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Ação FGTS

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Advocacia 						Neuza Claudia Seixas André
							Cyra Tereza B. Jesus Menna
							Natália Sofia Ferreira Gomes
____________________________________________________
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ______ DA COMARCA DE SANTOS.
AÇÃO DE COBRANÇA DE DIFERENÇA DE CORREÇÃO MONETÁRIA DO FGTS
em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, com endereço na Rua Avenida Leomil, 645 - Centro, Guarujá – SP CEP. 11410-161, com alicerce nos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir transcritos.
 						DOS FATOS
 						Os autores são trabalhadores e, como tal, possuem contas vinculadas ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS, conforme comprovam documentação acostada.
 						O FGTS foi criado nos anos 60 do século passado com o escopo de proteger o trabalhador, como sucessor da pretérita estabilidade decenal. Sua composição se faz mediante depósitos de valores pelos empregadores em nome de seus empregados, possibilitando que estes últimos constituam um patrimônio, ainda que, muitas vezes, singelo.
 						Ademais desse telos patrimonial, é sabido que as importâncias do fundo também são destinadas à financiação de programas de habitação popular, saneamento básico e infraestrutura urbana.
A regulamentação do FGTS está estampada na Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, nas normas e diretrizes fixadas por seu Conselho Curador, e sua gestão está à cargo da Caixa Econômica Federal.
Na lei que disciplina o tema, mas especificamente nos artigos 2º e 13, se vê que há uma obrigatoriedade de correção monetária e de remuneração através de juros das quantias depositadas nas contas vinculadas ao fundo, in verbis.
Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados com atualização monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigações.
Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e capitalização juros de (três) por cento ao ano. 
 						Ressalte-se que o parâmetro fixado para a atualização dos depósitos de poupança e consequentemente dos depósitos do FGTS é a Taxa Referencial – TR, conforme prescrevem os artigos 12 e 17 da Lei nº 8.177/1991, com redação da Lei nº 12.703/2012, que mencionam:
	Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança serão remunerados:
I - como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação das TRD, no período transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento, inclusive, e o dia do crédito de rendimento, exclusive;
II - como remuneração adicional, por juros de: (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
a) 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco Central do Brasil, for superior a 8,5% (oito inteiros e cinco décimos por cento); ou (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco Central do Brasil, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento, nos demais casos. (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
	Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança com data de aniversário no dia 1°, observada a periodicidade mensal para remuneração.
Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em vigor do FGTS são mantidas e consideradas como adicionais à remuneração prevista neste artigo.
 						No tocante à fórmula de cálculo da TR diz a Lei nº 8.177/1991:
	Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado Federal.
§ 1° (Revogado pela Lei nº 8.660, de 1993)
§ 2° As instituições que venham a ser utilizadas como bancos de referência, dentre elas, necessariamente, as dez maiores do País, classificadas pelo volume de depósitos a prazo fixo, estão obrigadas a fornecer as informações de que trata este artigo, segundo normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, sujeitando-se a instituição e seus administradores, no caso de infração às referidas normas, às penas estabelecidas no art. 44 da Lei n° 4.595, de 31 de dezembro de 1964.
§ 3° Enquanto não aprovada a metodologia de cálculo de que trata este artigo, o Banco Central do Brasil fixará a TR.
 						A metodologia do cálculo foi há muito definida pelo Banco Central – Conselho Monetário Nacional (CMN), atualmente vigente através da Resolução nº 3.354/2006.
 						Ocorre que há muito tempo a TR não reflete mais a correção monetária, tendo se distanciado completamente dos índices oficiais de inflação. Nos meses de setembro, outubro e novembro de 2009; janeiro e fevereiro de 2010; fevereiro e junho de 2012; e setembro de 2012 em diante, a TR tem sido completamente anulada, como se não existisse qualquer inflação no período passível de correção.
 						Aqui está o cerne da questão: a necessidade de garantir aos depósitos realizados nas contas vinculadas do FGTS uma efetiva e real correção monetária, em atenção aos princípios que nortearam a sua criação como um patrimônio do trabalhador.
 						DA LEGITIMIDADE DA CAIXA 
 						ECONÔMICA FEDERAL
 						Tendo em vista o objeto da demanda – correção monetária dos depósitos do FGTS - é inafastável a legitimidade passiva da Caixa Econômica Federal. Esta matéria, aliás, já foi alvo de análise do Superior Tribunal de Justiça, culminando inclusive com edição de súmula:
Súmula 249 – A Caixa Econômica Federal tem legitimidade passiva para integrar processo em que se discute correção monetária do FGTS.
 						Natural que assim seja, já que é a Caixa a gestora do fundo.
 						DA PRESCRIÇÃO
A pacífica posição jurisprudencial no que concerne ao lapso prescricional para as demandas relacionadas com a correção do FTGS merece ser destacada, até mesmo como forma de evitar despiciendas discussões. Por isso, a seguinte súmula do STJ é digna de descrição:
Súmula nº 210: A ação de cobrança das contribuições para o FGTS prescreve em (30) trinta anos.
 						O presente pleito encontra-se perfeitamente dentro do interregno mencionado, como se verá no transcorrer da exposição.
 						DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
 						- Correção monetária
 							A correção monetária existe, assim como o próprio FGTS, desde os anos 60.
 						Explica Bulhões Pedreira�:
Por analogia com as unidades de medidas físicas podemos dizer que o nível geral de preços é o padrão primário do valor financeiro, enquanto que a unidade monetária serve como padrão secundário – usado, na prática, para exprimir o valor financeiro, mas que deve ser aferido pelo padrão primário porque sujeito a modificações.
 						A moeda, segundo o doutrinador, seria a expressão do valor financeiro; mas este – o valor financeiro – seria apurado em sintonia com a modificação do nível geral de preços.
 						Em interessante artigo, de leitura obrigatória, Letácio Jansen� afirma que Bulhões Pedreira teria colocado em prática sua doutrina sobretudo por meio da Lei nº 4.357/1964, que criou a ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional), índice cuja função era fazer variar, periodicamente, a moeda nacional em conformidade com a perda de seu respectivo poder aquisitivo.
 						Desdeentão um sem fim de índices de correção monetária foram criados, até a edição da Medida Provisória nº 294/1991, convertida na Lei nº 8.177/1991, oportunidade em que o governo do então presidente Collor pretendeu substituir a série de indexadores tradicionais (ORTN, OTN e BTN), que eram vinculados à variação dos níveis gerais de preços, pela Taxa Referencial, de natureza financeira.
Subsiste ainda hoje a perplexidade em relação à natureza jurídica da TR, até por conta da própria inconsistência da lei que a criou, que ora a trata como taxa de juros (art. 39), ora como indexador (art.18).
 						Taxas de juros objetivam promover a remuneração do capital. São calculadas por quem disponibiliza o capital em benefício de outra pessoa, física ou jurídica, para que empregue para satisfação de determinada necessidade, na expectativa de lucro. Já os indexadores podem ser entendidos como índices calculados a partir da variação de preços de mercado em determinado período. O seu objetivo está na correção dos efeitos inflacionários, quando se comparam valores monetários em diferentes épocas.
 						Quando o Supremo Tribunal Federal enfrentou o tema da natureza da TR no julgamento da ADI 493-0/DF, assentou:
A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda.
 						Em contraposição a esta conclusão inserta no voto vencedor, os Ministros vencidos Celso de Mello, Marco Aurélio e Ilmar Galvão entenderam que a estrutura de cálculo da taxa referencial não era suficiente para impedir sua utilização como parâmetro de indexação da economia.
 						Ao final, contudo, sacramentou a Corte Suprema o entendimento segundo o qual a TR possuia natureza de taxa de juros e declarou inconstitucional o art. 18 da Lei nº 8.177/1991, cujo texto original estabelecia que os saldos devedores e as prestações integrantes do SFH passariam a ser atualizados pela taxa aplicável à remuneração básica dos Depósitos de Poupança
 						Esta a ementa do julgado:
Ação direta de inconstitucionalidade - Se a lei alcancar os efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroatividade minima) porque vai interferir na causa, que e um ato ou fato ocorrido no passado. - O disposto no artigo 5, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva. Precedente do S.T.F.. - Ocorrencia, no caso, de violação de direito adquirido. A taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depositos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda. Por isso, não há necessidade de se examinar a questão de saber se as normas que alteram indice de correção monetária se aplicam imediatamente, alcancando, pois, as prestações futuras de contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no artigo 5, XXXVI, da Carta Magna. - Também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o critério de reajuste das prestações nos contratos ja celebrados pelo sistema do Plano de Equivalencia Salarial por Categoria Profissional (PES/CP). Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18, "caput" e paragrafos 1 e 4; 20; 21 e paragrafo único; 23 e paragrafos; e 24 e paragrafos, todos da Lei n. 8.177, de 1 de maio de 1991. (ADI 493 – Relator: Min. Moreira Alves – Julgado em 25/06/1992 – DJ 04/09/1992, pp. 14089).
