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Patricia Phillips APAIXONADA PELA VIDA

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apAPA 
 
Apaixonada Pela Vida 
 Nice Wives Finish First 
Patricia Phillips 
 
 
 
A VIDA LHE DEU TUDO. AMOR DURADOURO. MENOS UM. 
Depois de vinte e cinco anos de casamento, Ashley tem uma filha já casada e uma 
carreira de sucesso. Com cinquenta anos de idade, seu marido Marcus ainda é um 
homem atraente, ao passo que ela precisa urgentemente emagrecer e cuidar mais da 
aparência. Por outro lado, depois de tanto tempo juntos, será que isso faz alguma 
diferença?... 
Para Marcus, sim. Pois ele não hesita em abandonar a esposa por uma mulher bem 
mais jovem e sedutora. Após se recuperar do choque e da desilusão, Ashley decide 
recuperar a auto-estima e acordar para a vida, e sua primeira meta é realizar o sonho 
de se tornar estilista de moda. Sozinha e independente, ela redescobre dentro de si a 
mulher determinada e sensual que foi um dia, e percebe que ainda pode acalentar 
sonhos e esperanças para o futuro. Sucesso profissional, por exemplo... e quem sabe, 
talvez... por que não... uma nova paixão?... 
 Disponibilização: Rosangela 
 Digitalização: Joyce 
 Revisão: Regina Celi 
 
BESTSELLER – ROMANCES CONSAGRADOS 87 – Apaixonada pela vida – PATRICIA PHILLIPS 
 
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Capítulo I 
 
 
 
