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LUCIANE GUIMARAES MARTINS BASTOS

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1
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES 
PROJETO A VEZ DO MESTRE 
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO” 
 
 
 
 
A PSICOMOTRICIDADE COMO PROMOTORA DA QUALIDADE 
DE VIDA NA TERCEIRA IDADE 
 
POR: Luciane Guimarães Martins Bastos 
Orientador: Profº Ms. Nilson Guedes de Freitas 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
Julho/2004 
 2
 
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES 
PROJETO A VEZ DO MESTRE 
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO” 
 
 
 
A PSICOMOTRICIDADE COMO PROMOTORA DA QUALIDADE 
DE VIDA 
NA TERCEIRA IDADE 
 
POR: Luciane Guimarães Martins Bastos 
 
 
Trabalho apresentado em 
cumprimento às exigências para 
a obtenção do grau de 
especialista no curso de Pós-
graduação em Psicomotricidade 
da Universidade Cândido Mendes 
– Projeto A Vez do Mestre 
 
 
Rio de Janeiro 
Julho/2004 
 
 3
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho á minha avó 
Margarida, a grande responsável pelo 
meu amor a Terceira Idade, aos meus 
queridos pacientes, que me fazem 
crescer em experiência a cada dia. 
 
 
 
 4
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço aos professores da 
UCAM, em especial ao meu 
orientador Nilson, pela paciência e 
dedicação. 
Á minha filha, Carolina que mesmo 
inconscientemente entendeu os meus 
momentos de ausência. 
 5
 
 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A maior felicidade do ser humano, 
 é acreditar que pode superar todas 
 as fases de sua vida, não encarando 
 como obstáculo e sim como um 
desafio” 
 
Autor desconhecido 
 6
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO..................................................................................... 08 
1. GERIATRIA E GERONTOLOGIA.................................................... 10 
2. FENÔMENO DO ENVELHECIMENTO............................................ 16 
3. PSICOMOTRICIDADE..................................................................... 23 
4. QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE.............................................. 32 
5. O REFLEXO DA RETROGENESE PSICOMOTORA..................... 45 
 NO GERONTE 
6.O PAPEL DA ATIVIDADE PSICOMOTORA EM GRUPO................51 
CONCLUSÃO.......................................................................................57 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 59 
ANEXOS.............................................................................................. 60 
ÍNDICE..................................................................................................61 
FOLHA DE AVALIAÇÃO ....................................................................62 
 
 
 7
RESUMO 
 O presente trabalho se propõe a fazer uma abordagem atualizada, com base na 
revisão bibliográfica de diversos autores como Lukesi, Freitas,Fonseca, entre outros, 
sobre o aumento significativo da perspectiva de vida , da realidade e das 
necessidades de idosos acima de 60 anos, para que seja então analisada o aumento 
da qualidade de vida propiciada a camada senil da população através de uma 
proposta psicomotora. Durante o trabalho de pesquisa , foi abordado fatores que 
possibilitam promover o retardo dos declínios decorrentes do envelhecimento, 
prevenindo doenças e buscando saúde, contribuindo assim para melhora na qualidade 
de vida. Enfatizamos a integração dos próprios sentimentos e sua ação, da alma e a 
motricidade, objetivando seja , a educação e reeducação dos movimentos de forma 
globalizada e eficaz,por fim sob uma visão sistêmica, enfocamos a terceira idade 
tanto no aspecto natural como ciclo biológico da vida, como também no aspecto 
psicossocial, e com isso , concluímos ao longo da pesquisa a importância na relação 
da psicomotricidade como promotora da qualidade de vida na terceira idade. 
 
 Palavras-chave: Psicomotricidade. Terceira idade. Qualidade de vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 8
INTRODUÇÃO 
 
O século XX marcou definitivamente a importância do estudo da velhice, fruto, 
de um lado, da natural tendência de crescimento do interesse em pesquisar e estudar o 
processo de envelhecimento que já se anunciava nos séculos anteriores. Por outro lado, 
o aumento do numero de idosos em todo o mundo exerceu pressão passiva sobre os 
desenvolvimentos desse campo. 
 Sendo assim, terceira idade requer cuidados especiais, principalmente quando 
vivemos numa sociedade que privilegia os bens em detrimento do Ser. A "velhice" traz 
consigo muitos preconceitos com relação à capacidade produtiva do ser humano nesta 
faixa etária, mas é nesta fase que a sabedoria adquirida com as experiências de vida 
pode trazer nova luz para os que se sentem à margem do sistema social. 
O principal objetivo deste trabalho consiste em abordar a terceira idade, tanto 
no aspecto natural como ciclo biológico da vida, como também no aspecto 
psicossocial,fazendo considerações entre a fisioterapia e psicomotricidade como 
promotora da qualidade de vida em idosos acima de 60 anos. 
Considerando tal importância , esta pesquisa visa, através de revisão 
bibliográfica de diversos autores, analisar as situações vividas no decorrer da vida , que 
vão deixando marcas no corpo, refletindo-se em gestos, posturas e movimentos, atuando 
sobre a forma de ser, sobre a forma de atuação no dia-a-dia. Não só o corpo é afetado 
pelas alterações psicológicas, pelas emoções, como também suas condições interferem 
no processo intelectual, emocional e nos reflexos. 
No primeiro segmento deste trabalho será possível ao leitor entender as 
limitações físicas com que se depara a terceira idade e analisar que tais limitações 
decorrem muito mais do abandono de si mesmo, isto é, do abandono de nossas 
necessidades mais íntimas do que propriamente um processo natural de perda de 
aptidões. Assim, a consciência corporal pode se tornar o maior aliado na nossa busca de 
auto-conhecimento, recuperação da auto-estima, criatividade e descoberta de novos 
potenciais. 
 9
No decorrer deste trabalho, a partir do segundo segmento, abordamos no 
primeiro capítulo, definições sobre Geriatria e Gerontologia, fazendo considerações 
sobre a ciência do envelhecimento e suas ramificações, que em conjunto atuam sobre 
os múltiplos aspectos do fenômeno do envelhecimento e suas conseqüências. 
 Focalizamos em seguida no segundo capitulo, o fenômeno do envelhecimento, 
onde esclarecemos as diferenças entre envelhecimento, velhice, senescência, senilidade, 
autonomia e independência , para que possamos analisar, o quão importante é entender 
e classificar tais conceitos. 
Em seguida, no terceiro capitulo nos detivemos em analisar a psicomoticidade e 
sua relação com a fisioterapia e sua aplicabilidade, evidenciando a relação existente 
entre os processos cerebrais e afetivos/emocionais com o ato motor. 
No quarto capítulo, objetivamos definir a qualidade de vida na velhice, onde o 
principal desafio que se propõe a indivíduos e às sociedades é conseguir uma sobrevida 
cada vez maior, com uma qualidade de vida cada vez melhor. 
No capítulo seguinte, o quinto, esclarecemos o reflexo da retrogênese 
psicomotora no geronte e enfatizamos que ativar pela psicomotricidade os neurônios 
corticais pode ser essencial para previnir o envelhecimento,e dessa forma ampliarmos a 
qualidade de vida . 
Chegamos então, ao sexto capítulo onde determinamos a atuação do trabalho 
psicomotor em grupoe foi possível entender que quando o idoso se integra a um grupo , 
começa a entender melhor a realidade do seu dia-a-dia , com perdas e ganhos, 
conscientizando-se dos desafios a enfrentar e, principalmente , de como lidar com tudo 
isso. 
Assim concluímos que sendo a psicomotricidade uma ciência preocupada com o 
bem estar do indivíduo humano; tendo a gerontologia desmistificado a concepção de 
inutilidade á terceira idade, é importante que a camada senil, redescubra antigos 
potenciais. E este caminho começa pelo próprio corpo, o templo da nossa existência 
terrena. 
 10
1- GERIATRIA E GERONTOLOGIA 
O processo do envelhecimento e sua conseqüência natural, a velhice, são uma 
das preocupações da humanidade desde o inicio da civilização. A História demonstra 
que as idéias sobre a velhice são tão antigas quanto a origem da humanidade. 
Leme(1996) lembra que poucos problemas tem merecido tanta atenção e preocupação 
do homem como o envelhecimento e a incapacidade funcional associada a este 
processo. Como a gerontologia e a geriatria são campos científicos e profissionais 
relativamente novos, parece a muitos que a preocupação com a velhice teve origem nos 
nossos dias, mas essa é uma falsa crença. 
Feitas essas ressalvas,é preciso deixar claro que,realmente, o século XX marcou 
grandes avanços na ciência do envelhecimento, graças aos conhecimentos adquiridos 
por meio dos estudos que se desenvolveram desde que os pioneiros Metchnikoff e 
Nascher, em 1903 e 1909, respectivamente, estabeleceram os fundamentos da geriatria e 
da gerontologia. Acreditavam ambos que estas ciências correlatas iriam se transformar, 
em um futuro próximo,em campos profícuos de realizações cientificas. 
Embora ainda reste um longo caminho a ser percorrido para elucidar os pontos 
obscuros do fenômeno do envelhecimento, a verdade é que principalmente nas últimas 
décadas do século XX, pode ser observado um aumento no somatório de conhecimentos 
neste campo de estudo. 
1.1- Considerações Iniciais 
Os múltiplos aspectos que caracterizam o processo do envelhecimento clamam 
para a necessidade de propiciar a pessoa idosa atenção abrangente á saúde, colocando 
em pratica o preconizado pela Organização Mundial da Saúde.Busca-se com isso não 
somente o controle das doenças, mas principalmente o bem estar físico, psíquico e 
social, ou seja, em ultima analise,a melhora da qualidade de vida. A atenção passa a ser 
prioritariamente multidimensional e, portanto, para atender a essa diretriz é importante a 
participação de outros profissionais da saúde alem do medico que em conjunto, 
respeitando-se a especificidade de cada área e de cada caso, definirão a melhor conduta 
a ser seguida. 
 11
O mesmo argumento utilizado para justificar a avaliação multidimensional para 
atendimento a saúde da pessoa idosa, também se aplica para a pesquisa e para o ensino 
no campo da ciência do envelhecimento, onde a preocupação com os problemas 
médicos-sociais da população idosa, resulta da pressão passiva exercida pelo 
crescimento exponencial do número de idosos, particularmente na última metade do 
século XX. 
O atraso na construção do conhecimento em gerontologia ou, mais 
particularmente nas areas de pesquisa de ensino, embora hoje já possam ser 
consideradas como altamente promissoras, tem algumas justificativas: 
x� A importância que a medicina, ou mais especificamente, a geriatria teve durante 
muito tempo sobre os demais campos da gerontologia 
x� A dificuldade da gerontologia se firmar como disciplina ou mesmo ciência e, 
com isto, poder definir um campo de atuação e de construção de conhecimentos. 
x� A resistência á realização de investigação com caráter interdisciplinar. 
 Durante décadas, a geriatria teve um peso maior cronológica e quantitativamente 
que as demais áreas que compõe a gerontologia, graças aos avanços no estudo dos 
aspectos diagnósticos e terapêuticos das pessoas que envelhecem. Para ter este lugar de 
relevância, a geriatria, como ciência, os geriatras, como profissionais interessados na 
saúde do idoso, utilizaram como base de apoio conhecimentos e tecnologia de outros 
campos da medicina. Como era esperado, este fato deu um destaque especial á geriatria, 
criando-se a impressão de que seriam áreas totalmente independentes. 
 A caracterização da gerontologia e a definição de sua área de abrangência, são, 
portanto, fundamentais. Sabendo-se que o fenômeno do envelhecimento é multifacetado 
e admitindo-se que ele também é multifatorial, é fácil compreender que a gerontologia 
tem como objetivo tratar dos aspectos biológicos, sociais, psíquicos e legais, entre 
outros, e promover pesquisas que possam esclarescer os fatores envolvidos na sua 
gênese . 
 12
 Assim como na medicina surgiu a geriatria para fazer frente as necessidades do 
velho enfermo, nas ciências sociais surgiu a gerontologia social, que percebe a velhice 
como um problema social. Cresceu ao lado dos médicos e de outros profissionais 
responsáveis pelo estudo dos processos orgânicos do fenômeno do envelhecimento, o 
numero de profissionais ligados a área dos estudos sociais. De fato, sendo o 
envelhecimento não necessariamente acompanhado de manifestações patológicas , 
embora seja freqüente as doenças nesta faixa etária, assumem particular importância os 
problemas de discriminação social a que esta submetida a maioria dos idosos, aspectos 
cuja abordagem é atribuição da gerontologia social. 
 Percebe-se do exposto que, para dar atenção holística a população idosa, a 
atuação deixa de ser centralizada em uns poucos profissionais e passa a ser exercida 
com maior competência por aqueles que são responsáveis por determinadas áreas de 
conhecimento. Esta visão abrangente da atenção a saúde é apanágio da gerontologia e é 
atribuição dos gerontólogos, dentro de suas respectivas áreas, implementar medidas 
tendentes a tornar efetiva esta forma de assistência ao idoso, além de estimular e realizar 
pesquisas e transmitir conhecimento sobre o fenômeno do envelhecimento. 
 
