Prévia do material em texto
Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 1 O período gestacional é composto de 40 semanas, que pode ser dividido em 3 trimestres: 1o trimestre até a 12a semana; 2o trimestre: da 13ª a 27a semana; 3o trimestre: da 28ª semana em diante, parto normalmente ocorre na 40ª SG. No 1o trimestre tem-se intensa divisão celular e a saúde do embrião vai depender da condição nutricional pré- gestacional da mãe (reservas energéticas e micronutrientes). Grandes modificações biológicas, manifestação de naúseas e enjoos. Já nos 2º e 3º trimestres o meio externo exerce influência direta na condição nutricional do feto. São determinantes para o crescimento e desenvolvimento normais do feto: ganho de peso adequado, a ingestão de energia e nutrientes, o fator emocional e o estilo de vida. O feto ganha o total de 1kg até 28 semanas e nas duas semanas seguintes 2,5kg, há um intenso ganho de peso fetal nas últimas 10 semanas. A curva de ganho de peso fetal (Lubchenco) permite avaliar se o crescimento está adequado (entre o percentil 10 e 90). Se < P10 está ocorrendo restrição no crescimento intrauterino e se > P90 pode-se ter alterações nos níveis de glicose ou diabetes gestacional. Placenta: Após a fecundação do óvulo, este se fixa no endométrio que passa a se chamar decídua ou caduca e vai dar origem a placenta (Chemin e Accioly). A placenta é uma estrutura esponjosa, com diâmetro de 15 a 17 cm. É um anexo fetal com funções essenciais como proteção, nutrição, respiração, excreção e produção de hormônios esteróides e peptídicos (como: estrogênio e progesterona). Como a insulina materna não atravessa a membrana placentária nas 14 primeiras SG, e o pancreas do feto ainda não produz sua própria insulina, a placenta produz temporariamente uma proteína com função semelhante a da insulina. A placenta pesa entre 600 e 650g ao termo. Representa a única via de troca de nutrientes, oxigênio e resíduos metabólicos entre mãe e feto, então qualquer alteração pode comprometer o bem estar e desenvolvimento fetal. Uma lesão na placenta compromete sua capacidade de nutrir o feto independente de quão bem nutrida esteja a mãe. É capaz de sintetizar glicogênio, colesterol e ácidos graxos no início da gravidez, funcionando como reservatório para o embrião. O fluxo sanguíneo materno e fetal é separado pela membrana placentária, por onde ocorre a troca de material, sendo que esta se torna mais fina ao final da gravidez, permitindo a passagem até de drogas (Accioly). Complicações maternas da gravidez como: doença cardiovascular e renal, diabetes e pré-eclâmpsia, comprometem a capacidade materna de distribuir os nutrientes essenciais e o oxigênio através da placenta para o feto o que resultará em RNBP (Chemin). A transferência de nutrientes pela placenta pode acontecer por (Accioly): Difusão simples: do meio mais concentrado (sangue materno) para o menos concentrado (sangue fetal). Ex. O2, CO2, vits lipossolúveis A, D, E e K, hidratos de carbono com PM<1000, eletrólitos, ácidos graxos e água. Difusão facilitada: mesmo mecanismo, mas mais rápido que o simples pelo uso de transportador de membrana específico. Ex. carboidratos. Transporte ativo: realizado por um transportador de membrana contra gradiente de concentração, com gasto de energia. Ex. aminoácidos, Fe2+, Ca2+, Iodo, fosfato e vitaminas hidrossolúveis. Pinocitose: processo lento de invaginação da membrana. Ex: grandes proteínas, lipoproteínas, fosfolípidios e imunoglobulinas (IgG é a única que atravessa pela placenta). Ultrafiltração: pelo gradiente de pressão hidrostática ou osmótica. Ex: solutos e água. Papel dos hormônios durante a gestação: Os hormônios são responsáveis pelas modificações corporais que permitem o desenvolvimento da gestação e sua produção é influenciada pela saúde geral e pelo estado nutricional geral da gestante. A produção hormonal pode ser dividida em 2 fases (Accioly): Fase ovariana até a 8ª semana, ocorre estímulo para produção de hCG, responsável pela secreção esteróidea (colesterol: progesterona e estrogênio). Fase placentária a partir da 8º-9º semana. A placenta assume a produção de esteróides em quantidades crescentes. O corpo lúteo é o responsável pela produção de hormônios esteróides, e as células do trofoblasto pela elevada secreção de hCG, sendo que na fase placentária tem-se queda de hCG, e a placenta assume o papel. Prof. Michelle Teixeira michellet.teixeira@gmail.com Prof. Alessandra Mulder alessandra.mulder@gmail.comAJUSTES FISIOLÓGICOS DA GRAVIDEZ Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 1 Tab. 1 – Ação dos hormônios sobre o organismo materno na gestação Gonadotrofina coriônica humana (hCG) Secreção: Celúlas de trofoblasto e placenta Estimula a produção de progesterona e estrogênio pelo corpo lúteo, garantindo manutenção da gestação e ausência de nova ovulação. Impede rejeição imunológica do embrião e inibe a contratilidade espontânea do útero através da produção de relaxina, que age com a progesterona. Permite o diagnóstico hormonal da gestação, a partir de 15 dias se pesquisada na urina Estimula produção de relaxina pelo ovário, estrogênio pela placenta e testosterona pelo testículo fetal e impede regressão do corpo lúteo (Chemin). Lactogênio placentário humano (hPL) ou Somatomamotrofina coriônica Secreção: Placenta Ação mamotrófica e ação contra-insulínica (↑ resistência periférica à insulina): ↑ glicemia pela glicogenólise, promove a lipólise e ↓ consumo de glicose e glicogênese (Chemin e Accioly). Estimula o pâncreas a secretar insulina e colabora para o crescimento fetal (Chemin) Tem ação semelhante à do GH fazendo deposição de proteínas nos tecidos. Inicia o processo de produção do leite (lactogênese). Participa do desenvolvimento das mamas e interfere na produção de leite (Vasconcelos). Não está envolvido na produção láctea (Accioly). H. do crescimento (hGH) Secreção: Pituitária ↑ glicemia, estimula crescimento de ossos longos e promove retenção de nitrogênio Tireotropina coriônica humana (hCT) Secreção: Placenta Estimula produção de hormônios da tireóide (T3 e T4) Tiroxina Secreção: Tireóide Regula velocidade da oxidação celular envolvida na produação de energia (TMB). Aumenta glicogenólise e absorção intestinal de hexoses (Chemin) Regula as reações oxidativas da produção de energia, mas pela hiperventilação (causada pela progesterona) há maior suprimento de oxigênio e não sobrecarrega a função da tireóide Calcitonina Secreção: Tireóide Inibe reabsorção óssea de cálcio Hormônio da paratireóide Secreção: paratireóide Aumenta a reabsorção de cálcio ósseo, assim como sua absorção intestinal, e promove excreção urinária de fósforo Progesterona Secreção: Placenta Produzida antes de 8-9 semanas de gestação, é indispensável para o êxito da implantação e da placentação (Accioly) Relaxa musculatura lisa do útero para evitar a expulsão do feto ↓ motilidade do trato gastrointestinal (Chemin e Accioly) possibilita a maior absorção de nutrientes, favorecendo deposição de gordura materna. No entanto, causa náuseas, pirose, refluxo gastroesofágico e constipação intestinal. Natriurético - Aumenta excreção de sódio (Chemin e Accioly) Estimula o apetite na 1º metade da gestação Interfere no metabolismo do ácido fólico (Vasconcelos) ↓ PCO2 arterial e alveolar (Chemin) Promove armazenamento de nutrientes no endométrio Participa do desenvolvimento mamário (mamogênese) Seu desequilíbrio pode contribuir para o processo de ganho de peso Estrogênio Secreção: Placenta Aumenta elasticidade da parede uterina e do canal cervical, isso é causado pela alteração dos mucopolissacarídeos do tecido conjuntivo tornando-o mais hidroscópio, mais elástico (Vasconcelos) ↓ proteínas séricas; favorece a formação de edema Afeta função da tireóide Modificações no metabolismo glicídico ↓ apetite na2º metade da gestação; Participa do desenvolvimento mamário (mamogênese). Promove desenvolvimento do tecido glandular mamário, determinando proliferação do sistema ductal; e junto com a progesterona inibe a prolactina inibindo a produção de leite durante a gestação. Hiperpigmentação cutânea; Alterações no tecido conjuntivo e vascular; Prolifera musculatura uterina e tecido mamário, dilata os órgãos sexuais externos e do orifício vaginal, relaxa musculatura pélvica (Chemin). Estimula contração uterina (Chemin) Intefere no metabolismo do ácido fólico. Insulina Secreção: Pâncreas Gravidez é um estado hiperinsulinêmico, devido a maior produção de glicose e ação dos hormônios anatagonistas da insulina (glucagon, cortisol, hPL). Níves de jejum são menores, mas os pós prandias, mais elevados. Final da gestação temso menor sensibilidade à insulina. Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 2 Diagnóstico da gestação Hormonal: - Accioly e Chemin: hCG: testes sensíveis já pode detectar em níveis acima de 25mUI/ml (8º /9º dia pós fertilização). O pico de secreção ocorre em torno de 60 dias (100.000UI/ml) após a concepção, em seguida caracteriza-se por queda gradativa, tendo aos 100 a 130 dias cerca de 5000mUI/ml. - Accioly: é o parâmetro mais precoce e exato para o diagnóstico da gestação. Investiga a subunidade β no HCG, que pode ser rastreado na urina ou no sangue Clínico (Accioly e Chemin): - Presunção - amenorréia de 4 semanas, náuseas, provável perda de peso, congestão mamária e polaciúria (micção frequente e em pequeno volume). - Probabilidade - amenorréia de 10 a 14 dias, mais aumento do volume uterino e alteração da forma e da consistência uterina. - Certeza - percepção e apalpação dos movimentos fetais e auscultação dos batimentos cardíacos. Ultrassonográfico (Accioly): Com 4 semanas gestacionais identifica-se o saco gestacional, com 6 a 7 os batimentos cardiofetais, com 12 a placenta e com 16 semanas a estrutura já está bem definida. Idade gestacional (Accioly e Chemin): É calculada a partir do 1º dia da última menstruação, soma-se 40 SG. Quando a data da última menstruação (DUM) é desconhecida, mas a gestante conhece o período do mês que ela ocorreu deve-se: Se o período foi no início meio ou fim do mês, considerar como DUM os dias 5, 15 e 25 respectivamente. Quando a data e o período da DUM são desconhecidos: A idade gestacional e a data provável do parto serão, inicialmente, determinadas por aproximação, basicamente pela medida da altura do fundo uterino e pelo toque vaginal, além da informação sobre o início dos movimentos fetais que ocorre entre 16 e 20 semanas. Data provavél de parto O Ministério da Saúde recomenda os seguintes procedimentos: Considerar a duração média da gestação de 280 dias ou 40 semanas a partir da DUM Com uso do discograma (gestograma) posicinal a seta sobre dia e mês da DUM e observar a seta do dia e mês da DPP Outra forma é a Regra de Naegele: somar 7 ao dia da DUM e subtriar 3 ou somar 9 ao mês da DUM. Exemplo: DUM = 13/09/15 DPP: cálculo do dia 13 + 7 = 20 cálculo do mês 9 – 3 = 6 DPP = 20/06/2016 DUM = 10/02/2016 DPP: cálculo do dia 10 + 7 = 17 cálculo do mês 2 + 9 = 11 DPP = 17/11/2016 Períodos de crescimento fetal: Blastogênese: É o período de implantação. Da fecundação até a 2º semana de gestação. É um período hiperplásico. São necessários: ácido fólico, vitamina B12. Embrionário ou Organogênese: Vai até o 60º dia da gestação. Ocorre hipertrofia e diferenciação celular. São necessários aminoácidos e vitamina B6. No final deste período o embrião adquire o aspecto fetal humano. Fetal: A partir do 3º mês até o final da gestação. É um período de crescimento rápido e hipertrofia celular. O feto passa de 6g para 3,0-3,5kg, que representa 60% do ganho materno. O ganho ponderal no 3º trimestre é apontado como tendo papel importante na prevenção do BPN, o que pode contribuir para a prevenção de determinadas doenças crônicas (Accioly). Modificações no organismo materno: Essas alterações fisiológicas decorrentes da gestação podem ser agravadas pela desnutrição com consequências para a mãe e para o feto (Chemin). As adaptações fisiológicas afetam o sistema orgânico e as vias metabólicas da gestante, alterando os parâmetros laboratoriais plasmáticos e urinários, principalmente nos últimos 2 trimestres. Há impacto também sobre os níveis de lipídios, colesterol, caroteno, vitamina E e fatores de coagulação. Os fatores fisiológicos que exercem maior força são: Aumento de 50% na expansão do volume plasmático (pico por volta de 28 a 32 semanas gestacionais) com 20% de aumento no conteúdo de hemoglobina (pico no parto); Aumento do débito cardíaco em 30 a 40%. Aumento dos níveis de estrogênio e progesterona 1- TMB A partir do 3º mês ocorre um aumento em 15 a 20%, visando suprir as necessidades fetais e cobrir o consumo energético materno pelo custo da gestação e pelo aumento da função renal e cardíaca. Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 3 2- Metabolismo Glicídico O feto constitui o parasitismo verdadeiro, pois mesmo em jejum materno, ele requer as mesmas quantidades de glicose e aminoácidos que nas situações de alimentação normal, sendo seu nível glicêmico apenas 20mg% menor que o materno (Chemin e Accioly). Em função desta extração contínua a glicemia materna pode estar reduzida (15-20mg) em relação ao período pré-gestacional (Chemin). Para manter o consumo contínuo de glicose pelo feto, o organismo materno sofre os seguintes ajustes: o estrogênio e a progesterona induzem a hiperplasia das células β pancreáticas aumentando os níveis de insulina, porém os hormônios hPL, hGH, estrogênio, progesterona, cortisona, prolactina e glucagon atuam reduzindo a utilização periférica de glicose pela ↓ sensibilidade tecidual à insulina, o resultado é uma resistência à insulina fisiológica. Objetivo é fornecer nutrientes preferencialmente para o feto e favorecer a o acúmulo de tecido adiposo materno. Há uma diminuição de 40 a 50% na utilização periférica da glicose no 3º trimestre (Accioly). A hiperglicemia e a hiperinsulinemia são fisiológicas na gestação (Chemin). A ação da insulina é 50 a 60% menor ao final da gestação A quantidade de eritrócitos aumenta 18% por ocasião do parto sem suplementação de ferro e 30% com suplementação. A glicose materna elevada apresenta implicações para o feto, pois estimula o aumento de secreção de insulina, maior utilização de glicose, podendo levar a macrossomia (Vasconcelos). 3- Metabolismo Lipídico A adrenalina (ou epinefrina), hPL, hGH, glucagon, estrogênio e progesterona aumentam a mobilização de gordura corporal com o objetivo de servir como fonte energética para o metabolismo materno, conservando a glicose para o feto e para o sistema nervoso materno, o resultado é a elevação dos níveis plasmáticos de ácidos graxos, triglicerídios, colesterol e fosfolipídios, que vão servir como reserva energética no jejum. Após uma redução inicial durante as primeiras 8 semanas de gestação, o colesterol aumenta cerca de 30% a 50% e os triglicerídios podem triplicar (↑ 300%), principalmente no terceiro semestres. (Accioly e Vasconcelos). O aumento dos TG são devido a 2 fatores: aumento da atividade da lipase hepática, que aumenta a síntese hepática de TG e redução da atividade da LPL. Isso minimiza o catabolismo proteico e preserva a glicose e os aminoácidos para o feto (Chemin e Accioly). No jejum, os ácidos graxos livres são mobilizados no fígado e formam as cetonas, estes também cruzam a placenta e podem ser utilizados como fonte de energia, ou, podem ser utilizados pelos tecidos maternos poupando o uso de glicose. 4- Metabolismo Proteico A insulina facilita a entrada de aminoácidos nas células para ocorrer síntese tecidual fetal e das estruturas maternas, com isso seus níveis séricosestão diminuídos na gestação. As proteínas são nutrientes necessários para o equilibrio celular, sua defciência durante o período de gestação poderá acarretar em alterações em tecidos e estruturas de órgãos, redução do peso ao nascimento e modificações enzimáticas e bioquímicas (Vasconcelos). Os aminoácidos podem ser utilizados para síntese proteica ou em menor porção, oxidados para formação de energia. A síntese proteica aumenta em 15% no 2º trimestre e 25% no 3º trimestre (Dan). A hemodiluição provoca redução das proteínas plasmáticas, principalmente a albumina facilitando desenvolvimento de edema (Chemin e Accioly). 5- Sistema respiratório Há aumento de 20% na necessidade de O2 (Chemin) que é suprimido pela hiperventilação causada pelo aumento de estrogênio e progesterona que aumentam a sensibilidade e a vascularização dos centros respiratórios (pode levar a desconforto nasal). Ocorre aumento da ventilação pulmonar (cerca de 40%) causando diminuição da pCO2 tornando mais fácil a eliminação fetal através da placenta, e aumento da pO2 no sangue materno, com melhor suprimento ao feto. O crescimento do útero empurra o diafragma para cima, tornando a respiração mais difícil. Assim, a gestante se sente dispneica e o corpo compensa com alterações anatômicas que melhoram as trocas gasosas nos pulmões (Accioly e Chemin). Ocorre maior movimentação do diafragma e do tórax, aumentando o volume corrente e a expiração é mais completa (Accioly). Há substituição da respiração torácica pela abdominal, a gestante fica ofegante. 6- Sistema circulatório e equilíbrio hidroeletrolítico As alterações circulatórias necessárias para o desenvolvimento fisiológico da gravidez representam uma carga adicional ao trabalho cardíaco. Principais modificações: aumento do volume sanguíneo, do débito cardíaco, e da frequência cardíaca. O débito cardíaco aumenta em cerca de 50% pela intensa circulação placentária (625ml/minuto) no início da gestação, pela elevação do volume sistólico, e no terceiro trimestre pela elevação da frequência cardíaca. A frequência cardíaca que aumenta por volta da 28-32º semana cerca de 10bpm acima do normal, ao final da gestação reduz-se, chegando àquela pré-gravídica; com o aumento da FC aumenta-se também o débito cardíaco (Chemin). A pressão arterial sistólica sofre ligeira queda nos primeiros 2 trimestres e a diastólica uma queda significativa, devido a vasodilatação periférica, retornando aos níveis pré- gravídicos no 3º trimestre. A sistólica reduz de 3 a 4mmHg e a diastólica reduz de 10 a 15mmHg (Accioly e Chemin). Os fluxos sanguíneo cerebral e hepático permanecem inalterados, enquanto o renal aumenta 50% no 1º trimestre e reduz no último mês. Com isso, os níveis séricos de uréia e creatinina diminuem. O aumento da volemia, estimulado pelo estrogênio e mediado pelo sistema renina angiotensina aldosterona, resulta em retenção de sódio e água. O volume sanguíneo aumenta 50% desde a 6º semana com pico no início do 3º trimestre (30 a 34 semanas), enquanto o volume globular sobe apenas 25% a partir do 6º mês, ou seja, há expansão do volume sanguíneo mais rápida que a do volume globular Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 4 (hemodiluição), e por isso, os valores de hemoglobina e hematócrito para grávidas são menores, e elas têm anemia fisiológica (Todos). A concentração de Hb diminui 20% e o hematócrito 15%. Apesar disso, o volume corpuscular médio (VCM) e a concentração média de hemoglobina (HCM) ficam inalterados. Há ganho hídrico em torno de 7,5l (70% do ganho de peso na gestação) em uma gestante sem edema, o que torna o Na+ essencial para manter o equilíbrio hidroeletrolítico. Para isso, há ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona que estimula a reabsorção tubular de Na+. No momento do parto há sobrecarga adicional ao coração devido às contrações uterinas (leva ao aumento súbito da volemia), do débito cardíaco, da pressão arterial, além de aumento do tônus adrenérgico devido a ansiedade e dor. A adaptação hemodinâmica retorna a valores pré- gestacionais em 12 a 24 semanas pós parto (Vasconcelos). 