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MANUAL CASEIRO 40 DIREITO PROCESSUAL PENAL Conteúdo 03: Investigação Preliminar 6. Investigação Preliminar O Estado ao tomar conhecimento de uma infração penal, no uso do seu ius puniendi, dá inicio a persecução penal. Assim, o que até então estava somente em um plano abstrato (normas), passa a existir no plano concreto, através da persecução penal, que pode ser compreendida como “conjunto de atividades levadas adiante pelo Estado, objetivando a aplicação da norma penal ao infrator da lei”. Nessa esteira, temos que a persecução penal é composta por uma fase preliminar investigatória e por uma fase judicial. A fase preliminar, na maior parte das vezes é marcada pela existência do Inquérito Policial. O inquérito policial figura como principal instrumento investigatório. Contudo, não se trata do único meio, existindo outras formas, por exemplo, as investigações feita pelo MP, pelas CPIS e TCO. � O estudo da investigação preliminar não se limita apenas ao estudo do inquérito policial (uma das espécies de investigação preliminar). Nesse contexto, estudaremos ainda sobre “investigação criminal defensiva, investigação criminal pelo Ministério Público, pelas CPIS”. Em um primeiro momento iremos nos debruçar sobre o estudo do “inquérito policial”. 6.1 Conceito de Inquérito Policial Segundo Brasileiro, o inquérito policial deve ser compreendido como sendo “procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade presidido pela autoridade policial, com o objetivo de identificar fontes de prova e colher elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo”. �É um procedimento administrativo: não é processo, mas sim um procedimento. Tendo natureza de procedimento, não resultará na imposição de sanção penal de imediato. Além disso, nessa fase não há observância do contraditório. Tem natureza instrumental. �É um procedimento inquisitório e preparatório: não há na fase do inquérito policial direito ao contraditório. Obs.: A Lei nº 13.245/16 disciplinou que o advogado tem direito de assistir os seus clientes durante as investigações. Contudo, essa prerrogativa não retira o caráter inquisitorial do inquérito policial. �Presidido pela Autoridade Policial: o inquérito policial será presidido pela autoridade policial, referindo-se à “pessoa” do Delegado de Polícia (Lei nº 12.830/13 – art. 2º. As funções de polícia judiciária e a apuração das infrações penais exercidas pelo Delegado de Polícia são de natureza jurídica, MANUAL CASEIRO 41 essenciais e exclusivas de Estado”. Ademais, o §1º estipula “Ao Delegado de Polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais”. Diante dos diplomas legais acima apontados, resta claro que a autoridade policial a qual o CPP faz menção é a figura do “Delegado de Polícia”, sendo atribuição deste a presidência do Inquérito Policial”. �Objetivo de identificar fontes de prova e colher elementos de informação: inicialmente, cumpre destacar que as expressões fontes de prova e elementos de informação não possuem o mesmo sentido. Nessa linha, fontes de prova são todas pessoas ou coisas que tem algum conhecimento sobre o fato delituoso, são anteriores ao processo e tem sua existência independentemente do próprio processo. Fontes de prova é tudo que esta fora dos autos e que tem algum conhecimento sobre o fato delituoso. As fontes de prova deriva do fato delituoso independentemente do processo, e são por trazerem alguma informação sobre a autoria e/ou materialidade do fato delituoso. Difere das fontes de prova, os elementos de informação. À luz do art. 155 do CPP, o que é colhido durante o inquérito policial são “elementos de informação”. O termo prova deve ser resguardado para a fase judicial, aquilo que é produzido em juízo com observância do contraditório. Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Nessa tinha, temos que a prova é produzida em contraditório judicial, ao passo que, os elementos informativos são colhidos na fase de investigação. �Finalidade de subsidiar a ação penal (justa causa – lastro probatório mínimo para o ajuizamento da ação penal). 