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Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 74 MED RESUMOS 2011 ELOY, Yuri Leite; NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCICA PATOLOGIAS DO LÍQUIDO AMNIÓTICO (Professor Francisco Mendonça) O líquido amniótico (LA) é composto por água (98%) e elementos sólidos orgânicos e inorgânicos (2%). Os mecanismos envolvidos em sua produção e reabsorção variam de acordo com a idade gestacional e dependem intimamente das relações entre concepto, placenta e organismo materno. No primeiro trimestre, o LA é isotônico com relação ao sangue fetal e materno, representando um transudato do trofoblasto. A principal fonte de LA, nesta fase, é a membrana amniótica. No segundo e no terceiro trimestres, os rins fetais representam a maior fonte de produção, enquanto a deglutição fetal é responsável por praticamente toda a reabsorção do LA. O LA representa um papel fundamental no crescimento e desenvolvimento do concepto, possibilitando sua movimentação, protegendo-o contra traumatismos e favorecendo seu equilíbrio térmico. Participa também da homeostase de fluidos e eletrólitos, auxilia no desenvolvimento do pulmão fetal, distribui homogeneamente a pressão resultante das metrossístoles durante o trabalho de parto, além de revelar importantes informações concernentes à vitalidade e à maturidade do feto. Excluindo a amniorrexe prematura, as patologias mais comuns e prevalentes do líquido amniótico são: o Oligoidrâmnio e Polidrâmnio. Estas duas situações serão discutidas com maiores detalhes ao longo deste capítulo. POLIIDRMNIO O poliidramnio é definido como o excesso na quantidade de líquido amniótico (LA), estando associado à maior morbidade e mortalidade perinatais. Caracteriza-se quando o volume de LA é superior a 2.000ml. Sua incidência está em torno de 0,4 % à 1,5 % das gestações. ETIOPATOGENIA Causas fetais: consiste basicamente em uma série de doenças que determinam uma maior produção de líquido amniótico, superando a capacidade fetal e materna de absorção. Obstruções gastrointestinais; Anomalias congênitas (SNC); Arritmias cardíacas; Infecções; Hidropisia fetal auto-imune: Tumores fetais: nesses casos merecem destaque as tumorações renais Poliúria fetal; Causas maternas Diabetes Mellitus Doença hemolítica peri-natal (DHPN) e Gemelaridade homozigótica. Causas placentárias Síndrome da transfusão feto-fetal Corioangioma: tumoração diagnosticada por USG, sendo uma causa importante a se pensar diante de uma paciente com polidrâmnio. Idiopática CLASSIFICAÇÃO Agudo. Nestas pacientes, os sinais e sintomas sugestivos de polidrâmnio aparecem em poucos dias, de modo que o abdome cresce de forma exagerada e a paciente percebe uma desproporção entre a idade gestacional e tamanho do útero. Além disso, estas pacientes referem um crescimento lento e gradativo normal do útero e que, em poucos dias, ocorre um aumento exagerado do abdome. Além disso, nota-se uma pele distendida, lisa e brilhosa. Referem também cansaço fácil, justificado pela compressão do músculo diafragma. Ocorre com uma maior frequência no 2º trimestre (antes de 24 semanas) e evolui em trabalho de parto prematuro e com elevados índices de mortalidade. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 75 Crônico. Consiste em uma forma de dif cil diagnstico, pois, nestes casos, a gestante no percebe o crescimento exagerado e gradativo da regio abdominal. Diferentemente da forma aguda, o aparecimento na forma crnica ocorre em semanas e no em dias. Tem uma maior frequncia no 3 trimestre de gestao, tendo uma evoluo fetal mais favorvel, associado a diversas condies. A principal delas consiste em preparar o feto para o trabalho de parto, haja visto que uma gestao de 3 trimestre, em que h possibilidade de administrar corticides para maturao pulmonar melhorando assim s condies de sobrevida fetais. DIAGNÓSTICO Clínico. O diagnostico cl nico estabelecido de acordo com os achados da anamnese e exame físico. Entre os principais podemos citar: Altura do fundo uterino no compat vel com a idade gestacional; Edemas nas pores baixas do ventre; Pele do abdome distendida, lisa e brilhante Presena de estrias extensas: ocorrem como resultado do desprendimento das camadas da pele de forma abrupta. Dificuldade na palpao do tero e partes fetais, justificado