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MAG Prof. Dr. Marco Aurelio Guimarães Centro de Medicina Legal - CEMEL Departamento de Patologia e Medicina Legal FMRP-USP MAG Problema Moral ? OU Ético MAG Moral É um sistema de valores, do qual resultam normas que são consideradas corretas por uma sociedade. Barton & Barton, 1984 Ética Percepção dos conflitos da vida psíquica (emoção X razão) e da condição que podemos adquirir, de nos posicionarmos de forma coerente, face a esses conflitos. Segre & Cohen, 1999 MAG 27 Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. 28 Deus os abençoou: “Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra. Gênese, 1: 27-28 26 Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Mateus, 6: 26 A Visão Antropocêntrica MAG A Visão Biocêntrica 19 De tudo o que vive, de cada espécie de animais, farás entrar na arca dois, macho e fêmea, para que vivam contigo. 20 De cada espécie de aves, e de cada espécie de quadrúpedes, e de cada espécie de animais que se arrastam sobre a terra, entrará um casal contigo, para que lhes possa conservar a vida. 21 Tomarás também contigo de todas as coisas para comer, e armazená-las-ás para que te sirvam de alimento, a ti e aos animais. Gênese, 6: 19-21 6 Não se vendem cinco pardais por dois asses? E, entretanto, nem um só deles passa despercebido diante de Deus. Lucas, 12: 6 MAG HUMANA ANIMAL O valor da vida é uma questão ética notoriamente difícil e nós somente podemos chegar a uma conclusão razoável sobre o valor comparativo das vidas humanas e animais após termos discutido o valor da vida em geral. Peter Singer MAG Para aprender como homens e animais vivem, nós não podemos evitar ver um grande número deles morrer, porque o mecanismo da vida pode ser desvendado e provado somente pelo conhecimento dos mecanismos da morte. Claude Bernard (1813-1878) Introdução ao Estudo da Medicina Experimental MAG Aristóteles - Animais têm mente, mas não razão = exclusão da comunidade moral. Descartes (1596-1650) - Sobre os animais: A falta de linguagem e raciocínio abstrato demonstraria a falta de mente. A capacidade para sensações seria estritamente corporal e mecânica, sendo que por esta razão eles seriam incapazes de sentir dor. “Animais agem naturalmente e mecanicamente, como um relógio que conta o tempo melhor que o nosso julgamento o faz.” Predomínio da filosofia cartesiana até o século XVIII. Visão Antropocêntrica MAG Nós temos o direito de fazer experimentos em animais e vivissecção? Eu penso que temos este direito, total e absolutamente. Seria estranho se reconhecêssemos o direito de usar animais para serviços caseiros e alimentação , mas proibíssemos o seu uso para o ensino de uma das ciências mais úteis para a humanidade. Experimentos devem ser feitos tanto no homem quanto nos animais. Penso que os médicos já fazem muitos experimentos perigosos no homem, antes de estudá-los cuidadosamente nos animais. Eu não admito que seja moralmente aceitável testar remédios mais ou menos perigosos ou ativos em pacientes hospitalizados, sem primeiro experimentá-los em cães. Claude Bernard, 1865 Visão Antropocêntrica MAG MAG 1) O Modelo das Propriedades Humanas a) Auto-consciência b) Capacidade de se engajar em uma seqüência de atos com um propósito c) Capacidade de apreciar razões para agir d) Capacidade de se comunicar usando uma linguagem e) Capacidade de fazer julgamentos morais f) Racionalidade 2) Especiecismo Visão Antropocêntrica MAG 3) A teoria Deontológica Kant (1724-1804) - Diferente de coisas e animais, seres humanos nunca podem ser usados como meios para um determinado fim. Animais devem ser vistos como instrumentos do homem e como meios para um fim. Seres humanos não têm obrigações diretas para com animais. Só indiretas. 