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Mulheres na Idade Média e nos Brasil Atual por Luiz Carlos Vidal1 FONTE: Imagem 1 – Christine de Pisan apresenta seu livro a rainha Isabel da Baviera; Título do Livro: Obras Completas de Christine de Pisan; Autor: Christine de Pisan; Produção: França (Paris); 1410d.C.–1411d.C. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/File:Christine_de_Pisan_and_Queen_Isabeau_detail.jpg> Imagem 2 – Auto-retrato de Herrad de Landsberg no Hortus deliciarum, 1180d.C. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Herrad_von_landsberg.jpg> TIPO DE FONTE: Pintura medieval CENÁRIO: Imagem 1 – A primeira imagem, datada em 1410d.C.–1411d.C, destaca a participação de Christine de Pisan na luta pela valorização da mulher na sociedade medieval. Christine de Pisan foi uma poetisa e filósofa italiana que viveu na França na primeira metade do século XIV, conhecida por criticar a misoginia (1) presente no meio literário da época, predominantemente masculino, e defender os direitos das mulheres na sociedade. Considerada precursora (2) do feminismo, foi a primeira mulher de letras francesa a viver do seu trabalho. Imagem 2 – A segunda imagem, datada em 1180d.C, apresenta Herrad de Landsberg em atividade até então exclusiva do sexo masculino: autora de uma enciclopédia cientifica, poeta, escritora. Herrad de Landsberg (1130 - 1195) foi uma freira e abadessa (3) da Alsácia no século XII na Abadia (4) de Hohenburg nas Montanhas Vosges. Ela é conhecida pela obra Hortus deliciarum (O Jardim das Delícias). Em cerca de 1167, Herrad começou, dentro do claustro (5), o trabalho pelo qual ficou conhecida, o Hortus Deliciarum, é uma iluminura(6) medieval que serviu como uma ferramenta pedagógica para noviças do convento. É a primeira enciclopédia que foi claramente escrita por uma mulher e foi um dos mais renomados manuscritos do período. A maior parte do manuscrito não é original, mas um compêndio (7) do conhecimento do século XII. O manuscrito contém poemas, ilustrações, músicas e desenhos de textos clássicos dos escritores árabes. Poemas de Herrad, direcionados às freiras dos quais quase todos continham músicas. A parte mais famosa do manuscrito são suas ilustrações, que totalizam 336, e simbolizam vários temas teológicos, filosóficos e literários. A sociedade medieval era patriarcal (8) e a relação feminina no seio social, conjugal e familiar dependia da posição econômica que a família ocupava, apesar de seus bens serem administrados por homens. Também não lhes era permitido exercer cargos públicos ou de liderança. Características estas que, em conjunto com a cultura cristã, definiram o que seria a mulher na Idade Média. 1 Graduando em História pela universidade de Brasília. Trabalho resultado da disciplina Laboratório de Ensino de História prof. Edlene Oliveira Silva. A mulher era, na definição religiosa, naturalmente inferior ao homem, desempenhando papéis e funções diferentes das do homem e sempre bem definidas, normalmente limitadas ao trabalho doméstico. A roca, instrumento que simbolizava o trabalho doméstico, estava consequentemente relacionada ao trabalho feminino. Patriarcal, a sociedade medieval era dirigida e controlada por homens que tinham o direito de castigar as mulheres como a uma criança, a um doméstico ou a um escravo, tornando-se um direito de justiça inquestionável, primordial, absoluto. O homem deveria ser governado apenas por Deus, enquanto a mulher que estava relacionada à sensibilidade, deveria ser governada pela inteligência masculina. As diferenças entre idade, riqueza, educação ou atividades praticadas, determinavam os direitos e deveres impostos às mulheres. A personalidade feminina, herdeira da Queda do homem, na qual o mito de Eva tem um papel negativo