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Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 1 Capítulo 1 Fundamentos de propagação de erros em medidas experimentais 1. Grandeza – definição Grandeza é tudo o que pode ser medido. A grandeza obedece à seguinte equação característica: Grandeza = valor medido + unidade O valor medido pode ser obtido por um método direto (instrumento de medição) ou indireto (cálculo) e sempre deve ser apresentado da seguinte forma: Valor medido = valor médio ±±±± desvio ou erro Portanto, a equação característica completa da grandeza é assim descrita: Grandeza = (valor médio ±±±± desvio ou erro) + unidade Por sua vez, a unidade é uma simples comparação do valor medido com uma padrão pré estabelecido vigente no cenário experimental. Nem sempre a unidade existe e, neste caso, quando a grandeza não possui unidade ela é denominada adimensional. Em Engenharia Experimental o cenário experimental é regido no Brasil, em termos de unidades, pelo Sistema Internacional de Unidades, que será apresentado a seguir. 2. Sistema Internacional de Unidades (SI) O Sistema Internacional de Unidades (SI) é composto de 7 grandezas básicas, chamadas FUNDAMENTAIS, de onde deduzem-se as outras, denominadas DERIVADAS. As grandezas básicas do SI são resumidas na tabela 1.1. Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 2 Tab. 1.1: grandezas fundamentais do SI Grandeza Unidade Símbolo Comprimento metro m Massa quilograma kg Tempo segundo s Temperatura termodinâmica quelvin K Intensidade de corrente elétrica ampère A Intensidade luminosa candela cd Quantidade de matéria mol mol Das grandezas que se derivam das fundamentais são citados alguns exemplos a seguir: a) Velocidade: V = d/t = distância/tempo Unidade SI: metro por segundo = m/s b) Aceleração: a = V/t = velocidade/tempo Unidade SI: metro por segundo elevado ao quadrado = m/s2 c) Força: F = m . a = massa . aceleração ( 2a Lei de Newton ) Unidade SI: quilograma x metro por segundo ao quadrado = kg.m/s2 Ou ainda: 1 kg.m/s2 = 1 Newton = 1 N d) Trabalho, Energia: E = F . d = força . deslocamento Unidade SI: quilograma x metro ao quadrado por segundo ao quadrado = kg.m2/s2 Ou ainda: 1 kg.m2/s2 = 1 Joule = 1 J As unidades do SI podem ainda ser precedidas de prefixos gregos, que equivalem às potências de 10 cujos expoentes são múltiplos de 3, ilustrados na tabela 1.2. Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 3 Tab. 1.2: prefixos gregos e suas potências de 10 Prefixo Símbolo Extenso Decimal Potência de dez exa E quintilhão 1.000.000.000.000.000.000 1018 peta P quadrilhão 1.000.000.000.000.000 1015 tera T trilhão 1.000.000.000.000 1012 giga G bilhão 1.000.000.000 109 mega M milhão 1.000.000 106 quilo k mil 1.000 103 hecto h cem 100 102 deca da dez 10 101 unidade - unidade 1 100 deci d décimo 0,1 10-1 centi c centésimo 0,01 10-2 mili m milésimo 0,001 10-3 micro µ milionésimo 0,000.001 10-6 nano n bilionésimo 0,000.000.001 10-9 pico p trilionésimo 0,000.000.000.001 10-12 femto f quadrilionésimo 0,000.000.000.000.001 10-15 atto a quintilionésimo 0,000.000.000.000.000.001 10-18 3. Erros aleatórios e erros sistemáticos Quando se mede uma determinada grandeza física, há fontes de erro que prejudicam sua exatidão e/ou precisão. Por mais cuidadosa que seja a medida realizada, sempre haverá uma fonte de erro que levará ao que se denomina erro experimental. Estes são classificados em dois diferentes grupos: erros aleatórios e erros sistemáticos. Os erros aleatórios são caracterizados por flutuações, para cima ou para baixo, que tornam aproximadamente a metade das medidas feitas de uma mesma grandeza (numa mesma situação experimental) desviada para cima, e a outra metade desviada para baixo. Esse tipo de erro experimental afeta a precisão da medida realizada e é causado por: • Método de observação utilizado: erros que surgem devido à análise feita pelo