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SISTEMA CONSONANTAL LEITURAS: CAMARA JR. – Parte V (“As vogais e consoantes portuguesas”) – nas partes referentes às consoantes. CALLOU & LEITE – capítulo III (“Descrição fonológica do português”), parte 1 (“O sistema consonantal”) Arquifonema /S/ -‐ paz, mesmo Arquifonema /R/ -‐ par, carta Arquifonema /N/ -‐ lã, canto Consoante /l/ -‐ sal, palma CODA C NÚCLEO ONSET 1ª posição TODAS AS CONSOANTES C C 2ª posição CONSOANTES LÍQUIDAS – laterais e vibrantes Ex.: prato, pleno Distribuição das Consoantes conforme seu posicionamento na sílaba Consoante /n/ Arquifonema /R/ I -‐ CONSOANTES OCLUSIVAS POSIÇÃO DE ONSET POSIÇÃO DE CODA /p/ Pata, tapa rapto, pneu /b/ Bata, taba abnegar /t/ Teto, teto ritmo /d/ Dedo, dedo advogado /k/ Capa, paca pacto /g/ Gola, lago agnósaco É possível, de fato, haver oclusivas em posição de coda? POSIÇÃO DE ONSET POSIÇÃO DE CODA /p/ Pata, tapa rapto, pneu /b/ Bata, taba abnegar /t/ Teto, teto ritmo /d/ Dedo, dedo advogado /k/ Capa, paca pacto /g/ Gola, lago agnósaco Os fonemas que, aparentemente, estão na posição de coda, na verdade estão em posição de onset, pois logo após a consoante oclusiva há uma vogal: ra – p[i] – to; ri – t[i] – mo; p[i] – neu; pa – [ki] – to II -‐ CONSOANTES FRICATIVAS POSIÇÃO DE ONSET POSIÇÃO DE CODA /f/ Faca, grafar afta /v/ Vaca, cava /s/ Sala, assa As pessoas, asco /z/ zelo, asa As meninas, asma /ʃ / xale, acha As pessoas, asco /ʒ/ Gelo, aja As meninas, asma Os quatro fonemas fricaavos não-‐labiais comportam-‐se, em posição de coda, como sendo um só fonema. Ocorre aí o fenômeno da NEUTRALIZAÇÃO, no qual 2 ou mais fonemas deixam de se opor em um determinado contexto. O resultado da neutralização é representado fonologicamente pelo ARQUIFONEMA. Neste caso, usa-‐se o arquifonema sibilante /S/. /ˈaza/ -‐ /ˈaʃa/ -‐ /ˈasa/ -‐ /ˈaʒa/ -‐ /ˈpaSta/ -‐ /ˈaSma/ -‐ /aSˈbɔlaS/ III -‐ CONSOANTES VIBRANTES POSIÇÃO DE ONSET INTERVOCÁLICO POSIÇÃO DE ONSET NÃO-‐INTERVOCÁLICO /r/ vibrante múlapla Carro, erra Rio /R/ /ɾ/ vibrante simples Caro, era Rio /R/ As vibrantes se opõem apenas na posição intervocálica, ou seja, quando estão em posição de onset, sendo precedidas por vogal. POSIÇÃO DE ONSET COMO SEGUNDA CONSOANTE DO GRUPO CONSONANTAL POSIÇÃO DE CODA /r/ / vibrante múlapla -‐ Perto /R/ /ɾ/ / vibrante simples Cravo, retrato, Perto /R/ III -‐ CONSOANTES VIBRANTES – ASPECTOS FONÉTICOS Há, em português, apenas dois fonemas vibrantes. No entanto, as variantes que os realizam são bem variadas e muito diferentes entre si, especialmente no caso do fonema vibrante múlaplo. São elas: 1. Variantes da /ɾ/ vibrante simples (p. ex.: era) [ɾ] – tepe alveolar [ ] – tepe retroflexo [ɹ] –aproximante retroflexa 2. Variantes da /r/ vibrante múlapla (p. ex.: erra) [r] – vibrante alveolar [R] – vibrante uvular [ ] – fricaava uvular [x] – fricaava velar surda; [ ] – fricaava velar sonora [h] – fricaava glotal surda; [ ] – fricaava glotal sonora Quando ocorre a neutralização, todas as variantes de um dos fonemas pode ocorrer no lugar das variantes do outro, o que confere ao PB a grande variabilidade de pronúncias para o R, verificada, por exemplo, em coda silábica. IV – CONSOANTES NASAIS POSIÇÃO DE ONSET POSIÇÃO DE CODA /m/ mata, mama campo – ca/N/po /n/ nata, mana Manto – ma/N/to / / nhaca, manha -‐ As consoantes nasais /m/ e /n/ neutralizam-‐se em posição de coda silábica, gerando o arquifonema nasal /N/. Atente-‐se para