Era maio de 2003, e o tempo em Los Angeles, Califórnia, estava anormalmente 
quente. Como de hábito, as manhãs de maio traziam um céu carregado, com nuvens e 
grãos de poeira e neblina dançando a frente dos carros. Ainda assim, o calor chegava 
bem cedo na Califórnia, mas na casa de Ashley Lake, em Playa Del Rey, estava fresco e 
agradável. 
Ashley permanecia no centro da cozinha decorada com revestimentos de fórmica 
cinza e branco. Na bancada da pia podia-se ver um pote prateado para café, perto de 
um sino ornamental igualmente prata. Tudo na casa brilhava à luz dos raios de sol 
filtrados pelas grandes janelas envidraçadas. 
Havia silêncio também. Ashley até podia ouvir as folhas das árvores dançando sob 
o toque da brisa, enquanto preparava sanduíches de presunto temperados com salsa, e 
uma vasilha de salada de batatas suficiente para dois, tudo colocado numa bandeja a 
ser transportada até o pátio. Tinha utilizado sobras do jantar da noite anterior, feito 
em comemoração aos cinquenta anos do marido, Marcus. 
Cuidadosa, ela completou o lanche adicionando à bandeja dois copos de chá 
gelado, com fatias de limão caprichosamente inseridas nas bordas. 
Ashley Lake era uma mulher atraente e agradável, mas simples no pensar e no 
vestir. Estava um pouco acima do peso era verdade, mas já seguira diversas dietas 
sem conseguir emagrecer. Aos quarenta e cinco anos, por que se preocupar com o 
excesso de peso? Seu marido nunca se queixara disso e ela também resolvera não dar 
tanta importância ao fato. 
O vestido marrom e sem mangas que usava naquela tarde era largo na cintura e 
descia até bem abaixo dos joelhos. A pele levemente bronzeada ainda se mostrava 
suave e saudável, e os grandes olhos negros saltavam atrás dos óculos de armação 
metálica. Os cabelos desciam até os ombros, mas hoje estavam presos por fivelas no 
alto da cabeça. Não se poderia dizer que era uma mulher glamorosa, mas muitos a 
consideravam bonita. 
Ao apanhar a bandeja, Ashley sentiu uma dor no abdômen e parou onde estava. 
Respirando fundo, colocou a bandeja sobre a mesa e inclinou-se um pouco para frente, 
a fim de controlar melhor a dor. A fraqueza a dominou, mas, por sorte, a dor logo 
desapareceu. No instante seguinte ela endireitou as costas e saiu com a bandeja pela 
porta de vidro que levava ao pátio. 
Vanessa, sua velha amiga, ergueu-se da mesa redonda que ocupava a fim de 
ajudar. 
— Estou faminta — disse. 
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— O seu sanduíche de presunto é delicioso. 
Ashley sorriu e passou à amiga um copo de chá gelado. 
— Viu aquele vestido horroroso que Shirley usou ontem à noite? — Vanessa foi 
logo dizendo. 
— Algumas mulheres vestem roupas estampadas com flores pequenas, mas 
Shirley exagera no tamanho das estampas. Parece um jardim, chega a ser 
desagradável. Além disso, os modelos dela sempre são tão fora de moda! 
— Sim, eu vi. Shirley é assim desde quando nos conhecemos. — Ashley riu. 
— Mas não conte a ela que estava com péssima aparência e que o marido dela não 
tirava os olhos de certa pessoa que conhecemos bem. Aliás, ele deixou óbvio que ainda 
gosta de você, Vanessa. Acho que ele nunca vai superar isso. 
— Já se passaram vinte anos, Ashley. Ainda estávamos no colégio. — Vanessa deu 
de ombros antes de observar os olhos inchados da amiga. 
— Você parece cansada. Está doente ou é falta de sono? Afinal, foi o aniversário 
de seu marido e tudo mais. Por acaso ficaram acordados até tarde? — provocou-a, 
piscando os olhos com ar maroto. 
— Nem tanto. Esta dor me impede de fazer isso. Estou velha demais para 
conviver com dores abdominais. — Ashley franziu o cenho, com desgosto. 
— Quanto mais velha, mais essas dores me incomodam. 
— Amiga, por que não escuta seu médico e faz a histerectomia? Sinto-me muito 
bem desde que tirei o útero. Sem estas dores você e Marcus teriam mais noites de 
prazeres. Da forma que está não é saudável para nenhum casal. — Vanessa ergueu o 
dedo indicador, como se repreendesse uma criança. 
Ashley a fitou atentamente. Para alguém de quarenta e cinco anos, Vanessa 
parecia jovem e radiante. Ela caminhava todos os dias a fim de manter a forma e 
embora fossem da mesma idade, Ashley sabia aparentar ser cinco ou seis anos mais 
velha que a amiga de longa data. Eram íntimas, mas de personalidades muito 
diferentes. 
— Você me ouviu? — Vanessa insistiu, ao vê-la silenciosa. 
— Claro, ultimamente tenho pensado na cirurgia, mas ainda não decidi. 
— O que há para decidir? Se não se sente bem, o que a impede? 
— Não sei. Já viu alguma mulher feliz ou orgulhosa por ter feito histerectomia? 
Sinto-me velha só de cogitar esta hipótese. 
— Vamos, Ashley. Também acontece com mulheres mais jovens do que você. 
Precisa admitir que algum benefício virá da operação. ― Vanessa limpou os dedos, 
dobrou o guardanapo antes de levá-lo à boca, e devolveu-o cuidadosamente à bandeja. 
— Marcus foi ver Larry na última sexta — Ashley contou, obviamente querendo 
mudar de assunto. 
— Onde?— A voz da outra moça denotou-lhe o interesse crescente. 
— No clube. Marcus disse que convidou Larry para assistir ao jogo um domingo 
desses, mas sabe que ele nunca virá. Tem medo de se encontrar com você. De qualquer 
modo, segundo Marcus, ele está bem. 
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— Sim, espero que esteja. Sinceramente, espero que ele ache alguém que o faça 
feliz. Gary foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Desde que compramos a casa 
em Pasadena, sinto-me no Paraíso. O único problema é que ele é tão mais novo que às 
vezes fico preocupada. 
— Não creio que você tenha problemas com a diferença de idade. É impensável 
deixar que oito anos a incomodem assim.— Ashley mordeu o sanduíche de presunto. 
— Não sei. Às vezes pesa um pouco, mas Gary parece não se importar. Ele tem 
mais experiência de vida do que eu e comporta-se como um homem mais velho. Quatro 
anos juntos, Ashley, e ainda nos amamos. Nosso amor apenas se fortalece à medida 
que o tempo passa.— Vanessa suspirou, gratificada e prosseguiu: 
— Nunca contei a ninguém que, às vezes, eu e Larry ficávamos um mês sem fazer 
sexo. Comecei a perder o interesse, depois pensei que não era mais uma mulher 
desejável. Jamais deixe um homem fazer você sentir-se assim,Ashley. Como pode um 
casal dormir na mesma cama por um mês e não se tocar? 
— Não sei querida— mentiu ela, desviando o olhar. Não, não estava preparada 
para dizer que era exatamente isso que vinha acontecendo com ela e Marcus. 
— Ninguém sabe. E quando acontecia, não existia troca de carícias, nenhuma 
intimidade ou envolvimento emocional que duas pessoas que se amam devem 
demonstrar. Incrível, mas quando conheci Gary costumava me derreter toda vez que 
ele me tocava. Ainda é assim. 
Ashley reparou no brilho dos olhos de Vanessa ao falar do jovem marido. 
Naquele instante, porém, o telefone soou dentro da casa e Ashley saltou da 
cadeira. 
— Volto já. Provavelmente, é Marcus. 
Vanessa tirou os sapatos e esticou os pés até na cadeira que ficava do lado 
oposto da mesa. O pátio de Ashley sempre fora confortável e tranquilo. Relaxando, ela 
inalou o aroma do limoeiro próximo, das flores e do gramado verdejante 
impecavelmente aparado. 
Poucos segundos depois, Ashley retornou e acomodou-se diante dela. 
— Era Marcus. Ele está num bar da praia Hermosa, assistindo a um jogo no 
telão.— Olhou para o relógio: somente quatro e meia. 
— Bem, você sabe como os homens se comportam ao verem junto qualquer tipo de 
jogo. Ficam impossíveis, parecem crianças. 
Vanessa anuiu, mas não gostou muito do que ouvia. Sim, ela conhecia bem todos os 
sinais que estava vendo na relação de Ashley e Marcus. Já tinha vivenciado o fim de 
um casamento e pelo jeito o mesmo estava acontecendo com sua boa e velha amiga. Na 
noite anterior, lembrava-se de ter observado Marcus durante sua festa de 
aniversário. Por um instante, pareceu-lhe que ele estava a milhares de quilômetros 
dali. Os pensamentos vagavam por outras paragens e o marido de Ashley mostrava-se 
inquieto, agitado. Pior ainda, ele e Ash não haviam dançado juntos, nem aparentavam 
ter muita coisa a dizer um ao outro. 
Finalmente, quando a noite terminou, Marcus estava desligado por completo. O 
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que não era um bom sinal. 
Alheia ao que ia na mente da amiga, Ashley serviu-lhe mais chá gelado e esperou 
que Vanessa continuasse o que estava dizendo: 
— A verdade é que Larry tornou-se complacente demais com nosso casamento, 
deixava sempre tudo para depois e preferia assistir à tevê a fazer um programa mais 
romântico. Ao lado de Gary, sinto-me bonita e amada— confidenciou ela com um 
sorriso. 
 — O sexo entre nós é ótimo, e percebi o quanto eu tinha perdido em matéria de 
excitação e prazer, além, é claro, de ser maravilhoso estar apaixonada depois de 
tantos anos. 
— Creio que os casais têm fases, isto é, vivem momentos diferentes do amor ao 
longo de suas vidas em comum — comentou Ashley, falando por experiência própria. 
— Talvez você esteja certa. Mas não era o que acontecia entre Larry e mim. O 
amor se foi e não voltou nunca mais. Conclusão perdemos o que a vida tem de melhor. 
Ashley suspirou enquanto ouvia Vanessa comparar o ex-marido ao atual. 
— Marcus está com cinquenta anos e eu com quarenta e cinco — disse ela por fim. 
— Somos velhos demais para sentir falta de emoção em nossas vidas. Estamos 
casados há vinte e quatro anos e Lori já tem vinte e três e cuida da própria vida. O 
que mais posso pedir? 
Vanessa não achou o comentário da amiga tão convincente quanto ela pensava. Há 
muito já notara que Ashley não parecia feliz. Mas podia ser apenas por causa daquelas 
dores abdominais que tanto a incomodavam, não podia? 
— Vamos, Ash, será que não necessita nada mais do que uma casa, um marido e 
uma filha? Não sente falta do resto? E Marcus? 
Ashley demorou alguns segundos para responder. Os olhos se estreitaram quando 
virou-se para apreciar o céu. Por certo, ela e Marcus ainda se amavam. Sem dúvida, 
ainda estava apaixonada por ele. Claro que beijos longos e molhados, mãos unidas, 
corpos trêmulos já não existiam mais, mas ambos continuavam juntos e confortáveis 
com suas respectivas vidas. 
— Já não somos crianças, Vanessa. Temos tudo que precisamos para viver 
confortavelmente. Não necessito da emoção que costumávamos partilhar quando mais 
jovens. No entanto, continuo apaixonada por Marcus e, depois de vinte e cinco anos, 
não sei o que faria sem ele. 
A idéia de perder Marcus era tão aterradora que Ashley a baniu de sua mente o 
mais rápido possível. Ele ainda a amava também. Claro que amava! Não quisera que lhe 
dessem uma festa, mas por fim concordara como sempre fazia. Eles tinham tudo que 
um casal de meia-idade poderia desejar. O único problema era que ultimamente Ashley 
não vinha se sentindo bem. A endometriose estava causando sangramentos frequentes, 
e os espasmos de dor pioravam a cada dia. Marcus compreendia, pois era um homem 
paciente. 
Vanessa consultou o caro relógio de pulso. 
— Adorei nossa conversa, mas tenho de ir. Gary vai chegar cedo e também tenho 
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de madrugar, amanhã. 
Em pé, a anfitriã recolheu os pratos e, com a mão livre, apertou o ventre. 
Vanessa levou a jarra de chá e ajudou a amiga a colocar tudo na pia. Depois, tocou 
o ombro de Ashley. 
— Se quiser, fico com você até Marcus chegar. — "Sabe Deus a que hora isso 
acontecerá", ela pensou, mas continuou ali, solícita e sorridente. 
— Não acho certo deixar você sozinha, nesse estado. — Pousou a mão espalmada 
na testa da outra. 
— Parece que está com um pouco de febre, Ashley. 
— Não, vou ficar bem. Já parou de doer. A dor, pelo menos, vem e vai 
rapidamente. 
— É melhor procurar seu médico e tratar de fazer a histerectomia. A vida é 
curta demais para ser levada com dor e desconforto. 
— Vou marcar para esta semana, sem falta. Pare de se preocupar tanto. 
As duas trocaram um abraço na soleira da porta. 
— Ligo amanhã — anunciou Vanessa. 
— Se eu não estiver em casa, telefone para o escritório. 
— Combinado. Agora, vá se deitar e descanse um pouco. Praticamente passou a 
noite em claro. — A visitante sorriu e afastou-se, revelando um sugestivo decote nas 
costas, que era bem típico de sua personalidade extrovertida. 
Assim que a porta do pátio foi trancada, Ashley tratou de ligar a lava-louça e 
seguir para seu quarto. Eram apenas cinco da tarde, mas ela despiu-se, desabou na 
cama e ligou o aparelho de tevê, com uma revista nas mãos. Assistiu alguns programas 
e leu alternadamente, até adormecer. 
Às oito e meia, ela escutou Marcus girar a chave na fechadura. Nunca dormia 
serenamente enquanto ele não chegava em segurança em casa. Havia pensado que, com 
sua filha Lori morando fora, não teria mais esse problema. Mas tinha, ficava ansiosa 
até que o marido entrasse em casa e lhe desse um beijo de boa-noite. 
Marcus ouviu a televisão ligada e foi direto ao quarto. Da porta, contemplou 
Ashley demoradamente. 
— Foi cedo para a cama hoje. Algum problema? 
— Ainda estou cansada da festa — contou ela. Sentando-se, recostou-se na 
cabeceira e observou Marcus despir-se e colocar os sapatos no closet. 
Ash estava exausta, ponderou Marcus, mas ele não fizera a menor questão 
daquela festa. Fora tudo idéia dela, portanto, não poderia culpá-lo por isso, poderia? 
Uma noite tranquila, com um bom jantar e um bom filme na tevê, a seu ver, teria sido 
mais do que bom para comemorar seus cinquenta anos. 
— Vou à saleta para ver tevê sem perturbá-la. Durma de novo — falou, 
começando a sair do quarto carregando o volumoso guia da tevê nas mãos. 
Pensando na conversa que tivera com Vanessa, Ashley permaneceu sentada na 
cama, mas esticou a mão na direção do marido. 
— Pode assistir aqui mesmo, Marcus. Fique por favor. 
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— Não, querida. É melhor você descansar. 
Por alguma estranha razão que não soube ao certo como definir, talvez por puro 
comodismo mesmo, Ashley não o contradisse. Logo que ele saiu, ela voltou a deitar e 