observador ao fazer uma leitura abaixo da menor divisão da escala; • Flutuações ambientais: alterações imprevisíveis na tensão da rede, vibrações ambientais, correntes de ar, etc. Embora seja impossível eliminar esses erros no processo de medida, é possível tratá-los de forma quantitativa utilizando-se de métodos estatísticos para fazer com que seus efeitos no resultado possam ser determinados. Diferentemente dos erros aleatórios, os erros sistemáticos são gerados por fontes que podem ser identificadas e, geralmente, podem ser compensados ou eliminados. Tais erros não afetam a precisão da medida, mas sim sua exatidão fazendo com que o valor medido esteja acima ou abaixo do valor real. São exemplos de fontes de erros sistemáticos: Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 4 • Método de observação utilizado: medir o instante de ocorrência de um relâmpago através dos ruídos do trovão a ele associado; • Instrumento utilizado: a medida do comprimento de uma folha de papel com uma régua de plástico que ficou muito tempo exposta a altas temperaturas; • Efeitos ambientais: medir a velocidade do som sem se preocupar com a temperatura ambiente que pode influenciar no resultado; • Modificações na teoria: estudar o movimento de um dado móvel sem levar em conta a resistência imposta pelo ar. Portanto, aquele que realiza a experiência deve ter o cuidado de eliminar o maior numero possível dessas fontes de erro de forma a garantir maior exatidão na medida realizada. 4. Instrumentação laboratorial e seus desvios de medida Basicamente em Engenharia Experimental os instrumentos podem ser classificados como analógicos e digitais. Como exemplos de instrumentos analógicos têm-se a régua (fig. 1.1), a fita métrica (fig. 1.2), a trena (fig. 1.3) e o paquímetro (figs. 1.4 e 1.5). Como instrumento digital tem-se, por exemplo, a balança digital. Fig. 1.1: réguas utilizadas em medições simples Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 5 Fig. 1.2: fita métrica enrolada Fig. 1.3: trena Fig. 1.4: paquímetro típico Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 6 Fig. 1.5: paquímetro – leitura utilizando o nônio ou vernier Fig. 1.6: balança digital Todo instrumento laboratorial possui limitações de medidas (desvios) previstos em seus projetos e que devem ser levados em consideração em toda a medição por ele efetuada. Em Engenharia Experimental a regra do desvio experimental para a instrumentação apresentada nas figuras 1.1 a 1.6 é a seguinte: I) Régua, fita métrica e trena: o desvio adotado é dado pela metade da menor divisão da escala do instrumento � desvio = 0,05 cm; Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor BonoraFACENS Página 7 II) Paquímetro: o desvio adotado é dado pela sua resolução, ou seja, no caso do paquímetro da fig. 1.5: desvio = 0,1 mm = 0,01 cm; III) Balança digital: o desvio adotado é dado pela resolução na escala digital; como esta balança só possui uma casa decimal � desvio = 0,1 g; 5. Algarismos significativos Para estudar-se e compreender-se a idéia e utilização de algarismos significativos, analisar-se-á a figura 1.7 onde se faz a medida do comprimento de um objeto. Para realizar tal medida utilizam-se duas réguas cada uma delas apresentando diferentes divisões em sua escala, ambas em cm. Fig. 1.7: medida do comprimento de um objeto efetuada por duas réguas distintas A medida obtida através da régua ilustrada na fig. 1.7(a) é dada por Xa = 7,8 cm sendo que o algarismo 7 é correto e o 8 é duvidoso, pois teve-se que estimá- lo. Já a medida realizada com a régua ilustrada na fig. 1.7(b) fornece como resultado Xb = 7,85 cm com os algarismos 7 e 8 sendo corretos e 5 o duvidoso. Portanto, tem-se a seguinte regra dos algarismos significativos: O número de algarismos significativos é dado pelos algarismos corretos mais o primeiro duvidoso. Sendo assim, a medida realizada com a régua ilustrada na fig. 1.7(a) apresenta dois algarismos significativos e a realizada com a régua ilustrada na fig. 1.7(b) possui três. Desta forma, a medida realizada com a régua ilustrada na fig. 1.7(b) é melhor que a realizada com a régua ilustrada na fig. 1.7(a), pois apresenta um algarismo significativo a mais. Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 8 6. Regras de arredondamento na apresentação de dados Ao se realizar alguns cálculos utilizando resultados experimentais é necessário, algumas vezes, arredondar tais resultados. Estes arredondamentos devem ser feitos seguindo os critérios descritos a seguir: - Se o primeiro algarismo a ser descartado for maior ou igual que 5, o último algarismo a ser mantido no numero é acrescido de uma unidade; por exemplo, arredondando o número 4,7675 para duas casas resultaria: 4, 7675 ≈ 4, 77 (1.1) - Se o primeiro algarismo a ser descartado for menor que 5, o último algarismo a ser mantido no número não sofre alterações; por exemplo, arredondando o número 4,7635 para duas casas resultaria: 4, 7635 ≈ 4, 76 (1.2) Para Engenharia Experimental, adota-se a seguinte regra de arredondamento para valores medidos com desvios: Arredonda-se primeiro o desvio para dois algarismos significativos após a vírgula; com o número de casas do desvio arredonda-se o valor médio. Por exemplo, seja o valor medido a seguir: X = 4,2536 ±±±± 0,1234 Seguindo-se a regra de arredondamento do valor medido ele fica assim arredondado: X = 4,25 ±±±± 0,12 No caso de se escrever o valor medido com prefixo grego, deve-se primeiro passar tanto o desvio como o valor médio para a mais próxima potência de 10 com expoente múltiplo de 3 possível para depois arredondar o valor medido. Por exemplo, seja o valor medido a seguir: X = (4234,567 ±±±± 124,7689) A Seguindo-se a regra de arredondamento do valor medido e passando-se para o prefixo grego mais próximo tem-se que: X = (4,23 ±±±± 0,12) kA Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 9 7. Tratamento estatístico de dados experimentais Como citado no item 3, os erros aleatórios podem prejudicar a medida realizada para cima ou para baixo e isso ocorre de uma forma aleatória de modo que, se forem realizadas muitas medições, aproximadamente metade das medidas estará acima do valor real e metade abaixo. Sendo assim, uma forma de se obter o melhor valor possível para a medida é calcular a média aritmética dos valores medidos experimentalmente, dada pela equação 1.3. ∑ = = n i ix n x 1 1 (1.3) Na qual n é o número de medidas realizadas e xi é o valor da i-ésima medida. Essa media aritmética deve ser feita com certa cautela, pois cada valor medido possui seu próprio desvio e tal operação matemática acarreta o que se chama de propagação de erro. Mais adiante, apresentar-se-ão as regras para se fazer os cálculos levando em conta a propagação de erros. 7.1 Desvio da média O desvio da média mostra o quanto cada uma das medidas realizadas se afasta do valor mais provável da grandeza em estudo. Desta forma, tal desvio é obtido subtraindo-se a média de cada uma das medidas realizadas, dada pela equação 1.4. xxd ii −= (1.4) Onde x é obtido através da equação 1.3. 7.2 Desvio médio absoluto Este desvio na verdade é a média dos desvios da média obtidos através da equação 1.4 como mostra a equação 1.5. N d d N i i∑ = = 1 (1.5) Na qual N é o número de medidas realizadas. O desvio médio absoluto deve ser arredondado para um algarismo significativo. Observe que o desvio médio absoluto é calculado levando-se em conta módulos dos desvios da média. Se não fosse assim, um desvio da média positivo seria cancelado por outro positivo podendo acarretar um desvio médio absoluto nulo. Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 10 7.3 Erro relativo Erro relativo é a relação entre o desvio médio relativo e o valor mais provável da grandeza em questão, dado pela equação 1.6. x d er = (1.6) Na qual o resultado é um número puro, ou seja, adimensional e nos dá informações sobre a qualidade da medida realizada, quanto menor for o erro relativo, melhor é a medida realizada. 