pela quantidade exacerbada de l quido fetal, condio esta que impede a palpao (atravs das manobras de Leopold) de fundo uterino e partes fetais. Dificuldade na ausculta dos BCF Sinal de “piparote” Hipertonia uterina e hipossistolia: o crescimento exagerado do tero, devido grande quantidade de LA, determina um aumento do tnus uterino. Com isso a paciente relata alm do crescimento exagerado do abdome, dor local. Exames complementares. Ultra-Sonografia: um exame de baixo custo, pouco invasivo e de fcil acesso. Alm disso, traz informaes importantes ao mdico para estabelecer o diagnstico prematuro. Dependendo da causa do poliidrmnio, a USG ainda pode suspeitar sobre uma poss vel etiologia, como o caso de anormalidades do SNC, corioangioma, etc. De uma forma geral, a USG avalia o LA atravs da tcnica do ndice de l quido amnitico (ILA). Assim temos: Índice de líquido amniótico Volume do LA 8 a 18 cm Normal > 18 e ≤ 24 cm LA Aumentado > 24 cm Poliidrmnio COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS Sabe-se que, fisiologicamente, a gestante passa por uma fase denominada de materno-puerperal, que consiste em uma srie de mudanas anatmicas e fisiolgicas (endcrinas, metablicas, etc.) para suportar e manter a gravidez at o momento do parto. Quando esse processo interrompido ou acelerado por qualquer distrbio, incluindo a polidrmnio, nota-se o sofrimento materno. Com isso as principais alteraes so: Dificuldade respiratória materna: consiste em uma das primeiras queixas relatadas pelas pacientes. Isso est associado principalmente compresso do msculo diafragma pelas estruturas abdominais. Refere piora do quadro de dispnia principalmente na posio deitada, referindo piora na expanso pulmonar. Rotura prematura das membranas: o aumento da presso amnitica pode culminar em Amniorrexe prematura, podendo evoluir para um parto prematuro. Trabalho de parto prematuro; Pré-eclâmpsia: o aumento volumtrico do LA, dificuldade de expanso respiratria associada doena hipertensiva da gestao, pode evoluir para um quadro de pr-eclmpsia propriamente dita. Descolamento prematuro da placenta: uma distenso uterina intensa pode precipitar nessas pacientes o descolamento da placenta, ou seja, a placenta perde a capacidade de aderncia as paredes uterinas. Parto prolongado: a distenso uterina (miofibrila) determinaria nessas pacientes contraes uterinas insatisfatrias, podendo determinar um quadro de sofrimento fetal. Prolapso de cordão e de membros: consiste na complicao mais abrupta desse tipo de patologia. Com isso nessas pacientes, nota-se uma grande eliminao de l quido amnitico, podendo se exteriorizar partes fetais, como o cordo umbilical. Outras pequenas partes tambm podem ser identificadas como membros superiores e inferiores. Hemorragias no secundamento; Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 76 Distocia funcional pela distensão excessiva do útero: ocorre durante o trabalho de parto, tendo necessidade algumas vezes de administrar quantidades controladas de ocitocina, para que haja contrações controladas e eficazes para expulsão do concepto. Atonia ou hipertonia uterina pós-parto: mais comumente ocorre uma atonia uterina, sendo necessário algumas vezes administrar ocitocina. OBS1: Em resumo, as pacientes com útero distendido podem complicar facilmente com uma ruptura prematura de membrana devido aoaumento da pressão intra-amniótica. Esse aumento da contração pode determinar uma contração uterina abrupta, podendo resultar em descolamento placentário. Além disso, outra condição agravante é caracterizada pela compressão do cordão umbilical promovida pelas partes fetais exteriorizadas contra o canal de parto. Essas condições são emergências extremas em obstetrícia. Nesses casos, deve-se proceder com a realização de uma cesariana. CONDUTA Correção de causas maternas ou fetais; Controle do peso, altura uterina, circunferência abdominal e edema materno; Repouso relativo, dieta hiperprotéica; Investigação de malformações / cardiopatias fetais: pode ser feito o diagnóstico através da avaliação da USG, utilizada para confirmação do diagnóstico de poliidrâmnio. Avaliação ultra-sonográfica da placenta; Pesquisa de diabetes mellitus / gestacional: para diferenciação do poliidrâmnio causado unicamente pelo quadro de diabetes das outras etiopatogenias envolvida com essa