deveria ter adormecido em seguida, pois apenas pestanejou quando Marcus se 
acomodou na cama, pouco depois das dez horas. 
Na manhã seguinte, foi ele quem se levantou primeiro. Havia tomado banho e 
estava quase todo vestido no momento em que Ashley acordou. 
Como sempre, Marcus lhe trazia o café na bandeja assim que ela saía do chuveiro, 
e depois trocavam um beijo na face e prosseguiam com suas rotinas. Naquela manhã as 
coisas pareciam que não seriam diferentes. 
Ashley saboreou o desjejum apoiada na cabeceira da cama, enquanto Marcus se 
examinava no espelho do quarto. Gostava de vê-lo vestir-se, sempre com esmero, 
combinando os tons de todas as peças e acessórios que usava. Naturalmente, os 
sapatos eram bem lustrados também. Marcus Lake era um homem muito elegante e, ao 
contrário da esposa, preocupava-se com sua aparência. 
— Você não dormiu direito, Marcus. Está cansado? — ela perguntou, 
questionando-se se sua preocupação não seria exagerada. 
— Tem tido problemas de sono nas últimas duas semanas. 
— Cansaço — Marcus riu. 
— Provavelmente preciso de umas férias. 
— Podemos ir para algum lugar agradável, se você quiser. Faz dois anos que não 
viajamos juntos, desde o funeral de sua tia em Dálias. 
— E você, sente-se melhor? — Ele não comentou a sugestão de viagem. 
— Ou já pensa em fazer a cirurgia? 
— Tenho refletido sobre o assunto, mas não estou doente. Podemos viajar, se 
você puder livrar-se dos compromissos. No meu escritório, o ritmo está tranquilo e 
não haverá problemas se eu sair por alguns dias. 
Novamente ele não respondeu. Parecia entretido com o nó da gravata. Mas era um 
homem gentil, preocupado com ela e apegado à família, não? Nunca deixara faltar nada 
a ela e a filha. Ashley sentia-se afortunada por ter um bom marido como aquele. 
— Só viajaremos quando você estiver melhor, querida. 
— Estou bem, Marcus. Não se aflija por mim. 
Dando o assunto por encerrado, ela foi até o armário e escolheu uma conjunto de 
saia e blusa cinza, que vestiu no mesmo instante. Então, de repente, notou que o 
marido a observava com o cenho franzido. Ah, sim, Marcus detestava as cores que 
usava. Ele odiava marrom, cinza e preto. Quando lhe comprava roupas de presente, 
escolhia sempre tons alegres e coloridos. Consciente de que sua aparência o 
desagradava, Ashley trocou o terninho cinza por um vestido lilás que ganhara da filha 
dois anos antes. 
— Marcus, tem certeza de que está bem? — perguntou, quando ele não fez 
qualquer comentário sobre a troca de roupa, o que por si só já era estranho, pois ele 
sempre a elogiava quando vestia o traje lilás. 
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— Claro, não se preocupe por tão pouco. Esta noite dormirei bastante e amanhã 
estarei novo em folha. — Ele recolheu a bandeja e rumou para a cozinha. 
Ashley observou os ombros largos e a postura imponente enquanto ele saía. 
Marcus parecia irritado naquela manhã, mas vinha trabalhando além do expediente e 
assumindo mais responsabilidades do que o normal. Imaginou-o na cozinha, 
contemplando o pátio pela porta envidraçada. Aos cinquenta anos, era mais bonito do 
que fora dez anos antes. Os cabelos grisalhos nas têmporas lhe davam um ar de 
distinção. Os olhos eram penetrantes e o corpo, mantido em boa forma graças a longas 
sessões de ginástica na academia da empresa em que trabalhava como diretor de 
marketing estava mais forte e definido do que quando haviam começado a namorar. 
Ainda estava pensando em como o marido era atraente quando ouviu a porta da 
frente sendo fechada. Surpresa, ela deu-se conta de que Marcus havia partido sem se 
despedir. Deveria estar mesmo muito apressado. Balançou a cabeça, relembrando o 
tempo em que ele não saía sem dar-lhe um beijo de despedida, depois suspirou ao 
recordar a época em que faziam amor todas as manhãs e se atrasavam para o trabalho. 
Ah, agora parecia que isso acontecera há uma verdadeira eternidade! 
Talvez Vanessa estivesse certa, afinal. Ela poderia mesmo marcar a cirurgia para 
tirar o útero, e então teria a chance de trazer aqueles dias felizes de volta a seu 
casamento. 
Suspirando, Ashley pegou a pasta, a bolsa e as chaves do carro. Tomou um último 
gole de café e correu para a garagem. 
O percurso até a empresa de seguros na região oeste de Los Angeles demorava 
vinte minutos. Ela trabalhava lá há dezoito anos, como gerente de planejamento 
estratégico, e, como tudo o mais em sua vida, o trabalho já havia se transformado em 
uma rotina bastante previsível. Nada de surpresas. Era sempre a mesma coisa. 
Mas era bom que fosse assim, não? Para que mudar quando era mais fácil mover-
se em um ambiente perfeitamente controlável? Quem garantia que poderia ser mais 
feliz se ousasse se arriscar um pouco mais? 
Pela primeira vez em anos, Ashley não estava tão certa de que rotina e 
comportamentos previsíveis poderiam ser sinônimos de felicidade. Talvez, mudanças 
não fossem de todo ruim... 
Ao meio-dia, ela concluiu que não suportaria ficar no escritório o dia inteiro. 
Sentada a sua escrivaninha, sentiu espasmos no baixo-ventre e a coluna parecia ter 
sido quebrada em dois. Para piorar, tinha de ir continuamente ao banheiro. 
Aborrecida consigo mesma, colocou alguns relatórios dentro da pasta e avisou a 
secretária que estava saindo e que não voltaria. Na rua, decidiu ligar para Marcus. Ele 
parecera preocupado naquela manhã. Se telefonasse para o escritório e Julie dissesse 
que ela tinha ido embora por sentir-se mal, o marido por certo viria correndo para 
casa, a fim de vê-la. Mas não queria preocupá-lo por nada; assim, pegou o celular e 
discou a conhecida sequência de números. 
Como o celular de Marcus estivesse ocupado, Ashley deixou mensagem na caixa 
postal: só estava cansada e ele não deveria ficar aflito. 
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Quando ela chegou em casa, o carro do marido estava estacionado na entrada da 
garagem. Deduziu imediatamente que ele ligara para a empresa e tinha vindo constatar 
se o estado dela não era grave. 
Em vez de parar na entrada, obstruindo a passagem, Ashley estacionou na rua. 
Marcus precisaria sair, e ela não gostaria de manobrar seu carro. 
A dor parecia aumentar, mas, como sempre, não durava muito. Ela apressou-se a 
seguir casa adentro e encontrou o marido no quarto, arrumando roupas numa mala 
grande que jazia no centro da cama. 
— Vai viajar de novo, a trabalho? Você esteve na Flórida há menos de um mês. — 
O desapontamento era evidente na voz dela. 
Ele continuou a aprontar a mala, sem ousar encará-la. 
— Não é a trabalho, Ashley. — Marcus havia amado a esposa durante muitos anos, 
mas agora as coisas eram diferentes. Por isso, não conseguia encará-la. 
Alguns segundos se passaram antes que alguém falasse. 
— Se não é a trabalho, então o quê? — Ela mostrou-se confusa. 
— Ashley... 
— Já sei! — Entusiasmada, ela avançou e beijou-o na face. Sentia-se alegre, 
exceto pela sensação de culpa por ter estragado uma surpresa, ao chegar mais cedo. 
— Você tem duas passagens para a Flórida ou outro lugar em que possamos ficar 
juntos e descansar um pouco, não é? 
Ela exultava ao falar, pensando num recanto romântico no qual estariam sozinhos 
por alguns dias. Mas Marcus não respondeu. 
— Ah, que bom! — Ashley não cabia em si de felicidade. 
— Também preciso disso, querido. Desculpe-me por ter vindo derepente e 
estragado a surpresa. Quando fomos a San Francisco, você também fez as malas, a 
sua e a minha, na hora em que cheguei do trabalho, como hoje. Estou feliz e te amo 
muito, Marcus. 
Ashley o beijou de novo, e ele meneou a cabeça. Aquilo seria mais difícil do que 
havia imaginado mais difícil para ambos. Suspirando, segurou as mãos dela entre as 
suas. 
— Escute Ashley. Não vamos juntos a lugar algum. — As unhas bem-feitas 
comprovavam a vaidade de Marcus Lake. 
— Estou deixando você. Preciso partir. Temos de terminar este casamento que, 
para mim, já não funciona mais. — Fez menção de prosseguir, mas notou o tremor que a 
percorreu de alto a baixo. 
Ashley continuava parada onde estava fitando-o como se não houvesse 
compreendido nada. Então, lentamente, fechou os olhos escuros, sentindo como se o 
mundo tivesse desabado sobre seus ombros. Perplexa, esperou que Marcus 
continuasse, mas ele limitou-se a fitá-la em silêncio. Será que tudo não passava de um 
pesadelo? Aquele era seu marido! 
— Marcus, o que você está dizendo? — Sentia-se confusa, mas, ao mesmo tempo, 
a raiva começava a crescer em seu peito. 
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— Não! Meu Deus, isto é real! — exclamou para si mesma. 
— Você enlouqueceu? — Olhou em torno do quarto e, pela primeira vez, notou que 
duas outras malas fechadas estavam ao lado da porta. 
Ele não respondeu. 
Havia ternos empilhados sobre a cama e caixas com sapatos devidamente 
separadas, mas nenhum vestido dela. Tudo pertencia a Marcus e ele ia abandoná-la. A 
imagem das roupas ficaria para sempre em sua memória. Sem conseguir encarar o 
marido, Ashley fechou os olhos outra vez, tentando recordar a conversa daquela 
manhã. O que lhe escapara durante o diálogo? O que existia de diferente com relação 
a Marcus? Não era porque ele tinha dormido mal nem porque estava cansado do 
trabalho. Estava cansado, sim, mas era de viver com ela. 
— Não entendo Marcus. Por quê? — indagou mortificada pela idéia de viver sem 
ele. 
— Ashley, você é uma boa esposa e uma excelente mãe para nossa filha. Mas 
preciso mais. A emoção, o arrebatamento se foram, não sentimos mais o coração 
disparar quando nos beijamos. Ficou só um grande vazio. Não deseja mais do que isso 
para você mesma? 
— Não, Marcus, não desejo. Tenho tudo o que sempre quis como esposa e mãe. — 
A voz soou trêmula e baixa. 
— Sinto muito. Eu quero muito mais do que isso para mim. — A dor no rosto de 
Ashley apertou-lhe o coração. Marcus detestava magoá-la. Por outro lado, ela se 
tornara inteiramente previsível, e nada fazia para mudar isso. O mesmo penteado, as 
mesmas roupas escuras e sem graça, a mesma posição ao fazerem sexo, com ele por 
cima. Para ela, tudo era perfeito do modo como estava e como havia estado por vinte e 
cinco anos. E ele queria mais, muito mais! 
Ao vê-lo encará-la com pena, Ashley estremeceu, sentindo a dor no ventre voltar. 
— É outra mulher, não é? Pode me contar. Alguma vadia que o enfeitiçou. Diga, 
Marcus. Quem é ela? — O tom de Ashley subira até se tornar um grito. 
— Quem é essa mulher por quem está me abandonando? Ela apareceu para 
arruinar nossas vidas! 
Sem responder, Marcus permaneceu observando-a, como se esperasse dela um 
soco no peito, para que igualmente experimentasse a dor que a acometia. Em seguida, 
sentiu mais pena dela ainda. Afinal, era um homem bastante controlado, até naquela 
situação difícil e tinha certeza de que Ashley o odiava por ser sempre tão calmo. 
— Existe outra mulher, sim. Mas não é por isso que estou partindo. Ela apenas me 
fez perceber que não sou feliz o bastante para ficar com você. Mesmo que terminasse 
com a outra, eu não conseguiria continuar aqui. Ainda amo você, Ashley, mas já não 
estou apaixonado. Nós dois merecemos muito mais. — Faltaram-lhe palavras. Nada 
mais havia a ser dito. Assim, Marcus pôs-se em pé outra vez, pronto para sair. 
— Você é um canalha! Como pôde, Marcus? Tenho quarenta e cinco. Dei-lhe os 
melhores anos de minha vida. Como é possível descartar vinte e cinco anos de 
casamento? Vinte e cinco anos que o amei. Você esperou eu ficar velha para me 
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abandonar! 
— Sou mais velho do que você, e nunca pensamos igual. Tenho cinquenta, mas não 
me sinto velho. Estou na idade em que preciso me apaixonar e viver feliz o resto da 
vida. Eis a diferença. — Ele meneou a cabeça. 
— Não temos mais nada em comum, Ashley, e certamente você é capaz de 
entender isso. 
— Nada em comum? — ela gritou. 
— Olhe a sua volta, Marcus. Temos esta casa, uma filha e vinte e cinco anos 
juntos. O que mais você quer? — Ashley abriu o primeiro botão do vestido lilás, que a 
apertava na região do pescoço. Mas logo soube que o incomodo não era causado pela 
roupa, mas sim por seus nervos. 
— Correção — ele se pronunciou. 
— Temos uma hipoteca em comum, uma filha já adulta que tem sua própria vida. O 
que você falou não basta para me convencer. Deixe estar, Ashley. 
Naquele momento, ela desejou morrer. 
— Bem, Marcus. O ônus de sair de casa agora é todo seu. — Ashley segurou o 
rosto entre as mãos. Com clareza, compreendeu que tudo havia acabado. 
Ele fechou a última mala e foi naquele exato momento que Ashley se deu conta de 
que se chegasse no horário de costume do trabalho, não o teria visto partir. 
— Covarde! Você ia embora sem ao menos me comunicar! — falou levantando um 
braço na direção dele. Ele a segurou pelo pulso. 
— Estava fazendo as malas para levá-las sem que você visse. Seria mais fácil 
assim. Mas pretendia voltar e contar-lhe tudo. 
— Nada havia saído como desejara, e Marcus só a estava magoando cada vez 
mais. 
— Seria mais fácil? Como? Você disse que não me quer, isso é tornar as coisas 
mais fáceis? Já não sei quem você é, Marcus, mas eu te odeio de qualquer forma. — A 
frase saiu por entre os dentes, sussurrada. Como fazê-lo entender? Como fazê-lo 
ficar? Como impedi-lo de despedaçar seus sonhos daquela maneira? Desconsolada, 
fechou os olhos e foi chorar nos ombros largos. Talvez, pela força do hábito. 
— Marcus, posso perdoar você, porque todos erram. Posso mudar, fazer tudo o 
que quiser. Apenas reconsidere e fique comigo. 
Marcus apertou-a contra si. 
— Por favor, Ashley. Você está tornando tudo mais difícil do que já é. — Retirou 
os braços dela de seu pescoço. 
— Agora preciso ir. 
Desconcertada, ela deu um passo atrás e deu-lhe um tapa no rosto. 
Surpreso, Marcus recebeu o golpe e empurrou Ashley para longe. 
— Lamento muito — disse ele com raiva, apanhando duas malas e saindo 
bruscamente pela porta. Voltou minutos depois a fim de recolher o resto da bagagem. 
Desta vez, ela o seguiu até os degraus da varanda. 
— Vá embora — bradou atrás dele. 
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12 
 
