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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL O SUDESTE DO PARÁ - UNIFESSPA INSTITUTO DE ESTUDOS DO TRÓPICO ÚMIDO - IETU MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE Docente: Prof. Me. Eduardo de Melo Salgueiro Disciplina: Epistemologia e Diversidade, 1º Semestre Discente: Renan Feliciano INTRODUÇÃO A Modernidade, assim como a Pós-modernidade, é uma série de pensamentos e ideais que surgem em comum entre os pensadores em suas distintas épocas. Podemos classificar modernidade e pós-modernidade como parâmetros seguidos por intelectuais e teóricos para produzir e trabalhar o conhecimento nas mais diversas áreas do saber humano. São períodos não concretos e não lineares que grande parte dos estudiosos dos últimos séculos se situam e se caracterizam. Modernidade e Pós-modernidade são conceitos, à priori, cronológicos e periódicos. No entanto, não necessariamente modernos e pós-modernos são encontrados em tempos distintos, não é propício dizermos que um substituiu o outro. Também é impróprio tomarmos uma ideia, além de linearidade, de progresso. Não podemos olhar para estes espectros imaginando um como mais desenvolvido que o outro ou mais antiquado e retrógrado do que o outro. Também não podem ser considerados opostos. O segundo se renova do primeiro, é fato, o segundo surge de divergências com o primeiro, porém um não veio para se opor ou substituir completamente o outro. A distinção apenas se fez necessária dentre os seus respectivos adeptos e seguidores. 1. Modernidade A modernidade começa a surgir a partir do Renascimento, com a preocupação dos pensadores com a humanidade abandonar o mítico e dar-se à razão, expandir os horizontes do conhecimento para além da metafísica clássica, que tinha as verdades do mundo baseada em superstições. As preocupações eram oriundas de mais diversos interesses, desde o desconforto em não achar a forma que o mundo era vista lógica e racional até a ambição por uma visibilidade e alcance sócio-econômicos por parte dos burgueses, partindo de um redimensionamento da hegemonia do clero. O intuito era então destruir o caos do velho e construir um novo buscando a ordem. Cria-se uma dicotomia entre velho e novo, antigo e moderno, caos e ordem. Podemos tomar uma das passagens mais marcantes de Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista como um símbolo disto: Todas as relações fixas e cristalizadas, com seu séqüito de crenças e opiniões tornadas veneráveis pelo tempo, são dissolvidas, e as novas envelhecem antes mesmo de se consolidarem. Tudo que é sólido e estável se volatiliza, tudo o que é sagrado é profanado, e os homens são finalmente obrigados a encarar com sobriedade e sem ilusões sua posição na vida, suas relações recíprocas (Marx e Engels, 1990, p.69). 1.1. Emancipação Na modernidade surgem teorias e projetos de emancipação da humanidade geralmente por meio da razão e da ciência. Os teóricos modernos buscavam produzir programas, métodos ou projetos civilizatórios para se chegar em uma civilização ordenada com a humanidade liberta e emancipada. Tomemos como exemplo Marx, que buscava a emancipação da raça humana consolidada em uma sociedade sem classe e igualitária por meio do comunismo. Em Bakunin a emancipação viria com a sociedade mutualista e sem Estado por meio do anarquismo. Em Comte, a sociedade emancipada seria a sociedade positiva. Assim davam-se as teorias emancipatórias modernas e o aspecto teleológico dos pensadores modernos, sempre buscando metodologicamente o bem social. Rouanet traz uma definição muito pertinente para emancipação no sentido em que se dava na modernidade: Emancipar significaria, então, racionalizar, libertar a consciência humana da tutela do mito e utilizar a ciência para tornar mais eficientes as instituições econômicas, sociais e políticas, contribuindo, assim para uma maior liberdade do homem como indivíduo e cidadão. (Rouanet, 1993, p. 97) Este aspecto parte de premissas do Projeto Iluminista que buscou quebrar com a religião como interferente e autoridade na sociedade e emancipar o ser humano por meio da razão e da ciência e que culminou para aplicações pragmáticas radicais como a Revolução Francesa, a qual especificamente atendeu aos interesses da burguesia a partir da desburocratização (a princípio) dos sistemas de governos com o clero ocupando os mais altos postos. 1.2. Racionalização Os projetos civilizatórios da Modernidade e do Iluminismo tendo por base a razão por vezes se provou pragmaticamente falho. Max Weber, apesar de estar inserido no parâmetro moderno, foi o primeiro a trazer esta crítica, sendo focada no espírito capitalista e fabril destes projetos. Estes projetos eram muito programáticos, calculistas e técnicos, ignorando a condição e estrutura sócio-culturais do homem. Por vezes estes projetos cumpriram o seu intuito inicial, por exemplo, as fábricas capitalistas conseguiram produzir muito em pouco tempo por meio de suas teorias e programas. No entanto diversos problemas surgiram paralelamente, como as condições de trabalhos precárias, burocratização e a desigualdade social. Estas seriam consequências desse tecnicismo e racionalização exagerada do