Prévia do material em texto
Subsecretaria de Gestão de Corporativa - SUCOR Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas - Cogep Escola de Administração Fazendária ESAF Preparação para Aposentadoria - Caminhos 2 MÓDULO 2 – PLANEJAMENTO FINANCEIRO .....................................................................3 UNIDADE 2 – INVESTINDO SEU DINHEIRO ........................................................................3 ENCERRAMENTO DA UNIDADE 2 ................................................................................... 24 Anexo I - CONSIDERAÇÕES SOBRE INVESTIMENTOS ....................................................... 25 Anexo II - COMENTÁRIO DO AUTOR ............................................................................... 28 Anexo III - COMO EVITAR FRAUDES ................................................................................ 30 Sumário 3 MÓDULO 2 – PLANEJAMENTO FINANCEIRO UNIDADE 2 – INVESTINDO SEU DINHEIRO “O planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões presentes.” Peter Drucker POR QUE INVESTIR? Várias são as teorias que fundamentam a atitude de pessoas que se abstêm de consumir no presente para fazer uma reserva financeira – uma poupança. 4 POR QUE CERTAS PESSOAS AGEM ASSIM? O QUE AS MOTIVA? John Maynard Keynes (2009) responde a essa pergunta no livro “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”. Neste livro, ele apresenta uma lista dos motivos pelos quais as pessoas optam por poupar em vez de consumir. Por que as pessoas poupam? Segundo Keynes (2009), as pessoas poupam por alguns motivos. A - Constituir uma reserva para o caso de contingências imprevistas. B - Preparar-se para uma relação futura prevista entre a renda e as necessidades do indivíduo e sua família, diferente da que existe no momento, como, por exemplo, no que diz respeito à velhice, à educação dos filhos ou ao sustento das pessoas dependentes. C - Beneficiar-se do juro e da valorização, isto é, um consumo real maior em data futura é preferível a um consumo imediato mais reduzido. D - Desfrutar de um gasto progressivamente crescente, satisfazendo, assim, a um instinto normal que leva os homens a encararem a perspectiva de um nível de vida que melhore gradualmente, mesmo que a capacidade de satisfação tenda a diminuir. E - Desfrutar de uma sensação de independência ou do poder de fazer algo, mesmo sem ideia clara ou intenção definida da ação específica. F - Garantir uma reserva para realizar projetos especulativos ou econômicos. G - Legar uma fortuna. Quando se decide investir, é necessário considerar algumas questões para que o investimento esteja adequado com o valor e a finalidade do investimento1. 1 Economicamente falando, investimento deveria ter uma definição diferente de poupança, mas o jargão financeiro acabou por unificar estes dois conceitos. 5 Que tal conhecer um pouco mais sobre o assunto antes de continuarmos? Para isso, leia o texto do Anexo I “Considerações sobre investimentos” na seção de anexos. Antes de falar nos diversos tipos de investimentos e qual o mais adequado para suas necessidades, é necessário saber o significado de alguns conceitos. DIVERSIFICAÇÃO BALANCEAMENTO DA CARTEIRA RISCOS A seguir, vamos conhecer cada conceito separadamente... DIVERSIFICAÇÃO Para entender o que é diversificar, é preciso também entender o conceito estatístico chamado correlação, que é o conceito que indica o quão frequente duas medidas (em nosso caso, retorno de investimento) variam na mesma direção. No caso de investimentos, a diversificação tem três níveis: ALTA CORRELAÇÃO POSITIVA ALTA CORRELAÇÃO NEGATIVA AUSÊNCIA DE CORRELAÇÃO Depois de ler o conceito, exemplifiquemos. Suponha que haja três opções de investimentos: A, B e C. Que tal analisarmos três situações? 6 SITUAÇÃO 1 Imagine que toda vez que A subir, B também suba. Sempre. Esse é o exemplo de correlação altamente positiva. A B SITUAÇÃO 2 Quando A sobe, C sempre cai, isso denota uma forte correlação negativa. A C SITUAÇÃO 3 Por último, suponha que a relação entre B e C seja tal que nada se possa dizer do comportamento do investimento C quando se souber o que aconteceu com o investimento B. Esse último caso é de ausência de correlação. A C? 7 Veja, a seguir, a tabela com o esquema das possíveis correlações. Investimentos Correlação A e B Forte correlação positiva B e C Sem correlação A e C Forte correlação negativa Outra ressalva que deve ser feita é que a correlação não mede quanto cada um dos ativos varia, mas as proporções são, na maioria das vezes, as mesmas. Agora, reflita! Sabendo que diversificar é o nome sofisticado para o conselho popular de não colocar todos os ovos na mesma cesta, qual dupla de investimentos você escolheria para colocar seu dinheiro? A resposta correta é B e C. Vamos entender mais adiante. Mas, por que a opção “B e C” é a mais adequada? E por que as outras opções não são tão boas? Leia os comentários do autor no Anexo II. Balanceamento da carteira A página na internet The Motley Fool, que discute finanças pessoais de forma despojada, apresenta um artigo denominado “Uma breve história de um investidor estúpido”, no qual é debatida a questão da escolha dos investimentos para os próximos dez anos. Com base nos dados históricos (é o que normalmente se olha quando são feitas as previsões de investimento), o autor conseguiu mostrar que é possível obter um retorno seis vezes maior com uma estratégia balanceada fixa e constante do que ao fazer sempre a opção pelo último investimento que rendeu mais. 8 Essa é uma prática muito comum com investidores inexperientes. Geralmente, ela acontece quando as pessoas escutam que tal aplicação rendeu bastante, mas resolvem colocar o seu dinheiro justamente na pior hora. Ao utilizar a estratégia