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Emma Darcy Kings of Australia IV PAIXAO IMPREVISIVEL

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PAIXÃO IMPREVISIVEL
Emma Darcy
1
A AMANTE de um homem casado... nem pensar!
Miranda se deu conta de que lhe estavam chiando os dentes outra vez, e conscientemente relaxou a mandíbula. ia acabar por desfazê-los dentes se continuava pensando no Bobby Hewson e em sua absurda pretensão de que seguissem sendo amantes, alegando que seu iminente matrimônio não devia supor uma barreira de nenhum tipo para o que eles compartilhavam.
Bem, já podia buscar-se a outra pessoa para que lhe esquentasse a cama a próxima vez que viajasse ao Sydney, pensou Miranda. O adultério não era seu estilo. Podia ter sido uma estúpida ao deixar que Bobby jogasse com ela durante três anos com suas promessas de matrimônio, mas não ia consentir que a utilizará como um objeto de prazer fora do matrimônio.
-Senhorita Wade, aqui tem sua genebra com tónica. Miranda separou de sua mente aqueles irritantes pensamentos, e olhou a sorridente aeromoça que estendia um guardanapo na pequena bandeja metálica para bebidas que havia sobre o braço de seu assento de primeira classe. Sobre ela depositou uma pequena garrafa de genebra, uma lata de tónica, e um copo com cubitos de gelo. Era agradável que seus novos chefes tivessem pago um bilhete de primeira classe, pensou Miranda, com a esperança de que a bebida a relaxasse.
-Obrigado -respondeu lhe devolvendo o sorriso. Os olhos da aeromoça se iluminaram com interesse: 
-Acabo de ver o livro que tem no regaço, O Éden dos King: dirige-se para ali?
Era o livro que Elizabeth King lhe tinha dado como informação básica, depois de que Miranda tivesse assinado um contrato por dois anos como diretora do centro de férias. A história do lugar, e de seus donos poderia resultar algo árida, mas era leitura obrigada dadas as circunstâncias, e a melhor maneira de passar o momento naquele vôo para o Darwin. Miranda se disse a si mesmo, com decisão, que já era hora de que se concentrasse no futuro que lhe esperava, e deixasse atrás o passado.
-Assim é -respondeu decidida a tirar partido do interesse mostrado pela aeromoça-. Conhece-o?
-estive ali -respondeu a aeromoça com notável entusiasmo.
-alojou-se no centro de férias? 
-Não no edifício principal. Era muito caro. Com uns amigos estive uns dias nas cabanas que há no canhão Granny. 
Cabanas, camping, bangalôs e suítes no edifício principal, eram os quatro níveis de alojamento que Miranda se encarregaria de dirigir.
-Acredita que mereceu a pena? 
-Sem dúvida! Nunca tinha visto tantas mariposas. As árvores que havia estavam cheios delas. E nadamos em um maravilhoso lago de águas cristalinas alimentada por quão quebradas caíam dos escarpados. Uma maravilhosa maneira de dar uma ducha. 
-Assim definitivamente o recomenda.
-A qualquer -confirmou a aeromoça-. E não deixe de visitar as covas com pinturas dos aborígenes, se for ao canhão.
-Farei-o, obrigado.
Bom, pensou Miranda, o Éden dos King lhe tinha resultado agradável ao menos a uma pessoa. O único atrativo que tinha para ela naquele momento era a oportunidade que lhe oferecia de viver sua vida por si mesmo.
Se se tivesse ficado na cadeia de hotéis Regency, poderia ter passado de ser assistente de direção no Sydney a ocupar um posto em algum lugar da Europa, uma ambição que teve fazia anos. Mas a promoção dependeria dos serviços pessoais que emprestasse ao Bobby Hewnson. Isso tinha deixado muito claro. A ascensão ia ligado ao feito de que ela aceitasse seu matrimônio, que por outra parte, segundo Bobby era sozinho uma questão de conveniência para reforçar a aliança entre duas cadeias de grandes hotéis.
Outra mentira! A fotografia de sua noiva francesa que apareceu nos periódicos, foi para o Miranda uma prova mais que suficiente de que Bobby não teria inconveniente para desfrutar de sua lua de mel. Sem dúvida tinha estado mentindo-a todo o tempo. Três anos de mentiras. Quão único era capaz de acreditar já era sua ameaça de que se não abandonava, ele se encarregaria de que não pudesse conseguir um bom trabalho em nenhum outro sítio.. Tinha deixado claro que faria o que fora necessário para obter o que queria.
O Éden dos King lhe oferecia a perfeita escapatória. Era um complexo que não dependia de nada que Bobby Hewson pudesse dirigir ou influir. Sorriu para seus adentros ao recordar uma das perguntas que Elizabeth King lhe fez durante a entrevista:
-Tem algum... compromisso?
-Sou completamente livre, senhora King -afirmou-. Minha vida me pertence.
E assim era como ia ser no Éden dos King, jurou-se Miranda. Teria sua própria vida, dirigida por ela mesma. Não lhe importava quão diferente pudesse ser o entorno, nem os problemas aos que tivesse que enfrentar-se. Sua própria auto-estima lhe exigia fazer-se valer por si mesmo... não por ser a amante de um playboy!
Abriu o livro que tinha no regaço decidida a concentrar-se no futuro. Na primeira página havia um mapa que mostrava a região do Kimberly -trezentos e vinte mil quilômetros quadrados, que se estendiam do porto do Broome na costa oeste da Austrália, até a fronteira norte.
Podia não ser o Jardim do Éden, mas ao menos não tinha serpente. Com esse pensamento tranqüilizador em mente, Miranda passou a página e começou a ler, consciente de que tinha passado também uma página em sua vida pessoal, e só ficava um caminho possível, seguir para frente.
2
me diga somente uma coisa, mãe. por que escolheste uma mulher?
Porque necessita uma, e agora que Susan Butler desapareceu definitivamente de sua vida, já é hora de que procure algo mais que uma amante, pensou Elizabeth King, mas não disse nada, enquanto avaliava o nível de aborrecimento de seu filho maior, ante a decisão que tinha tomado. O tom de irritação em sua voz, o cenho franzido, e a tensão que refletiam seus impaciente movimentos desde que tinha entrado no salão, não pareciam pressagiar um encontro amigável entre o Nathan e Miranda Wade, a que estava a ponto de conhecer.
Tommy era o encarregado de dirigir o centro de férias. Nathan se ocupava da empresa boiadeira, e tinha estabelecido uma clara separação entre ambos negócios.
Tinha trinta e cinco anos. Já era hora de que se casasse e tivesse filhos. Nathan era geneticamente o mais parecido ao Lachlan, e Elizabeth não queria que aquela herança se perdesse.
-escolhi à pessoa mais qualificada para dirigir as instalações -respondeu ela, elevando uma sobrancelha em sinal de estranheza enquanto olhava a aquele filho que tanto se parecia com seu pai-. Não tinha nem idéia de que tivesse prejuízos ante a idéia de que as mulheres ocupem postos de responsabilidade, Nathan.
Ele a olhou com gesto irônico, da poltrona de pele que tinha feito seu por ser o único o suficientemente grande para poder acomodar nele toda sua corpulenta humanidade.
-Nem sequer você pode acontecer aqui todo o ano. 
Aquele argumento não lhe ia servir.
-Tenho outros interesses que atender, e você sabe. 
Nathan manteve seu olhar cético
-O fato é que todos tínhamos acordado que um matrimônio seria o melhor.
-Sim, se o matrimônio for estável -aceitou Elizabeth, aludindo indiretamente ao feito de que o último encarregado tinha abandonado o posto pressionado por uma ameaça de divórcio-. E quem pode determinar quão estável é uma relação em uma entrevista em que todos se esmeram por dar a imagem que se espera deles para conseguir o trabalho? Já passamos por isso.
-Nesse caso, eu acredito que um homem só tem mais possibilidades de poder adaptar-se a este lugar que uma mulher sozinha.
-Eu não gostei dos homens que solicitaram o trabalho. Algo brandos, para meu gosto. 
-E o que é o que conseguiste? Uma mulher de aço? -disse-. Mais vale que assim seja, porque não estou disposto a ir detrás dela endireitando suas ofensas. 
-Estou segura de que saberá fazer o entender, Nathan -Elizabeth não pôde reprimir um leve sorriso de satisfação ao acrescentar-. Se quiser.
-O que quer dizer com isso? 
-Duvido muito de que Miranda Wade seja das que gostam de pendurar-se da mão de nenhum homem.«Gesso, meu filho, pode resultar para ti uma provocação muito difícil de resistir>.
-Justo o que necessitamos... uma feminista agressiva que tire reluzir seus encantos com nossas hóspedes.
-OH, acredito que alguém que esteve no negócio da hotelaria durante doze anos, sabe como tratar aos hóspedes -rebateu Elizabeth-. Mas julga por ti mesmo, Nathan. Esse ruído parece o do carro do Tommy. Confio em que fará um esforço por ser amável.
Nathan levantou os olhos e murmurou:
-Estou seguro de que Tommy estará em boa forma, e que sem dúvida será capaz de suprir minhas falhas.
Certo, pensou Elizabeth. O mais provável era que seu segundo filho, que era extremamente extrovertido, estivesse esbanjando seus encantos com o Miranda nesse mesmo momento. Tommy era atrativo e gostava de gostar. Mas estava segura de que por mais que se esforçasse, os flertes do Tommy não fariam racho no Miranda. O olhar dos profundos olhos verdes daquela mulher estava enfocada para dentro, não para fora, como se tivesse a necessidade de demonstrar-se algo a si mesmo. Elizabeth pensou que seria interessante comprovar se Nathan era capaz de tirar a desse ensimismamiento. Nathan, sendo como era, podia gostar ou não, mas era sem dúvida uma provocação. Uma provocação que a maioria das mulheres se sentiam incapazes de confrontar. Mas Elizabeth não acreditava que Miranda fora das que se deixavam vencer com facilidade. Apesar de tudo, seria necessário que se sentissem atraídos o um pelo outro. Esse elemento tão caprichoso, a atração sexual, era essencial. Elizabeth não podia a não ser esperar...
