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1 LUIS CLAUDIO PEREIRA DA SILVA APOSTILA 1 – PRINCÍPIOS, FONTES E HIERARQUIA DAS NORMAS TRABALHISTAS1 Temas abordados: - Princípios, fontes e hierarquia das normas trabalhistas: - Princípios do Direito do Trabalho; - Fontes do Direito do Trabalho e - Hierarquia das normas trabalhistas. Brasília Apostila do professor 2018 1Texto baseado do Capítulo 2 do livro Direito do Trabalho para o Exame de Ordem de autoria do Professor Luis Claudio Pereira da Silva, 3ª ed. Editora Kindle. 2 1- PRINCÍPIOS E FONTES DO DIREITO DO TRABALHO E HIERARQUIA DAS NORMAS TRABALHISTAS Estudar os princípios e as fontes do Direito do Trabalho e a hierarquia das normas trabalhistas é essencial ao bom entendimento dos demais institutos da disciplina. Nesta apostila, esses três institutos serão estudos em conjunto, dada a direta correlação entre eles. 2.1- Princípio de Proteção O princípio de proteção foi teorizado por Plá Rodrigues (2000, p. 106), da seguinte forma: O princípio de proteção se refere ao critério fundamental que orienta o Direito do Trabalho, pois este, ao invés de inspirar-se num propósito de igualdade, responde ao objetivo de estabelecer um amparo preferencial a uma das partes: o trabalhador. Enquanto no direito comum uma constante preocupação parece assegurar a igualdade jurídica entre os contratantes, no Direito do Trabalho a preocupação central parece ser a de proteger uma das partes com o objetivo de, mediante essa proteção, alcançar-se uma igualdade substancial e verdadeira entre as partes. Destinado a fundamentar as normas criadas para “igualar” a relação entre empregados e empregadores, o Direito do Trabalho surgiu como o ramo da ciência jurídica composto por um conjunto de normas que impedia a livre negociação entre as partes da relação de emprego. Com fundamento em análise feita no direito uruguaio, segundo Américo Plá Rodrigues, esse princípio se concretiza, naquele ordenamento jurídico, por meio de 03 regras, a saber: 1ª) Regra do In dubio pro operario (também denominada de in dubio pro misero): “A regra in dubio, pro operario. Critério que deve utilizar o juiz ou o 3 intérprete para escolher, entre vários sentidos possíveis de uma norma, aquele que seja mais favorável ao trabalhador”. (PLÁ RODRIGUES, 2000, p. 107). A aplicabilidade dessa regra depende da ocorrência simultânea das seguintes condições: “a) somente quando exista dúvida sobre o alcance da norma legal” (PLÁ RODRIGUES, 2000, p. 110) e “b) sempre que não esteja em desacordo com a vontade do legislador”. (PLÁ RODRIGUES, 2000, p. 110). Nesse sentido, complementa: Não se trata de corrigir a norma, nem sequer de integrá- la: somente cabe utilizar esta regra quando existe uma norma e unicamente para determinar-lhe o verdadeiro sentido, entre os vários possíveis. De sorte que, quando uma norma não existe, não é possível recorrer a este procedimento para substituir o legislador e muito menos é possível usar esta regra para afastar-se do significado claro da norma ou para atribuir-lhe um sentido que de modo nenhum se pode deduzir de seu texto ou de seu contexto. (PLÁ RODRIGUES, 2000, p. 111) Conforme, ainda, os ensinamentos Plá Rodrigues (2000, p. 113; 117 e 118), a regra in dúbio pro operário não se aplica nas seguintes situações: 1ª) prova dos fatos; 2ª) no uso do poder patronal de administrar e dirigir a empresa e 3ª) na interpretação das leis previdenciárias, dada a total distinção entre as normas do Direito do Trabalho e do Direito Previdenciário. Exemplo de aplicação da regra in dúbio pro operário ocorre na interpretação do que dispõe o art. 10, caput e inciso II, b, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT, que tem a seguinte redação: Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o artigo 7º, I, da Constituição: II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: b) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. Esse dispositivo pode ser interpretado de diversos modos, contudo, optou o Tribunal Superior do Trabalho - TST pela interpretação mais adequada ao princípio ora em estudo, conforme Súmula n.º 244: 4 GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. I - O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, "b" do ADCT). ... Logo, por esse entendimento, afasta-se a interpretação no sentido de que teria sido justa a dispensa da empregada por não ter o empregador sido devidamente comunicado do seu estado gravídico, não tendo havido, portanto, confirmação da gravidez até o momento da dispensa. 