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@cafecomlivros_Juiz_Thompson__A pdf

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Prévia do material em texto

Autora: Marília Sillva
Design: Nayla Borges Nogueira
Revisão: Hugo Rodrigues Reis
 
 
 
 
Série : Homens da Lei.
 
JUIZ THOMPSON.- A verdade além dos fatos .
—LIVRO 2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRÓLOGO
 
Ela usava um vestido salmão da última coleção da
feira de moda de Paris, não era justo nem rodado, era na
medida certa como todas as peças confeccionadas pela
marca. O mínimo de se esperar pelo preço absurdo pago
por ele, a maquiagem estava perfeitamente leve como o
habitual. O cabelo mantinha em um corte no formato reto
pouco acima do ombro, nos pés ousou colocar sandálias
de salto médio na cor caramelo, pois a mãe lhe ensinara
um dia que somente mulheres da "vida" usavam acima de
dez centímetros.
– O que achou dessa, John?
– Troque. – John respondeu curto e grosso, sem se
importar que a moça tinha trocado de roupa por três vezes
apenas porque não teve a sorte de escolher nenhuma que o
agradara até o momento. Quando iam sair para algum
lugar, a moça trazia de casa várias peças diferentes até
achar uma do gosto do mesmo. Logo após, sua atenção foi
tomada novamente pelo notebook a sua frente; quando
tinha um caso importante na mão, não parava até
desvendar o caso. Bastou fitar uma pequena parte do
joelho da moça de fora para achar que o vestido salmão
não estava adequado para um simples jantar a dois.
Suzana não respondeu o noivo, papel perfeito da mulher
que foi educada para obedecer ao homem sem reclamar,
também não queria perder o posto de futura esposa de um
dos homens mais poderosos e influentes dos Estados
Unidos. Era assim que os jornais e revistas como a Vogue
denominavam o Juiz. Além de poder, fama e dinheiro, o
homem obtinha uma postura extremamente elegante, e um
charme galanteador.
– Esse está melhor querido? – Vinte minutos
depois, Suzana voltou com o semblante cansado vestindo
um modelo mais antigo da Prada, num tom de creme o
vestido era longo com mangas três quartos e pequenas
pedras brilhantes por toda extensão dele, nos pés manteve
a mesma sandália. Thompson analisou por alguns
segundos a mulher insegura esperando ansiosa pela
opinião dele, a moça tinha uma necessidade doentia de
agradá-lo sempre. Talvez o seu maior erro fosse colocar a
vontade dele na frente do seu amor próprio.
– Não adianta usar um vestido como este se não
tem segurança o suficiente para estar dentro dele.
Ele foi até a gaveta do seu closet e pegou uma
pequena caixa vermelha aveludada, dentro dela retirou um
colar cravejado de diamantes e colocou no pescoço da
noiva; apesar de severo, ele sabia muito bem como
levantar a auto-estima de uma mulher, ainda mais Suzana
que apreciava um tanto esses pequenos mimos do juiz.
– Obrigada amor. – Agradeceu com um sorriso
enorme, queria gritar e pular com o presente, mas John
não aprovava esse tipo de comportamento espalhafatoso
em uma mulher.
– De nada, Suzana. – O Juiz não era o tipo de ficar
chamando ninguém de amor, nem nos momentos mais
íntimos.
 
****
 
Já no restaurante de luxo, cavaleiro como era,
puxou a cadeira para a noiva que sentou com delicadeza e
uma classe que só ela obtinha, esse foi o maior motivo
dele ter escolhido para ser sua esposa, porque por amor
não foi. Não acreditava nessas coisas, apenas em casais
que se davam bem, ela era ideal para o papel de senhora
Thompson. Era obediente, dedicada em agradá-lo a todo
momento, também vinha de família tradicional como a
dele, era bonita e o principal, era virgem, John nunca se
casaria com uma mulher violada. Para sorte dele, a mãe
da moça tinha lhe treinado desde os cincos anos de idade
para ser a esposa perfeita. Depois de fitar o cardápio por
alguns minutos, o Juiz fez um sinal para o garçom anotar o
pedido deles; quando viu que o serviçal era mulher, não
gostou, na opinião dele o sexo oposto tinha sido feito para
ficar em casa esperando o marido. Mas fez os pedidos
assim mesmo.
– Para mim traga um bife vermelho mau passado e
uma salada de frutos marinhos apenas.
– E para beber senhor? – A jovem morena com o
cabelo preso em um coque alto trajando um conjunto
social de calça preta e camisa branca de botões,
perguntou sorridente demais para o gosto da noiva do
Juiz, que fitava de forma séria o jeito abobalhado que a
moça estava a olhar a beleza abundantemente do homem a
sua frente. Ainda mais naquele dia que vestia um terno
todo preto sem gravata, no paletó os botões eram de ouro
puro. Proporcionalmente ou não, deixou alguns abertos
dando mais charme aquela perfeição em forma de homens,
o cabelo penteou todo para trás deixando bem em
evidência o belo rosto quadrado que tinha.
– Quero um Gin e uma Budweiser, tônico com
Henriks. Para finalizar traga um Whisk francês por favor.
– A voz do homem da Lei saiu de um jeito tão sexy, que se
a noiva não soubesse ser da própria natureza dele,
pensaria que estava paquerando a moça.
– E a senhora, o que vai querer?
– Para ela traga um bife de frango grelhado com
cogumelos e molho chinês para acompanhar, para beber,
um suco de laranja está otimo. – O pedido de Suzana seria
outro, mas antes de abrir a boca ele fez o pedido por ela.
Na volta, foram conduzidos até a casa da jovem
pelo pequeno exército de homens de preto do Juiz, ele
acompanhou ela até a porta e se despediu com um leve
beijo nos lábios.
– Achei perfeita a nossa noite, e você? O que
achou? – Perguntou esperançosa.
– Interessante. – Na verdade, nem tinha ouvido a
pergunta, o caso importante ainda estava rodando os seus
pensamentos, queria acabar logo com o assunto e ir para
casa continuar trabalhando.
– Boa noite amor, tenho que entrar antes que o meu
pai venha me buscar aqui fora. – A jovem já tinha vinte e
quatro anos, mas era tratada pelos pais como se tivesse
quinze.
– Boa noite Suzana. – Ele até tentava chamá-la de
amor, porém ele sabia que se fosse para falar apenas para
agrada a moça não seria certo, além do mais John nunca
foi de usar a falsidade com ninguém. Se tinha uma coisa
que repugnava nas pessoas era a mentira. Ele ficou a
observar sua futura esposa entrar em sua residência,
pensando que era um homem de sorte por ter encontrado a
mulher perfeita para ser a mãe de seus filhos um dia.
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1
 
John Thompson sempre procurou ser o mais
receptivo e prestativo possível no que fazia seja lá qual
fosse a área, se tornando as vezes até um tanto didático e
cruel na hora de agir. Desempenhar o papel de "homem
justo" diante aos os alheios era uma mania doentia de
Thompson, as vezes algo irritante até mesmo para si. E
isso não vinha de agora, nasceu com essa necessidade de
ser sempre o melhor em tudo o que fazia, a maneira rígida
com que foi criado pelo pai o Senhor Richard Thompson
também Juiz Criminalista, assim como o filho, apenas
colaborou para a aflorar algo que já habitava ali
naturalmente. No momento todos os pensamentos do
“Homem da Lei” também estavam voltados para um caso
muito delicado que vinha fazendo polemica pelo país,
após uma ligação anônima denunciando o Jovem
Moçambicano Noen Said como responsável por um
atentado em um Shopping a dois meses atrás, um atirador
do nada começou a atirar em tudo o que movia a sua
frente, ocasionando na morte de vinte e duas pessoas,
entre elas a maioria crianças e adolescentes. Mesmo com
uma vasta variedade de provas contra o acusado, John
acreditava fielmente na inocência do acusado, tinha
adquirido essa opinião após colher pessoalmente o
depoimento do jovem magro de estatura mediana, de
aproximadamente vinte e cinco anos, que não chorou ou
fez nenhum drama ao ser indagado sobre tal fato. Pelas
imagens da câmera era possível ver claramente o homem
desfilando pelos corredores do lugar minutos antes do
ocorrido.
 
O Juiz chegou no presídio em uma quarta-feira à
tarde, o delegado responsável pelo lugar veio recebe-lo
como se estivesse diante de uma celebridade. Quando
soube da visita, fez questão de passar em casa na hora do
almoço para tomar um bom banho, vestir o uniforme mais
novo e aparar a barba. Cumprimentou o Juiz sem tirar o
sorriso do rosto em nenhum segundo sequer, após a
apresentaçãoconduziu o ídolo até onde se encontrava o
acusado, até pensou em pedir para tirar uma foto com ele
antes de se retirar, mas pelo jeito sério de Thompson
pensou não ser uma boa ideia.
 
John entrou com sua postura intimidadora na
enorme sala quadriculada, toda branca apenas com uma
mesa de quatro cadeiras de ferro no centro, em uma das
quatros paredes milimetricamente construídas do mesmo
tamanho tinha uma grande janela de vidro, visível apenas
de fora para dentro. Foi a primeira coisa que John notou,
estritamente observador como era, não deixava nenhum
detalhe passar despercebido dos seus olhos azuis
acinzentados da cor do mar em dia de tempestade. Avaliou
sem pressa o jovem de traços fortes demostrando
claramente a origem do pais de onde veio, sentado com o
tronco um pouco abaixado apoiando os cotovelos na mesa
como se estivesse cansado.
 
– Eu sou inocente. – Proclamou firme assim que
reconheceu o famoso Juiz.
 