Miranda tinha visto do ar, aquela manhã, a zona que incluía o centro de férias e a empresa boiadeira, mas não se deu conta de que os edifícios relacionados com ambas as atividades estavam completamente separados. O edifício principal do complexo turístico, não tinha relação alguma com a casa da família. O primeiro era uma construção de desenho muito moderno, enquanto que o ar que desprendia a segunda tocou uma fibra sensível no ânimo do Miranda. Aquele lugar mostrava umas raízes sólidas e profundas. O tipo de raízes que ela nunca tinha conhecido. Não tinha havido nada estável nem sólido na vida de sua mãe, e Miranda se alegrou de poder sair dela. Era consciente de que ela para sua mãe não só era a desagradável lembrança do engano cometido, e de sua idade, mas sim além disso era uma indesejável distração para os homens que a mantinham. Assim que cumpriu os dezesseis anos, foi e tinha trabalhado e vivido em hotéis após, sem deixar que o entorno lhe afetasse. Eram simplesmente lugares que lhe proporcionavam um teto, mas não tinha noção do que era um «lar», nem sabia o que eram tradições familiares, nem tinha -a sensação de pertencer a nada que não fora ela mesma.
sentia-se estranha ao enfrentar-se cara a cara com um pouco tão distinto a sua própria experiência. 
Nada ali era novo. Como todos os edifícios da empresa boiadeira, a casa principal era branca. Entretanto, estava construída longe das outras edificações, em um alto sobre o rio, e os mirantes, com suas balaustradas de ferro forjado, rematados no alto com os simétricos picos do telhado, davam-lhe a aparência de uma brilhante coroa destacando sobre tudo o terreno que de ali se divisava.
Enquanto Tommy dirigia o Jipe para as escadas da casa, Miranda, impressionada por suas dimensões perguntou.
-Quando se construiu?
-OH, vai fazer noventa anos -respondeu ele lhe dirigindo um de seus radiantes sorrisos-. Um dos primeiros irmãos King que houve por aqui, Gerald, viu a casa de um oficial do governo no Queensland, e lhe impressionou tanto que copiou o desenho, e fez que lhe enviassem todos os materiais de navio até o Wyndham.
Sem reparar em gastos, pensou Miranda, recordando que no livro que tinha lido se dizia que os primeiros irmãos King que se deslocaram como pioneiros a aquelas terras, faziam uma fortuna como buscadores de ouro no Kalgoorlie, antes de deslocar-se para ali.
-É impressionante -murmurou Miranda, pensando que já não se faziam casas tão enormes nesses tempos. Ao menos não nos subúrbios, retificou, consciente da limitação de seus conhecimentos.
-Nos velhos tempos, esta casa servia para muitas coisas -explicou Tommy alegremente-. Todos viviam nela, e os viajantes que passavam ficavam a descansar aqui durante dias. A hospitalidade foi sempre uma característica desta zona tão despovoada da Austrália.
-Suponho que serve para combater a sensação de isolamento -sugeriu Miranda.
-Bom, hoje em dia os aviões solucionaram esse problema -respondeu ele.
Miranda se tinha informado de que ele possuía e dirigia uma companhia aérea da Kununurra .Tommy King era um empresário em toda regra. Sua auto-estima, sua agradável personalidade, e um dom especial faziam dele uma pessoa capaz de vender algo, sobre tudo a si mesmo. Mas Miranda não estava disposta a comprar. Tinha estado com ele desde que a recolheu no aeroporto da Kununurra aquela manhã, e como guia informativo tinha resultado perfeito, mas ela estava firmemente decidida a manter uma clara distância no terreno pessoal. Os atrativos do Tommy King não poderiam tentá-la a mesclar o negócio com o prazer. Esperava que ele estivesse entendendo sua mensagem porque certamente que não desejava que se produzira entre eles nenhum mal-entendido.
-Agora, este lugar se está começando a converter em um elefante branco -comentou ele enquanto parava o carro-. Desperdiçado... -disse movendo a cabeça com tristeza-. Provavelmente os hóspedes dariam um olho da cara por poder alojar-se aqui, mas Nathan não quer nem ouvir falar do assunto -sorriu, e seus olhos escuros brilharam com ar de cumplicidade ao acrescentar-. Meu irmão é como um muro de pedra.
Nathan... o filho maior da Elizabeth e Lachlan.
Fazia bem em estudar a árvore genealógica que aparecia no livro do Éden dos King. As pessoas que tinha encontrado até esse momento assumiam que ela conhecia todos esses detalhes tão bem como os conheciam elas.
-compreende-se que prefira manter a privacidade de sua família -alegou Miranda, pensando que havia coisas que eram mais importantes que o ganhar dinheiro.
-Se alguma vez chegar a casar-se e a formar uma família, estarei de acordo -replicou Tommy-. Na atualidade, está aqui solo a maior parte do tempo, e não parece que isso vá trocar.
Tommy desceu do Jipe e rapidamente deu a volta ao veículo para lhe abrir a porta. Miranda teve pouco tempo para digerir a nova informação. Tinha acreditado que o convite para jantar com a família na velha casa familiar aquela noite incluiria a mais de um homem. A mais de dois, contando ao Tommy.
-Pensei que a senhora King vivia aqui também -disse enquanto saía do Jipe.
-Não de forma permanente. Mamãe está muito ocupada dirigindo os cultivos de pérolas no Broome... -«pérolas», pensou Miranda. Tommy sorriu mas veio ontem para poder te dar a bem-vinda e para assegurar-se de que tudo está a seu gosto.
Miranda se relaxou. Não seria a única mulher no jantar. Elizabeth King seria sem dúvida a encarregada de dirigir a conversação aquela noite.
-Que amável! -disse Miranda sonriendo. 
Tommy riu:
-Mamãe é uma diplomática da cabeça aos pés.
Subiram as escadas, enquanto Miranda se perguntava como seriam de diferentes os dois irmãos e se lhe custaria muito a sua mãe conseguir unificar seus diferentes interesses em um tom suficientemente harmonioso.
-Não há um terceiro irmão?
O livro do Éden dos King se escrito fazia anos, e ela tinha assumido que após se teriam produzido alguns matrimônios. Depois de comprovar que sua suposto era errôneo no caso do Nathan e Tommy, e não tendo mencionado este último a um terceiro irmão, Miranda se perguntava se lhe teria passado algo.
-OH, Jared se ocupa dos assuntos mineiros, e fiscaliza o trabalho nos campos de cultivo de pérolas. Estranha vez vem por aqui -respondeu imediatamente-. Provavelmente o conhecerá antes ou depois, mas não esta noite. Acredito que está em Hong Kong nestes momentos.
«Assuntos mineiros».
O quetinha frente a ela era uma verdadeira fortuna, de um nível similar, se não superior a da família Hewson, pensou Miranda. Os três irmãos King estariam acostumados a obter o que lhes desejasse muito, tal e como acontecia com Bobby. Quando se casassem, seria sem dúvida com mulheres de famílias que tivessem relação com seus negócios. Essa era a maneira de funcionar que tinha a gente de sua classe. Ela estava fora desse mundo. Era uma empregada que tinha suas obrigações. Miranda decidiu manter essas «obrigações» claramente definidas.
Jamais permitiria que as cortesias do Tommy a afetassem, e se Nathan tinha construído um muro de pedra ao redor dele, ela não seria a que o derrubasse. Jared parecia estar mais ou menos fora de jogo, assim não teria problemas com ele. Pensou que o melhor era que aquela noite dedicasse toda sua atenção a Elizabeth King. Com esta decisão firmemente assentada em sua mente, Miranda se dedicou a emprestar atenção aos detalhes da casa a que entravam.
Uma vez dentro, comprovou que o hall de entrada se estendia até a parte posterior da casa, formando uma galeria de retratos. Um resumo da história do Éden dos King, pensou, sem poder deter-se contemplá-los.
Tommy se dirigiu diretamente por volta da primeira porta do corredor, e a abriu lhe cedendo o passo para um grande salão. A maior parte da decoração tinha influências orientais, mas não reparou muito nela, seu olhar ficou cravada em um homem que parecia uma montanha. De uma altura superior aos de dois metros, de larguras ombros, peito musculoso, era um dos homens maiores que Miranda tinha visto jamais, e todo ele emanava uma força imparable.
Sua mera presença física teve um forte impacto no Miranda. Parecia haver afetado a todo o sistema nervoso, e lhe produzia uma estranha sensação de desassossego. Mas ele não a estava ameaçando, pensou Miranda. levantou-se em sinal de cortesia. Não havia razão para que se sentisse... vulnerável.
Fazendo um alarde de autocontrol, Miranda o olhou aos olhos, e esboçou um sorriso de cortesia. A cara daquele homem, de rasgos duros e cortantes, poderia ter sido esculpida em granito. Inclusive as curvas de seus lábios pareciam ter sido esculpidas, claramente definidas, como se se tratasse de evitar qualquer signo de debilidade. Não havia no Nathan King nem um só rasgo externo que permitisse classificá-lo como o típico bonito playboy.
Tinha o cabelo negro, denso e liso, povoadas sobrancelhas negras, e os olhos de um azul intenso que ressaltava ainda mais no conjunto de sua pele moréia. Miranda se sentiu atravessada por aquele olhar, totalmente incapaz de livrar-se de seu poder cativante... até que Elizabeth King falou:
-Bem-vinda ao Éden dos King...
Miranda voltou a cabeça para o lugar de onde procedia aquela voz familiar. A mulher que a tinha contratado estava sentada em uma poltrona cuja tapeçaria de seda vermelha e dourada, contrastava elegantemente com seu cabelo branco, seu traje de jaqueta branco, e as belas pérolas que luzia em torno de seu pescoço.
-É um prazer e um privilégio estar aqui, senhora King -conseguiu responder Miranda com um aprumo convincente-. Obrigado por me haver convidado.
A mulher maior sorria, e em seus olhos havia uma cálida olhar de íntima satisfação.
-Este é Nathan, que dirige a empresa boiadeira. Nathan, Miranda Wade, a nova diretora do centro de férias.
O não se moveu nem um milímetro de onde estava. Por um instante Miranda ficou também cravada no chão, mas sua ampla experiência em tratar com gente a fez avançar. Tomar a iniciativa, sempre conseguia romper o gelo. Teria que estar em contato com aquele homem, sempre que se necessitasse sua colaboração, assim era importante que estabelecesse uma boa relação. Entretanto, apesar da solidez de seu raciocínio, não conseguia controlar bem suas pernas, que pareciam querer ceder sob seu peso enquanto se aproximava do Nathan King para lhe dar a mão. Aquele era o tipo de homem que dominava todo aquilo que tocava... e ela estava a ponto de lhe tocar.
3
NATHAN estava impressionado. Havia visto muitas mulheres formosas, mas nenhuma como aquela. Era diferente da cabeça aos pés... e de um tamanho que acentuava seus atributos femininos.
