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A Caverna de Platão

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Conforme sugere Ben Dupré (2015, p. 12), 
 
Imagine que você passou a vida inteira aprisionado numa caverna. Seus pés e suas mãos 
estão acorrentados e a sua cabeça presa, de modo que você só consegue olhar para uma 
parede à sua frente. Atrás de você há uma fogueira acessa e, entre você e o fogo, há uma 
passarela usada por seus captores para transportar estátuas de pessoas e vários outros 
objetos de um lado para outro. As sombras que esses objetos lançam na parede são as únicas 
coisas que você e seus companheiros de prisão já viram na vida, as únicas coisas sobre as 
quais pensam e conversam. 
 
O que podemos pensar dessa cena? O mesmo que Sócrates pensou: “Quando libertados, 
continuarão a sustentar que as sombras que antes viam eram mais verdadeiras do que os 
objetos que lhes mostram agora” (Rep., Livro VII, p. 154). 
 
A metáfora platônica da caverna representa o nosso mundo material ou mundo sensível, 
lugar das sombras, ou seja, das cópias imperfeitas. Representa o nosso campo de existência, 
o mundo de nossa experiência (DUPRÉ, 2015). O mundo fora da caverna simboliza o que 
Platão designou de mundo das ideias, ou seja, mundo real, lugar das verdades, das formas 
puras, dos conceitos – o mundo da verdade. 
 
O cavernícola liberto representa aquele que busca o conhecimento verdadeiro e que 
consegue se afastar das sombras para investigar a realidade através do pensamento 
reflexivo. Assim, a saída da caverna e a vivência no mundo externo, iluminado pelo sol, 
representa o movimento que nos retira da ignorância e nos conduz à busca da sabedoria e 
que passa, necessariamente, pela construção de um pensamento reflexivo. 
 
Seria o nosso mundo uma grande caverna? Podemos argumentar que os preconceitos, as 
falsas ideias, as ideologias, os avanços e os retrocessos, bem como a intolerância, poderiam 
representar as correntes que nos mantêm prisioneiros na caverna de Platão? E os sofistas 
responsáveis por esse cativeiro? Onde estão hoje em dia? 
 
O prisioneiro liberto ridicularizado por seus próprios companheiros poderia ser visto, 
atualmente, como o estudioso que muitas vezes o senso comum tenta desacreditar, 
chamando-o de tolo. Segundo Dupré (2015, p. 15): 
 
Nessa passagem, Platão alude à dificuldade encontrada pelos filósofos – serem 
ridicularizados ou rejeitados – ao tentar levar conhecimento às pessoas comuns e conduzi-
las ao caminho da sabedoria. Ele também pensa no destino de seu professor, Sócrates (seu 
 
 
 
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porta-voz em República e na maioria de seus outros diálogos), que a vida toda se recusou a 
moderar seus ensinamentos filosóficos e, em 399 a. C., foi executado pelo Estado ateniense.

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