7- Sistema urinário Há aumento da taxa de filtração glomerular em 50% e do fluxo sanguíneo para os rins, para facilitar a depuração de resíduos metabólicos, como uréia, creatinina e ácido úrico (Accioly). O aumento do volume sanguíneo junto com a secreção de progesterona que leva a dilatação e hipotonia renal e dos ureteres contribuem para o aumento da taxa de filtração glomerular (Chemin). Desde o início da gestação, a mulher tem aumento na frequência de micção pelas alterações hormonais e pelo útero “descansar sobre a bexiga”. Ao final do período, a cabeça fetal penetra na pelve, levando ao aumento da pressão no local e conseqüentemente da frequência urinária, ocasionalmente havendo incontinência urinária (Accioly e Chemin). São perdidos pela urina: iodo, folato, aminoácidos e glicose, sendo comum a glicosúria (Chemin). Ainda, são comuns as infecções urinárias em função do retardo do fluxo da urina pela maior pressão das veias ovarianas sobre os ureteres, obstruindo-o parcialmente (Chemin) e a presença de glicose, aminoácidos e vitaminas hidrossolúveis (Accioly). A capacidade de excretar água é diminuída favorecendo o edema não patológico nas pernas. Há maior secreção de renina, angiotensina e aldosterona, para compensar o efeito natriurético da progesterona preservando a homeostase materna (Chemin). 8- Sistema digestivo Náuseas, enjôos e vômitos matinais que podem levar a anorexia devido a elevação do estrogênio. Gengivas edemaciadas e hiperêmicas devido a elevação estrogênio, hCG e da progesterona. A mulher fica mais susceptível a doença periodental (Chemin). Ptialismo ou sialorréia com pH reduzido, associada ao aumento da frequência alimentar e higiene bucal inadequada pode propiciar a cárie (Accioly). A maior ocorrência de cáries pode ocorrer pela necessidade aumentada de flúor ou pelos hábitos de higiene não compatíveis com a maior ingestão, além da diminuição do pH (Chemin). O volume uterino aumentado leva ao deslocamento cefálico do estômago, alterando o ângulo da junção esôfago- gástrica e prejudicando a função do EEI. Associado a redução da função do cárdia, o aumento da produção de ácido clorídrico leva ao RGE, induzindo quadro de pirose e até mesmo esofagite (Vasconcelos). A progesterona atua diminuindo o tônus do cárdia, o que o torna menos resistente e mais propício ao retorno do bolo alimentarpirose (Chemin). Hipotonia do sistema gastrointestinal pela progesterona, causando maior tempo de esvaziamento gástrico, elevando a incidência de náuseas, pirose, refluxo gastroesofágico e obstipação intestinal. É comum também além do refluxo gastroesofágico, a hérnia de hiato (Chemin). A obstipação pode ser precipitada pela pressão do útero sobre o intestino, pelos exercícios físicos reduzidos e pela suplementação de ferro (Chemin). Hipotonia do intestino delgado aumentando o tempo de contato entre nutrientes e a mucosa absortiva, favorecendo a absorção de nutrientes e água (anabolismo). Redução da secreção gástrica de ácidos que leva a menor incidência de úlceras e melhora das pré-existentes (Accioly e Chemin). Hipotonia da vesícula proporcionando menor liberação de bile (estase biliar), e consequentemente intolerância a alimentos gordurosos na gestação (Chemin). A doença de vesícula biliar é um dos problemas médicos mais comuns na gravidez. O esvaziamento da bile torna-se menos eficiente devido ao efeito da progesterona. Então, o volume da vesícula biliar aumenta em 2 vezes e sua capacidade de esvaziar eficientemente é reduzida.. O fígado se mostra aumentado (Chemin). 9- Alterações nutricionais Diminuição de: albumina sérica, vit C, ác fólico, vit B12, retinol e do status hematológico. Além disso, também é menor a concentração sérica deoutras proteínas e de vitaminas hidrossolúveis. Aumento de: células brancas, caroteno e tocoferol sérico e excreção de metabólitos, folato, niacina e piridoxina. E vitaminas lipossolúveis, em até 50%, na gestação, com exceção da vit A que fica inalterada (Chemin). 10- Mudanças no olfato e paladar e preferência pelos alimentos na gestação Essas mudanças garantem o consumo de eletrólitos em quantidades adequadas para expansão plasmática e facilita o ganho de peso. Como por exemplo, há aumento no consumo de sal pela diminuição da sensibilidade ao mesmo, há aumento na capacidade de sentir o sabor amargo (proteção a possíveis envenenamentos e intoxicações alimentares). Os desejos e aversões aos alimentos podem trazer uma capacidade diminuída de sentir o sabor salgado. Em relação às crenças, duas práticas são prejudiciais: a eliminação de proteínas de origem animal e a tentativa de limitar o ganho de peso para produzir um feto menor para um parto mais fácil. Os 4 alimentos mais comumente evitados são: leite, carnes magras, carne de porco e fígado (proteínas animal). Os alimentos mais comumente desejados são doces e laticínios. As aversões mais comuns são: álcool, café, outras bebidas cafeinadas e carnes. Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 5 11- Modificações psicológicas (Accioly) Estão associadas aos fatores hormonais e socioculturais. Em relação aos fatores hormonais: Progesterona Efeito depressivo no SNC e influência sobre o comportamento introspectivo e regressivo da mulher Catecolaminas Papel regulador das emoções (depressão e euforia) Corticoesteróides Responsáveis por variações emocionais (depressão, euforia, paranoia e problemas de cognição) Os fatores socioculturais são de natureza complexa. Um aspecto é a visão da gestação como um estado intermediário entre o status de mulher e de mãe, associado a medidas restritivas (tabus e rituais). Conflitos internos podem se exacerbar durante a gravidez e muitas vezes, explicam intercorrências como êmese, hiperêmese, bulimia, ganho de peso excessivo ou insuficiente e ansiedade. O conflito com o companheiro também pode estar envolvido. Fatores que interferem no resultado da gestação Quanto mais fatores inadequados estiverem presentes, pior será o prognóstico e isso classifica a gestante em alto, médio ou baixo risco. Sendo os fatores passíveis de modificação os que mais contribuem (54%) sobre o resultado da gestação (Chemin). A estatura e o peso pré-gestacionais são fatores condicionantes do tamanho placentário, o que influenciará diretamente no tamanho de nascimento (Chemin). Peso pré-gestacional Peso excessivo pré- gestacional Prevalência: 25% Chemin, Accioly: macrossomia, DM e HA gestacional e parto cesáreo. Desnutrição pré- gestacional Chemin, Accioly: BPN, > risco de morbimortalidade, altas taxas de aborto espontâneo, morte neonatal e malformações congênitas. Dan: A resistência periférica e hepática à insulina está aumentada em gestantes obesas. Após o parto, obesas têm maior chance de endometrites, laceração, infecção e feridas inflamatórias, aumento de hemorragias pós-parto e disfunção da lactação. Em obesas mórbidas, a proporção de gestação prolongada atinge taxa significativamente maior 11,2% que nos casos com IMC normal (7,2%). O aumento de peso no último trimestre promove estímulo do crescimento da massa muscular fetal. Sabe-se que a desnutrição durante o período gestacional e o início da vida pós-natal causam prejuízos durante toda infância. Há aumento do tecido adiposo fetal durante o último trimestre, de 12 a 17% do total de sua composição corporal. Crianças que nascem a termo e com peso adequado para idade gestacional possuem mais adipócitos do que as pequenas para idade gestacional, que ainda têm redução de 13% da sua massa magra. Estatura Baixa estatura (<150cm) Accioly, Vasconcelos e Chemin: Necessidade de cesárea, baixo peso ao nascer e desproporção céfalo- pélvica, crianças PIG. Grande estatura tendem a ter bebês grandes Ganho de peso gestacional Ganho insuficiente Prevalência: <10% Accioly e Chemin: Baixo peso ao nascer, parto prematuro, maiores índices de morbimortalidade neonatal Vasconcelos: redução da expansão de volume sanguíneo materno, diminuição da perfusão uteroplacentária, levando a retardo do crescimento intrauteriano, prematuridade e BPN. Ganho excessivo Macrossomia fetal (>4kg) (3 vezes mais) e DM. e HAS (Chemin e Vasconcelos) Vasconcelos: defeitos do tubo neural. Para as mães: maior retenção de peso pós parto e obesidade futura Chemin: complicações anestésicas e hemorragias pós-parto, maior tempo de hospitalização e gastos hospitalares, infertilidade, mortalidade perinatal, enfermidades crônicas não transmissíveis e malformações riscos proporcionais ao grau de obesidade Fatores de risco para resultados adversos: Idade materna Faixa etária considerada ideal para concepção: 20 a 29 anos, uma mulher com mais de 5 anos pós-menarca já é considerada madura (Chemin). As mulheres mais velhas são as que apresentam maior paridade, que está associado a desgaste metabólico. Acima de 35 anos Accioly: Anomalias congênitas, SHG, DM gestacional e altos índices de morbidade perinatal. Além de aborto espontâneo no 1º trimestre, placenta prévia, natimorto, BPN, RNPT, Chemin: Gestante > 40 anos: ↑ o risco de trissomia do cromossomo 21 (sínd de Down) Gestantes adolescentes com idade ginecológica menor que 2 anos e/ou cronológica menor que 14 anos são consideradas de maior risco. Maior ocorrência de BPN, retardo do crescimento uterino, prematuridade, toxomia induzida pela gradivez (hipoxia, hemorragias intracranianas, Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 6 