– Isso é o você que está dizendo. Não acredito em
palavras, me dê fatos. – Respondeu inquisidor, John
sentou em uma das cadeiras empoeiradas como se
estivesse em sua casa, queria passar confiança ao homem
inseguro a sua frente. Opinou não ir de terno para não
parecer um espião da CIA atrás de alguma informação
secreta, vestiu algo mais "modesto" sendo que não se via
nada disso em nenhuma peça que usava no momento. A
calça era preta social num estilo mais despojado, a
camisa escolhera uma de algodão branca de malha fina da
Dolce e Gabbana, o Juiz tinha um gosto peculiar para
roupas com cores neutras, talvez fosse para ajudar manter
a pose de homem sério, ou talvez para esconder algum
sentimento sombrio. Dentro do seu closet não se
encontrava uma peça se quer de outras cores, em seu
mundo particular existia apenas lugar para o Branco, cinza
e na maioria das vezes Preto. A decoração da sua casa
seguia os mesmos tons, até mesmo o seu local de trabalho
seguia o mesmo modelo.
– Independentemente de qual for a minha resposta,
o fato de eu ser estrangeiro, negro, morando no pior bairro
da Cidade já é mais do que suficiente para vocês
Americanos me denominarem culpado. – Noen carregava
no rosto uma expressão sofrida, os olhos cor de mel
estavam pesados e tristes. Apesar de jovem parecia ter
mais de quarenta anos, o uniforme laranja fluorescente que
estava usado também não combinava muito com ele.
– Tanto faz de onde veio ou está. Se for realmente
inocente como diz, eu mesmo farei quem levantou falso
testemunho contra você se retratar o mais breve possível.
– A confiança que Thompson passou em suas palavras
entrou no homem a sua frente com a mesma intensidade de
um tiro, Said limpou sem vergonha uma lágrima de
esperança que escorreu sem pedir licença pelo seu rosto,
sabia que se existisse alguém que pudesse provar sua
inocência esse homem estava bem a sua frente.
– Obrigado por me tratar como gente. – Disse o
rapaz enquanto Thompson observava atento cada
expressão do rapaz. Cada detalhe encontrado ali poderia
ser crucial...
– E de que qual outra forma trataria, como um
Rei? O que vejo a minha frente e um homem normal igual
a mim. – Respondeu sincero.
– É que faz muito tempo que ninguém me trata
assim Doutor, com igualdade. – O jovem abaixou o olhar
envergonhado com as próprias palavras...
– Não deve se envergonhar pela falta de educação
dos outros, apenas ignore. Isso que devemos fazer com
coisas insignificantes na nossa vida.
– O Senhor tem razão, começarei a praticar hoje
mesmo. – Sorriu meio torto como se estivesse perdido o
jeito de como fazer aquilo...
– Já passou da hora, teria evitado muito sofrimento
desnecessário na sua vida. – A forma minuciosa com que
John analisava o acusado fazia o Moçambicano tremer
como se estivesse sem roupa no Alasca, o frio que
percorria o seu corpo com certeza seria o mesmo.
– Sabe Doutor, eu estava no Shopping por um
motivo muito especial naquele dia. – Noen não era
estudado e ninguém lhe ensinará que ao se referir a um
juiz deve-se usar Meritíssimo e não Doutor, Thompson em
outras ocasiões teria chamado a sua atenção, pois exigia
ser chamado assim em sinal de respeito diante a uma
autoridade como ele.
– Pode me chamar apenas de John. – Proclamou
com a voz grave, o rapaz a sua frente obtinha de uma
humildade tão grande ao chama-lo de Doutor que achou
justo que o mesmo tivesse a liberdade de lhe chamar pelo
primeiro nome.
– Não Senhor, se não importar prefiro continuar
chamando de Doutor mesmo, apenas de John seria
estranho. – Realmente a postura do Juiz lhe cabia
perfeitamente o nome de Rei do Egito, Príncipe da
Inglaterra, presidente dos Estados Unidos, Soberano dos
Mundos entre outros mais postos altíssimos, apenas John
era algo simples comparado a uma postura tão nobre que
o mesmo adquiria. – Se refira a mim conforme for mais
confortável para você.
– Obrigado Doutor. – Agradeceu agora mais
relaxado encostando as costas na cadeira de ferro
puxando o ar para tomar coragem antes de voltar a contar.
– Como estava dizendo, naquele dia eu tinha recebido o
meu primeiro salário do emprego que tinha conseguindo
com muito custo, sabe Doutor as pessoas dizem que Preto
é tudo bandido, mas quando pedimos alguma oportunidade
de emprego ninguém da, mesmo a gente sendo mais
estudado que os brancos ou não.
– E o que foi comprar no Shopping de tão
especial? – Perguntou direto, para qualquer outro que
estivesse interrogando o rapaz seria apenas mais uma
pergunta, para Thompson não. Dependendo da resposta o
Juiz sentenciaria ali mesmo se o acusado era culpado ou
não. Sua vasta experiência no assunto lhe dava total
liberdade para isso.
– Quando vim de Moçambique deixei minha
mulher grávida de quatro meses do meu filho Mofat e mais
uma filha de quatro anos, a Mai. Era uma garotinha linda e
meiga, cujo o sorriso tinha um brilho cativante. A mãe
Alexandra sempre vestia a filha com roupas simples,
porém ricas em cores, o cabelo trazia sempre
caprichosamente em tranças feitas com muito amor. – Só
pela expressão do rosto de Noen a falar da filha
Thompson imaginou pelo sorriso dele que a pequena
deveria realmente ser uma graça, um dos maiores sonhos
do Juiz era se tornar pai algum dia.
– Minha ideia era ganhar dinheiro para trazer elas
para viver aqui comigo, infelizmente ainda não consegui.
Como daqui a duas semanas é o aniversário da minha
esposa, pensei em comprar um vestido que ela tinha visto
em uma revista de gente bacana sabe? Ah, com certeza
deve saber, o Senhor e um deles. – Comentou sem
maldade.
– E como seria esse vestido? – Perguntou
Thompson sem paciência.
– Ele era branco, cheios de flores amarelas, todo
rodado igual a de uma rainha. Porque?
– Nada. Apenas quis saber. – Cortou o assunto.
– A sua senhora também gosta de vertidos Doutor?
– Perguntou simples.
– Não sou casado...Ainda. – Mas pensou que se
fosse nem em sonho deixaria sua esposa usar algo assim.
– Entendi Doutor, mas em breve vai encontrar uma
mulher que fará o seu coração bater mais forte, que
mesmo que te irrite o tempo todo, não vai querer deixar
ela nunca mais. – Thompson não fazia ideia do que o
estrangeiro estava falando, parou para pensar e concluiu
que Suzana nunca tinha lhe causado nenhum sentimento ao
ponto de fazer o seu coração ter algum tipo de alteração, e
sobre o fato dela irrita-lo isso era impossível já que ela
sempre fazia tudo conforme a vontade dele.
– Foi um prazer Noen. Mas preciso ir agora...
– Mas o Senhor não vai querer ouvir o resto da
história do dia do atentado?
– Não, já ouvi o suficiente. Em breve sus família
estará aqui com você, por enquanto tomara que sua esposa
se contente com o vestido branco de flores amarelas que
eu pessoalmente providenciarei para ela, espero que o
meu gosto esteja à altura dela, também mandarei uma
boneca para sua filha e um carrinho para o menino quando
nascer, assinado em seu nome para saberem que mesmo
longe nunca esqueceu deles. – John não mencionou, mas
também mandaria uma quantia em dinheiro para ajudar na
criação das crianças durante a ausência dele. A verdade
era que o dinheiro daria para os dois pagartoda faculdade
que eles escolhessem cursar algum dia. Essa parte
preferiu não comentar para o rapaz não se sentir
humilhado.
John se despediu de Noen com um aperto de mão
forte e saiu daquele recinto deixando um coração
esperançoso para trás, mas levando consigo a certeza que
se existisse verdade ali, descobriria e faria cumprir a
promessa que fez ao jovem. Fazendo o possível e o
impossível para encontrar a verdade além dos fatos
daquela história e inocentar o homem a todo custo, alguma
coisa lhe dizia que naquele crime tinha mais gente do
próprio país envolvidas do que as vindas de fora. Os
repórteres estavam feitos Urubus atrás de carniça
acampando em frente ao fórum atrás de mais notícias.
Depois das últimas estampando no Jornal da CNA
sobre o caso, Thompson estava certo que tinha alguém do
grupo dele vendendo informações fora. Para sua surpresa,
descobriu que o traidor se tratava do seu assistente, ficou
surpreso com tal descoberta, afinal o homem aparentava
ser culto e honesto.
 