patologia. Pesquisa de anticorpos irregulares; Considerar realização de cariótipo fetal: pode ser realizada para avaliar os risco de uma gestação futura, ou seja, podendo estar associada a fatores genéticos. Amniocentese esvaziadora nos casos de dispnéia progressiva: essa técnica pode ser utilizada naquelas pacientes diagnostica-se um poliidrâmnio, entretanto a mesma não cursa com nenhum das complicações citadas acima. Nestes casos pode-se proceder com a amniocentese esvaziadora, para promover um alívio da dispnéia da paciente, e ainda, prorrogar o trabalho de parto, ou seja, promovendo uma melhor maturação fetal, e ainda, permitindo a administração de corticóides, para maturação pulmonar fetal e menores riscos após o parto. Durante a realização do procedimento deve-se ter cautela, pois o esvaziamento do LA em altas pressões pode determinar como complicação principal o descolamento prematuro de placenta. Por isso, deve-se tirar somente uma pequena quantidade, necessária para o alívio da dispnéia da paciente. Outra complicação grave desse procedimento inclui a corioamniorite, ou seja, infecção do líquido e membranas amnióticas pelo pertuito formado com a punção. Administração de corticóides entre a 24ª e 34ª de gestação: tem como principal objetivo promover a maturação do sistema pulmonar do feto. Inibição do trabalho de parto prematuro: realizada principalmente para que o corticóide administrado possa atuar de forma correta. Indometacina (até a 34ª semana): é um excelente antiinflamatório e promove uma redução considerável no volume do líquido amniótico. Em alguns casos quando não há possibilidade de realização de uma amniocentese esvaziadora, pode-se administrar indometacina, promovendo uma redução do líquido amniótico, possibilitando a paciente a ingerir corticóide durante o tempo necessário. Entretanto um dos inconvenientes dessa droga é o fechamento precoce do ducto arteriovenoso. Cuidados no trabalho de parto. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Erro na DPP (data provável para o parto); Associação Cisto de ovário: os cistos podem determinar um maior volume abdominal nessas pacientes. Leiomioma uterino: também pode determinar um abdome distendido quando associada com a gestação. NTG (mola hidatiforme): neoplasia trofoblástica gestacional Macrossomia fetal: pode ser determinada pela própria genética do paciente, ou seja, fetos grandes para idade gestacional. Gemelaridade: condição fisiológica em que há um aumento do volume abdominal. Muitas vezes a paciente não tem conhecimento de sua gestação gemelar. OLIGOIDRMNIO O oligoidrâmnio (OI) é uma deficiência na quantidade de líquido amniótico, abaixo de 300-400 ml, ou quando o índice de líquido amniótico for igual ou menor do que cinco. Sua incidência está em torno de 0,5 a 5,5% das gestações. O oligoidrâmnio ainda pode ser classificado em moderado (volume de LA entre 100 e 500 ml) e grave (volume de LA abaixo de 100 ml). Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 77 Trata-se de uma condição geralmente associada a desfecho perinatal desfavorável e a uma frequência maior de complicações fetais, como anormalidades dos batimentos cardíacos e presença de mecônio, com consequente aumento do número de cesarianas. Os efeitos da oligoidrâmnio estão bem estabelecidos nas gestações de alto risco, porém, nas gestações a termo e de baixo risco ainda não há um consenso estabelecido. OBS2: Entre as principais funções do líquido amniótico podemos citar: proteção, regulação da temperatura, excreção de produtos tóxicos e hidratação. Com isso, patologias que levam a um quadro de Oligoidrâmnio determinam um déficit de todas essas funções citadas acima. ETIOLOGIA Causas fetais: Restrição do crescimento fetal Anomalias congênitas Morte fetal: nesses casos o oligoidrâmnio pode ser o principal sintoma de morte fetal. Geralmente essas pacientes se queixam de redução do volume abdominal. Agenesia renal bilateral (Síndrome de Potter) Rim policistico Obstrução dos ureteres e estenose do colo da bexiga Alterações funcionais (< Filtração glomerular) OBS3: Como foi citado acima os casos de oligoidrâmnio estão bem relacionados com patologias urinárias. Diferentemte dos casos de poliidrâmnio, em que há uma predominância de anomalias relacionadas ao sistema nervoso central. Causas placentárias: Aparecimento