2ª) Regra da norma mais favorável: “A regra da norma mais favorável determina que, no caso de haver mais de uma norma aplicável, deve-se optar por aquela que seja mais favorável, ainda que não seja a que corresponda aos critérios clássicos de hierarquia das normas”. (PLÁ RODRIGUES, 2000, p. 107). Antes de comentarmos esta regra, devemos fazer um estudo das fontes do Direito do Trabalho bem como da hierarquia das normas trabalhistas. Fonte do direito é a origem de onde o direito emana. Há inúmeras classificações sobre as fontes do direito; contudo, a que nos interessa é aquela que as divide em fonte material e fonte formal. Fonte material é a representação da estrutura ideológica, histórica, econômica, social etc. de uma sociedade e que justifica a normatização de um fato social. Por outro lado, a fonte formal é aquela que emana da autoridade competente. Um adendo: não uso a expressão autoridade no sentido do direito público, como exclusivamente agente do governo, mas no sentido de aquele que está autorizado por lei à criação de normas jurídicas trabalhistas. No Brasil, em relação ao Direito do Trabalho, as fontes formais se dividem em fontes heterônomas e fontes autônomas. As fontes heterônomas são aquelas que emanam de um terceiro que não sejam os atores sociais unidos coletivamente. Assim, são fontes heterônomas, principalmente, e numa escala hierárquica, nos termos do art. 59, da CF/88: normas constitucionais originais ou decorrentes de emendas constitucionais; leis ordinárias e complementares, leis delegadas; medidas provisórias; decretos legislativos e resoluções do congresso nacional. Além dessas, podemos relacionar aqui como as principais fontes formais heterônomas que não decorrem do processo legislativo no congresso nacional, as portarias do ministério do trabalho e emprego em matéria de segurança e medicina do trabalho; as sentenças normativas proferidas pela 5 justiça do trabalho em função de decisões prolatadas em dissídios coletivos de trabalho e as sentenças arbitrais, também prolatadas em dissídios coletivos e, atualmente, se autorizadas pelas partes, em situações específicas de dissídios individuais, nos termos dos arts. 114, § 1º, da CF/88 e 507-A, da CLT. Há grande celeuma doutrinária acerca da doutrina e da jurisprudência. A doutrina, entendemos, não é fonte do Direito do Trabalho mas apenas uma ferramenta que poderá vir a alterar a regulamentação de um instituto jurídico consagrado em uma fonte do direito ou a fazer com que um determinado instituto jurídico seja inserido no Direito do Trabalho, também por meio de uma de suas fontes. Quanto à jurisprudência, não há dúvida de que, após as súmulas vinculantes e especialmente com a sistemática adotada pelo novo CPC de fazer com que o entendimento dos tribunais superiores sejam obrigatoriamente adotados no País, salvo se o julgador justificar a sua não aplicação ao caso concreto (art. 927, do CPCc/c art. 896-A e 896-B, da CLT), a jurisprudência se tornou fonte formal do Direito do Trabalho. Foi por isso, inclusive, que o legislador, alterando o art. 8º, da CLT, inseriu o § 2º, com a seguinte imposição: súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho não poderão restringir direitos legalmente previstos nem criar obrigações que não estejam previstas em lei. Ou seja, a jurisprudência do TST deverá limitar-se à interpretação das fontes do Direito do Trabalho, cujos entendimentos deverão ser seguidos pelos demais julgadores das instâncias inferiores. Por fim, ainda no âmbito das fontes heterônomas do direito do trabalho, vale ressaltar que há outras fontes que integram o direito do trabalho em caso de lacuna, dispondo primeiramente o caput do art. 8º, da CLT, que as autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. Caso essas fontes não sejam suficientes para integrar a lacuna, nos termos do § 1º, da CLT, poder-se-á recorrer ao direito comum, que também é fonte subsidiária do direito do trabalho. Já as fontes autônomas são a convenção coletiva de trabalho, que é definida, nos termos do art. 611, caput, da CLT, como o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, 6 no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho. e o acordo coletivo de trabalho, autorizado pelo art. 611, § 1º, da CLT, nos seguintes termos: É facultado aos sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar acordos coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das acordantes respectivas relações de trabalho. Desse modo, a legislação atual possibilita que os sindicatos representativos das categorias profissionais e econômicas estabeleçam normas trabalhistas suplementares às previstas na legislação em vigor, nos termos do art. 444, da CLT. Ou seja, criem novos direitos trabalhistas que passarão a ser aplicados apenas às respectivas categorias. Como se sabe, de regra, impera o respeito à hierarquia das normas. Ou seja, um direito assegurado por uma norma de hierarquia inferior não pode sobrepor-se à regulamentação desse mesmo direito estabelecido em uma norma de hierarquia superior. No Direito do Trabalho, contudo, não é assim que funciona: deve-se levar em consideração a existência dessas duas normas e aplicar a que for mais benéfica ao trabalhador. Essa regra, com caráter de princípio, está assegurada no caput do art. 7.