*****
 
A grande porta do elevador do Fórum da Cidade
de Washington abriu dando entrada pela primeira vez para
a jovem Yudi Jackson, Dona de uma personalidade
marcante e uma inteligência considerável, para não dizer
privilegiada. Filha de um pastor da pequena igreja do
Bairro Brooklin, onde a maioria das pessoas eram pobres
e negras, e com o maior índice de criminalidade da
cidade, teve que sair de casa aos dezesseis anos por não
ter um comportamento "adequado" ao da igreja que a
família dela frequentava, sempre gostou de viver de uma
forma livre, principalmente na vida pessoal ou na forma
de se vestir. O seu estilo era provocante e ousado, mas
nunca vulgar. Sempre gostou de roupas mais sensuais e de
uma boa maquiagem, batom vermelho era o seu favorito.
Não se vestia assim para provocar o sexo oposto nem
nada do tipo, apenas se sentia bem assim e pronto.
A cada passo que dava naquele extenso corredor
estritamente limpo e encerado era como se estivesse no
tapete vermelho indo buscar o prêmio do Oscar, a emoção
era a mesma. Tinha batalhado muito para estar ali, que
queria somente aproveitar ao máximo, só Deus e ela
sabiam que até fome passou para chegar onde estava.
– Bom Dia, sou Yudi Jackson. – Disse a jovem 
educadamente com um sorriso enorme no rosto para a
secretária sentada atrás de um balcão de madeira na
luxuosa recepção do lugar, a mulher a sua frente era
belíssima, usava um conjunto social de saia preta justa na
altura abaixo do joelho, e uma blusa branca com mangas
longas e botões transparentes combinando perfeitamente
com o chão azulejado de branco e Preto idêntico a um
jogo de xadrez, a Senhorita Jackson não sabia se o piso
era feito para combinar com a roupa da moça ou vice
versa. O fato era que ambos eram de muito mal gosto,
principalmente o cabelo loiro preso em um coque
irritantemente bem arrumado que faltava pouco gritar "fui
feito pela vovó". A moça se perguntou como aquele lugar
era tão famoso na mídia em relação a eficiência dos
funcionários se nem tratar uma pessoa educadamente
sabiam. Pois a atendente da mesma posição que estava
foleando uma revista da Vogue ignorou totalmente sua
presença.
– Bom dia Senhorita Caili, sou Yudi Jackson. –
Leu discretamente o nome da moça em uma plaquinha
dourada presa na impecavelmente blusa branca dela. Por
um minuto a ideia de perguntar qual a marca de sabão
usava para lavar lhe pareceu bastante tentadora, pois
realmente o tom claro da peça era de invejar qualquer
dona de casa, sua mãe sempre dissera que a filha não
levava jeito para os afazeres de casa, o que de fato era
verdade, também não era muito fã de crianças, gostava
sim, mas as dos outros e de preferência dormindo. Mas se
sentiu orgulhosa quando lembrou que sabia fazer um
macarrão instantâneo e um ovo frito como ninguém, era de
comer e pedir mais.
– Me deixa adivinhar, você é mais uma
profissional do sexo, não é? – A recepcionista olhou
Jackson de cima a baixo. – Foi agressão por algum cliente
e veio denunciar? Moça aqui não é lugar para isso, tem
que ir a uma delegacia da mulher e sair dessa vida,
precisa se valorizar mais, ter mais amor no coração. –
Yudi apertou forte a bolsa de baixo do braço para não
cometer um crime doloso bem no seu primeiro dia de
trabalho, pediu a Deus muita calma para não cometer uma
atrocidade.
– Se estivesse mais atenta ao seu trabalho e não
lendo as últimas notícias da Vogue, teria ouvido quando
tinha me apresentado a você, então saberia que é o mesmo
nome nesse lembrete aí colado no computador dizendo
que sou a nova Assistente do Juiz Thompson. – A
secretaria ficou pálida, com o que acabara de ouvir, nunca
imaginou que a nova assistente que tinha passado na prova
para o cargo com noventa e oito por cento de acerto na
prova do concurso público teria aquela aparência
"diferente", pensou em alguém com a cara de inteligente
pelo menos, principalmente que fosse do sexo masculino,
sendo que todos os outros eram homens por escolha de
Thompson, já que para ele não era todo tipo de trabalho
que poderia ser feito por uma mulher. Segundo a nova lei
isso não era mais decidido por ele, mas sim através de um
concurso público onde quem passar não poderia ser
mandando embora por ser concursado.
– Me perdoe senhorita Jackson, vou anunciar a sua
chegada ao Juiz Thompson. – A Secretária ainda com a
cor da pele alterada por conta do constrangimento pegou o
telefone com a mão ainda tremendo.
– Da próxima vez, tente conhecer primeiro e julgar
depois, não o contrário. – Deu seu recado elegantemente,
apesar do gênio forte sabia muito bem se portar de forma
adequada em qualquer situação.
– Senhor, a pessoa que estava esperando chegou. –
Não teve coragem de revelar que a tal pessoa se tratava
de uma mulher.
– Mande entrar. – Yudi, mesmo de longe, se
arrepiou ao ouvir a voz imponente do homem, andou pela
primeira vez naquele dia insegura até parar de frente ao
Gabinete do Juiz, antes mesmo de bater, a porta elétrica se
abriu como se tivesse sido feita para esperar a chegada
dela. Entrou a passos lentos no lugar sem fazer barulho
com o salto, depois de anos andando encima daquilo,
tinha aprendido como usar. Logo notou que o mal gosto
também habitava ali dentro, o chão era branco e as
paredes negra como a noite, ficou imaginando como que
na época do verão deveria ficar quente ali dentro. A
janela era enorme, toda de vidro que dava para observar a
parte mais nobre da Cidade, no teto tinha um lustre
enfeitado com pequenas esferas de diamante. Quando
olhou a sua frente viu o Juiz sentado em sua mesa lendo
uma pilha enorme de papéis, não demorou muito para
notar que o homem era lindo, sua postura masculina e viril
era coisa de outro mundo, estava estonteantemente bem
vestido em um terno cinza escuro e bem alinhando,
combinando com a gravata preta com finos riscos branco.
O cabelo penteou molhado todo para trás, sem deixar
nenhum fio perdido a solta, a barba por fazer dava-lhe um
poder estrondoso. Era a verdadeira elegância em pessoa.
– Entre senhor Jackson. – Mais uma vez a voz do
grossa de Thompson fez as pernas da mulher tremerem
feito gelatina.
– Não é senhor, é senhorita. – Disse ela em um tom
firme, desafiador. Na mesma hora Thompson levantou o
olhar para ter certeza do que tinha acabado de ouvir, sem
demoras avaliou minunciosamente o corpo da mulher de
curvas avantajadas diante de si, dentro de uma saia lápis
cinza com uma abertura na coxa deixando uma parte
considerável a mostra, uma camiseta branca três quartos
malha fina tão colada que parecia fazer parte da sua pele,
com um pequeno Blazer preto por cima. Na boca tinha um
batom vermelho fosco, o mais chamativo era o cabelo que
estava solto em cachos livres pelo ar, como se tivessem
vida própria. Pela expressão que o Juiz fez nunca tinha
visto algo tão "vulgar" em toda sua vida. John foi criado
de maneira antiga, onde as mulheres de respeito cobriam
pelo menos setenta e cinco por cento do corpo. Mesmo
assim não conseguiu conter os olhos que desceram
inexplicavelmente pelas curvas da jovem, dando uma
atenção especialpara os enormes seios, os mais belos que
tinha visto na verdade. Depois notou a forma curvilínea da
cintura da jovem era idêntica ao violão que tinha desde a
adolescência, as pernas eram grossas e firmes sustentadas
em um salto quinze também vermelho.
Depois de sua análise minuciosa, Thompson
percebeu que a jovem negra parecia ser atrevida tanto nas
palavras como também em suas vestes, a denominando
sem sombra de dúvidas ao grupo das "oferecidas", o tipo
que mais lhe causava repulsa, para não dizer nojo.
– Buenos dias, desculpas my atraso para lá
apresentacion, mas o trânsito está una loucura. –
Proclamou de forma muito séria o Assessor do Juiz
Alejandro Gonzalez, após chegar correndo para evitar o
confronto. Quando passou na recepção e soube da
presença da nova assistente ali, veio correndo, estava
ciente da vinda dela pois tinha visto o seu currículo e
ficado muito impressionado com a competência da jovem,
o problema seria convencer o Juiz disso.
– Quem é essa Gonzalez? – Perguntou com seu
humor sério matinal, sabia muito bem que o motivo do
atraso do Assessor era outro bastante diferente, mas não
se disponha de um pingo de paciência no momento para
discutir sobre o assunto com ele. Além de trabalharem
juntos eram amigos de longa data. John, como ninguém,
conhecia a vida de farra que o Assessor levava, e não
aprovava a postura mundana que o mesmo adquiriu para
si, sempre o aconselhou a arrumar uma mulher de respeito
para casar e gerar filhos. O problema era que ele preferia
as mais safadas que assim como ele não queria nada além
de se divertir, e essa ideia de ter algo sério com alguém
passava bem longe da cabeça daquele espanhol
mulherengo...
– Hum, pelo jeito lá niña acordastes de mal
humor hoje. – Alejandro, além de ser dono de um charme
enorme típico dos Espanhóis, aquele Latino obtinha um
senso de humor inigualável. Thompson nada respondeu,
estava nervoso demais com a presença daquela criatura
deplorável a sua frente.
– Eu sei falar, não precisa perguntar sobre mim
para terceiros sendo que estou presente. Meu nome é Yudi
Jackson, sua nova assistente.
– E quem te iludiu com isso Senhorita Jackson? –
John foi grosso fazendo Alejandro encará-lo de forma
séria, coisa muito rara se tratando do Latino.
– Talvez a prova que passei com a diferença de
trinta pontos do segundo colocado, Senhor.
– Não quero ela aqui González, mande-a para
outro departamento.
– No podemos John, la muchacha passou para
essa vaga my amigo, es Lei e no pudemos fazer nada. –
Disse Alejandro.
– Vossa Excelência, não sei qual o problema de
trabalhar comigo. Mas se me ser uma chance, prometo
provar que realmente mereço a vaga. – Mesmo nervosa
com a situação, não abaixou o olhar em nenhum momento
diante da postura firme dele, lhe encarava de frente. – Não
faz ideia do que já passei para chegar até aqui. – Tinha o
olhar longe, como se tivesse lembrado em algum momento
triste. Isso não passou despercebido a ele, nada passava.
– Eu entendo. – Realmente entendia, mas, ainda
não a queria lá. – Pode ir assumir essa função em outro
departamento, creio que você não combina com esse setor.
Vai ter dificuldades em se adaptar.
– Quanto a isso não se preocupe Vossa Excelência.
Porque sei ser educada com a pessoa, mesmo não tendo
simpatia por ela. Porém, quando são comigo também, é
claro. Cada um tem o que merece de mim, sugiro não
querer ver o meu lado ruim porque o bom já não é grandes
coisas. – Ela falava calmamente, conseguia manter o
controle mesmo estando nervosa, mas por dentro xingava
o homem da Lei de todos palavrões possíveis.
– Primeiro, se a senhorita não começar se referir a
mim de maneira adequada como seu superior, considere-
se presa por desacato a autoridade. Segundo, suas
vestes... – O seu olhar detalhado para o corpo da mulher a
sua frente contradizia a sua reprovação em relação ao
estilo da moça. – Não "combinam" com o seu novo local
de trabalho, se é o tipo que gosta de exibir enquanto
trabalha, creio que está prestando serviços no lugar
errado. E sobre o seu cabelo prefiro não comentar, apenas
mantenha-o preso por favor quando estiver aqui.
– Não entendi o seu comentário sobre a minha as
minhas vestes. – Tinha entendido perfeitamente. – Mas,
creio que elas não vão interferir de forma nenhuma no meu
trabalho afinal vou trabalhar com o meu cérebro e não
com o meu corpo. – Exclamou seria.
– Santo Dios, que mujer! – Alejandro exclamou
olhando freneticamente de um para o outro com o
semblante divertido, estava amando o debate dos dois.
– Se quer tanto a vaga, fique. Como disse não
posso te demitir por justa causa, mas posso fazer você
pedir para sair, não dou nem um mês para que isso
aconteça. – Lançou um olhar intimidador à mulher, mas
ela não saiu.
– Na minha vida sempre teve alguém querendo
puxar o meu tapete, mas nunca facilitei o trabalho delas.
Por isso cheguei onde estou. – Yudi sempre fora geniosa. 
Por outro lado, era estudiosa, trabalhou em várias
empresas como secretária e outras tantas funções como
babá, empregada doméstica, lavadeira entre outras.
Passando até fome para conseguir pagar os cursos que a
colocou onde estava, se conseguiu a vaga era porque
realmente merecia e não iria desistir dela tão fácil. –
Agora se me der licença vou ao RH assinar os papéis da
minha contratação. – Completou e saiu do Gabinete sem
pedir licença deixando dois homens de boca aberta com
tanta prepotência em uma só pessoa.
 