6.2 Função do Inquérito Policial (Dupla Função) a. Função preservadora: a existência prévia de um inquérito policial inibe a instauração de um processo penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando custos desnecessários para o Estado. Assim, através da instauração do IP tenta-se impedir a instauração de processos penais levianos, sobre pessoas inocentes. MANUAL CASEIRO 42 O inquérito policial também possui uma função preservadora (importante para os Concursos de Defensoria ). Fala-se em função preservadora pelo fato de que o inquérito serve como instrumento de inibir a instauração de um processo destituído de elementos de autoria e materialidade, ou seja, um processo temerário. �A função preservadora foi objeto de questão na última prova de Delegado de Polícia do Estado do Pará, realizado pela FUNCAB. (Já Caiuuuu!) b. Função preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo. 6.3 Natureza Jurídica do Inquérito Policial Candidato, qual a natureza jurídica do Inquérito Policial? Trata-se de um PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. Não é processo judicial, pois dele não resulta diretamente a imposição de sanção penal. Em virtude disso, não há que se falar em contraditório ou ampla defesa nessa etapa. Por tratar-se de procedimento, eventual vício constante do inquérito, não anulará posterior processo em fase seguinte (não contamina a fase judicial), com exceção das provas ilícitas. �Eventuais vícios do inquérito policial não contaminam a ação penal subsequente, SALVO as chamadas provas ilícitas. Pretensão Punitiva Investigação Preliminar Fase Judicial Vícios � NÃO contaminam o processo penal subsequente. Exceção: provas ilícitas. STF: “(...) Os vícios existentes no inquérito policial não repercutem na ação [tecnicamente é processo] penal, que tem instrução probatória própria. Decisão fundada em outras provas constantes dos autos, e não somente na prova que se alega obtida por meio ilícito”. (STF, 2ª Turma, HC 85.286, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 29/11/2005, DJ 24/03/2006). Por outro lado, temos a exceção no caso de PROVA ILÍCITA, vejamos: STJ: “(...) No caso em exame, é inquestionável o prejuízo acarretado pelas investigações realizadas em desconformidade com as normas legais, e não convalescem, sob qualquer ângulo que seja analisada a questão, porquanto é manifesta a nulidade das diligências perpetradas pelos agentes da ABIN e um ex-agente do SNI, ao arrepio da lei. Insta assinalar, por oportuno, que o juiz deve estrita fidelidade à lei penal, dela não podendo se afastar a não ser que imprudentemente se arrisque a MANUAL CASEIRO 43 percorrer, de forma isolada, o caminho tortuoso da subjetividade que, não poucas vezes, desemboca na odiosa perda da imparcialidade.Ele não deve, jamais, perder de vista a importância da democracia e do Estado Democrático de Direito. Portanto, inexistem dúvidas de que tais provas estão irremediavelmente maculadas, devendo ser consideradas ilícitas e inadmissíveis, circunstâncias que as tornam destituídas de qualquer eficácia jurídica, consoante entendimento já cristalizado pela doutrina pacífica e lastreado na torrencial jurisprudência dos nossos tribunais”. (STJ, 5ª Turma, HC 149.250/SP, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu, j. 07/06/2011, DJe 05/09/2011)”. 6.4 Finalidade do Inquérito Policial O inquérito policial possui a finalidade de identificar fontes de prova e proceder com a colheita de elementos informativos acerca da materialidade e autoria da infração penal. a. Identificar fontes de prova; b. Colheita de elementos informativos (materialidade a autoria da infração penal). O art. 155 do CPP trouxe a distinção entre os elementos informativos e a prova. Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. � Prova: aquilo que é produzido em contraditório judicial. � Elementos informativos: colhidos na investigação. � Exceções: provas cautelares/ não repetíveis e antecipadas. Vamos esquematizar as diferenças peculiares entre elementos de informação e provas? Esquematizando Elementos Informativos Provas - Colhidos na fase investigatória (IP, PIC, etc.). - Em regra, produzido na fase judicial sob o crivo do contraditório judicial. É a regra, porque existem situações excepcionais em que a prova seria produzida sem ser na fase judicial. - Não é obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa; (mesmo com o advento da Lei nº 13.245/2016). - É obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa. - O juiz deve intervir apenas quando necessário, e desde que seja provocado nesse sentido. [Em