infecções, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor). Repercurssões maternas: SHG, ganho de peso inadequado, anemia, placenta prévia, disfunção uterina, anomalias congênitas, aumento da necessidade de cesárea (Vasconcelos). Multiparidade Considera-se intervalo entre partos adequado quando ≥ 24 meses. Menos de 2 anos de intervalo há esgotamento das reservas maternas de nutrientes risco para BPN (Todos). Quanto maior a paridade maior é pode ser o grau de obesidade em mulheres (a multiparidade facilita o aumento da adiposidade). As multíparas apresentam facilidade para depósito de gordura (2,5kg a cada gestação, sendo esse efeito cumulativo mais intenso após os 35 anos de idade) (Chemin). Já as primigestas têm maior incidência de Distúrbios Hipertensivos da Gravidez (Chemin, Vasconcelos). Anemia Redução na capacidade de trabalho, menor desempenho mental, menor resistência às infecções e tolerância às hemorragias. Parto prematuro e baixo peso ao nascer (Accioly e Chemin). Por outro lado, hematócrito alto (>40%) pode significar expansão plasmática inadequada, favorecendo a pré- eclâmpsia (Chemin). Infecções (Accioly e Chemin) Compromete o estado nutricional materno, aumenta o risco de parto prematuro e mortalidade perinatal. Trabalho físico excessivo Ocorre desgaste das reservas corporais maternas, menor ganho gestacional e sobem as taxas de mortalidade materna. Cigarro Substâncias como nicotina, monóxido de carbono passam facilmente pela barreira placentária, sendo poderosos vasoconstrictores, levando a lesões placentárias, como redução do fluxo sanguíneo placentário. Consequência retardo do crescimento intrauterino e prematuridade (Vasconcelos, Accioly e Chemin). O tabagismo também promove hipóxemia fetal. O tabagismo também está associado à inadequação do ganho de peso gestacional (Accioly). As mulheres que fumam se alimentam menos, tendo menor consumo calórico ou ineficiência na utilização das calorias, que se relaciona com os efeitos deletérios e estes são proporcionais ao número de cigarros (Chemin). Componentes oxidantes da fumaça de cigarropodem comprometer vitamina C e provavelmente β-caroteno, B12 e B6 e folato, entretanto, parar o fumo pode causar ansiedade e estresse, então se permanecer o uso de cigarro este deve ser de no máximo 5 unidades/dia (Chemin). Fumantes requerem a ingestão 3 vezes maior de ácido fólico do que as não fumantes para manter a mesma concentração de folato sérico e 2 vezes mais vitamina C (Chemin). Álcool Grande consumo de álcool está associado com teratogenidade e aparecimento do distúrbio de espector alcoólico fetal, sendo o mais comum a síndrome alcoólica fetal, com características irreversíveis como: déficit de crescimento fetal, microcefalia, alterações oculares, craniofaciais, cardíacas e musculares (Vasconcelos). O álcool ingerido pela mãe ultrapssa a barreira placentária e chega ao feto nas mesmas concentrações maternas, porém a exposição é maior devido a ausência da enzima álcool desidrogenase e eliminação lenta, fazendo com que o líquido amniótico fique impregnado de acetaldeído, prejudicando a metilação do DNA fetal (Vasconcelos). Doses elevadas podem prejudicar o transporte de O2 pelo cordão umbilical, pode-se acumular em níveis tóxicos para o feto, causando anomalias fetais, como RCIU e síndrome alcoólica fetal (Accioly e Chemin). Além de aborto espontâneo, descolamento prematuro da placenta e parto de BPN. Tem-se ainda, RNPT e em estudos em animais, o consumo crônico de álcool pode mobilizar a vitamina A, aumentando sua concentração fetal e gerar efeitos teratogênicos (Chemin). Assim, não se recomenda o consumo de nenhum tipo de bebida alcoólica durante a gestação, nem mesmo aquelas com teor alcoólico reduzido. É permitido apenas o consumo ocasional, mas na ausência de limites seguros, é sugerido que evite o uso (Chemin). Cafeína Em caso de consumo excessivo tem-se BPN e má- formação congênita. Além de aumentar o risco de abortos espontâneos no 1º trimestre, esse risco aumenta se o consumo aumentar de 100 para 500mg/dia. Associa-se à malformações o consumo de 10 a 14 xícaras de café/dia e RNBP com consumo diário superior a 2-3 xícaras médias/dia (300ml/dia) (Chemin). Estudos de âmbito epidemiológico não comprovaram a associação de café com BPN, prematuridade ou RCIU, entretanto outro estudo demonstrou o risco de aborto espontâneo com o consumo elevado de cafeína. Recomendações: Seu consumo não deve ultrapassar 2 a 3 xícaras peq/dia (100 a 150ml), não esquecendo das bebidas como chás, refrigerantes e o chocolate (Chemin) X A quantidade de cafeína não deve ultrapassar 300mg/dia (Accioly). Situação socioeconômica (Chemin) A morbimortalidade materna e fetal se mostra inversamente proporcional à escala social. Estão em maior risco os grupos de baixa renda, menor escolaridade, más condições de moradia-saneamento-alimentação-estilo de vida, dificuldade de acesso a serviços de saúde, situação conjugal insegura e esforço físico e carga horária excessivos. Baixa escolaridade, baixa renda, falta de saneamento e assistência pré natal de qualidade. Problemas neurológicos como depressão, psicose, insegurança (Chemin). Accioly: situação marital insegura, baixo número de consultas de pré-natal, não planejamento ou aceitação da gestação. A violência doméstica está associada a menor ganho de peso gestacional. Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 7 Drogas ilícitas (Chemin e Vasconcelos) Os efeitos do uso dessas substâncias estão associadas a BPN, distúrbios do sono, menor perímetro cefálico e desenvolvimento prejudicado. Maconha – lipossolúvel, atravessa a placenta e é lentamente excretada. Assim como tabaco, interfere no transporte de oxigênio, aumenta a frequência cardíaca e pressão arterial, com menor perfusão placentária levando a RNBP e à irritabilidade ao nascer e aumenta o risco de prematuridade. Cocaína -- atravessa rapidamente a placenta sem conversão metabólica, agindo diretamente na vascularização fetal, determinando vasodilatação, má formações urogenitais, cardiovasculares e do SNC. A mãe pode ter ruptura de placenta e parto prematuro, com contrações descontroladas. Os filhos podem ter BPN, RCIU, paralisia, lesão fetal e física, batimentos cardíacos anormais, síndrome de abstinência e até o óbito. Para a mãe as principais alterações estão relacionadas a qualidade de vida e saúde, complicações da gestação, risco de depressão puerperal, pré eclampsia, trabalho de parto prematuro. Além disso, o uso de drogas pode levar a inapetência e/ou alterações de hábitos alimentares. Contaminantes (Dan) Mercúrio, chumbo, cádmio, níquel e selênio são embriotóxicos. Gestantes não devem utilizar dolomita como suplemento de cálcio porque este contém chumbo. São encontrados traços de metil mercúrio, que é um contaminante na maioria dos peixes, em quantidades maiores em cação, peixe-espada, cavalinha, lofolátilo e atum grande (tipo usado para sushis ou filés frescos), as concentrações podem ser maiores em áreas com poluição de mercúrio ambiental. Peixes expostos a contaminação por mercúrio, podem causar graves danos ao sistema nervoso central (ex. comprometimento motor, intelectual e psicossocial). Segundo a FDA devem ser consumidos no máximo 2 porções por semana de peixes e frutos do mar, como o atum em lata, bagre, camarão e salmão e evitar peixes com alta concentração como cação, peixe-espada, cavalinha e marlim. Bifenispoliclorados (PCB) se concentram em peixes gordurosos como o salmão, truta e carpa, e podem ser absorvidos através da pele e pulmões. Inicialmente eles entram no corpo pela ingestão desses peixes gordurosos contaminados, a partir daí, podem atravessar a placenta e chegam até o leite materno, e por isso as grávidas devem evitar os peixes contaminados com PCB. O bisfenol A outro contaminante pode afetar a função da tireóide pois diminui a meia-vida no soro de T4. Mulheres grávidas têm 20 vezes mais chances de se infectar com Listeria monocytogenes do que adultos saudáveis. São contaminantes alimentos como leite cru, frutos do mar defumados, patês, queijos moles, salsichas do tipo Frankfurter, cortes de frios de balcão e carnes não cozidas. Essa infecção causa aborto espontâneo e meningite fetal e do recém-nascido Medicamentos e radiação (Chemin) Drogas lipossolúveis atravessam a membrana placentária devendo ser evitadas durante todo o período. Uso de aspirina (ou ibuprofeno) no final da gravidez é desaconselhável por favorecer sangramento excessivo durante o parto. A radiação é contraindicada no início da gestação, fase da diferenciação celular, por exercer efeito sobre a formação do feto. Doença obstétrica na gravidez atual e inadequado desempenho obstétrico anterior (Chemin) Podem levar a BPN, RCIU, mortalidade perinatal, macrossomia, aborto, malformações, RNPT, ganho ponderal inadequado e quadros hemorrágicos. Toxinas ambientais, dioxinas, polibrominatobifenil (PBB), ésteres de fitalato, e outros produtos industriais afetam a fertilidade Homocisteína plasmática elevada e deficiência de B12 levam a infertilidade e perda fetal recorrente Qualidade do ar e pureza da água - podem contribuir negativamente a gravidez a taxa de partos prematuros aumenta Cirurgia de by-pass pós-gástrico Após a cirurgia bariátrica há melhora significativa na fertilidade, favorecendo a ocorrência da gravidez. Comparando-se gestações de pacientes obesas mórbidas antes da gastroplastia e após a perda de peso induzida pela cirurgia, encontra-se redução significativa na necessidade de cesárea, incidência de macrossomia e DM. O Colégio Americano de Ginecologia defende prioridade para perda de peso anterior a gravidez e acusa a bariátrica como promessa preliminar no tratamento de obesidade no período pré-gestacional. É comum deficiência de ferro, vitamina B12, folato e cálcio em pós-cirurgia bariátrica. É recomendada a reposição de ferro após qualquercirurgia bariátrica. Na gravidez recomenda-se a suplementação de 60mg/dia desde o início da gestação. A deficiência de vit B12 é menos comum que a de ferro e ocorre com mais frequência após as cirurgias disabsortivas. Recomenda-se que seja realizada a reposição de vit B12, 1000μg, por via intramuscular, a cada 3 meses. Recomenda-se a suplementação periconcepcional e pré- natal de ácido fólico, pelo menos 1 mg/dia. A deficiência de cálcio é comum, e a prevenção de sua deficiência é realizada pela suplementação diária de 1000mg/dia deste mineral. Complicações: Vômitos podem ser causados pela ingestão excessiva ou pela mastigação inadequada, podendo haver diminuição dos níveis séricos de potássio e magnésio, sendo necessária a reposição dos mesmos. A gestante, assim como outros pacientes operados, podem apresentar vômitos devido a suboclusão do tubo digestivo causada por aderência, hérnia interna ou deslocamento do anel. A utilização do teste de tolerância a glicose oral (100g) nestas gestantes pode trazer complicações quando a paciente apresenta antecedente da síndrome de dumping. Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 8 Neste caso, recomenda-se o seguimento mensal da glicemia materna. Orientações gerais: Não se recomenda gravidez no período de 12 a 18 meses subsequentes a cirurgia, pois neste período a perda de peso é mais intensa e não houve adaptação do organismo à nova situação. A suplementação indicada é de 400μg de folato/dia durante o período reprodutivo, 50 a 100mg de ferro elementar por dia para idade fértil e gestante, e 1000mg de cálcio/dia. A dieta deve ser fracionada, de alto teor proteico, respeitando o horário das refeições. As refeições principais devem conter proteína animal em maior quantidade, principalmente a carne vermelha, por ter maior concentração de ferro. Recomenda-se que a alimentação seja devagar, com duração aproximada de 40 minutos, promovendo boa mastigação dos alimentos, sem a ingestão de líquidos juntamente com a refeição. Deve-se reduzir o uso de óleo e temperos industrializados no preparo dos alimentos. Infecções vaginais As infecções estão ligadas às contrações prematuras e subsequentes partos precoces. Exemplo: vaginose bacteriana (VB). O uso de probióticos em mulheres grávidas com VB é indicada, pois algumas cepas de lactobacilos podem colonizar a vagina e deslocar e matar patógenos como E. coli e Gardnerella vaginalis. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL (APN) É a avaliação sistemática da paciente desde a concepção até o ano após o parto (Chemin). Objetivos: Assistência psicológica durante a gestação; Orientações de hábito de vida e de higiene; Profilaxia, diagnóstico e tratamento de doenças; Vigilância do crescimento e vitalidade fetal; Práticas educativas de saúde, nutrição e cuidados de puericultura; Preparação psicológica e física para o parto e nascimento humanizado e lactação. O principal objetivo é acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando no fim da gestação o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem estar materno e fetal (Accioly). Na ausência de pré-natal, a mortalidade perinatal aumenta em 5 vezes. Para o seu sucesso são necessários: a participação de equipe multidisciplinar, cuidado pré-natal precoce para detectar as gestantes de alto risco e empregar medidas profiláticas e terapêuticas, contribuindo para menores taxas de mortalidade perinatal e neonatal, além de contribuir para o sucesso do aleitamento materno e assistência de qualidade. Deve-se iniciá-lo após a suspeita da gravidez, com intervalo máximo de 4 semanas entre as consultas e após a 36ª semana o intervalo máximo deve ser de 15 dias (Chemin). O início da APN deve acontecer após a confirmação do diagnóstico da gestação. O número mínimo de consultas deve ser 6, preferencialmente 1 no 1º trimestre, 2 no 2º trimestre e 3 no 3º trimestre e o encerramento do acompanhamento só se encerra após o 42º dia de puerpério. Idealmente, deve ocorrer 4 consultas com nutricionista, com início concomitante ao pré-natal. A 1ª consulta deve ocorrer até a 16ª semana, a 2ª com intervalo de 15 a 30 dias, a 3ª ainda no 2º trimestre e a 4ª no 3º trimestre (Accioly). Gestantes de risco têm maior número de consultas, diminuindo o intervalo entre elas (Chemin). Na 1ª consulta da assistência nutricional pré-natal deve- se investigar: idade gestacional, idade materna, atividade profissional, pareceres da equipe de saúde, presença de fatores de risco (idade materna < 15 anos e > 35 anos, ocupação, situação conjugal insegura, não planejamnt/aceitação da gestação, baixa escolaridade – menor de 5 anos, condições de saneammento desfavoráveis, altura < 1,45m, peso < 45kg e > 75kg, dependência de drogas ilícitas, baixa renda per capita), história reprodutiva anterior desfavorável, doença obstétrica atual, intercorrências clínicas e enfermidades crônicas, avaliação da evolução da altura uterina, avaliação da sintomatologia digestiva, avaliação de picamalácia, avaliação das condições de aleitamento, avaliação de exames complementares e avaliação nutricional (Accioly). Nas consultas subsequentes, deve-se rever o prontuário, fazer avaliação do ganho de peso desde a última consulta e do ganho de peso total, avaliação dietética detalhada, investigação da sintomatologia digestiva e das intercorrências, acompanhamento dos exames e da evolução da altura uterina, ajuste da orientação nutricional, incentivo ao aleitamento materno e esclarecimento de dúvidas (Accioly). Avaliação do estado nutricional: A anamnese nutricional da gestante deve incluir avaliação antropométrica, alimentar, bioquímica e clínica. Objetivos da avaliação antropométrica: Identificar gestantes com desvio ponderal no início da gestação. Detectar gestantes com ganho de peso insuficiente ou excessivo para a idade gestacional em função do estado nutricional prévio. Fornecer base para elaboração de condutas adequadas para melhorar o estado nutricional materno, suas condições para o parto e as condições ao nascer. É um meio mais acessível, não invasivo e rápido. São indicadores mais citados na avaliação da gestante: peso, estatura, circunferência braquial e dobra cutânea triciptal, sendo o ganho de peso e o IMC indicadores antropométricos indispensáveis para avaliação da gestante. Já a medida da altura uterina e a circunferência da panturrilha são apontados como indicadores de nutrição materna e fetal. No 1º trimestre de gestação, fase de embriogênese, o ganho de peso não é muito relevante. São consideradas respostas normais da gestante no 1º trimestre: perda de peso Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 9 até 3 kg, manutenção do peso pré-gestacional ou o ganho ponderal de 2kg sem qualquer comprometimento no binônio mãe/filho. A partir do 2º trimestre o ganho de peso adequado vai depender do estado nutricional da gestante (Chemin). Elas devem ganhar, de modo simplificado e de âmbito clínico, em torno de 15kg para aquelas com baixo peso, entre 10 e 12kg para as eutróficas e entre 6 e 7kg para as obesas e com sobrepeso, durante todo o período gestacional. Accioly: Em 2009 o IOM publicou uma atualização das recomendações para ganho de peso durante a gestação, contudo esta deve ser validada para aplicação na assistência pré-natal de mulheres brasileiras por se tratar de uma proposta americana. Dentre as modificações observadas destacam-se: - Adoção de pontos de corte propostos para IMC pré- gestacional propostos pela OMS para a avaliação de adultas e adolescentes (quadro 1). - Revisão e definição da faixa de ganho de peso semanal e total para gestante com obesidade pré-gestacional, que passa a ser de 0,22 g/sem (variando de 0,17 a 0,27 kg) e 5 a 9 kg, respectivamente. - Revisão do ganho de peso semanal para o 2o e 3o trimestres segundo categorias de IMC pré-gestacional e definição dosvalores máximos e mínimos (quadro 1). - Recomendação de adoção das mesmas faixas de ganho de peso para mulheres com estatura < 1,57 m e 1,57 m. Procedimentos de avaliação na 1ª consulta: 1. Peso pré-gestacional conhecido e avaliação baseada no IMC pré-gestacional: Desenvolvida no Chile esta forma de classificação se baseia no IMC. Em 2004, o MS (SISVAN) recomendou adotar a Curva de Atalah, o IMC por semana gestacional tem a vantagem de permitir realizar o diagnóstico nutricional em qualquer momento do pré-natal e ainda permite a visualização do estado nutricional pelo traçado da curva no gráfico. Gestantes adultas: calcular IMC pré-gestacional e consultar pontos de corte da tabela 1. Idealmente a 1ª consulta deve ocorrer no 1º trimestre. O peso informado como pré-gestacional deve ser correspondente a no máximo 2 meses antes da concepção OU o peso medido até a 13ª semana gestacional. Caso não seja possível a obtenção de tais medidas, utilizar o peso atual e o IMC atual. Calcular a idade gestacional pela data da última menstruação ou pelo disco obstétrico. Quando necessário arredondar a semana gestacional da seguinte forma: 1,2,3 dias – considerar semana completa / 4,5,6 dias considerar a semana seguinte. Exemplo: IG = 10 semanas e 2 dias – 10 semanas IG = 10 semanas e 5 dias – 11 semanas Para cada situação nutricional inicial há uma faixa de ganho de peso recomendada. Para o 1o trimestre o ganho de peso é apresentado como um valor agrupado para o período, enquanto que para o 2o e 3o trimestres, a velocidade de ganho de peso é prevista de forma semanal (quadro 1). Observações (Accioly): Para gestantes de baixa estatura, programar o ganho de peso para o total mínimo para cada