 						Por algum tempo até mesmo o STJ rejeitou a TR como índice de correção monetária, tanto para a poupança quanto para o SFH, do que são exemplos: Resp 40777/GO, Resp 140839/BA, Resp 209466/BA. Posteriormente, em releitura do voto do Ministro Moreira Alves do STF, mudou de entendimento e passou a adotar a constitucionalidade da TR como índice de correção monetária (Resp 752879/DF).
 						Em relação ao FGTS há até súmula do STJ sobre a aplicação da TR como índice de correção monetária (Súmula nº 459).
 						Mas vale repisar: a aplicação de índice de correção monetária se presta a recuperar o poder de compra do valor emprestado. Este poder de compra é diretamente influenciado por um processo inflacionário. O STJ reconhece a influência da inflação e da deflação na composição do índice de correção monetária:
PREVIDENCIÁRIO E ECONÔMICO. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. DETERMINAÇÃO DE CORREÇÃO MONETÁRIA PELO IGP-M. ÍNDICES DE DEFLAÇÃO. APLICABILIDADE. OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DOS VENCIMENTOS. NÃO OCORRÊNCIA. PRESERVAÇÃO DO VALOR NOMINAL DA OBRIGAÇÃO. PRECEDENTES.
1. "A correção monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do poder aquisitivo da moeda, não devendo representar, consequentemente, por si só, nem um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor nominal da obrigação representa, portanto, manter, no tempo, o seu poder de compra original, alterado pelas oscilações inflacionárias positivas e negativas ocorridas no período. Atualizar a obrigação levando em conta apenas oscilações positivas importaria distorcer a realidade econômica produzindo um resultado que não representa a simples manutenção do primitivo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimo no valor real. Nessa linha, estabelece o Manual de Orientação de Procedimento de Cálculos aprovado pelo Conselho da Justiça Federal que, não havendo decisão judicial em contrário, "os índices negativos de correção monetária (deflação) serão considerados no cálculo de atualização", com a ressalva de que, se, no cálculo final, 'a atualização implicar redução do principal, deve prevalecer o valor nominal'" (Corte Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, Dje 18/4/12).
2. No precedente da Corte Especial, mencionado na decisão agravada, ficou expressamente consignado que se, na atualização da dívida, houver redução do principal, deve prevalecer o valor nominal, em respeito ao princípio da irredutibilidade de vencimentos, previsto nos arts. 7º, VI e 37, XV, da Constituição Federal.
3. A compreensão no sentido de que não há violação ao princípio da irredutibilidade dos vencimentos, quando preservado o valor nominal da obrigação, encontra respaldo na jurisprudência do STF e do STJ.
4. Agravo regimental improvido.
(AgRg nos EREsp 1252558/RS, Rel. Ministro Sérgio Kukina, 1ª Seção, julgado em 13/03/2013)
 						Em contraste com a linha traçada pelo STJ, o STF voltou recentemente à análise da TR como fator de correção e, uma vez mais, reafirmou o que já houvera sedimentado quando da ADI 493-0/DF. No julgamento pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal das quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI’s 4357, 4372, 4400 e 4425) que tinham por objeto a Emenda Constitucional nº 62/2009, que criou o regime especial de pagamento de precatórios, se lê do voto do relator, Ministro Ayres Britto:
“Com efeito, neste ponto de intelecção das coisas, nota-se que a correção monetária se caracteriza, operacionalmente, pela citada aptidão para manter um equilíbrio econômico-financeiro entre sujeitos jurídicos. E falar de equilíbrio econômico-financeiro entre partes jurídicas é, simplesmente, manter as respectivas pretensões ou os respectivos interesses no estado em que primitivamente se encontravam. Pois não se trata de favorecer ou beneficiar ninguém…”� (g.n.).
 						E citando a ADI 493-0/DF, que reconheceu que a TR “…não reflete a perda do poder aquisitivo da moeda…”, finaliza o ministro:
“ O que se conclui, portanto, é que o § 12 do art. 100 da Constituição acabou por artificializar o conceito de atualização monetária. Conceito que está ontologicamente associado à manutenção do valor real da moeda. Valor real que só se mantém pela aplicaçãode índice que reflita a desvalorização dessa moeda em determinado período. Ora, se a correção monetária dos valores inscritos em precatório deixa de corresponder à perda do poder aquisitivo da moeda, o direito reconhecido pela sentença judicial transitada em julgado será satisfeito de forma excessiva ou, de revés, deficitária. Em ambas as hipóteses, com enriquecimento ilícito de uma das partes da relação jurídica. E não é difícil constatar que a parte prejudicada, no caso, será, quase que invariavelmente, o credor da Fazenda Pública. Basta ver que, nos últimos quinze anos (1996 a 2010), enquanto a TR (taxa de remuneração da poupança) foi 55,77%, a inflação foi de 97,85%, de acordo com o IPCA”�.
 						Os excertos destacados permitem vislumbrar sem peias a postura da Corte Constitucional sobre a utilização da TR como índice de correção.
 						Não se pode esquecer que a cultura da correção monetária está arraigada ao nosso sistema econômico de tal forma que o Código Civil traz diversos dispositivos garantindo-a. E este breve retrospecto da evolução legal e jurisprudencial da aplicação da TR como índice de correção monetária é necessário para servir de introito ao núcleo da argumentação delineada nesta ação.
 						Hoje no País existem dois tipos de índices de correção monetária. Índices que refletem a inflação e, portanto, recuperam o poder de compra do valor aplicado, como o IPCA e o INPC, e um índice que não reflete a inflação e, consequentemente, não recupera o poder de compra do valor aplicado: a Taxa Referencial – TR.
 						Historicamente é preciso lembrar que a Taxa Referencial nunca foi igual à inflação. Nem em tempos de hiperinflação, nem no curto período de deflação. Todavia, os índices da TR, do INPC e do IPCA sempre andaram próximos. Em outras palavras, imperava a razoabilidade nos índices da TR para que pudessem atingir a finalidade de correção do valor do capital.
	ANO
	TR
	INPC
	IPCA
	1991
	335,51%
	475,11%
	472,69%
	1992
	1.156,22%
	1.149,05%
	1.119,09%
	1993
	2.474,73%
	2.489,11%
	2.477,15%
	1994
	951,19%
	929,32%
	916,43%
	1995
	31,6207%
	21,98%
	22,41%
	1996
	9,5551%
	9,125%
	9,56%
 						O panorama começa a cambiar, entretanto, a partir de 1999, quando a TR se distancia expressivamente do INPC e do IPCA, ao ponto de hoje a inflação superar 6% ano ano e a TR ser igual a ZERO. Logo, ela não se presta para o fim de manter o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, que são um patrimônio do trabalhador.
 						Da maneira como está o FGTS hodiernamente, sem recomposição inflacionária de seus recursos, o trabalhador não está financiando programas de habitação popular - ele está subsidiando!
 						Ao contrário de outros investimentos, o FGTS não é um fundo de livre disposição por parte do trabalhador, que não pode decidir por si mesmo quais as aplicações que lhe são mais convenientes ou rentáveis. O trabalhador tem que se submeter a políticas econômicas e sociais que lhe são altamente prejudiciais.
 						Não se trata aqui de elucubrações desprovidas de sustentação fática. A própria lei do FGTS diz em seu art. 2º que é garantida a aplicação de atualização monetária e juros aos saldos das contas vinculadas. Quando a TR é igual a ZERO este dispositivo é descumprido. Quando a TR é mínima e totalmente desproporcional em relação à inflação, este dispositivo também é descumprido. E em ambos casos o patrimônio do trabalhador é vilipendiado, diminuído, subtraído, por quem tem o dever legal de administrá-lo.
 						Num cenário de TR zero e inflação pública e notória, estamos diante de uma situação de confisco. O Governo Federal, através da Caixa Econômica Federal, está confiscando os rendimentos dos trabalhadores para subsidiar políticas públicas sem a menor possibilidade de ingerência desses trabalhadores.
 						Ora, se nosso Estado Democrático de Direito veda que se utilize o tributo com efeito de confisco, o trabalhador não pode ser punido com o confisco do que a própria Caixa define em seu web site como um patrimônio seu, do trabalhador.
 						Quando se fala em patrimônio imediatamente sobrevém lição de Maria Helena Diniz ao comentar o art. 91 do Código Civil:
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor econômico.
Universalidade de direito. É a constituída por bens corpóreos heterogêneos ou incorpóreos (complexo de relações jurídicas), a que a norma jurídica, com o intuito de produzir certos efeitos, dá unidade, por serem dotados de valor econômico, como p.ex., o patrimônio (...). O patrimônio e a herança são considerados como um conjunto, ou seja, como uma universalidade. Embora se constituam ou não de bens materiais e de créditos, esses bens se unificam numa expressão econômica, que é o valor. O patrimônio é complexo de relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis economicamente. Incluem-se no patrimônio: a posse, os direitos reais, as obrigações e as ações correspondentes a tais direitos. O patrimônio abrange direitos e deveres redutíveis a dinheito. (in Código Civil Anotado, Saraiva, p. 100).