Era quase tão alta como Tommy sem levar saltos. Seu cabelo, mescla de distintos tons de loiro, caindo suave e encaracolado sobre seus ombros, era uma tentação para o tato. O atrativo de seu rosto, de perfeição clássica, via-se acentuado pela covinha que tinha no centro do queixo, e pela esbeltez e comprimento de seu pescoço. Todo seu corpo, cabeça, braços e pernas estava perfeitamente proporcionado. Levava um vestido que deixava ver seus joelhos, sem mangas e com o pescoço relativamente alto que estilizava sua voluptuosa figura. Tinha o fundo negro, e um estampado de vistosas flores de cores. Uma mulher muito segura de si mesmo, pensou Nathan, preparada para destacar. Uma excitação dormida fazia muito tempo começou a apoderar-se dele. Aquela podia ser uma mulher digna de conhecer... uma experiência que merecia a pena ter. O prazer de olhá-la era muito cativante para abandoná-lo. Permaneceu onde estava, deixando que fora ela a que se aproximasse para formalizar a apresentação que acabava de fazer sua mãe. Preciosos olhos verdes com forma de amêndoa, tão exclusivos como o resto de seu corpo.
-Encantada de lhe conhecer, senhor King -disse ela com deliberada frieza enquanto estendia a mão. Estava estabelecendo uma distância impessoal. Nathan logo que pôde conter um sorriso de satisfação ante a provocação que a atitude dela supunha.
-Aqui inclusive os meninos me chamam Nathan, assim, por favor, não duvide em fazê-lo você também -pediu-lhe-. E como no centro de férias também se tutea todo mundo, espero poder te chamar Miranda.
-Certamente -respondeu docemente, enquanto começava a retirar a mão.
Nathan não se opôs, mas considerou interessante que sentisse a necessidade de romper o contato físico tão logo. Não era exatamente um rechaço, mas sim mas bem um signo de desconforto. Acaso era capaz de perceber o efeito que produzia a ele? Afetava- também a ela? Em seus olhos não se percebia mais que o interesse próprio de uma empregada frente a seu chefe, não havia signos de curiosidade feminina.
Nathan voltou a recordar as palavras que lhe havia dito sua mãe:
«Duvido muito de que Miranda Wade seja das que gostam de pendurar-se da mão de nenhum homem».
-O que quer beber? -perguntou-lhe-. Minha mãe está tomando champanha...
-Um copo de água, por favor -respondeu imediatamente.
Quer manter a cabeça fria, pensou Nathan assentindo, e voltando-se para seu irmão.
-Uma cerveja para ti, Tommy?
-Obrigado, Nathan -respondeu ele.
Deixou que se sentassem enquanto ia a pelas bebidas ao móvel bar da habitação contigüa. Miranda Wade não era uma mulher a que se pudesse pressionar. Isso era óbvio. perguntava-se que resposta teria obtido seu irmão dela. Tommy tinha passado a maior parte do dia em sua companhia. Teria conseguido atrair seu interesse? Decidido a sentar-se e ver como se tratavam, Nathan voltou com as bebidas, ironicamente divertido pela forma em que se estavam desenvolvendo os acontecimentos. O aborrecimento pela decisão tomada por sua mãe, tinha desaparecido no instante mesmo no que Miranda Wade entrou na habitação.
Miranda tinha escolhido para sentar uma poltrona próxima ao de sua mãe, justo ao outro extremo de onde ele tinha estado sentado. Tommy enchia o espaço entre ambos, sentado em um sofá, que era óbvio que Miranda não tinha querido compartilhar.
-Obrigado -disse ela, interrompendo por um instante a conversação que tinha com sua mãe, para retomá-la imediatamente.
Nathan se aproximou do Tommy para lhe dar sua bebida. 
-Satisfeito com a eleição? -perguntou-lhe em voz baixa, emprestando especial atenção à aparição de qualquer signo de dúvida nos expressivos olhos de seu irmão.
-Está-o você? -respondeu ele. 
-É seu negócio, Tommy.
-Acredito que é uma pessoa valiosa.
-Me alegro de ouvir isso -murmurou Nathan e voltouaté sua poltrona, satisfeito de saber que os encantos de seu irmão não tinham conseguido obter a resposta habitual.
Aquela noite se apresentava muito interessante. Não eram as feministas as que se mostravam a favor da liberdade sexual, apregoando que desejavam aos homens, mas não os necessitavam? E se Miranda Wade queria quão mesmo ele?
Miranda agradecia o que a comida tivesse sido fácil de comer: camarões cozinhados com coco e servidos com molho de manga, seguidos de lombo e, para finalizar, uma deliciosa mousse de fruta da paixão.
Nathan logo que havia dito uma palavra durante o jantar, mas ela era consciente da atenção com a que escutava cada palavra que ela dizia. Tinha a sensação de que estava avaliando cada uma de suas perguntas, de suas respostas, de suas opiniões, e se sentia algo tensa.
Felizmente, tanto Tommy, sentado frente a ela, como Elizabeth King, sentada na cabeceira da mesa, mostraram-se muito relaxados. De forma casual, Elizabeth sugeriu:
-Acredito que seria uma boa idéia que Miranda realizasse as típicas viagens turísticas antes de que a estação comece de verdade no complexo. Assim conhecerá de primeira mão o que recomenda aos hóspedes.
Tommy franziu o cenho:
-Sam ainda está recuperando-se de seu entorse de tornozelo.
Miranda já tinha conhecido a Samantha Connelly, a piloto do helicóptero do complexo turístico, uma jovem agradável, embora se mostrou implacável em suas respostas quando Tommy brincou a respeito de sua incapacidade temporária.
-Eu vôo ao Bungle Bungle Range depois de amanhã. Miranda pode vir comigo se quiser.
A oferta do Nathan era apropriada e foi sorte com naturalidade, mas resultou tão inesperada que produziu entre seus ouvintes o mesmo efeito que um trovão que acabasse de «partir o ar». Tommy voltou a cabeça bruscamente para seu irmão maior:
-Você? 
A surpresa que refletia seu tom de voz, aumentou o súbito ataque de pânico que se apoderou do estômago do Miranda. Teve que fazer um esforço para olhar ao homem que se acabava de oferecer a fazer uma viagem a sós com ela. Sentiu que todo seu corpo a advertia do perigo. E, entretanto, era impossível perceber no rosto do Nathan signos de interesse para ela. 
Levantando ligeiramente uma sobrancelha e olhando a seu irmão com estranheza, Nathan perguntou:
-Há algum problema? 
-Só estamos em março, Nathan, e te está oferecendo a ajudar no negócio? 
-Só em parte, eu tenho que ir de todas maneiras. É uma oportunidade, se Miranda a quer aproveitar 
«Apanhada em um pequeno avião ou helicóptero com ele?», pensou Miranda enquanto se espremia a mente para que lhe ocorresse uma possível desculpa. 
-O que tem que fazer ali? -perguntou Tommy lhe dando ao Miranda um pouco mais de tempo.
Nathan separou dela seus eletrizantes olhos azuis para dirigir o olhar para seu irmão: 
 -O guarda do parque quer que lhe empreste os jornais do Sarah King para ver suas referências a vida dos aborígenes. 
-Bem, isso soluciona o tema. Já tem a viagem organizada, Miranda.
-Mas senhora King, depois de amanhã... -queixou-se Miranda acredito que esta semana estarei muito ocupada me familiarizando com o funcionamento do complexo e comprovando a chegada do pessoal para a próxima temporada. Avaliação muito a oferta, Nathan, mas... -dedicou-lhe um olhar de causar pena desculpa acabo de chegar Y...
-Será melhor que vá enquanto possa, Miranda -interveio Elizabeth King com firmeza-. Além disso, não tirará tempo a Samantha nem a nenhum dos outros pilotos do Tommy. É o acerto mais econômico.
Aquele argumento era suficiente para dar por concluída a questão, já que qualquer outra opção seria um gasto supérfluo.
-Pensa sair cedo, Nathan?
-OH, acredito que poderíamos sair ao amanhecer -respondeu ele.
Miranda lhes olhava enquanto decidiam entre eles os planos, sem ter em conta absolutamente o que ela pudesse pensar a respeito. A arrogância que dá o dinheiro, pensou, movendo pessoas de um lado para outro a seu desejo como se se tratasse de bonecos. Com muita dificuldade pôde conter seu desejo de opor-se a eles. O problema era que não conhecia o entorno, e adquirir a experiência de primeira mão podia ser importante para ajudá-la a desempenhar melhor seu trabalho. E, de fato, não se oporia absolutamente se não fora Nathan o que a levasse. Ele a punha nervosa. Sentia que frente a ele perdia o controle.
«te controle, Miranda», disse-se a si mesmo. Gostasse ou não, ia ter que estar em contato com o Nathan King, e talvez o conhecê-lo melhor simplificaria as coisas. Podia perder seu atrativo uma vez que o conhecesse mais.
-Trarei-te de volta ao complexo ao meio dia -tranqüilizou-a.
Seis horas junto a ele.
-Obrigado -respondeu ela,
-O que te parece?
-Perdão? -«a que se referia?», pensou Miranda. Os olhos dele brilharam fazendo que ela se sentisse ainda mais nervosa. Era ele capaz de perceber o efeito que produzia a ela?
-O centro de férias. como sempre trabalhaste na cidade, perguntava-me o que te pareceria. Imagino que Tommy lhe terá ensinado isso esta tarde.
-A zona dos alojamentos está excepcionalmente bem planejada -respondeu com decisão-. O edifício principal me parece magnificamente situado, e muito bem decorado. Tudo é de primeira classe.
Ele a pôs a prova com gesto inquisidor:
-Não tem dúvidas? Não te assalta o temor de dizer: meu deus, o que tenho feito!
Ela riu agitando a cabeça:
-Mas bem que maravilhoso! Realmente estou desejando começar, Y...
-É um novo mundo para ti.
-Sim.
-A maioria da gente se agarra ao mundo que conhece.
-Suponho que não sou como a maioria da gente. 
-Uma aventureira? Em busca de algo diferente?
-Mas bem satisfazendo a necessidade de algo diferente.
-Então, espero que aqui possa satisfazer todas suas necessidades.
-Isso sim seria o Éden.
Ele riu, e todo seu rosto pareceu cobrar vida de forma que o Miranda ficou cativada.
-Sou da opinião de que o paraíso nos construímos isso nós mesmos. Disso se trata, de tentar conseguir o que nos satisfaz.