nosso OJ não se admite a atuação de oficio do magistrado na fase investigatória. Não é dotado de iniciativa acusatória]. - A prova deve ser produzida na presença do juiz. A presença pode ser direta ou remota. Durante o processo, o juiz é dotado de certa iniciativa probatória, a ser exercida de maneira residual. Art. 212, CPP. Finalidade: úteis para a decretação de medidas cautelares e auxiliam na formação da opinio delicti (convicção do titular da ação penal). Finalidade: Auxiliar na formação da convicção do juiz. O art. 155 menciona que o juiz deve se valer da prova para formar sua convicção. �Sistema do livre convencimento motivado. MANUAL CASEIRO 44 Obs.1: O fato de o advogado assistir o investigado na fase do inquérito policial não retira daquele a característica de ser “elemento informativo”. Obs.2: O juiz não deve atuar de ofício na fase investigatória, sob pena de violação ao sistema acusatório e do princípio da imparcialidade. Na fase investigatória o juiz deve intervir apenas quando necessário, e desde que seja provocado nesse sentido. Obs.3: O juiz pode fundamentar sua decisão com base apenas nos elementos informativos? Nos termos do art. 155 do CPP, não pode ser se for exclusivamente. O JUIZ NÃO PODE CONDENAR COM BASE APENAS com o que consta no IP, pode utilizá-lo de maneira a complementá-lo. JÁ CAIU CESPE: (PC GO, 2016) juiz é livre para apreciar as provas e, de acordo com sua convicção íntima, poderá basear a condenação do réu exclusivamente nos elementos informativos colhidos no IP. ERRADO!!! Nos termos do art. 155 do Código de Processo Penal, embora o juiz possua liberdade para apreciar as provas, é necessário motivação, e não poderá proferir condenação com base exclusivamente nos chamados “elementos informativos”. Vejamos a legislação: Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Diante do exposto, temos que “elementos informativos, isoladamente considerados, não podem fundamentar uma sentença. Porém, tais elementos não devem ser desprezados durante a fase judicial, podendo se somar à prova produzida em juízo para auxiliar na formação da convicção do magistrado”. STF: “(...) Padece de falta de justa causa a condenação que se funde exclusivamente em elementos informativos do inquérito policial. Garantia do contraditório: inteligência. Ofende a garantia constitucional do contraditório fundar-se a condenação exclusivamente em testemunhos prestados no inquérito policial, sob o pretexto de não se haver provado, em juízo, que tivessem sido obtidos mediante coação”. (STF, 1ª Turma, RE 287.658/MG, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 03/10/2003). Provas Cautelares X Provas não repetíveis x Provas antecipadas MANUAL CASEIRO 45 O artigo 155, do CPP, menciona que o juiz, excepcionalmente, pode fundamentar sua decisão com base as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. São expressões sinônimas? Não, vejamos a distinção entre as referidas espécies de provas. Esquematizando Provas Cautelares Provas Não repetíveis Provas Antecipadas São aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da prova em razão do decurso do tempo. São de natureza urgente. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Dependem de autorização judicial, sendo que o contraditório será diferido. Exemplo: interceptação telefônica. Precisa de ser produzida de imediato, sob risco de perecer. É aquela que uma vez produzida não tem como ser novamente coletada e razão do desaparecimento da fonte probatória. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Não dependem de autorização judicial, sendo que o contraditório será diferido. Exemplo: Exame de corpo de delito em infração penal cujos vestígios podem desaparecer. São aquelas produzidas em contraditório real em momento processual distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início do processo, em virtude de situação de urgência e relevância. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Dependem de autorização judicial, sendo que o contraditório será real. Exemplo: Art. 225, CPP. Testemunha que esta correndo risco de morte. 