 						Levando em conta que a relação jurídica entre os trabalhadores e a Caixa é de direito pessoal, o art. 233 do Código Civil se torna inafastável na medida em que determina que a obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios, ainda que não mencionados. Ora, acessórios de dinheiro são os juros e a correção monetária.
 						E então insurge, outra vez, a Taxa Referencial.
- Manipulação da TR - BACEN/CMN
Independentemente da discussão sobre sua natureza jurídica, convém adotar como pressuposto inicial, para desconstituí-la, a tese assentada pela jurisprudência, com destaque para as decisões do STJ, que apontam a TR como índice de correção monetária.
 						Tanto o art. 1º da Lei nº 8.177/1991 quanto o art. 5º da Lei nº 10.192/2001 (que convolou a MP 1.053/1995) atribuíram ao Banco Central a regulamentação da metodologia de cálculo da TR, conforme critério estabelecido na lei e a expedição das instruções necessárias ao cumprimento do artigo que criou a TBF.
Lei nº 8.177/1991:
Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado Federal.
Art. 5o Fica instituída Taxa Básica Financeira - TBF, para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado financeiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta dias.
Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional expedirá as instruções necessárias ao cumprimento do disposto neste artigo, podendo, inclusive, ampliar o prazo mínimo previsto no caput.
 						Com o objetivo de regulamentar a TR o Banco Central/CMN vem ao longo dos anos criando e reinventando fórmulas para encontrá-la. Pelo menos desde a Resolução nº 2.075/1994 há fórmulas para encontrar a TR. Todavia, é com a instituição da Taxa Básica Financeira, pela Medida Provisória nº 1.053/1995, que a fórmula de cálculo sofre uma expressiva reviravolta.
 						O peculiar nesta determinação do Banco Central/CMN, que de resto se repete desde 1997, é que a TBF e a TR são exatamente iguais em sua gênese até o momento em que se determina a aplicação de um redutor à TBF para se chegar à TR.
 						Não há na lei da TR previsão de aplicação de redutor, assim como também não há na lei que criou a TBF. Todavia, causa espécie que diante de um comando aberto como o do art. 5º da MP 1.503/1995 (Lei nº 10.192/2001), o Banco Central/CMN, com amplos poderes para regulamentar oassunto, não tenha instituído um redutor, mas o tenha feito ao regulamentar o art. 1º da Lei nº 8.177/1991, que não era tão flexível.
 						Uma comparação entre os percentuais da TR, INPC e IPCA, desde 1997, deixa evidente a perda do poder de compra dos depósitos nas contas vinculadas do FGTS, especialmente a partir de 1999.
	ANO
	TR
	INPC
	IPCA
	1997
	9,7849%
	4,34%
	5,22%
	1998
	7,7938%
	2,49
	1,65
	1999
	5,7295%
	8,43%
	8,94%
	2000
	2,0962%
	5,27%
	5,97%
	2001
	2,2852%
	9,44%
	7,67%
	2002
	2,8023%
	14,74%
	12,53%
	2003
	4,6485%
	10,38%
	9,30%
	2004
	1,8184%
	6,13%
	7,60%
	2005
	2,8335%
	5,05%
	5,69%
	2006
	2,0377%
	2,81%
	3,14%
	2007
	1,4452%
	5,15%
	4,46%
	2008
	1,6348%
	6,48%
	5,90%
	2009
	0,7090%
	4,11%
	4,31%
	2010
	0,6887%
	6,46%
	5,91%
	2011
	1,2079%
	6,07%
	6,50%
	2012
	0,2897%
	6,17%
	5,84%
	2013 (até maio)
	0,00%
	3,01%
	2,88%
Fonte: Portal Brasil (http://www.portalbrasil.net).
 						O disparate é cristalino.
 						Como dito antes o trabalhador aplica compulsoriamente seu dinheiro no FGTS e não pode retirá-lo para outro investimento. Recebe apenas uma remuneração de 0,247% a título de juros e nada mais. Não há correção monetária nem Taxa Referencial (que é 0%), em gritante vilipêndio ao art. 2º da Lei nº 8.036/1990, que impõe a correção monetária dos valores depositados pelo empregador.
 						Ainda que se argumente que a aplicação do Redutor pelo Banco Central/CMN é legal (!?), sua redução a ZERO num cenário de inflação superior a 6% ao ano configura ataque à concepção do precitado ao art. 2º da Lei nº 8.036/1990, claro ao determinar a atualização monetária, bem como ao art. 233 do Diploma Civil, na medida em que ignora os acessórios da obrigação de dar.
 						Impende, porém, revisitar o entendimento jurisprudencial sobre a TR como índice de correção monetária, mormente a partir da instituição de um Redutor que tem por efeito zerá-la num ambiente de inflação.
 						O quadro comparativo mostra que a TR não se presta como atualizador monetário do FGTS, pelo menos desde janeiro de 1999. No momento em que o Banco Central/CMN estabeleceu um redutor para a TR, ela deixou de ser um índice confiável para atualizar monetariamente as contas do fundo porque se afasta dos índices de inflação, com sensível redução ano a ano.
 						Corrigir monetariamente o capital é mantê-lo com poder de compra, finalidade distante de ser alcançada pela TR. Há nítida expropriação do patrimônio do trabalhador no instante em que lhe é negada uma hígida atualização monetária. Cabe, pois, ao Judiciário pátrio a nobre tarefa de fazer cessar este esbulho iniciado em 1999 e materializado nas constantes reduções da TR em relação aos índices de inflação, culminando na sua completa nulidade desde setembro de 2012.
 						O STF, no julgamento da ADI 493-0/DF, asseverou que a TR não constituía índice que refletia a variação do poder aquisitivo da moeda, característica que o transcorrer dos anos só fez confirmar. A sua aplicação – ou não aplicação quando chega a ZERO – diminui e destrói o patrimônio do trabalhador, de modo que há anos ele não tem ganho real em sua aplicação no fundo, senão todo o contrário: faz tempo que aufere rendimentos inferiores à inflação, mesmo levando em conta a insípida remuneração dos juros de 3% ao ano.
 						O que torna a TR um índice inidôneo é a intensa ingerência do Banco Central/CMN na sua formulação. Vale lembrar como é feito seu cálculo:
	§ 1º O valor do redutor 'R' deve ser calculado para todos os dias, inclusive não-úteis, de acordo com a seguinte fórmula:
R = (a + b . TBF/100), onde:
TBF = TBF relativa ao dia de referência;
a = 1,005;
b = valor determinado de acordo com a tabela abaixo, em função da TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art. 4º, em termos percentuais ao ano:
TBF (% a.a.) b
TBF maior que 16 0,48
TBF menor ou igual a 16 e maior que 15 0,44
TBF menor ou igual a 15 e maior que 14 0,40
TBF menor ou igual a 14 e maior que 13 0,36
TBF menor ou igual a 13 e maior ou igual a 11 0,32
§ 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a determinar o valor do parâmetro "b" no caso de a TBF obtida ser inferior a 11% a.a. (onze por cento ao ano).
 						Como se vê, quando a TBF (Taxa Básica Financeira – SELIC) for inferior a 11%, a variável “b” será determinada pelo Banco Central/CMN, sem critério técnico conhecido. Aí está o quid, posto que é esta discricionariedade, estipulada desde da Resolução nº 2.809/2000 e reproduzida nas posteriores, que afetou o cálculo do Redutor da TR e, consequentemente, a conduziu de modo paulatino a ZERO.
 						Pugnar pelo recálculo da TR tampouco se mostraria uma solução, vez que uma nova fórmula estaria igualmente sob a discricionariedade do BACEN. Basta avaliar a sucessão de resoluções do órgão sobre o assunto, que sempre mantiveram em suas mãos o poder de interferir na aferição da TR.
 						Não há dúvida que a TR não tem o condão de suprir as perdas monetárias dos depósitos do FGTS, ainda mais depois do que foi narrado até aqui. Outro caminho não existe se não o de adotar um novo índice que de fato corrija e mantenha o poder de compra desses depósitos.
 						- Índices reais de correção monetária
 						A lei de introdução ao Código Civil estabelece em seu art. 5º que na aplicação da lei o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se destina e às exigências do bem comum.
 						A lei do FTGS tem um fim social indiscutível: proteger o trabalhador e constituir um patrimônio que lhe sirva de arrimo em várias situações da vida. Assim, reconhecer a necessidade de efetiva correção monetária, com reposição dos índices inflacionários de forma a garantir o poder de compra daquele dinheiro, implica em atender ao telos social desenhado na lei do fundo. Cabe à Caixa tal proceder.
 						Visto que a TR não reflete a corrosão do poder de compra dos depósitos e não repõe as perdas monetárias havidas, urge substituí-la por um índice que o faça. Mas por qual?