de balanceamento da carteira, isso não ocorre. A estratégia balanceada dá-se com o pré-estabelecimento de percentuais do total da carteira, de maneira fixa, em cada um dos segmentos de risco selecionados. Os percentuais mencionados devem ser definidos em função de sua tolerância ao risco. Algumas pessoas associam também à idade do investidor, mas, em nosso caso, essa associação já será levada em conta quando a tolerância for definida, como você verá mais adiante. Essa estratégia garante que sua opção sempre será por vender na alta e comprar na baixa. Vejamos a seguir... Para simplificar, suponha que sua carteira tenha 50% em ações e 50% em renda fixa. Carteira inicial: R$ 2.000,00 Percentual em ações 50% (R$ 1.000,00) Percentual em renda fixa 50% (R$ 1.000,00) Vamos imaginar a seguinte valorização: Ações – valorização nominal de 32% em um ano; Renda fixa – valorização de 8% em um ano. Carteira após um ano: R$ 2.400,00 Percentual em ações 55% (R$ 1.320,00) Percentual em renda fixa 45% (R$ 1.080,00) Veja que a carteira ficou desbalanceada com relação à proporção inicialmente estabelecida. Para ajustar o balanceamento, vende-se R$ 120,00 em ações e aplica-se esse valor em renda fixa. 9 As ações, nesse exemplo, estavam em alta porque apresentaram um retorno de 32%, enquanto a renda fixa rendeu 8%. Na estratégia de balanceamento da carteira, aquele que render mais será colocado à venda, e o valor será investido naquele que rendeu menos, ficando assim: Carteira após um ano: R$ 2.400,00 Percentual em ações 50% (R$ 1.200,00) Percentual em renda fixa 50% (R$ 1.200,00) Se essa diferença for pequena, os custos não compensarão um balancea- mento perfeito. Essa é uma estratégia di�cil de se colocar em prá�ca, tendo em conta a tentação de não vender uma parte da carteira de ações quando se está ganhando, mas é a formade manter a determinação de vender na alta e comprar na baixa. Veja a seguir a conclusão do assunto. Tome Nota Conclusão – balanceamento da carteira Uma alternativa à venda de ativos para rebalancear a carteira é aplicar novos recursos (ingressos periódicos, por exemplo) para compensar aqueles investimentos que estão com participação menor. Nem sempre é aconselhável vender determinados ativos (ou resgatar dinheiro de determinadas aplicações), dado que você vai pagar impostos pelo ganho obtido. 10 É importante esclarecer que, nem esse percentual e nem essa quan�dade de a�vos (ações e renda fixa) são os indicados, conforme você verá mais adiante. Tratam-se apenas de exemplos para descrever o mecanismo de balanceamento. Importante Riscos Antes de entrarmos na seleção dos investimentos, precisamos entender que, qualquer que seja a opção escolhida, existe algum tipo de risco associado a ela. Por conta disso, é necessário ter conhecimento dos principais tipos de ameaças a seu patrimônio. RISCO DE CRÉDITO É o risco de não receber o valor em função do não pagamento do devedor. Trata-se do mais comum dos riscos, porque deparamos com ele em nossas transações do dia a dia. Veja que o risco de crédito dos títulos do Tesouro no Brasil é o mais baixo de todas as opções de investimento. Isso, entre outras coisas, tem uma razão em função da possibilidade de o governo emitir dinheiro (ainda que isso venha a elevar a inflação) para pagar suas dívidas. A última crise mundial, iniciada em 2008, mostrou a força dos governos e quanto foram importantes para o restabelecimento da confiança nos mercados financeiros. Isso, contudo, não garante a tais papéis a utópica classificação de “ativo livre de risco”, porque não há ativo que mereça essa classificação. Já houve casos, no passado recente, que demonstram a possibilidade de o governo vir a alterar as condições de juros e de vencimento desses títulos públicos. RISCO DE LIQUIDEZ É a redução no valor de algum investimento causado pela necessidade de venda imediata. Embora seja menos considerado na maioria das aplicações financeiras, podemos encontrá-lo em alguns títulos, imóveis etc. 11 O curioso sobre esse risco é o fato de que você se depara frequentemente com ele quando negocia algum bem. Imagine que você queira vender seu carro. Há dois tipos de pessoas, exceto a que tem necessidade financeira imediata: aquelas que são mais ansiosas e aquelas que são muito otimistas. As ansiosas preferem entregar o carro a uma concessionária – por um preço sabidamente inferior ao que receberiam – para se verem livres de colocar imediatamente o bem à venda. Já as otimistas demais acreditam que o seu próprio bem tem um valor superior ao que o mercado entende ser o justo. Pois bem, quanto mais “pressa” para vender um determinado bem você tiver, maior será sua disposição em abrir mão do valor de venda. Para termos uma medida da liquidez, o referencial é o dinheiro. Ele tem liquidez imediata, obviamente, porque não precisa ser transformado nele mesmo. As perdas com a transformação de patrimônio em dinheiro dão o tamanho do risco de liquidez. RISCO DE MERCADO É o risco de variação de preços. No caso do mercado financeiro, temos o risco de variação de preços no câmbio (subida ou descida do dólar), nas ações, nas commodities, nos derivativos (que optei por chamar de derivados) e nas taxas de juros. Trata-se de um risco mais “sutil”, quando observamos as opções disponíveis para investimentos, porém é muito comum seu entendimento, principalmente quando pensamos nas ações. A possibilidade de que o valor da ação caia é a própria representação desse risco. No que se refere ao risco de mercado, você é testemunha da constante variação nos preços das ações que sobem e descem ao sabor dos fatos e dos boatos. Há um risco de mercado também, todavia, nas operações consideradas mais conservadoras. Muitas pessoas já viram os recursos aplicados em fundos de investimento de renda fixa diminuir de valor. Por que isso aconteceu? Os investimentos em renda fixa também sofrem com a variação de preços. Que preço? - você deve estar se perguntando. A resposta é: o preço do dinheiro, comumente conhecido como “juros”. Os juros podem subir e descer, e, com isso, causar perdas momentâneas (em alguns casos permanentes) aos portadores de títulos de renda fixa. Os investidores em fundos de investimento que têm esses títulos em suas carteiras também estão sujeitos a essas perdas. 