6.5 Atribuição para a presidência do Inquérito Policial: funções de polícia administrativa, judiciária e investigativa. O inquérito policial é presidido pelo Delegado de Polícia. a. Polícia Administrativa: polícia de caráter ostensivo, espécie de polícia que visa inibir a prática de delitos, por exemplo, polícia militar. Objetivo: prevenir a prática de infrações penais. b. Polícia Judiciária: polícia que atua auxiliando o Poder Judiciário no cumprimento de suas ordens. c. Polícia investigativa: é a polícia investigando a prática de infrações penais. Existe doutrina distinguindo a polícia judiciária da polícia investigativa (funções de polícia judiciária e funções de polícia investigativa). Polícia Judiciária Polícia Investigativa Polícia atuando em cumprimento as ordens do poder judiciário. Polícia atua na apuração das infrações penais. Atribuição do Delegado de Polícia: presidência do Inquérito Policial. - Lei nº. 12.830/2013 MANUAL CASEIRO 46 Art. 2º. As funções de políciajudiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo Delegado de Polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. §1º. Ao delegado de polícia, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo, a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. Embora a atribuição da presidência do inquérito policial seja exclusiva da polícia, existem outros meios de investigação que poderão ser feitos por outro órgão, que não a Polícia Judiciária. (Ex. Ministério Público realiza PIC - Procedimento Investigatório Criminal). §2º. Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos. (Desde que respeitada a Cláusula de Reserva de Jurisdição: por expressa previsão constitucional, compete exclusivamente aos órgãos do Poder Judiciário, com total exclusão de qualquer outro órgão estatal, a prática de determinadas restrições a direitos e garantias individuais). §4º. O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia das investigações. �Os Delegados de Polícia não são dotados da garantia da independência funcional, inamovibilidade. �Na hipótese de avocação ou redistribuição será necessário a fundamentação. §5º. A remoção do Delegado dar-se-á somente por ato fundamentado. A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado. (§5º, Art. 2, Lei 12.830/13). Isto porque Delegado de Polícia não é dotado da garantia da inamovibilidade. Decisão �somente por ATO FUNDAMENTADO! A Lei nº 13.344/2016 – altera o código de processo penal para introduzir dois novos dispositivos – Art. 13-A e Art. 13-B do CPP. Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público MANUAL CASEIRO 47 ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá: I - o nome da autoridade requisitante; II - o número do inquérito policial; e III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação. � Com o advento da referida lei, passa a ser possível a requisição de informações dos dados cadastrais tanto da vítima quanto dos suspeitos. Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016). Trata-se da chamada “estação rádio base: ERB”. Natureza do crime e atribuição para as investigações a) Crime militar da competência da Justiça Militar da União: as investigações serão realizadas pelas Forças Armadas através de um inquérito policial militar, no qual um oficial será designado como encarregado. b) Crime militar da competência da Justiça Militar Estadual: as funções de polícia judiciária serão exercidas pela Polícia Militar ou pelo Corpo de Bombeiros – oficial designado como encarregado. c) Crime eleitoral: em regra, as investigações ficaram a cargo da Polícia Federal. E se na cidade onde houver sido cometido o crime eleitoral não contar com Polícia Federal? Polícia Civil (entendimento do TSE). d) Crime “Federal”: crimes da competência da Justiça Federal (aqueles que estão listados nos incisos do art. 109 CF): as investigações ficarão a cargo da Polícia Federal. e) Crime comum da Competência da Justiça Estadual: em regra, a investigação será realizada pela Polícia Civil. MANUAL CASEIRO 48 A Polícia Federal também pode investigar crimes da competência da Justiça Estadual, desde que tais delitos sejam dotados de repercussão interestadual ou internacional e houver previsão legal. Nesse sentido, proclama a Constituição Federal: CF, Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei. Por outro lado, a Legislação: Lei n. 10.446/02: “Art. 1º Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das seguintes infrações penais”. “Dentre outras”: refere-se a um rol exemplificativo. I – sequestro, cárcere privado e extorsão mediante sequestro (arts. 148 e 159 do Código