1.2- Ciência do envelhecimento 
A ciência do envelhecimento tem a responsabilidade de ser o centro do qual 
emanam suas ramificações __GERONTOLOGIA SOCIAL, GERONTOLOGIA 
BIOMÉDICA E GERIATRIA __ que em conjunto, atuam sobre os múltiplos aspectos 
do fenômeno do envelhecimento e suas conseqüências. 
A gerontologia social, que aborda os aspectos não-organicos, e a geriatria e a 
gerontologia biomédica, que se atem aos aspectos orgânicos, são divididas de acordo 
com as especialidades que a compõe . Assim a primeira compreende os aspectos 
antropológicos, psicológicos, legais, sociais, ambientais , economicos, éticos e politicos 
de saúde. 
A geriatria tem sob os seus domínios os aspectos curativos e preventivos de 
atenção a saúde e, para realizar este mister, tem uma relação estreita com disciplinas da 
 13
área medica, como a neurologia, cardiologia, psiquiatria,pneumologia, entre outras, que 
deram origem a criação de subespecialidades , como a neurogeriatria, psicogeriatria, a 
cardiogeriatria e neuropsicogeriatria, entre outras. 
 A gerontologia biomédica tem como eixo principal o estudo do fenômeno do 
envelhecimento , do ponto de vista molecular e celular, enveredando pelos caminhos de 
estudos populacionais e de prevenção de doenças associadas. 
 Busca-se, segundo Jeckel-Neto (2000), a geração de conhecimentos para que se 
possam entender as alterações progressivas observadas no envelhecimento e como elas 
influenciam o status funcional do individuo. O objetivo fundamental deste 
conhecimento, deve ser o envelhecimento com sucesso e com qualidade de vida ,que 
será obtido através de estudos interdisciplinares; da integração deáreas, que vai desde o 
estudo de fatores puramente biológicos até os sociais; e da formação de recursos 
humanos com profissionais de várias disciplinas, interessados no estudo do processo de 
envelhecimento. 
 
1.3- Biologia do envelhecimento 
 Durante séculos, o estudo da longevidade e do envelhecimento em seres vivos, 
foi relegado a um papel meramente acessório nas diferentes disciplinas da Biologia. 
Estudos de genética, bioquímica, fisiologia e ecologia abordavam superficialmente 
temas ligados ao envelhecimento , sem, contudo, se preocuparem da elaboração de 
convenções instrumentais ou de terminologia que pudessem ser usados para facilitar a 
exploração dos mesmos.Até então , estudos sobre mudanças nas propriedades 
morfofuncionais de indivíduos ou de populações com o passar do tempo, constituíam 
pouco mais do que uma curiosidade, explorada mais por diletantismo do que por 
qualquer outra razão. 
 O século XX viria a mudar este cenário radicalmente por dois motivos: primeiro, 
nunca em toda a historia da humanidade, populações apresentaram expectativas de vida 
tão altas, fruto, principalmente, da implantação de políticas de saúde publica e de 
medicina preventiva, tais como vacinação contra diversas moléstias infecto-contagiosas 
 14
e planejamento e controle sanitário; segundo coincidentemente, nunca em toda a 
historia, da Biologia, o instrumental disponível para pesquisa foi tão avançado, 
permitindo aos investigadores níveis de abordagem impossíveis ate então. 
 Inicialmente, a abordagem biológica do processo de envelhecimento deu-se do 
ponto de vista fisiológico e, mais tarde, bioquímico. Com o avanço do conhecimento 
genético, cresceu também a busca por padrões de hereditariedade da longevidade. A 
partir da década de 40, abordagens a partir dos conhecimentos sobre a evolução dos 
seres vivos foram incorporando uma serie de novos conceitos, permitindo uma 
avaliação mais profunda do tema do envelhecimento. 
 Dada a variedade de abordagem aos temas envelhecimento e longevidade, é 
importante estabelecer alguns conceitos básicos. Porém, devido a sua breve existência, a 
pesquisa biogerontológica enfrenta a dificuldade de estabelecer convenções a respeito 
da terminologia empregada por diferentes autores. 
 Apesar de não estar estabelecido oficialmente, o termo envelhecimento, é 
freqüentemente empregado para descrever as mudanças morfofuncionais ao longo da 
vida, que ocorrem após a maturação sexual, e que progressivamente, comprometem a 
capacidade de resposta dos indivíduos ao estresse ambiental e á manutenção da 
homeostasia. Porém, vários pesquisadores definem envelhecimento como “ o que 
acontece com o organismo com o passar do tempo”. Se por um lado,existem funções 
que não são significativamente alterada pela idade, como a troca de células do epitélio 
intestinal, é necessário lembrar que o envelhecimento apresenta como única 
característica universal a ocorrência de mudanças ao longo do tempo, 
independentemente de terem ou não efeito deletério sobre a vitalidade e a longevidade. 
 O envelhecimento não é somente a soma de patologias agregadas e de danos 
induzidos por doenças. Inversamente, nem todas as mudanças em estrutura e função 
dependentes da idade podem ser consideradas como alterações fundamentalmente 
ligadas a idade por si só. Num esforço para incorporar este rigor dentro de um definição 
operacional, foi proposto que as mudanças fundamentais relacionadas com a idade 
devem obedecer a quatro condições: 
 15
1. Devem ser deletérias, ou seja, devem reduzir a funcionalidade. 
2. Devem ser progressivas, isto é, devem se estabelecer gradualmente. 
3. Devem ser intrínsecas, isto é, não devem ser um resultado de um componente 
ambiental modificável. Cabe ressaltar,aqui, que o ambiente tem forte influencia 
sobre o aparecimento e velocidade dessas mudanças, apesar de não ser a sua 
causa. 
4. Devem ser universais : todos os membros de uma espécie deveriam mostrar tais 
mudanças graduais com o avanço da idade 
Por esses motivos, surge o termo senescencia para descrever as mudanças que 
ocorrem num organismo, relacionados com a idade, afetando adversamente sua 
vitalidade e funções, porem, mais significativamente, aumentando a taxa de 
mortalidade em função do tempo. Senilidade seria o estágio final da senescência, 
quando o risco de mortalidade beira os 100%. 
 É preciso ressaltar, porém, que o tempo é uma variável independente. Em vez de 
usar o calendário para medir o envelhecimento, é preciso encontrar maneiras de usar 
as mudanças em variáveis fisiológicas importantes para medir o envelhecimento 
(ARKING, 1998). 
 Quanto ao termo longevidade, apresenta como dificuldade principal a existência 
de diversidade de padrões de desenvolvimento e o tempo de maturação em 
diferentes organismos. Embora a literatura em biogerontologia freqüentemente tome 
como longevidade o tempo transcorrido entre o nascimento e a morte, muitas 
espécies possuem desenvolvimento especialmente prolongado, ou longa existência 
em estágios juvenis e breves períodos de vida adulta seguidos de rápida senescência. 
 