º, da CF/88, que dispõe textualmente no final de sua redação “além de outros que visem a melhoria de sua condição social”. Isto é, o mencionado artigo elenca um extenso e exemplificativo rol de direitos trabalhistas que pode ser ampliado por meio dos instrumentos normativos pactuados entre os sindicatos ou entre o sindicato profissional e a empresa ou grupo de empresas. Nesse caso, o direito a ser aplicado, em princípio, aos empregados será aquele que lhe garanta mais vantagens. Contudo, esse princípio, como os demais, não pode ser considerado absoluto por poder ser derrogado ou obstaculizado por norma de ordem pública. Assim, existindo norma de ordem pública, como a lei que impede, por determinado momento, a majoração dos salários, esta deverá ser respeitada e impedirá a criação de outras normas pelos empregados e empregadores agindo coletivamente. 7 Além disso, há ainda um problema a ser solucionado na aplicação dessa regra em virtude da existência de três teorias sobre a aplicação da norma mais favorável aos empregados: a teoria da acumulação; a teoria do conglobamento e a teoria do conglobamento por institutos. Imaginemos a seguinte situação: uma convenção coletiva de trabalho aplicável a trabalhador urbano de uma determinada categoria profissional prevê adicional noturno de 30%, adicional de horas extras de 70%, férias de 41 dias e o aviso prévio com mais 5 dias a cada ano de serviço prestado pelo empregado. Por outro lado, um acordo coletivo prevê adicional noturno de 25%, adicional de horas extras de 80%, férias de 40 dias e aviso prévio com mais 6 dias a cada ano de serviço prestado. Indaga-se: qual o direito a ser considerado e aplicado ao contrato de trabalho do empregado? Segundo a teoria da acumulação, deve-se pegar o que há de melhor em cada norma jurídica: logo, para essa corrente, deve-se aplicar ao contrato de trabalho, no exemplo acima, o adicional noturno de 30%, o adicional de horas extras de 80%, as férias de 41 dias e o aviso prévio com mais 6 dias a cada ano de serviço prestado. Pela teoria do conglobamento, deve ser considerada separadamente cada uma das normas e aplicada a que for escolhida como garantidora da maior quantidade de direitos aos empregados, considerada no seu todo. Logo, no exemplo acima, o acordo coletivo de trabalho. Veja-se que, a escolha, nesse caso, é feita em tese, por um falso entendimento global de que é possível fazer uma escolha genérica. Isso ocorre por que serão as peculiaridades do serviço prestado pelos empregados é que definirão qual será, para a categoria, a norma mais favorável no seu conjunto. Por último, para a teoria do conglobamento por instituto, deve-se repartir as normas por institutos. No exemplo citado, foram normatizados três institutos: duração do trabalho (horário noturno e horas extras), férias e aviso prévio. Analisando-se, então, instituto por instituto, teremos: duração do trabalho: o acordo coletivo de trabalho; férias: a convenção coletiva de trabalho; o aviso prévio: o acordo coletivo de trabalho. Conforme afirmado, a escolha da norma mais favorável, na verdade, deve ser feita diante da situação fática vivida pela categoria profissional e pelos empregados da empresa ou empresas que sejam alcançados pela norma coletiva de trabalho. Logo, no exemplo citado, se os empregados da referida categoria profissional não fazem, na prática, horas extras, mas muitos laboram em horário noturno, o adicional de horas extras deverá ser descartado para a análise da norma aplicável, o que resultaria em resultado diverso na 8 abordagem que acima fizemos da terceira teoria, passando, em tese, o instituto duração do trabalho mais vantajoso ser o da convenção coletiva de trabalho. Não podemos deixar de expressar que, em nossa humilde opinião, a melhor teoria é a da acumulação por atender ao disposto na parte final do caput do art. 7º, da CF/88, que tem a seguinte redação: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem a melhoria de sua condição social” (grifo nosso). Ora, como base nesse texto, não há outra interpretação possível: no confronto de normas: a melhor é a que garante mais direitos ao empregado. Além disso, até o advento da Lei n. 13.467/2017, o art. 620 da CLT dispunha que: “As condições estabelecidas em Convenção, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em acordo”. Ora, como veremos quando tratarmos do contrato de trabalho, condiçõesde trabalho são os elementos que compreende todo labor do empregado na empresa, tais como remuneração e salário, jornada de trabalho, horário de trabalho, local de trabalho etc. daí decorre que a CLT claramente adotava a teoria da