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2 3 ▪ Analisar a situação brasileira à respeito de empreendimentos públicos, parcerias de investimento e reformas jurídicas. ▪ Especulação do estudo: as reformas jurídicas são capazes de contribuir para a ampliação da infraestrutura no Brasil? ▪ Empreendimentos públicos: aqueles cuja implantação cabe juridicamente ao Estado ▪ Exemplos: rodovias, ferrovias, redes de serviço público de telecomunicações. ▪ A implementação pode ocorrer diretamente, por meio de órgãos públicos ou empresas estatais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ou indiretamente, por outorgas feitas a empresas não estatais. 4 ▪ Situação atual do Brasil: preferência por transferir a execução dos empreendimentos públicos a empresas do setor privado – Parcerias de Investimento ▪ Modalidades: ▪ Concessão comum ▪ Concessões patrocinada e administrativa (PPP em sentido estrito) ▪ Concessão regida por legislação setorial ▪ Permissão de serviço público ▪ Arrendamento de bem público ▪ Concessão de direito real ▪ Outros negócios públicos semelhantes 5 ▪ Dependência que os empreendimentos públicos têm da atuação burocrática da administração pública. ▪ Estado é quem decide realizar os empreendimentos e exerce múltiplas funções de regulação, com base em cláusulas contratuais ou normas de outra origem. ▪ A substituição - pela via das parcerias com a iniciativa privada - do modelo estatal anterior não tem conseguido se construir uma alternativa suficiente contra a ineficiência estatal 6 ▪ O texto busca analisar qual é o melhor caminho para enfrentar desvios que, no Brasil, vêm afetando a gestão burocrática das parcerias de investimento, nas fases de licitação e da execução contratual ▪ Objetivo geral: a partir da identificação de potenciais defeitos, cogitar aprimoramentos especificamente normativos, isto é, da edição de normas que, lidando com o desafio burocrático, possam propiciar o aumento da qualidade dos resultados da gestão 7 8 ▪ Início dos anos 2000: “agencificação” do direito brasileiro. ▪ Criação de agências em setores vitais da infraestrutura: ANEEL (energia elétrica); ANATEL (telecomunicações); ANTT e ANTAQ (transportes) ▪ Movimento sendo replicado nos estados, exemplificado pela ARTESP, agência de transportes de São Paulo, e propostas ainda em curso nos âmbitos estaduais e federais, como a ANAC, para o setor aéreo 9 ▪ Forte insatisfação dos primeiros anos com as parcerias fomentou o debate da adequação do regime jurídico das agências, que foram criadas uma a uma por leis esparsas ▪ Consenso quanto à existência de insuficiências jurídicas no regime brasileiro das agências e também quanto à responsabilidade desse déficit por muitas frustações com o programa de parcerias. ▪ Nasce então uma proposta de editar uma lei de agências reguladoras aplicável à generalidade delas, consolidado pelo encaminhamento do projeto de Lei Geral de Agências (PL 3.337/2004) 10 ▪ Alguns dos diagnósticos, nas leis setoriais, do movimento pró Lei Geral de Agências eram: • Estado enfraquecido, perdendo poderes e recursos • Estrutura organizacional das agências eram insuficientes ou ruins • Regras de escolha de dirigentes insuficientes • Leis setoriais não construíram processos administrativos deliberativos para a regulação administrativa • Em suma, falta de uniformidade e qualidade nas bases do regime jurídico estrutural específico das agências reguladoras 11 ▪ Medidas foram objeto de intenso debate e debate público. Houveram críticas, sobretudo acusando de comprometer a autonomia das agências. ▪ Apesar do debate intenso, o consenso sobre a Lei Geral de Agências não foi afetado, somente as visões dos diferentes grupos quanto ao seu conteúdo. ▪ Até 2016, a Lei Geral de Agências não foi editada, mas a ideia não foi abandonada pelo Congresso Nacional. Projetos e substitutivos iam se sucedendo, com o mesmo propósito. 