— Corra para ela. Para sua amante. Nunca mais quero vê-lo, Marcus Lake. Ouviu 
bem? Vai se arrepender disso. Vá, e jamais se atreva a voltar. — A despeito do tom 
alto, ele a ignorou. Nem mesmo lhe dirigiu um olhar. 
Ashley correu de volta para dentro de casa, jogou-se na cama e chorou enquanto 
escutava o carro do marido afastar-se. Na verdade, chorou horas a fio, e a noite caiu 
antes que ela decidisse erguer-se e fechar as janelas. 
Vagou pelos aposentos como um zumbi. A certa altura, apanhou um copo d'água e 
o levou para o quarto, depositando-o no criado-mudo. Ainda completamente vestida, 
retornou à cama, para debaixo dos lençóis. Chorou de novo até sentir-se exausta e por 
fim adormeceu, às quatro da manhã. 
Acordou ao som de passos. "Graças a Deus,Marcus voltou", pensou. Mas, antes 
de virar-se na cama, percebeu que tinha sido apenas um sonho. Um calafrio a 
percorreu e, de súbito, a dor no ventre voltou a torturá-la, mais forte do que nunca. 
Estava transpirando e a dor foi substituída por uma sensação quente e estranha. 
Sentia-se zonza e o quarto parecia girar enquanto ela tentava se pôr em pé. 
Removeu o edredom e gritou quando viu o sangue que descia por suas pernas até o 
lençol azul. Fraca demais para erguer-se, Ashley desabou na cama outra vez. A dor 
agora era quase insuportável. Tentou alcançar o telefone, porém estava longe demais. 
Reunindo as últimas forças, ela se levantou, notando o sangue escorrer em profusão, e 
caiu no carpete. Puxou o telefone pelo fio e conseguiu discar o número da Emergência. 
— Estou sangrando — murmurou ofegante. 
— Há sangue por todo lado. — Sua voz era pouco audível e Ashley teve de repetir 
o nome e o endereço duas vezes para a atendente. 
Sabia que tinha de arrastar-se até a porta principal, para abri-la quando o 
socorro chegasse. Assim, foi até lá lentamente, deixando uma trilha vermelha por 
onde passava. Destravou a porta com grande esforço. De repente, sua cabeça pendeu 
para trás. A casa inteira rodava. 
— Marcus! — ela gritou, ao dar-se conta de que estava irremediavelmente 
sozinha. 
Era terça de manhã, e Ashley ouviu uma voz feminina vinda de algum ponto 
distante. 
— Acorde, Sra. Lake — pediu a enfermeira com suavidade. Ela não conseguiu 
abrir os olhos, pois a luz do quarto do hospital era forte demais. Percebeu passos e 
movimentos a seu redor, depois alguma coisa como plástico sendo ajustada a seu 
braço. Chamou por Marcus mais de uma vez, mas então lembrou-se da mancha de 
sangue no carpete e da inesperada partida do marido. Sim, Marcus a deixara e ela 
estava internada, sozinha. 
"Por que acordei?", pensou. Sentindo como se o mundo tivesse terminado, Ashley 
apertou os olhos para esquecer sua triste realidade. Queria fugir, para onde não 
sabia, mas queria muito fugir para bem longe de tudo e todos! Logo, impelida pela dor 
e pelos medicamentos, mergulhava num sono profundo outra vez. Ali, pelo menos, a dor 
de ter sido traída e abandonada não era tão insuportável. 
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13 
 
