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Gabarito da Ap1 – 2015.1 Questão 1: O aluno deve observar necessariamente as cantigas de amor sob os seus aspectos estruturais e temáticos, destacando a restrição ao eu lírico masculino, assim como o apuro formal destas composições (caso mais evidente o da canção de maestria); no que diz respeito ao modelo masculino do trovador, a questão da obediência ao código do amor cortês é de extrema importância, de modo que o aluno deve destacar pontos como a postura idealizada do objeto amado, o amor adulterino, a ambiência palaciana, assim como a inter-relação entre tal observância do código amoroso e o domínio técnico da linguagem poética (o amor constitui um saber e, para amar, deve-se, antes de tudo, saber amar). Questão 2: As cantigas de amigo caracterizam-se pela voz lírica feminina, a ambiência campestre, as situações de caráter doméstico próprias à posição da mulher na Idade Média. Tais cantigas relacionam-se com o universo imagético pagão, de maneira a introduzir em seu corpo elementos próprios da magia e do encantamento, assim como de rituais primitivos de fertilização que acenam, por exemplo, a uma forte expressão erótica que se dá a ver desde temas articulados à manifestação da experiência do sagrado aos usos da linguagem poética, eivada de musicalidade. A questão da autoria liga-se diretamente à noção de fingimento poético, que se observa nestas cantigas a partir do uso da voz lírica feminina em canções que eram compostas estritamente por homens. Questão 3: A afirmação de Helder Macedo consiste em destacar o desejo (próprio à manifestação sexual) como parte consubstancial da prática amorosa que, enfim, se dá efetivamente como experiência. O erotismo concernente ao amor camoniano desloca a percepção deste afeto de um âmbito idealizado para um campo da vivência empírica que, embora muito concreta, busca a constituição de um conhecimento capaz de concertar a ordem do mundo – portanto, de um saber espiritual que se desse a ver por meio da experiência corporal. Neste sentido, não se trata, para Camões, de mera afirmação da sexualidade, mas de uma reconciliação entre alma e matéria. Sonetos como “Transforma-se o amador na cousa amada” e “Enquanto quis Fortuna que tivesse” apresentam, cada qual a sua maneira, este movimento. Questão 4: O caráter sacrificial do episódio de Inês de Castro revela as feições trágica e humana do amor n’Os Lusíadas justamente porque aponta para tal experiência enquanto oferta do corpo em nome de um amor que somente se concretiza após a morte. O amor sacrificial apresenta a sua face trágica na medida em que interrompe o laço que une amador e amada no mundo (embora com a promessa de vida eterna lado a lado) e a sua face humana enquanto se manifesta como amor que rompe limites e move o homem (à ação, à transgressão). A impossibilidade de efetivação desta vivência devido a interesses políticos do Reino acena tanto para um seu caráter trágico (do amor que apenas se mostra como engano ou destino cego que nos leva à desilusão) como humano (do afeto que depois levará Pedro, o cru, a se vingar dos algozes de Inês de Castro).
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