 						A resposta, até por uma questão de equidade, está na adoção do mesmo índice utilizado para a correção do salário dos trabalhadores e benefícios previdenciários, previsto na Lei nº 12.382/2011:
	Art. 1o O salário mínimo passa a corresponder ao valor de R$ 545,00 (quinhentos e quarenta e cinco reais).
Parágrafo único. Em virtude do disposto no caput, o valor diário do salário mínimo corresponderá a R$ 18,17 (dezoito reais e dezessete centavos) e o valor horário, a R$ 2,48 (dois reais e quarenta e oito centavos).
Art. 2o Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de valorização do salário mínimo a vigorar entre 2012 e 2015, inclusive, a serem aplicadas em 1o de janeiro do respectivo ano. 
§ 1o Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário mínimo corresponderão à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado e divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, acumulada nos doze meses anteriores ao mês do reajuste.
§ 2o Na hipótese de não divulgação do INPC referente a um ou mais meses compreendidos no período do cálculo até o último dia útil imediatamente anterior à vigência do reajuste, o Poder Executivo estimará os índices dos meses não disponíveis.
§ 3o Verificada a hipótese de que trata o § 2o, os índices estimados permanecerão válidos para os fins desta Lei, sem qualquer revisão, sendo os eventuais resíduos compensados no reajuste subsequente, sem retroatividade.
§ 4o A título de aumento real, serão aplicados os seguintes percentuais:
I - em 2012, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto - PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2010;
II - em 2013, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2011;III - em 2014, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2012; e
IV - em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2013. 
§ 5o Para fins do disposto no § 4o, será utilizada a taxa de crescimento real do PIB para o ano de referência, divulgada pelo IBGE até o último dia útil do ano imediatamente anterior ao de aplicação do respectivo aumento real.
 						Ora, se o salário mínimo é corrigido monetariamente pelo INPC, por que o FGTS, que é um salário indireto do trabalhador, não o é?
 						A correção do salário mínimo pelo INPC objetiva preservar seu poder aquisitivo. A necessidade de preservar o poder aquisitivo é uma constante em todas as transações financeiras e só se aperfeiçoa quando repõe efetivamente as perdas inflacionárias.
 						Outro índice que se mostra viável para a manutenção do poder aquisitivo dos depósitos do FGTS é o IPCA/IBGE, índice oficial do Governo Federal instituído inicialmente com a finalidade de corrigir as demonstrações financeiras das companhias abertas e que, a partir de julho de 1999, passou a ser utilizado para medição das metas de inflação, contratadas com o FMI�.
 						Qualquer desses dois índices (INPC – IPCA) se mostra mais adequado para a manutenção do poder aquisitivo dos valores ingressados nas contas vinculadas do FGTS.
 						- Outras ponderações
 						O aviltamento dos recursos do patrimônio do trabalhador traz consequências para todos, individual e coletivamente.
 						O Sistema Financeiro da Habitação – SFH dispõe dos recursos do FGTS para financiar a aquisição de casa própria pelos trabalhadores. É a Caixa Econômica Federal a instituição que mais utiliza esses recursos, emprestando dinheiro para a aquisição do imóvel.
 						Em princípio parece não haver correlação entre o trabalhador que tem depósitos no FGTS e aquele que se vale do empréstimo do SFH para comprar sua casa. Contudo, em algum momento trabalhador e mutuário se tornam a mesma pessoa. É neste ponto de convergência que o debate ganha ares preocupantes.
 						Já seria reprovável o fato de a Caixa pegar um dinheiro a juros baixos e sem nenhuma correção e emprestá-lo a juros muito mais altos, mesmo sem correção (uma vez que a TR também corrige as prestações do SFH), o que evidencia que a instituição já leva vantagem nessa negociação. Mas a situação piora ainda mais quando a Caixa pega dinheiro a juros baixos, sem nenhuma correção para o trabalhador, e empresta para ele mesmo.
 						Suponhamos que um trabalhador queira adquirir uma casa própria utilizando os recursos do seu FGTS. Ele encontra o imóvel, mas verifica que seus recursos não são suficientes para adquirí-lo. Dirige-se, então, a um banco para financiar a diferença, comprometendo sua renda por longos anos.
 						A maioria dos brasileiros, quando quer adquirir um imóvel, dirige-se à Caixa Econômica Federal. É uma questão histórica. Mas se seus depósitos do FGTS tivessem sido devidamente corrigidos, com a manutenção de seu poder de compra, ou o empréstimo seria menor ou sequer haveria a necessidade de contratá-lo, contratação esta que implica no comprometimento de sua renda e anos de trabalho para adquirir aquilo que é básico: uma moradia.
 						A Caixa empresta para o trabalhador aquilo que ela deixou de lhe pagar a título de correção monetária na sua conta do FGTS; lhe vende o sonho da casa própria e às suas custas aufere vultosos lucros.
 						- Ulteriores apontamentos
 						A Taxa Referencial, enquanto índice de correção monetária – ao menos segundo posição atual do STJ – não pode ser reduzida a ZERO como tem sido nos últimos meses. É uma afronta ao art. 2º da Lei nº 8.036/1990, que garante atualização monetária aos depósitos do FGTS.
 						Como índice de correção monetária que supõe ser (e que para o STF não é), a TR deveria garantir o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, o que seria possível levando em conta os índices de inflação. Só que desde janeiro de 1999 a TR se distanciou sensivelmente dos indicadores oficiais de inflação, com profundas perdas aos depósitos do FGTS, transmudando-se em parâmetro inidôneo para garantir a reposição das perdas monetárias.
 						A pouca ou nula utilidade da TR como índice de correção monetária é fruto das transformações introduzidas em sua metodologia de cálculo pelo Banco Central/CMN, que através da criação de um Redutor vem manipulando o índice para que ele se desprenda da inflação, até anulá-lo completamente, a despeito de um quadro de inflação persistente no País.
 						A Caixa Econômica Federal assume o papel de esbulhador do FGTS, dispondo do patrimônio do trabalhador sem a correspondente contraprestação. A correção monetária aplicada ao FGTS tem sido há muito tempo menor que a inflação registrada pelo próprio Governo (INPC/IPCA), de forma que se descumpre não apenas o art. 2º da Lei nº 8.036/1990, mas também toda a lógica e princípios do mercado econômico.
 						Quem empresta tem direito de ser remunerado com juros e a totalidade da correção monetária. O trabalhador não pode ser obrigado a subsidiar ainda mais os projetos do Governo Federal. O “ainda mais” decorre do fato de os juros de 3% do FGTS serem os menores do mercado, o que, per se, demonstra que ele já está fazendo sua parte sob a perspectiva social.
 						Obstar o direito a uma efetiva e real correção monetária dos valores existentes nas contas vinculadas ao FGTS – contas que não são livremente questionadas pelo trabalhador, que delas não pode sacar dinheiro ou aplicá-lo em outros fundos ou investimentos – configura ato incompatível com um Estado Democrático de Direito.
 						Remunerasse o Governo os investidores internacionais com TR mais 3% a.a., como faz com os trabalhadores, a fuga em massa de investimentos seria uma constante.
 						Constatado que a TR não é capaz de restabelecer e manter o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, sua substituição por outro índice que melhor recomponha as perdas monetárias se torna imperioso, inclusive como forma de atender ao comando dos artigos 2º da Lei nº 8.036/1990 e 233 do Código Civil.
 						Visto que desde janeiro de 1999 o Redutor criado pelo BACEN/CMN promoveu o afastamento da TR dos outros índices oficiais de inflação, tem-se que desde então ela perdeu sua condição de repor as perdas inflacionárias dos depósitos do FGTS. Sua substituição pelo INPC ou, alternativamente, pelo IPCA/IBGE, é medida de justiça social.
 						Por fim, destacar que recente nota técnica divulgada pelo DIEESE (Nota Técnica nº 125, de junho de 2013)� constata:
Quando se compara a evolução da TR, da TR acrescida de 3% e do INPC, entre 1995 e 2012, constata-se que a remuneração das contas do FGTS só não fica abaixo da inflação por conta do acréscimo do percentual de 3% a título de capitalização. Entretanto, após 1999, quando o INPC passa a superar a TR, a diferença cumulativa entre as taxas cresceu tanto que, mesmo considerando o acréscimo dos juros capitalizados, a correção acumulada das contas vinculadas torna-se inferior à inflação acumulada em igual período. (g.n.)
 						Imperativo, nesse diapasão, que as contas vinculadas ao FGTS, em obediência à própria lei instituidora, recebam efetiva e real correção monetária – o que não existe, como analisado, com a manutenção da TR.
