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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ Disciplina: Linguística I Coordenadora: Profª Silvia Maria de Sousa Tutora a distância: Fernanda Lunkes AD1 - 2013/ 2 Aluno(a): _______________________________________________________ Polo: __________________________ Matrícula ________________ Nota: _______________ Instruções: Escreva à tinta (azul ou preta) e com a maior legibilidade possível. Não escreva em tópicos. Escreva um texto coerente e coeso, em registro linguístico compatível com o trabalho acadêmico formal. A folha de perguntas deve ser devolvida junto com as respostas. Boa prova! 1. Com base na afirmação seguinte, diferencie as abordagens da gramática normativa e da linguística. Em sua explicação, apresente exemplos que ilustrem as diferenças entre essas abordagens. (2,0): “A Linguística adota o ponto de vista descritivo e não o prescritivo”. A linguística investiga cientificamente a linguagem humana. Seu estudo não se confunde com o estudo de diferentes idiomas e tampouco com o estudo da gramática tradicional. A linguística possui um caráter científico, que exige o uso de terminologias que ajudam a conferir um tratamento rigoroso e metodológico a seu objeto. Por ser científica, a linguística adota uma postura de descrição, ou seja, mostra características, detalha os fenômenos da linguagem, sem eleger um determinado uso como o mais correto entre os demais. Um exemplo de como esta ciência lida com os fenômenos linguísticos é este: “(...) o acento em português é também distintivo, pois serve, pela sua posição, a distinguir palavras, como em jaca “uma fruta brasileira” e jacá “uma espécie de cesto”, caqui “a fruta de origem japonesa” e cáqui “cor de poeira”, e assim por diante (CAMARA JUNIOR, 1985, p. 65).” Neste caso, o autor descreve de que modo a tonicidade produz diferenças entre palavras, mas não indica se se deve ou não utilizá-lo. A postura teórica da linguística a distingue fundamentalmente da gramática tradicional, sendo esta última prescritiva. A gramática estabelece normas de conduta no escrever e no falar, o que acarreta, por conseguinte, a eleição de um determinado uso como correto e a emissão de julgamentos em relação àqueles considerados “errados”. Podemos tomar a explicação de Cunha e Cintra sobre um caso de concordância, como um exemplo da perspectiva da gramática tradicional: “Sujeitos resumidos por um pronome indefinido. Quando os sujeitos são resumidos por um pronome indefinido (como tudo, nada, ninguém), o verbo fica no singular, em concordância com esse pronome: Letras, ciências, costumes, instituições, nada disso é nacional (Eça de Queirós, TR, 15.)” (CUNHA e CINTRA, 1985, p. 499). Este fragmento nos permite depreender o ideal de língua a ser seguido pela gramática normativa, de modo a levar os falantes de determinada língua a usá-la de uma maneira determinada, considerada como o melhor uso ou o uso “correto”. 2. O trecho abaixo, retirado da obra de Fiorin (2002), explica uma diferença fundamental entre os signos naturais e os signos artificiais: a intenção comunicativa. Explique o motivo de tal diferença a partir da definição de índice, símbolo e signo linguístico, e apresente um exemplo de cada um deles. (2,0) “Levando em conta o critério de intenção comunicativa presente nos signos, eles podem classificar-se em signos naturais e signos artificiais. […] Os signos artificias propriamente ditos são produzidos para fins de comunicação” (FIORIN, 2002, p. 72-72 – itálicos do autor). A intenção comunicativa marca uma diferença crucial entre os signos naturais e os signos artificiais, pois implica na presença ou ausência de convenção. Os signos naturais, também chamados de índices, expressam um dado conteúdo, sem a intervenção de um locutor. Um exemplo é a fumaça, que indica a presença do fogo. Não há ação humana neste caso e tampouco uma relação entre um emissor e receptor. Dizemos que a relação entre os signos naturais e o conteúdo que expressam é indicial, pois a fumaça indica a existência de fogo. Já os signos artificiais se constituem pela convenção e têm um propósito comunicacional. O símbolo, por exemplo, é uma convenção que apresenta uma relação mais motivada. O símbolo pode ser entendido como um objeto material que atua na representação de uma noção que não é concreta, mas abstrata. A figura de um coração, por exemplo, pode ser tomada como representação do amor e, portanto, o simboliza. Já o signo linguístico, embora seja convencional, não possui uma relação motivada entre significante (imagem acústica) e significado (conteúdo). O signo linguístico é uma entidade psíquica constituída por duas entidades psíquicas, indissociáveis, o significante e o significado, mas a relação entre ambas não é motivada. Não há nada, por exemplo, nada que justifique o fato da sequência /gato/ comportar o conteúdo (animal mamífero de quatro patas, felino doméstico). 