-Desgraçadamente não podemos controlar as decisões que tomam outras pessoas -respondeu ela, tratando de esfriar com seu olhar o ardor que percebia na dele-. E isso pode amarguramos a vida.
-Sempre pode ir.
-Mas respeitarão eles essa decisão?
-Faz que a respeitem.
-Eu não sou tão grande como você, Nathan.
O sorriu:
-Mas você tem sua própria visão do mundo. Uma visão muito interessante, por certo.
-Obrigado.
-OH, sou eu o que deveria estar agradecido. Estou seguro de que estando contigo, a viagem será muito menos aborrecido.
Miranda ficou por um instante sem respiração. Ele não se estava refiriendo à viagem ao Bunge Bungle Range. Sabia. Ele fazia referência ao processo de ir conhecendo-se progressivamente ao longo dos dois anos seguintes.
-Bom, não se esqueça de fazer também de guia turístico, Nathan -interrompeu Tommy-. Isto é um negócio turístico.
Havia algo de reprove em sua voz? Rivalidade entre irmãos? Miranda desviou rapidamente sua atenção para o homem para o que ia trabalhar:
-Tirarei o maior partido possível à viagem, Tommy -assegurou-lhe-. Sei o importante que é que o faça.
Não devia esquecer nem por um instante qual era seu posto, pensou.
O assentiu com a cabeça.
-Estou segura de que te resultará uma experiência incrível -acrescentou Elizabeth King com um sorriso de aprovação.
Miranda esperava que assim fora. ia necessitar todo tipo de incríveis distrações para poder manter as distâncias com o Nathan King. 
4
PRECISANDO tirar-se ao Nathan King do pensamento, e querendo voltar a ganhar o controle sobre a situação, Miranda programou para o primeiro dia de sua estadia em Éden, uma reunião com o pessoal. O complexo só se abria desde princípios de abril até finais de novembro, por isso não todos os empregados estavam já vivendo ali. Mas o pessoal de manutenção, e os encarregados das distintas seções de alojamento se reuniram para conhecer Á a nova diretora. Miranda era consciente de que ela desconheciamuitas das características da zona, que aqueles que se encontravam frente a ela sabiam.
Todos eles vestidos com calças curtas e camisetas, tinham um aspecto muito diferente às pessoas com uniformes formais às que ela estava acostumada. Miranda se tinha posto um vestido sem mangas de cor amarela esverdeada, querendo produzir um efeito de dignidade e simplicidade ao mesmo tempo. Além disso, recolheu-se o cabelo em um coque no alto da cabeça, para dar uma imagem de eficiência, mas logo decidiu que a indumentária mais apropriada para aquele trabalho eram as calças curtas e a camisa tipo safári. Era estúpido desafinar.
À exceção de um par de homens da equipe de manutenção, todo o resto do pessoal era mais jovem que ela, de fato muito jovens, para ter postos de responsabilidade. Mas era explicável em um lugar como aquele, pensou. Provavelmente era o espírito de aventura o que lhe tinha levado até ali, quando ainda não lhes atavam responsabilidades familiares.
Miranda passou a maior parte da reunião fazendo perguntas, escutando informe, e possíveis sugestões para a resolução dos problemas que foram surgindo, mantendo a discussão aberta enquanto desfrutava de do ambiente de camaradagem lhe reinem entre o pessoal, e tomava notas dos aspectos práticos necessários para ter tudo preparado para o começo da temporada. Uma e outra vez se aludiu aos problemas causados pelo cancelamento dos períodos de descanso que regularmente se concediam ao pessoal temporário. Enlouqueciam, voltando-se descuidados e grosseiros com os hóspedes. O sair daquele lugar isolado lhes devolvia o bom humor, mas se um excesso de trabalho atrasava as férias, não se criavam mais que problemas.
Miranda compreendeu que todos estavam desejando que ela entendesse aquele problema. O isolamento era um problema real. O pensamento do Miranda se dirigiu para a família King... cem anos vivendo naquele isolamento... Nathan dirigindo a empresa boiadeira... sozinho, solteiro. Acreditaria enlouquecer alguma vez? E ela? Como se sentiria ali?
Era o paraíso ou o inferno?
Muito tarde para trocar de opinião em relação a aceitar aquele posto, recordou-se Miranda a se mesma. Quaisquer que fossem as dificuldades, superaria-as. Nathan a tinha desafiado muito sutilmente a esse respeito a noite anterior. Miranda apertou a mandíbula ao recordar seu tom de ironia. Lhe mostraria do que era capaz!
Depois de reunir toda a informação que necessitava dos membros do pessoal, Miranda deu por concluída a reunião. Quando todos saíram, Samantha Connelly, a piloto do helicóptero que tinha um tornozelo ferido, ficou atrasada.
-Necessita ajuda? -perguntou Miranda com um sorriso de afeto.
-Estou aqui para te ajudar a ti -foi a fria resposta-. Até que possa me desfazer destas ditosas muletas.
inclinou-se para um lado da poltrona para as agarrar. Sentindo um claro sentimento de independência, Miranda não tratou de ajudá-la.
-Ódio estar assim, obrigada a ficar em um escritório em lugar de estar voando.
-Não sabia o que fizesse também trabalho de escritório -disse Miranda surpreendida.
-OH, sim, ocupo-me da reserva de lugares no escritório da Kununurra durante a estação das chuvas, porque então não há tantos vôos: copiei todos os dados e os gráficos em seu computador, assim se necessitar que te dê uma mão antes de que chegue seu secretário...
-Agradeceria-lhe isso -disse Miranda.
-De nada.
Miranda teve a impressão de que aquela mulher possuía um orgulho capaz de negar os problemas pessoais, e minimizar os alheios todo o possível.
-Como te iniciou no vôo? -perguntou Miranda.
-Nasci para isso -foi a resposta-. E dado que agora estou castigada, imagino que Tommy se ofereceu gostoso a fazer de guia das excursões que se oferecem -disse lhe dirigindo ao Miranda. um olhar zombador-. Arrumado a que se mostrou desejoso de te ensinar as vistas. 
-por que teria que estar desejoso, Samantha? -perguntou Miranda.
-me chame Sam, todo mundo o faz -e com uma nova expressão de brincadeira acrescentou-. E se você não te deu conta de como babava ontem Tommy detrás de ti, eu sim o fiz. Falando claro, Miranda, é um bombom, assim não me diga que não tratou de te conquistar.
Estava ciumenta?, perguntou-se Miranda. A acidez em seu tom de voz lhe recomendou ser precavida. 
-Bom, suponho que o ataque não alcançou ao objetivo e, em qualquer caso, não estou interessada em manter uma relação pessoal com o Tommy King.
-Não o está? -Sam se parou, observando ao Miranda com assombro-. A maior parte das mulheres morrem por seus ossos.
-Por isso a mim respeita, errou o tiro.
-Nunca tinha visto o Tommy falhar. Que golpe tão duro para seu ego!
-Conhece-o bem?
-Muito bem -a ironia se transformou em uma careta-. Como que sou a irmã pequena que nunca teve. trabalhei para os King durante anos, cuidando do gado, inclusive antes de que construíram o centro de férias.
O qual explicava a familiaridade que existia entre o Sam e Tommy, as brincadeiras e as faltas de respeito do dia anterior.
-Então, também conhecerá bem ao Nathan.
As palavras lhe escaparam antes de que pudesse impedi-lo. Não queria mostrar nenhuma curiosidade para ele. Nem sequer queria pensar nele.
-Conheço-os bem a todos -respondeu Sam deixando traslucir certa exasperação para eles, ou para seu comportamento familiar. Começou a andar de novo pelo hall, e Miranda se manteve a seu lado, satisfeita de que o tema tivesse concluído.
-Pensando-o bem -murmurou Sam-. Não é próprio do Tommy abandonar -voltou-se para o Miranda-. Não sugeriu sequer te levar de excursão?
-Nathan me vai levar ao Bungle Bungle Range amanhã -disse com naturalidade. Não havia motivo para ocultar o que logo ia ou seja todo mundo.
-Nathan? -Sam voltou a parar-se em seco enquanto a olhava com olhos surpreendidos-. Nathan te vai levar?
-Ele tem que ir de todas maneiras -explicou-lhe Miranda, tratando de evitar que se trasluciera a tensão em sua voz-. vai levar alguns velhos diários sobre as tribos aborígenes ao guarda-florestal da zona. .
-Nada que ver contigo, certamente -particularizou Sam.
-Simplesmente uma coincidência. 
Sam soltou uma gargalhada:
-Eu gostaria de ter visto a cara do Tommy ao ver como o derrotava Nathan.
Sam continuou rendo-se pelo baixo até que chegaram ao escritório principal. Miranda preferiu permanecer calada, mas não conseguia tirar-se da cabeça a imagem do Tommy durante o jantar. Esperava que aqueles dois irmãos King aceitassem seu desejo de não manter relações íntimas com nenhum dos dois. Aquilo podia transformar-se em um inferno se não o faziam.
Miranda tinha o estômago encolhido quando Sam e ela se sentaram finalmente frente ao computador. Precisava voltar a concentrar-se no trabalho. Ao dia seguinte se enfrentaria ao que o encontro com o Nathan King a proporcionasse, mas até então...
-Está livre -disse Sam olhando a de reojo.
-Desculpa? -perguntou Miranda com ar distraído, enquanto olhava com interesse como se iluminava a tela do ordenador.
-Nathan... não está com ninguém nestes momentos. A mulher com a que tinha relações se casou, e ele não começou a sair com ninguém ainda.
-Bom, imagino que se sentirá abandonado -comentou Miranda com a esperança de que sua voz soasse despreocupada, apesar da surpresa que lhe produzia o saber que alguma mulher tinha podido deixar ao Nathan King por outro homem.
-OH, ela não o abandonou. Não era esse tipo de relação. Eram simplesmente amantes ocasionais, embora a relação durou vários anos.
Miranda apertou os dentes enquanto a ira a alagava. Amantes ocasionais!, pensou. Algo assim como uma amante de conveniência que finalmente se cansou e tinha procurado a alguém que a quisesse de verdade. E se Nathan King se estava expondo a idéia de que ela ocupasse o posto vacante, teria que pensar-lhe duas vezes. De uma forma ou outra ela o deixaria muito claro ao dia seguinte.
-Podemos concentramos no trabalho? -disse com frieza.
-Sem dúvida! simplesmente pensei que você gostaria de saber algo sobre oNathan.