 
 
 16
2- O FENOMENO DO ENVELHECIMENTO 
 A percepção do fato de que os organismos vivos envelhecem não gera 
controvérsias. A partir da simples observação da realidade, é possível perceber esse 
fenômeno. Pode-se, também, planejar e executar estratégias de investigação para 
identificar e analisar vários aspectos do envelhecimento. Porém, vários pontos de 
controvérsia surgem no momento de estabelecer indicadores para as variáveis 
envolvidas no processo. Ao surgir discordância sobre quais seriam os indicadores 
capazes de identificar ou mensurar as variáveis envolvidas no fenômeno, estabelece-se a 
dificuldade de construir conceitos fundamentais que possam ser articulados em 
construções lógicas explicativas do envelhecimento. 
 Essa variedades de conceitos, muitas vezes conflitantes, que procuram 
representar as variáveis envolvidas no processo de envelhecimento por meio de suas 
características gerais, provoca a formulação de uma grande variedade de definições para 
um mesmo aspecto do fenômeno. Assim, a inclusão de determinado fato, característica 
ou função em classes que permitam organiza-los num sistema torna-se extremamente 
difícil dentro da área de conhecimento denominada de Gerontologia ou Ciências do 
Envelhecimento. Como resultante disso, surge um grande numero de teorias que se 
propõe a explicar o fenômeno, porem cada um com o próprio conjunto de conceitos, 
fatos e indicadores. 
Outro aspecto que tem forte influencia na determinação desta variedade de 
teorias é o fenômeno do envelhecimento em si. Os organismos vivos são sistemas 
interativos de subsistemase, portanto, complexos, hierárquicos e não lineares. Formam, 
figurativamente, um grande mosaico de processos ou um grande fractal dinâmico. 
Assim, algumas teorias tem dificuldade de se sustentar, pois apóiam-se numa concepção 
ingênua segundo a qual uma dada alteração biológica que ocorre com o passar do 
tempo poderia ser provocada por uma causa particular, o que contraria a noção de 
sistemas hierárquicos interativos. É por isso que não há possibilidade de intervir em 
algum ponto do sistema de modo a afeta-lo de maneira global e alterar o curso das 
mudanças ao longo do tempo. Em outras palavras, é por esse motivo que, dificilmente, 
 17
existirá o elixir da juventude, o gene que controla o envelhecimento ou o tratamento 
rejuvenescedor. 
Frente a complexibilidade inerente a um sistema hierárquico interativo, aparece 
a dificuldade de investigar o fenômeno do envelhecimento como um todo e, em 
conseqüência, de demonstrar a validade das hipóteses formuladas atravésde 
metodologia cientifica rigorosa. Essa dificuldade pode ser resumida nos pontos que 
seguem: 
1. A ausência de uma definição clara e de aceitação geral do próprio 
processo do envelhecimento 
2. O estudo do processo de envelhecimento dos seres humanos é 
fortemente influenciado pelo contexto cultural das populações 
investigadas e dos próprios pesquisadores 
3. Apesar do processo do envelhecimento evocar curiosidade e 
expectativas individuais altas, muitos investigadores e agencias de 
fomento da pesquisa não demonstram muito interesse pelo tema, pois as 
investigações são complexas, caras e demoradas, com baixo retorno em 
termo de números de publicação e de aplicabilidade imediata. 
4. Por ser complexo e envolver todos os aspectos do ser vivo, o estudo do 
envelhecimento exige que ele ocorra, no mínimo de forma 
multidisciplinar, tornando-se necessário a constituição de equipes de 
pesquisadores de diversar áreas atuando de maneira integrada, o que, na 
maioria das vezes, é muito difícil organizar. 
A conjunção de fatores expostos, em especial o ultimo, conduz a formulações 
teóricas sintéticas, limitadas a visões próprias de uma pessoa ou grupo, que, por esse 
motivo, se tornam parciais, dentro de uma abordagem restrita. Tudo isso leva a 
proposições com algum víeis de origem, geralmente unidimensionais, contrariando a 
multidimensionalidade do envelhecimento e gerando sistemas teóricos não preditivos. 
 
 18
2.1-Envelhecimento, velhice e velho 
O envelhecimento (processo), a velhice (fase da vida) e o velho ou idoso 
(resultado final), constituem um conjunto cujos componentes estão intimamente 
relacionados. 
2.1.1. Envelhecimento 
Apesar de ser o envelhecimento um fenômeno comum a todos os animais , 
surpreenda que ainda hoje persistam tantos pontos obscuros quanto a dinâmica e a 
natureza desse processo. Pode-se considerar o envelhecimento, como admite a maioria 
dos biogerontologistas, como a fase de um continuum que é a vida, começando esta com 
a concepção e terminando com a morte. Ao longo desse continuum, é possível observar 
fases de desenvolvimento, puberdade e maturidade, entre as quais pode ser identificados 
marcadores biofisiológicos, que representam limites de transição entre as mesmas.Ao 
contrario do que acontece com as outras fases, o envelhecimento não possui um 
marcador biofisiologico de seu inicio . De qualquer forma, a demarcação entre a 
maturidade e o envelhecimento é arbitrariamente fixada mais por fatores 
socioeconômicos e legais do que biológicos. 
A incapacidade de mensurar o fenômeno do envelhecimento, que esta 
intimamente vinculada a dificuldade de definir a idade biológica, justifica a falta de 
segurança para adotar quaisquer tais teorias existentes sobre o fenômeno . Os mesmos 
motivos justificam a inexistência de uma definição de envelhecimento que atenda aos 
múltiplos aspectos que o compõem. Respeitando-se as limitações assinaladas e dentro 
de uma visão prioritariamente biogerontológica, o envelhecimento é conceituado como 
um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, 
bioquímicas e psicológicas, que determinam perda da capacidade de adaptação do 
individuo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de 
processos patológicos que terminam por leva-lo á morte (PAPALÉO NETTO, 1996). 
Esta definição pode ser completada com um outro conceito, este predominantemente 
funcional, elaborado por Comfort (1979), segundo o qual o envelhecimento se 
caracteriza por redução da capacidade de adaptação homeostática, perante situações de 
sobrecarga funcional do organismo. 
 19
2.1.2. Velhice e velho 
As manifestações somáticas da velhice, que é a ultima fase do ciclo da vida, as 
quais são caracterizadas por redução da capacidade funcional, calvície e redução da 
capacidade de trabalho e da resistência, entre outras, associam-se perdas dos papeis 
sociais, solidão e perdas psicológicas, motoras e afetivas. Na maioria das pessoas, tais 
manifestações somáticas e psicossociais começam a se tornar mais evidentes já a partir 
do fim da terceira década de vida, ou seja, muito antes da idade cronológica que 
demarca socialmente o inicio da velhice. É preciso esclarescer, que estas manifestações 
são facilmente observáveis quando o processo que as determina, encontra-se em toda 
sua plenitude. Deve ser assinalado, que não há uma consciência clara de que, através de 
características físicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais, possa ser anunciado o 
inicio da velhice. 
Segundo Baldessin (1996), alguns parecem velhos aos 45 anos de idade e 
outros jovens aos 70 anos de idade. Se o inicio exato da velhice é rigorosamente 
indefinido e, portanto, torna-se difícil tentar fixa-lo, maior dificuldade talvez resida nas 
diferentes formas como a sociedade vê o fenômeno e o idoso: preconceituosa com 
aqueles que tem origem em classes sociais mais baixas, benevolente para os que 
ocupam classes sociais mais elevadas (NERI, 2001). Essas considerações deixam claro 
que, ao lado dos problemas médicos, psicológicos e legais, muito mais acentuados e 
frequentes na velhice, assumem particular importância os problemas sociais nas classes 
mais desfavorecidas. 
 