4) Valor inerente Visão Antropocêntrica MAG Justificativas para usar animais 1) Nenhum sistema biológico preparado para experimentação responde de modo tão complexo quanto um organismo vivo. 2) Muitos procedimentos são demasiado invasivos, dolorosos ou arriscados para serem testados diretamente em humanos. 3) A ciência progride mais rápido com o uso de animais. 4) O benefício do conhecimento adquirido para os seres humanos. “Se não testarem em animais, vão testar em quem? Nos nossos filhos?” Visão Antropocêntrica MAG MAG Hume (1711-1776) - Nova visão sobre os animais Visão cartesiana = Excessiva aderência ao dogmatismo filosófico. Aplicação correta das palavras Entendimento (aprendizado por experiência) e Razão (inferências casuais). Animais podem expressar sentimentos como amor e orgulho. Analogias entre capacidades humanas e animais. Visão Biocêntrica MAG A questão não é eles podem raciocinar? Ou então, eles podem falar? Mas, eles podem sofrer? Bentham (1748-1832) Visão Biocêntrica MAG MAG MAG MAG MAG MAG Darwin (1809-1882) - Teoria da Evolução Predomínio da razão sobre os instintos naturais em animais. Críticas: Razão, capacidade de comunicação e senso moral Contraposições de Darwin: •Graus de poder da mente •Linguagem própria •Senso de grupo e afeto individual Conseqüências morais: Animais possuem “conceito mental” e “auto- consciência”. Visão Biocêntrica MAG MAG MAG Pesquisas atuais Identidade genética compartilhada com a espécie humana: Chimpanzé – 99,4% (estudos anteriores mostravam 98,6%) Bonobos – 98% Gorilas – 97,5% Orangotangos – 96,3% Visão Biocêntrica MAG Teorias contemporâneas Frey - Análise de valor da vida baseada na comparação de qualidade de vida dos animais, incluindo o ser humano como animal. Cães, Gatos, Chimpanzés > Camundongos, Ratos, Larvas Chimpanzé “normal” > Criança “anormal” Singer - O envolvimento de animais só pode ser justificado com bases nos interesses desses animais. Rejeição ao utilitarismo de Frey = Exposição de populações vulneráveis Visão Biocêntrica MAG Visão Biocêntrica MAG Justificativas para NÃO usar animais 1) Organismos de diferentes espécies podem responder de modo completamente diferente a estímulos diversos (ex: AAS, talidomida, fialuridina). 2) Muitos problemas que afligem a espécie humana não têm modelo experimental ou têm modelos de validade questionável (ex:AIDS). 3) A ciência pode progredir sem o uso de animais (ex: AIDS). 4) Os custos de produção e manutenção de animais podem ser revertidos para pesquisas adequadamente planejadas em seres humanos. 5) A pesquisa em animais pode gerar conhecimento niilista ou mesmo que atrase o verdadeiro conhecimento sobre a espécie humana. Visão Biocêntrica MAG Visão Biocêntrica MAG Visão Antropocêntrica X Visão Biocêntrica Princípios Três “Rs” Refinement Reduction Replacement Russel & Burch, 1959 MAG Animais British Anticruelty Act (1822) British Cruelty to Animals Act (1876) USA- The Animal Welfare Act (1966; 1970; 1976; 1986; 1989; 1991; 1992) BRASIL Decreto 24.645, de 10 de julho de 1934. Lei 6.638, de 08 de maio de 1979 - Normas para a Prática Didático-Científica da Vivissecção de Animais 9.605, de12 de fevereiro de 1998 - Lei dos Crimes Ambientais Humanos Declaração de Nüremberg (1946) Declaração de Helsinque (1964, 2000) Código de Ética Médica (1988) Resolução 196, de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde - Pesquisa em seres humanos. MAG MAG MAG MAG 1) Guiding Principles in the Care and Use of Animals - American Physiological Society 2) Guide to the Care and Use of Experimental Animals - Canadian Council on Animal Care 3) Princípios Éticos na Experimentação Animal - Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) http://www.cobea.org.br/ MAG "Princípios Éticos e Práticos do uso de Animais de Experimentação“ Monica Levy Andersen, Vania D, Almeida, Gui Mi Ko, Regiane Kawakami, Paulo José Forcina Martins, Luiz Edmundo de Magalhães, Sérgio Tufik. Princípios éticos na experimentação animal – COBEA A evolução contínua das áreas