acumulação. Entretanto, para o TST, a teoria adotada é a do conglobamento, conforme se extrai do item II, da Súmula 51: NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO NOVO REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT. ... II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro. Ou seja, nos termos da Súmula citada, a escolha do empregado por uma norma na sua integridade afasta a possibilidade de se valer de melhores direitos, considerados pontualmente, previstos em outra norma. Toda essa sistemática de aplicação do princípio da norma mais favorável ao empregado sofreu severo golpe da reforma trabalhista que pretendeu autorizar às partes do contrato de trabalho em certas situações e, sobretudo, às entidades sindicais, negociarem direito trabalhistas desfavoravelmente aos empregados. Assim é que, nos termos atuais do art. 611-A, da CLT: A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: I - pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais; 9 II - banco de horas anual; III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas; IV - adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei n o 13.189, de 19 de novembro de 2015 ; V - plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança; VI - regulamento empresarial; VII - representante dos trabalhadores no local de trabalho; VIII - teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente; IX - remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, e remuneração por desempenho individual; X - modalidade de registro de jornada de trabalho; XI - troca do dia de feriado; XII - enquadramento do grau de insalubridade; XIII - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho; XIV - prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo; XV - participação nos lucros ou resultados da empresa. Mas, nos termos do art. 611-B, da CLT, serão consideradas ilícitas as cláusulas de convenção ou acordo coletivo de trabalho a supressão ou redução dos seguintes direitos: I - normas de identificação profissional, inclusive as anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social; II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; 10 III - valor dos depósitos mensais e da indenização rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); IV - salário mínimo; V - valor nominal do décimo terceiro salário; VI - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; VII - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; VIII - salário-família; IX - repouso semanal remunerado; X - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% (cinquenta por cento) à do normal; XI - número de dias de férias devidas ao empregado; XII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XIII - licença-maternidade com a duração mínima de cento e vinte dias; XIV - licença-paternidade nos termos fixados em lei; XV - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; XVI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; XVII - normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho; XVIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas; XIX - aposentadoria; XX - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador; XXI - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; 11 XXII - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência; XXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; XXIV - medidas de proteção legal de crianças e adolescentes; XXV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso; XXVI - liberdade de associação profissional ou sindical do trabalhador, inclusive o direito de não sofrer, sem sua expressa e prévia anuência, qualquer cobrança ou desconto salarial estabelecidos em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho; XXVII - direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender; XXVIII - definição legal sobre os serviços ou atividades essenciais e disposições legais sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade em caso de greve; XXIX - tributos e outros créditos de terceiros; XXX - as disposições previstas nos arts. 373-A, 390, 392, 392-A, 394, 394-A, 395, 396 e 400 desta Consolidação. Contudo, de acordo com o parágrafo único, do art. 611-B, da CLT, regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas como normas de saúde, higiene e segurança do trabalho, não sendo ilícitas as convenções e acordos coletivos de trabalho que tratem dessa temática. Outra alteração na aplicação do princípio da norma mais favorável encontra-se na atual redação do art. 620, da CLT, segundo o qual, “As condições estabelecidas em acordo coletivo de trabalho sempre prevalecerão sobre as estipuladas em convenção coletiva de trabalho”, ainda que menos favorável aos empregados. Por fim, vale ressaltar que, caso não se encontre fonte no direito do trabalho para a solução de eventual ao negócio