7.4 Desvio padrão O desvio padrão também é uma propriedade estatística que nos permite inferir o quão boa é a medida realizada. Quanto maior for seu valor mais distante da média encontram-se as medidas xi. O desvio padrão é obtido através da equação 1.7. ( ) 1 1 2 − − = ∑ = N xx N i iσ (1.7) Na qual N é o número de medidas realizadas. 8. Apresentação da média de um conjunto de medidas experimentais A apresentação da média de um conjunto de medidas experimentais pode ser feita de diferentes maneiras dependendo da necessidade. Algumas delas são listadas a seguir. dxx ±= (1.8) Ou σ±= xx (1.9) Ou ainda N xx σ±= (1.10) Por exemplo, sejam as medidas efetuadas para a grandeza X num dado experimento físico SEM CONSIDERAR-SE OS DESVIOS DE CADA MEDIDA apresentados na tabela 1.3. Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 11 Tab. 1.3: medidas efetuadas para a grandeza X - exemplo Grandeza Medida 1 Medida 2 Medida 3 Medida 4 Medida 5 X 10,22 10,21 10,23 10,21 10,22 Os resultados dos cálculos descritos no item 7 podem ser dados por: Média aritmética das medidas: 10,218 Desvio médio absoluto: 0,0064 Erro relativo: 0,062635 % Desvio padrão: 0,008367 Assim sendo, o resultado da média das medidas efetuadas pode ser apresentada das seguintes formas: X = 10,2180 ±±±± 0,0064 X = 10,2180 ±±±± 0,0084 X = 10,2180 ±±±± 0,0037 9. Propagação de erros em medidas experimentais Ao se fazerem cálculos com dados experimentais,o erro intrínseco a cada medida utilizada se propaga através das operações matemáticas. Cada tipo de operação aritmética tem uma forma diferente de se avaliar para considerar tal propagação. A seguir seguem-se algumas equações que determinam a propagação dos desvios (a demonstração das mesmas requer a utilização de cálculo diferencial, que foi omitida aqui): I) Adição e subtração Para a realização da adição e subtração entre observações experimentais, deve-se proceder da seguinte forma: ( ) ( ) ( ) ( ) ( )22 dydxyxdyydxxyx ii +±+=±+±=+ (1.11) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )22 dydxyxdyydxxyx ii +±−=±−±=− (1.12) II) Multiplicação Para a multiplicação de duas observações quaisquer tem-se: Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 12 ( )( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ............... 2 2 2 2 ++±=±±=⋅⋅ y dy x dx xyxydyydxxyx ii (1.13) III) Divisão Para a divisão entre duas observações temo-se ( ) ( ) 2 2 2 2 y dy x dx y x y x dyy dxx y x i i +±= ± ± = (1.14) IV) Polinomial Para um polinômio qualquer da forma: γβα iii zyxf ⋅⋅= (1.15) O erro é obtido através da seguinte expressão: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )2 2 2 2 2 2 z dz y dy x dx zyxzyxdzzdyydxxf ⋅+⋅+⋅⋅⋅±⋅⋅=±⋅±⋅±= γβαγβαγβαγβα (1.16) V) Média aritmética Para N medidas de mesmo desvio o desvio da média aritmética pode ser dado por: N dx N dxN xd N x x ii N i i ==⇒= ∑ = .1 (1.17) Para N medidas de desvios distintos o desvio da média aritmética pode ser dado por: N dxdxdxdx xd N x x n N i i 22 3 2 2 2 11 ... ++++ =⇒= ∑ = (1.18) Por exemplo, deseja calcular a velocidade de um móvel cujos dados de distância e tempo foram medidos e apresentados da seguinte forma: Engenharia Experimental Prof. Me. André Vitor Bonora FACENS Página 13 Distância = (30,45 ±±±± 0,56) cm Tempo = (12,34 ±±±± 0,78) s Assim sendo, para se calcular a velocidade pela sua definição e propagar o desvio relativo das medidas apresentadas deve-se fazer o seguinte cálculo: ( )cm/s 0,162,47Velocidade cm/s 0,1624415 34,12 78,0 30,45 0,562,4675851.ocidadedesvio_Vel Tempo podesvio_Tem Distância tânciadesvio_Dis .Velocidadeocidadedesvio_Vel cm/s 2,4675851 34,12 45,30 Tempo DistânciaVelocidade 22 22 ±=∴ = + = + = ===
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