3. A partir das afirmações de Saussure, defina e diferencie linguagem, língua e fala. (2,0) “O ponto de vista é que determina o objeto” (SAUSSURE, 1989, p. 15) “A língua existe na coletividade sob a forma duma soma de sinais depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos. Trata-se, pois, de algo que está em cada um deles embora seja comum a todos e independe da vontade dos depositários.” (SAUSSURE, 1989, p. 27) Nossa tradição ocidental grega testemunha que a linguagem verbal sempre foi objeto de estudo e análise, dada sua importância e, consequentemente, a curiosidade por ela própria suscitada. Contudo, até Ferdinand de Saussure, os estudos sobre a linguagem, entendida como a capacidade humana de se comunicar por meio de um sistema organizado de signos, estavam sempre subordinados a outros – aos estudos de gramática, retórica, lógica etc. Foi com Saussure que a linguagem verbal passou a ser analisada por ela mesma. Ao propor uma ciência, Saussure precisava definir precisamente qual seria seu objeto de estudo. Ele então percebeu que a linguagem verbal, tal como nos aparece, é “heteróclita e multifacetada”. Sendo assim, ela não seria passível de um estudo científico, por ser demasiado abrangente. Para Saussure, a linguagem é ao mesmo tempo psíquica, física e fisiológica, sendo impossível, portanto, descrevê-la. Daí Saussure operar uma separação do que é estável, social, homogêneo da linguagem verbal, ou seja, a língua, do que é imprevisível, individual, heterogêneo da linguagem verbal, isto é, a fala. Ao diferenciar linguagem, língua e fala, Saussure elege a língua (langue) como objeto da linguística. 4. O fragmento da música “Pomar”, do grupo “Palavra Cantada”, faz alusão a uma característica fundamental do signo: a arbitrariedade. Defina arbitrariedade absoluta e arbitrariedade relativa do signo, utilizando a letra da música para exemplificá-las. (2,0) Pomar (Palavra Cantada) Banana, bananeira Goiaba, goiabeira Laranja, laranjeira Maçã, macieira Mamão, mamoeiro A arbitrariedade, segundo Saussure, marca o signo na medida em que a relação entre significante e significado, faces psíquicas que o compõem, é imotivada. Em outras palavras, não há uma relação natural que justifique que uma determinada sequência de sons (o significante) se una a determinado conteúdo (significado). Abordando a letra da música, não há nada na expressão “maçã” que justifique o conceito que é dado a ela (fruta). Este não é o caso dos signos relativamente arbitrários, que possuem em sua formação uma relaçãomotivada a partir do sistema, que permite a formação de algumas palavras. Deste modo, se o signo “maçã” é totalmente arbitrário, “macieira” não o é; trata-se, pois, de um signo relativamente arbitrário, já que nos permite compreender que se relaciona com a palavra maçã, assim como o sufixo “eira” aponta para que tipo de relação se estabelece entre elas: se a maçã é o fruto, a macieira é o nome dado à árvore que produz este fruto, relação esta que se estende ao longo da letra da música, com nomes de outras frutas e suas respectivas árvores. 5. O fragmento da letra a seguir compõe a canção do Karnak, grupo musical brasileiro. À primeira vista, a letra produz um certo estranhamento, o que pode ser relacionado a uma importante característica do signo linguístico. Identifique qual é esta característica e a defina, trazendo exemplos da letra. (2,0) Hymboraewqueyra (Karnak) Todomundogostariadefazerumacoisaquenãosabefazer. Masaspessoasquesabemfazeraquiloqueagentenãosabefazertambém nãosabemfazeraquiloqueagentefaz. Eutôfalandorápidoassimporqueeuquero [...]! Mas brasileiro não é africano. Africano não é brasileiro. Hymboraeuqueira tudo Tudo não posso ter Hymboraeuqueira tudo Tudo não pode ter A letra da música brinca com uma das características do signo linguístico, que é a linearidade do significante. Esta característica implica na realização do significante em uma determinada ordem, uma linha que se forma unicamente no tempo e que nos impede, por exemplo, de pronunciar dois fonemas no mesmo momento, bem como de pronunciar todas as palavras de uma frase de uma só vez. Esta impossibilidade se aplica à escrita, com algumas diferenças. Neste caso, cada letra ocupa um determinado espaço, uma após a outra, e que com as distribuições regidas pela língua irão formar signos e frases. A letra da música lida de maneira criativa com a linearidade do significante ao deixar as letras reunidas, como se formassem uma mesma palavra. Um exemplo que podemos extrair da música é este “Todomundogostariadefazerumacoisaquenãosabefazer”, em que se tem vários signos que formam uma sequência oracional, mas que, por conta de não se estabelecer uma linha espacial que os separa, provocam estranhamento, causando a mesma impressão que se tem diante de uma língua estrangeira, quando ainda não se é capaz de segmentar na fala os elementos que compõem a distribuição linear.
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