2.2- Envelhecimento comum e envelhecimento bem sucedido 
A grande heterogeniedade existente entre os idosos, nos aspectos morfológicos, 
funcionais, psicológicos e sociais, decorrentes, entre outros fatores, da grande amplitude 
desta faixa etária, que começa cronologicamente aos 60 anos e atinge 100 anos de idade 
ou mais, tem originado questionamentos sobre o conceito de normalidade, quando se faz 
referencia a pessoa idosa. Por outro lado, é conhecido o fato de que o ritmo de declinio 
das funções orgânicas varia de um órgão a outro, mesmo entre idosos que tem a mesma 
 20
idade. Esta observação justifica a impressão de que os fatores determinantes do 
envelhecimento, produzem efeitos deletérios de uma pessoa a outra. 
Segundo Rowe e khan (1987),este fato impele para o desenvolvimento de uma 
distinção conceitual dentro da categoria de envelhecimento normal em que pesem a 
todos os questionamentos que possam ser feitos ao conceito de normalidade. Admitem-
se hoje, duas formas distintas de envelhecimento: o usual ou comum e o bem sucedido e 
o saudável. 
Admite-se que na forma de envelhecimento comum os fatores extrínsecos, tais 
como tipo de dieta, sedentarismo e causas psicossociais , intensificariam os efeitos 
adversos que ocorrem com o passar dos anos, enquanto na forma de envelhecimento 
saudável estes não estariam presentes ou, quando existentes, seriam de pequena 
importância. A crença sobre a importância destes fatores, se acha expressa na ênfase 
que atualmente tem sido dada para o potencial benéfico dos exercícios, para a 
moderação na ingestão de bebidas alcoólicas, para a cessação do habito de fumar, para a 
observância da dieta adequada, entre outras medidas (PAPALÉO NETTO E BRITTO, 
2001). 
As principais condições associadas a velhice bem-sucedida, segundo os dois 
autores citados, seriam: baixo risco de doenças e de incapacidades funcionais 
relacionadas ás doenças; funcionamento mental e fisico excelentes; e envolvimento 
ativo com a vida. 
2.3- Envelhecimento normativo 
A grande heterogeneidade entre os idosos, decorrente, de um lado, da maior ou 
menor influencia dos fatores extrínsecos referidos, e, de outro, da grande extensão do 
período abrangido pela velhice, torna difícil definir numa população de pessoas idosas 
aquelas que podem ser consideradas normais, tanto para fins de pesquisa quanto para a 
pratica diária. Esta dificuldade de definir o que é normal em geriatria conduziuao 
conceito de envelhecimento normativo. Já que o normal não pode ser adequadamente 
definido, é impossível selecionar “pessoas idosas normais”como controle ou como 
material para estudo dos efeitos da idade. Assim, a expressão envelhecimento normativo 
 21
representaria o processo natural de desenvolvimento em fases avançadas da vida 
(FRIES E CRAPO, 1981) 
O envelhecimento normativo pode ser de dois tipos: primário e secundário. O 
primeiro é universal, presente em todas as pessoas, geneticamente determinado ou pré 
programado. O segundo é resultante da interação entre influencias externas e é variável 
entre indivíduos em diferentes meios. Seria decorrente de fatores cronológicos, 
geográficos e culturais. Se tais fatores não forem considerados , as diferenças 
encontradas entre grupos de pacientes podem ser erroneamente atribuídas ao 
envelhecimento intrínseco ou primário, quando na verdade são conseqüentes as 
influencias externas citadas. 
2.4—Senescência ou senectude e senilidade 
A distinção entre senescência ou senectude, que resulta do somatório de 
alterações orgânicas, funcionais e psicológicas próprias do envelhecimento normal, e a 
senilidade, que é caracterizada por modificações determinadas por afecções que 
freqüentemente acometem a pessoa idosa, é por vezes,extremamente difícil. O exato 
limite entre os dois estados não é preciso e caracteristicamente apresenta zonas de 
transição freqüentes, o que dificulta discriminar cada um deles. 
Essa dificuldade que os profissionais enfrentam no seu dia a dia e que esta 
presente em todas as áreas que compõe a ciência gerontológica é conseqüência da 
indefinição da idade biológica, da grande variabilidade de comportamento do idoso, 
perante fatores estressantes e do fator genético, cuja importância já foi referida. Não 
somente na pratica diária, no entanto, e importante a distinção entre essas duas 
condições , mas também é relevante na área da pesquisa em gerontologia. Assim, 
acreditamos que varias investigações relativas ao fenômeno de envelhecimento 
deveriam ser reavaliadas, principalmente as realizadas em seres humanos, desde que os 
resultados obtidos são muitas vezes decorrentes da presença de doenças associadas e 
não reconhecidas, e não somente do envelhecimento propriamente dito. 
Outro fato que merece ser destacado é que, diferentemente das pessoas mais 
jovens, nos idosos portadores de doenças, que freqüentemente são múltiplas, somam-se 
 22
os efeitos das alterações fisiológicas próprias do envelhecimento normal e os 
decorrentes de modificações funcionais produzidas pela presença de doenças 
concomitantes. Não se pode desconhecer que os efeitos da primeira, podem atuar sobre 
o da ultima, induzindo graus variáveis de interação, a ponte de produzir ação deletéria 
muito acentuada. (PAPALEO NETTO E BRITO, 2001). 
2.5- Autonomia e independência 
Segundo Evans (1984) chama de autonomia o estado de ser capaz de 
estabelecer e seguir as próprias regras e diz que, para um idoso, a autonomia é mais útil 
que a independência como um objetivo global, pois pode ser restaurada por completo, 
mesmo quando o individuo continua dependente. 
Independência e dependência são conceito ou estados que so podem existir em 
relação a alguma outra coisa. Na mesma pessoa é possível identificar, por exemplo, 
independência financeira e dependência afetiva. 
Segundo Wilkin (1990), dependência é um estado no qual um individuo confia 
em outro, para ajuda-lo a alcançar necessidades previamente reconhecidas. Estas 
definições e também outras transmitem a impressão de que a dependência sempre se 
refere a uma relação social. Ela, portanto, não é um atributo individual, mas sim de um 
individuo em relação a outros. 
O que se procura obter é a manutenção da autonomia e o máximo de 
independência possível e, em ultima analise, a melhora da qualidade de vida. Isto só 
poderá ser obtido através de uma avaliação gerontológica abrangente, que tem a 
finalidade de atuar sobre o desempenho físico, psíquico (cognitivo e afetivo)e social. 
 
 
 