12 Isso acontece porque os títulos de renda fixa são emitidos com uma taxa fixa e vendidos com deságio. Por exemplo: vamos considerar um título com resgate em um ano de R$ 2.200,00. Se as taxas de juros estiverem em 10% ao ano, ele será vendido por R$ 2.000. O cálculo é feito de trás para a frente, isto é, como o valor do título é fixo (R$ 2.200,00), assim como a data para o resgate (trocar o título por dinheiro), a única forma de transformá-lo em um investimento é aplicar um deságio sobre esse valor de face. Ou seja, quem for adquirir o título pagará menos que o valor fixo nele registrado. Qual o valor A que, acrescido de 10%, chegará a R$ 2.200,00? A conta é assim: A x 1,1 = 2.200 A = 2.200/1,1 A = 2.000 O 1,1 que aparece é 1 inteiro mais 10%. Se fosse 15%, seria 1,15, e se fosse 4%, seria 1,04. Por quê? Veja, se você tiver R$ 1.000,00 no bolso e a taxa de juros estiver em 10% ao ano, haverá uma opção de investimento na qual o seu dinheiro será aplicado, e, após um ano, você terá R$ 1.100,00. Dessa forma, serão indiferentes tanto a escolha do investimento “A” quanto a compra do título por R$ 1.000,00, visto que um ano depois você vai resgatá-lo (o título) por R$ 1.100,00. Confira que, do ponto de vista do risco de mercado, não há diferença entre as duas opções. Contudo, o risco de crédito pode ser diferente. Feito esse preâmbulo, veja como fica a questão do risco. Se você entendeu tudo direitinho até aqui, responda: 13 O que aconteceria se as taxas de juros subissem de 10% ao ano para 15% ao ano e você �vesse comprado o �tulo pelo valor de R$ 2.000,00? Tomara que sua resposta seja: “Depende”. A primeira sensação que você pode ter é que aplicou dinheiro a 10%, enquanto deveria ter aplicado a 15%. O problema é que você não tem bola de cristal (olha o risco aparecendo) e não havia como prever que a taxa de juros fosse subir. Logo, vamos para as conclusões: Se você tiver de vender o título, o novo comprador vai fazer o mesmo cálculo que você fez, isto é, ele calculará qual o valor que deve lhe pagar para receber os R$ 2.200,00 do devedor no vencimento. Como em vez de 10% as taxas agora são de 15%, os R$ 2.200,00 serão divididos por 1,15, o que, obviamente, retornará um valor menor (R$ 1.913,04). Nesse caso, tenho de deixar claro que, neste exemplo, a taxa de juros foi alterada no dia seguinte, e que não considerei esse dia no cálculo da taxa de juros (se quiser calcular, fique à vontade), por considerar um dia em 360 de pouca relevância para a ilustração. Certamente, o prazo teria de ser levado em conta se fosse superior. Dessa forma, você pode ver que, mesmo aplicando em um investimento denominado de “renda fixa”, é possível defrontar-se com perdas. Porém, nem tudo está “perdido”. O motivo dessa afirmação é que você só terá realmente uma perda se vender o título naquele momento. Se você mantiver a aplicação até o momento do vencimento, receberá os R$ 2.200,00, é claro! No vencimento, o devedor entregará, a quem tem o título, o valor que está registrado nele. Assim, se você não vender para outra pessoa, seu título (a menos que o devedor dê o calote) valerá, no dia do vencimento, o valor combinado. Certamente, se houver uma elevação nas taxasde juros do mercado, você ganhará menos do que poderia ter ganhado. Como você não é adivinho, nenhum problema até aí. Você também pode ganhar mais que o combinado se o inverso acontecer, ou seja, se a taxa de juros diminuir. Basta refazer as contas com um valor menor para a taxa de juros para verificar o que estou falando. 14 Talvez você não tenha percebido, mas, com essa explicação, muito provavelmente, as variações nas taxas de juros anunciadas pelos jornais terão mais significado a partir de agora. Com isso, ficou claro que investimentos em renda fixa apresentam risco de mercado. O risco é um dos critérios fundamentais que se deve ter em conta na escolha do que e quanto investir. Neste sentido, é muito importante saber qual sua tolerância ao risco2 para fazer essa medição e determinar qual seu perfil de risco. Com um bloco de anotações em mãos, registre sua pontuação com base no questionário3, com acréscimos do autor deste conteúdo) a seguir e confira o seu perfil ao final. 1) Quando você precisará do dinheiro? Resposta: ( ) por volta de um ano (1 ponto) ( ) por volta de cinco anos (2 pontos) ( ) por volta de dez anos (3 pontos) ( ) por volta de uns 20 anos (4 pontos) Quanto mais tempo você puder manter o dinheiro investido, mais você poderá expô-lo a riscos. 2) Qual a probabilidade de você precisar do dinheiro antes do previsto? Resposta: ( ) altíssima (1 ponto) ( ) média (2 pontos) ( ) baixa (3 pontos) ( ) nenhuma (4 pontos) 2 Limite da perda que você é capaz de suportar. 3 Retirado do livro “401(k) Take Charge of Your Future”, de Eric Schurenberg (1998), com acréscimos do autor deste conteúdo. 15 Aqui entra o risco de liquidez com mais força. Quanto menores forem as chances de precisar dos recursos de forma inesperada, maior será a possibilidade de aplicar em investimentos com maior chance de perdas no curto prazo (supondo que possam ser recuperados no longo prazo). Nesse caso, algumas questões, como a segurança no emprego, a cobertura de seguros, a formação de uma reserva financeira de emergência, entre outras, são pontos preciosos na consideração da pergunta. 