*** *** ***
 
No final de semana, o Assessor do Juiz Alejandro
Gonzales tomou um banho mais demorado do que de
costume, vestiu uma calça jeans escuro, colocou uma
camisa vinho de gola V da nova coleção Calvin Klein. O
cabelo arrumou sem pressa com gel, arrepiando os fios
praticamente um por um. Queria estar impecável para sua
primeira noite de farra na nova Boate Kankun. Aquele
Latino charmoso sabia bem como se divertir, sua infância
de refugiado em um país completamente desconhecido do
que nasceu, foi muito difícil. Se não fosse o pai de
Thompson ter contratando sua mãe como cozinheira na
época, sua vida poderia ter sido bastante diferente do que
é agora. Como não tinha com quem deixar Alejandro
Gonzalez para trabalhar, sua genitora levava a criança
com ela para o trabalho, John sempre foi muito fechado
com todo mundo. Desde pequeno o espanhol era
extrovertido, logo eles se tornaram amigos inseparáveis,
aliás foi o pai do Juiz que pagou os estudos dele na
mesma faculdade do filho até Alejandro arrumar um
emprego e querer pagar por conta própria. Nunca
esqueceu de onde veio ou de suas origens, ainda mais que
mesmo melhorando o estado Social de vida, sua família
fez questão de continuar morando no mesmo Bairro de
Imigrantes Espanhóis que os receberam com maior
carinho quando mudaram para ali, dentro de casa falavam
apenas a língua nativa, por isso o Latino tinha um sotaque
tão forte.
Se tornou um homem íntegro e muito competente
em tudo o que fazia, o sonho do senhor Thompson era ver
Alejandro Juiz como o filho, mas essa carreira era séria
demais, não combinava com a personalidade extrovertida
que o mesmo obtinha, então preferiu ficar apenas como
advogado. Nunca teve muito juízo, principalmente na vida
pessoal, tendo por muitas vezes problemas com mulheres
casadas. Para ficar de olho no amigo, John chamou o
mesmo para trabalhar com ele e estão atuando na
profissão que escolheram para si, juntos.
Chegando na entrada da Luxuosa Kankum,
Alejandro desfilou com o seu charme avassalador pelo
extenso tapete vermelho que dava passagem para o
interior do local onde ficavam apenas os clientes ultra-
Vips. Já do lado de dentro, o mesmo não passou
despercebido pelo olhar de nenhuma mulher que se
encontrava naquele estabelecimento. Não era apenas
beleza que habitava na postura daquele Espanhol
galanteador, era algo bem mais do que isso, também era
Dono de um charme fora do comum. Sua postura
esbanjava uma confiança esmagadora. Sabendo do vasto
poder que tinha em relação ao sexo oposto, Alejandro
ficava com várias ao mesmo tempo, mas não se apegavaem nenhuma. Corria de compromissos, prezava sua
liberdade mais do que tudo, principalmente do seu direito
de ir e vir sem ter que dar satisfação para ninguém. Até
porque aos olhos do homem a ideia de variar de parceria
sexual diariamente era maravilhosa. Sendo o tipo que
enjoava fácil de uma mulher após ir para cama com ela,
principalmente as patricinhas fúteis com quem costumava
sair, era no máximo duas ou três noites bem transadas no
apartamento que possuía apenas para isso, afinal o seu lar
era um lugar sagrado demais para esse tipo de coisa, era
como um santuário onde somente pessoas muito
importantes para ele adentrava. Depois que conseguia o
que queria desaparecia como em passe de mágica da vida
das pobres moças que iludia, sem nenhuma gota de
remorso sequer, de fato era um canalha de marca maior,
mas tinha um coração enorme, praticava muitos atos de
bondade para com os outros, sempre manteve em segredo
até mesmo de Thompson, seu melhor amigo desde garoto,
ajudava porque gostava e não para mostrar para os outros
que era bom.
Como de se esperar naquela noite nada menos do
que a metade das mulheres do evento se ofereceram de
bandeja para González, o problema era que nenhuma delas
chamou a atenção do Latino. Até o momento em que o Dj
convidou uma amiga para subir ao palco para cantar uma
música.
– Una bela desgracia estais sendo mi noche. –
Bufou o homem desanimado virando em um gole apenas
sua bebida cara.
A atenção de Alejandro foi totalmente tomada pela
voz que ecoou de forma sedutora aos quatros cantos do
lugar, era suave e extremamente sexy. O efeito nela no
Espanhol foi como o canto hipnótico de uma sereia. Era
um reggae misturado com uma batida envolvente, quando
colocou os olhos na dona da voz foi quando perdeu toda
razão de vez. Era uma negra de aproximadamente um
metro e setenta e cinco de altura, magra, porém com o
corpo cheio de curvas. O cabelo era todo em belas tranças
longas, usava uma camiseta branca e uma saia longa
florida cheia de pregas.
Somente a malevolência com que a jovem mexia o
corpo ao som da música, foi mais que suficiente para
deixar o Gringo deveras bastante excitado, foi preciso
ajeitar discretamente o enorme volume que se formou
dentro da calça jeans justa.
Assim que a bela jovem desceu do palco sobre
uma salva de palmas e muitos assobios dos homens,
Alejandro abordou a mulata na mesma hora.
– Hoje es tu dia de suerte muchacha! Escolhi tu
para ser my por esta noche. – O homem proclamou no
ouvido da moça no seu melhor tom sexy.
– E quem disse que eu quero ser sua Playboy? –
Mais afirmou do que perguntou.
– Porque yo prometo lhe proporcionar la mejor
noche de sexo de su vida! Nunca será comida ton bien
como pretendo lhe comer esta noche.
– Muito obrigada pela oferta, mas não estou afim
de ser sua refeição nem hoje nem nunca!
– Porque no? – Perguntou um latino inconformado,
afinal tinha se acostumando em conseguir a mulher que
queria, nunca sentiu a dor devasta que um não poderia
causar em um coração bandido.
– Porque não é pronto! – Retrucou.
– Me de apenas uno motivo para no querer ficar
comigo, porque sinceramente no vejo nenhum para una
mujer en lá san consciência no quiseres ir para cama
comigo, soy o sonho de consumo de qualquer una mi
carinho.
– É mesmo? Não me diga, acontece que eu não sou
“qualquer uma meu bem”. Além do mais você não faz o
meu tipo. – Disse cada palavra com o olhar intenso para o
homem a sua frente, que a encarava da mesma forma.
– Já olhaste para mi muchacha? Soy um hombre
de buena aparência e mucho dinheiro no bolso,
charmoso e que sabe ser muy generoso com quem
compartilha lá cama comigo.
A mulher da voz de anjo tão espantada com o que
acabara de ouvir, não respondeu nada. Se tinha uma coisa
que lhe causava repulsa em um homem era o excesso de
ego. Apesar de ter adquirido uma pose de durona para si,
sempre foi uma moça romântica. Cansou de ver a mãe
sendo espancada pelo padrasto bêbado, isso causou um
certo receio na jovem de se relacionar com qualquer um,
principalmente um igual ao tipo inusitado que lhe abordou
de forma tão grotesca. Sempre lutou muito cedo para
pagar os estudos e oferecer uma vida melhor para sua
genitora, as duas haviam acabado de se mudar de Nova
York para Washington, pois havia recebido uma proposta
irrecusável de trabalho que conseguiu através de um dos
seus antigos professores da faculdade, que indicou a
mesma quando soube da vaga. Chateada com a situação, a
mulher tentou se retirar de perto dele, mas foi impedida
pelo corpo másculo de Alejandro de quase dois metros de
altura, que se estacou bem na frente dela impedindo sua
passagem.
– Tu no puedes ir embora até hablar porque no
me queres. No me digas que no gosta de hombres?
– Eu não gosto de homem como você, que acha
que só porque é bonito e tem dinheiro pode ter a mulher
que quiser.
– Então tu assumes que me achas Belo mi
carinho? – Perguntou divertido com um sorriso charmoso
meio de lado.
– O que adianta tanta beleza por fora se é puro
vazio o que predomina aí dentro? Bonito superficialmente
você é, mas nada além disso. Também mesmo se fosse um
cara legal não adiantaria em nada, porque prefiro homens
negros, de preferência que fale a mesma língua do que eu.
Dessa vez Alejandro não impediu a moça de ir
embora, estava tão chocado com as últimas palavras da
desconhecida, sentiu cada uma atravessar o seu coração
como um punhal bem afiado. Nunca ninguém tinha o
tratado de tal forma, saiu da Boate desorientado
esbarrando em todos que vinham à sua frente, precisava
sair dali o mais breve possível.
 
******
 
No outro dia foi trabalhar com o semblante
fechado, carregando consigo vestígios da péssima noite
que tinha passado. A madrugada passou em claro
pensando que poderia até aceitar o fato dela não querer
ficar com ele por vários motivos, mas daí se atrever usar
como justificativa a cor da sua pele e o tão amado país de
onde veio foi inaceitável para ele.
– Gonzalez você poderia revisar esses relatórios
aqui para mim antes do próximo julgamento? – Thompson
entrou na sala do amigo trajando um dos seus ternos caros
e o cabelo impecavelmente bem arrumado como sempre,
tinha uma necessidade absurda de estar bem vestido vinte
e quatro horas por dia.
– No puedo! Estais cego ou o que John? No
estais vendo que estoy mui ocupado no momento?
O Juiz, em vez de se chatear com a má resposta do
amigo, achou graça, afinal quase nunca tinha visto o
Espanhol tão irritado. O mais hilário era que ele não
conseguia pronunciar o Inglês correto quando ficava
nervoso.
– No vejo nenhum motivo de lá graça. – Proferiu
mais irritado ainda levantado a cabeça para olhar para o
Juiz, que até então mantinha baixa, pois estava lendo
alguma coisa no seu notebook.
– O que houve para te deixar nesse mal humor
todo Alejandro Gonzalez? Logo você, o homem mais
irritantemente feliz do mundo. – Proferiu John com os
olhos e ouvidos atentos para saber o que tinha acontecido
com o amigo, se preocupava muito com ele, pois o tinha
como um irmão.
– Tu acreditas que ontem fui rejeitado por una
mujer porque soy branco e espanhol?
– Sabia que tinha mulher no meio.
– Tu ouviste o que yo disse John? Sofri racismo,
tu como Juiz era para fazer algo.
– Você não é nenhum santo Alejandro, para a moça
agir dessa forma você deve ter passado do ponto com ela.
O que está doendo não foi a ofensa em si, mas sim o “não”
que recebeu dela. Já estava na hora mesmo de achar
alguém para dar um jeito nessa sua vida de mulherengo,
mulher foi feita para ser cuidada por nós homens e não
para serem usadas por uma noite para na manhã seguinte
ser jogada fora.
– E tu estais precisando achar una mujer para
una transa bem dada para esquecer essa bobagem de
esperar até despues de tu casamento para dar uno trato
em la sonsa de tu noiva. – Thompson preferiu não dar
uma resposta para o amigo, pois sabia que o mesmo não
gostava de Suzana. Ouviram batidas na porta, Yudi entrou
enfiada dentro de uma calça social escura de cintura alta
bem acentuada ao corpo, um corpete branco de manga
longa mostrandouma pequena parte da barriga bem
definida, nos pés uma bota cano curto e salto alto na cor
azul marinho. O cabelo estava no habitual "bem armado".
O perfume dela quase levou o Juiz para outra
dimensão, nunca tinha sentido cheiro igual em sua vida,
simplesmente viciante para ele...
– A nova advogada chegou "Meritíssimo" posso
mandar entrar ou a Vossa autoridade maior nesse recinto
não pode atender a moça nesse momento?
– Mande-a entrar. – Respondeu apenas, bastou
Thompson ouvir a voz sarcástica da jovem para o seu
humor mudar do dia para a noite. Gonzalez que não era
bobo notou o clima forte que existia entre os dois.
– Pelo o jeito tu ja encontrates tal mujer. – O
Espanhol abusou da cara do amigo assim que Yudi saiu da
sala.
– Pare de dizer asneiras Alejandro, e revise
imediatamente os relatórios que mandei.
O Juiz ajeitou o terno e foi até a porta receber a tal
advogada nova que faria parte da sua equipe, estava
animado com a chegada da moça, afinal tinha sido muito
bem recomendada por um amigo.
– Entre por favor, sou Juiz Thompson seja bem
vinda a nossa equipe.
– Obrigada Senhor, prometo fazer o meu melhor
para merecer fazer parte dela. – John ficou surpreso com a
idade que a jovem aparentava ter, quando a indicaram foi
tão bem elogiada que pensou ter no mínimo uns trinta
anos, sendo que aquela a sua frente não deveria ter nem
vinte e cinco.
– Estamos fazendo algumas reformas aqui no
Fórum para receber o meu pessoal, por enquanto vai
dividir a sala com o meu Assessor pessoal Alejandro
Gonzalez. – O Espanhol que estava imerge a conversa,
pois tinha voltado toda atenção para a tela do notebook.
– Prazer, sou Solange Souza, sua nova colega de
trabalho.
– Você? – Os dois falaram na mesma hora assim
que o Espanhol pegou na mão dela e levantou a cabeça
para beijar seu rosto.
– Yo me recuso a trabalhar com esta mujer. – O
Espanhol proclamou irritado assim que reconheceu a
misteriosa cantora de belas tranças longas.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2
 