 
 23
3. PSICOMOTRICIDADE 
 De acordo com Vitor da Fonseca (1983), a psicomotricidade é uma ciência que 
busca perspectivar as relações incessantes e permanentes dos fatores neurofisiológicos, 
psicológicos e sociais, que intervem na integração, elaboração e realização do 
movimento humano,ou seja, a psicomotricidade lança mão de metodologias e técnicas 
com a finalidade de fazer aflorar as possibilidades do indivíduo e aponta-las de maneira 
que se acredite cada vez mais capaz de progredir e dominar o seu corpo, através do 
movimento. 
 Ao falar de psicomotricidade, fala-se da integração dos próprios sentimentos e 
sua ação, da alma e a motricidade, objetivando seja, a educação ou reeducação dos 
movimentos de forma agradável, globalizada e eficaz. 
 A psicomotricidade é portanto, uma atividade que propõe, partindo do corpo e 
da motricidade corporal, agir sobre o psiquismo, tanto no plano mental quanto afetivo, 
esses dois planos estando, estreitamente ligados ao nível do inconsciente. Em outro 
enfoque, temos a partir da vivencia psicomotora, na medida onde ela é realmente 
“vivida”, a estruturação do psiquismo e dessa forma uma melhor posturação e uma 
adequação motora. 
 Temos na psicomotricidade, o desenvolvimento em conjunto da motricidade e 
do psiquismo e não apenas a preocupação do paciente em apresentar melhor rendimento 
em determinadas habilidades, portanto a função motora, o desenvolvimento intelectual e 
o desenvolvimento afetivo estão intimamente ligados e a psicomotricidade, visa 
justamente destacar a relação existente entre a motricidade, a mente e a afetividade e 
facilitar a abordagem global do paciente por meio de um técnica. 
3.1. Psicomotricidade e Fisioterapia: compreendendo a relação 
 A motricidade não esta limitada as superfícies corporais, ela é a projeção de um 
mundo (próprio homem), noutro mundo (envolvimento). 
 Segundo Le Boulch (1990), se a motricidade insiste sobre o componente Tonico 
motor na melodia gestual, a psicomotricidade se acha naturalmente associada,ou prepara 
 24
terreno para outras reeducações especializadas. Com base nessa afirmativa é que 
integramos a Psicomotricidade e a Fisioterapia em uma relação essencial. 
 O movimento é sempre a expressão de uma existência, a manifestação vital da 
pessoa humana, envolvendo o ser no mundo, o que se faz concordar que não há 
possibilidade de se ter uma visão mecanicista da motricidade, arma principal de trabalho 
do fisioterapeuta e sendo assim, a utilização de protocolos na reabilitação dos pacientes 
que procuram assistência fisioterapêutica torna-se agressivo, dificultando o processo de 
reabilitação. 
 Observa-se a relação entre a psicomotricidade e a fisioterapia no momento que , 
de forma grotesca, entendemos a necessidade de nosso paciente,ter definido a sua 
lateralização e esquema corporal, para a recuperação funcional de uma lesão no joelho, 
quando solicitamos que levante uma de suas pernas.Encontra-se relação quando 
propiciamos uma relaxação e adequamos o ritmo em uma paciente em atendimento 
fisioterapeutico respiratório com quadro de taquipneia com conseqüente equilibração de 
suas emoções.Ao treinar a marcha de um paciente sequelado de AVC, em conjunto 
trabalha-se o seu equilíbrio dinâmico, coordenação motora ampla, planejamento motor 
entre outros, bem como atua-se no seu psiquismo, restaurando sua confiança, auto 
estima e amor próprio. 
 Pode-se entender a relação acontecendo em três aspectos ao mesmo tempo 
distintos e únicos. A necessidade de um amadurecimento psicomotor para o 
entendimento dos exercícios fisioterapeuticos e para a posssibilidade de execução;a 
atuação direta da psicomotricidade como técnica fisioterapeutica e a pratica 
fisioterapeutica com respostas psicomotoras no cliente. 
 Encontra-se ainda, a psicomotricidade atuando no próprio prazer do movimento 
como terapia, com a proposta de que sejam quebradas as “receitas de bolo”, a rotina dos 
atendimentos fisioterapeuticos, através de jogos psicomotores, atividades lúdicas, 
musicais, de expressão corporal, de respiração e relaxamento; interferindo na 
socialização, emoções, expressividade, aceitação pessoal e de suas limitações, o que irá 
favorecer a própria reeducação. 
 25
 E importante ressaltar que nesta integração, a atividade não deve parecer uma 
exigência, sendo vivido em uma situação de julgamento, acompanhada pela ansiedade 
do fracasso ou do sucesso, mas como elemento para se explorar as descobertas feitas 
espontaneamente pelo cliente com relação as suas capacidades, respeitando suas 
motivações. 
 Espera-se que o termo, tão incessantemente argumentado pelos fisioterapeutas, 
“tratar o paciente como um todo”, seja visto não como um “todo-corpo”, mas sim possa 
ser levado em consideração, desde já,o dialogo interior, tendências e capacidades do 
cliente. E ainda que os próprios terapeutas envolvidos possam depender da possibilidade 
pessoal, de experiências/vivencias, uma vez que a psicomotricidade e a sua integração 
com a fisioterapia não se deixa compreender, em sua realidade profunda, num mero 
jogo de palavras. Devemos lembrar que o corpo não é uma maquina posta em 
movimento por um psiquismo que habita o cérebro, nem o ser humano pode ser 
explicado através de seus ossos, articulações e músculos. 
3.2. A Psicomotricidade e sua aplicabilidade 
 A psicomotricidade evidencia a relação existente entre os processos cerebrais e 
afetivos/emocionais com o ato motor. Significa a inter-relação desses processos que são 
externados, representados, decifrados e que se manifestam através dos atos motores. 
3.2.1. Desenvolvimento motor 
 Segundo Costallat (1998), o desenvolvimento motor é o resultado da maturação 
de certos tecidos nervosos, aumentando em tamanho e complexibilidade do sistema 
nervoso central, crescimento de ossos e músculos. São portanto comportamentos não 
aprendidos que surgem espontaneamente desde que a criança tenha condições 
adequadas para exercitar-se. Esses comportamentos não se desenvolverão , caso haja 
algum tipo de distúrbio ou doença. 
 As principais funções psicomotoras é um bom desenvolvimento da estruturação 
do esquema corporal que mostre a evolução da apresentação da imagem do corpo e o 
reconhecimento do próprio corpo, evolução de preensão e da coordenação óculo-manual 
 26
que nos proporciona a fixação ocular e prensão e olhar e desenvolvimento da função 
tonico e da postura em pe e reflexos arcaicos da estruturação espaço-temporal. 
 De acordo com Costallat (1998),um perfeito desenvolvimento de nosso corpo 
ocorre não somente mecanicamente, mas sim que são aprendidos e vivenciados junto a 
família, onde a criança aprende a formar a base da noção de seu “eu corporal”. 
3.2.2 Imagem corporal 
Conforme Gonçalves (2000) a imagem corporal é ao mesmo tempo, 
constante e mutável. A imagem do corpo é, pois, uma reconstrução constante 
do que o indivíduo percebe de si e das determinações inconscientes que ele traz 
de seu diálogo com o mundo. 
 Todo conhecimento - inclusive o de si mesmo - passa pelo corpo. É o 
corpo que está envolvido no processo de compreender, de recordar e de 
sociabilizar-se com outros corpos. 
 Assim, um novo entendimento sobre o corpo do homem que vive, se 
tornou imprescindível para tentarmos compreender o ser humano e sua 
existência como sujeito individual e social. Todas as experiências vivenciadas 
estão marcadas no corpo/história do homem, e elas se mostram nas relações, ou 
melhor nas inter-relações estabelecidas com os outros e com o meio, revelando 
a totalidade do homem que integra os sentimentos, os pensamentos e as ações. 
Para Gonçalves (2000), “não existe assim, pensamento separado da ação e dos 
sentimentos, nem ação sem pensamento e sentimento”. 
 A imagem corporal é definida como a uma imagem visual e mental do 
corpo do indivíduo, e que inclui sentimentos acerca do seu corpo, 
especialmente em relação à saúde e doença; e esquema corporal, referendo-se a 
um modelo postural do corpo, inclusive a relação das partes corporais, umas 
com as outras, e a relação do corpo com o ambiente, a consciência do corpo 
devido à integração das sensações táteis, proprioceptivas e exteroceptivas, além 
dos sentimentos subjetivos do indivíduo acerca de seu corpo (O’Sullivan, 
1998). Capsiano (s.a.) ainda diz que a imagem corporal não é mera sensação ou 
 27
imaginação. É a figuração do corpo em nossa mente, é a imagem do corpo 
estruturalizada em nossa mente, no contato direto do indivíduo consigo mesmo 
e com o mundo que o rodeia. 
3.2.3 Corpo 
O corpo é a expressão de uma existência. É a forma de colocação no mundo e de 
integração com ele. Através de possibilidades corporais, em seus movimentos e gestos, 
o homem torna-se capaz de revelar a dor, a saudade e a ansiedade; de sentir o outro 
através do abraço ou do beijo, do toque. 
Desde o principio existe o envolvimento neste universo, que é o corpo: a 
gestação, o toque, o primeiro olhar, o banho, a amamentação, a memória afetiva. É a 
partir deste corpo e da relação que se constrói com ele que depende o amanhã de todos e 
o equilíbrio de diversos papeis que desempenhamos no dia a dia. 
Este ser humano apresenta o corpo físico, o corpo vida, o corpo sentido e o “eu” e 
a integração harmoniosa deste conjunto proporciona a saúde nos seus diversos 
aspectos, inclusive a saúde social e emocional. 
O movimento, o gesto e a expressão dependem da integração do ser humano 
com o seu corpo, e são por vezes mais significativos do que palavras. Novas vivencias 
propiciam condições favoráveis ou não na linguagem corporal e postura. O corpo não 
sabe mentir, ele sempre revela a verdade. 
O corpo sofre influencias constantes durante seu processo de crescimento e 
desenvolvimento. A hereditariedade da cultura, a rigidez da educação e as diferentes 
formas de estimulação conseqüentes as experiências por ele vividas. Essa possibilidade 
de individualização na formação e estruturação do corpo físico, vida,sentido e do 
próprio “eu” que proporciona a diferença biopsicosocial dos seres humanos no seu 
pensar e querer. 
De acordo com Gislene de Oliveira (1997), o corpo é a maneira de ser. É através 
dele que estabelece contato com as entidades do mundo, que se engaja no mundo, que 
compreende os outros, ou seja a corporeidade descreve a historia de cada um, a condição 
 28
de presença, participação e significação do individuo no mundo. Esse corpo não pode 
deixar de ser visto através de uma dialética completa entre o interpessoal e o 
intrapessoal, manifestando um dinamismo integrador e totalizador , mas também, 
mantem a sua porção mecânica, que possibilita na utilização de ossos e músculos a 
realização motora da experiência corporal, experiência de elementos corporais, uns em 
relação aos outros. 
A experiência corporal a qual todos são submetidos durante todo o processo de 
maturação sensório motora que proporcionará a construção do esquema e imagem 
corporal- o reconhecimento das partes do corpo, a nomeação e a capacidade de 
funcionalizar, bem como o reconhecimento dos limites corporais e das possibilidades de 
expressão. 
Segundo Houareau (1979), cuidando do corpo, anima-se o espírito. Enquanto o 
nosso corpo for um estranho, todo o nosso espírito permanecerá estranho a vida. Quanto 
mais zonas mortas tiver o nosso corpo,pior nos sentiremos na nossa pele e assim pode 
se afirmar que a estruturação corporal é a base na formação do individuo, capacitando-o 
para a integração e desenvolvimento neuropsicomotor (lateralidade, equilíbrio, 
coordenação, orientação espaço temporal e ritmo) e socioafetivo . 
Assim, sempre que se fizer referencia ao corpo, estabelece-se a ligação entre a 
motricidade, sensação, cognição e sentimento, uma vez que toda relação corporal 
implica uma relação psicológica, pois o movimento não é um processo isolado e esta em 
estreita relação com a conduta e a personalidade. 
3.3- Fatores e subfatores psicomotores 
 Compreendem os elementos que concorrem para a produção ou não de 
resultados motores. São eles: 
A- FATORES PSICOMOTORES 
1A. Estruturação espaço- temporal 
2A. Praxia global 
 29
 B- SUBFATORES PSICOMOTORES 
 1B. Organização 
 2B. Representação topográfica 
 3B. Coordenação óculo-manual 
 4B. Coordenação óculo-pedal 
 5B. Dissociação 
A- FATORES PSICOMOTORES 
1A. Estruturação espaço- temporal 
Resulta da integração de uma estrutura temporal e de outra espacial e que 
estão relacionados as percepções auditivas, visuais e proprioceptivas. A 
estruturação espaço temporal surge durante os movimentos e quando da relação 
com os objetos e pessoas distribuídos(as) pelo espaço, onde ocorrem as 
experiências com a lateralidade, com a equilibração e da percepção que o ser 
tem do seu corpo. 
 Segundo Costallat (1992), o corpo é provido de um sofisticado sistema 
neurofisiológico, que permite interpretar as informações do espaço em que esta 
“mergulhado” o individuo. Este localiza-se a si próprio para depois se localizar 
no espaço e localizar os objetos e pessoas. 
2A. Praxia global 
A praxia global tem como principal função a organização da atividade 
consciente e a sua regulação , programação e verificação. Compreende tarefas motoras 
seguidas e simultâneas que se desenrolam num determinado período de tempo e que 
exigem a atividade conjunta de vários grupos musculares. 
A praxia evoca quatro condições básicas: um projeto, vários engramas, 
ligações projeto-engramas e instrumentos neuromusculares de expressão e 
 30
comandos em função do projeto. Observa-se uma intenção por trás do 
movimento que sera mantida ou modificada por uma programação (que faz uma 
consulta a linguagem interior), uma analise dos efeitos (receptores das ações) e 
uma auto-regulação (estabelecida por um controle da atenção voluntária). 
(COSTALLAT, 1992). 
 B- SUBFATORES PSICOMOTORES 
 1B. Organização 
 Compreende a habilidade em calcular distancias e promover os ajustes 
necessários dos planos motores para percorrer um determinado espaço, baseando-
se nas capacidades de analise espacial, processamento e julgamento das 
distancias e das direções, planificação motora e verbalização simbólica da 
experiência. A tarefa requer a fusão de dados direcionais e espaciais ao mesmo 
tempo que intervem uma programação do comprimento dos passos. A estrutura 
espacial é guiada pela área de integração visual que contribui no fornecimento de 
informações para os centros motores a fim de ajustamento das passadas. 
 