Penal), se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima; II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei n. 8.137/90) III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de que seja parte; e IV - furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação. V - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou distribuição do produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado (art. 273 do CP). (inciso V acrescentado pela Lei n. 12.894/13). VI – furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias ou caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação criminosa em mais de um Estado da Federação (inciso VI acrescentado pela Lei n. 13.124/15, com vigência em 22/05/2015). Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de outros casos, desde que tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça. MANUAL CASEIRO 49 �Terrorismo (Legislação especial): o art.11 da Lei n. 13.260/16 atribui à Polícia Federal a atribuição para investigar os crimes ali previstos; 6.6 Características do Inquérito Policial a. Procedimento escrito: é um procedimento que deve ser documentado. Tem que documentar e relatar todos os elementos que foram encontrados. Nesse sentido, dispõe o artigo 9º do Código de Processo Penal: Art. 9º. Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. - Será que atos do inquérito podem ser gravados pelo Delegado? Importante destacar que com a inovação dos recursos é possível ainda que atos do inquérito sejam gravados. Assim, contemplamos que inobstante o art. 9º do CPP, não mencione a possibilidade de forma expressa, a regulamentação do art. 405, §1º, em uma interpretação extensível nos leva a compreensão que caberia sim a gravação. O art. 405, § 1º. Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações. Desse modo, podemos afirmar que os autos do inquérito policial podem ser gravados. Devem ser feitos de maneira que o investigado tenha conhecimento. b. Procedimento dispensável: se houver como formar a justa causa (lastro probatório mínimo qe demonstre os indícios mínimos de autoria e materialidade do crime), que não pelo inquérito policial, poderá este último ser dispensado. Assim, se já houver uma peça de informação com todos os elementos necessários de autoria e materialidade do crime, o inquérito poderá ser dispensado. Nesse sentido, dispõe o art. 39, § 5º do CPP: MANUAL CASEIRO 50 Art. 39, §5º. O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. Obs.1: Nessa esteira, o STF já decidiu (Info 714), que é possível o oferecimento de ação penal com base em provas colhidas no âmbito de inquérito civil conduzido por membro do Ministério Público. c. Sigiloso: o artigo 20, do CPP dispõe que a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Nas investigações, EM REGRA, o inquérito policial deve ser conduzido de maneira sigilosa. O sigilo é importante para assegurar a eficácia das investigações, por exemplo, não pode divulgar a decretação da interceptação telefônica, sob pena da prova restar prejudicada. É cediço que a CF, em seu art. 93, IX garante o direito a publicidade. Contudo, o princípio da publicidade é válido na fase judicial da persecução penal. Durante a investigação preliminar deve tramitar de forma sigilosa, sob pena de frustrar a eficácia das medidas. Nesse sentido, o CPP: Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito, o sigilo necessário a elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Exceção: Publicidade – Retrato Falado: O retrato falado chega a ser, inclusive, importante para o desenvolvimento das investigações a publicidade nesta hipótese. Nesse caso, a publicidade é de caráter importante para constatar outras pessoas que foram vítimas daquele criminoso. 6.6.3.1 Acesso do Advogado aos autos do Inquérito Policial O advogado tem acesso aos autos do Inquérito Policial? Precisa de procuração? Precisa de autorização Judicial prévia? Qual o grau de acesso? CF, art. 5º. LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado. Estatuto da OAB, Art. 7º – São direitos do advogado: XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, MESMO SEM PROCURAÇÃO, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital. §10º. NOS AUTOS SUJEITOS A SIGILO, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos que trata o inciso XIV.
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