Ashley só voltou a despertar na tarde de quarta-feira, agora ao som das vozes 
de sua mãe, Dóris, e da filha Lori. 
As duas mulheres mais importantes de sua vida ocupavam cadeiras ao lado da 
cama e esperavam que a paciente acordasse. Afinal, ela tinha dormido por mais de 
vinte e quatro horas seguidas e, cada vez que acordava, dizia o nome de Marcus. 
— Mamãe, como se sente? — indagou Lori, curvando-se em sua direção. 
— Já chamei papai, mas ele não retornou a ligação. Não compreendo. Tinha 
certeza de que ele estaria aqui. 
— Está fora da cidade — interveio Dóris, tentando ser prática. 
— Mas deveria interromper a viagem e vir imediatamente. O que aconteceu entre 
você e ele, Ashley? 
Por certo, não era uma boa hora de relatar os fatos a Lori, e menos ainda de ter 
sofrido uma histerectomia, quando o marido acabara de deixá-la por outra mulher. 
Sentindo-se velha e rejeitada, Ashley levou as mãos ao ventre, apenas para lembrar-
se de que também estava muito acima do peso. 
— Marcus e eu não vivemos mais juntos — tomou coragem e revelou a verdade. 
 — Acho que ele ainda está na cidade, mas sabe que não o desejo por perto. 
Portanto, não liguem mais para ele, sim. 
Lori inclinou-se para a mãe, beijando-a na testa. A jovem de vinte de três anos 
era alta e magra, com a mesma compleição física harmoniosa do pai e os mesmos 
cabelos castanhos, escorridos até os ombros. Costumava manter a cabeça bem 
erguida, com orgulho, mas agora se assemelhava a uma criança ferida. 
— Por quê, mamãe? Não acredito! Você e papai, separados? — Voltou o olhar para 
a avó, ciente de que o casal às vezes discutia, mas nada de grave. 
— Onde ele foi morar? 
— Não sei Lori e também não quero saber. 
— Ele voltará em uma semana — sentenciou Dóris, querendo tranquilizar a neta. 
— Sua mãe e seu pai nunca se separaram em vinte e cinco anos de casamento. 
Aposto que Marcus estará em casa quando Ashley tiver alta. 
Mas Ashley não queria dar falsas esperanças à filha. 
— Ele nunca voltará, portanto não contem com isso. — Doía-lhe ver a tristeza nos 
olhos expressivos de Lori. 
— Você só fala assim porque não está bem — decretou Dóris. 
— É verdade, mãe. Não quero ver Marcus nunca mais. Nem mesmo pronuncie o 
nome dele na minha presença. — Apesar de imobilizada no leito do hospital, Ashley 
parecia estar à beira da histeria. Passou a tossir, e isso lhe causou dores abdominais, 
levando-a a chamar a enfermeira pela campainha. 
Com horror, Lori acompanhou o sofrimento da mãe. 
A enfermeira entrou apressada no quarto, colocou um travesseiro extra atrás da 
cabeça de Ashley, mais um sobre sua barriga, e deu-lhe um copo d'água tão logo a 
tosse passou. 
— Quando tossir, aperte o travesseiro contra o ventre. Isso ajudará a reduzir a 
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14 
 