-Sei tudo o que preciso saber, Sam. Ele é um membro da família King. De acordo?
Finalmente... Trabalho!
5
Miranda estava esperando já no heliporto quando chegou Nathan em seu Jipe. Ela tinha chegado cinco minutos antes da hora da entrevista. O chegar antes de tempo a fazia sentir-se mais preparada, mais em controle da situação.
Apesar disso, quando Nathan desceu do Jipe de um salto, ao Miranda lhe cortou a respiração. Apesar dos escudos que se esteve criando mentalmente, o impacto físico dele a golpeou totalmente.
-bom dia -disse ele lhe dirigindo um sorriso que voltou a fazer que o coração lhe saltasse no peito-. tivemos sorte, o céu está espaçoso, e um amanhecer claro faz que ressaltem as cores.
-Sim, é uma boa manhã -assentiu ela, apesar de que prometia ser um dia muito, muito quente, em mais de um aspecto, dada a instintiva reação que sua presença lhe tinha produzido.
Ele, com um gesto, indicou-lhe o caminho para o helicóptero e ela o seguiu, concentrada em aumentar seu autodomínio.
-Tem lido algo sobre o Bungle Bungle Range? -perguntou ele.
-Só o que dizia o panfleto do tour.
-Bom, o vê-lo-o diz tudo.
Estava claro que não estava interessado em lhe dar uma conferência.
-tiveste problemas para dormir?
-Não -negou de forma imediata.
-Bom, o silêncio às vezes perturba às pessoas acostumada a viver na cidade. Sentem falta do ruído de fundo, e outras coisas às que estão acostumados.
«Como o sexo?», perguntou-se Miranda. Sentiu que lhe esticava a mandíbula e se autocriticó por ser tão suscetível. O comentário do Nathan era em princípio perfeitamente razoável, não estava dizendo nada criticável. Mas ela sentia que baixo essa aparência intranscendente se escondiam motivos menos inocentes.
-Durante os dois últimos dias estive tão ocupada, que suponho que não dei tempo ao silêncio para me impactar -respondeu ela.
-Já o fará -respondeu ele com conhecimento de causa-. Chegará a querê-lo ou a odiá-lo.
-Isso tenho entendido. Hão-me dito que alguns membros do pessoal podem chegar a ter problemas se não sair daqui com certa regularidade -acrescentou agradecida de poder levar a conversação a um terreno menos pessoal.
-Não só lhe ocorre ao pessoal. Também é o caso da maior parte das mulheres que conheci.
-Deve haver mulheres que nasceram e se criaram no centro da Austrália, como você, e como Sam Connelly.
-Ah, Sam -disse ele com tom indulgente-. Não há muitas mulheres como Sam, me acredite; e ela sozinho tem olhos para o Tommy. Um dia destes ele deixará de deixar-se seduzir pela purpurina, e verá que tem o ouro justo em frente de seus narizes.
Miranda se perguntou se aquilo que havia dito do Sam seria certo, e detrás arquivar a informação para um futuro, decidiu atacar de frente a aquele homem que tão crítico se mostrava com seu irmão.
-Talvez não quer olhar. Há alguns homens que não querem comprometer-se seriamente com nenhuma mulher. 
-Diz-o por própria experiência? 
Amargamente própria, pensou Miranda, que com muita dificuldade pôde reprimir o rubor que ameaçava revelando sua humilhação a aquele homem que se passou dois anos gozando com uma mulher que devia considerar indigna para ser sua esposa. O que outra razão poderia ter tido para permitir que se fora com outro homem? Com fria deliberação, Miranda lhe devolveu a pergunta.
-Tão solo me perguntava por que não encontraste você oro em algum lugar desta extensa região do Kimberly.
-O ouro é algo curioso. Tem que ter certas propriedades químicas, se não as tiver, trata-se sozinho de oropel.
-Possivelmente Tommy não encontrou essas propriedades.
-Não, ele as oculta brincando, e Sam as oculta sob um manto de agressividade. E para complicar as coisas ainda mais, o estúpido ego do Tommy faz das suas. Acrescentaria a sua lista de troféus, se pudesse.
Tinham chegado junto ao helicóptero. Nathan lhe abriu a porta, mas Miranda não subiu imediatamente. Repensou um instante. teria se equivocado? Não seria a atração sexual o que realmente lhe tinha levado ao Nathan a lhe propor essa viagem?, e voltando-se para lhe perguntou:
-É disso do que se trata esta viagem, Nathan? De interpor-se entre o Tommy e eu para proteger os sentimentos do Sam?
-Por isso pude comprovar, não parece especialmente atraída para ele, Miranda. Mas Tommy não abandona com facilidade... -«as mesmas palavras do Sam!», pensou Miranda e conforme vá passando o tempo, pode chegar a estar tão aborrecida para jogar com seus interesses. A proximidade e a disponibilidade podem suprir...
-Já vejo. Está-me advertindo.
-Não. É tua coisa. Não sou partidário de interferir nas decisões da gente. Doeria-me ver sofrer ao Sam. Uma coisa é ouvir falar das aventuras do Tommy, e outra as viver no próprio escritório.
-Entendo -disse sabendo que em qualquer caso não estava interessada no Tommy.
Nathan assentiu e, de repente, sorriu-lhe, enquanto seus olhos azuis brilhavam de desejo:
-Além disso, preferiria que combatesse seu aborrecimento comigo.
-O que? -ficou com a boca aberta durante uns instantes, incapaz de reagir ante aquela mudança brusca de tema, incapaz de predizer suas intenções quando se aproximou mais a ela, e tomando seu rosto entre as mãos, olhando-a fixamente com olhos sedutores murmurou:
-Provemo-lo, de acordo? -e então a beijou, com uma pressão suave e sedutora que a deixou paralisada. Ela não o esperava, não estava preparada para aquilo, e a doçura com que 1,0 fazia era de uma vez desconcertante e arrebatadora. O se tinha imposto, mas não havia nada ofensivo nem agressivo na forma... na forma em que a boca dele amava a dela. Entretanto não tinha direito a fazer as coisas dessa maneira. Ela devia lhe parar antes de que... antes do que? aonde podia lhes levar aquilo? Ela levantou as mãos, e as pôs sobre o peito dele, mas em lugar das utilizar para lhe separar, ficaram sobre seu torso como atraídas por um ímã, apalpando sua musculatura, e sem saber como, iniciaram a ascensão para os ombros. A tentação de sentir aquele agradar com um homem como Nathan King, embora solo fora essa vez, foi mais forte que sua vontade. Solo se tratava de um beijo, que ele ia progressivamente aprofundando, convidando-a a participar ativamente. Sabia como beijar, 10 fazia muito bem, era tão bom que ela era incapaz de perceber a atividade simultânea de suas mãos, descendo por suas costas, até que sentiu o caloroso contato de todo seu corpo. Mas para então isso era o que ela desejava, lhe sentir mais, sentir aquela dominante masculinidade que tanto a excitava, e se deixou arrastar em um redemoinho de ardentes e urgentes beijos, suas mãos subindo pela cabeça do, lhe atraindo para ela, arqueando seu corpo para ele, arrebatada por uma tormenta de sensações, deixando-se levar até que a crescente dureza do desejo do Nathan a fez consciente do perigo.
Então, lhe agarrou pelas orelhas e lhe obrigou a levantar a cabeça. Ele a olhou fixamente, com os olhos ardentes de desejo. Lhe devolveu o olhar, com o pânico agarrotándola o estômago onde tinha sentido com tanta nitidez seu contato, um pânico que alagava sua mente por ter deixado que aquele... aquele estúpido experimento... chegasse tão longe.
-Tem razão -resmungou ele com brutalidade-. Não é o lugar nem o momento -e tomando-a em braços, sentou-a sobre o assento do co-piloto-. Ponha o chapéu e a bolsa no assento de atrás -ordenou-. Devemos damos pressa se queremos ver a saída do sol -disse lhe passando uns auriculares, e acendendo o motor.
Miranda estava tremendamente confusa. Como se tinha podido deixar levar daquela maneira? Como se tinha comportado assim com um homem que logo que conhecia? Precisava falar com ele do acontecido, mas decidiu que era melhor deixá-lo para mais tarde, quando estivesse mais tranqüila, e pudesse escolher as palavras cuidadosamente, e quando não se sentisse tão avassalada por ele como no escasso espaço daquele helicóptero.
Tinha que tomar uma decisão, e devia conseguir que Nathan King respeitasse essa decisão. Seu contratono Éden dos King era por dois anos, e não ia ser possível evitar encontrar-se com ele durante dois anos. Tinha que convencer o de que nunca haveria lugar nem momento adequado para aquilo. Não estava disposta a voltar a cair na armadilha do Bobby Hewson.
Decidida a ignorá-lo durante o trajeto, Miranda se concentrou em admirar a paisagem, que no fundo era para o que estava ali, para obter informação de primeira mão da zona turística.
-Te vais perder o melhor se te empenhar em seguir olhando pelo lateral, Miranda. O que há justo diante de nós é o começo do Bungle Bungle Range.
Ela olhou para onde ele indicava e imediatamente a tensão que sentia se desvaneceu, e sua mente se encheu da beleza e magnificência do que estava vendo. Miranda havia visto algumas fotos do lugar, mas nenhuma delas o fazia justiça. Aquilo era muitíssimo mais que uma rocha monumental surta de repente em meio da planície. Parecia corno as ruínas de uma civilização ancestral desaparecida, portadora de mistérios indecifráveis. Durante um momento comprido estiveram sobrevoando o lugar, para que ela pudesse desfrutar da vista daquele lugar excepcional. Finalmente, Nathan anunciou:
-É hora de que aterrissemos, se queremos chegar a tempo. 
-Está bem -aceitou ela.
O fez aterrissar o helicóptero junto a uns edifícios que Miranda supôs que eram os escritórios dos guarda-florestal. Temerosa das intenções do Nathan, Miranda se desabotoou rapidamente o cinturão, tirou-se os auriculares, abriu a porta, e desceu do helicóptero antes de que ele pudesse «ajudá-la».
-Se esquece a bolsa e o chapéu -disse ele ficando a seu lado enquanto dava ambos os objetos.
-Obrigado -resmungou ela, molesta por haver-se esquecido deles em sua pressa por sair. O esquecimento era o reflexo da terrível confusão que sentia-. Tudo parecia tão fantástico do ar que estou desejando poder vê-lo agora do chão -disse corno desculpa para que Nathan não pensasse que era ele a causa de sua distração.