o fato de que nos vocábulos que se grafam com al, também há a presença de uma consoante nasal travando a sílaba: lã -‐ /laN/; maçã -‐ /ma'saN/. V – CONSOANTES LATERAIS POSIÇÃO DE ONSET POSIÇÃO DE CODA /l/ lata, mala caldo – ca/l/do / / lhama, malha -‐ A consoante lateral alveolar /l/, embora se realize como [w] em quase todo o território brasileiro, mantém sua integridade nos estados da Região Sul, realizando-‐se como uma lateral velarizada [ɫ] em posição de coda. Desta forma, não se pode dizer que no português brasileiro ela não é mais usada. -‐ mal x mau? SISTEMA VOCÁLICO Callou & Leite, pág. 79. Para a descrição do funcionamento das vogais, observa-‐se a sua posição no vocábulo, sempre considerando a tonicidade da sílaba.Assim, as vogais são estudadas conforme a posição em que se encontram, definindo três sistemas: sistema pretônico, sistema tônico e sistema postônico. pretônica tônica postônica pretônica pretônica tônica tônica postônica postônica I -‐ VOGAIS TÔNICAS /a/ /ɛ/ /i/ /u/ /o/ /e/ /ɔ/ Neste sistema ocorrem 7 vogais com capacidade oposiEva: cica, s/e/ca, s/ɛ/ca, saca, s/ɔ/ca, s/o/co, r/ɔ/ta, r/o/ta, suco. I -‐ VOGAIS PRETÔNICAS /a/ /E/ /i/ /u/ /O/ Neste sistema ocorrem 5 vogais com capacidade oposiEva, havendo neutralização entre as vogais médias anteriores e posteriores: ligado x legado x logado, picado x pecado; curado x corado, murar x morar; pegado x pagado; malhado x molhado. Mapa de Antenor Nascentes que mostra as áreas dialetais do Brasil – O linguajar carioca, 1953. O quadro pretônico, na verdade, pode se reduzir ainda mais, chegando a três elementos, nos casos em que há o debordamento das vogais altas, “invadindo” os domínios das vogais médias. /a/ /E/ /i/ /u/ /O/ Três situações levam ao debordamento entre vogais médias e altas: 1. Posição da vogal média em hiato com vogal baixa: v[o]ar è v[u]ar 2. Posição inicial de vocábulo seguida de /S/: [i]special, [i]scola 3. Harmonização vocálica: presença de vogal tônica alta: m[i]nino III -‐ VOGAIS POSTÔNICAS NÃO-‐FINAIS* /a/ /i/ /U/ C.Jr. postula um quadro de 4 vogais em posição postônica não-‐final, argumentando que a troca de [i] por [e] "soaria estranha” nessa posição em alguns vocábulos, como em “número”. Entretanto, o autor não apresenta um par oposiavo que sustente essa oposição. Câmera x câmara; /E/ III -‐ VOGAIS POSTÔNICAS FINAIS /a/ /I/ /U/ Neste sistema ocorrem 3 vogais com capacidade oposiEva, havendo neutralização entre as todas as vogais anteriores e todas as posteriores: pele x pela x pelo. ALGUMAS CARTAS LINGUÍSTICAS AGUILERA, Vanderci e ALTINO, Fabiane. Para um Atlas pluridimensional: pesquisas e pesquisadores. In: Alfa, rev. linguíst. (São José Rio Preto) vol.56 no.3 São Paulo 2012. hp://www.scielo.br/scielo.phppid=S1981-‐57942012000300007&script=sci_arext CRUZ-‐CARDOSO, Maria Luísa. Atlas Linguísaco do Amazonas (ALAM). VOGAIS NASAIS LEITURAS: CAMARA JR. – Parte V (“As vogais e consoantes portuguesas”), pág.58. CALLOU & LEITE – capítulo III (“Descrição fonológica do português”), parte 2, pág. 85. “A interpretação fonológica das vogais nasais em português tem sido sempre objeto de discussão por parte dos linguistas. Confrontando os pares mata / manta seda / senda lida / linda boba / bomba fuga / funga Resta-‐nos saber em que consiste a oposição entre as formas: 1) Na presença, em cada par, de vogais diferentes (vogal oral x vogal nasal) ou 2) Na presença, no segundo elemento de cada par, de um segmento