O clima naquele Fórum nunca esteve tão
fervoroso. John por sua vez, estava empenhado em um
trabalho árduo, no objetivo de se livrar da nova
Assistente o mais rápido possível. Chegou no prédio
antigo exatamente dez minutos antes das seis, elegante
como sempre, estacionou seu BMW na garagem escoltado
pelo seu pequeno exército de homens de preto, pegou o
elevador privado e apertou o único botão que dava acesso
ao gabinete. Assim que a porta se abriu, antes mesmo do
homem colocar os pés para fora, o aroma amadeirado da
sua loção pós barba tomou conta do ambiente em questão
de segundos.
Ainda era muito cedo, pelo silencio parecia ainda
não ter chegado ninguém, John por sua vez se orgulhou por
mais uma vez ser o primeiro a chegar no seu local de
trabalho antes de todo mundo, já dentro da sua sala
colocou a maleta em cima da enorme mesa de vidro
impecavelmente limpa, fazendo uma varredura minuciosa
com os olhos conferindo se tudo estava no seu devido
lugar. Vendo que sim, sentou-se na sua confortável cadeira
de couro preta. Começou antecipadamente revisar um
relatório, antes mesmo de terminar de ler o primeiro
parágrafo sua atenção foi tomada pelo aroma delicioso de
café que emanava por toda sala, se tinha uma coisa que
John amava era tomar um bem forte antes de começar o
seu dia, mas não o podia fazer com frequência por
recomendações medicas... Porém, na opinião dele apenas
pelo o cheiro aquele parecia estar esplêndido, não
poderia deixar de provar. Levantou apressado e foi a
passos largos em direção ao refeitório, não somente pela
vontade de provar do café, mas a curiosidade de saber
quem chegou tão cedo como ele também estava lhe
consumindo por inteiro, isso nunca acontecerá antes.
Quando chegou na porta deu de cara com a sua nova
assistente entretida quebrado e cantarolando alguma coisa
estranha em outra língua, era óbvio que ela não sabia o
idioma, mas mesmo assim cantava como se soubesse. Era
um funk brasileiro que ela tinha ouvido uma vez na rádio e
se apaixonou pela batida na mesma hora, abrindo o
armário grudado na parede de azulejo preto para pegar
uma xícara que ficava guardado na porta de baixo, quando
se virou, a mulher quase morreu de susto com o homem da
Lei parado na porta.
– Gostou? Para não dizer que sou má, se quiser
apertar um pouquinho eu deixo. – Disse de forma abusada
por conta da cara de bobo que John a olhava, ele estava
surpreso de encontrar ela ali naquele horário.
– O que você disse? – Ameaçou mais do que
perguntou.
– Perguntei se gostou do meu traseiro, já que o
Senhor estava daí a admirá-lo tanto, me olhando assim
com essa cara de cão sem Dono, me dá até vontade de
arrumar um bichinho de estimação para "brincar". –
Jackson era Mestre na arte de provocar, ainda mais
quando o seu alvo se tratava do tipo engomadinho a sua
frente.
– A Senhorita não parece ser o tipo de mulher que
brinca com "bichinhos de estimação". – Respondeu
Thompson avaliando as vestes da moça que naquele dia
parecia ter escolhido aquele especialmente para irritá-lo.
Vestia uma calça de tecido marrom escuro sem bolsos
atrás tão justa que o Juiz pensou que se Deus era justo a
roupa dela era mais. Acompanhada de uma camiseta bege
de alças finas balançando os seios fartos sem sutiã por
baixo não despercebidos aos olhos acinzentados, as
sandálias de salto fino azul púrpura reluzente que davam
para serem notadas à distância fez John se perguntar como
alguém conseguia se equilibrar em cima daquilo? De fato,
era muita vulgaridade para uma mulher só, concluiu por
fim.
– Então eu sou o tipo de mulher que brinca com o
que Meritíssimo? – O desafiou, era incrível como aqueles
dois não conseguiam conversar um com outro sem colocar
um segundo sentindo na frase, o abuso da irônica era
brutalmente forte de ambas partes, o clima que existia
entre eles era quase palpável.
– Não faça perguntas na qual não irá gostar da
resposta. – O Juiz pegou o recipiente cheio do líquido
fumegante em cima do balcão de mármore e tomou a
xícara da mão dela, voltou para o Gabinete sem dar
satisfação ou agradecer pelo o que estava levando com
ele. Para piorar a situação de Yudi, a jovem teria que
trabalhar ao lado da Assistente do Gonzales e da
secretaria que tinha lhe tratado de forma inadequada
quando chegou ali. As duas moças ambas loiras, estavam
tão bem vestidas sentadas em suas mesas que pareciam
estar em um desfile de moda, e não trabalhando.
– Não sei porque o Juiz contratou você, já que
tenho certeza que conseguiria dar conta de todos assuntos
dele sozinha, era para essa vaga ser minha, mas como ele
sempre contratou homens para essa função nunca tive
oportunidade nenhuma nem de tentar.
– Não teve ou não lutou por ela o suficiente? Pelo
o que eu sei a prova por essa vaga era aberta a todos,
então não jogue em mim a sua frustação por não ter
corrido atrás do que queria quando pode. – Se a moça
queria intimidar a novata tinha se dado muito mal, porque
Jackson nunca foi o tipo de levar desaforos para casa seja
de quem fosse.
– Não pense que vai chegar aqui colocando as
asinhas de fora porque isso não vai acontecer sua
oferecida, se não fosse de... – Pensou antes de falar para
não cometer um crime de racismo. – Com traços afro-
descendentes, poderia jurar que pelo seu jeito vulgar
poderia ter usado uma forma que só mulheres do seu tipo
usam para conseguirem o que querem, mas duvido que um
homem como o Juiz olharia para uma do seu "Estilo" meu
bem.- A secretaria do "Homem da Lei" proferiu tais
absurdos de uma forma abusiva, agora de pé Yudi notou
que a mesma tinha uns sete centímetro a mais do que ela,
vestia uma saia lápis cinza a baixo do joelho, uma blusa
social branca bem engomada. O cabelos agora soltos em
um perfeito corte Chanel, nos pés uma a sandália
caramelo com tranças dava um charme especial na parte
lateral, a maquiagem quase não tinha, se tinha estava
muito bem feita para não ser notada. – Mas já que está
aqui, aquela lá e a sua mesa. – Completou com desdém.
Assim que Yudi abriu a boca para responder à altura, a
porta do Gabinetese abriu revelando a imagem
galanteadora que somente aquele homem possuía. A
criatura que antes tinha pura arrogância mudou a
expressão de azeda para simpática na mesma hora.
Também não tinha mulher que resistia tal cena, o Homem
veio andando espalhando testosterona por toda parte sem
nem se dar ao trabalho de olhar para a oferecida, seus
olhos estavam ocupadas demais fixo na nova funcionária.
– Tenho uma reunião de extrema urgência com o
presidente daqui a vinte minutos. – Proferiu tal coisa com
tanta facilidade, como se já tivesse o encontrado inúmeras
vezes. – Sobre assuntos sigilosos em relação a segurança
da Casa Branca.
– Sim senhor, vou preparar tudo que vamos
precisar Meritíssimo, e já estou indo. – A mulher de
cabelos dourados sem demoras começou a separar alguns
papéis dentro de uma pasta transparente localizada em
cima da mesa.
– Não estou falando com você Amanda, eu quero
ela. – A voz grossa e a forma como John proclamou cada
palavra à jovem negra era de se arrepiar por inteiro.
– Mas Senhor, ela chegou aqui praticamente agora,
não deve nem fazer ideia de como agir para satisfazer as
suas necessidades perante a um momento inesperado.
– Duvido muito que não. – Novamente Thompson
respondeu deixando a dúvida pairar no ar sobre do que
realmente estava se referindo, apesar que o seu olhar
desafiador em cima da moça deixava bem evidente do que
se tratava. Aquela situação lhe pareceu perfeita para
colocar a Assistente em uma saia justa, afinal não era
qualquer um que conseguiu manter a calma diante do
Presidente, com ela não seria diferente. Queria ver até
onde ia a valentia dela tendo que se virar sozinha no meio
de tanta gente importante.
– Desculpe Senhor, mas não acho justo ela ocupar
um lugar que é meu por direito. – A mulher tinha o rosto
tomado por um tom avermelhado por conta da raiva que
não estava fazendo nenhuma questão de esconder.
– Sua por quê? Sendo que ficou em vigésimo lugar
na prova, se prepare melhor e tente da próxima vez. – O
homem da Lei foi firme como em tudo que dizia.
– Se faz tanta questão de ir querida, vai na fé e
seja feliz. – Pela primeira vez ouviu-se a voz de Yudi
naquele recinto, era uma mulher esperta. Sabia muito bem
que tinha muita coisa atrás da vontade súbita na intenção
do Juiz em querer leva-la consigo, realmente a entojada
em dizer que ela era muito nova ali para acompanha-lo em
uma reunião tão importante vez do seu cão fiel de guarda.
Se tratava de uma armadilha e ela tinha completa noção
disso.
– Quem decide quem vai ou não sou eu! Então
sugiro que esteja pronta rápido Senhorita Jackson,
sairemos em menos de cinco minutos.
 