 						DOS PEDIDOS
 						Ante o exposto, os Autores requerem:
a) que a TR seja substituída pelo IPCA como índice de correção dos depósitos efetuados em nome dos substituídos a partir de sua concessão até o trânsito em julgado da presente ação, com consequente aplicação do novo índice sobre os depósitos constantes das contas vinculadas dos trabalhadores representados pelo autor, ou;
b) a aplicação de qualquer outro índice que reponha as perdas inflacionárias do trabalhador nas contas doFGTS, no entender deste Juízo, até o trânsito em julgado da presente ação, com a conseqüente aplicação do novo índice sobre os depósitos constantes das contas vinculadas dos trabalhadores representados pelo autor.
c) a citação da requerida, para querendo, contestar a presente ação.
d) condenação da requerida para pagar, a favor dos autores os valores correspondente às diferenças do FGTS em razão da aplicação da correção monetária do INPC nos meses em que a TR foi zero, nas parcelas vencidas e vincendas, e;
e) pagar, em favor dos autores, os valores correspondentes às diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária pelo INPC, desde janeiro de 1999, nos meses em que a TR não foi zero, mas foi menor que a inflação do período, ou;
f) pagar, a favor dos autores o valor correspondente às diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária pelo IPCA nos meses e que a TR foi zero, e;
g) pagar em favor dos autores, o valor correspondente às diferenças de FGTS em razão da correção monetária pelo IPCA desde Janeiro de 1999, nos meses em que a TR não foi zero, mas foi menor que a inflação do período, ou;
h) pagar, a favor dos autores, o valor correspondente às diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária por qualquer outro índice que reponha as perdas inflacionárias do trabalhador nas contas do FGTS, no entender deste Douto Juízo, desde janeiro de 1999, inclusive nos meses em que a TR foi zero.
i) Sobre os valores devidos pela condenação de que tratam os itens acima, deverão incidir correção monetária desde a inadimplência da Caixa Econômica Federal, bem como os juros legais à razão de 1% ao mês.
j) A condenação da Caixa Econômica Federal ao pagamento das custas e honorários advocatícios de 20% sobre o valor da condenação
 						Requer, ainda, provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidas, sem excepcionar qualquer, em particular depoimento pessoal da requerida, sob pena de confesso, provas testemunhais, requisição e juntada de documentos, prova pericial e outras que se fizerem necessárias para a completa elucidação da lide.
						Requer, ainda, os benefícios da Justiça Gratuita, em virtude dos autores serem pessoas pobres na acepção da palavra, não tendo condições de arcar com as despesas processuais, sem prejuízo do seu sustento e de sua família, conforme declaração em anexo.
						Por fim, requer que todas as intimações / notificações sejam enviadas à patrona NEUZA CLAUDIA SEIXAS ANDRÉ, OAB/SP 69.931, com endereço profissional na Av. Leomil nº. 180, em Guarujá, bem como a anotação na capa dos autos. 
 						Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (Dez mil reais), para os devidos efeitos de alçada.
 						Pede Deferimento.
 						Guarujá, 27 de abril de 2015.
 						NEUZA CLAUDIA SEIXAS ANDRÉ
 							OAB/SP 69.931
�
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ______ DA COMARCA DE SANTOS.
MÁRCIO RODRIGUES, brasileiro, casado, motorista, portador do RG N° 25.700.616-3 e CP/MF N° 197.474.638-06, residente na Rua Antonio Fernandes n° 415 – Vila Ligia - Guarujá; FRANCISCO DE ASSIS RODRIGUES DE SOUZA, brasileiro, solteiro, motorista, portador do RG N° 28.135.917-9 e CPF/MF N° 197.478.648-00, residente na Avenida Tancredo Neves n° 154 - Cachoeira – Guarujá; MARIOZILDO REIS, brasileiro, separado, pedreiro, portador do RG N° 20.685.214-9 e CPF/MF N° 025.472.708-54, residente na Rua Caique 33 n° 17 – Paecara – Guarujá; ROSA MENEZES SILVA PRATA, brasileira, separada, ajudante geral, portadora do RG N° 27.214.325-X e CPF/MF N° 168.826.498-12, residente na Rua Caique 33 n° 17 – Paecara – Guarujá, vem, com o devido respeito, à presença de Vossa Excelência, propor
AÇÃO DE COBRANÇA DE DIFERENÇA DE CORREÇÃO MONETÁRIA DO FGTS
em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, com endereço na Rua Avenida Leomil, 645 - Centro, Guarujá – SP CEP. 11410-161, com alicerce nos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir transcritos.
 						DOS FATOS
 						Os autores são trabalhadores e, como tal, possuem contas vinculadas ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS, conforme comprovam documentação acostada.
 						O FGTS foi criado nos anos 60 do século passado com o escopo de proteger o trabalhador, como sucessor da pretérita estabilidade decenal. Sua composição se faz mediante depósitos de valores pelos empregadores em nome de seus empregados, possibilitando que estes últimos constituam um patrimônio, ainda que, muitas vezes, singelo.
 						Ademais desse telos patrimonial, é sabido que as importâncias do fundo também são destinadas à financiação de programas de habitação popular, saneamento básico e infraestrutura urbana.
A regulamentação do FGTS está estampada na Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, nas normas e diretrizes fixadas por seu Conselho Curador, e sua gestão está à cargo da Caixa Econômica Federal.
Na lei que disciplina o tema, mas especificamente nos artigos 2º e 13, se vê que há uma obrigatoriedade de correção monetária e de remuneração através de juros das quantias depositadas nas contas vinculadas ao fundo, in verbis.
Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados com atualização monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigações.
Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e capitalização juros de (três) por cento ao ano. 
 						Ressalte-se que o parâmetro fixado para a atualização dos depósitos de poupança e consequentemente dos depósitos do FGTS é a Taxa Referencial – TR, conforme prescrevem os artigos 12 e 17 da Lei nº 8.177/1991, com redação da Lei nº 12.703/2012, que mencionam:
	Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança serão remunerados:
I - como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação das TRD, no período transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento, inclusive, e o dia do crédito de rendimento, exclusive;
II - como remuneração adicional, por juros de: (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
a) 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco Central do Brasil, for superior a 8,5% (oito inteiros e cinco décimos por cento); ou (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco Central do Brasil, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento, nos demais casos. (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
	Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança com data de aniversário no dia 1°, observada a periodicidade mensal para remuneração.
Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em vigor do FGTS são mantidas e consideradas como adicionais à remuneração prevista neste artigo.
 						No tocante à fórmula de cálculo da TR diz a Lei nº 8.177/1991:
	Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado Federal.
§ 1° (Revogado pela Lei nº 8.660, de 1993)
§ 2° As instituições que venham a ser utilizadas como bancos de referência, dentre elas, necessariamente, as dez maiores do País,classificadas pelo volume de depósitos a prazo fixo, estão obrigadas a fornecer as informações de que trata este artigo, segundo normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, sujeitando-se a instituição e seus administradores, no caso de infração às referidas normas, às penas estabelecidas no art. 44 da Lei n° 4.595, de 31 de dezembro de 1964.
§ 3° Enquanto não aprovada a metodologia de cálculo de que trata este artigo, o Banco Central do Brasil fixará a TR.
 						A metodologia do cálculo foi há muito definida pelo Banco Central – Conselho Monetário Nacional (CMN), atualmente vigente através da Resolução nº 3.354/2006.
 						Ocorre que há muito tempo a TR não reflete mais a correção monetária, tendo se distanciado completamente dos índices oficiais de inflação. Nos meses de setembro, outubro e novembro de 2009; janeiro e fevereiro de 2010; fevereiro e junho de 2012; e setembro de 2012 em diante, a TR tem sido completamente anulada, como se não existisse qualquer inflação no período passível de correção.
 						Aqui está o cerne da questão: a necessidade de garantir aos depósitos realizados nas contas vinculadas do FGTS uma efetiva e real correção monetária, em atenção aos princípios que nortearam a sua criação como um patrimônio do trabalhador.
 						DA LEGITIMIDADE DA CAIXA 
 						ECONÔMICA FEDERAL
 						Tendo em vista o objeto da demanda – correção monetária dos depósitos do FGTS - é inafastável a legitimidade passiva da Caixa Econômica Federal. Esta matéria, aliás, já foi alvo de análise do Superior Tribunal de Justiça, culminando inclusive com edição de súmula:
Súmula 249 – A Caixa Econômica Federal tem legitimidade passiva para integrar processo em que se discute correção monetária do FGTS.
 						Natural que assim seja, já que é a Caixa a gestora do fundo.
 						DA PRESCRIÇÃO
A pacífica posição jurisprudencial no que concerne ao lapso prescricional para as demandas relacionadas com a correção do FTGS merece ser destacada, até mesmo como forma de evitar despiciendas discussões. Por isso, a seguinte súmula do STJ é digna de descrição:
Súmula nº 210: A ação de cobrança das contribuições para o FGTS prescreve em (30) trinta anos.
 						O presente pleito encontra-se perfeitamente dentro do interregno mencionado, como se verá no transcorrer da exposição.
 						DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
 						- Correção monetária
 							A correção monetária existe, assim como o próprio FGTS, desde os anos 60.
 						Explica Bulhões Pedreira�:
Por analogia com as unidades de medidas físicas podemos dizer que o nível geral de preços é o padrão primário do valor financeiro, enquanto que a unidade monetária serve como padrão secundário – usado, na prática, para exprimir o valor financeiro, mas que deve ser aferido pelo padrão primário porque sujeito a modificações.