3) Quanto dinheiro você pode perder antes de perder a cabeça? Resposta: ( ) nenhum tostão (1 ponto) ( ) pouquíssimo (2 pontos) ( ) algum (3 pontos) ( ) uns 30% do meu patrimônio (4 pontos) A lógica nos diria que, se o dinheiro é para a aposentadoria, e se ainda faltam dez anos para isso acontecer, você não deveria ter problema algum em enfrentar uma perda de 10% a 20% em um ano nas aplicações. Você sabe que teria o tempo necessário para recuperá-lo. Infelizmente, “essa é a teoria”, como diz Schurenberg (2003). Todos sabemos que boa parte das pessoas perderia a cabeça quando as ações enfrentassem um período de baixa considerável. Você precisa ser realista quando considerar qual é seu limite psicológico para suportar a dor da perda financeira. Mesmo que olhe os gráficos de resultados das ações no longo prazo e perceba que elas sempre se recuperam de perdas, você passa a pensar apenas em uma coisa: sair logo com o que lhe restou. Estabeleça o seu limite emocional. Quanto você pode perder sem saber quando terá o dinheiro de volta – 10%, 15%, 20%, 30%? Nada? Se você sucumbe a esse limite e sai do mercado, corre o risco de curto prazo das ações e não se beneficia, quando o mercado volta, dos retornos mais pronunciados. 16 4) Você conhece os princípios básicos dos mercados? Resposta: ( ) nada (1 ponto) ( ) pouco (2 pontos) ( ) o suficiente (3 pontos) ( ) muito (4 pontos) Não se trata de nada sofisticado, mas do funcionamento básico dos produtos financeiros e de seus riscos. Quanto mais domínio desses aspectos você detiver, mais tranquilidade terá ao tomar suas decisões, seja para continuar com seu projeto, seja para não se envolver em operações financeiras que apresentem um risco para o qual você não tenha tolerância. Não é importante saber muito, basta conhecer bem os conceitos básicos. Não será necessário realizar muitas contas, mas entender como funcionam as aplicações. Resultado De 4 a 9 pontos – conservador De 10 a 12 pontos – moderado De 13 a 15 pontos – arrojado 16 pontos – agressivo 17 E agora? Que tal fazer um plano de investimento? Para começar a elaborar o seu plano de investimentos, tenha em mente a estrutura a seguir. Sonhar Orçar Estimar Perseguir Revisar Atingir Sonhar O primeiro passo é sonhar. Para isso, é necessário que você tire um tempo para refletir e estabelecer quais são os objetivos de vida que você pretende atingir. Não apenas sob o aspecto financeiro, mas, principalmente, no que diz respeito ao estilo de vida que pretende ter. Orçar Com base em seu projeto de vida, você deve elaborar um orçamento. O orçamento já tem um bom caminho andado com relação àquilo que você já elaborou na seção que tratamos do assunto. A diferença daquele que você fez e o que estamos projetando para o futuro não é muito grande. Você pode fazer, sem muito esforço, uma adaptação, retirando alguns itens e acrescentando outros. Lembre-se de manter os valores atuais. Não é necessário que acrescente nenhuma correção de valores, porque vamos tratar dos investimentos em termos reais, isto é, somente o rendimento que supera a inflação. Acrescente seus planos ao orçamento. Por exemplo: a quantidade de viagens a realizar no futuro (você terá mais tempo livre para isso), ou algum outro hobby ou atividade que demande alguma despesa contínua. Estimar Passemos ao processo de estimativa, então, para ver qual será a sua necessidade, ou, se for o caso, se a sua renda regular será suficiente para as despesas que venha a projetar. 18 Estimativa da renda regular Essa é a parte mais importante do seu plano financeiro. Estime quanta renda regular você espera alcançar para arcar com suas despesas convencionais, tais como alimentação, aluguel, vestuário, contas de telefone, taxas, seguros, energia elétrica, financiamento imobiliário ou outras prestações de financiamentos. Avalie a possibilidade de utilizar alguma economia (poupança) para reduzir as dívidas. Essa atitude pode reduzir o montante de renda regular necessária. O dinheiro para pagar essas despesas deve vir de fontes seguras e regulares, tais como a sua aposentadoria, benefícios de planos de previdência – ou alguma outra forma de pensão – investimentos, salário do cônjuge (lembre-se de que você estará aposentado e não mais terá salário), se este ainda trabalhar. Vamos denominar este montante de “renda regular” na aposentadoria. Perseguir, Revisar e Atingir As fases Perseguir, Revisar e Atingir são intuitivas. 19 Entenda os segmentos de risco Listamos a seguir os principais segmentos (à exceção dos imóveis, todos ligados ao sistema financeiro) de risco de variação de preços. Segmento 1 – DI/Selic; Segmento 2 – Prefixada com inflação; Segmento 3 – Prefixada pura; Segmento 4 – Ações; Segmento 5 – Imóveis. Você pode entender que as aplicações financeiras listadas de 1 a 4 apresentam risco de variação de preços nessa ordem: 1 menos arriscado e 4 mais arriscado. O segmento 5 não será tratado. Somente estão sendo descritos os produtos tradicionais, e não os seus derivados (deriva�vos: opções, swaps etc.). A compra individual de ações também não está em discussão detalhada aqui. Importante A seguir constam os exemplos de investimentos em cada um desses quatro primeiros segmentos. Segmento 1 – DI/Selic Fundos referenciados DI. Certificado de Depósito Bancário referenciado em DI (CDB-DI). Letra Financeira do Tesouro Nacional (LFT), rende Selic. Segmento 2 – Prefixada com inflação Nota do Tesouro Nacional série B (NTN-B). CDB indexadoà inflação. 