de conhecimento humano, com especial ênfase àquelas de biologia, medicinas humana e veterinária, e a obtenção de recursos de origem animal para atender necessidades humanas básicas, como nutrição, trabalho e vestuário, repercutem no desenvolvimento de ações de experimentação animal, razão pela qual se preconizam posturas éticas concernentes aos diferentes momentos de desenvolvimento de estudos com animais de experimentação. Postula-se: Artigo I - É primordial manter posturas de respeito ao animal, como ser vivo e pela contribuição científica que ele proporciona. Artigo II - Ter consciência de que a sensibilidade do animal é similar à humana no que se refere a dor, memória, angústia, instinto de sobrevivência, apenas lhe sendo impostas limitações para se salvaguardar das manobras experimentais e da dor que possam causar. Artigo III - É de responsabilidade moral do experimentador a escolha de métodos e ações de experimentação animal Artigo IV - É relevante considerar a importância dos estudos realizados através de experimentação animal quanto a sua contribuição para a saúde humana em animal, o desenvolvimento do conhecimento e o bem da sociedade. Artigo V - Utilizar apenas animais em bom estado de saúde. Artigo VI - Considerar a possibilidade de desenvolvimento de métodos alternativos, como modelos matemáticos, simulações computadorizadas, sistemas biológicos "in vitro", utilizando-se o menor número possível de espécimes animais, se caracterizada como única alternativa plausível. Artigo VII - Utilizar animais através de métodos que previnam desconforto, angústia e dor, considerando que determinariam os mesmos quadros em seres humanos, salvo se demonstrados, cientificamente, resultados contrários. Artigo VIII - Desenvolver procedimentos com animais, assegurando-lhes sedação, analgesia ou anestesia quando se confignar o desencadeamento de dor ou angústia, rejeitando, sob qualquer argumento ou justificativa, o uso de agentes químicos e/ou físicos paralizantes e não anestésicos. Artigo IX - Se os procedimentos experimentais determinarem dor ou angústia nos animais, após o uso da pesquisa desenvolvida, aplicar método indolor para sacrifício imediato. Artigo X - Dispor de alojamentos que propiciem condições adequadas de saúde e conforto, conforme as necessidades das espécies animais mantidas para experimentação ou docência. Artigo XI - Oferecer assistência de profissional qualificado para orientar e desenvolver atividades de transportes, acomodação, alimentação e atendimento de animais destinados a fins biomédicos. Artigo XII - Desenvolver trabalhos de capacitação específica de pesquisadores e funcionários envolvidos nos procedimentos com animais de experimentação, salientando aspectos de trato e uso humanitário com animais de laboratório. MAG http://www.eca.usp.br/nucleos/filocom/existocom/ensaio16b.htm MAG http://bvsvet.blogspot.com.br/2012/04/bioetica-e-guarda-responsavel-de.html MAG Numa famosa disputa pública entre Juan Ginés de Sepúlveda e Bartolomé de Las Casas em 1550 e 1551, questões sobre a legalidade da conquista espanhola dos Índios Americanos foram formalmente debatidas. Sepúlveda argumentava que os Índios eram idólatras, pecadores e menos do que humanos. Las Casas considerava as conquistas como violações da justiça natural, tendo os Índios como totalmente humanos e vendo o amor e a gentileza como as únicas forças legítimas para lidar com eles. Terminada a disputa, se tornou muito claro que o debate era centralmente sobre a questão se os Índios eram humanos ou sub-humanos e se os Europeus poderiam deixar de lado todas as restrições de justiça e humanidade nas suas interações com os Índios. Muitos acreditam que o debate atual sobre interações humanos-animais são fundamentalmente similares. Orlans et al., 1998. MAG Obrigado pela atenção! Isso é ético? MAG
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