dor. Amanhã, você estará melhor. — Saiu do quarto como entrara, rapidamente, talvez 
para evitar perguntas incômodas. 
— Mamãe, por que não esperamos um dia ou dois e avisamos papai? — Lori 
escolheu as palavras a fim de não irritar Ashley. 
— Quer que eu traga algumas revistas, ou qualquer outra coisa? Posso voltar aqui. 
— Não, Lori. Não preciso de nada. Fique em casa e eu dormirei bem, aqui. Venha 
amanhã. — Ela não desejava conversar sobre Marcus, e sim dormir o resto da vida, se 
possível. 
— Você também, mamãe. Volte amanhã. 
Nenhuma das duas pretendia aborrecer Ashley, portanto obedeceram e saíram 
tranquilamente. Uma vez no corredor, o diálogo foi inevitável. 
— Ela precisa ficar sozinha, Lori. Quanto à dor, a enfermeira lhe dará um 
sedativo, além de uma pílula para dormir. Acho que sua mãe necessita de tempo e 
sossego para pensar. — Dóris disfarçou sua preocupação a fim de poupar a neta. 
— Estou certa de que Marcus voltará para casa. 
— E se não acontecer, vovó? — Lori parou à porta do elevador. 
— Acontecerá, querida. No fim da semana ele estará em casa e tudo voltará ao 
normal. 
— Algo muito sério aconteceu, vovó, e acho que as coisas entre eles jamais 
voltarão a ser como antes. 
Caladas, as duas mulheres entraram no elevador tentando compreender o que 
havia acontecido com Marcus e Ashley naquele final de semana. Como, de uma hora 
para outra, o casal simplesmente dizia estar separado? 
Bem, uma coisa parecia certa, a vida dos Lake estava prestes a mudar 
radicalmente, se é que já não tinha mudado Agora se era para melhor ou para pior, era 
muito cedo para saber... 
— Você está acordada? — perguntou Vanessa, sentando-se na cadeira ao lado da 
cama do hospital. 
— Sim, estou. — Ashley arregalou os olhos e sentiu a boca seca. A amiga lhe 
passou o copo d'água que estava na mesinha-de-cabeceira. 
— Que horas são? 
— Cinco e meia. Tentei vir mais cedo, mas o trânsito... Por que não me chamou 
quando passou mal, Ashley? Eu teria vindo com você ao hospital. 
— Não houve tempo. O pessoal da emergência me trouxe para cá e o cirurgião 
logo disse que precisava tirar o útero para estancar a hemorragia. Deveria ter 
escutado você e feito a operação meses atrás. — Ashley imaginou se isso teria feito 
alguma diferença em sua vida conjugal. 
— Ainda bem que deu tudo certo... Mas, sabe, fiquei surpresa com o recado que 
você deixou sobre Marcus. Sabe alguma coisa dele? 
— Não, nem quero saber. — Ela começou a chorar de repente. 
— Também não sei por que ainda choro. É tarde demais.— Tem certeza, Ashley? 
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— Tenho. Marcus estava me enganando, Vanessa. Nunca poderei voltar para ele. 
Acho que você sabia, não? 
— Não, mas suspeitava. Conheço os indícios. Sinto muito que tenha acontecido 
com você. 
— Gostaria que tivesse me alertado sobre esses indícios, Vanessa. 
— Bem, nunca vi Marcus com outra mulher. Não podia especular nem acusá-lo. 
Você me conhece. — Vanessa reparou que o rosto da amiga estava mais afilado depois 
da cirurgia, e com olheiras. Ela enrugava a testa a cada movimento e seguia secando os 
olhos com lenços de papel. A bandeja com comida também estava intocada na mesinha 
ao lado. 
— Sei que foi um choque para você, Ashley, mas tudo vai melhorar quando for 
para casa. 
— Ir para casa? O que vou fazer lá? Apenas me lembrar de Marcus fazendo as 
malas e me deixando? 
O médico entrou e Vanessa prudentemente afastou-se até a janela. Vestia uma 
roupa justa que lhe destacava as curvas generosas. Suas sandálias eram brancas e um 
par de brincos de pérola lhe enfeitavam as orelhas. Não podendo se conter, o jovem 
médico lançou um olhar de apreciação para a fogosa visitante. 
— Sra. Lake — ele emendou logo depois, fazendo um esforço óbvio para se 
concentrar — , os exames de sangue mostram que seu organismo, no momento, é uma 
bomba-relógio prestes a explodir. Vai ter de se cuidar. 
Perplexa, Ashley tentou se sentar. 
— Como assim? 
— Colesterol e pressão muito altos. A senhora está acima do peso e isso é um 
perigo. Vou prescrever as medicações e uma dieta rigorosa. É preciso prevenir um 
ataque cardíaco, já que passou por uma cirurgia delicada. Entende o que estou 
dizendo? 
Lágrimas voltaram a rolar. Ashley não só compreendia como tinha a sensação de 
que sua vida havia acabado. Estava velha, doente e sem marido. O que mais poderia dar 
errado? 
— Sim, doutor. Entendi tudo. Quando começo minha dieta? 
— Já instruí a enfermeira. Além da alimentação controlada, a senhora deve 
praticar exercícios, no mínimo longas caminhadas. Mas comece logo, Sra. Lake. Amanhã 
passarei para vê-la, outra vez. 
— O que achou? — Ashley perguntou a Vanessa assim que o doutor se despediu e 
saiu do quarto. 
— O melhor que pode fazer por você é ficar boa, amiga. Há uma vida inteira pela 
frente. Só tem quarenta e cinco anos. Perdendo peso e melhorando a aparência, você 
se sentirá bem. Mas leve os conselhos do médico a sério. Hipertensão não é 
brincadeira. 
— Sim, mas me sinto uma velha, sabia? — Soluçou e fechou os olhos novamente. 
Quando os abriu, teve de secá-los com mais um lenço. 
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— Se soubesse que Marcus não me amava mais! Ele disse que a emoção em nossa 
vida conjugal havia acabado, e que não tínhamos mais nada em comum. Eu queria 
morrer, Vanessa. Foi horrível! — Balançou a cabeça, numa ênfase desnecessária. 
— Não foram palavras cruéis, mas me machucaram do mesmo modo. Impossível 
esquecê-las, mesmo que Marcus resolva voltar. Realmente acabou! 
— Eu sei, querida. Mas você precisa ir em frente. Quando estiver mais forte e 
retomar seu trabalho, verá que a vida não é tão sombria. E conte comigo para sair, 
conversar ou ir ao cinema. Deus sabe que você sempre me amparou, sem jamais me 
julgar. 
— Todos os dias, eu vinha do trabalho para casa, preparava o jantar para mim e 
Marcus, tomava um banho e lia um bom livro ou via televisão, antes de dormir. Qual 
será minha rotina daqui por diante? 
— Qualquer uma que lhe traga satisfação. Você não precisará mais cozinhar, lavar 
ou arrumar a cama se não quiser, Ashley. Morar sozinha tem suas vantagens, sabia? — 
Vanessa abraçou a amiga. 
— Agora coma o que a enfermeira trouxe e trate de ficar boa logo. Lembre-se de 
que amanhã é um outro dia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo II 
 
 
 
