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Abordagem do paciente em situação de urgência e emergência psiquiátrica O Enfermeiro no serviço de emergência psiquiátrica: situações específicas STEFANIELLI, M C.; FUKUDA, I. M. K.; ARANTES, E. C. (Orgs.) Enfermagem psiquiátrica em suas dimensões assistenciais. Barueri, SP: Manole, 2008. Daniella Brum Mestranda em Ciências pelo PGENF - UFSJ Emergência Psiquiátrica (EP) Situações EP podem ocorrer em qualquer momento da vida cotidiana e familiar, em hospitais gerais e especialidades. Os clientes chegam ao pronto-socorro em crise ou com sérios transtornos do humor, do pensamento, da sensopercepção, da consciência, de ansiedade aguda, estresse pós-traumático, após tentativa de suicídio, etc. Manifestações mais comuns: tentativas de suicídio, violência e agitação. Conceitos Emergência psiquiátrica: risco significativo ou iminência de morte ou lesão decorrente de pensamentos, sentimentos e comportamentos de risco à integridade da pessoa e outrem, exigindo intervenção imediata (minutos ou horas). Urgência: os riscos são menos graves, precisando de intervenções em dias ou semanas. O fator cultural influi na caracterização entre um e outro (p. 635). Equipe e local de atendimento O Serviço de EP (SEP): equipe de saúde e segurança qualificadas e preparadas para o atendimento da pessoa em situação de EP; espaço próprio seguro, livre para circulação dos membros da equipe; equipamento estritamente necessário para a assistência em EP, inclusive material para contenção mecânica, se necessário; evitar objetos supérfluos que possam gerar atos auto e heteroagressivos e a presença de pessoas que não estejam contribuindo para o atendimento do cliente; Equipe e local de atendimento O Serviço de EP (SEP): acesso fácil para os profissionais da equipe de atendimento e apoio, no caso de proteção e contenção; manter a porta aberta e a equipe avisada quando um profissional estiver sozinho com o cliente; se no hospital geral o SEP deve ficar próximo ao atendimento geral para atendimento de transtornos orgânicos associados, se houver; secretaria e sala de espera devem ser independentes ,com acesso direto. Equipe e local de atendimento O atendimento de EP tem de ser feito por equipe interdisciplinar composta, no mínimo, de: médico psiquiatra; enfermeiro psiquiátrico específico da equipe; auxiliar de enfermagem; e equipe de apoio ou de segurança disponível e adequadamente treinada (situações em que a agitação e a agressividade são intensas, podendo exigir a contenção física). Situações de EP Situações de crise; Ideia e tentativa de suicídio; Agitação, agressividade e risco de violência aguda; Ansiedade aguda (pânico); Intoxicação aguda e síndrome de abstinência de álcool e outras substâncias psicoativas; Surtos psicóticos agudos decorrentes de alteração psíquica ou orgânica; Intoxicação e efeitos adversos graves de psicofármacos; Alterações psíquicas decorrentes de quadro orgânico (delirium e demência); Anorexia e bulimia; Competência – cumprimento de determinação judicial. Aspectos epidemiológicos Mulheres buscam mais SEP; Mais adultos jovens, solteiros, separados ou viúvos; Cerca de 20% são “suicidas”; 10% são violentos; Necessidade de hospitalização em 40% dos clientes que apresentam transtornos do humor, esquizofrenia ou que fazem uso de substâncias; Idosos são 5%; Entre crianças e adolescentes, 75% tem menos de 13 anos e predominantemente do sexo feminino; O aumento de agravos decorrente de causas violentas tem avolumado a demanda dos SEP, desvirtuando a finalidade essencial da EP, que passou a ser uma das principais portas de acesso aos ambulatórios e ao hospital psiquiátrico. Os profissionais devem permanecer atentos aos sinais e sintomas de doenças físicas, porque podem ser ofuscados pela exuberância das manifestações do transtorno mental, que, em muitas situações, podem ser consequências dos transtornos orgânicos. A qualidade da assistência requer conhecimentos de psiquiatria, psicofarmacologia, técnicas de comunicação, etc., além dos parâmetros ético-legais da profissão, lembrando que a família também precisa ser atendida e esclarecida sobre a situação. Situações de EP mais comuns Tentativas de suicídio A pessoa com ideação e