12 ▪ Com a posse de Michel Temer na presidência da república, a retomada do discurso privatizante mais explícito voltou à tona. ▪ Hoje existe bastante consenso sobre qual deve ser o caminho jurídico para melhorar de modo significativo as parcerias e destravar os investimentos em empreendimentos público de infraestrutura ▪ “A chave estaria nas bases do regime jurídico estrutural das agências reguladoras: ajustado e uniformizado este, por meio de uma Lei Geral de Agências, o Brasil teria condições de dar um salto adiante” 13 ▪ O autor oferece um contraponto acerca desta chave para a correção do regime jurídico. ▪ O argumento é que uma Lei Geral de Agências será incapaz de fazer a diferença, isso porque os aspectos jurídicos estruturais devem ser tratados caso a caso, nas leis setoriais, não fazendo muito sentido a busca de modelo único cujas bases sejam impostas em uma Lei Geral de Agências. ▪ Ainda segundo o autor, as leis setoriais merecem sim ser corrigidas em vários pontos, mas isso demanda esforço setorial, não lei geral. As reformas setoriais necessárias não serão impulsionadas com normas genéricas. 14 ▪ Uma lei geral teria que se limitar a diretrizes abertas quanto a regulação, e seria incapaz de produzir impacto sistêmico abrangente. ▪ Alguns pontos poderiam ser melhorados por uma lei geral, mas o efeito potencial dessas mudanças é restrito e não muito importante. ▪ Alguns problemas que as agências enfrentam, são enfrentadas por toda administração pública brasileira, o que inviabiliza sua solução por meio de uma lei geral de agências. 15 ▪ Uma Lei Geral de Agências deveria ficar em plano intermediário, sem enfrentar questões regulatórias, nem os defeitos globais do direito público. ▪ A convicção: propostas de Lei Geral de Agências é de fortalecimento de autoridades enfraquecidas e pelo aumento do poder público. ▪ O resultado poderia ser eventuais melhorias da burocracia estatal na regulação. ▪ O contraponto é que o grande problema não são as ineficiências especificas, mas sim o excesso de estado. 16 ▪ O contraponto é que o grande problema não são as ineficiências especificas, mas sim o excesso de estado: excesso de normas legais de detalhes sobre licitação, excesso de formalismos contraproducentes nas licitações, excesso de exigências nas licitações, excesso de providências a cargo de estado, excesso de autoridade pública, etc. ▪ O principal problema com as parcerias: direito público de que excessos de estado brotam sem parar. 17 ▪ “Para melhorar as parcerias de investimento, prioritário mesmo é combater as causas dos excessos de estado. ▪ O autor propõe uma atuação em três frentes: ▪ Editando novas normas básicas de direito, que tratem dos processos e critérios gerais de criação e de aplicação do direito público. ▪ Criando uma nova instituição que possam uniformizar regulamentos e interpretações sobre licitações e contratações. ▪ Suportado por uma lei que modernize o regime das parcerias de investimentos nos pontos que têm propiciado excessos. 18 “A existência dos empreendimentos públicos contratados com particulares depende sempre de iniciativa do estado” O que supõe que o mesmo seja capaz de realizar a estruturação do empreendimento, isto é: ▪ Escolher as suas prioridades, definindo os empreendimentos que vai contratar; ▪ Definir as características técnicas e econômicas mínimas desses empreendimentos; ▪ Delimitar todas as regras do processo administrativo de licitação, (p. ex: requisitos e critérios de seleção); ▪ Explicitar em detalhe todas as condições do futuro contrato, (cláusulas, projetos etc); ▪ Quando for o caso, obter a aprovação de todos esses elementos pelo órgão de controle externo; 19 Principais desvios jurídico-burocráticos que retardam a atuação administrativa na fase de estruturação: ▪ Dispersão e improviso dos processosdecisórios estatais para a escolha dos empreendimentos prioritários a serem concedidos; ▪ Falta de coerência entre autoridades políticas e reguladoras das competências para a estruturação do empreendimento, da licitação e do contrato; ▪ Dificuldade na contratação, pela admistração pública de consultorias especializadas independentes adequadas para assessoria na estruturação; ▪ Complexa cadeia de providências de “liberação do empreendimento” 20 ▪ “A existência de um número