central, era apresentada por meio de termos depreciativos, tais como: perigosas, pérfidas, fracas, frívolas, instintivas, frágeis, astuciosas, encrenqueiras, inconstantes, sensuais, infiéis e fúteis. A sensualidade sempre esteve no centro das reprovações contra o feminino, pois o desejo era obra do diabo e a mulher era a inspiradora do desejo, o que fazia dela a causadora da danação eterna do sexo masculino e da humanidade. Todas as mulheres eram por natureza herdeira de Eva, uma pecadora, maldita, mas havia também na sociedade medieval a imagem de Maria, mãe de Jesus, modelo de perfeição e santidade, considerada a redentora de Eva, vinda ao mundo com a missão de livrar as mulheres da maldição da Queda. Na Idade Média, desenvolveu-se a ideia de que Maria era a mãe da humanidade, de todos aqueles que viviam na graça de Deus. Um exemplo de mãe, pois era a mãe do filho de Deus, simbolizava a pureza e a humildade e ao longo da Idade Média sua imagem foi ganhando popularidade. Associavam-na à autoria de milagres. Era vista como dama por excelência, bela de corpo e de rosto, um ideal a ser atingido pelas mulheres comuns. Era obediente e submissa à vontade divina e por isso não morreu como os outros homens, mas ascendeu aos céus por não ter pecado. A Igreja, ao criar essas duas representações femininas tentava impor a disciplina e a obediência como forma de controle dos comportamentos sociais cristãos. Com a instituição do casamento pela Igreja, a maternidade e o papel da boa esposa, estes passaram a serem exaltados, muito ligados à imagem de Maria, vista como “a irmã, esposa e serva do Senhor”, um ideal de santidade o qual deveria ser seguido por todas as mulheres para alcançar a graça divina, o caminho para a salvação. Eva, porém, era vista como um exemplo a não ser copiado, um ser pecador, incapaz de resistir às tentações, sendo necessário submetê-la à tutela masculina. Todas as mulheres já nasciam com o estigma do pecado herdado por Eva e conforme a Igreja pregava, deveriam buscar Maria como referencial a ser atingido. Ou seja, a imagem da mulher fraca e medíocre era substituída pela mulher pura, submissa e temente a Deus. Assim, a Igreja acreditava que estaria controlando os comportamentos femininos e disseminando a culpa pela origem do pecado, isentando o homem de quaisquer responsabilidades. Porém, muitas mulheres ousaram desafiar essas imagens tão bem construídas pela Igreja, que soube se valer destes conceitos para se manter no controle e poder social. Muitas mulheres como Herrad de Landsberg passaram a exercer atividades essencialmente masculinas e romperam com a imagem de submissão ao homem, que a Igreja e a sociedade insistiam em impor. Muitas mulheres também passaram a administrar seus bens, as que detinham grande poder aquisitivo patrocinavam atividades artísticas, bem como obras literárias, fazendo com que o movimento cultural formado por mulheres crescesse largamente, como Christine de Pisan. Com a literatura, foi possível observar os pensamentos femininos na Idade Média e outras imagens da mulher que se contrapunha as visões depreciativas do sexo feminino. Ou seja, ações isoladas ou coletivas dirigidas contra a opressão das mulheres podem ser observadas em diversos momentos da História e inúmeras mulheres resistiram, denunciaram as injustiças sofridas pelas mulheres, traçaram caminhos diferentes daqueles que a sociedade ditava como os únicos legítimos. Lembrar dessas mulheres, é lembrar de que podemos e devemos sempre lutar por direitos e igualdade de gênero (9). TEMA: Imagens das mulheres na Idade Média e possíveis semelhanças e diferenças com a situação feminina na sociedade brasileira atual. IMAGENS: (Imagem 1)(Imagem 2) PALAVRAS CHAVES: Liberdade; Feminina; Direito; Idade Média. GLOSSÁRIO: (1) misoginia: repulsa ao gênero feminino; (2) Precursora: a primeira a fazer alguma coisa; (3) Abadessa: Superiora de um mosteiro de religiosas, intitulado abadia; (4) Abadia: eram os mosteiros governados por um abade ou abadessa; (5) Claustro: parte da arquitetura religiosa do mosteiro destinada ao isolamento; (6) Iluminura ou miniatura é um tipo de pintura decorativa, frequentemente aplicado às letras capitulares no início dos capítulos dos códices de pergaminhos medievais. O termo se aplica igualmente ao conjunto de elementos decorativos e representações imagéticas executadas nos manuscritos, produzidos principalmente nos conventos e abadias da Idade Média. A sua elaboração era um ofício refinado e bastante importante no contexto da arte medieval. (7) Compêndio: Coletânea de conhecimentos; (8) Patriarcal: onde o pai tem o poder absoluto sobre a casa; (9) Gênero: Conceito formulado nos anos 1970 com profunda influência do pensamento feminista. Ele foi criado para distinguir a dimensão biológica da dimensão social, baseando-se no raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie humana, no entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela cultura. Assim, gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos. PROPOSTAS PEDAGÓGICAS 1º) Introdução Perguntas: O que você sabe sobre a condição da mulher na Idade Média? As mulheres sofriam algum tipo de violência por parte dos homens? Cite Algumas. Que aspectos do tratamento masculino dispensado às mulheres na Idade Média permanecem até os dias de hoje? Hoje no Brasil são altíssimos os índices de feminicidio (assassinatos de mulheres) e violência contra a mulher, sendo os homens muitos (namorados, amantes, maridos ou ex-companheiros) os principais agressores. Por que os homens são os principais agressores? Justifique sua resposta. Quais as relações entre a violência contra a mulher e o machismo? Você já foi vitima ou presenciou violência contra as mulheres na escola? Cite um exemplo. Comente as frases a seguir: Quem ama maltrata e mata? Briga de marido e mulher não se deve meter a colher? Vocês conhecem a Lei Maria da Penha? Qual a importância da Lei Maria da Penha no combate à violência contra a mulher? SUGESTÃO METODOLÓGICA: Estas perguntas têm como finalidade identificar os conhecimentos prévios dos alunos sobre a mulher na Idade Média e semelhanças e diferenças entre a condição e representações das mulheres medievais e as mulheres da sociedade brasileira atual. 2º) Observe atentamente as imagens e interprete-as criticamente: A primeira imagem retrata o momento em que Christine de Pisan presenteia a rainha com o seu livro. Porque escrever era uma atividade exclusiva dos homens? Qual a importância das mulheres escreverem sobre elas mesmas? Porque é importante para uma sociedade ouvir os excluídos? A segunda imagem retrata Herrad de Landsberg segurando um manuscrito. Por que Herrad pode ser considerada uma mulher que questionou o patriarcalismo e o machismo da Idade Média? 4º) Estabelecendo relações entre o presente e o passado Atividade 1: “Não sabes (mulher) que és Eva, tu também? (...) Tu és a porta do diabo, tu consentiste na sua árvore, foste a primeira a desertar a lei divina” (TERTULIANO- 160/220 d.c), importante autor dos primeiros séculos do cristianismo) “Toda mulher se regozija de pensar no pecado e de vivê-lo.” (Bernard de Molas, monge do século XII). “Quem bate numa mulher com uma almofada, pensa aleijá-la e não lhe faz nada” (Provérbio da época medieval). Responda as seguintes questões: Essas frases são de homens religiosos e da sociedade medieval sobre a mulher. A partir desses discursos o que podemos compreender sobre a visão que se tinha da mulher medieval e sua situação no medievo? Atividade 2: Ai que Saudades da Amélia Nunca vi fazer