20 Segmento 3 – Prefixada pura Fundo de renda fixa. CDB prefixado. Letra do Tesouro Nacional (LTN). Segmento 4 – Ação Fundos de ações. Fundos de ações negociados em bolsa (PIBB11, por exemplo). Os fundos mul�mercados não foram incluídos nessa listagem, justamente porque eles incorporam elementos de vários segmentos em um único fundo (daí o mo�vo da sua denominação). Importante Como fazer a sua seleção A mistura adequada deve levar em conta o perfil de risco, conforme falamos. Neste caso, você pode montar o seguinte quadro – que deve ser considerado apenas no momento da aposentadoria: Perfil/segmento DI/Selic Prefixada com inflação Prefixada pura Ações Conservador 55% 30% 10% 5% Moderado 30% 35% 20% 15% Arrojado 15% 20% 20% 45% Agressivo 10% 15% 15% 60% 21 Muito cuidado com a interpretação de arrojado e agressivo. Mesmo que você pense de forma arrojada, ou que seja “destemido”, “valente” e outros termos que o valham, dê uma olhada no trecho que trata da determinação de seu perfil de risco e lembre-se de que há fatores a considerar, como em quanto tempo você precisará dos recursos e quanto você precisa ter de reserva de emergência. Importante Em resumo: 1) Conheça o seu perfil de tolerância ao risco; 2) Estabeleça, com base nesse perfil, o percentual de alocação de investimentos em cada um dos segmentos, identificando os produtos e a composição de cada um; 3) Faça os investimentos e pratique o rebalanceamento periódico, observando os custos de trocar aplicações (use, alternativamente, os novos recursos para compensar aqueles investimentos que estão com participação menor); 4) Reveja sua estratégia pelo menos a cada dois anos, para verificar se seus planos, se sua tolerância ao risco ou o retorno médio da carteira sofreram alterações significativas, se comparados às condições iniciais. Para finalizar nosso estudo, faça a leitura do Anexo III “Como evitar fraudes”, disponível na seção de anexos, que aborda algumas precauções que você deve tomar ao fazer investimentos para sua proteção e de sua família. Investir para a qualidade de vida na aposentadoria representa realizar investimentos financeiros associados ao aproveitamento de seu tempo com saúde e liberdade, autonomia para ir e vir, realizar atividades prazerosas e curtir a família. Vamos descrever alguns tipos de investimentos que geram renda passiva, para complementar seu orçamento familiar. 22 Benefício de previdência complementar Existem dois produtos financeiros desenhados com a finalidade de ilustrar a aposentadoria: Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL) e Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL). Ambos consistem em um fundo de investimento, portanto, sem garantia de rentabilidade mínima, com a cobrança de taxas (administração, carregamento e saída). Podem ser resgatados a qualquer momento após a carência de 60 dias, pagando menos IR se permanecer no plano pelo longo prazo. O PGBL é mais indicado para quem faz a declaração completa de IR, com o bene�cio de abater até 12% da renda tributável no cálculo de imposto devido. Optando pela tabela regressiva, após dez anos de aplicação, a alíquota de imposto é de apenas 10%, muito menor que a alíquota de 27,5% que a maioria dos declarantes costuma pagar. O VGBL é mais indicado para quem faz a declaração simplificada ou de isento, ou, ainda, decida contribuir com mais do que 12% da renda bruta anual. Neste caso, o imposto devido recai apenas sobre o ganho da aplicação do fundo. A Superintendência de Seguros Fechados (Susep) fiscaliza e regula as empresas de previdência complementar abertas, oferecendo um Guia de Orientação e Defesa do Segurado. Acesse aqui: <h�p://www.susep.gov.br/menu/informacoes-ao-publico/ orientacao-ao-consumidor/>. Saiba Mais 23 Renda gerada por aplicações financeiras Existe uma variedade enorme de aplicações financeiras, desde a mais simples e popular, como a caderneta de poupança, até a compra de ações de empresa. A caderneta de poupança é uma aplicação segura, sem incidência de imposto de renda ou custos, sendo, assim, a mais utilizada pelos brasileiros. Os títulos públicos, disponíveis para compra e venda no sítio do Tesouro Direto, são aplicações de baixo risco, especialmente quando se resgata até a data de vencimento, garantidos pelo governo federal. Eles apresentam boa rentabilidade com baixo custo, pagando imposto somente no resgate. Outras rendas passivas As rendas passivas para complementar a aposentadoria podem vir de royalties de venda de livros ou de franquias, aluguéis de imóveis, arrendamento de propriedades rural (sítios, fazendas). Estas correspondem a rendas provenientes de um trabalho prévio e acumulação de capital ao longo da vida ativa; por exemplo, ter escrito livros, montado franquias de negócio, comprado imóveis urbanos ou rurais. “As pessoas são responsáveis e inocentes em relação ao que acontece com elas, sendo autoras de boa parte de suas escolhas e omissões.” Lya Luft 24 ENCERRAMENTO DA UNIDADE 2 Chegamos ao término do estudo desta unidade. Se estiver inseguro com relação a algum tema abordado, reveja o conteúdo. Na próxima unidade, falaremos sobre previdência. Vamos lá? 25 Anexo I - CONSIDERAÇÕES SOBRE INVESTIMENTOS Quando se decide investir, há algumas questões que precisam ser decididas, caso o investimento te nha como finalidade formar a poupança de forma independente: • aderir ou não a programas predefinidos, ou a planos de previdência privados (ou ainda poupar ou não, para quem quer uma carreira “solo”); • com quanto contribuir (poupar); • onde investir; • quando rebalancear a carteira (vamos tratar esse assunto mais adiante). Como se não bastasse ter uma lista de perguntas a responder, você depara ainda com um conjunto de “forças do mal” que tentam sabotar seu desejo. São elas: • falta de força de vontade; • pouco conhecimento sobre a renda que você terá no momento em que se aposentar; • dificuldade em estabelecer metas de poupança, em função de os dados necessários