significativo de órgãos com competências simultâneas, paralelas, entrecruzadas e sobrepostas sem que se tenha clareza nem quanto ao caminho a ser adotado nem quanto à capacidade de diálogo interorgânico.” ▪ Salvo alguns casos especiais previstos na lei, não necessariamente os atos de liberação (p. ex: processos administrativos, registros, autorizações, permissões e direitos de uso) devem preceder a licitação, podendo ser postergados para a fase de execução do empreendimento, na qual o próprio concessionário atuará para obtê-los. ▪ Todavia, a falta desses atos num nível primário pode levar a uma instabilidade às duas partes do contrato devido à variância de fatores ainda por determinar, podendo levar a uma inviabilidade da execução da concessão. 21 Entre os desvios jurídico-burocráticos que afetam a fase de liberação destacam-se: ▪ Insegurança jurídica quanto aos critérios e exigências de cada uma das autoridades competentes para os processos administrativos de liberação; ▪ Dispersão entre autoridades dos diferentes níveis federativos e dos diferentes órgãos e entidades da administração das competências para a liberação do empreendimento; ▪ Demora ou oneração excessiva na liberação do emprendimento, como reação das autoridades administrativas aos riscos de responsabilização pessoal futura; ▪ Risco de judicialização, por longo prazo, dos processos ou decisões administrativas de liberação. 22 ▪ “Esses problemas das fases de estruturação e de liberação vêm se repetindo, e mesmo agravando, desde o início da privatização nos anos 1990, sendo objeto de frequentes reclamações e debates públicos.” ▪ Sensível a este problema recorrente, Michel Temer, no ano de 2016, tentou dar ínicio a um movimento de melhoria nas contratações de parcerias de investimento em empreendimentos públicos. ▪ “As novas medida trouxeram novidades quanto à orientação, órgãos e instrumentos, papeis e deveres das autoridades.” ▪ Mas este é um diploma parcial, que não aborda todos os problemas, nem aprofunda o tratamento dos pontos indicados. É um esforço inicial, embora simbólico. ▪ A reforma, mesmo quantos às fases de estruturação e liberação, terá que se ampliar. 23 ▪ Aqui o desafio é para o conjunto de autoridades públicas: desenvolver práticas de regulação compatíveis com um bom ambiente de negócios, para traír empresas privadas que não sabem ou não estão dispostas a atuar em meio à arbitrariedade estatal. ▪ As normas da lei, embora fortes e claras, têm efeito imediato no nível principiológico. É preciso tempo para saber se as autoridades de execução e controle vão levá-las asério. De qualquer modo, são as normas jurídicas, que terão seu peso nos debates regulatórios. 24 ▪ Feita a estruturação do empreendimento e o pacote de elementos burocráticos, se inicia a fase de licitação. ▪ Nessa fase é divulgado o edital, decidindo a habilitação, aceitando ou não propostas, respondendo ações judiciais. ▪ Possíveis desvios no processo: a) previsão, pelo edital, de exigências que reduzem a disputa pela concessão e falta de incentivos para as autoridades reagirem contra tais exigências; b) Excesso de formalidades; c) Amplo poder de bloqueio por órgãos de controle externo. 25 ▪ Após essa etapa, com o contratado escolhido, segue-se a celebração do contrato, que dá início à fase de regulação da execução contratual. ▪ Possíveis desvios no processo: a) Incentivos para mudanças na execução sem alteração transparente e prévia no contrato; b) Incentivos para autoridades interferirem no contrato; c) Demora ou resistência das autoridades nas decisões; d) Risco de judicialização contra os direitos do contratado; e) Responsabilização do contratado por passivos anteriores à concessão ou uso de empresas terceiras. 26 ▪ Como combater tais desvios? ▪ Modernizar a lei de introdução às normas do Direito Brasileiro; ▪ Criar o Conselho Nacional de Estado; ▪ Editar a lei de modernização das parcerias de investimento 27 ▪ Primeiro passo: Homogeneizar e atualizar as normas básicas sobre criação e aplicação do direito público brasileiro – enfrentar fatores jurídicos causadores de insegurança e ineficiência. ▪ Proposta: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (decreto- lei 4.657) editada em 1942. ▪ De forma a aumentar a qualidade jurídico-decisória nos níveis de federação (federal, estadual, distrital e municipal), nos poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e em órgãos autônomos de controle (Tribunais e Ministérios). 