***
 
Os portões da Casa Branca se abriram para os
carros da equipe do Juiz entrarem, ele não deixou de
reparar no semblante iluminado que se apossou do rosto
da moça que olhava cada detalhe do lugar encantada.
Cavalheiro como era, desceu primeiro e abriu a porta
para a nova Assistente, a mesma simplesmente passou
para o outro lado do Banco do carona e saiu, achou muito
hipócrita da parte dele querer dar uma de bom moço
sendo que a trouxe ali com um plano maquiavélico em
mente.
– Obrigada pela gentileza, mas não sou aleijada
nem nada. Guarde suas boas maneiras para aquelas que
apreciam esse tipo de frescuras. – Yudi proferiu tais
palavras carregadas de grosseria, isso era especialidade
dela quando o assunto era ele, passou rebolando com o
seu traseiro enorme na frente dele e da tropa de guarda
costas que o acompanhava.
Thompson teve que contar até dez para conter a
vontade de torcer o pescoço da assistente metida andando
a sua frente segurando um monte de pastas como se fosse a
executiva do ano. Do outro lado do jardim tinha vários
homens trabalhando na construção de uma estufa para
cultivar flores silvestres, quando viram aquele monumento
desfilando pela calçada, não aguentaram e tiverem que se
manifestar diante de tal maravilha.
– Ohhh lá em casa em!
– Que mulata gostosa!
– Vou te dar um trato moreninha boa!
– Não sou fuso Horário morena, mas se quiser
pode vir aqui fazer uma hora "extra" comigo!
Os homens gritavam sem nenhum pudor, Yudi
desaforada como era ameaçou respondê-los na mesma
hora, mas ficou paralisada assim que observou o Juiz
atravessado o Jardim ajeitando o terno de forma elegante
deslizando logo após as mãos para dentro do bolso sem se
importar com a lama agarrando no seu sapato bem
engraxado na direção dos indivíduos.
– Primeiro ela não é "Mulata", "Moreninha" ou
"Morena". Ela é Negra. Já ouviu falar dessa raça? Para
mim é a mais linda e autêntica que existe no mundo. Não
vejo motivo para ficarem inventando rótulos para se
referir a cor da pele de uma pessoa, seja ela branca, azul
ou amarela, até porque o correto de chamar alguém é pelo
nome e não por apelidos supérfluos inventados por gente
ignorante que não sabe distinguir a diferença entre cor e
raça. Sobre o termo "gostosa" ele só deve ser usado
depois que se prova alguma coisa, algo que nunca vai
acontecer no caso de vocês meus amigos, pelo menos não
enquanto eu viver. Tenham um bom dia. – Mesmo
contendo um peso enorme em suas palavras, John
exclamou cada uma com muita leveza, sua extrema
educação não deixaria que o fizesse de outra forma.
Os homens que antes falaram o que queria, não
tiveram voz para responder nada para o Juiz, deixando
assim o silencio falar por eles o quanto estavam
envergonhado por seus atos. Thompson passou pela
assistente paralisada com um semblante confuso no rosto,
como se não tivesse feito nada demais. Para ele na
verdade foi mesmo, pensava que aquilo era uma atitude
normal que qualquer homem de verdade tomaria. Já para
Yudi, aquilo lhe tocou de uma forma massacrante, afinal
ninguém nunca lhe defendeu daquela forma.
– Obrigada. – Agradeceu a jovem assim que
entrou na mansão, poderia ser muitas coisas, mas ingrata
não era uma delas. O Juiz a olhou de forma séria sem
saber do que a mesma estava a falar.
– Por que? – Perguntou o Meretíssimo realmente
sem saber do que se tratava.
– Por ter me defendido com aqueles idiotas, o meu
pai no seu lugar teria dito que sou culpada por me vestir
assim na intenção de provocar os homens. – Yudi parou de
andar pelo grande Salão de luxo e começou a fitar os pés
sem coragem de encarar os belos olhos azuis
acinzentados, esse assunto a deixava um tanto que
sensível.
– E é mesmo. Se quer respeito dos outros, tem que
ter uma postura descendente para isso. O fato de eu ter
colocado aqueles Senhores no lugar deles não tira a sua
grande parcela de culpa no ocorrido, pelo jeito o seu
genitor até tentou lhe ensinar a ser uma pessoa descente,
uma pena que os esforços dele foram completamente em
vão. – As palavras do juiz entraram na jovem como uma
espada de dois gumes, por um momento pensou estar
ouvindo alguns dos inúmeros discursos cruéis que o pai
fazia sobre a personalidade promíscua que, segundo ele, a
filha tinha adquirido para si.
– Já que pensa assim, retiro o meu agradecimento,
da próxima vez fique calado e deixe que eu me defenda
sozinha, tenho feito isso desde que me entendo por gente.
– Jackson depois de muito tempo sendo forte sentiu uma
enorme vontade de chorar, mas não o fez para não dar o
gosto ao Thompson de ter a ferido.
 
***
 
Alejandro estava ignorando por completo a intrusa
que tinha se apoderado da sua sala, depois de muita briga,
acabou sendo obrigado a aceitar dividir o seu ambiente de
trabalho com a moça até que a dela estivesse pronta.
– Senhor Gonzales, sei que começamos com o pé
esquerdo lá na boate, mas agora que vamos trabalhar
juntos pensei que poderíamos esquecer tudo o que passou
e começamos do zero o que acha? – Incomodada com o
clima pesado do ambiente Solange tentou fazer as pazes
com Alejandro.
– Tu es una mujer metida e sem corácion sabia?
No tem bom gosto para hombres e nem es tão bela assim
para ficar escolhendo com que queres ficar, também no
gosto de tu cabelo. – Mentiu, achava ela a mulher mais
linda que já vira na vida. – Agora si podemos
esquecermos tudo que passates e começarmos do zero
muchacha. – O sínico disse-lheoferecendo a mão e o
melhor sorriso que tinha, se a cantora misteriosa não
tivesse tão abobalhada admirando o sorriso perfeito do
Espanhol teria dado um soco bem dado bem no meio
daquele rosto bonito dele. Para não cometer uma loucura,
deixou o homem falando sozinho e voltou a se sentar na
mesa que foi improvisada do outro lado da sala
especialmente para ela, agora era a mesma que fazia
questão de ignora-lo por completo. Não demorou cinco
minutos para o celular da advogada tocar para o Latino
atrevido quase cair da cadeira quando escutou Solange
dizer "Alô amor".
– O que este hombre tem que yo no tenho Sol? –
A pobre mulher quase infartou, a figura do Espanhol se
materializado bem a sua frente em uma fração de segundos
com os braços cruzados em cima do peito, batendo o pé
no piso liso freneticamente demostrando o quanto estava
nervoso.
– Rafa, depois eu te retorno, pode ser querido? –
Solange desligou o aparelho, encostou os cotovelos em
cima da mesa e levou as mãos na cabeça fechando os
olhos respirando bem fundo na intenção de se acalmar um
pouco.
– Uhh querido my carinho? Pelo jeito este
hombre es muy importante para ti no es Sol. – Ele
parecia uma criança birrenta falando.
– Primeiro, quem me chama de Sol são as pessoas
próximas a mim, no seu caso Senhorita Medeiros está
ótimo. Quanto a sua pergunta não vejo o porquê ficar
falando sobre o que o Rafael tem ou não melhor do que
você. – Solange perdeu a paciência ficando de pé
apontando o dedo bem na cara dele, o que não o intimidou
em nada, pois ela era baixa diante de um homem alto e
másculo como ele.
– Tu fica tão gostosa assim nervosa my carinho,
que até esqueço lá mujer insuportável que tu es my
amor. – Alejandro puxou a mulher pela cintura apertando
ela contra a mesa, Solange não conseguia mais ter
controle do seu corpo que tremia sem parar nos braços
dele, o Espanhol tinha um pegada forte. Isso ela não
poderia negar.
– Me... Solta... Cretino! – Nem pela voz ela tinha
mais controle, não conseguia pronunciar uma palavra sem
gaguejar.
– No precisa dizeres o que este Rafael es mejor
do que yo carinho, seja lá o que for, vou mostrar para ti
que puesso ser muy mejor que ele my amor. – A boca
dele estava tão próxima a dela que podia sentir calor do
hálito fresco de menta dele tocar no seu rosto.
– Duvido, o que ele significa na minha vida você
nunca vai conseguir superar Gonzales. – Dentro dos olhos
de Sol trazia uma dor enorme, mas despercebida pela falta
de sensibilidade de Alejandro.
– Es o que veremos Carinho, no entro en una
briga para perder. – Ele falava cada palavra depositando
beijos pelo pescoço da moça.
– Desista. Você não tem chance contra ele. –
Solange lutou contra a força da atração evidente entre os
dois se soltando dos braços dele e saiu correndo, mas não
de ouvir uma última provocação do Latino.
– Essa já está ganha my amor! – Gritou Gonzáles
alto o suficiente para a moça escutar, sempre gostou de um
desafio. Agora que o seu orgulho tinha sido ferido não iria
parar até provar que é capaz de conseguir o que quiser,
ainda mais agora depois de senti-la tão próxima a si
aumentou ainda mais a vontade louca de dividir sua cama
com aquela Deusa de Ébano.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 3
 