jurídico entabulado entre o empregado e o empregador, o direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, conforme preceitua o art. 8º, da CLT. 12 3ª) Regra da condição mais benéfica: “A regra da condição mais benéfica. Critério pelo qual a aplicação de uma nova norma trabalhista nunca deve servir para diminuir as condições mais favoráveis em que se encontrava um trabalhador”. (PLÁ RODRIGUES, 2000, 107). Ou seja, estabelecidas condições de trabalho no contrato de trabalho ou em norma empresarial, não pode o empregador modificar as condições entabuladas em prejuízo do empregado. Esse princípio está diretamente vinculado ao direito adquirido e se aplica, principalmente, à inalterabilidade patronal, em princípio, das cláusulas contratuais e aos efeitos da alteração do regulamento de empresa. Exemplo de aplicação no direito pátrio desse princípio encontra-se na Súmula n. 51, I, do TST: NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO NOVO REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT. I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento. Tal como ocorre na regra da norma mais favorável,esse princípio não será aplicado se o contrato de trabalho do empregado for regido pelo mínimo legal e houver alteração em norma de ordem pública, como, por exemplo, se a lei alterar o adicional de periculosidade de 30% para 10%. Nesse caso, o empregado que recebia adicional de 30% por força de lei, passará a receber adicional de 10% por ter sido este o novo adicional legalmente estabelecido. 2.2- Princípio da primazia da realidade Na análise dos fatos da vida social regulamentados pelo Direito do Trabalho, deve-se levar em conta o que realmente ocorre entre empregado e empregador e não eventuais documentos que possam fraudar a realidade. Por isso, dispõe o art. 9º, da CLT, que “serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação”. Portanto, todo ato praticado com o objetivo de fraudar a legislação trabalhista é nulo de pleno direito. 13 O princípio da primazia da realidade também é normalmente denominado de princípio da realidade sobre a forma. 2.3- Princípio da continuidade da relação de emprego A legislação trabalhista parte da presunção de que a relação de emprego deve ser constituída, em princípio, para perdurar até que seja possível a aposentadoria do empregado. Por isso, entende-se que essa relação tenha sido constituída, em regra, sem prazo para terminar. Caso essa relação tenha sido constituída com prazo determinado, ou tenha terminado antes do prazo alegado pelo empregado, esta prova caberá ao empregador, nos termos da Súmula 212, do TST: DESPEDIMENTO. ÔNUS DA PROVA. O ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado. 2.4- Princípio da Irrenunciabilidade Por renúncia, entende-se o despojamento do bem juridicamente protegido de um sujeito a favor de outrem sem qualquer contraprestação por parte deste. Exemplo de renúncia ocorre quando o empregador dispensa o empregado sem exigir que este cumpra o aviso prévio. As normas de ordem pública previstas na legislação trabalhista não podem ser objeto de renúncia por parte do empregado. Contudo, o art. 7º, da CF/88, prevê que os sindicatos possam transacionar alguns direitos trabalhistas, quais sejam: redução circunstancial dos salários (IV); a compensação de horários e a redução da jornada de trabalho (XIII) e, por fim, a majoração da jornada de trabalho em caso de turno ininterrupto de revezamento (XIV). Em regra, a autorização para a transação de direitos trabalhistas só poderá ocorrer com a participação do sindicato dos empregados, como se dá na hipótese do art. 7º, VI, da CF/88. 14 Essa regra encontra-se atualmente mitigada com o aumento de autonomia dada aos sindicatos das categorias dos empregados e dos empregadores para regulamentar as matérias elencadas no art. 611-A, da CLT, incluindo-se a possibilidade de criação de regras sobre duração do trabalho e intervalos em desfavor dos empregados. Excepcionalmente, contudo, há situações em que a transação poderá ocorrer com a aquiescência individual do empregado, como na hipótese de compensação semanal da jornada de trabalho, nos termos do art. 59, § 2º da CLT e Súmula nº. 85, I, do TST. Outra situação em que a transação é plenamente aceita e incentivada por lei ocorre quando o empregado propõe reclamação trabalhista em face de seu empregador perante a justiça do trabalho. Na transação aqui, chamada de conciliação pela CLT, nos termos dos arts. 764, 846, 850, 852-A e 862, há um acordo destinado a pôr fim a uma pretensão posta em juízo pelo empregado; por isso, todos os direitos pleiteados, e até os que não tenham sido pleiteados, poderão fazer parte desse acordo, extinguindo-se o processo com resolução de mérito, nos termos do art. 487, III, c, do CPC.
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