fônico ausente no primeiro (vogal oral x vogal oral + elemento consonânaco nasal).” (Callou e Leite) Em síntese, a questão para a fonologia é: como interpretar a diferença entre “mata” e “manta”, por exemplo? Há 2 possibilidades: 1) Mata e manta consatuem um par oposiavo: /’mata/ x /’mãta/ 2) Mata e manta não consatuem um par oposiavo, pois em mata há 4 fonemas e em manta há um fonema a mais, a consoante nasal travadora de sílaba: /’mata/ x /’maNta/. Esta é a interpretação adotada por C. Jr.. A adoção de uma ou outra interpretação traz consequências diferenciadas para a descrição de outros fatos fonológicos. Se se considera que há vogais nasais no português • o quadro vocálico aumenta e passa a contar com 12 fonemas: 7 vogais orais e 5 vogais nasais; • O quadro consonantal deixa de ter um elemento, o arquifonema /N/; • A língua escrita é acrescida de 10 dígrafos vocálicos: an, am, en, em, in, im, on, om, un, um. C. Jr. apresenta 4 argumentos para defender sua posição (qual seja, a não-‐ existência de fonemas vogais nasais no português) e Callou e Leite, ao apresentar a argumentação do autor, buscam contra-‐argumentar. Vejamos argumentos e contra-‐argumentos: Argumentos de C. Jr. Contra-‐argumentos 1. No português não existe o contraste entre vogal oral, vogal nasal e vogal oral + consoante nasal, como há no francês: [‘bo] x [‘bõ] x [‘bon] Beau x bon x bonne Para Lüdtke, que defende uma interpretação mais concreta, esse argumento não seria válido para o português europeu, considerando uma sequência como: [‘vi] x [‘vĩ] x [‘vim] Vi x vim x vime Argumentosde C. Jr. Contra-‐argumentos 2. A sílaba com a vogal dita nasal comporta-‐se como sílaba travada por consoante e, quando final – seguida de palavra iniciada por vogal – não sofre crase, por exemplo, “lã azul”, “jovem amigo” etc. Callou e Leite: O Segundo exemplo arrolado possibilita, no entanto, uma contração dos vocábulos, admiando-‐se uma realização com ou sem nasalidade, ditongada ou não: ‘jov[ja]migo, jov[jã]migo, jov[a]migo. Cunha: Não é a nasalidade que inviabiliza a crase em “lã azul” e sim a pauta acentual. A crase não ocorre entre vogais tônicas ou entre vogal tônica e vogal átona, o que inviabiliza o exemplo de C. Jr. (lã azul). No entanto, se subsatuirmos o exemplo por dois vocábulos em que haja vogais nasais átonas, a crase pode ocorrer: “Íma anago” – ím[ã]ago. Em “lã anaga”, mais uma vez, a crase não ocorre, pois há o encontro de vogal tônica e vogal átona. Argumentos de C. Jr. Contra-‐argumentos 3. Depois de vogal nasal só se realiza um r forte (como em tenro) e nunca o brando, próprio de posição intervocálica. Callou e Leite: Não podemos esquecer, porém, que em posição intervocálica o r forte também ocorre. 4. No interior de vocábulo, não há em português vogal nasal em hiato: ou a nasalidade desaparece como em ‘boa’ (face a ‘bom’) ou o elemento consonânaco se desloca para a sílaba seguinte, como em ‘valentona’ (face a ‘valentão’). Callou e Leite: O Estudo diacrônico nos mostra que a tendência evoluava da língua padrão foi a perda da nasalidade da vogal em hiato: bona > bõa > boa, luna > lũa > lua. No entanto, na fala popular, podemos encontrar ainda hoje exemplos de sua ocorrência. Tal fato está documentado na carta 1 do Atlas Prévio dos Falares Baianos. A forma [’lũa] ocorre em onze pontos do estado da Bahia, em homens e mulheres de áreas e faixa etária diversas.
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