trabalho humano. Homens e mulheres foram teoricamente tratados como se fossem robôs ou seres extremamente lógicos, racionais e, acima de tudo, iguais, que a partir de programas ou algoritmos precisos poderiam produzir sem falhas. Segundo Weber, a racionalização exagerada ao lidar com o ser humano gera uma burocracia e desumanização, “consegue eliminar dos negócios oficiais o amor, o ódio e todos os elementos pessoais, irracionais e emocionais que fogem ao cálculo.” (1982, p. 251) 1.3. Embate ao Iluminismo e à Modernidade consolidada A partir de experiências com influências modernas e projetos iluministas consolidadas no século XX surge percepções críticas de autores como David Harvey, o qual aponta (1994) o iluminismo como contraditório em prática e tende a voltar-se contra si mesmo, gerando um sistema de opressão em nome da emancipação científica e racional da humanidade. Ao meu ver, a burguesia utilizou o Projeto Iluminista para ascender social e economicamente para posteriormente consolidar seus alicerces na desigualdade social e exploração das classes trabalhadoras, partindo disso surgem as críticas de Marx, Engels e Weber. No entanto, esta contradição que se dá em opressão surge em sistemas que estão além dos interesses burgueses e até mesmo em experiências pragmáticas de um suposto marxismo, no qual a burguesia inexiste. Ou seja, os caráteres cientificizados e tecnicistas iluministas que tomaram conta do saber humano deram espaço para o posterior surgimento de experiências totalitárias como o nazismo, fascismo e stalinismo. Teóricos da Escola de Frankfurt, especificamente Adorno e Horkheimer (1985) abordam essa crítica. Segundo estes autores, a essência da modernidade é a técnica que [...] não visa conceitos e imagens, nem o prazer do discernimento, mas o método, a utilização do trabalho de outros, o capital [...] No trajeto para a ciência moderna, os homens renunciaram ao sentido e substituíram o conceito pela fórmula, a causa pela regra e a probabilidade [...] O que não se submete ao critério da calculabilidade e da utilidade torna-se suspeito para o esclarecimento. (Adorno e Horkheimer, 1985, p. 20, 21 e 22) Segundo estes frankturtianos “o esclarecimento [iluminismo] é totalitário”. 1.4. História e Modernidade Na modernidade a História se consolidou como disciplina acadêmica e autônoma. Especificamenteno século XIX, os historiadores modernos se preocuparam com uma história legítima e verídica, por meio de teorias positivistas e historicistas. A História tinha um caráter dogmático para quebrar parâmetros “antiquados” e moralistas pré- modernos, tinha também uma forte preocupação com as fontes. Neste período a História também tentou acompanhar e condicionar a unificação das nações, surgiu então uma história que servia ao Estado para criar uma identidade nacional para os países recém unificados além de um caráter nacionalista. Por vezes se deu à criação de heróis nacionais e personagens históricos a partir de narrativas fabulosas, contradizendo a premissa marcante de Ranke, um dos principais historiadores alemães do século XIX, de que a História à época aspirava meramente “mostrar como as coisas efetivamente aconteceram” (1971, p. 138) Estes parâmetros, no entanto, foram quebrados na primeira metade do século XX com a emergência da Escola dos Annales, a qual, a partir de janeiro de 1929, criticou uma história intrinsecamente política e/ou religiosa. 1.5. Considerações Ao meu ver a Modernidade e seu caráter emancipatório foram pertinentes e necessários em seu tempo. Muito embora empiricamente tenha se provado contraditório e predatório em alguns aspectos, os projetos e teorias modernos foram extremamente necessários para uma revolução sobre o período arcaizado e ainda teocêntrico que os precedia. O cientificismo e a racionalidade foram necessários entre os séculos XVIII e XIX, porém estas premissas não atendem todas necessidades humanas e, quando postas em práticas, geram outras eventualidades que passam a ser necessárias de estudo e teorização. Partindo disso, o saber humano sempre se renova. Os frankfurtianos foram muito ousados e perspicazes ao fazerem a crítica aos equívocos modernos. Em consequência disto, foram tachados de pós-modernos por uma gama de pensadores iluministas. Ao meu ver, esta contraposição se fez necessária para quebrar com o sectarismo e tradicionalismo deste paradigma que quebrou tradições, além de esclarecer os pontos opacos no Iluminismo. No entanto, ao meu ver isto não os situa em paradigmas pós- modernos. 2. Pós-modernidade Na segunda metade do século XX, por meio de uma série de movimentos e protestos, pela primeira vez no mundo ocidental, dá-se voz aos indivíduos estigmatizados e submissos aos preceitos eurocêntricos segregacionistas. Partindo disso surge o pensamento pós-moderno com o intuito de trabalhar científica e academicamente estas reivindicações emergentes e demais áreas negligenciadas pelos modernos. O intuito dos pós-modernos é quebrar com os centros unificadores característicos da modernidade e também contrapor o caráter teleológico e emancipatório das teorias e projetos modernos. Movimentos e reivindicações dos indivíduos menos ouvidos surgiram com muita força neste período. Surge a revolução cubana proporcionando a primeira experiência socialista nas américas, surge também os movimentos dos homossexuais, dos negros, das mulheres feministas, a contracultura além de novas vertentes musicais como a bossa nova. Nesta época aparece com força a televisão e subsequentemente os propagandistas buscando aparentemente “dar voz” à esses movimentos, popularizando-os, no entanto, condicionando suas reivindicações segundo os interesses das classes dominantes, basicamente fazendo de protestos passeatas e extraindo do movimentismo incentivos ao consumo. 