Na quarta-feira de manhã, Ashley acabara de se vestir quando a mãe e o pai 
chegaram para buscá-la. Já guardara a camisola e o roupão de banho que Lori lhe 
trouxera um dia depois da cirurgia e estava pronta para partir. 
Daniel, o pai, entrou primeiro, e Ashley notou o chapéu marrom que ele usava. 
Nunca saía de casa sem um boné ou chapéu, e a cor do complemento combinava com a 
de sua camisa. Era um homem grande, de ossatura larga, e por isso os quase cem quilos 
não o faziam parecer gordo. Era apenas forte e alto. 
— Pronta para enfrentar o mundo lá fora, Ash? — ele perguntou à filha, que, a 
julgar pelas olheiras e movimentos lentos, parecia de fato doente. Ah, se encontrasse 
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Marcus na rua, apertar-lhe-ia o pescoço com as duas mãos. Não podia admitir que 
alguém magoasse sua menina daquela forma! 
— Sua mãe arrumou seu quarto com esmero, filha, mas sem mudar nada do lugar. 
Ashley sentou-se na beirada da cama, não se arriscando a andar. 
— Obrigada, mas planejei voltar para minha casa, papai. Tudo de que preciso está 
lá. A correspondência, uma porção de comida no refrigerador, enfim... 
— Posso ficar com você na casa — disse Dóris sem hesitar. 
— Se é mais confortável para você, para mim não há problema. 
— Não se importa mesmo, mamãe? 
— Claro que ela não se importa! — Daniel respondeu por Dóris. Era outra de suas 
manias: tomar decisões pela mulher, sem consultá-la. 
— Claro que não — Dóris repetiu palavra por palavra, recolhendo as revistas 
espalhadas pelo quarto. 
— Bom. Papai pode ficar conosco se quiser. Sobrou muita carne desfiada da festa 
de Marcus. 
Daniel ergueu uma das mãos, recusando a oferta. 
— Obrigado, mas só estou comendo carnes brancas. Pressão alta, segundo meu 
médico. 
Naquele instante, a enfermeira chegou com uma cadeira de rodas e transportou 
Ashley até o saguão do hospital, enquanto Daniel trazia o carro do estacionamento 
interno. Dóris se encarregou da bolsa da filha. 
— Como costumamos dizer — expressou-se a enfermeira — , espero que não 
volte. Siga as recomendações do médico, Sra. Lake. — A jovem de branco não 
aguardou resposta e voltou a entrar no hospital. 
Daniel ajudou Ashley a se acomodar no banco do passageiro. 
— Muito simpática — ela elogiou a enfermeira. 
— Ao contrário, pareceu-me fria e arrogante – comentou Dóris, instalada no 
banco traseiro. 
— Você se sente bem, filha? Daniel, dirija devagar. 
— Estou bem, mamãe, e não se preocupe com o motorista. Surpreendentemente, 
Ashley viu-se ansiosa por chegar em casa e ocupar seu velho quarto, onde se sentia 
confortável. Tinha muita coisa em que pensar: o tratamento da hipertensão, a dieta, as 
caminhadas, o que fazer com o resto de sua vida. 
Não podia ficar pensando em Marcus e nos muitos anos que tiveram em comum. 
Apesar da dor e desilusão, era preciso seguir em frente. "Sim, a vida continua", 
Ashley repetiu para si mesma enquanto o carro deslizava pelas ruas movimentadas de 
Los Angeles. 
Daniel destrancou a porta para que Ashley e Dóris entrassem na casa. 
— Sente-se e descanse, querida — pediu Dóris, indicando o sofá. 
Ashley olhou em torno de si e constatou que a casa estava na mais perfeita 
ordem. 
— Você fez um belo trabalho, mamãe, limpando a sujeira que deixei. Sinto muito 
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que tenha visto meu sangue. 
— Não sinta, menina. Eu e Daniel viemos ontem aqui e cuidamos de tudo. Agora, 
pretendo fazer o almoço. Deve haver mais do que a carne que sobrou do churrasco na 
geladeira, não? 
Daniel ocupou um lugar no sofá, deixando o chapéu na mesa de centro.— Bem, pegue o que quiser — recomendou Ashley. 
— Acho que ainda há peru fatiado. — Movendo-se lentamente, ela rumou para seu 
quarto e deixou a bolsa sobre a cama vazia. De repente, lembrou-se de que fora ali que 
vivera seus anos mais felizes. A dor e a solidão a atingiram em cheio. Uma lágrima 
escorreu-lhe pelo rosto e ela a enxugou com mãos trêmulas. 
Nesse instante, o som estridente do telefone ecoou por toda casa, tirando-a de 
seus devaneios. Deu passo à frente para atender a extensão que ficava no quarto, mas, 
antes que pudesse fazê-lo, o telefone parou de tocar. 
Era óbvio que sua mãe já havia atendido na sala. 
— É Marcus — anunciou Dóris, entrando no quarto pouco depois. 
— Quer falar com você. 
O coração bateu mais rápido no peito dela, mas sabia que de nada adiantava ter 
falsas ilusões; por isso, falou simplesmente. 
— Diga a ele que não temos nada para falar. 
— Filha, Marcus parece preocupado com você. Ouça seu marido. 
— Por favor, mamãe. Diga que já falamos tudo o que precisava ser dito. — Temia 
cair em pranto se ouvisse a voz de Marcus outra vez. 
— Ashley! — Dóris a repreendeu. 
— Deixe a menina em paz — interveio o pai, parando no corredor. 
— Se não quer falar com aquele filho da... — Parou ao perceber lágrimas no rosto 
da filha. 
Ashley tinha vontade de sair correndo dali, mas estava física e emocionalmente 
impossibilitada de fazê-lo. Por que a mãe não acreditava que seu casamento havia 
terminado? 
Finalmente, Dóris pareceu entender que estava pedindo demais; em silêncio, 
deixou o quarto e retornou alguns minutos depois. 
— Bem, dei o recado — anunciou a senhora de cabelos grisalhos e olhar 
penetrante. 
— Ele mandou dizer que, se precisar de alguma coisa, basta ligar. 
— Sim, claro — Ashley ironizou. 
— Seria a última pessoa no mundo para quem eu ligaria. 
— Não fale assim, filha. — Dóris baixou a voz a fim de que o marido não a 
escutasse. 
— Por que não? É o que penso e sinto. — Ela passou a correspondência da cama 
para o criado-mudo, ainda sem abrir nenhum envelope. 
— A senhora, mamãe, pode ficar no quarto de Lori. Preciso descansar um pouco. 
— Na verdade, desejava ficar sozinha e refletir sobre o novo rumo que precisava dar 
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à sua vida, mas não podia dizer isso sem suscitar novas perguntas. 
O telefone tocou no final da tarde. Era Lori. 
— Adiantei meu trabalho, mamãe, e passarei aí para vê-la. 
— Certo. Estarei em casa. Não pretendia mesmo ir fazer compra no shopping — 
Ashley sorriu pela primeira vez em dias e recostou-se na cama que um dia dividira com 
o marido. Os comprimidos que tomava para dor tinham um efeito relaxante e, antes 
que pudesse se dar conta do que acontecia, já tinha pegado no sono. 
Só voltou a acordar quando ouviu o som da porta sendo aberta. 
Piscando os longos cílios castanhos, Ashley se virou a tempo de ver a mãe 
entrando no quarto, acompanhada de perto por Lori. 
— Nossa! Por quanto tempo dormi? — indagou, sentando-se na cama. 
— Duas horas. Como se sente? — Lori quis saber, ajustando o travesseiro atrás 
de sua cabeça a fim de deixá-la mais confortável. 
— Contente por estar em casa. Mas ainda é difícil me movimentar. Parece que um 
trator passou por cima da minha barriga. Não é uma sensação muito agradável. 
— Bem, o importante é que se recupere. Posso ficar com você pelo tempo que 
desejar — atalhou Dóris e sentou-se na poltrona, enquanto Lori se acomodava ao pé da 
cama. 
— O que está cheirando tão bem, mamãe? — Ashley respirou fundo e virou-se na 
direção da cozinha. 
— Não vá me dizer que fez aquela torta de legumes que adoro? 
— Acertou. O médico disse que precisa comer coisas saudáveis. Vou buscar um 
pouco para você. — Gratificada e orgulhosa pelo elogio, Dóris apressou-se em rumar 
para a cozinha. 
— Estou furiosa com papai — falou Lori, assim que a avó saiu. 
— Não sei se quero vê-lo novamente. 
Ashley fitou a filha com carinho. 
— Não quero que fique zangada com ele, Lori. O que aconteceu entre nós não diz 
respeito a você nem a suas relações com seu pai. 
— Claro que diz! — a jovem protestou. 
— Ele arruinou nossa família! 
— Não. Marcus sempre foi um bom pai para você. Certamente, é a pessoa que ele 
mais adora no mundo. 
— Como pode elogiá-lo, depois do que fez a você? 
— E justamente por que Marcus fez para mim, não para você. Está indo atrás da 
felicidade, e não se pode culpá-lo por isso. Quanto a mim, conseguirei me virar sozinha. 
Você fique fora disso, por favor. Pode ouvir dele o outro lado da história, porque ainda 
é seu pai. Mas não o estou defendendo nem jamais o perdoarei. 
— Tem certeza? 
— Sim. Não estrague o que vocês, pai e filha, têm em comum. Quantas crianças 
são abandonadas pelo pai ainda pequenas? Marcus pelo menos teve a decência de 
esperar você crescer e se tornar alguém na vida. 
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— Do que vocês estão falando tanto? — Dóris interrompeu, retornando com um 
prato nas mãos. 
— Nada de muito importante — Ashley mentiu, forjando um sorriso. 
— Só estávamos lembrando qual foi a última vez que se comeu tão bem nesta 
casa, vovó — Lori riu e pegou o prato das mãos da avó ajudando Ashley a se servir. 
A velha senhora ocupou a poltrona vaga e estudou as feições da filha e da neta. 
Certamente, elas deviam estar falando de Marcus. O que mais poderia fazê-las 
parecer tão infelizes, embora tentassem sorrir? 
Um suspiro escapou dos lábios de Dóris e ela rezou secretamente para que a filha 
conseguisse superar tudo o mais rápido possível. Não ia ser fácil, mas Ashley era mais 
forte do que aparentava. Ela conseguiria. Era só uma questão de tempo. 
Marcus Lake não tinha o hábito de beber duas xícaras de café em menos de uma 
hora. Mas naquela manhã ele tinha pedido à filha Lori para passar em seu escritório, a 
caminho do trabalho. Afinal, a filha era repórter do tribunal de justiça, que ficava a 
poucos quarteirões da empresa em que ele trabalhava; portanto, não a estava tirando 
de seu caminho habitual. 
Sentado diante da escrivaninha suntuosa, Marcus batia nervosamente com a 
caneta sobre o tampo de mogno. Havia ligado para Lori na noite anterior, e ela se 
mostrara distante, zangada, dizendo com clareza que não queria falar com ele. 
Contudo, Marcus insistira em explicar que a separação de Ashley nada tinha a ver com 
o relacionamento deles como pai e filha. 
— Papai? — Lori surgiu na soleira da porta, tirando-o de seus devaneios. 
— Entre, querida. — Ofereceu-lhe a cadeira em frente à escrivaninha. 
— Você parece uma mulher de negócios com esse tailleur verde. — Também se 
parecia cada vez mais com a mãe quando jovem, pensou ele, mas não ousou verbalizar o 
que tinha em mente. 
— Como está Ashley? — Ante o olhar reprovador da filha, ele emendou: 
— Estou falando da cirurgia. Ela precisa de alguma coisa? 
— Não. Vovó Dóris tem ajudado, e eu passo por lá todas as tardes. 
— Boa menina. Sei que você tem somente alguns minutos, mas gostaria de dizer 
que lamento muito o que aconteceu entre mim e sua mãe. 
— Lamenta mesmo? — Lori cruzou os braços e o encarou com ar beligerante. 
— Quando se é jovem e apaixonado, o casamento é algo maravilhoso. Mas, às 
vezes, o encanto dura pouco e exige certo esforço para mantê-lo. Alguns casais se 
distanciam, vivem uma farsa. E quando os filhos partem, nada mais resta para uni-los. 
Foi o que aconteceu comigo e sua mãe, Lori. Não é culpa de ninguém, e sinto muito que 
tenha acontecido. 
— Por que não recomeçam? Você ainda a ama, papai? 
— Sim, mas não para vivermos juntos. Não me entenda mal, Lori. Ashley é umapessoa incrível, uma mãe extraordinária, mas é tarde para nós, como homem e mulher, 
quero dizer. 
Os olhos de Lori ficaram marejados de lágrimas. 
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— Não quer tentar mais, é isso? 
— Já tentei antes, estes anos todos. — Ele se levantou e foi fechar a persiana, a 
fim de barrar o sol que entrava no escritório. 
— E quanto a nós? — Lori questionou. 
— Quero dizer, e se casar de novo e eu não gostar de sua mulher ou vice-versa? 
Marcus calou a filha com a mão levantada, ante a pergunta infantil. 
— Espere um pouco. Você não tem motivo para ficar com raiva de mim. Está bem-
casada com Keith, trabalha e leva sua vida. É feliz, por isso talvez seja difícil me 
compreender. Honestamente, fui um bom marido e um bom pai. Nosso relacionamento 
não precisa mudar, Lori. Você sempre veio em primeiro lugar para mim e sua mãe. 
Lori escutou tudo, admitindo que Marcus havia sido um excelente pai. Mas agora 
as coisas haviam mudado inteiramente, e ela não sabia como lidar com a situação. 
Jamais lhe ocorrera ter pais divorciados. 
— De novo, e se sua nova mulher não gostar de mim? 
— Até parece que vou me casar amanhã! Nem mesmo entramos com os papéis do 
divórcio. Só você está falando em casamento, Lori. — Ele aproximou-se e segurou as 
mãos da filha entre as suas. 
Ela teve vontade de chorar, mas precisava mostrar ao pai que não era mais uma 
criança. 
— Está bem, papai. Acho que, com o tempo, vou me acostumar. Por enquanto, o 
fato de ter abandonado mamãe me perturba. Foi tão repentino. E você a deixou por 
causa de outra mulher. — Soluçando, Lori voltou o rosto para a janela, sem encarar 
Marcus. 
Gentilmente, ele a segurou pelo queixo, virando-a para si e beijando-a na testa. 
— Sinto muito se a magoei, querida. Também detesto ter magoado sua mãe, mas, 
às vezes, não temos escolha. É o preço de ser feliz. 
Marcus era esperto o suficiente para não apresentar e nem falar de outra 
mulher à filha naquele momento. Era cedo demais, e ele se mudara para um pequeno 
apartamento alugado. Caso Lori, fosse visitá-lo, mais adiante, e encontrasse sua 
namorada, tinha certeza de que ela aceitaria o fato. Afinal, ele era humano. 
— Preciso ir, papai — ela anunciou após consultar o relógio. 
— Talvez na próxima semana possamos jantar juntos, Keith inclusive. 
Para desgosto de Marcus, a sugestão soou apenas como obrigação filial. Lori 
realmente necessitava de mais tempo para assimilar o fim do casamento dos pais. De 
qualquer forma, o primeiro passo já tinha sido dado. Sentia-se mais aliviado. Era como 
se tivesse tirado um peso de seus ombros. Verdade que pedira a separação, mas 
jamais conseguiria viver longe da filha, Lori era o que mais amava na vida e queria que 
ela entendesse isso. 
— Mamãe, pare de me vigiar — pediu Ashley a Dóris. 
— Estou me cuidando. Há tanta comida no freezer que você já pode deixar de 
cozinhar para mim. 
— Vou ficar aqui até amanhã, mas receio que você pare de fazer sua dieta quando 
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eu for embora. Daniel irá se zangar comigo. 
Ashley pôs de lado a colher com a qual tomava uma sopa de legumes. 
— Você está se preocupando por nada, mamãe. 
Estava quente demais para tomar sopa; além disso, a cicatriz da operação doía, 
assim como todos os ossos do corpo. Impossível sentir-se confortável nessas 
condições. Ashley só desejava ficar sozinha e ter tempo para pensar no que faria com 
o resto de sua vida. Quando casada, nunca havia pensado nisso. "Primeiro erro", ela 
pensou. E o segundo tinha sido entregar-se nas mãos de Marcus, fazendo-lhe todas as 
vontades. Céus, será que alguma vez tinha sentado serenamente e pensado no que 
queria para si? Não, claro que não. 
Tudo o que conseguia pensar era em tornar o marido e a filha felizes. Como fora 
idiota! 
— Bem, fique por mais um dia, mamãe. Mas amanhã à noite gostaria de estar 
sozinha. Acredite, se precisar, eu telefono. Você e papai poderão vir me ver e checar 
se estou bem. Agora, coma um prato de sopa você também. 
O telefone tocou próximo de Ashley e ela atendeu. Ficou contente ao ouvir a voz 
melódica da filha. 
— Lori, eu estava justamente dizendo a sua avó que, a partir de amanhã, cuidarei 
sozinha de mim. 
— Fui ver papai, hoje. Ashley engoliu em seco. 
— Ah, e como foi? 
— Bem. Terei de me habituar à situação, a não ser que vocês voltem. Mas parece 
que ambos já decidiram. — Lori gostaria de chorar, mas reteve o pranto enquanto a 
mãe estivesse ao telefone. Na noite anterior, seu marido Keith ficara chocado com a 
notícia. Seus pais haviam conseguido manter a infelicidade escondida de todos. 
— Não voltaremos, Lori. Sinto acabar com suas esperanças. Seu pai e eu vamos 
viver separados, de agora em diante. 
— Já sei, mamãe. É melhor eu retornar ao tribunal agora. 
— Está bem, querida. Até mais. 
Dóris viu a filha colocar o aparelho no gancho e dar um longo suspiro. 
— Sabe, Ash. Casais rompem o tempo todo e se reconciliam. 
Marcus voltará para você, porque este é o lar dele. Não está acostumado a 
dormir fora. 
Ashley teve vontade de rir alto diante do comentário ingênuo. Era óbvio que a 
mãe não estava entendendo direito o que tinha acontecido com ela e Marcus. Mas, 
afinal, por que recriminá-la? Ela era um mulher doce e servil que estava casada há 
mais de cinquenta anos com um homem que, apesar de mandão, a amava e respeitava 
como poucos faziam. 
— Mamãe, chega de falar de reconciliação. Se houvesse alguma chance de isso 
acontecer, eu teria atendido os telefonemas dele ou ligado. Acabou. Marcus disse com 
todas as letras que não me ama mais. Está apaixonado por outra. Por isso, jamais o 
aceitarei de volta. Acabou, entende? 
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— Mas vocês precisam conversar a respeito disso. Talvez mude de idéia. Marcus 
é seu marido... 
— Por favor, me escute. — Ashley encarou a mãe com firmeza. 
— Pela terceira vez, acabou, e você está me dando dor de cabeça por insistir em 
falar sobre o assunto. — Sem pensar, levantou-se bruscamente e o local da operação 
doeu, obrigando-a colocar a mão espalmada sobre a barriga. 
— Oh, desculpe, querida. Eu a aborreci. 
— Tudo bem, mamãe. Apenas não toque mais nesse assunto. Acho que vou me 
deitar um pouco. — Rumou para o quarto e fechou a porta. 
Ashley passou o resto do dia enclausurada, fingindo dormir. Notou que seu pai 
passara pela casa, por alguns minutos, mas não saiu do quarto para vê-lo. Às oito da 
noite, tomou um rápido banho, ingeriu os comprimidos prescritos pelo médico e 
retornou à cama, rezando para que finalmente adormecesse. 
Na manhã seguinte, ela acordou com o cheiro de café na cozinha. Usou o 
banheiro, lavou-se, vestiu o robe e, ao espelho, murmurou desalentada que aquele seria 
mais um dia de solidão. Sem alternativa, rumou para a cozinha. 
Dóris havia preparado a mesa com café, leite gelado, cereais e torradas. 
— Como você não jantou — disse à filha assim que esta entrou — , achei que 
estaria com fome. 
— Obrigada, mamãe. É verdade. Adivinhe! Pesei-me no banheiro e perdi três 
quilos desde a cirurgia. Meu rosto está mais magro? 
— Sim, e mais bonito. Notei ainda ontem. — Dóris serviu-se de uma xícara de 
café. 
— Mais quatro ou cinco quilos e ficarei como quero. O mesmo peso de quando me 
casei. — As palavras soaram tranquilas, sem rancor. 
— Ainda tenho de controlar a pressão e o colesterol. 
— Sim, mas não deixe de comer bem. Corte apenas as gorduras e o açúcar. Não 
desejo vê-la doente outra vez. 
— Vou superar isso logo, mamãe. — Ashley mostrou-seanimada. Tinha se 
descuidado e, por certo, Marcus notara o desleixo com a aparência. Claro que ela 
nunca imaginara que o casamento terminaria. Era triste, mas admitia ter sido cega e 
surda aos sinais que pipocavam por todos os lados há muito tempo. 
— Esperarei até o final da tarde para ir embora, filha. Assim terei certeza de 
que você está bem. 
— Sinto-me melhor hoje, mamãe. 
Incansável, Dóris arrumou toda a cozinha após o café-da-manhã, e ainda lavou 
roupa, incluindo as toalhas do banheiro de Ashley. Depois, fez o almoço. Às cinco, 
Daniel passou de carro para levá-la embora. Ashley teve de prometer que telefonaria 
caso precisasse de alguma coisa. Naquele momento, porém, ela só desejava ficar 
sozinha e repensar os rumos que daria a sua vida. 
 