serem prospectivos (como taxas de juros impossíveis de se prever a priori). Sobre esse último ponto, você pode acabar sendo levado a investir menos do que o necessário pela ação dos vendedores de produtos financeiros. De modo geral, tendemos a tomar atitudes pouco racionais no que se refere a investimentos. Um estudo denominado $100 bills on the sidewalk: suboptimal savings in 401(k) plans4 mostra que aproximada mente 50% dos investidores em planos de previdência nos Estados Unidos investem menos do que deveriam para obter o máximo de resultado. Como as contribuições a esses planos são “cobertas” integral ou parcial-mente pelos empregadores, seria interessante que, mesmo que sacassem imediatamente após a “cobertu-ra”, os investidores fizessem depósitos maiores. Para os autores, isso indica que incentivos financeiros nem sempre são suficientes para levar as pessoas a poupar mais. Mesmo porque elas podem não “entender” o funcionamento do benefício. Harry Markowitz em “Portfolio Selection”5 declarou que sua teoria de análise de média-variância po deria ser utilizada tanto como hipótese para explicar o comportamento do investimento 4 CHOI, J. J.; LAIBSON, D.; MADRIAN, B. C. $100 bills on the sidewalk: suboptimal savings in 401(k) plans, NBER Working Paper n. 11554. 5 MARKOWITZ, Harry. “Portfolio Selection” The Journal of Finance, Vol. 7, No. 1 (Mar., 1952), pp. 77-91 26 bem estabelecido, quanto como uma ‘máxima’ para guiar ações individuais. Isso quer dizer que a teoria desfrutaria do poder de ser uma conclusão acerca do comportamento das pessoas no momento do investimento, ou de representar uma “receitade bolo” para os investidores. A análise de média-variância associa o retorno médio de um determinado investimento com uma medida de risco para que, com base na melhor combinação entre diversas opções disponíveis, você possa aplicar seus recursos. Em outros termos, o que essa teoria propõe é que você faça uma combinação de risco e retorno, obtendo, para um dado grau de risco, o máximo retorno possível. Em 1961, Howard Raiffa, professor de Harvard, publicou um artigo denominado “Risk, ambiguity, and the savage axioms: comment”6 em que afirmava: O fato de que se pode demonstrar que a maioria das pessoas é inconsistente sobre seu com-portamento de escolha corta dois caminhos: primeiro, enfatiza as dificuldades encontradas em colocar em prática um modelo [racional]. Segundo, claramente demonstra quão impor tante é ter uma teoria que possa ser utilizada para ajudar a tomar decisões sob incerteza. Se a maioria se comportasse de maneira minimamente consistente com [...] a teoria [de Markowitz], isso iria fazer que ela ganhasse estatura como teoria descritiva, mas perderia uma grande parcela da sua importância normativa. Não precisamos ensinar às pessoas o que vem normalmente. Mas como isso está, precisamos realizar muita educação. O trabalho de Markowitz mostra a forma correta de investir. As simplificações são tentadoras, mas o pensamento racional nos traz à lembrança que suas decisões devem ser, no mínimo, multidimensionais e precisam se basear em, pelo menos, três fatores: • retornos esperados; • volatilidade (risco); • despesas administrativas. Para John Y. Campbell, autor de Strategic asset allocation: portfolio choice for long-term investors7, os investidores deveriam: 6 HAIFFA, Howard. Risk, ambiguity, and the savage axioms: comment. The Quarterly Journal of Economics, Cambridge, MA: The MIT Press, v. 75, n. 4, p. 690-694, 1961. 7 CAMPBELL, John Y. “Strategic asset allocation: portfolio choice for long-term investors”, palestra proferida para a American Eco- nomic Association e American Finance Association em 4 de janeiro de 2002. 27 1. Pensar de forma sistêmica sobre suas preferências e as restrições com as quais se defrontam (renda, consumo, despesas fixas etc.). 2. Ter crenças sobre o futuro – não apenas sobre o retorno médio e riscos, mas sobre o processo dinâmico que determina as taxas de juros e os prêmios de risco. Tais crenças devem ser consis-tentes com uma visão razoável sobre o equilíbrio da economia em longo prazo. 3. Resolver o problema de otimização intertemporal que desenharam. 4. Conduzir seu plano estratégico sem sucumbir à tendência psicológica documentada pelos economistas de finanças comportamentais. Tenha a certeza de que, muito provavelmente, essas características estarão fora do alcance da imensa maioria das pessoas, se é que estão ao alcance de alguém. Veja que Campbell reconhece que sua “lista de desejos” é inviável para os investidores, sejam eles de que porte forem. Ele propõe que se juntem vários ele-mentos que possam sanar a inexistência da máquina de investir procurada por você e por todos habitantes do sistema solar. Por isso é que não podemos dizer que há uma fórmula fantástica, mas existem algumas ferramentas que facilitarão seu trabalho na hora de decidir sobre quando, quanto e onde investir seu dinheiro. 