3.º que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
 Além disso, acredita-se que somente criar leis de proteção e amparo a essas pessoas não é suficiente, é imprescindível que o Estado em todas as suas esferas (federal, estadual e municipal) fiscalize e punam agressores e pessoas omissas aos casos de maus-tratos e negligência contra o idoso. Os dados apresentados ao longo do desenvolvimento deste trabalho confirmam que o número de casos registrados de violência e abuso contra idosos vem aumentando, este é outro dado importante, pois, observa-se que o medo de denunciar e lutar pelos direitos humanos vem diminuindo ao longo dos anos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
BRASIL. Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idosoe dá outras providências. Brasília: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, vol. 132,1994.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências. Brasília, 2001
BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto do idoso.Série E. Legislação de Saúde.1.ª edição.Brasília, 2003.
CARVALHO, Eurico Thomaz de Filho; Matheus Papaléo Netto. Geriatria – fundamentos, clínicas e terapêutica. 2ªed. São Paulo: Atheneu, 2006.
CHAVEZ, N., 2002. Violence Against Elderly. 14 April 2002. Disponivel em <http:/www.health.org/referrals/resguides. asp>. Acesso em 18/08/2010
FREITAS, Elizabete Viana de., et AL. Tratado de geriatria e gerontologia. 2ªed. Rio de Janeiro: Guanabara & Koogan, 2006.
KLEINSCHIMIDT, K. C., 1997. Elder abuse: A review. Annals of Emergency Medicine, 30:463-472.
SOUZA, Jacy Aurélia Vieira de., et al. Violência contra os idosos: análise documental. Rev. bras. enferm. v.60 n.3 Brasa maio/jun. 2007.Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003471672007000300004&lng=pt&nrm=iso. Acesso em:18/08/2010.
*Acadêmicos do curso de Serviço Social, ofertado pela EADCON/UNITINS.

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