 						A moeda, segundo o doutrinador, seria a expressão do valor financeiro; mas este – o valor financeiro – seria apurado em sintonia com a modificação do nível geral de preços.
 						Em interessante artigo, de leitura obrigatória, Letácio Jansen� afirma que Bulhões Pedreira teria colocado em prática sua doutrina sobretudo por meio da Lei nº 4.357/1964, que criou a ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional), índice cuja função era fazer variar, periodicamente, a moeda nacional em conformidade com a perda de seu respectivo poder aquisitivo.
 						Desde então um sem fim de índices de correção monetária foram criados, até a edição da Medida Provisória nº 294/1991, convertida na Lei nº 8.177/1991, oportunidade em que o governo do então presidente Collor pretendeu substituir a série de indexadores tradicionais (ORTN, OTN e BTN), que eram vinculados à variação dos níveis gerais de preços, pela Taxa Referencial, de natureza financeira.
Subsiste ainda hoje a perplexidade em relação à natureza jurídica da TR, até por conta da própria inconsistência da lei que a criou, que ora a trata como taxa de juros (art. 39), ora como indexador (art.18).
 						Taxas de juros objetivam promover a remuneração do capital. São calculadas por quem disponibiliza o capital em benefício de outra pessoa, física ou jurídica, para que empregue para satisfação de determinada necessidade, na expectativa de lucro. Já os indexadores podem ser entendidos como índices calculados a partir da variação de preços de mercado em determinado período. O seu objetivo está na correção dos efeitos inflacionários, quando se comparam valores monetários em diferentes épocas.
 						Quando o Supremo Tribunal Federal enfrentou o tema da natureza da TR no julgamento da ADI 493-0/DF, assentou:
A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda.
 						Em contraposição a esta conclusão inserta no voto vencedor, os Ministros vencidos Celso de Mello, Marco Aurélio e Ilmar Galvão entenderam que a estrutura de cálculo da taxa referencial não era suficiente para impedir sua utilização como parâmetro de indexação da economia.
 						Ao final, contudo, sacramentou a Corte Suprema o entendimento segundo o qual a TR possuia natureza de taxa de juros e declarou inconstitucional o art. 18 da Lei nº 8.177/1991, cujo texto original estabelecia que os saldos devedores e as prestações integrantes do SFH passariam a ser atualizados pela taxa aplicável à remuneração básica dos Depósitos de Poupança
 						Esta a ementa do julgado:
Ação direta de inconstitucionalidade - Se a lei alcancar os efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroatividade minima) porque vai interferir na causa, que e um ato ou fato ocorrido no passado. - O disposto no artigo 5, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva. Precedente do S.T.F.. - Ocorrencia, no caso, de violação de direito adquirido. A taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depositos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda. Por isso, não há necessidade de se examinar a questão de saber se as normas que alteram indice de correção monetária se aplicam imediatamente, alcancando, pois, as prestações futuras de contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no artigo 5, XXXVI, da Carta Magna. - Também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o critério de reajuste das prestações nos contratos ja celebrados pelo sistema do Plano de Equivalencia Salarial por Categoria Profissional (PES/CP). Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18, "caput" e paragrafos 1 e 4; 20; 21 e paragrafo único; 23 e paragrafos; e 24 e paragrafos, todos da Lei n. 8.177, de 1 de maio de 1991. (ADI 493 – Relator: Min. Moreira Alves – Julgado em 25/06/1992 – DJ 04/09/1992, pp. 14089).
 						Por algum tempo até mesmo o STJ rejeitou a TR como índice de correção monetária, tanto para a poupança quanto para o SFH, do que são exemplos: Resp 40777/GO, Resp 140839/BA, Resp 209466/BA. Posteriormente, em releitura do voto do Ministro Moreira Alves do STF, mudou de entendimento e passou a adotar a constitucionalidade da TR como índice de correção monetária (Resp 752879/DF).
 						Em relação ao FGTS há até súmula do STJ sobre a aplicação da TR como índice de correção monetária (Súmula nº 459).
 						Mas vale repisar: a aplicação de índice de correção monetária se presta a recuperar o poder de compra do valor emprestado. Este poder de compra é diretamente influenciado por um processo inflacionário. O STJ reconhece ainfluência da inflação e da deflação na composição do índice de correção monetária:
PREVIDENCIÁRIO E ECONÔMICO. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. DETERMINAÇÃO DE CORREÇÃO MONETÁRIA PELO IGP-M. ÍNDICES DE DEFLAÇÃO. APLICABILIDADE. OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DOS VENCIMENTOS. NÃO OCORRÊNCIA. PRESERVAÇÃO DO VALOR NOMINAL DA OBRIGAÇÃO. PRECEDENTES.
1. "A correção monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do poder aquisitivo da moeda, não devendo representar, consequentemente, por si só, nem um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor nominal da obrigação representa, portanto, manter, no tempo, o seu poder de compra original, alterado pelas oscilações inflacionárias positivas e negativas ocorridas no período. Atualizar a obrigação levando em conta apenas oscilações positivas importaria distorcer a realidade econômica produzindo um resultado que não representa a simples manutenção do primitivo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimo no valor real. Nessa linha, estabelece o Manual de Orientação de Procedimento de Cálculos aprovado pelo Conselho da Justiça Federal que, não havendo decisão judicial em contrário, "os índices negativos de correção monetária (deflação) serão considerados no cálculo de atualização", com a ressalva de que, se, no cálculo final, 'a atualização implicar redução do principal, deve prevalecer o valor nominal'" (Corte Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, Dje 18/4/12).
2. No precedente da Corte Especial, mencionado na decisão agravada, ficou expressamente consignado que se, na atualização da dívida, houver redução do principal, deve prevalecer o valor nominal, em respeito ao princípio da irredutibilidade de vencimentos, previsto nos arts. 7º, VI e 37, XV, da Constituição Federal.
3. A compreensão no sentido de que não há violação ao princípio da irredutibilidade dos vencimentos, quando preservado o valor nominal da obrigação, encontra respaldo na jurisprudência do STF e do STJ.
4. Agravo regimental improvido.
(AgRg nos EREsp 1252558/RS, Rel. Ministro Sérgio Kukina, 1ª Seção, julgado em 13/03/2013)
 						Em contraste com a linha traçada pelo STJ, o STF voltou recentemente à análise da TR como fator de correção e, uma vez mais, reafirmou o que já houvera sedimentado quando da ADI 493-0/DF. No julgamento pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal das quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI’s 4357, 4372, 4400 e 4425) que tinham por objeto a Emenda Constitucional nº 62/2009, que criou o regime especial de pagamento de precatórios, se lê do voto do relator, Ministro Ayres Britto:
“Com efeito, neste ponto de intelecção das coisas, nota-se que a correção monetária se caracteriza, operacionalmente, pela citada aptidão para manter um equilíbrio econômico-financeiro entre sujeitos jurídicos. E falar de equilíbrio econômico-financeiro entre partes jurídicas é, simplesmente, manter as respectivas pretensões ou os respectivos interesses no estado em que primitivamente se encontravam. Pois não se trata de favorecer ou beneficiar ninguém…”� (g.n.).
 						E citando a ADI 493-0/DF, que reconheceu que a TR “…não reflete a perda do poder aquisitivo da moeda…”, finaliza o ministro:
“ O que se conclui, portanto, é que o § 12 do art. 100 da Constituição acabou por artificializar o conceito de atualização monetária. Conceito que está ontologicamente associado à manutenção do valor real da moeda. Valor real que só se mantém pela aplicação de índice que reflita a desvalorização dessa moeda em determinado período. Ora, se a correção monetária dos valores inscritos em precatório deixa de corresponder à perda do poder aquisitivo da moeda, o direito reconhecido pela sentença judicial transitada em julgado será satisfeito de forma excessiva ou, de revés, deficitária. Em ambas as hipóteses, com enriquecimento ilícito de uma das partes da relação jurídica. E não é difícil constatar que a parte prejudicada, no caso, será, quase que invariavelmente, o credor da Fazenda Pública. Basta ver que, nos últimos quinze anos (1996 a 2010), enquanto a TR (taxa de remuneração da poupança) foi 55,77%, a inflação foi de 97,85%, de acordo com o IPCA”�.
 						Os excertos destacados permitem vislumbrar sem peias a postura da Corte Constitucional sobre a utilização da TR como índice de correção.
 						Não se pode esquecer que a cultura da correção monetária está arraigada ao nosso sistema econômico de tal forma que o Código Civil traz diversos dispositivos garantindo-a. E este breve retrospecto da evolução legal e jurisprudencial da aplicação da TR como índice de correção monetária é necessário para servir de introito ao núcleo da argumentação delineada nesta ação.
 						Hoje no País existem dois tipos de índices de correção monetária. Índices que refletem a inflação e, portanto, recuperam o poder de compra do valor aplicado, como o IPCA e o INPC, e um índice que não reflete a inflação e, consequentemente, não recupera o poder de compra do valor aplicado: a Taxa Referencial – TR.