em semanas Maior frequência no 3º trimestre DPP-NI e Sindrome de transfusão feto-fetal: Causas maternas: Síndromes hipertensivas Colagenoses Diabetes Desidratação: condição muito comum. Drogas: inibidoras da enzima de conversão e da síntese de prostaglandinas. O uso crônico de essas drogas Pode levar ao aparecimento a um quadro de oligoidrâmnio, entretanto, não é devido a uma restrição do crescimento fetal. Pois geralmente essas pacientes podem apresentar um feto pequeno para idade gestacional ou ainda, retardo de crescimento intra-uterino, fazendo com que o abdome esteja diminuído, quando se leva em consideração a proporcionalidade com a idade gestacional. Outras: Uterinas: incluem principalmente as causas compressivas como é o caso dos miomas, que comprimem o líquido amniótico levando a uma compressão da placenta e menor secreção de LA. RPM: ruptura prematura das membranas, ocorrendo principalmente em sua forma mais lenta e silenciosa. Idiopáticas (nulíparas e gestantes acima de 30 anos) Pós-datismo ou gestação prolongada: incluem aquelas pacientes que não realizam uma assistência pré0natal adequada, com isso, após a data do parto, a placenta passa a apresentar os primeiros sinais de insuficiência placentária, havendo uma redução na produção de líquido amniótico. FISIOPATOLOGIA O oligoidrâmnio ocorre primariamente devido a um quadro de insuficiência placentária associado a déficit nutritivo e/ou hipóxia. Essas condições induzem um mecanismo de defesa que é chamado de centralização fetal, ou seja, a oxigenação e nutrientes serão dispostos para os órgãos nobres, para que haja manutenção da vida fetal. Entretanto essa centralização fetal vai desenvolver um quadro de hipofluxo sanguíneo nos rins, pulmões e intestinos determinando uma condição de redução do volume de LA. Após isso, tem-se uma das principais complicações envolvendo a redução do líquido amniótico que inclui a compressão do cordão umbilical e sofrimento fetal. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 78 DIAGNÓSTICO Clínico. Crescimento fetal inadequado feita pela aferio da altura uterina Palpao abdominal evidenciando diminuio do LA Reduo da movimentao fetal Queda dos BCF Historia cl nica de perda de l quido: ocorre nos casos de ruptura prematura de membranas, entretanto, silenciosa e alta, determinando assim uma perda crnica desse l quido. Reconhecimento fcil dos diversos segmentos fetaisUltra sonografico. Dimetro do maior bolso de LA menor que 2 cm ndice do L quido Amnitico - ILA < 5 cm Aconchegamento exagerado das pequenas partes fetais CONDUTA Expectante (sem maturidade pulmonar). Internamento hospitalar Avaliao diria da vitalidade fetal Amniocentese (7 em 7 dias) para pesquisa de maturidade fetal Hiperidratao Resolutiva. ILA <5 cm IG ≥ 37 semanas Oligoidrmnio associado CIUR indicado resoluo da gestao a partir da vitalidade fetal, independente da maturidade fetal Presena de mecnio no LA Sempre acompanhar o intraparto com monitorao fetal CONSIDERAES FINAIS O l quido amnitico fundamental para a manuteno da homeostasia e o adequado desenvolvimento do produto conceptual. As alteraes do volume de l quido amnitico esto associadas a aumento do risco perinatal e complicaes no parto e puerprio. As principais vias de produo e absoro do l quido amnitico na segunda metade da gestao so a produo urinria e a absoro intestinal pelo feto, respectivamente. A ultra-sonografia o mtodo de escolha para o diagnstico e acompanhamento das alteraes do volume do l quido amnitico, segundo critrios subjetivos e/ou semiquantitativos. Oligoidramnio a reduo do volume do l quido amnitico. Suas principais causas so: amniorrexe prematura, anomalias do sistema urinrio fetal e insuficincia placentria. O risco de hipoplasia pulmonar no oligoidramnio est relacionado idade gestacional em que este se instala e sua gravidade. Poliidrmnio o aumento do volume de l quido amnitico e est associado a diversas alteraes maternas, fetais e placentrias. Entretanto, aproximadamente metade dos casos idioptica. Diante do diagnstico de alterao do volume do l quido amnitico, deve-se conduzir propedutica minuciosa para tentar determinar a etiologia primria. O acompanhamento e eventual tratamento desses casos tambm sero determinados fundamentalmente pela causa espec fica.
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