 2B. Representação topográfica 
 Refrata a noção espacial e a capacidade de interiorização de uma 
trajetória espacial, apresentada num levantamento topográfico e das coordenações 
espaciais. 
 3B. Coordenação óculo-manual 
Compreende a capacidade de coordenar movimentos com os membros 
superiores de acordo com as referencias perceptivo-visuais presentes no espaço. 
Envolve a percepção de distancias, alturas e características dos alvos ou objetos 
tais como forma, altura, comprimento, largura, textura, etc;e a consciência 
cinestesica do segmento corporal que ira executar o movimento. 
 31
Durante o ato motor, entram em ação a capacidade de reprogramação de 
seqüências motoras em face de uma analise de todos os efeitos decorrentes desde 
o ato motor até a seleção dos engramas (experiência motora memorizada) 
 4B. Coordenação óculo-pedal 
Compreende a capacidade de coordenar movimentos com os membros 
inferiores de acordo com as referencias perceptivo-visuais presentes no espaço. 
 5B. Dissociação 
Compreende a capacidade de individualizar a utilização dos segmentos 
corporais durante a execução de um ou mais atos motores intencionais. 
A dissociação precede a um planejamento motor e um certo grau de 
automatismo da seqüência de padrões espaciais e temporais relacionados, onde 
entram em atividades inúmeras e rápidas interações entre os dados aferentes e 
eferentes e entre dados perceptivos e motores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 32
4. QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE 
A longevidade cada vez maior do ser humano acarreta uma situação ambígua, 
vivenciada por muitas pessoas, mesmo pelas ainda não-idosas: o desejo de viver cada 
vez mais e, ao mesmo tempo, o temor de viver em meio a incapacidades e à 
dependência. De fato, o avanço da idade aumenta a chance de ocorrência de doenças e 
de prejuízos à funcionalidade física, psíquica e social. Mais anos vividos podem ser 
anos de sofrimento para o indivíduo e suas famílias; anos marcados por doenças, com 
seqüelas, declínio funcional, aumento da dependência, perda da autonomia, isolamento 
social e depressão. No entanto, se os indivíduos envelhecerem com autonomia e 
independência, com a boa saúde física, desempenhando papéis sociais, permanecendo 
ativos e desfrutando de senso de significado pessoal, a qualidade de sua vida pode ser 
muito boa. 
O desafio que se propõe aos indivíduos e às sociedades é conseguir uma 
sobrevida cada vez maior, com uma qualidade de vida cada vez melhor, para que os 
anos vividos em idade avançada sejam plenos de significado e dignidade. Semelhante 
resultado, assim como seu oposto, uma velhice patológica, dependem da historia de 
desenvolvimento e de envelhecimento, que é marcada por influências genético-
biológicas, psicológicas e sócio-culturais, algumas das quais podem ser controladas. 
Tradicionalmente, o atendimento médico era focalizado no diagnóstico e no 
tratamento, e o resultado medido por meio de dois indicadores objetivos: morbidade e 
mortalidade. Nas últimas décadas ocorreu uma mudança de enfoque, e o resultado das 
condutas médicas tem sido avaliado, também, através de variáveis subjetivas, que 
incorporam as percepções dos pacientes em relação ao seu bem-estar e à sua qualidade 
de vida. Na verdade, as ciências da saúde hoje abrangem conceitos que há tempos 
vinham sendo discutidos por economistas, cientistas sociais e políticos. Ãs medidas 
clínicas e às de caráter objetivo, isto é, realizadas por equipamentos ou por um 
observador treinado, somaram-se outras, de caráter subjetivo, em que o indivíduo é 
chamado a opinar sobre a qualidade global de sua vida, ou sobre aspectos particulares, 
tais como saúde, sexualidade, memória, capacidades funcionais e relações sociais, 
dentre outras. 
 33
O fenômeno qualidade de vida tem múltiplas dimensões, como, por exemplo, a 
física, a psicológica e social, cada uma comportando vários aspectos. Entre eles, a saúde 
percebida e a capacidade funcional são variáveis importando vários aspectos. Entre eles, 
a saúde percebida e a capacidade funcional são variáveis importantes que devem ser 
avaliadas, assim como o bem-estar subjetivo, indicado por satisfação. 
 
4.1. Evolução do Conceito de Qualidade de Vida 
Segundo Wood-Dauphinee (1999), relata que o termo qualidade de vida foi 
mencionado pela primeira vez em1920, por Pigou, em livro sobre economia e bem-estar 
material, The Economics of Welfare, onde discutia o suporte governamentalpara 
indivíduos das classes sociais menos favorecidas e o impacto sobre suas vidas e sobre o 
orçamento do Estado. Não foi notado, nem valorizado, e o termo caiu no esquecimento. 
Após a II Guerra Mundial, a Organização Mundial de Saúde redefiniu saúde, 
incorporando a noção de bem-estar físico, emocional e social e desencadeando uma 
discussão considerável a respeito da possibilidade e possibilidade de medir o bem-estar. 
Mais tarde, o termo qualidade de vida ressurgiu, sendo usado para criticar 
políticas cujo objetivo era o crescimento econômico sem limites. Musschenga (1997), 
relata que dois economistas, Ordway (1953) e Osborn (1957), apontaram que, em longo 
prazo, haveria exaustão de recursos e poluição cada vez maior do meio ambiente. Os 
efeitos devastadores do crescimento econômico poriam em risco as condições futuras 
para uma boa vida. Estavam, assim, preocupados com a qualidade das condições 
externas de se viver. Os autores citados anteriormente insistiram na necessidade de 
rever as idéias dominantes sobre o que seria uma boa vida e o que seriam valores, já que 
considerar o crescimento material como o valor mais importante para uma boa vida, a 
seu ver, era empobrecer o conceito. Para eles, o crescimento econômico desmesurado 
colocaria em risco a qualidade das condições externas de se viver. 
Graças a essa ideologia, pouco a pouco o conceito de qualidade de vida foi 
sendo incorporado a políticas sociais, como indicador de resultados, em adição ou 
substituição a outros de significado parecido, tais como boa vida, felicidade e bem-
 34
estar. Na década de 1960, nos Estados Unidos, surgiram movimentos sociais e 
iniciativas políticas, cuja finalidade era melhorar a vida de todos os cidadãos, 
minimizando a desigualdade social. Surgiu uma nova área de atuação – a da pesquisa 
sobre qualidade de vida -, com o objetivo de munir os políticos de dados que os 
ajudassem a formular políticas sociais efetivas. 
Em seguida, o conceito se ampliou, para significar, além do crescimento 
econômico, desenvolvimento social expresso em boas condições de saúde, educação, 
moradia, transporte, laser, trabalho e crescimento individual. Os indicadores também se 
ampliaram, tendo sido incluídos: mortalidade infantil, esperança de vida, taxa de evasão 
escolar, nível de escolaridade, taxa de violência (suicídios, homicídios, acidentes), 
saneamento básico, nível de poluição, condições de moradia e trabalho, qualidade do 
transporte e lazer, dentre outros. Muitos países estabeleceram políticas de bem-estar 
social, o assim chamado Welfare State (Farquhar, 1995b; Bowling, 1995 a). 
Logo ficou claro que, embora todos fossem importantes para avaliar e comparar 
qualidade de vida entre países, regiões e cidades (qualidade de vida objetiva), esses 
indicadores não eram suficientes para medir a qualidade de vida de indivíduos que se 
inseriam diferentemente naquela sociedade e que podiam distanciar-se, de forma 
importante, do índice médio da população como um todo. Parecia necessário avaliar a 
qualidade de vida percebida pelas pessoas e o quanto estavam satisfeitas ou insatisfeitas 
com a qualidade de suas vidas (qualidade de vida subjetiva). Passou-se a valorizar, 
então, a opinião dos indivíduos, ou seja, o dono da vida é quem deveria avaliar a 
qualidade de sua vida. O pesquisador/planejador não poderia construir a priori um 
modelo do que julgasse ser boa qualidade de vida e tentar enquadrar os indivíduos em 
seu modelo. Denominou-se esse novo conceito de qualidade de vida subjetiva, em 
contraposição às condições objetivas, que qualificariam, também, a vida das pessoas. 
 