-mereceu a pena vir ao amanhecer? 
-Certamente.
-Sinto-o se tiver ofendido sua dignidade subindo tão precipitadamente ao helicóptero, mas nos estava acabando o tempo. A natureza não espera. Se quisermos que nos sirva temos que rodeamos a suas leis.
Aquela era a dobro desculpa mais vil que tinha ouvido em sua vida, pensou Miranda. equivocava-se se acreditava que ela ia aceitar que era a natureza a que ditava o desejo sexual.
-Eu não solicitei um atraso em nossa partida. Nathan -apontou ela.
-Certo! -disse ele com certa ironia-. Mas não ouvi nem senti nenhum protesto durante um bom momento, o qual nos deixa aberta a porta de uma área inexplorada não é certa?
-Só se existir o desejo de explorá-la.
-Eu não tenho nenhum problema, E você?
-e aonde pensa que nos levará essa exploração?
-Bom, o começo sugere que estamos frente a um pouco muito especial, e além agora você acrescenta um componente de mistério. Não há dúvida de que promete ser emocionante. Quem sabe o que poderá sair daí?
estava-se rendo dela, ridicularizando as dúvidas que ela podia ter com respeito ao futuro da relação. Exceto ela não tinha nenhuma dúvida. Via claramente o final.
-Sonha muito romântico. Exceto tanto você como eu sabemos que não haverá nenhum romance. Aposto agora mesmo a que está pensando em uma conveniente relação de uns dois anos. E posso te dizer a partir de agora mesmo -sua voz se endureceu ao pronunciar a última frase- que eu não jogarei.
6
JOGAR?
A incredulidade no tom de voz do Nathan ao repetir suas palavras a fez duvidar. Teria deixado que seu próprio medo tergiversasse as intenções que ele tinha? O não podia querer ter uma relação séria com ela, disse-se a si mesmo, o que passava era que não estava acostumado a que ninguém lhe recriminasse abertamente suas intenções.
Nesses momentos se aproximou deles um homem jovem. Miranda agradeceu a interrupção, porque evitou uma maior confrontação, lhe dando tempo para preparar-se para sua defesa.
Nathan lhes apresentou:
-Jim Hoskins, chefe dos guardas do parque; Miranda Wade, a nova diretora do centro de férias.
estreitaram-se as mãos, mas não tiveram a oportunidade de iniciar uma conversação. Nathan monopolizou a atenção do Jim tirando um pacote de livros de sua bolsa:
-Os jornais. Cuida-os bem, fará-o, verdade?
Jim agarrou o pacote com enorme cuidado:
-Estou em dívida contigo, Nathan. Tratarei-os com o major dos respeitos. É muito difícil encontrar dados históricos sobre esta zona.
-Os jornais pessoais não se podem considerar exatamente como dados históricos -particularizou Nathan-. A minha bisavó os aborígenes puderam lhe contar histórias falsas. É muito estranho que rebelem secretos da tribo aos homens brancos.
-Bom, estou seguro de que em qualquer caso me resultarão muito interessantes.
Miranda pensou que também lhe interessaria olhá-los, mas considerou pouco apropriado lhe pedir emprestados uns velhos jornais de família ao homem ao que queria rechaçar.
-Venham -convidou-lhes Jim assinalando ao edifício-. Prepararei-lhes uma taça de chá ou de café -sorriu a Meu- renda, e ela e Nathan o seguiram-. É a primeira vez que está aqui?
-Sim. É um sítio admirável.
-Desgraçadamente temos pouco tempo, Jim -interrompeu Nathan.
Miranda se esticou. «Era aquilo certo ou estava impaciente por tê-la solo para ele de novo?», pensou.
-Prometi ao Miranda que lhe ensinaria o canhão A Catedral e que estaríamos de volta no centro ao meio dia -explicou-. Sei que está desejando continuar a visita, assim prescindiremos do café, se não te importar. Tenho um pouco de café em um recipiente térmico.
-Está bem, embora sinta que não possam ficar. O Land Cruiser está preparado para sair. Tem as chaves postas no contato.
-Obrigado Jim. Então vamos.
-Muito bem.
Despediu-os e Miranda se resignou a estar de novo a sós com o Nathan. dirigiram-se direta- memore ao veículo sem que nenhum dos dois dissesse uma palavra. Ao chegar, ele abriu a porta do co-piloto para que ela pudesse passar.
-Obrigado -foi sua fria resposta, enquanto entrava e tomava assento, comprovando que não tinha havido nenhuma ameaça de ajuda por sua parte. Sua saída precipitada do helicóptero ao menos tinha conseguido estabelecer sua independência.
Ele tampouco falou enquanto avançavam pela estrada. De fato percorreram uma distância considerável em um silêncio que cada vez se fazia mais tenso. Finalmente, Nathan estalou:
-Tem razão -disse-. Não te estou oferecendo um romance. Já passei por isso, e saí vazio todas as vezes. Simples oropel. Olhe a seu redor -indicou voltando-se para olhar o tortuoso caminho-. Minha vida está estreitamente unida a esta terra, onde ao final o importante é cobrir as necessidades básicas. Eu respeito profundamente as necessidades básicas, e as compartilhar significa muito para mim. E eu diria que há algo muito básico entre nós que podemos damos o um ao outro. Compartilhar, não tomar -enfatizou ele-. Não me interessam os jogos que os homens e as mulheres jogam no mundo de onde você vem -continuou-. Não acostumo a fazer promessas que não posso ou não quero cumprir. Assim é a meu ver. E sim, desejo-te. E você me deseja -acrescentou. 
Aquilo a fez saltar: 
-OH não, eu não! -exclamou. 
-Nega-o tanto como queira, e pelas razões que sejam, mas isso não vai trocar a realidade.
-É assim como conseguiu convencer a seu última amante para que se metesse na cama contigo? 
-Amante?
Ele moveu a cabeça com incredulidade. Miranda estava furiosa consigo mesma por ter deixado escapar essas palavras. Solo esperava que ele as esquecesse, mas não teve sorte.
-Não sei como serão as coisas no lugar do que você vem, Miranda -disse ele com voz tensa-, mas eu não estou casado, e se tivesse uma esposa, sem dúvida não procuraria uma amante.
Querida... amante... qual era a diferença quando o que se buscava era saciar o apetite sexual?
-As relações que tive com mulheres foram em todos os casos desejadas por ambos, e nenhuma só delas foi uma relação de adultério-continuou com um tom de voz cada vez mais ácido-. Eu respeito o compromisso matrimonial, e sinto que você não o faça.
-Como diz? -gritou com amargo ressentimento, pela forma que tema de julgá-la.
-O que foi o que aconteceu? -espetou ele-. O não estava disposto a deixar a sua mulher por ti? É por isso que, queimando as naves, aceitou o trabalho no Éden dos King? -aquela afirmação estava tão perto da realidade que uma onda de ardente humilhação subiu pelo pescoço do Miranda. Ao Nathan não aconteceu desapercebida sua reação e decidiu jogar mais lenha ao fogo-. Ou talvez jogaste o anzol com a esperança de que ele te siga até aqui? Isso explicaria o que não esteja disposta a ter relações comigo.
-Isso não é de sua incumbência! -defendeu-se ela; 
-Bom, se não fora porque acabo de ser descrito como um tipejo ao que gosta de enganar às mulheres com as que se relaciona... 
-Então, rogo-te que aceite minhas desculpas -conseguiu dizer. 
-E, de fato, é problema do Tommy se sua intenção é abandonar o trabalho quando seu amante; venha a te buscar.
-Não tenho a menor intenção de romper meu compromisso -afirmou ela indignada-. E não me resultam agradáveis todas estas hipóteses tuas. 
-Você foi a que começou, Miranda.
-e te estaria muito agradecida se respeitasse meu desejo de dar por terminada a conversação. 
Os olhos azuis se enfrentaram aos verdes em um choque lhe eletrifiquem que fez vibrar o ar que havia entre eles.
-Não é um desejo que possa respeitar, mas assim seja -disse ele. 
O silêncio que seguiu a aquelas palavras era incrivelmente opressivo. Miranda se sentia completamente esgotada e miserável pela imagem que ele se feito dela por não ter sido capaz de lhe tirar de seu engano. Mas ele não tinha direito a fazer essas hipóteses!
Está bem, pensou, não deveria ter utilizado a palavra «amante», mas era o que Hobby queria dela, não o que ela tinha sido. E pelo que se referia ao Nathan King, talvez ela tinha deixado que sua experiência com Hobby Hewson afetasse à interpretação que tinha feito da relação que ele tinha tido. Mas, por outra parte, não lhe estava oferecendo nada mais que sexo, que é tudo o que um amante recebe de um homem. 
Se havia algo que ela tinha aprendido, era que queria ser valorada por algo mais que por sua atuação na cama. Uma atuação que junto ao Nathan King poderia transformar-se em uma experiência interessante... Inclusive especial, reconhecia-o, mas isso não lhe bastava. Sobre tudo, depois de sua experiência com o Bobby. Ela queria o tipo de relação que o inclui tudo, que conduz ao matrimônio porque se sabe que ninguém mais pode lhe encher a um tanto como a outra pessoa. E por isso se selava a exclusividade. Algo que dificilmente poderia lhe acontecer a ela com o Nathan King, membro da legendária família King.
Miranda seguia meditando quando o Land Cruiser se parou frente a um grupo de cabanas junto a um camping.
-A partir daqui, seguiremos andando -anunciou Nathan-. Os serviços estão naquele edifício do fundo, pode passar, se quiser, antes de que vamos.
-Sim, obrigado -disse saindo sem esperar a que lhe abrisse a porta. Embora talvez ele já não estava disposto a fazê-lo depois da imagem que tinha dela. Uma mulher a que não lhe importava cometer adultério. Mas sim lhe importava. Ela não era como sua mãe, e nunca o seria. Ela precisava viver sua vida sob suas próprias regras, e tinha que fazer o compreender ao Nathan, e que ele respeitasse sua decisão.