— Vamos. – Ordenou Thompson sem paciência
andando a passos largos pelos corredores da Casa
Branca, Yudi estava quase correndo para conseguir
acompanhar o homem. Quando chegaram na sala ampla,
onde eram tratados apenas assuntos sigilosos do
Presidente, todos os convidados estavam mais ansiosos
com a chegada do Juiz do que a do próprio Presidente. 
Também não poderia esperar uma reação diferente deles
já que os criminosos mais perigosos do país tinham sido
pegos pelo homem, os presentes ali o viam como uma
espécie de ídolo, para não dizer Deus. A sala era enorme
com uma mesa de madeira gigantesca bem no centro, cheia
de cadeiras acolchoadas com tecido vermelho aveludado
imitando o modelo da realeza da época Medieval, na
última da ponta a direita se encontrava o presidente
sentado de forma elegante, atrás do chefe de Estado tinha
um mastro com a Bandeira dos Estados Unidos. Todos
ficaram de pé para receber o Juiz, que apareceu
caminhando com sua postura máscula, trazendo consigo o
seu típico humor sério matinal, cumprimentando todos
com um leve aceno de cabeça, já a sua Assistente veio
desfilando como uma modelo de propaganda de creme
dental, distribuindo sorrisos para cada um presente
naquele recinto, era simpática demais. Não sabia ser de
outra forma. O Chefe evitava olhar para ela para não se
irritar mais do que já estava.
— Bom dia! – Exclamou com prosápia, como se
ninguém ali soubesse quem ele era. A voz imponente do
Juiz prendeu a atenção de todos como a força de um imã,
isso apenas com um simples cumprimento, algo normal se
tratando de Thompson. O que era para ser uma simples
reunião, parecia mais um encontro dos chefes de
segurança máxima, tinham Policiais trajando todo tipo de
farda, fora os homens de terno preto e óculos escuros que
fizeram a língua da Yudi coçar de vontade de perguntar se
eram do C.S.I Miami sua série favorita.
— Olá John, como vai meu amigo? Já faz um
tempinho que não saímos para pescar.
— Temos que marcar o quanto antes amigo,
porque não me recuperei da última vez quando você
pescou três vezes mais do que eu. — Desde o dia que
conheceu o Juiz, aquela foi a primeira vez que a
Assistente o viu conversando tão introsadamente, a jovem
não soube decifrar se tal imagem era humano ou celestial.
O rosto quadriculado com covinhas reluzentes quando
sorria eram perfeitas, dando lhe um eterno ar jovial. Os
cílios longos davam ainda mais beleza ao par de olhos
acinzentados, os dentes eram incrivelmente brancos, muito
bem alinhados pela própria natureza. Não somente a
jovem como as outras poucas mulheres presentes no local
estavam abobalhadas com a beleza do Homem da Lei.
John sentou ao lado do Presidente, sua assistente se
acomodou bem ao lado dele com os ouvidos atentos para
não deixar de anotar uma vírgula que fosse.
— Bom, o motivo desta reunião... — O presidente
começou a falar com o semblante fechado, sinal que o
assunto era mais do que sério. — Se refere as notícias que
vem estampando as capas dos jornais nos últimos dias,
sobre os jovens mortos pelos policias sem motivo algum,
este é um problema muito grave. Diante de grande
calamidade em questão, eu mesmo faço questão de
resolver pessoalmente esse assunto. – Afirmou o
presidente dos EUA, ao comentar de Varsóvia, os dois
assassinatos de negros por policiais em menos de vinte e
quatro horas, nos estados de Louisiana e Minnesota. A
secular tensão racial americana ganhou novos contornos
com a tecnologia: os dois casos foram filmados e, o
último, transmitido ao vivo pelo Facebook, gerando uma
onda de protestos em todo o país. Obama pediu que as
polícias locais implementem as reformas sugeridas por
uma força-tarefa no ano passado, após outros casos
semelhantes.
— Estes não são incidentes isolados, são
sintomáticos de um conjunto mais amplo de disparidades
raciais em nosso sistema criminal. — Afirmou o
presidente, que viajou à Europa para a cúpula da Otan,
afirmando que casos como estes têm se repetido muitas
vezes. — Todos nós, como americanos, devemos ficar
perturbados por estes tiros.
Logo em seguida, são mostrados vídeos, relatos e
estatísticas sobre os referidos casos expostos na presente
reunião com o presidente dos Estados Unidos da América
sobre a atual situação.
— Devido a tantos casos vindo tristemente se
repetindo resolvi fazer essa reunião em carácter de
urgência com vocês, para pedir que treinem os seus
homens de forma adequada para que tais absurdos não
voltem a acontecer. — O presidente dessa vez não tinha
simpatia no rosto, sua expressão de pura perplexidade
diante do assunto, fazendo um aceno para que o Juiz
assumisse dali.
— E que fique bem claro que estou criando uma
Lei em parceria com o Presidente para punir não somente
o Policial que cometeu o crime, mas também com pena
igual ou maior para o seu superior.Ética no trabalho, isso
é algo profundamente necessário para um ambiente
saudável. Mesmo que não existisse uma Lei formalmente
definida para isso, em geral existe um conjunto de
aspectos que são considerados como "bom senso", fato
essencial que significa, muitas vezes renunciar a
oportunidades de se obter dinheiro, status e benefícios.
– Se os seus princípios e valores estiverem
ajustados de maneira correta dentro de si, a decisão ética
será sempre a correta. – Yudi ficou encantada de ver o
Homem da Lei atuando, a forma séria e mandona como
sua voz saia parecia uma ordem e não um discurso. –
Podendo assim, reduzir os conflitos, facilitar o trabalho
principalmente de vocês Polícias que são pagos para
proteger as pessoas, e não matá-las. Isso de darem a
mesma desculpa que “se confundiram” porque a maioria
dos bandidos são negros é um verdadeiro absurdo e tem
que ter um fim. — Thompson disse curto e grosso, fitando
cada homem sentado naquela mesa com um olhar que dizia
“Estou de olho em cada um de vocês”.
O Chefe da Polícia onde dois jovens negros foram
mortos chegou a engolir a seco com medo do Juiz,
pensando se essa tal lei já estaria ou não em vigor no
julgamento dos seus homens, o que ele não sabia era que o
nome dele já estava no tribunal à muito tempo. John
realmente era bom no que fazia.
— Na verdade a Maioria é Sim. — Yudi pensou
alto enquanto escrevia distraidamente alguma coisa no seu
bloco de notas com uma caneta nada discreta, com uma
bonequinha de uma famosa atriz dos anos 60 e 70
levantando a Barra do vestido e os peitos quase voando
para fora do decote fazendo cara de safada, bem na ponta.
— O que a Senhorita disse? — Perguntou o
Presidente para a jovem, chamando a atenção de todos os
olhares que estavam nele agora sobre ela. Principalmente
o do Juiz que estava em um tom avermelhado por conta da
enorme raiva que estava sentindo em saber que a única
opinião contra sobre o que acabara de dizer era a da
própria Assistente dele.
— Fique à vontade para dizer o que quiser
querida, não é John? — Disse a Primeira Dama chegando
ao recinto apressada, trajando um vestido azul escuro, se
sentando ao lado esquerdo do presidente, mas não antes
de dar um beijo no rosto do rabugento antigo amigo da
família, e um leve selinho nos lábios do marido. –
Desculpem o atraso. – Boa companheira que era, a
primeira dama fazia questão de acompanhar o marido em
todas as reuniões, vivida como ela era, notou
imediatamente a forma repressiva que John olhava para a
Assistente. Yudi quase desmaiou na frente de todos, via
sempre a Primeira Dama em revistas e progamas de Tv,
tinha a mesma com um verdadeiro exemplo de mulher.
Nas fotos a achava linda, mas de perto achou ainda mais.
— Então Senhor Presidente, eu disse que de fato a
maioria dos bandidos espalhados por aí são negros.
Cresci na Periferia e entendo bem do que estou falando,
sabe porque tantos dos nossos irmãos estão nessa vida? A
resposta é a falta de oportunidade de emprego, não
adianta o Senhor ensinar os Policiais a trabalhar da forma
adequada se o número de criminosos na Rua continuarem
enormes do jeito que estão, o certo seria implantar mais
oportunidades de trabalho nos Bairros mais carentes. É
fácil julgar um bandido quando não se sabe o que o
criminoso está passando em casa, deve ser horrível ver os
filhos chorando pedindo comida e não ter nada para dar,
muitos estão nessa vida porque gostam, eu sei. Porém, tem
aqueles que apenas desistiram de serem honesto depois de
ouvirem tanto “Não”, a fome pode deixar uma pessoa em
desespero Senhor. — Jackson abaixou o olhar, pois a
lembrança de que um dia passou por aquilo veio em cheio
a sua mente. Thompson como bom observador notou a
mudança nas feições da moça, a forma pesada do seu
respirar só fez ter certeza que aquelas palavras bonitas
escondiam muito mais coisas do que a jovem deixou
transparecer para todos, menos para ele.
— Também seria legal que as escolas adquirissem
uma forma diferenciada dos professores ensinarem para
as crianças que elas não descendem de escravos, mas sim
de pessoas que foram escravizadas, o que é bastante
diferente se todos pararem para pensar. —Nesse momento
não se ouviu se quer o barulho da respiração de ninguém
na mesa, a atenção de cada uma estava voltada para o que
a jovem dizia.
— Chega de contar apenas a parte humilhante da
história, não é senhor Presidente? Bom eu acho. —
Jackson falava com uma naturalidade tão grande que
parecia estar apenas os dois ali em uma conversa casual,
e não com o homem mais importante do mundo. O
presidente por sua vez estava embasbacado com cada
palavra que saía da boca moça, que apesar da
simplicidade sabia muito bem sobre o que estava falando,
e como um quebra cabeça ele foi montado com peças que
ele vinha juntando a muito tempo através do que ouvira.
— As pessoas nos veem de forma inferior porque
aprenderam assim, pensam que podem fazer o que
quiserem com a gente porque temos menos valor do que
eles. Não é justo alguém te julgar pela quantidade de
melanina presente na sua pele ou pelo tamanho das vestes
que cobre o seu corpo, sou mulher e mereço ser
respeitada independente da parte do meu corpo que esteja
a mostra ou não. O problema da sociedade é se vender
barato de mais por aquilo que os olhos podem ver, sendo
que o essencial Deus fez questão de esconder em um lugar
onde apenas as pessoas boas de verdade consegue
enxergar. Não adianta dar uma bíblia para o preso na
cadeia se quando era pequeno ninguém lhe ensinou como
rezar. Essa nova Lei pode até ajudar, mas não resolverá o
problema. Afinal, não vão matar por medo e não porque
acreditam que é errado.
— Seguranças tirem essa mulher daqui. —
Exclamou a Primeira Dama fingindo indignação. — Antes
que eu morra de tanta inveja diante de uma mulher incrível
e autêntica como essa, você é poderosa e lacradora minha
filha. Que não tem medo de falar o que pensa, veste do
jeito que se sente bem e não está nem ligando para nada
nem ninguém. Acabou de dar a melhor aula de cidadania
que o Presidente poderia ter na vida e uma boa lição de
moral para muitos presentes aqui, você minha jovem, é o
ser mais autêntico que conheço na minha vida, sua
coragem de ser você mesma não só encantou a mim como
a todos presentes. – A Mulher do Presidente olhou para o
Juiz que fingia estar inerte ao assunto. – Será uma honra se
alguma das minhas filhas terem a metade da sua força de
vontade algum dia. Você, apenas com essas simples
palavras, me fez sentir orgulho de ser mulher,
principalmente de fazer parte da Raça negra. —
Completou Michele com os olhos marejados de lágrimas
indo em direção a jovem para abraçá-la.
— Seu pai deve sentir orgulho de você. —
Proferiu o presidente.
—Na verdade não. — A jovem tinha um sorriso
triste nos lábios e os olhos voltados para o chão
novamente, mas preciso na direção dos pés, era assim
quando ficava envergonhada com alguma coisa desde
quando era criança. Thompson percebeu mais uma vez que
Yudi não estava bem, apesar de pouco tempo juntos ele
estava começando a pegar os pequenos trejeitos de
Jackson.
— Não vejo o porquê de não se orgulhar de uma
Filha como você. — Comentou o presidente de forma
sincera.
— É que ele está ocupado demais julgando o que
sou por fora, em vez de enxergar o que realmente carrego
por dentro. — A Assistente proferiu tais palavras com o
olhar fixo aos do chefe, os dois sabiam muito bem que as
palavras dela foram mais para ele do para o próprio
genitor.
— Sinto muito querida. — Michele havia gostado
tanto da jovem que ainda estava abraçada com ela.
— Tudo bem, já estou acostumada a lidar com
esse tipo de gente.
Depois do Show dado pela Yudi, a Primeira Dama
esperta como si só pediu para a mesma para sentar ao
lado do Marido, queria que ele pedisse a opinião de
Jackson sobre todo assunto que surgissem em pauta, ela
como na primeira vez arrasa em cada resposta.
– Você está anotando tudo que a Senhorita Jackson
está falando Mateus? – Perguntou o presidente ao seu
secretário, um jovem branco alto de cabelos cumpridos,
os olhoseram cor de folha seca, um verdadeiro charme.
– Claro Senhor, estou prestando atenção em cada
vírgula que sai dos belos lábios da Yudi. – Disse o
secretário de frente para Jackson, de uma forma
visivelmente interessando nela. O olhar dele era dividido
hora na tela do seu notebook, hora nos olhos negros da
moça. Thompson mesmo disfarçando bem estava a ponto
de chamar a atenção do pobre rapaz por ter tido a ousadia
de chamar a Assistente pelo primeiro nome.
– Tenho certeza que está, você parece ser muito
inteligente Matheus. — Respondeu Jackson
simpaticamente sorrindo, meio sem jeito para o
secretário, ela passava a mão pelo cabelo volumoso
mostrando o quando estava nervosa com os olhares
descarados dele em sua direção.
— Você veio aqui para trabalhar, e não para ficar
de conversinha com outros. Então se coloque no seu lugar
antes que eu perca o pouco de paciência que ainda me
resta com você Senhorita Jackson. – Ser grosso não fazia
parte do feitio de John, mas a conversa cheia de segundas
intenções dos dois o irritou profundamente.
– Tudo bem Yudi, depois a gente marca alguma
coisa fora do seu horário de trabalho. – A Piscadela que o
Secretário fez para ela ao proferir tais palavras ocasionou
em uma guerra interna dentro do Juiz, era um rebuliço tão
grande se formando dentro de si que estava a ponto de
explodir.
– Será um prazer Matheus. – O homem da Lei
reparou pela primeira vez como o sorriso de sua
assistente era lindo, também ela não costumava sorrir
quando estava perto dele, ou melhor para ele na verdade.
– Sua Assistente vai longe John, ela é muito
inteligente e extrovertida. – Comentou a primeira dama
animadamente no final da reunião.
– Bastante. – Respondeu desatentamente segurando
um copo de whisky francês que levava a boca de forma
natural como se fosse um suco de laranja, olhando
incomodado a conversa animada de Yudi com o novo
“amigo”.
– E a sua noiva Suzana, como vai?
– Deve estar bem. – Respondeu sem paciência,
não estava afim de papo no momento.
– Você está se sentindo bem John? Parece que está
suando, o engraçado é que aqui nem está quente, na
verdade estou até com um pouco de frio.
– Esse calor que estou sentindo pode ter certeza
que não é por conta do clima querida. — Comentou o
presidente dando um beijo nos lábios da esposa notando o
motivo da raiva do amigo. Pela primeira vez depois de
anos conseguindo manter adormecido dentro de si um lado
sombrio, Thompson começava a mostrar vestígios que ele
estava voltando à tona com tudo, misteriosamente depois
da chegada de Yudi em sua vida.
– Quer um pouco de água meu bem? – A primeira
dama estava realmente preocupada com o homem, que
cada vez suava mais é mais, principalmente as mãos.
--Não. Obrigado Senhora, apenas me faça o favor
de dizer para a Senhorita Jackson que estou esperando ela
no carro, agora.
 