tentativa suicida é uma das mais graves EP. Geralmente a demanda vai para os serviços gerais, não para o especializado. O comportamento suicida é um sério problema de saúde pública, estando entre as 10 principais causas de morte no mundo, sendo a 2ª para jovens de 15-29 anos. A taxa de mortalidade mundial média é 11,4 / 100mil hab., enquanto no Brasil gira em torno de 6/ 100mil hab. (subregistros). A ideação e a tentativa são vistas dentro de um continnum e são importantes fatores de risco para o suicídio consumado. Situações de EP mais comuns Tentativas de suicídio Estas estão geralmente associadas a transtornos de humor como depressão e TAB (incluindo depressão pós-parto), uso de substâncias psicoativas, transtornos orgânicos (delirium), alterações no conteúdo do pensamento, sensopercepção e quadros neuróticos como ansiedade aguda com sentimentos ambivalentes sobre o morrer (desejo de acabar com o sofrimento). (ABP, 2014) Situações de EP mais comuns Tentativas de suicídio O suicídio ocorre em todas as faixas etárias, classes econômicas, grupos étnicos, gêneros, o que reflete sua multicausalidade. Cada suicídio consumado afeta de 5 a 6 pessoas envolvidas com a pessoa, economica, social e emocionalmente (sobreviventes). Para cada suicídio, tem-se de 10 a 20 tentativas. No mundo há uma morte a cada 40 seg. São cerca de 1 milhão de pessoas que se matam por ano no mundo. Situações de EP mais comuns Tentativas de suicídio Fatores de risco: Gênero feminino (tentativa) Idade acima de 45 anos; Tentativa prévia; História familiar de tentativas ou suicídios; Perdas recentes; Presença de sinais e sintomas de TM; Rompimento ou ausência de laços afetivos estáveis; Desemprego e perda de status; Doenças crônicas, incapacitantes e terminas; Transtorno de personalidade antissocial; Posse de meios letais. Processos de enfermagem Tentativa de suicídio Manter a segurança do cliente, com vigilância constante e discreta para evitar novas autolesões / tentativas de suicídio; Na depressão, a energia para atos é precoce em relação ao alívio dos sentimentos e ideias; Orientar e oferecer apoio aos familiares; Orientar os profissionais da equipe de enfermagem quanto aos seus sentimentos em relação ao cliente com ideação suicida e principalmente quando consuma-se o suicídio. Situações de EP mais comuns Agitação e agressividade Principais demandas no SEP (geralmente ambos); Clientes agitados requerem observação constante, se impossibilitam a abordagem verbal, exigem vigilância e contenção física rápida, apropriada e eficaz, até que a contenção química tenha efeito; São as situações mais perturbadoras p/ profissionais em um SEP ou de atendimento geral; Situações de EP mais comuns Agitação e agressividade TAB (fase de mania); Esquizofrenia paranóide e catatônica; Depressão ansiosa ou agitada; TM orgânicos; Uso de substâncias psicoativas; Transtorno de personalidade borderline e antissocial; Estado crepuscular epilético; Reação aguda ao estresse. Situações de EP mais comuns Agitação e agressividade Fatores de risco: Homens de 15-24 anos; Baixo nível socioeconômico e educacional; Desemprego; Membro de minorias sociais sem suporte adequado; Vítimas de assalto e violência; Intoxicação por álcool ou abstinência de substâncias psicoativas; Traumatismo craniano (lesão do lobo frontal); História de abusos na infância; Desenvolvimento em ambiente violento; Baixa autoestima; Pessoas com transtornos mentais sem adesão ao tratamento. Processos de enfermagem Agitação e agressividade Se as tentativas iniciais não forem suficientes para conter o comportamento do cliente, os profissionais devem decidir rapidamente pelo uso de medidas físicas (contenção); Avaliar sempre as contenções físicas do clientepara evitar garroteamento e lesões; Evoluir o cliente periodicamente (15 min.) Retirar as cotenção quando o cliente apresentar remissão das manifestações apresentadas, cabendo a decisão desta à equipe. 