28 ▪ Neutralizar fatores de distorção da atividade jurídico-decisória como: ▪ alto grau de indeterminação de normas públicas; ▪ incerteza do conteúdo de cada norma; ▪ superficialidade na formação dos juízos quanto à complexidade de questões jurídico-públicas; ▪ dificuldade de poder público obter cumprimento de normas por terceiros; ▪ risco potencial de invalidação de atos jurídicos públicos; ▪ modo autoritário de conceber normas públicas. ▪ Como? ▪ Para combater grau de indeterminação das normas: impedir que se criem consequências concretas superficiais. Deve-se combater a tendência à superficialidade inerente ao Direito e sim, construir normas específicas, pautadas no mundo real e que não sejam abertas à interpretações livres. ▪ Lei capaz de conciliar flexibilidade necessária para poder negociar com limitações necessárias para proteger o interesse geral. ▪ Colocar dentro do próprio processo efeitos negativos causados pela demora ou custos deste processo. 29 ▪ “É preciso tapar o buraco negro da legalidade na gestão pública”. ▪ Como? Combater a autonomia na interpretação jurídica de administrações públicas e órgãos de controle externo (Tribunais de Contas da União, dos Estados e Municípios). ▪ Estabelecer instância técnica com competência para uniformizar, nacionalmente e com rapidez, a interpretação de questões jurídicas relevantes na gestão pública. 30 ▪ “Criar o CNE, cuja função exclusiva será aprovar normatização administrativa nacional sobre gestão pública, inclusive licitação e regime dos contratos estatais.” ▪ Essa normatização será vinculante para toda a administração pública e controladores, diminuindo conflitos interpretativos e o CNE poderá receber delegação do Congresso para editar regulamentos técnicos nacionais. ▪ A ideia é deslocar a definição dos detalhes normativos para uma instância mais ágil e técnica, pois o Congresso Nacional é político e lento demais. 31 ▪ O autor visa concretizar a lei do PPI (Programa de parcerias de investimento) do governo federal através da modernização do regime de parcerias de investimento. ▪ Ele acredita em uma descontaminação dos excessos do estado através da criação de leis pontuais que instaurassem “válvulas” que controlem no ramo das parcerias as intervenções estatais. ▪ Para isso existem duas grandes vertentes: ▪ Lei de modernização das parcerias: focada nas parcerias e diminuir as intervenções estatais ▪ Lei Geral das agências: visa deixar mais clara a estrutura administrativa das agências e possivelmente aumentar o controle das agências. 32 ▪ É proposto um anteprojeto de lei que visa corrigir erros burocráticos nas licitações: ▪ É estendido o prazo de publicidade dos projetos ao mesmo tempo que atenua as exigências burocráticas para seleção. ▪ Viabiliza a participação maisfrequentes das empresas estrangeiras, aumentando os deveres do CADE em prevenir condutas abusivas. ▪ Explicita e limita as alterações nos contratos, com restrições a termos aditivos. Isso faz com que discordâncias antes resolvidas informalmente sejam vistas em tribunais arbitrais ▪ Instituição de um órgão nacional que edite normas administravas uniformizadoras 33 ▪ Situação atual do Brasil: Transferir a execução dos empreendimentos públicos a empresas do setor privado. ▪ Questionamento: As reformas jurídicas são capazes de contribuir para a ampliação da infraestrutura no Brasil? . ▪ Sim. No entanto, é necessário enfrentar desvios que nas normas jurídicas provocam empecilhos. Deve-se identificar potenciais defeitos e provocar aprimoramentos nas normas para propiciar o aumento da qualidade dos resultados da gestão. 34 ▪ PASTORE, Affonso Celso et al. Infraestrutura - Eficiência e Ética, 2017.
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