 						Historicamente é preciso lembrar que a Taxa Referencial nunca foi igual à inflação. Nem em tempos de hiperinflação, nem no curto período de deflação. Todavia, os índices da TR, do INPC e do IPCA sempre andaram próximos. Em outras palavras, imperava a razoabilidade nos índices da TR para que pudessem atingir a finalidade de correção do valor do capital.
	ANO
	TR
	INPC
	IPCA
	1991
	335,51%
	475,11%
	472,69%
	1992
	1.156,22%
	1.149,05%
	1.119,09%
	1993
	2.474,73%
	2.489,11%
	2.477,15%
	1994
	951,19%
	929,32%
	916,43%
	1995
	31,6207%
	21,98%
	22,41%
	1996
	9,5551%
	9,125%
	9,56%
 						O panorama começa a cambiar, entretanto, a partir de 1999, quando a TR se distancia expressivamente do INPC e do IPCA, ao ponto de hoje a inflação superar 6% ano ano e a TR ser igual a ZERO. Logo, ela não se presta para o fim de manter o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, que são um patrimônio do trabalhador.
 						Da maneira como está o FGTS hodiernamente, sem recomposição inflacionária de seus recursos, o trabalhador não está financiando programas de habitação popular - ele está subsidiando!
 						Ao contrário de outros investimentos, o FGTS não é um fundo de livre disposição por parte do trabalhador, que não pode decidir por si mesmo quais as aplicações que lhe são mais convenientes ou rentáveis. O trabalhador tem que se submeter a políticas econômicas e sociais que lhe são altamente prejudiciais.
 						Não se trata aqui de elucubrações desprovidas de sustentação fática. A própria lei do FGTS diz em seu art. 2º que é garantida a aplicação de atualização monetária e juros aos saldos das contas vinculadas. Quando a TR é igual a ZERO este dispositivo é descumprido. Quando a TR é mínima e totalmente desproporcional em relação à inflação, este dispositivo também é descumprido. E em ambos casos o patrimônio do trabalhador é vilipendiado, diminuído, subtraído, por quem tem o dever legal de administrá-lo.
 						Num cenário de TR zero e inflação pública e notória, estamos diante de uma situação de confisco. O Governo Federal, através da Caixa Econômica Federal, está confiscando os rendimentos dos trabalhadores para subsidiar políticas públicas sem a menor possibilidade de ingerência desses trabalhadores.
 						Ora, se nosso Estado Democrático de Direito veda que se utilize o tributo com efeito de confisco, o trabalhador não pode ser punido com o confisco do que a própria Caixa define em seu web site como um patrimônio seu, do trabalhador.
 						Quando se fala em patrimônio imediatamente sobrevém lição de Maria Helena Diniz ao comentar o art. 91 do Código Civil:
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor econômico.
Universalidade de direito. É a constituída por bens corpóreos heterogêneos ou incorpóreos (complexo de relações jurídicas), a que a norma jurídica,com o intuito de produzir certos efeitos, dá unidade, por serem dotados de valor econômico, como p.ex., o patrimônio (...). O patrimônio e a herança são considerados como um conjunto, ou seja, como uma universalidade. Embora se constituam ou não de bens materiais e de créditos, esses bens se unificam numa expressão econômica, que é o valor. O patrimônio é complexo de relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis economicamente. Incluem-se no patrimônio: a posse, os direitos reais, as obrigações e as ações correspondentes a tais direitos. O patrimônio abrange direitos e deveres redutíveis a dinheito. (in Código Civil Anotado, Saraiva, p. 100).
 						Levando em conta que a relação jurídica entre os trabalhadores e a Caixa é de direito pessoal, o art. 233 do Código Civil se torna inafastável na medida em que determina que a obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios, ainda que não mencionados. Ora, acessórios de dinheiro são os juros e a correção monetária.
 						E então insurge, outra vez, a Taxa Referencial.
- Manipulação da TR - BACEN/CMN
Independentemente da discussão sobre sua natureza jurídica, convém adotar como pressuposto inicial, para desconstituí-la, a tese assentada pela jurisprudência, com destaque para as decisões do STJ, que apontam a TR como índice de correção monetária.
 						Tanto o art. 1º da Lei nº 8.177/1991 quanto o art. 5º da Lei nº 10.192/2001 (que convolou a MP 1.053/1995) atribuíram ao Banco Central a regulamentação da metodologia de cálculo da TR, conforme critério estabelecido na lei e a expedição das instruções necessárias ao cumprimento do artigo que criou a TBF.
Lei nº 8.177/1991:
Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado Federal.
Art. 5o Fica instituída Taxa Básica Financeira - TBF, para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado financeiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta dias.
Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional expedirá as instruções necessárias ao cumprimento do disposto neste artigo, podendo, inclusive, ampliar o prazo mínimo previsto no caput.
 						Com o objetivo de regulamentar a TR o Banco Central/CMN vem ao longo dos anos criando e reinventando fórmulas para encontrá-la. Pelo menos desde a Resolução nº 2.075/1994 há fórmulas para encontrar a TR. Todavia, é com a instituição da Taxa Básica Financeira, pela Medida Provisória nº 1.053/1995, que a fórmula de cálculo sofre uma expressiva reviravolta.
 						O peculiar nesta determinação do Banco Central/CMN, que de resto se repete desde 1997, é que a TBF e a TR são exatamente iguais em sua gênese até o momento em que se determina a aplicação de um redutor à TBF para se chegar à TR.
 						Não há na lei da TR previsão de aplicação de redutor, assim como também não há na lei que criou a TBF. Todavia, causa espécie que diante de um comando aberto como o do art. 5º da MP 1.503/1995 (Lei nº 10.192/2001), o Banco Central/CMN, com amplos poderes para regulamentar o assunto, não tenha instituído um redutor, mas o tenha feito ao regulamentar o art. 1º da Lei nº 8.177/1991, que não era tão flexível.
 						Uma comparação entre os percentuais da TR, INPC e IPCA, desde 1997, deixa evidente a perda do poder de compra dos depósitos nas contas vinculadas do FGTS, especialmente a partir de 1999.
	ANO
	TR
	INPC
	IPCA
	1997
	9,7849%
	4,34%
	5,22%
	1998
	7,7938%
	2,49
	1,65
	1999
	5,7295%
	8,43%
	8,94%
	2000
	2,0962%
	5,27%
	5,97%
	2001
	2,2852%
	9,44%
	7,67%
	2002
	2,8023%
	14,74%
	12,53%
	2003
	4,6485%
	10,38%
	9,30%
	2004
	1,8184%
	6,13%
	7,60%
	2005
	2,8335%
	5,05%
	5,69%
	2006
	2,0377%
	2,81%
	3,14%
	2007
	1,4452%
	5,15%
	4,46%
	2008
	1,6348%
	6,48%
	5,90%
	2009
	0,7090%
	4,11%
	4,31%
	2010
	0,6887%
	6,46%
	5,91%
	2011
	1,2079%
	6,07%
	6,50%
	2012
	0,2897%
	6,17%
	5,84%
	2013 (até maio)
	0,00%
	3,01%
	2,88%
Fonte: Portal Brasil (http://www.portalbrasil.net).
 						O disparate é cristalino.
 						Como dito antes o trabalhador aplica compulsoriamente seu dinheiro no FGTS e não pode retirá-lo para outro investimento. Recebe apenas uma remuneração de 0,247% a título de juros e nada mais. Não há correção monetária nem Taxa Referencial (que é 0%), em gritante vilipêndio ao art. 2º da Lei nº 8.036/1990, que impõe a correção monetária dos valores depositados pelo empregador.
 						Ainda que se argumente que a aplicação do Redutor pelo Banco Central/CMN é legal (!?), sua redução a ZERO num cenário de inflação superior a 6% ao ano configura ataque à concepção do precitado ao art. 2º da Lei nº 8.036/1990, claro ao determinar a atualização monetária, bem como ao art. 233 do Diploma Civil, na medida em que ignora os acessórios da obrigação de dar.
 						Impende, porém, revisitar o entendimento jurisprudencial sobre a TR como índice de correção monetária, mormente a partir da instituição de um Redutor que tem por efeito zerá-la num ambiente de inflação.
 						O quadro comparativo mostra que a TR não se presta como atualizador monetário do FGTS, pelo menos desde janeiro de 1999. No momento em que o Banco Central/CMN estabeleceu um redutor para a TR, ela deixou de ser um índice confiável para atualizar monetariamente as contas do fundo porque se afasta dos índices de inflação, com sensível redução ano a ano.
 						Corrigir monetariamente o capital é mantê-lo com poder de compra, finalidade distante de ser alcançada pela TR. Há nítida expropriação do patrimônio do trabalhador no instante em que lhe é negada uma hígida atualização monetária. Cabe, pois, ao Judiciário pátrio a nobre tarefa de fazer cessar este esbulho iniciado em 1999 e materializado nas constantes reduções da TR em relação aos índices de inflação, culminando na sua completa nulidade desde setembro de 2012.