19 Situações de EP mais comuns Ansiedade aguda Pode manifestar-se por meio de agitação, agressividade ou perplexidade; Pode surgir ataque de pânico quadros de início súbito, episódicos e intensos associados à sensação de pavor, morte iminente, acompanhados por palpitações, desconforto precordial, vertigem, parestesias, tremores e sudorese (uma resposta muito maior que o estímulo). Processo de enfermagem: Deixar que o cliente expresse seus sentimentos sem julgamento ou repreensão, oferecendo apoio e segurança; observar contínua e discretamente o cliente, dado o risco de suicídio. Situações de EP mais comuns Intoxicação alcoólica – observar sinais e sintomas Também conhecida como embriaguez simples; Mudanças de comportamento devido à ingestão recente de considerável quantidade de álcool; Níveis de alcoolemia: 20-99mg%: incoordenação motora, mudanças de humor e comportamento; 100-199mg%: prejuízo neurológico, ataxia, incoordenação e prejuízo mental; 200-299mg%: ataxia acentuada, náuseas e vômitos; 300-399mg%: hipotermia, disartria e amnésia; 400-599mg%: início do coma alcoólico, depressão respiratória, diminuição de reflexos; 600-800mg%: morte por inibição do centro respiratório. Processos de enfermagem Diagnósticos de enfermagem: Ansiedade – ameaça real ou percebida com respostas fisiológicas, comportamentais e afetivas de medo e pânico; Sentimento de impotência – distúrbio da cognição que se evidencia pela dificuldade em assumir controle das situações e de tomar decisões; Isolamento social – limitação vivida pela incapacidade de vínculos interpessoais satisfatórios; Enfrentamento ineficaz individual – dificuldade de desenvolver uma avaliação adequada dos estressores; Pensamento perturbado – interpretação não acurada do ambiente e dificuldade de concentração, podendo decorrer de ansiedade intensa, delírios ou outros distúrbios mentais Processos de enfermagem Diagnósticos de enfermagem: Confusão aguda – alteração do nível de consciência em decorrência do uso de substância psicoativa, de processos demenciais, etc.; Síndrome pós-trauma – eventos não-habituais que geram grande carga de estresse; Risco de violência autoinfligida – relacionados a estados emocionais como a desesperança, desespero, ansiedade intensa e pânico, inibindo o insight da situação, perfazendo risco de morte; Risco de lesão – relacionado à ausência de controle devido à ansiedade intensa, deambulação excessiva e movimentos sem finalidade e potencialmente lesivos; Risco de suicídio – relacionado à desesperança, solidão, incapacidade de tomar decisão, depressão aguda, perda de status e de relacionamentos, ruptura afetiva, etc.; Processos de enfermagem Diagnósticos de enfermagem: Angústia espiritual – perda de significado e objetivo da vida, mudança nos padrões de vida, sentimento de culpa, solidão e desesperança; Desesperança – incapacidade de vislumbrar alternativas ou percepção destas limitadamente, sem capacidade de mover energias a seu favor; Baixa autoestima situacional – percepção negativa com autodepreciação e sentimentos de inutilidade; Interações sociais e familiares prejudiciais – dificuldades de estabelecer relacionamento social e familiar por prejuízos na comunicação; Manutenção ineficaz da saúde – não aceitação da crise, de tratamentos e cuidados básicos de saúde; Déficit no autocuidado – associado à higiene, alimentação, sono, hidratação, aparência, limitações. Processos de enfermagem Resultados esperados em situação de EP: Manutenção da vida do cliente; Manutenção da integridade física e mental do cliente. Os demais devem ser elaborados de acordo com cada pessoa e situação, sempre envolvendo a família no tratamento, a qual deve ser esclarecida do seu motivo, necessidade e procedimentos. Processos de enfermagem Intervenções gerais de enfermagem Providenciar atendimento imediato; Dirigir-se ao cliente e aos familiares pelo nome, informando sua função e procedimentos; Colher dados essenciais para o atendimento inicial do cliente, fazer observação rigorosa do seu comportamento e comunicar suas modificações à equipe; Manter atitude positiva de aceitação e não-julgamento em relação ao cliente e familiares, permitindo criar um vínculo de confiança e segurança; Processos de enfermagem Intervenções gerais de enfermagem Manter o cliente em observação contínua e discreta; Verificar sinais e sintomas periodicamente não só quanto às condições clínicas do cliente, mas em relação ao uso de psicofármacos, pois podem provocar alterações significativas nesses sinais; Manter anotação de enfermagem em ordem sequencial