categoria de IMC, quando a estatura for < 1,47 m Avaliar cuidadosamente o ganho de peso > 0,5 kg/semana ou > 3 kg/mês, principalmente a partir da 20ª SG pois pode indicar edema ou SHG. Nas situações que a gestante tenha alçado o ganho de peso total recomendado, mas ainda se encontra no 2º trimestre, programar o ganho de peso mínimo ou modesto: que pode ser 0,5 kg/mês para as com sobrepeso ou obesidade pré gestacional ou 1,0 kg/mês para as com IMC normal ou baixo peso. Vale pressaltar que os pontos de corte porpostos pela IOM para classificação do IMC pré gestacional são: o < 19,8 kg/m2 – Baixo peso o 19,8 – 26,0 kg/m2 – Normal o 26,0 – 29, kg/m2 – Sobrepeso o > 29,0 kg/m2 - Obesidade Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 10 Quadro 1. Comparação de formas de avaliação nutrional de gestantes. Referência Estado Nutricional IMC (kg/m2) Ganho ponderal 1º trimestre (<14SG) kg Ganho ponderal 2º e 3º trimestres (kg) Ganho de peso total (kg) Ganho de peso mínimo (kg/mês) SISVAN (Vasconcelos, Dan, Accioly) Baixo Peso (BP) < 18,5 2,3 0,5 12,5 – 18 Não determinado Adequado (A) 18,5 – 24,9 1,6 0,4 11,5 – 16,0 1,0 Sobrepeso (SB) 25 – 29,9 0,9 0,3 7,0 – 11,5 Não determinado Obesidade (O) ≥ 30,0 -- 0,3 7,0 0,5 IOM (Vasconcelos) Baixo Peso (BP) < 19,8 -- 0,45 – 0,59 12,7 – 18,2 -- Adequado (A) 19,8 – 26,0 -- 0,36 – 0,45 11,4 – 15,9 -- Sobrepeso (SB) 26 – 29,9 -- 0,22 – 0,31 6,8 – 11,5 -- Obesidade (O) > 29 -- 0,18 – 0,27 5,0 – 9,0 -- OBSERVAÇÃO: Deve-se avaliar cuidadosamente ganho de peso> 0,5 kg/sem ou > 3 kg/mês, que, especialmente após a 20ª semana é sugestivo de edema e SHG. 2. Peso pré-gestacional desconhecido e avaliação baseada no IMC pré-gestacional: Calcular o IMC gestacional e realizar o utilizando diagnóstico nutricional utilizando a proposta de Atalah (quadro 2 ou figura 1). Localizar a primeira coluna a semana gestacional e identificar nas colunas seguintes em que faixa está situado o IMC da gestante. Para cálculo do ganho de peso gestacional, programar para cada situação nutricional anterior a faixa de ganho de peso recomendada pelo quadro 1. Figura 1. Gráfico de IMC segundo semana gestacional Para cálculo de ganho de peso nas consultas subsequentes pode ser realizada por 2 instrumentos: a) Ganho de peso recomendado (kg) segundo estado nutricional incial (quadro 1) b) Evolução do IMC segundo a idade gestacional (figura 1), considerando: a. Traçado ascendente – satisfátorio, estado nutricional adequado b. Traçado descendente – estado nutricional inadequado (geatante de risco) Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 11 OBS: Accioly coloca que segundo MS o gráfico deve ser utilizado para acompanhamento em consultas subseqüentes. Normograma e curva de Rosso (Chemin) Usava-se normograma específico para determinar a porcentagem de peso em relação à altura. Na década de 80 o MS adotava a curva de adequação do peso para estatura, proposta por Rosso, no cartão da gestante, porém esta vigorou até o ano 2000 (Chemin e Accioly), figura 1. Faz-se a relação peso atual da gestante x altura para encontrar a relação P/E no normograma. O P/E encontrado deve ser transportado até a curva ou tabela e relacionado com a idade gestacional atual. O estado nutricional da gestante será classificado em: Faixa A: baixo peso Faixa B: normal (eutrofia) Faixa C: sobrepeso Faixa D: obesidade Os valores satisfatórios são aqueles que se apresentam próximos de 100% (Chemin). Classificação do estado nutricional de acordo com P/E pré – gestacional (Chemin): Desnutrição ou baixo peso < 90% Eutrofia 90 – 110% Sobrepeso 110 – 120% Obesidade ≥ 120% Para classificação do estado nutricional durante a gestação se utilizava curva correspondente, localizando o valor percentual encontrado na figura anterior, de acordo com a idade gestacional (Chemin). Críticas: acentua diferenças nos extremos (aumenta prevalência de déficits e excessos ponderais), superestima distúrbios nutricionais, induzindo maior ganho de peso, contribuindo para maior incidência de obesidade. A curva de Rosso tem perdido sua importância devido à mudança do perfil nutricional das populações, onde a obesidade tem prevalecido. Sua indicação é válida para populações em que a prevalência da desnutrição é alta, pois garante que todas serão identificadas (Chemin). OBS: Na curva de Rosso descrita por Dan 09, o peso excessivo é sobrepeso, não existe a faixa obesidade. Chemin: 1) Para casos de peso pré-gestacional conhecido: Curva de adequação percentilar do ganho de peso em função da idade gestacional (Fig3) Considera-se no gráfico: Aumento do peso = peso atual - peso pré-gestacional. Considera limites de normalidade entre P25 e P90, com ganho entre 8 e 16kg para todas as gestantes. Peso pré-gestacional peso medido a não mais de 2 meses antes da gestação ou no 1º trimestre da mesma (até 14ª semana gestacional) Críticas: O ganho de peso recomendado (8 a 16 kg) é igual para todas as gestantes independente do seu estado nutricional pré-gestacional. A gestante tem que começar na eutrofia (Chemin). 2) Para casos que o peso prévio não é conhecido: Padrão da relação peso para altura segundo a idade gestacional Construída da 13ª a 39ª semana gestacional, para estatura de 1,40 a 1,69 m e os pontos de corte sugeridos Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 12 para normalidade são P10 e P90. Peso para altura segundo a idade gestacional (p10 e p90). Críticas: Não permite a avaliação de gestantes que iniciaram a gestação com o peso fora do P10 e P90; não permite avaliar o ganho de peso e não permite avaliar gestantes com estatura superior a 1,69 m. Grávidas fora de P10 e P90 são chamadas anormais (Chemin). Vantagens: É independente do peso pré-gestacional e as medidas de peso atual e estatura são de fácil obtenção. Alternativa para avaliação nutricional quando o peso pré- gestacional for desconhecido e para as gestantes com o peso pré-gestacional superior ou inferior aos apresentados na tabela de referência: Ganho de peso normal é o ganho de peso semanal médio de:- 0,4kg/semana no 2º trimestre (IG ≥14 sem) - 0,3kg/semana no 3º trimestre (IG ≥28 sem) Crítica: recomendação igual independente do estado nutricional pré-gestacional e do ganho de peso até o dia da consulta. Observações: 1. Abaixo de P10 ou P25 sugere desnutrição materna e RCIU, deve-se investigar alimentação inadequada, hiperêmese gravídica, infecções, parasitoses, anemias, doenças debilitantes e problemas familiares. Devem receber aconselhamento nutricional e suplementação alimentar e remarcar a consulta com intervalo menor do que o estabelecido. Além disso, a gestante deve terminar a gestação com um ganho de peso mínimo de 8kg. 2. Acima de P90 maior será o risco quanto mais elevado o ganho de peso. Suspeitar de síndromes hipertensivas e retenção hídrica. Investigar obesidade, edema, macrossomia, gravidez múltipla, polidrâmnio, DM e dieta inadequada. Remarcar a consulta com intervalo menor que o estabelecido. O ganho total não deve ultrapassar a faixa de 16 kg. 3. Ganho de peso acima do P90 no 1º trimestre gestantes não precisam ganhar mais de 8 kg na gestação toda. 4. A adolescente deve ganhar o limite superior da faixa de ganho de peso recomendado. 5. Gestante com altura < 1,40m ganho total recomendado é de 10 a 11 kg. 6. Ganho superior a 0,5kg/semana considera-se um ganho súbitomerece investigação. 7. Gestantes com peso < 45 kg e > 75 kg são de risco para recém-nascido com BPN e pré-termo 8. Essas gestantes abaixo de P10 e P25 e acima de P90 são consideradas gestantes de risco. Dan: Embora seja difícil definir o ganho de peso materno ideal ele seve ser entre 10 a 13 kg. Chemin: Segundo a maioria dos autores, a eutrofia seria o ganho em torno de 20% do peso inicial, em valores de IMC isso corresponderia a aumento de 4,6 pontos. Avaliação da gestante em risco nutricional Ao classificarmos o estado nutricional da gestante, podemos seguir as recomendações calóricas e nutricionais. Com isso, deve-se saber corrigir o estado nutricional a fim de determinar as necessidades adequadas para a velocidade de de peso ideal para gestante. Uma gestante com sobrepeso deve ter seu peso ideal estimado a partir do IMC no ponto médio da faixa de normalidade da curva de Atalah e uma gestante de baixo peso deve ter peso ideal estimado com base no limite inferior da faixa de normalidade (em relação a sua semana gestacional). A obesidade gestacional deve ser vista com peculiaridade, pois o peso idel pode estar muito abaixo do real, podendo favorecer a perda de peso, que não deve ocorrer na gestação. Para essas gestantes, o IMC ideal à idade gestacional deve ser corrigido para o limite superior da classificação de normalidade, e em casos de obesidade extrema, para o a classificação de sobrepeso. Adolescente (Vasconcelos) Adolescência corresponde o período que se estende dos 10 aos 19 anos, ocorrendo estirão de crescimento entre as idades de 10 – 14 anos. Após a menarca a fertilidade completa nos 2 anos seguintes e o crescimento físico não se completa antes dos 4 anos seguintes. Na avaliação nutricional deve ser considerada a idade cronológica e a ginecológica. Maior risco se encontra com as adolescnetes de idade ginecológica < 2 anos e/ou idade cronológica < 14 anos. Gestantes > 2 anos de menarca: avaliação nutriconal semelhante à da mulher adulta Gestante < 2 anos de menarca: aumenta a ocorrência de baixo peso. A altura deve ser mensurada em todas as consultas, devido à fase de crescimento. O traçado da curva deve ser sempre ascendente. Gestação gemelar (Vaconcelos) O IOM também estabeleceu normas de ganho de peso nas gestantes gemelares, sugerindo uma variação de 16 a 20 Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 13 