28 Anexo II - COMENTÁRIO DO AUTOR Diversificação Escolher o tipo de investimento B e C significar diversificar. Diversificar significa “reduzir riscos”, uma vez que o di nheiro é aplicado em produtos cuja variação é independente (ausência de correlação), ou seja, quando um sobe, o outro pode subir ou não. Não há relação entre os dois investimentos em termos de valorização ou de desvalorização, portanto, o risco fica minimizado. Escolher A e B representaria uma “concentração” e talvez fosse mais fácil aplicar em apenas um dos investimentos. Entretanto, escolher A e C seria o mesmo que “nadar e morrer na praia”, porque todo rendimento que estivesse sen do gerado por A seria consumido por C e vice-versa. Sobre essa última combinação, tem de ficar claro que a correla ção é fortemente negativa, se A subir, C cai, e se C subir, A cai. Quais as vantagens e desvantagens da diversificação? Colocar o dinheiro em vários investimentos tem uma vantagem: se um resultado negativo surgir em uma aplicação, os outros podem compensar. Em suma, diversificação é o termo técnico para o conselho dos nossos avós: “Não po nham todos os ovos na mesma cesta”. A analogia é perfeita. Se você investir seu dinheiro no modelo A e B, significa que, se uma das cestas cair, a outra também cairá e não sobrarão ovos, ao passo que o modelo B e C permitirá levar alguns para casa. Veja que esse conceito segue a lógica de reduzir perdas, e não de potencializar ganhos. A menos que você interprete a redução de perda como um ganho. Entretanto, a diversificação gera custos e pode “comer” um grande percentual do que seria o seu lucro se a quanti dade de dinheiro da qual dispõe for pequena. Desta forma, com menos de uns R$ 10 mil acumulados, não há sentido em diversificar muito. Estudos indicam que, para quem tem uma boa quantidade de recursos, a diversificação eficiente ocorre quando apli camos em 13 segmentos diferentes (estes estudos são mais voltados para o mercado de ações, no qual é possível montar uma carteira de vários segmentos distintos). Mais do que isso só gera trabalho para acompanhar tudo, e os ganhos em termos de redução dos riscos são mínimos. 29 Todavia, a diversificação a que me refiro aqui não intenta chegar a esse número de segmentos diferentes, mesmo porque seria muito difícil encontrá-los à disposição com facilidade em um mercado de opções conservadoras. Só para ilustrar, o megainvestidor Warren Buffett não gosta muito de diversificar. Na realidade, a atividade de Buffett é adquirir empresas, de modo que ele tem a perfeita noção do que procura. Você pode passar a exercer também essa atividade, embora não seja algo muito fácil de fazer. A maioria das pessoas prefere atuar em ramo mais tranqui lo e que proveja a segurança de que não será surpreendido com uma perda inesperada. A ideia de Buffett é que, se ele investir grande parte de seu patrimônio em uma operação de sucesso, o lucro será o máximo. Claramente, as minhas recomendações não podem ser nessa direção, porque se a escolha não for correta, você ficará sem nada. Além disso, o próprio Buffett não tomaria uma atitude dessas hoje em dia, dado o tamanho do patrimônio que possui e a chance de colocá-lo integralmente em risco. Acho mesmo que ele, apesar de fazer suas críticas, nunca agiu de maneira concentrada na hora de investir. 30 Anexo III - COMO EVITAR FRAUDES Uma das principais sensações que tenho quando vejo as pessoas fazendo consultas sobre os investi mentos é a de que elas estão sempre esperando uma fórmula mágica para torná-las milionárias da noite para o dia e com o mínimo esforço possível. O que se costuma chamar de “ganância” acaba sendo transformado em ilusão. Associado a isso, temos o caso do “enganado”, que acaba aparecendo como vítima. Acho importante, portanto, falar sobre os golpes aplicados em investidores. Muitos deles estão co meçando a ser praticados no Brasil ou já são velhos conhecidos, como é o caso das pirâmides, cujo exemplo foram os investimentos na criação de avestruzes. É curioso notar como as pessoas são atraídas pelas promessas de ganho fácil e de origem inexplicável (se alguém está ganhando dinheiro, alguém tem de pagar por ele). Se o produto em questão gerar um lucro fora do comum, em breve todos estarão fazendo aquele negócio e os retornos, naturalmente, tendem a re duzir. Assim, ainda que um negócio que paguealtas taxas de juros seja maravilhoso para você, não há lógica econômica que sustente uma taxa fora do normal. Veja algumas frases que, se ouvidas, devem fazer com que você redobre a sua atenção: • Seu retorno é garantido. • É uma taxa de retorno espantosa (ou fantástica). • Não há risco. • Você vai entrar no começo e quando estiver no topo… • Esta oferta só está disponível hoje. • Vamos deixar a papelada para depois. • É só você fazer o cheque (ou a transferência). • Você vai se arrepender se perder esta oportunidade. Se ouvir uma dessas frases ou se sentir pressionado, PARE! Esse é o sinal de que há algo errado com o que estão oferecendo a você. Temos de prestar muita atenção nas sugestões. As pessoas que estão oferecendo investimentos de maneira honesta vão ter interesse em lhe dar as mais detalhadas explicações, além de responder suas per guntas com precisão. Adicionalmente, antes de uma decisão financeira, você precisará de tempo para avaliar as possibilidades. 31 Diga sempre que você não vai tomar aquela decisão nos próximos dias, mas tem interesse em saber como funciona aquele tipo de produto ou serviço. Ouça atentamente, se não entender, pergunte, tome nota e discuta com alguém de sua confiança. No que se refere ao investimento em um negócio próprio, um dos pontos de partida é o estabeleci mento de um programa financeiro consistente. Você precisa ter a melhor previsão possível a respeito de qual será a sua receita estimada e qual será a sua despesa, como vimos no caso do orçamento pessoal, para que tenha noção de quanto capital será necessário investir. Todo empreendimento traz riscos e aquilo que você previu pode não vir a se realizar. Avalie até que ponto você pode permanecer no negócio sem que aquilo cause um dano a sua saúde financeira pessoal. Nunca sonhe nessas hipóteses. Seja realista e abandone o barco antes de afundar junto com ele, se for o caso de começar a entrar água. Aliás, se sua subsistência de- pender de um futuro rendimento “planejado” da nova empresa, não creio que seja uma atitude prudente se aventurar nela. Algumas precauções possíveis Aproveito para compartilhar com vocês uma interessante postagem do blog Get Rich Slowly (“Prepa ring for the Future: A