das ações e eventos – evolução do cliente + preceitos ético-legais. Contenção do cliente Contenção física RESOLUÇÃO COFEN Nº 427/2012: Normatiza os procedimentos da enfermagem no emprego de contenção mecânica de pacientes Considerando: (...) “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante” (...); (...) privativo do Enfermeiro “cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica, e capacidade de tomar decisões imediatas”; (...) é atribuição do Enfermeiro, como integrante da equipe de saúde, “prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados à clientela durante a assistência de Enfermagem”; (...) a Seção I – Das Relações com a Pessoa, Família e Coletividade, do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem,... (...) a sistematização da assistência de Enfermagem e a implementação do processo de Enfermagem em ambientes públicos ou privados em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem; (...) a missão, os valores e a visão do Cofen(...) Contenção física Art. 1º Os profissionais da Enfermagem, excetuando-se as situações de urgência e emergência, somente poderão empregar a contenção mecânica do paciente sob supervisão direta do enfermeiro e, preferencialmente, em conformidade com protocolos estabelecidos pelas instituições de saúde, públicas ou privadas, a que estejam vinculados. Art. 2º A contenção mecânica de paciente será empregada quando for o único meio disponível para prevenir dano imediato ou iminente ao paciente ou aos demais. Parágrafo único. Em nenhum caso, a contenção mecânica de paciente será prolongada além do período estritamente necessário para o fim previsto no caput deste artigo. Art. 3º É vedado aos profissionais da Enfermagem o emprego de contenção mecânica de pacientes com o propósito de disciplina, punição e coerção, ou por conveniência da instituição ou da equipe de saúde. Contenção física Art. 4º Todo paciente em contenção mecânica deve ser monitorado atentamente pela equipe de Enfermagem, para prevenir a ocorrência de eventos adversos ou para identificá-los precocemente. § 1º Quando em contenção mecânica, há necessidade de monitoramento clínico do nível de consciência, de dados vitais e de condições de pele e circulação nos locais e membros contidos do paciente, verificados com regularidade nunca superior a 1 (uma) hora. § 2º Maior rigor no monitoramento deve ser observado em pacientes sob sedação, sonolentos ou com algum problema clínico, e em idosos, crianças e adolescentes. Art. 5º Todos os casos de contenção mecânica de pacientes, as razões para o emprego e sua duração, a ocorrência de eventos adversos, assim como os detalhes relativos ao monitoramento clínico, devem ser registrados no prontuário do paciente. (...) (Brasília/DF, 7 de maio de 2012) Contenção física Vídeo Contenção física Cuidados após a contenção: Manter membro da equipe continuamente ao lado do cliente; Explicar novamente ao cliente o motivo da contenção e validar sua compreensão, se possível, deixando claro quando cessará; O cliente deve ser avaliado por médico a cada ½ hora e por enfermeiro a cada 15 min, com registro de sua evolução.Contenção física Acompanhamento: Hidratação e alimentação; Higiene; Mudança de decúbito, evitando pressão no local contido e garroteamento; Vestimentas e proteção adequadas à temperatura do ambiente; Eliminações fisiológicas; Prontuário documentado sequencialmente; Oferecer continuamente apoio como medida terapêutica ao cliente e interação para comunicação terapêutica. Contenção física Cuidados após a retirada das contenções: Fazer uma análise do ocorrido junto com cliente, os membros da equipe e a família, para todos avaliarem o ocorrido, os sentimentos, os pensamentos, a efetividade da medida, os ganhos e os futuros ajustes para melhor atender àquele que necessita da conduta utilizada. Contenção física Abordagem do paciente e segurança do profissional Roda de conversa Antônio Cristiano Barreto - Enfermeiro especialista em Micropolítica de saúde do SUS com ênfase na gestão e na RAPS. Servidor público municipal lotado no SERSAM desde 2008 sob o cargo função técnico de enfermagem. Coordenador do CAPS-AD III – Divinópolis até maio / 2017. Obrigad@!
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