kg, estabelecido um ganho de peso total mediante o IMC prévio. Para gemelares considera-se tempo gestacional de 36 semanas. Exemplo: gestação gemelar na 22ª SG, peso pré gestacional 75 kg, peso atual 88,1 kg, altura 1,56 m. Estado nutricional pré gestacional = 75/1,562 = 30,8 kg/m2 Ganho de peso adequado a idade gestacional (GPA) à idade gestacional = idade gestacional x ganho de peso ideal (GPI) GPA = 22 x 0,505 (média da recomendação) GPA = 11,1 kg Ganho de peso real = ganho total (peso atual – peso pré gestacional) Ganho de peso total = 88,1 - 75 = 13,1 kg (deveria ter ganho 11,1, mas ganho 13,1, 2 kg a mais) Estado nutricional atual = gestante com ganho de peso excessivo Ganho de peso previsto (GPP) GPP = SG restantes x ganho ponderal ideal GPP = 14 semanas (36 – 22) x 0,45 = 6,3 kg de peso a ganhar (máximo). Foi usado o ganho de peso mínimo pois a gestante encontra-se com ganho ponderal excedente. Circunferência do braço e medida do tríceps São úteis para avaliar modificações que ocorrem durante o período gestacional, comparando com as medidas tomadas anteriormente. O perímetro braquial aumenta do início até o fim da gestação e a medida do tríceps pode diminuir já que há transferência das reservas energéticas entre os segmentos corporais durante a gestação. Recomenda-se a utilização da circunferência muscular do braço, que pode ser comparada a padrões de referência ou a valores iniciais e finais. Dietética Atenção ao número e composição das refeições e grupos de alimentos presentes. Investigar tabus, alergias, picamalácia, avaliação do apetite, náuseas, vômitos, funcionamento intestinal e preferências alimentares. Usar frequência de consumo semiquantitativo. De acordo com Vasconcelos, os mais aplicados são recordatório de 24 horas, seguido de questionário de frequência alimentar e registros alimentares. Picamalácia - perversão do apetite com a ingestão de substâncias como terra, barro, tojolo, ração para cães, água de sabonete, cabelo, fósforo, raspas de gelo, giz ou combinações alimentares atípicas como manga verde embebida de água, vinagre e sal. Abaixo apresenta-se uma proposta para investigação de picamalácia. Consumo de terra ou barrogeofagia Consumo de amido não nutritivo amilofagia. Ganho de peso semanal Baixo peso (<19,8 kg/m2) Eutrofia (19,8 -26,0 kg/m2) Sobrepeso (26,1 – 29,0 kg/m2) Obesidade (>29,0 kg/m2) 0 – 20ª semana 0,56 – 0,79 (A) 0,56-0,78 (V) 0,45 - 0,68 (A) 0,45 - 0,67 (V) 0,45 - 0,56 0,34-0,45 20-28ª semana 0,68 -0,79 (A) 0,67 – 0,78 (V) 0,56 - 0,79 (A) 0,56 – 0,78 (V) 0,45 - 0,68 (A) 0,45 – 0,67 (V) 0,34-0,56 > 28ª semana 0,56 0,45 0,45 0,34 Ganho de peso TOTAL Baixo peso (<19,8 kg/m2) Eutrofia (19,8 -26,0 kg/m2) Sobrepeso (26,1 – 29,0 kg/m2) Obesidade (>29,0 kg/m2) 0 – 20ª semana (V) 11,3 – 15,8 9,0 – 13,5 9,0 – 11,3 6,7 – 9,0 20-28ª semana (V) 16,7 – 22,0 13,5 – 19,8 12,6 – 16,7 9,5 – 13,5 > 28ª semana (V) 22,5 – 27,9 18,0 – 24,3 17,1 – 21,2 13,0 – 17,1 TOTAL (A) 22,5 – 27,9 18 – 24,3 17,1 – 21,2 13,0 – 17,1 Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 14 Inquéritos alimentares Tem como objetivo a identificação de erros alimentares que possam prejudicar a saúde da mãe e do feto. - Alimentação diária habitual Mesmo que história dietética. É uma técnica quantitativa que questiona quanto os alimentos mais consumidos na dieta e suas quantidades. É mais indicada na primeira consulta com o paciente. - Inquérito recordatório de 24 horas Consegue-se obter o consumo alimentar quantitativo do dia anterior a consulta. É utilizada em investigações populacionais para se verificar o padrão alimentar médio. Na clínica pode ser útil pata observar mudanças de prática alimentar após intervenção nutricional. - Inquérito de freqüência É a técnica mais utilizada para verificar hábitos alimentares do ponto de vista qualitativo. Relata a freqüência com que determinados alimentos aparecem, diariamente ou semanalmente, nas refeições. Deve-se colocar na lista somente os alimentos maisrelevantes. - Inquérito por registro É mais fidedigno quantitativamente, pois a pessoa vai anotando os alimentos à medida que vai consumindo. É menos provável a omissão, mas requer que o paciente seja alfabetizado, com bom nível de escolaridade e que queira cooperar. A limitação desta técnica é a mudança de comportamento quanto as práticas alimentares, mesmo que inconsciente. Têm-se maior risco de subestimar as mulheres e homens obesos e, à medida que aumentam os dias de registro, ele se torna menos completo e preciso. Clínica: investigar sinais e sintomas digestivos, funcionamento intestinal, patologias ou intercorrências associadas e presença de sinais sugestivos de carência nutricional. Exames laboratoriais: tipagem sanguínea, sífilis, anti- HIV, hematimetria (hemoglobina e hematócrito), hepatite B e toxoplasmose, glicemia de jejum, teste de tolerância a glicose, urina tipo I, protoparasitológico, colpocitologia oncótica e bacterioscopia da secreção vaginal. Devido ao aumento do volume plasmático, alguns elementos se encontrarão diminuídos devido a hemodiluição. Em contrapartida, há aumento de TG e colesterol plasmáticos. Exames complementares: ultrassonografia e dopplerfluxuometria. Medida da altura uterina: visa acompanhamento do crescimento fetal e detecção de seus desvios, diagnóstico de suas causas e orientação para as condutas adequadas. Utiliza-se gráfico com indicador altura uterina em relação à idade gestacional (semanas). Chemin: Na gestação normal, têm-se crescimento médio do concepto de 4cm/mês. Pressão arterial Conceitua-se hipertensão arterial na gestação: - níveis tensionais ≥ 140 mmHg de pressão sistólica e ≥90 de pressão diastólica, mantido em 2 ocasiões, resguardando o intervalo de 4 hrs. - aumento de 30mmHg ou mais na pressão sistólica e/ou 15mmHg ou mais na pressão diastólica em relação aos níveis conhecidos - presença de pressão ≥ 110mmHg em uma única aferição Presença de edema (Vasconcelos) A retenção hídrica é comum na gestação e mais frequente no último trimestre, devido à retenção de sódio e água e diminuição da osmolaridade, da pressão oncótica, da concentração de hemoglobina e albumina, aumento do débito cardíaco, e fluxo plasmático renal. Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 15 Estimativa de peso seco a partir do edema retido: Edema Retenção de peso hídrico + Tornozelo 1 kg ++ Coxa 3-4 kg +++ Raiz da coxa 5-6 kg ++++ Anasarca 10-12 kg Funcional Na avaliação da deficiência de vitamina A pode-se adotar a entrevista padronizada da cegueira noturna gestacional. Entrevista padronizada: 1. Dificuldade para enxergar durante o dia? 2. Dificuldade para enxergar com pouca luz ao à noite? 3. Tem cegueira noturna? São considerados casos de cegueira noturna gestacional, casos em que a pergunta 1 for não e ao menos uma das respostas das perguntas 2 ou 3 forem sim. Para confirmação do diagnóstico de DVA proceder a avaliação dietética com ênfase na investigação de fontes de vitamina A. Se necessário solicitar a dosagem de retinol sérico materno, sendo indicativo de DVA quando os níveis séricos forem < 1,05 µmol/L. A cegueira noturna resulta da redução dos níveis séricos associados aos ajustes fisiológicos da gestação. Tal redução é ocasionada por: - Baixa reserva hepática de vitamina A pré-gestacional; - Baixa ingestão de alimentos fonte de vitamina A; - Baixa ingestão de lipídios e proteínas; - Presença de processos infecciosos. A presença de cegueira noturna gestacional pode ser prevenida e tratada com estímulo ao consumo de alimentos fonte com diversificação alimentar, fortificação de alimentos e suplementação. A OMS recomenda a suplementação de vitamina A durante a gestação em populações com prevalência de cegueira noturna ≥ 5%, respeitando-se a dose segura para idade reprodutiva, que é de 10.000 UI/dia ou 25.000 UI/semana, por um período de 12 semanas de gestação até o parto. No Brasil o Ministério da Saúde insitituiu o Programa de Suplementação de Vitamina A que contempla pré-escolares, mulheres residentes em áreas de risco para DVA: Nordeste, norte de Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha e Vale do Mucuri) e Vale do Ribeira (São Paulo). Para puérperas recomenda-se uma dose única de 200.000UI no pós-parto imediato, ainda na maternidade. Orientações para todas as gestantes: Estimular (Accioly): Fracionamento da dieta com menor volume (5 a 6 refeições/dia); Ingestão de vegetais e frutas de preferência cruas e como entrada; Consumo de alimentos fortificados com ferro, folato e vitamina A; Consumo de preparações alimentares simples, assadas, cozidas, ensopadas, grelhadas; Consumo moderado de óleo nas refeições. Preferir como tempero de salada vinagre, limão, sal, cheiro verde, salsa, ervas e azeite; Ingestão hídrica, no mínimo de 2 litros de água /dia, evitando os horários das grandes refeições Orientar para o consumo moderado de açúcar. Verificar se há o consumo de 3 porções de lácteos por dia Consumir 2 unidades de frutas por dia Estimular consumo de feijão 4 vezes por semana Não exceder volume diário de 300 a 400ml, exceto água Consumir peixe 2 a 3 vezes por semana Como boa fonte de ferro pode consumir fígado de 100 a 150g por semana, que não há risco de excesso de colesterol Desencorajar: Consumo de fast food e lanches rápidos no lugar principalmente das grandes refeições; Consumo de alimentos gordurosos, frituras, preparações concentradas em CHO simples e calorias vazias; alimentos processados e industrializados que contenham conservantes; edulcorantes e produtos diet/light (só em caso de diabetes); O tabagismo, o uso de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas; Orientar o consumo moderado de café, mate e chá. A cafeína está associada ao aumento da perda