2.1. Na Academia Academicamente, preocupações holísticas passaram a ser negligenciadas para estudar-se sobre tudo o que se julgava pertinente (ou prazeroso). Os pós-modernos pulverizaram a ciência estudando sobre tudo (ou somente) o que está ao seu alcance. A partir disso surgiram estudos sobre as mais diversas áreas até então inimagináveis de um embasamento científico. Isto gerou um desvirtuamento do conhecimento como um servidor da humanidade no sentido de buscar um bem social. Culminou também para uma deterioração da antropologia, esta última passou a se limitar em atender a vaidade de intelectuais preocupados com seu entorno. A propaganda misturou-se com a ciência, gerando pseudociências que baseiam- se e saciar a curiosidade da população e também ignorando o progresso social. Numa palavra, passaram a fazer ciência para vender. 2.2. Radicalismo O paradigma pós-moderno por vezes dá-se no radicalismo. Uma nova esquerda surgiu no intuito de também opor os pontos negligenciados pelos marxistas tradicionais. No entanto surge espectros individualistas nesta esquerda que acaba tendo um caráter reacionário. Entre os intelectuais ativistas, surgem críticas exageradas que acusavam tudo que tinha um quê de tradicionalismo de machista, racista ou até mesmo “homolesbotransfóbico”. Preocupam-se demasiadamente com as denominações e geram desunião entre as pessoas preocupadas com um progresso e mais direitos para as minorias. Por vezes criam estas mesmas relações de ódio em si num sentido inverso e a causa inicial fica totalmente despriorizada. 2.3. Relativismo Tudo passa a ser estudado e o relativismo vem como consequência disto. O discurso de que há um multiculturalismo e nossas críticas à práticas culturais alheias advém de limitações impostas da nossa condiciona o pensamento de que tudo é válido, legitimando, por vezes, práticas e experiências absurdas. 2.4. História e Pós-modernidade Como o disse, na pós-modernidade passou-se a estudar tudo, ignorando questionamentos amplos essenciais para humanidade. Dosse (1994) rebate isso criando o termo “História em Migalhas”, elaborando uma crítica mais voltada para a terceira geração da Escola dos Annales. A História perdeu a legitimidade de servidora do bem estar social para tratar de migalhas sem um fundamento social. Perdendo totalmente o espaço para esta nova antropologia. Sintetizando, estuda-se o de tudo um pouco e ignora-se o todo, o amplo, numa palavra, o que interessa. 2.5. Conclusões O pensamento pós-moderno a princípio se fez sólido e também necessário. No entanto, com a queda do muro de Berlim, o fim da União Soviética (que foi tido por pós- modernos como fim do comunismo), ascensão da televisão e do consumismo, esta corrente tomou rumos desvirutosos. A esquerda passou a se deteriorar, tomando um caráter festivo, hedonista e pequeno-burguês. Por vezes preocupa-se mais com a própria militância em embates linguísticos e epistemológicos do que com os ideais originais da esquerda. Comprometeu- se mais em contrapor militantes “equivocados” do que contrapor a burguesia ou o latifúndio. 3. Conclusões finais Ao meu ver o conhecimento humano sempre se renova, toda experiência social ou científica tem a sua época de ouro e amadurece a ponto de apodrecer. Desconheço paradigmas irrefutáveis e que atendem a todas as necessidades humanas. Tanto modernidade quanto pós-modernidade se fizeram inicialmente necessários mas com o passar do tempo se provaram falhos ou se desvirtuaram. O maior problema paradigmático é o sectarismo. Cabe ao pensador sensato absorver as partes pertinentes de cada corrente e abordar críticas ao que se consolidou em equívocos. REFERÊNCIAS BEZERRA, T. C. E. . Modernidade e pós-modernidade: uma abordagem preliminar. Textos e Debates (UFRR), v. 1, p. 176-202, 2011. WEBER, Max. Ensaios de sociologia. (Org). H.H. Gerth e C. Wright Mills. Trad. Waltensir Dutra. 5ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A, 19 RANKE, Leopold von. The Theory and Practice of History. Indianápolis, 1971. DOSSE, François. História em Migalhas, Editora Ensaio, 1994. MARX, Karl e ENGELS, Friedrich.Manifesto do Partido Comunista. Trad. Marco Aurélio Garcia, Leandro Konder. 3ª Edição. Petrópolis; Rio de Janeiro: Vozes, 1990. ROUANET, Sérgio Paulo. Mal-estar na modernidade: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. ADORNO, Theodor e HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1985. HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. Trad. br. Adail Ubirajara Sobral, Maria Stela Gonçalves. 4ª Edição.São Paulo, Edições Loyola, 1994.
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