tanta exigência Nem fazer o que você me faz Você não sabe o que é consciência Não vê que eu sou um pobre rapaz Você só pensa em luxo e riqueza Tudo o que você vê, você quer Ai meu Deus que saudade da Amélia Aquilo sim que era mulher As vezes passava fome ao meu lado E achava bonito não ter o que comer E quando me via contrariado dizia Meu filho o que se há de fazer Amélia não tinha a menor vaidade Amélia que era a mulher de verdade (Ataulfo Alves / Mário Lago) Responda as seguintes questões: Em sua opinião a letra da música de Ataulfo Alves e Mário Lago, Ai que Saudades da Amélia, reflete a maneira como os homens querem que as mulheres se comportem, ou seja, numa situação de conformismo e submissão, tal como as mulheres na Idade Média? Justifique sua resposta com trechos da letra. A mulher casada, na Idade Média, passava a maior parte do tempo dentro dos limites de sua casa, responsável pela manutenção de seu lar, sendo essa sua principal atribuição e obrigação, submissa a um regime de quase reclusão. Essa situação mudou nos dias de hoje? Se sim, a que você atribui essa mudança? Atividade 3: Tony Porter: “Os homens que agridem as mulheres foram educados para isso” O ativista americano que luta pelo fim da violência contra as mulheres diz que na hora de formar os meninos as famílias deveriam se fazer uma pergunta simples: que tipo de homem você gostaria para a sua filha? NATHALIA ZIEMKIEWICZ Tony Porter é um senhor negro e alto, com uma voz poderosa e sotaque carregado. Ele cresceu no subúrbio de Nova York, entre o Bronx e o Harlem, bairros conhecidos pelos altos índices de violência. O cargo de conselheiro da Casa Branca na Comissão sobre Violência contra as Mulheres e Meninas é apenas uma de suas atividades. Porter fundou a organização não-governamental “A Call to Men” (“Um chamado para os homens”, em tradução livre), que convoca os homens a uma mudança cultural para redefinir o conceito de masculinidade. O objetivo é que eles se engajem e não apenas assistam ao debate promovido pelas mulheres. A primeira missão que o projeto propõe é quebrar os estereótipos impostos pela sociedade. Homens não precisam ser valentes nem esconder suas emoções, diz ele. Tony Porter, um dos fundadores da ONG A Call to Men (Foto: Divulgação/Facebook (https://www.facebook.com/ACALLTOMEN)) ÉPOCA – O senhor cresceu na periferia de Nova York. O que a sua família e sua comunidade lhe ensinaram sobre ser homem? Tony Porter – Aprendi o que a maioria dos homens aprende: as mulheres devem nos obedecer, elas são frágeis e têm menos valor. Morei nos bairros do Harlem e do Bronx, onde existia muita violência doméstica. Todo mundo sabia que o vizinho agredia a mulher, mas isso “não era da conta de ninguém”. Era comum a ideia de que cada um age como quer dentro de casa, com a própria família. Eu ouvia comentários do tipo “se ela está apanhando, deve ter feito por merecer”. Cresci rodeado de homens bons, que amavam suas mulheres, mas que não se davam conta de que seu comportamento de inferiorizá-las perpetuava a violência. Eles só estavam fazendo o que os homens sempre fizeram. ÉPOCA – Aquilo que o senhor chama de "papel", "caixa do homem”? Porter – Exatamente. Desde meninos, os homens são ensinados a ser agressivos, dominadores, protetores, poderosos, fortes, valentes. A não demonstrar sentimentos e emoções. Você nunca vê um homem dizendo que está com medo de algo. No máximo, ele está “preocupado”. Isso é uma bobagem! É claro que também nos sentimos acuados,mas é como se o mundo não pudesse desconfiar. Não podemos mostrar tristeza ou frustração. Essa ideia de que não devemos temer nada é devastadora para a saúde mental dos homens. Somos ensinados a não extravasar e ficamos mais estressados por isso. Não é à toa que vivemos menos anos que as