reprodutiva e complicações na gestação. A quantidade de cafeína não deve ultrapassar 300mg/dia; Para prevenção de toxoplasmose: evitar consumo de carnes cruas (cozinhar até atingir 80º C no centro), e após manipulá-las evitar tocar mucosas; evitar contato com gatos e suas fezes; lavar bem as mãos e utensílios após o contato com vegetais ou carnes cruas ou mal cozidas; evitar contato direto com solo e areia; o leite cru e ovos devem ser submetidos a altas temperaturas de cocção; Orientar a gestante a usar sutiã durante a gestação; recomendar banho de sol nas mamas (15min no sol, evitando de 10 as 16hs ou um palmo de distância de lâmpada de 40Watts); Esclarecer que o uso de sabões, cremes ou pomadas no mamilo deve ser evitado; Orientar que a expressão das mamas (ordenha) durante a gestação para a retirada do pré-colostro está contraindicada. Recomendações sobre atividade física na gestação: O exercício pode ser benéfico na prevenção primária de diabetes gestacional, particularmente em mulheres obesas com IMC > 32kg/m2. A participação em atividades recreacionais diversas parece ser segura durante a gestação. Atividades com alta chance de queda ou aqueles com alto risco de trauma abdominal devem ser evitadas durante a gestação. Segundo a Chemin, devido ao relaxamento fisiológico dos ligamentos, as gestantes são mais susceptíveis a deslocamentos e lesões, devendo evitar exercícios aeróbicos e de alto impacto. No início da gestação os exercícios devem ser evitados, pois pode se relacionar com defeitos no desenvolvimento fetal inicial (Chemin). Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 16 É aconselhável que se reduza a intensidade da atividade física no final da gestação, pois esta pode comprometer até 200g no peso de nascimento. Possíveis atividades: caminhada, bicicleta e hidroginástica. A exceção fica para as gestantes de risco, com provável indicação de repouso e ausência de atividade física (Chemin). Em linhas gerais, exercícios diários moderados com duração média de 30 minutos são recomendados durante a gestação. Orientaçãopara gestantes com desvio no ganho de peso (ganho insuficiente ou excessivo): Ganho de peso insuficiente (Chemin e Accioly): Deve-se investigar as possíveis causas de inadequação da dieta como náuseas e vômitos, pobreza, gestação na adolescência, problemas familiares, infecções, abuso físico, baixo nível educacional e distúrbios alimentares. Para estas gestantes, o cálculo inicial da dieta deve ser feito com o peso ideal para idade gestacional correspondente, o que implicará aumento da quantidade de alimentos a ser ingerida. Orientações: Desvios do ); Aumentar ingestão de líquidos entre as refeições; Estimular a ingestão de fontes de vitamina C nas grandes refeições; Usar sal iodado; Para as inapetentes pode-se aumentar a densidade energética com óleo e açúcar; Aumentar lanches ricos em CHO (mingau, canjica, abacate com açúcar e limão, banana com aveia); Evitar chá, mate e café nas grandes refeições; Evitar fumo e álcool; Sugerir suplementos dependendo do nível sócio econômico. Ganho de peso excessivo (Chemin e Accioly): As mulheres obesas deveriam ser informadas que a gestação não é um período para perda de peso. O objetivo nutricional seria a escolha de alimentos de qualidade antioxidante elevada, que são conhecidos por auxiliar a minimizar radicais livres. Orientações: Dieta restritiva está totalmente contraindicada; Orientar com base no VET adequado e esclarecer quanto ao ganho de peso recomendado; Investigar possíveis causas como dieta inadequada, edema, ansiedade, erros na pesagem; O cálculo da dieta em geral se faz sem o acréscimo do adicional energético da gestação; Deve-se corrigir erros alimentares; Aumentar o fracionamento (6x/dia) e o volume; Preferir refeições simples, sem acréscimos de molhos; Aumentar líquidos nos intervalos; Restringir óleo e azeite, preferindo vinagre, limão; Evitar chá, café, mate, fumo, açúcar de forma indiscriminada e edulcorantes artificiais; Estimular atividade física e o aleitamento materno; Orientar quanto a tabus e uso de produtos diet e light. Orientações nutricionais para sinais e sintomas digestivos: Náuseas e vômitos: relacionados ao aumento do estrogênio, podem levar a anorexia. Se manifestam até a 12ª-20ª semana, preferencialmente pela manhã (Chemin). 70% das mulheres relatam náuseas e 50% relatam vômitos no 1º trimestre (Chemin). Orientações: Tranquilizar a gestante que esse fato não vai prejudicar a nutrição do bebê, pois nessa fase a condição nutricional anterior que terá mais impacto (Chemin) Evitar frituras e alimentos gordurosos e com odor forte e/ou desagradável ou que causem desconforto /intolerância (Chemin e Dan 09) Evitar uso de temperos picantes nas preparações, preferir os suaves (Chemin e Dan 09) Preferir alimentos sólidos pela manhã e ricos em glicídios ou carboidratos (ex. cream cracker, torradas, geléias e iogurte) Ingerir salgados tipo cream cracker logo após se levantar pela manhã. Devem ser ingeridos sem líquidos antes do café da manhã. Quando esta tentativa for infrutífera, deve- se optar pela nutrição enteral ou parenteral (Dan 09). Ingerir alimentos secos pela manhã ricos em sacarídeos (Chemin) Refeições pequenas e frequentes = dieta fracionada e em menor volume (8 vezes ao dia) (Accioly: 5 a 6 refeições/dia) (Accioly e Chemin) Ingerir líquidos nos intervalos das refeições. Preferir frutas com caldo (Accioly e Chemin) Evitar monotonia alimentar para prevenir a anorexia (Accioly e Chemin) Evitar deitar-se após grandes refeições (Accioly e Chemin) Aconselhar a ingerir o máximo possível quando não estiver com náuseas Comer o que deseja todas as vezes que sentir fome (Chemin) Tratamento com vitamina B6 (suplementação de 25mg/ 3 vezes ao dia) Consumir gengibre ou produtos que o contenham Aliviar angústias e tensões (Chemin) Preferir alimentos com baixo teor de gordura e abrandados (tipo purê) Hiperêmese gravídica = vômito persistente e prolongado. Provoca alteração no balanço hidroeletrolitico, perda de peso acima de 5%, cetose e cetonúria, distúrbios neurológicos, lesão hepática, lesão renal e hemorragia retiniana (Dan). É necessário hospitalização para reposição intravenosa de fluidos e eletrólitos para impedir a desidratação e prevenção de cetose (Chemin). Em caso de hiperêmese, referenciar a gestante para o serviço de assistência pré-natal de alto risco (Accioly). Inicialmente, no quadro agudo, as pacientes não devem ingerir líquidos ou alimentos (Dan). Capítulo elaborado por Alessandra Mulder 17 Dan: A alimentação enteral tem mais sucesso nas mulheres em que a náusea e vômito estejam relacionados ao consumo de comida. Nos demais casos, independente da ingestão, a nutrição parenteral periférica e enteral devem ser combinadas. Existe uma resistência a introdução de nutrição enteral ou parenteral, em maternidades, provavelmente pela pequena experiência dos profissionais com o método. No entanto, após a introdução da nutrição enteral, os sintomas de náusea e desconforto abdominal logo diminuem. A nutrição enteral é preferível, entretanto ela deve ser contraindicada caso persistam náuseas e vômitos, devido risco de aspiração. Pirose ou azia ou refluxo gástrico: possivelmente relacionada ao aumento da progesterona que leva a hipotonia do esfíncter esofagiano e retardo do esvaziamento gástrico. Pode levar ao surgimento de hérnia de hiato diafragmática nas últimas semanas gestacionais, em geral essa hérnia regride após o parto (Chemin). Ocorre mais comumente após as refeições devido a pressão do útero sobre o estômago, com sensação de desconforto e queimação. Orientações: Evitar café, chá, mate, álcool, frituras, pastelarias, fumo e doces Excluir/substituir alimentos que provoquem desconforto/intolerância O leite deve ser incluído no planejamento dietético, evitando sua utilização com função de tamponamento gástrico (Accioly) Indicar dieta fracionada e em menor volume (5 a 6 refeições/dia) (Accioly) Fazer refeições pequenas, comer devagar, mastigar bem e evitar o estresse (Chemin). Não ingerir líquidos nas grandes refeições (Chemin). No início da gestação, os antiácidos devem ser evitados, pois nessa época a acidez gástrica está reduzida. Após essa fase eles devem ser usados somente com orientação médica (Chemin). NÃO se deve restringir alimentos ácidos Sialorreia ou ptialismo (salivação excessiva): Orientar para deglutir a saliva; Aumentar a ingestão de líquidos; Estimular o consumo de frutas com caldo; Orientações semelhantes à indicada para náuseas e vômitos; Indicar dieta fracionada e em menor volume (5 a 6 refeições/dia). Fraquezas e desmaios: relacionados à hipotensão arterial ou hipoglicemia. São sintomas comuns no início da gestação. Orientações: Evitar jejum prolongado e intervalo grande entre as refeições; Orientar para utilização normal do sal na dieta, exceto em casos de hipertensão arterial grave (Accioly e Chemin); Indicar dieta fracionada e em menor volume (Accioly e Chemin); Evitar a inatividade (Chemin). Plenitude: é comum na gestação de gemelar e no último trimestre de gravidez pela compressão gástrica pelo útero aumentado. Repercute em ingestão alimentar insuficiente (Chemin). Orientações: Aumentar o fracionamento da dieta e nos casos mais graves alterar a consistência para pastosa (jantar e ceia); Ajustar a alimentação conforme a tolerância, evitando grandes volumes por refeição; Reduzir o volume das refeições e aumentar a densidade calórica utilizando óleo e açúcar e se o VET não estiver sendo alcançado usar complemento nutricional ; Evitar deitar-se após a refeição; Orientar o uso de roupas amplas e confortáveis. Constipação intestinal e flatulência: Definição: esforço ao evacuar, fezes endurecidas