 						O STF, no julgamento da ADI 493-0/DF, asseverou que a TR não constituía índice que refletia a variação do poder aquisitivo da moeda, característica que o transcorrer dos anos só fez confirmar. A sua aplicação – ou não aplicação quando chega a ZERO – diminui e destrói o patrimônio do trabalhador, de modo que há anos ele não tem ganho real em sua aplicação no fundo, senão todo o contrário: faz tempo que aufere rendimentos inferiores à inflação, mesmo levando em conta a insípida remuneração dos juros de 3% ao ano.
 						O que torna a TR um índice inidôneo é a intensa ingerência do Banco Central/CMN na sua formulação. Vale lembrar como é feito seu cálculo:
	§ 1º O valor do redutor 'R' deve ser calculado para todos os dias, inclusive não-úteis, de acordo com a seguinte fórmula:
R = (a + b . TBF/100), onde:
TBF = TBF relativa ao dia de referência;
a = 1,005;
b = valor determinado de acordo com a tabela abaixo, em função da TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art. 4º, em termos percentuais ao ano:
TBF (% a.a.) b
TBF maior que 16 0,48
TBF menor ou igual a 16 e maior que 15 0,44
TBF menor ou igual a 15 e maior que 14 0,40
TBF menor ou igual a 14 e maior que 13 0,36
TBF menor ou igual a 13 e maior ou igual a 11 0,32
§ 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a determinar o valor do parâmetro "b" no caso de a TBF obtida ser inferior a 11% a.a. (onze por cento ao ano).
 						Como se vê, quando a TBF (Taxa Básica Financeira – SELIC) for inferior a 11%, a variável “b” será determinada pelo Banco Central/CMN, sem critério técnico conhecido.Aí está o quid, posto que é esta discricionariedade, estipulada desde da Resolução nº 2.809/2000 e reproduzida nas posteriores, que afetou o cálculo do Redutor da TR e, consequentemente, a conduziu de modo paulatino a ZERO.
 						Pugnar pelo recálculo da TR tampouco se mostraria uma solução, vez que uma nova fórmula estaria igualmente sob a discricionariedade do BACEN. Basta avaliar a sucessão de resoluções do órgão sobre o assunto, que sempre mantiveram em suas mãos o poder de interferir na aferição da TR.
 						Não há dúvida que a TR não tem o condão de suprir as perdas monetárias dos depósitos do FGTS, ainda mais depois do que foi narrado até aqui. Outro caminho não existe se não o de adotar um novo índice que de fato corrija e mantenha o poder de compra desses depósitos.
 						- Índices reais de correção monetária
 						A lei de introdução ao Código Civil estabelece em seu art. 5º que na aplicação da lei o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se destina e às exigências do bem comum.
 						A lei do FTGS tem um fim social indiscutível: proteger o trabalhador e constituir um patrimônio que lhe sirva de arrimo em várias situações da vida. Assim, reconhecer a necessidade de efetiva correção monetária, com reposição dos índices inflacionários de forma a garantir o poder de compra daquele dinheiro, implica em atender ao telos social desenhado na lei do fundo. Cabe à Caixa tal proceder.
 						Visto que a TR não reflete a corrosão do poder de compra dos depósitos e não repõe as perdas monetárias havidas, urge substituí-la por um índice que o faça. Mas por qual?
 						A resposta, até por uma questão de equidade, está na adoção do mesmo índice utilizado para a correção do salário dos trabalhadores e benefícios previdenciários, previsto na Lei nº 12.382/2011:
	Art. 1o O salário mínimo passa a corresponder ao valor de R$ 545,00 (quinhentos e quarenta e cinco reais).
Parágrafo único. Em virtude do disposto no caput, o valor diário do salário mínimo corresponderá a R$ 18,17 (dezoito reais e dezessete centavos) e o valor horário, a R$ 2,48 (dois reais e quarenta e oito centavos).
Art. 2o Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de valorização do salário mínimo a vigorar entre 2012 e 2015, inclusive, a serem aplicadas em 1o de janeiro do respectivo ano. 
§ 1o Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário mínimo corresponderão à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado e divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, acumulada nos doze meses anteriores ao mês do reajuste.
§ 2o Na hipótese de não divulgação do INPC referente a um ou mais meses compreendidos no período do cálculo até o último dia útil imediatamente anterior à vigência do reajuste, o Poder Executivo estimará os índices dos meses não disponíveis.
§ 3o Verificada a hipótese de que trata o § 2o, os índices estimados permanecerão válidos para os fins desta Lei, sem qualquer revisão, sendo os eventuais resíduos compensados no reajuste subsequente, sem retroatividade.
§ 4o A título de aumento real, serão aplicados os seguintes percentuais:
I - em 2012, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto - PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2010;
II - em 2013, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2011;
III - em 2014, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2012; e
IV - em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2013. 
§ 5o Para fins do disposto no § 4o, será utilizada a taxa de crescimento real do PIB para o ano de referência, divulgada pelo IBGE até o último dia útil do ano imediatamente anterior ao de aplicação do respectivo aumento real.
 						Ora, se o salário mínimo é corrigido monetariamente pelo INPC, por que o FGTS, que é um salário indireto do trabalhador, não o é?
 						A correção do salário mínimo pelo INPC objetiva preservar seu poder aquisitivo. A necessidade de preservar o poder aquisitivo é uma constante em todas as transações financeiras e só se aperfeiçoa quando repõe efetivamente as perdas inflacionárias.
 						Outro índice que se mostra viável para a manutenção do poder aquisitivo dos depósitos do FGTS é o IPCA/IBGE, índice oficial do Governo Federal instituído inicialmente com a finalidade de corrigir as demonstrações financeiras das companhias abertas e que, a partir de julho de 1999, passou a ser utilizado para medição das metas de inflação, contratadas com o FMI�.
 						Qualquer desses dois índices (INPC – IPCA) se mostra mais adequado para a manutenção do poder aquisitivo dos valores ingressados nas contas vinculadas do FGTS.
 						- Outras ponderações
 						O aviltamento dos recursos do patrimônio do trabalhador traz consequências para todos, individual e coletivamente.
 						O Sistema Financeiro da Habitação – SFH dispõe dos recursos do FGTS para financiar a aquisição de casa própria pelos trabalhadores. É a Caixa Econômica Federal a instituição que mais utiliza esses recursos, emprestando dinheiro para a aquisição do imóvel.
 						Em princípio parece não haver correlação entre o trabalhador que tem depósitos no FGTS e aquele que se vale do empréstimo do SFH para comprar sua casa. Contudo, em algum momento trabalhador e mutuário se tornam a mesma pessoa. É neste ponto de convergência que o debate ganha ares preocupantes.
 						Já seria reprovável o fato de a Caixa pegar um dinheiro a juros baixos e sem nenhuma correção e emprestá-lo a juros muito mais altos, mesmo sem correção (uma vez que a TR também corrige as prestações do SFH), o que evidencia que a instituição já leva vantagem nessa negociação. Mas a situação piora ainda mais quando a Caixa pega dinheiro a juros baixos, sem nenhuma correção para o trabalhador, e empresta para ele mesmo.
 						Suponhamos que um trabalhador queira adquirir uma casa própria utilizando os recursos do seu FGTS. Ele encontra o imóvel, mas verifica que seus recursos não são suficientes para adquirí-lo. Dirige-se, então, a um banco para financiar a diferença, comprometendo sua renda por longos anos.
 						A maioria dos brasileiros, quando quer adquirir um imóvel, dirige-se à Caixa Econômica Federal. É uma questão histórica. Mas se seus depósitos do FGTS tivessem sido devidamente corrigidos, com a manutenção de seu poder de compra, ou o empréstimo seria menor ou sequer haveria a necessidade de contratá-lo, contratação esta que implica no comprometimento de sua renda e anos de trabalho para adquirir aquilo que é básico: uma moradia.
 						A Caixa empresta para o trabalhador aquilo que ela deixou de lhe pagar a título de correção monetária na sua conta do FGTS; lhe vende o sonho da casa própria e às suas custas aufere vultosos lucros.
 						- Ulteriores apontamentos
 						A Taxa Referencial, enquanto índice de correção monetária – ao menos segundo posição atual do STJ – não pode ser reduzida a ZERO como tem sido nos últimos meses. É uma afronta ao art. 2º da Lei nº 8.036/1990, que garante atualização monetária aos depósitos do FGTS.
 						Como índice de correção monetária que supõe ser (e que para o STF não é), a TR deveria garantir o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, o que seria possível levando em conta os índices de inflação. Só que desde janeiro de 1999 a TR se distanciou sensivelmente dos indicadores oficiais de inflação, com profundas perdas aos depósitos do FGTS, transmudando-se em parâmetro inidôneo para garantir a reposição das perdas monetárias.
 						A pouca ou nula utilidade da TR como índice de correção monetária é fruto das transformações introduzidas em sua metodologia de cálculo pelo Banco Central/CMN, que através da criação

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