Risk-Management Checklist” de Robert Brokamp - http://www. getrichslowly.org/blo g/2010/07/08/a-risk-management-checklist/). O assunto é a preparação para o inevitável. São algumas dicas para que você possa proteger “sua renda, suas coisas e a sua família”, como ele salienta. As ideias trazidas por Brokamp são intuitivas, práticas e abrem espaço até mesmo para umas intromissões da minha parte, que não serão poucas. Vamos começar com a proteção da renda. O principal objetivo da proteção da renda, esteja você trabalhando ou não, é o pagamento das des pesas. a) Seguro de vida: Se a única fonte de renda de sua família for o resultado de seu trabalho, então o seguro de vida é muito importante. No caso brasileiro, se a despesa for inferior ao rendimento proporcionado pela previdência pública, não se faz necessária tal medida. Para calcular a despesa, utilize uma planilha de orçamento. Lembre-se de que se houver contratação de financiamento imobiliário bancário (não é aquele direto com a construtora), o valor da prestação pode ser excluído do cômputo da despesa mensal, porque o financiamento será quitado, ou seja, você já tem um seguro de vida para a quitação do financiamento imobiliário. 32 b) Seguro com cobertura para invalidez. Mais uma vez, estamos tratando de um seguro que é coberto pela previdência pública, mas o valor de cobertura precisa ser contrastado com as despesas da família. Invalidez é um risco e precisa de cobertura de seguro, caso a fonte de renda seja exclusivamente a do trabalho. c) Fundo de emergência. Trata-se de uma quantia de dinheiro que ficará depositada em instrumentos financeiros de altíssima liquidez. Este montante deve corresponder a um período de 3 a 8 meses de despesas mensais. Esse prazo depende, entre outros, da origem da fonte de renda (funcionário de empresa privada, pública, empresário ou autônomo), dos membros da família, da existência de plano de saúde, da atividade econômica do País (mais atividade, menor o período). d) Colchão de renda. Esta proteção se aplica para as pessoas que já se aposentaram e mantém parte dos recursos em investimentos de renda variável. No Brasil, esse grupo de pessoas é muito pequeno se comparado ao que encontramos nos Estados Unidos. A precaução, contudo, é a seguinte: manter um montante de recursos da reserva para a aposentadoria, equivalente a cinco anos de despesas mensais, em investimentos de alta liquidez, tais como CDB-DI, Títulos públicos indexados à Selic (LFT), etc. A justificativa para esta medida é evitar o risco de ter que vender os ativos em momentos de baixa, que certamente virão, e terão uma duração incerta. O período de cinco anos, em geral, é suficiente para prevenir a venda de seus papéis a preço de banana. e) Plano para crescimento do capital humano. O capital humano é a capacidade que você tem de “gerar” riqueza com a sua capacidade intelectual/produtiva. Como a renda que você aufere depende de sua capacidade de criar valor para a empresa na qual trabalha ou da qual é dono, é importante que você tenha um plano para manter e incrementar essa capacidade. Não fixe os olhos apenas em seu ambiente atual de trabalho, mas considere o mercado. 33 Proteção da família O propósito desta proteção é evitar que a riqueza que você acumulou se perca por conta de docu mentações desatualizadas ou informações “perdidas”. a) Atualize seu testamento. “Se você não tiver um documento legalmente aceito dizendo quem fica com o quê, outra pessoa vai tomar essa decisão”. A atualização do testamento deve considerar alterações na composição da família, aquisição de propriedades recentes e mudança na preferência que você tem por seus parentes. b) Orientação médica a priori. A orientação de Robert Brokamp parte do princípio de que exista uma previsão legal acerca da possibilidade de deixar orientações para médicos no que se refere a seus procedimentos. No Brasil, há muito pouco espaço para isso. Provavelmente, só encontremos algum tipo de discricionariedade no que se refere à doação de órgãos. De qualquer modo, ainda que tais orientações, no caso brasileiro, não tenham poder legal, ajudarão se algum parente seu tenha que tomar decisões, quando a capacidade para tal estiver fora do seu alcance. c) Procuração “durável”. Para permitir que alguma pessoa indicada por você se torne seu representante legal, caso você venha a ficar impossibilitado de tomar decisões. Há questões legais a considerar se você tiver um cônjuge. Procure, portanto, um advogado especializado em sucessões para auxiliá-lo com relação a isso. d) Agentes fiduciários. Segundo Brokamp, nem todos precisam de um agente fiduciário. A contratação de um depende do tamanho de seus ativos e do quanto você confia nas pessoas que eventualmente vão herdar seu dinheiro. e) Mantenha atualizadas as informações dos beneficiários. As apólices de seguro e os planos de previdência possibilitam que você indique os beneficiários. A manutenção dos dados atualizados evita que o dinheiro vá para outras pessoas. f) Lista de onde você guarda as coisas. A sua família precisará de informações sobre quem são os profissionais aos quais você confiou as informações sensíveis referentes ao patrimônio. Da mesma forma, documentos legais, apólices de seguro, cofres de aluguel e de casa, etc. Eu acrescentaria a essa lista aquelas coisas que ficam escondidas como algumas joias e moeda estrangeira, em pequenas caixas ou bolsos. Esses itenspodem acabar sendo “doados” com as roupas que servem de esconderijo. Finalmente, se você tiver um seguro contra roubo e incêndio, mantenha, separado dos bens, é óbvio, alguma prova de que você adquiriu cada um deles. Podem ser as notas fiscais ou, em último caso, fotos dos bens, embora as fotos possam ter menos valor como prova do que as notas.