mulheres. ÉPOCA – Como seu pai reagia quando o senhor chorava? Porter – Não lembro! (risos) Porque eu não podia chorar muito. Mas sempre fui o garoto da mamãe, pude alimentar o lado gentil e amoroso. A única vez em que vi meu pai chorar foi na morte do meu irmão, que ainda era adolescente. Estávamos sozinhos quando aconteceu, ele não se permitiu fazer isso na frente da minha mãe e das minhas irmãs. Então ficou tão envergonhado que se desculpou comigo. Ele me aplaudia por não estar aos prantos, dizia que eu era muito forte. Mas eu chorei depois, sim, escondido. ÉPOCA - Quando o senhor virou um ativista contra a violência sofrida pelas mulheres? Porter - Há uns vinte anos, quando eu era diretor de um programa de tratamento em álcool e drogas de um hospital. As mulheres da comunidade sofriam violência doméstica, falavam de seus problemas e procuravam abrigo. Resolvi me voluntariar para trabalhar também com infratores, homens que agrediam suas mulheres em casa. Entendi que precisávamos educar os infratores, mas que eles estavam funcionando de acordo com a definição de masculinidade aprendida em sociedade. Comecei a refletir: por que estamos tratando apenas os caras maus? Ao perceber que todos os homens precisam ter outra mentalidade e propagar uma ideia de mundo mais justo, fundei com um amigo o projeto “A Call to Men” (“Um chamado para os homens”). Prisão não vai acabar com o problema. A solução passa por algo bem mais complexo" TONY PORTER ÉPOCA – As mulheres também educam seus filhos com base nesse conceito de masculinidade. Nesse sentido, elas são responsáveis pela violência de que são vítimas? Porter - Responsáveis, não. Mas elas contribuem para isso. O que acontece é que as mães tentam criar os filhos baseadas naquilo que os homens respeitam. Para que essa criança possa se encaixar no futuro. Homens não respeitam choro, você tem que ser forte. Elas não fazem por mal, mas estão educando de forma errada. ÉPOCA – Como podemos mudar esse cenário? Porter – Eu proponho que os homens sejam pró-ativos e comecem a dar atenção às próximas gerações de homens. Eles precisam pensar no que é importante não através dos olhos dos nossos meninos, mas das meninas. Que tipo de homem você quer para a sua filha? É esse tipo de homem que você tem a missão de desenvolver em casa. Não é um passe de mágica, não basta dizer “esse é o homem que espero do futuro” ou “é assim que imagino que os homens se comportem daqui a uns anos”. É um grande desafio. ÉPOCA – Que tipo de homem o senhor desejaria para a sua filha? Porter – Um homem gentil, carinhoso, amoroso. Alguém que a respeite, que considere suas opiniões. Como é isso que eu quero para ela, faço o papel de ensinar sobre como é possível ser um homem assim. Esse tipo de discussão não vem espontaneamente à cabeça dos jovens e meninos, nós precisamos conversar com eles sobre isso. Fomos ensinados, de muitas formas, a nos interessar pouco pelas experiências e sentimentos das mulheres. Você não pode ser um garoto com várias amigas sem que isso envolva sexo ou seu pai pergunte: “Então, você está a fim de qual delas?”. Meu trabalho é fazer com que as pessoas reflitam, voltem para casa e modifiquem a forma como estão educando seus filhos. ÉPOCA – Além da violência física, as mulheres são vítimas de agressão verbal, abuso psicológico... Nesses casos, elas parecem não procurar ajuda. Por quê ? Porter - Violência verbal, emocional ou psicológica não é ilegal. Se o seu marido humilha você com palavras, em casa ou publicamente, ele não será preso. A polícia não fará muita coisa a respeito. Então as mulheres nem procuram ajuda porque sabem que não vai adiantar. Isso contribui ainda mais para que a violência piore e alcance o status físico. ÉPOCA - Colocar esses homens agressores na cadeia é a