7
AMANTE! Nathan tratava de recuperar do efeito que lhe tinha produzido seu engano de apreciação com respeito ao Miranda enquanto esperava a que estivesse lista para entrar no caminho para o desfiladeiro. longe de ser uma feminista, estava justo no extremo oposto da corda, dando prazer a homens casados. É obvio que uma mulher tão bonita como ela podia atrair com facilidade a homens ricos cujos ego s pudessem sentir-se satisfeitos por poder ter uma amante com um físico tão espetacular. E não havia dúvida de que ela se enriqueceu naquele intercâmbio. O vestido que tinha levado ao jantar da primeira noite era sem dúvida de desenho. Estaria tratando de apertar os parafusos de algum tipo, ao deslocar-se a um lugar de difícil acesso como aquele? Ou talvez é que pensava que esse poderia ser o lugar ideal para jogar o anzol? As suítes seletas custavam quase mil dólares a noite. Qualquer que se pudesse permitir o luxo de estar várias noites era sem dúvida um milionário, e seu cargo de diretora a punha em contato direto com eles, já que todas as noites lhes acompanhava durante o jantar. Era sem dúvida um trato muito mais íntimo com os hóspedes de que teria dirigindo o hotel de uma cidade.
Entretanto, qualquer que fossem os planos que ela tinha feito, não tinha contado com o que acabava de passar aquela manhã. A atração física entre eles era intensa, por muito que queria negá-la. Era óbvio que ele não podia lhe oferecer o tipo de vida que ela desejava, e por isso ela o considerava uma perda de tempo.
«Aceita-o, homem!», pensou Nathan, ela é também uma perda de tempo para ti.
Por muito frustrado que se sentisse pelo empenho com que ela queria jogar água fria sobre a ardente paixão que lhes tinha unido aquela manhã, deixar-se levar pelo desejo que lhe consumia, não obteria nada mais que aumentar a frustração. Era melhor que abandonasse nesse mesmo instante. Quão último precisava era que uma perita farsante lhe apertasse os parafusos. Especialmente se se tratava de uma perita em adultérios.
O ruído de uma porta ao abrirlhe alertou da iminente aparição do Miranda. O se voltou ligeira- memore para ela, que se tinha impregnado o chapéu até as sobrancelhas, deixando em sombra seus olhos. O resto de seu corpo, entretanto, seguia exalando feminilidade, mas ele não ia deixar se dominar por seus encantos outra vez. Os deixaria ao melhor postor. O estava já fora desse jogo.
Olhava-a como se fora um verme. Miranda, instintivamente se ergueu, mas não conseguiu desfazer o nó que sentia no estômago. reprovou-se uma vez mais o ter deixado que. aquele homem transpassasse suas defesas. Aquele era o resultado. Aí estava, julgando-a. Miranda odiou seu ar de superioridade, e a situação de vulnerabilidade em que aquela atitude a punha. Não tinha por que defender-se, e não o faria. desculpou-se por interpretar mal sua última relação. Não havia necessidade de dizer nada mais no terreno pessoal. Miranda jogou uma olhada ao relógio enquanto se aproximava do lugar onde ele a estava esperando. Eram quase as oito em ponto. Solo ficavam quatro horas mais de estar a sós com esse homem.
-por aqui -disse quase sem esperar a que ela o seguisse.
Miranda manteve a boca firmemente fechada; O caminho até o canhão estava sinalizado, por isso realmente não necessitava que ele a guiasse. De fato, teria estado melhor sem ele. Ele marcou um passo tão ligeiro, e ela ia tão preocupada com não dar um tropeção que logo que podia contemplar a paisagem. Pouco a pouco as montanhas se foram aproximando, formando um canhão cujas paredes ascendiam mais e mais. Quando o atalho se fez muito estreito, e aumentou a dificuldade do terreno, Nathan assumiu o mando resmungando:
-Será melhor que ponha os pés onde eu os ponha.
Embora sua atitude lhe desagradava, não ganhava nada com não lhe fazer caso. O sol tinha começado a esquentar, e não havia nenhum lugar nos arredores onde poder proteger-se de seus raios. Nathan, em todo momento, escolhia o caminho mais seguro por cima de rochas e gretas. Em um par de ocasiões se voltou para comprovar se ela necessitava de sua ajuda, mas Miranda não estava disposta a deixar-se ajudar.
Entretanto, teve que retificar sua crença inicial de que não necessitaria um guia. O caminho teria resultado muito mais perigoso, e mais largo, se o tivesse feito sozinha. De fato, houve um momento no que pôs o pé em um lugar pouco estável e, ao ir avançar, escorregou-se. Temendo precipitar-se sobre o montão de pedras que havia a seus pés, lançou-se sobre o Nathan que a agarrou ao momento com as mãos.Ele reagiu tão rápido que Miranda se encontrou de um golpe pega a ele, entre as pernas que ele mantinha abertas para guardar o equilíbrio. Mas, passado o primeiro instante de pânico, ele não a soltou... nem ela quis que a soltasse. Ela sentia o calor de seu torso lhe oprimindo os peitos, e teve a impressão de que seus corações golpeavam ao uníssono. Com ambas as pélvis engastadas, Miranda comprovou como o membro da virilidade do Nathan se adaptava perfeitamente ao ângulo que formavam suas pernas. Agradou-lhe também comprovar com suas próprias mãos a tersura dos músculos de seus braços. O calor e a força que emanava aquele homem parecia fluir para o corpo do Miranda atravessando-a como uma quebra de onda de prazer que a mantinha imóvel. Nem sequer era consciente de que tinha perdido o chapéu. Aquele encontro tinha conseguido provocar um curto-circuito um seus neurônios, lhe bloqueando a mente. Ao jogar a cabeça para trás procurando instintivamente intensificar o contato, comprovou que nos olhos dele ardia um olhar de puro desejo. Os lábios do Nathan, ligeiramente abertos, convidavam ao beijo. Ela, logo que pôde respirar quando viu como fechava a boca, apertando com força os lábios, e como o desejo desaparecia abruptamente de seus olhos. Separou-a dele com brutalidade, e recolheu o chapéu do chão para dar-lhe com gesto impaciente enquanto advertia com voz arruda:
-Será melhor que olhe onde pisa, Miranda. Outro escorregão como esse Y... quem sabe o que poderia romper-se?
«Como sua credibilidade ao insistir em que não o desejava».
-Obrigado por me salvar -conseguiu balbuciar, cobrindo-a cara com o chapéu para ocultar o rubor.
-Tommy te necessita inteira -respondeu ele, e imediatamente se voltou para reemprender o caminho.
Ao Miranda tremiam as pernas como se fossem de gelatina. Era a segunda vez que sucumbia aos encantos daquele homem. Era como se tivesse um potente ímã em seu interior que lhe fizesse perder o sentido. Miranda se precaveu de que seus olhos se dirigiam instintivamente para as nádegas e as coxas de seu acompanhante, e retirou a vista. Tinha que conseguir arrancar de si aquela força física, e concentrar outra vez sua atenção no trabalho. Nathan King não era o objeto daquela excursão. 
A cor das rochas daquele canhão, entre laranja, ocre amarelado, marrom claro e negro era lhe impactem. Miranda se perguntava por que chamariam a aquele canhão «A Catedral», quando ouviu um som. Um ritmo estranho, como de outro mundo, que parecia sair das próprias pedras e que vibrava entre elas. parou-se em seco, escutando-o absorta.
Nathan continuou caminhando e logo se parou, consciente de que ela não o seguia. Olhou-a com impaciência, e estava a ponto de dizer algo quando ela o deteve com um gesto da mão: 
-Não o ouve? -perguntou em um sussurro. O assentiu com a cabeça, e seus olhos brilharam divertidos ante sua surpresa-. O que é?
-Um didgeridoo que soa dentro das paredes da caverna. Vamos, poderá vê-lo depois da próxima curva. Albert deve ter decidido oferecer um concerto aos turistas.
-Albert?
O didgeridoo era um instrumento dos aborígenes. Viveria ainda alguma tribo ali?, perguntou-se Miranda.
Seguiu ao Nathan, desejosa de conhecer a origem daquele som. E, de repente, teve-o diante... o final do canhão... uma fantástica caverna aberta, de muito altos paredes, cujo fundo se inclinava por cima de uma piscina natural de misteriosas águas negras rodeadas de areia. diante da piscina, um grupo de seis pessoas estava sentado sobre umas pedras plainas, vendo como um homem aborígine soprava dentro de um comprido tubo de cano, cujo final estava apoiado no chão, enquanto movia as mãos pelos buracos da madeira, controlando o som. Os sons se projetavam com a mesma força que os saídos dos tubos do órgão de uma catedral, enchendo a caverna e saindo ao exterior. Era como uma chamada ancestral que surgia das próprias vísceras da terra, para que todo aquele que a escutasse se sentisse em harmonia com ela.
Não se podia dizer que fora uma canção, porque não havia melodia. E, entretanto, o jogo dos sons tocou certa fibra sensível do Miranda que recordou algo que Nathan lhe havia dito antes, em relação a que sua vida estava atada a aquela terra primitiva onde as necessidades se reduziam à mera sobrevivência. Ela não tinha compreendido com exatidão o significado de suas palavras, mas nesses momentos, tinha a impressão de entender a que se referia... a simplicidade das opções oferecidas pela mãe natureza, o ciclo da vida... nascer, crescer, aparearse, reproduzir-se, morrer... uma cadeia ininterrupta sempre que a terra seguisse contribuindo o sustento. Sem tinturas românticos. Simplesmente a vida tal e como era, por debaixo de todos os objetos que a civilização criou para adoçá-la.
A demonstração terminou com uma nota profunda e larga, que pareceu faiscar no interior do Miranda produzindo-a um agradável calafrio. O homem aborígine se colocou o instrumento sobre o ombro, e os assistentes começaram a aplaudir com entusiasmo. Mas ao Miranda, pareceu-lhe que aqueles aplausos estavam desconjurado, porque trivializavam uma experiência que devia ter sido saboreada em silêncio..
Nathan se voltou para ela, e, com olhar cínico e duro, perguntou-lhe:
-A atuação não foi o suficientemente boa para merecer seu aplauso?
Ela o olhou fixamente
-Não todo mundo tem sua experiência. 
-Não vais mostrar que te gostou?
-Para mim foi uma mensagem, não um concerto. 
-Ah? E o que te transmitiu essa mensagem?
Em seus olhos azuis não havia amostras de piedade. Com aquela provocação tratava so16 de confirmar a imagem que já se feito dela: uma mulher sem alma, uma mulher que solo se preocupava dela mesma, sem pensar no dano que podia fazer a outros.
Miranda o olhou fixamente aos olhos
-Permitiu-me compreender algo melhor seu modo de vida, e a vida de todos aqueles que viveram nesta terra, e se tiveram que amoldar sempre a seu ritmo.