4.2.Dificuldades para definir Qualidade de Vida 
A natureza abstrata do termo qualidade explica por que boa qualidade tem 
significados diferentes, para diferentes pessoas, em lugares e ocasiões diferentes. É por 
 35
isso que há inúmeras conceituações de qualidades de vida; talvez cada individuo tenha 
o seu próprio conceito. Assim, qualidade de vida é um conceito que está submetido a 
múltiplos pontos de vista e que tem variado de época para época, de país para país, de 
cultura para cultura, de classe social para classe social e, até mesmo de indivíduo para 
indivíduo. Mais que isso, varia para um mesmo indivíduo, conforme o decorrer do 
tempo e como função de estados emocionais e da ocorrência de eventos cotidianos, 
sócio-históricos e ecológicos. Essa multiplicidade de conceitos, colocados de forma 
tão heterogênea, dificulta comparações. 
A falta de consenso reflete-se nos diferentes significados assumudos pelos 
pesquisadores. Revendo os conceitos empregados na literatura, Bowling conclui que 
qualidade de vida é um conceito vago, multidimensional e amorfo, incorporando, 
teoricamente, todos os aspectos da vida humana, e que por isso é utilizado por tantas 
disciplinas. Para Grimley-Evans (1987), qualidade de vida tem a desvantagem de ser um 
conceito em moda, em que cada um se sente obrigado a fazer uma profissão de fé. 
Minayo (1997), explica melhor o porquê de tamanha variabilidade de conceitos. 
Para ele, o termo é uma construção social, relativizada por valores culturais e por 
aspectos subjetivos. Os conhecimentos, valores e experiências de indivíduos e 
coletividades, de variadas épocas, espaços e histórias diferentes, juntam-se para compor 
o significado do construto. Para cada fase de seu desenvolvimento, em cada etapa 
histórica, uma sociedade constrói um parâmetro de qualidade de vida. Cada nação, 
guiada pelas tradições, hierarquiza valores e necessidades. Assim, determinantes 
históricos e culturais determinam a relatividade da noção de qualidade de vida. Além 
disso, os padrões e concepções de bem-estar são estratificados, pois, em sociedades 
onde as desigualdades são muito importantes, a qualidade de vida está relacionada ao 
bem-estar dos estratos superiores e à passagem de um estrato a outro. 
 
4.3. Definindo Qualidade de Vida 
O grupo de especialistas em Qualidade de Vida da Organização Mundial de 
Saúde que elaborou um instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida, usando 
um enfoque transcultural (The WHOQOL Group, 1995), considera que, embora não 
 36
haja definição consensual de qualidade de vida, há concordância considerável entre os 
pesquisadores acerca de algumas características do construto (The WHOQOL Group, 
1995). Segundo esse documento, há três características principais do construto, 
compartilhadas por diversas correntes de opinião: subjetividade, multidimensionalidade 
e bipolaridade. 
Cada vez se reconhece mais que o construto é subjetivo. Não é subjetividade 
total, pois há condições externas às pessoas, presentes no meio e nas condições de vida 
e trabalho, que influenciam a avaliação que fazem de sua qualidade de vida. O 
WHOQOL Group (1995) propõe que as questões do instrumento se preocupem com as 
percepções das pessoas, em níveis diferentes de questionamento, fazendo uma distinção 
entre percepções de condições objetivas (recursos materiais, por exemplo) e aspectos 
subjetivos. Por exemplo: a) Quantas horas você dormiu na última noite? (informação a 
cerca do desempenho); b) Você dormiu bem? (avaliação subjetiva global do 
desempenho); e c) Você está satisfeito com seu sonho? (avaliação altamente subjetiva e 
personalizada do desempenho). Ou seja, a primeira pergunta é uma avaliação objetiva, 
seguida por avaliações subjetivas. 
Segundo o WHOQOL Group (1995), devem-se fazer questões que 
envolvam avaliação global de comportamentos, estados emocionais e capacidades das 
pessoas e de sua satisfação/insatisfação com tais comportamentos, estados e 
capacidades, pois esse tipo de questionamento sobre as percepções das pessoas traz 
informações sobre a qualidade devida, enquanto o relato do funcionamento traz a 
informações sobre o estado de saúde. 
Quanto à multidimensionalidade, /e consenso entre os pesquisadores de 
que a qualidade de vida inclui pelo menos três dimensões: a física, a psicológica e a 
social. Ao avaliar qualidade de vida, outras dimensões podem ser acrescentadas, por 
razões conceituais, pragmáticas, empíricas. O próprio WHOQOL inclui uma dimensão 
espiritual (a percepção da pessoa sobre o significado de sua vida, ou sobre as crenças 
pessoais que estruturam e qualificam a sua experiência existencial). 
Em relação à bipolaridade, considera-se que o construto possui dimensões 
positivas e negativas, que podem ser aplicadas a condições tão diversas como o 
 37
desempenho de papéis sociais, a mobilidade, a autonomia, a dor, a fadiga e a 
dependência. 
Duas outras características podem ser acrescentadas: complexidade e 
mutabilidade. Por ser multidimensional, bipolar e subjetivo, o conceito torna-se 
complexo e difícil de avaliar. Por outro lado, a avaliação de qualidade de vida muda 
com o tempo, pessoa, lugar e contexto cultural; para uma mesma pessoa, muda 
conforme seu estado de humor. Essa característica também aumenta a dificuldade de 
avaliação. 
A definição de qualidade de vida apresentada pelo grupo de especialistas da 
Organização Mundial de Saúde (The WHOQOL Group, 1995), que é compatível com o 
teor da discussão que estamos apresentando, é a seguinte: qualidade de vida é a 
percepção do indivíduo a cerca de sua posição na vida, de acordo com o contexto 
cultural e sistema de valor com os quais convive e em relação a seus objetivos, 
expectativas, padrões e preocupações. 
 
4.4. O que é Qualidade de Vida na Velhice 
Segundo Lawton (1983), construiu um modelo de qualidade de vida na velhice 
em que a multiplicidade de aspectos e influencias inerente ao fenômeno é representada 
em quatro dimensões inter-relacionadas. A primeira, condições ambientais, diz respeito 
ao contexto físico,ecológico e ao construído pelo homem, que influi na e dá as bases 
para a competência adaptativa (emocional, cognitiva e comportamental). Ou seja, o 
ambiente deve oferecer condições adequadas à vida das pessoas. A segunda, 
competência comportamental, traduz o desempenho dos indivíduos frente às diferentes 
situações de sua vida e portanto, depende do potencial de cada um, de suas experiências 
e condições de vida, dos valores agregados durante o curso da vida e do 
desenvolvimento pessoal, que, por sua vez, é influenciado pelo contexto histórico-
cultural. A terceira, qualidade de vida percebida, reflete a avaliação da própria vida, 
influenciada pelos valores que o indivíduo foi agregado e pelas expectativas pessoais e 
sociais. Igualmente, a pessoa avalia as condições de seu ambiente, físico e social, e a 
 38
eficácia de suas ações nesse ambiente. A quarta, bem-estar subjetivo, significa 
satisfação com a própria vida, satisfação global e satisfação especifica em relação a 
determinados aspectos da vida,; reflete as relações entre condições objetivas 
(ambientais), competência adaptativa e percepção da própria qualidade de vida, as três 
dimensões precedentes. É mediada pelos antecedentes pessoais (históricos, genéticos e 
sócio-econômico-culturais), pela estrutura de traços de personalidade e pelos seus 
mecanismos de auto-regulação (senso de significado pessoal, sentido da vida, 
religiosidade/transcendência, senso de controle, senso de eficácia pessoal e 
adaptabilidade). 
Estudos empíricos indicam que existem fortes associações entre a qualidade de 
vida percebida, o bem estar subjetivo e mecanismos da personalidade, como, por 
exemplo, o senso de controle, o senso de eficácia pessoal, o senso de significado e as 
estratégias de enfrentamento. Elas têm fortes relações com a competência adaptativa, 
que se expressa em competência emocional (capacidade de lidar com fatores 
estressores), em competência cognitiva (capacidade de resolução de problemas) e em 
competência comportamental (desempenho e competência social). Em conjunto, essas 
competências se refletem no exercício de papeis sociais, na manutenção de atividades 
sociais, nas relações sociais e no ajustamento pessoal, e têm importante relação com a 
saúde física e mental (Néri, 2001 b). 
Para o mesmo autor, a qualidade de vida na velhice pode ser definida como a 
avaliação multidimensional referenciada a critérios sócio-normativos e intrapessoais, a 
respeito das relações atuais, passadas e prospectivas entre o indivíduo maduro ou idoso 
e o seu ambiente (Lawton, 1983). 
 