 ***
 
— Parabéns senhorita Jackson, sua presença foi
muito útil na reunião de hoje. — Já de volta para o Fórum,
John mesmo ainda irritado sem nem saber ao certo o
motivo, não pode deixar de elogiar a Assistente. Até
pensou em te dizer mais coisas que caberia perfeitamente
no momento, como esperta, ágil, irritantemente
maravilhosa em cada palavra que falava. Porém, preferiu
guardar essa parte apenas para ele, se Deus com todo sua
soberania não tinha dado asas a cobra, não seria ele, um
mero mortal, que faria tal façanha. Sem elogios, aquela
mulher já era insuportável na opinião dele, elogiada então
ninguém aguentaria ficar perto dela. Meneou um meio
sorriso de lado e balançou a cabeça de forma
negativamente se perguntado o porquê estava pensando
aquelas coisas sendo que tinha outras muitos mais
importante para pensar como o caso do Noem Said.
— Obrigada. — Respondeu apenas olhando a
paisagem pela janela do carro, ainda estava chateada de
mais com as palavras que ele disse para ela na Casa
Branca.
Depois que voltaram para o Fórum não se viram
mais o resto do dia todo. Na hora de ir embora,
Alejandro entrou emburrado no elevador na companhia do
amigo, ele sempre andava sorrindo, mas depois da
chegada de uma mulher chamada Solange em sua vida, o
seu mal humor apareceu de uma hora para outra.
— Você está bem Gonzalez? — Thompson não
estava acostumado a ver Alejandro sério daquele jeito.
—Yo no estoy, e lá culpa es toda sua caro amigo.
— Porque você não me culpa também porque a
mocinha das novelas das nove não quer ficar com o Galã?
— John até tentou fazer uma piada, mas por mais boa que
fosse não teria muita graça, o Mestre em fazer graça era
Alejandro.
— Tu Tambien assistes lá novela das nove John?
Pensei que era só yo, tu achas quem foi o assassino de lá
Samanthita? Si ben que aquela mujer mereceu morrer no
capítulo de ontem. — O Juiz teve que fechar os olhos e
respirar fundo para não fazer uma loucura com o
Espanhol, odiava televisão, principalmente as novelas.
Achava tudo uma perda de tempo, a única coisa que
costumava assistir muito a contragosto às vezes era o
Telejornal para ficar por dentro das notícias.
— Ei segura aí para a gente. — Assim que a porta
do elevador estava acabando de fechar, Yudi apareceu
correndo com a Solange para entrar, as duas tinhas se
tornados amigas assim que se viram. Praticamente como
duas irmãs, principalmente porque eram as únicas
mulheres negras trabalhando naquele andar.
– Obrigada Meretíssimo. – Yudi falava a palavra
de um jeito que a sua voz sedutora fazia sentimentos
ocultos criarem vida dentro do Juiz, era como se existisse
um vulcão pronto para entrar em erupção a qualquer
momento.
– Sol, o que acha de sairmos esse final de semana
para dançar? – Yudi tentou quebrar o Silêncio que
emanava dentro daquele lugar que estava apertado de
mais para os quatro, o clima era tão palpável que poderia
cortar com uma faca.
– Não sei nega, o Rafael me chamou para ir
passear no Parque sábado, não consigo dizer não para ele.
– Yo espero que chova neste final de semana. –
Bastou o Latino ouvir o nome do seu misterioso rival para
se manifestar. O elevador parou entrando um advogado
da Defensoria Pública desejando Boa tarde a todos com
um enorme sorriso no rosto, oferecido principalmente
para as moças.
– Está bom amiga, mas quando o Rafael te der uma
folga vamos sair sim, estou louca para te ver cantando.
– Nossa, que legal, uma famosa entre nos. Se me
chamarem no dia eu vou também. – O estranho entrou na
conversa sem ser convidado, a simpatia exagerada do
mesmo estava deixando os dois amigos impacientes, a
sorte foi que logo chegou no primeiro andar onde as
jovens desceriam, pois Alejandro estava a ponto de
quebrar o pescoço do homem caso o mesmo olhasse para
Solange novamente.
– Quem sabe um dia amigo. – Respondeu Solange
antes de sair do Elevador acompanhada logo em seguida
pela Yudi.
— Se sorrir novamente dessa forma para elas... —
Thompson que tinha o olhar fixo para a porta grossa de
aço que tinha acabado de se fechar, agora estava com as
grandes esferas azuis voltadas de forma ameaçadora para
o homem assustado a sua frente de aproximadamente dez
centímetros a menos do que ele, trajando uma roupa
social, porém jovial. — Principalmente a de calça
marrom, darei um sumiço tão bem dado em você que nem
a sua mãe lembrará que um dia teve um filho. — O
homem, que antes tinha um sorriso galanteador no rosto,
no mesmo momento apertou o botão várias vezes seguidas
para descer dois andares antes do seu de tanto medo que
ficou, não das palavras do Juiz, mas sim da forma sombria
que ele as dissera. Thompson era um homem bom, porém
quando queria parecer mal era melhor ainda.
— E no penses em dar una de esperto muchacho,
porque soy capaz de achartes tu até no inferno. —
Completou Alejandro antes do homem sair correndo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 4
 
Não era nem sete da manhã quando Yudi escutou
batidas escandalosas na sua porta, levantou resmungando
alguns palavrões e batendo o pé em alguma das várias
coisas jogadas pelo chão e abriu.
– Isso são horas de acordar minha filha? –
Reverendo Joseph Jackson chegou trajando seu
costumeiro

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