Aquela resposta lhe surpreendeu. Elevou o queixo como se lhe tivessem golpeado, como se as palavras do Miranda lhe tivessem ferido e, durante um par de segundos, ela se sentiu como apanhada em um campo de força que tratava de diseccionarla. Depois, de uma forma tão inesperada e rápida como tinha surto, a tensão desapareceu. Nathan se deu a volta e se afastou.
Frustração?, perguntou-se Miranda.
Sentindo como se a tivessem esmagado e atirado ao lixo, Miranda teve que recompor-se uma vez mais antes de segui-lo. Andar sobre a areia resultava pesado, mas era óbvio que a caverna era seu destino, assim já não teria que andar muito mais, e ao menos ali não estaria sozinha com o Nathan.
Depois de consolar-se com este pensamento, viu com desespero que o grupo das seis pessoas se levantava, e recolhia suas bolsas, para seguir ao homem aborígine que, depois de rodear a piscina, dirigia-se para onde estavam Nathan e ela. Então, Miranda se deu conta de que aquele homem vestia um uniforme de guia turístico e que tinha sido obviamente contratado por aquelas pessoas para que lhes fizesse uma demonstração de seu talento.
-bom dia, Nathan -disse o homem com naturalidade esboçando um sorriso.
-bom dia, Albert -foi a cálida resposta, dita em um tom de voz que Miranda fazia horas que não ouvia-. Acabará caçando turistas se te empenhar em seguir tocando para eles.
O aborígine se Rio como se tivesse sido uma grande piada
-Só chamo os bons espíritos -e dirigindo o olhar para o Miranda acrescentou-. Talvez você os necessite.
-Talvez sim -respondeu Nathan assentindo com a cabeça-. Esta é Miranda Wade. É a nova diretora do centro de férias do Tommy. Miranda, Albert é um chefe de tribo destes contornos.
Lhe tendeu a mão:
-Obrigado por tocar. foi algo mágico. -Sempre boa magia, senhorita Wade -respondeu ele lhe estreitando a mão com evidente satisfação pelo comentário-. vai se ficar bastante tempo por aqui?
-Sim.
Lhe soltou a mão, e tocando a asa do chapéu comentou dirigindo-se ao Nathan:
-Pode que seja o espírito adequado para ti, velho amigo.E partiu, rendo-se pelo baixo. Nathan o olhou com cepticismo e, depois, continuou aproximando-se para a piscina. O grupo do Albert passou a seu lado e lhes saudou. Miranda sorriu lhes devolvendo a saudação. Nathan simplesmente moveu a cabeça, embora Miranda pôde comprovar os olhares de admiração que despertou nas mulheres do grupo.
Seu aspecto físico impressionaria a qualquer mulher, pensou Miranda, embora provavelmente ele não esbanjaria suas energias em muitas delas. Era um homem extremamente reservado, decidiu Miranda, enquanto olhava como se aproximava das pedras que, sem dúvida, lhes foram servir de assentos enquanto tomavam um refresco. Todo ele parecia emanar masculinidade, e era certo o que ele havia dito: não podia negar o efeito que lhe causava.
Em qualquer sociedade primitiva Nathan seria o macho que todas as fêmeas procurariam para aparearse. Disso tampouco havia dúvida. Talvez era parva por deixar acontecer a oportunidade de ter relações íntimas com ele, embora era muito improvável que atrás do ocorrido aquela manhã lhe desse uma segunda oportunidade. Teria podido ser algo muito especial? Havia uma voz dentro dela que lhe dizia que sim e, apesar de tentá-lo com todas suas forças, não conseguia fazê-la calar. A atração sexual não era garantia para que uma relação funcionasse. E por que tinha que acreditar o que Nathan King lhe tinha contado sobre sua relação com outras mulheres?
Nathan deixou sua bolsa sobre uma das pedras plainas. Miranda se sentou sobre outra que estava a um metro de distância e, como a caverna lhes protegia dos raios do sol, tirou-se o chapéu. Em um intento por superar a tensão que lhe produzia a idéia de ter que passar o momento com o Nathan, começou a esvaziar sua bolsa.
-Tenho um recipiente térmico com café. Quer um pouco? -perguntou ele.
-Sim, por favor.
Miranda decidiu romper o gelo:
-por que te chamou Albert «velho amigo»? Eu não diria que é velho -disse com curiosidade.
-Alude ao feito de que minha família viveu neste lugar desde antes de que nascesse Albert. A idade se conta por gerações. O ter vivido aqui durante cinco gerações faz dos King «velhos amigos».
-Já vejo.
-O que vê Miranda?
-Que eu não pertenço a este lugar e você sim.
-A que lugar pertence você?
Ela estalou em uma gargalhada,
-A nenhum. Essa é parte da razão pela que estou aqui. Não importa onde esteja -olhou-o com certa ironia-. Suponho que se poderia dizer que me pertenço mesma.
Ele baixou a vista para a piscina. Uma piscina negra, tão negra como o passado de sua família, pensou Miranda. Caso que lhes pudesse considerar uma família a ela, a sua mãe e aos homens que jamais lhe ofereceram um anel de compromisso... toda uma triste miséria cujo solitário final se produziu uns anos antes. Não era o tipo de história com a que a família King desejaria ter contato.
-Assim não te importa o destroçar o sentido de pertença de outros.
A dureza do comentário foi muito para o Miranda.
-Não tem direito a julgar minha vida privada. Estou aqui a nível profissional -afirmou com frieza geleira.
-Poderá ter enganado a minha mãe...
ficou de pé de um golpe furiosa:
-Basta! Não fui jamais a amante de um homem casado. Nem jamais me rebaixaria a sê-lo.
-Então a que veio todo esse assunto da amante? -replicou-lhe ele.
-referia-se a um homem como você, querendo me pôr nessa situação, e com o poder de jogar por terra todo aquilo pelo que eu trabalhei. Da mesma maneira que você tem o poder de reduzir o tempo de meu contrato no Éden dos King.
Ele ficou de pé de repente, parecia uma torre humana exalando indignação:
-Pensar isso de meu é algo horrível!
-Como as coisas que estiveste pensando você de mim, não? me tratando como se fora lixo porque hei dito que não jogava! Bem, deixa que te diga que não vou arriscar me a que você seja como ele. Não me importa quão atrativo seja. Não... vou... a jogar!
Ao Miranda tremia todo o corpo, e suas últimas palavras retumbavam por toda a caverna, reproduzidas uma e outra vez pelo eco, completamente fora de seu controle. Tinha permitido que lhe fizesse perder o controle. Tentou recuperá-lo colocando as coisas dentro de sua bolsa, quando uma mão a agarrou.
-Prometo-te... juro-te... que seu posto no Éden dos King está a salvo de qualquer possível interferência por minha parte -ao Miranda pulsava o coração com tanta intensidade que não podia articular palavra. Solo pôde olhar fixamente os fortes dedos que lhe aprisionavam a boneca-. E, por favor... aceita minhas desculpas por fazer que sentisse que podia perder o trabalho. Essa não era minha intenção. E quanto ao que pensei de ti... Me alegro de saber que estava equivocado e te peço desculpas. me acredite, comigo está segura, Miranda. De acordo?
Ela assentiu com a cabeça, muito confusa para pensar em uma resposta adequada. Nenhum dos dois disse nada durante a viagem de volta ao centro, e Miranda sentiu que apesar de toda sua experiência no negócio da hospitalidade, voltavam a lhe faltar as palavras ao enfrentar-se a ele cara a cara no heliporto. obrigou-se a lhe olhar aos olhos, aqueles intensos olhos azuis, e simplesmente disse:
-Graclas.
-Miranda -concluiu ele enfaticamente-, eu não tenho nada que ver com o centro de férias, e Tommy, sem dúvida, não permitirá que me misture. Solo depende de ti o poder consolidar aqui sua posição -ela assentiu, incapaz de responder-. Quer tempo para te familiarizar com seu trabalho... Bem! Mas não acredito que possa esquecer o que há entre nós. E tampouco acredito que você possa -ela não respondeu, sentindo que aquilo ameaçava a sua tranqüilidade de espírito, mas sem saber o que fazer a respeito-. Voltaremos a vemos -acrescentou Nathan, e a deixou.
Ela o viu partir no Jipe. Solo quando deixou de ver o carro pôde começar a respirar outra vez com normalidade. «Dois anos no Éden dos King», pensou. É obvio que o veria... alguma vez. E então, o que?
«Então, o que?»
8
AGRADAVA-LHE voltar a ver o Jared. podia-se notar que ao Nathan sempre tinha gostado da companhia de seu irmão pequeno. Tommy tinha um caráter competitivo, querendo ganhar pontos em todo momento, enquanto que ao Jared bastava sendo ele mesmo, sem entrar em competência com nenhum dos dois irmãos. Talvez se devia ao feito de haver-se introduzido no mundo de sua mãe, apartando do Éden dos King. Ou talvez se tratava simplesmente de sua própria natureza.
sentaram-se no salão no que tomavam o café da manhã a tomar um chá pela manhã. Tommy chegaria aquela tarde, e indevidamente quereria atrair para ele a atenção do Jared, mas naquele momento ao Nathan resultava muito agradável poder escutar tranqüilamente os planos que tinha seu irmão para ampliar o negócio das pérolas.
-e que tal vai a ti, Nathan?
-OH, as coisas não trocam muito por aqui -respondeu, ocultando a seu irmão a grande mudança: o negócio só ocupava a metade de seu pensamento. Miranda Wade ocupava a outra metade, mas não estava disposto a desvelar aquele assunto pessoal. De fato, pensava que aquela reunião familiar na estação, a primeira que tinham tido aquele ano, poderia muito bem lhe oferecer a oportunidade de voltar a estar perto do Miranda em uma reunião de caráter social em que ela não se sentisse ameaçada por ele.
-Mamãe me há dito que temos um novo diretor no complexo turístico. Uma mulher.
-Sim -uma mulher que não abandonava seu pensamento nem de dia nem de noite.
-E que talhe vão as coisas?
-Não tenho nem idéia -respondeu mentindo, já que milhares de vezes tinha comprovado como se esforçava porque tudo partisse à perfeição, desterrando de sua mente qualquer outro pensamento e, especialmente, a ele. Embora ele também se esforçou por pôr a um lado a enorme atração física que ambos haviam sentido. E, entretanto, já não podia esperar mais.
-Nem sequer tem uma impressão, Nathan? -perguntou sua mãe com curiosidade.
-por que devia sabê-lo? Não me ocupo de farejar no negócio do Tommy, como tampouco o faço no do Jared.
-Mas levou ao Miranda de excursão, não

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