4.4.1. Questões Associadas à Avaliação da Qualidade de Vida dos Idosos 
Se o estudo e a avaliação da qualidade de vida têm mostrado sua importância 
em vários segmentos e disciplinas, eles se revelam também importantes para a 
população idosa. Como o envelhecimento é uma experiência heterogênea, cada 
indivíduo pautara sua vida de acordo com padrões, normas, expectativas, desejos, 
 39
valores e princípios diferentes. Há, assim, necessidade de instrumentos 
multidimensionais, sensíveis à grande variabilidade dessa população. 
Algumas características da velhice tornam os idosos particularmente suscetíveis 
ao uso acrítico de medidas de qualidade de vida. Entrem elas Grimley-Evans (1992) 
menciona a diminuição da adaptabilidade biológica associada ao envelhecimento, com 
redução das reservas fisiológicas dos órgãos e sistemas do organismo e a 
conseqüentemente redução da capacidade de manter a homeostase. Há, também, 
redução da adaptabilidade social, ocasionada pela aposentadoria e pela perda de poder 
aquisitivo, além do isolamento social devido à perda de familiares e amigos e da 
redução do suporte social. 
Existe um desnível cultural entre jovens e velhos nas sociedades 
contemporâneas em constante transformação, em que os juízos e valores dos jovens 
podem ser estranhos aos idosos, nascidos e criados em outro contexto cultural e 
tecnológico. \assim, os mais velhos podem não se familiarizar com conceitos e situações 
que os jovens enfrentam sem dificuldade. 
Além disso, as sociedades ocidentais incorporaram vários preconceitos que 
dificultam a vida dos idosos, como por exemplo: a) os valores dos idosos são, 
necessariamente, antiquados e, dessa forma, são inferiores; b) os idosos são menos 
habilidosos para fazer julgamentos e críticas; c) têm menos valor que os jovens e, por 
isso, precisam de menor atenção; d) a capacidade de desfrutar dos prazeres da vida 
diminui inevitavelmente à medida que se envelhece. O pior é que os próprios idosos 
adotam esses preconceitos e podem, muito facilmente, sub-valorizar-se, ou então tentar 
corresponder àquilo que acreditam que se espera deles. 
Para população mais velha, haverá maiores prejuízos, injustiças e manuseio 
inapropriado, se a escolha dos cuidados se basear na média, já que existe grande 
heterogeneidade no envelhecimento. Por fim, em razão das características citadas, os 
idosos são mais suscetíveis a influências ambientais imediatas, tais como guerras, 
violência urbana, catástrofes, epidemias e migração. 
 40
Há outras questões que afetam a confiabilidade dos instrumentos de avaliação de 
qualidade de vida, quando aplicados à velhice. Geralmente, os idosos têm mais 
dificuldade que os jovens quanto a trabalhar conceitos de probabilidade e tomar decisão. 
Isto pode afetar seu desempenho em testes, assim como a opinião que tem sobre a 
situação, o medo de errar e a expectativa sobre qual a reposta esperada em questão que 
pedem valoração de estados de saúde ou de satisfação. 
Por outro lado, avaliar qualidade de vida em idosos implica lhe dar com questões 
éticas associadas aos limites da intervenção profissional: qual o direito dopesquisador 
ou do profissional de saúde em intervir para melhorar uma situação, se os idosos 
relatam estar satisfeitos? Qual é o limite da intervenção considerando-se a relação custo-
benefício para o idoso? 
Segundo Grimlly(1992), alguns fatores são críticos à manutenção da integridade, 
da independência e da autonomia de uma pessoa. Primeiro existe grandes diferenças 
individuais entre os idosos mas que em qualquer outro grupo etário; são diferenças em 
quase todos os tipos de características, as físicas, mentais, psicológicas, condições de 
saúde e sócio-econômicas, o que torna as conclusões a respeito de qualidade de vida e 
do cuidado necessário altamente individualizados. Esse envelhecimento heterogêneo 
leva a duas situações-limites. Muitos idosos podem permanecer bastante saudáveis e 
com boa habilidade funcional até anos tardia, mantendo estáveis suas características 
físicas, mentais, de personalidade e sociais. Se há hábitos e estilos de vida saudáveis, e 
na ausência de uma doença importante, haverá adaptabilidade e reserva funcional 
suficiente da maioria das atividades. 
Os idosos podem adquirir incapacidades em qualquer dos domínios citados, e 
elas podem não ser passiveis de recuperação. As condições crônico-degenerativas, 
progressivamente mais prevalentes, vão levando à incapacidade, minando as reservas 
funcionais e levando à deterioração funcional. É verdade que adaptações e modificações 
ambientais podem ser feitas, além de reabilitação as perdas funcionais, manter atividade 
e, assim, contribuir para o bem-estar do idoso, de sua família e da sociedade. Quando o 
idoso se torna independente o grande desafio é saber respeitar sua individualidade e a 
sua autonomia. 
 41
Estereótipos em relação à velhice comprometem a possibilidade de uma 
qualidade de vida melhor. Em nosso meio, a velhice é comumente associada a perdas, 
incapacidade, dependência, impotência, decrepitude, doença, desajuste social, baixos 
rendimentos, solidão, viuvez, cidadania de segunda classe, e assim por diante. O idoso é 
chato, rabugento, implicante, triste, demente, oneroso. Generalizam-se características de 
alguns idosos para todo o universo. Tal visão estereotipada, aliada à dificuldade de 
distinguir entre envelhecimento normal e patológico, senescência e senelidade, vontades 
e desejos. Em parte por esses motivos as pessoas idosas tendem a ignorar sintomas (por 
exemplo, de tristeza, dor ou cansaço), ou então os sintomas são ignorados pelos 
profissionais de saúde. Muitos profissionais tentam explicar os sintomas ou as queixas 
trazidas pelos idosos como fazendo parte do processo natural do envelhecimento o que 
se traduz em omissão e negligência impedindo o tratamento, reabilitação e adaptação 
(Ory & Cox, 1994), com conseqüências negativas para a vida e sua qualidade. Assim 
muitas idosas não se queixam de incontinência urinária por vergonha ou por acharem 
normal, e acostumam-se com ela apesar de ser causa de isolamento social e, 
secundariamente, de depressão. A própria depressão, que é causa de grande sofrimento 
humano, não é tratada nem diagnosticada, por que existe o preconceito de que “os 
idosos são um pouco tristes mesmo”. 
 
4.4.2. Qualidade de Vida na Velhice: A Importância da Dimensão Psicossocial 
De acordo com Bowling (1995), trabalhando com idosos, enfatiza-se a dimensão 
bem-estar psicológico, também designado como ajustamento, estado de espírito 
(morale), felicidade, contentamento, satisfação de vida e outros. Uma parte da literatura 
gerontológica tem trabalhado os conceitos de envelhecimento bem-sucedido, 
envelhecimento positivo e qualidade da velhice sob enfoque de satisfação de vida, como 
também é uma dimensão-chave nas avaliações de estado de saúde na velhice. 
Psicólogos, sociólogos e gerontólogos têm tentado medir o bem-estar e entender o 
que as pessoas querem dizer com a expressão boa vida (Bowling, 1995 b). De acordo 
com Larson (1978) pesquizou fatores associados à satisfação de vida entre idosos e 
encontrou saúde ótima, nível sócio-econômico mais alto, ser casado e maior atividade 
 42
social. Em contra partida, idade, raça, sexo e emprego não mostraram relação 
significativa. Os fatores predisponentes mais importante foram saúde, atividade social e 
prazer sexual. 
 Uma revisão de literatura feita por Diener e Suh (1998, apud Néri, 2001a, 2001b) 
aponta os seguintes dados sobre a relação entre eventos objetivos e subjetivos e a 
avaliação da qualidade de vida na velhice: 
a) Os eventos subjetivos mostram maior associação com qualidade de vida na 
velhice do que os objetivos, tais como renda, arranjo de moradia e saúde física. 
b) Há forte relação entre ter medo de ficar velho, solidão e isolamento, senso de 
desamparo e de incompetência comportamental, com depressão, baixa saúde percebida 
e insatisfação com a vida. 
c) A despeito do declínio da saúde, da viuvez e da diminuição de renda que ocorre 
na velhice, existe estabilidade no senso de bem-estar dos idosos, que geralmente 
pontuam alto em escalas de satisfação. 
d) Os jovens são mais pessimistas e exigentes quanto à qualidade de vida do que 
os idosos. 
e) Os idosos mais ajustados são os que têm metas de vida e que são mais capazes 
de adapta-las às condições impostas pela velhice. 
f) Doenças e incapacidades que determinam restrições nas oportunidades de 
acesso à estimulação prazerosa e ao envolvimento social relacionam-se com depressão e 
com afetos negativos. 
g) Os idosos têm vida emocional menos intensa do que os adultos, possivelmente 
como resposta adaptativa aos limites da velhice, ou, então, como reflexo de um processo 
de seleção de interesses. 
Conceituar e avaliar qualidade de vida não é tarefa das mais fáceis, dada a 
quantidade e a complexidade das variáveis envolvidas. Numerosas disciplinas e 
profissões têm se ocupado dessa tarefa, desde que, há cerca de 50 anos, o assunto 
 43
começou a chamar, primeiro de cientistas sociais e de políticos, depois de pessoal do 
campo da saúde e, final e literalmente, de todas as áreas da atividade humana. Devido à 
importância do tema, tanto para avaliação de resultados, condutas, tratamentos e 
políticas, quanto para avaliação de atendimento e serviços, há vários conceitos e 
instrumentos, alguns gerais e outros específicos, para sua avaliação. Poucos porém, 
foram desenvolvidos tendo como alvo a população idosa. 
Um dos modelos mais conhecidos sobre qualidade de vida na velhice foi 
desenvolvido por Lawton (1983), que a define como resultado da avaliação 
multidimensional referenciada a critérios socio-normativos e intrapessoais, a respeito 
das relações atuais, passadas e prospectivas entre um indivíduo maduro ou idoso e o seu 
ambiente. O modelo descreve quatro dimensões conceituais: a) Competência 
comportamental: avaliação do funcionamento do individuo no tocante à saúde, à 
funcionalidade física, à cognição, ao comportamento social e à utilização do tempo, 
referenciada a parâmetros clínicos, bioquímicos e comportamentais; b) Condições 
ambientais, que são relativas ao contexto físico e ao construído pelo homem e têm 
relação direta com a competência comportamental. Devem oferecer adequadas 
condições de acesso, manejo, conforto, segurança, variabilidade, interesse e estética, o 
que inclui instrumentos, equipamentos e adaptações construtivas; c) Qualidade de vida 
percebida, que é subjetiva e relativa à variação da própria saúde e do próprio 
funcionamento em qualquer domínio; e d) Bem-estar subjetivo: diz respeito à avaliação 
pessoal que o idoso faz do conjunto e da dinâmica das relações entre as 3 áreas 
precedentes. É indicado principalmente por satisfação, felicidade e estado de espírito.

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