solução? Porter - Prisão não vai acabar com o problema. A solução passa por algo bem mais complexo: significa educar os homens para serem melhores, desafiá-los a pensar de forma diferente. A violência é fruto de uma equação que ensinamos a esses meninos: desvalorizar a mulher, tratá-la como propriedade e objeto. Eles não são doentes, não precisam de tratamento psiquiátrico. Estão apenas fazendo aquilo que ensinaram a eles desde menino. A sociedade sempre permitiu que ele se comportasse desse jeito. ÉPOCA – Como educá-los, então? Porter – A primeira coisa é fazer com que eles entendam que essa ideia doentia de masculinidade é a base da violência doméstica e sexual. Os homens precisam analisar suas crenças individuais, reconhecer posturas que reforçam a desvalorização da mulher e desafiar esses hábitos. Por exemplo: ficar em silêncio diante de uma agressão, seja ela qual for, é concordar com esse comportamento. A violência não tem relação com doença mental, falta de habilidade para lidar com raiva, dependência química ou estresse. Ela está relacionada ao tradicional domínio masculino. Enquanto os homens não aceitarem isso, tomando para si a responsabilidade de promover uma mudança cultural e social, meninas e mulheres continuarão sendo vítimas. ÉPOCA – No Brasil, é comum que as mulheres façam o boletim de ocorrência apenas como instrumento de ameaça. Muitas se arrependem, retiram a queixa na delegacia e voltam a ser agredidas. Por que é tão difícil largar um parceiro violento? Porter – Vou responder com outras perguntas. Porque, muitas vezes, essa mulher pede ajuda e fazemos com que ela se sinta envergonhada, em vez de realmente acolhê-la e apoiá-la. Por que ela tem que se explicar como se fosse culpada pela violência sofrida? Chamo isso de “revitimizar” a mulher. Além da violência vivida em casa, ela procura por ajuda em uma instituição e se torna vítima pela segunda vez. Assista a Reportagem - Aluna é violentada sexualmente por colegas dentro de escola. http://tvig.ig.com.br/noticias/brasil/aluna-e-violentada-sexualmente-por-colegas- dentro-de-escola-8a49802639368a22013991b5a9650cd1.html Assistam o vídeo do fantástico que trata de violência contra mulheres http://www.youtube.com/watch?v=rxm3tufdXvQ Responda as seguintes questões: o Os homens que agridem as mulheres foram educados para isso? Justifique sua resposta. o Não foram raras as vezes em que as vítimas de violência se viram responsabilizadas pelo que sofreram. Porque a sociedade culpa as mulheres pela violência sofrida? Vc concorda com isso? o Quais os motivos para tanta violência contra a mulher? Como combatê-la? E a escola como pode ajudar na igualdade de homens e mulheres e na violência contra a mulher? RECURSOS DIDÁTICOS AUXILIARES: Reportagem do Fantástico que tata da violência contra a mulher, 2012. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=rxm3tufdXvQ> Reportagem do SBT sobre aluna que foi violentada sexualmente dentro do colégio pelos próprios colegas, 2012. Disponível em: <http://tvig.ig.com.br/noticias/brasil/aluna-e-violentada- sexualmente-por-colegas-dentro-de-escola- 8a49802639368a22013991b5a9650cd1.html> Música – Ai que Saudades da Amélia. Ataulfo Alves e Mário Lago, 1942. Disponível em: < http://www.vagalume.com.br/mario-lago/ai- que-saudades-da-amelia.html> INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS: MACEDO, José Rivair de. A mulher na idade média. São Paulo. Editora Contexto. 1990. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Petrópolis, Rio de Janeiro:Vozes, 1997. THERBORN, Göran. Entrevista do sociólogo sueco ao site do Centro Latino- americano em Sexualidade e Direitos Humanos sobre relações de poder entre os sexos. Disponível em: http://www.clam.org.br
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