 
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Capítulo III 
 
 
 
Cinco semanas após a cirurgia, Ashley sentia-se significativamente melhor. Nas 
últimas quatro semanas, Dóris e Daniel a visitavam durante o dia, enquanto Lori via a 
mãe na volta do trabalho. Na última semana, porém, Ashley dispensara a presença 
constante dos familiares. 
Em seu quarto, defronte ao enorme espelho que Marcus insistira em colocar no 
closet do casal, ela admirou seu novo corpo. A barriga ainda estava um pouco flácida, 
por causa da intervenção cirúrgica recente, mas havia emagrecido quase oito quilos e 
estava orgulhosa de si mesma por tal façanha. Se tivesse se cuidado melhor antes, 
talvez Marcus não tivesse ido embora. Dentro de casa, dia e noite, Ashley ganhara 
condições de pensar livremente no ex-marido e no que ele poderia estar fazendo. Será 
que também pensaria nela, sentindo-se culpado? 
— Tente esquecer, tente esquecer! — repetiu para si mesma, mas sabia que a 
ferida causada pela rejeição ainda era muito recente para ser ignorada. 
De súbito, o som estridente da campanhia ecoou por toda casa, trazendo-a de 
volta à realidade. Deveria ser Vanessa. Não via a amiga há duas semanas, pois esta 
tinha viajado com Gary para Nova York e só voltara na noite anterior. Estava feliz com 
a possibilidade de ter alguém com quem conversar; por isso, apressou-se em atender. 
— Olá, menina, entre. Estava aguardando você. Como foram as férias? 
— Divertidas. Comemos muito e atravessamos as madrugadas andando de um 
lugar para outro. E você, como se sente? Parece estar bem. 
— Sim, finalmente melhorei. Tenho suco de maçã, ou prefere um refrigerante 
light 
— Suco. Isto é para você. — Vanessa estendeu um pacote de presente em direção 
à amiga. 
— Há tantas lojas boas em Nova York! 
Ashley abriu o presente rapidamente e deparou-se com uma linda bolsa dourada. 
— Nossa! Exatamente o que eu queria. Você se lembrou de que eu precisava de 
uma bolsa dourada para combinar com meus sapatos. Obrigada, querida. 
— Sim, lembrei. Mas, diga-me, quantos quilos perdeu? Está parecendo bem mais 
jovem. 
Ashley girou o corpo a fim de mostrar como o vestido justo lhe caía bem. 
— Que tal? — perguntou com uma ponta de orgulho. 
— Você está ótima, menina! Nem parece que esteve doente. Se não soubesse que 
precisou fazer uma cirurgia, diria que esteve num spa. 
As duas riram e Ashley a puxou para a cozinha. 
— Venha tomar seu suco. 
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Acomodaram-se nos banquinhos diante do balcão e serviram-se do suco. 
— Ainda falta um pouco para eu chegar a meu peso ideal — disse Ashley. 
— Mas já me sinto outra pessoa. — Observou Vanessa, sempre glamourosa, bem-
vestida e, pela primeira vez, acreditou que também poderia ficar bonita. 
— Ninguém vai reconhecê-la quando voltar ao trabalho — comentou a amiga. 
— Não sei se vou retornar a meu antigo emprego, Vanessa 
— Ashley confessou pela primeira vez. — Desde que voltei do hospital, estou 
tentando decidir o que fazer do resto de minha vida. Lembra de quando fomos para a 
faculdade? Eu tinha um certo talento para desenhar roupas e até pensei em ser 
estilista, mas desisti e concordei com Marcus quando ele achou preferível seguir uma 
carreira mais sólida na área de seguros. Creio que ele não me considerava capaz de 
tocar um negócio próprio. Já você me disse no hospital que eu poderia fazer o que 
quisesse, lembra? 
— Sim. — Vanessa tomou um longo gole de suco de maçã. 
— Pois bem, vou fazer o que quero, amiga. Tenho tempo e vontade para isso. 
Vanessa riu ao ver que ela falava com uma autodeterminação bastante rara. 
— Fico contente por você, Ashley. Já era hora. Vá em frente. 
— Posso usar parte de minha poupança para começar meu novo negócio. Estou 
ansiosa. 
— E eu, orgulhosa de você. 
— Melhor esperar um pouco para ver. Ainda não fiz nada. Naquele instante, o 
telefone tocou e Ashley levantou-se para atender. 
— Com licença. Minha família parece achar que não sou capaz de me cuidar 
sozinha. Ligam a toda hora. 
De onde havia sentado, Vanessa podia ver a cozinha e parte da sala. Na mesa à 
direita do sofá, notou que estava faltando a foto emoldurada do casamento de Ashley 
e Marcus, substituída pelo retrato de Lori. Já era um bom sinal ver que a amiga estava 
se livrando daqueles pequenos objetos que poderiam mantê-la presa ao passado, 
impedindo-a de ver o presente e o futuro. 
— Era um colega de trabalho — explicou Ashley ao retornar. 
— Como dizia, espero começar logo minha nova atividade. Quero e vou ser 
estilista. 
Pelos olhos da amiga, Vanessa concluiu que ela não vinha dormindo bem. As 
pálpebras inchadas a denunciavam. Mesmo com a empolgação pelo novo trabalho, os 
olhos permaneciam tristes. 
— E tenho certeza de que vai ser um sucesso, mas Ash, você parece um pouco 
pálida. É bom perder peso, mas, tem se alimentado direito? 
— Claro. Faço dieta, mas sem muito rigor. O problema é que, em certos dias, é 
difícil engolir qualquer coisa. Minha vida mudou, também nesse aspecto. Estou muito 
ansiosa com a possibilidade de começar algo novo e chego a perder a fome. 
— Você despertou em tempo. 
— Ninguém me compreende como você, Vanessa. Lori pensa que posso apertar um 
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botão e trazer o pai dela de volta. Já minha mãe prefere me ver quieta, mas também 
conta com o retorno de Marcus, sem levar em conta meu amor-próprio. A verdade é 
que, para ser honesta, embora ainda sofra, nem eu o quero de volta nem ele virá. Só 
desejo recobrar minha paz interior e esquecer Marcus. 
— Bem, querida. Receio que você nunca o esquecerá completamente, mas lembrar-
se dele vai magoá-la cada vez menos, com o passar do tempo. Mas começar seu próprio 
negócio vai ajudá-la muito a não pensar no assunto. 
— Já almoçou? — perguntou Ashley, mudando o rumo da conversa. 
— Não, e você? 
— Posso fazer alguns sanduíches. — Ela ergueu-se, com o copo de suco na mão. 
— Não, não. Você fica sentada e eu faço os sanduíches. Sei onde encontrar os 
ingredientes. — Vanessa levantou-se e começou a se mover pela cozinha como se 
estivesse em sua própria casa. 
— Em três meses, irei a um jantar de gala com Gary. Talvez você possa desenhar 
meu vestido. Acha que dará tempo? 
— Claro. Só preciso de um bloco de desenho e uma máquina de costura. A que eu 
tinha enferrujou e foi descartada. 
— Tenho a tarde toda para ouvir seus projetos, Ashley. Você me deixou 
empolgada e feliz. Lembra-se daquele amigo de Gary, chamado Thomas? 
— Pois é. Morreu de infarto agudo, aos cinquenta anos. Portanto, aproveite a vida 
enquanto puder. 
— Bem observado — ela concordou com uma careta. 
As duas riram e conversaram até as quatro da tarde. Depois de colocar os pratos 
na lavadora, Vanessapartiu. 
Ashley trancou a porta e seguiu para os fundos da casa. Uma vez ali, inspecionou 
as rosas que brotavam e ouviu o doce gorjear dos pássaros. Era uma bela tarde de 
verão e ela se sentia viva e feliz como há muito não se sentia. Sentando-se em uma das 
enormes espreguiçadeiras do jardim, fechou os olhos e deixou que o sol e a brisa lhe 
acariciassem corpo e alma. Então, à medida que pensava sem seus planos para o futuro 
sentiu o sono chegar e com ele muitos sonhos. No entanto, o mais surpreendente de 
tudo era que Marcus não fazia mais parte desses sonhos. 
Sete semanas após a cirurgia, Ashley enviou uma carta de demissão à empresa 
em que trabalhava e concentrou-se em reunir tudo o que precisava para começar sua 
nova carreira. 
Naquele dia, procurava por uma boa máquina de costura em Santa Mônica, onde 
também ficava o consultório do médico que acabara de lhe dar alta dizendo que ela 
estava pronta para começar vida nova. 
"E olhe que o bom doutor nem faz idéia do quão verdadeiras são suas palavras!", 
pensou ela, manobrando o carro e parando no estacionamento de uma revendedora 
Singer. Logo foi atendida por uma vendedora simpática, que lhe mostrou, e deixou 
experimentar, um modelo bastante eficiente e prático de máquina de costura. 
— Vocês entregam? — ela perguntou, assim que se decidiu pela compra. 
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— Sim, claro. Que tal sábado de manhã? 
— Está ótimo para mim — disse rindo e entregando seu cartão de crédito à jovem 
vendedora. Sentia-se nas nuvens com o primeiro passo dado rumo a sua nova carreira. 
De volta ao estacionamento, congratulou-se pela coragem em mudar de vida aos 
quarenta e cinco anos. Espantou-se com o fato de estar sorrindo, e não chorando. A 
caminho de casa, tomou um desvio à esquerda e saiu no Bulevar Slauson. Decidira 
fazer uma visita a Vanessa. Afinal, não havia ninguém a sua espera. Então por que se 
apressar? 
Com uma animação que há muito não experimentava, ajustou os óculos de sol no 
rosto e ligou o ar-condicionado do carro. Dez minutos depois, parou em frente a um 
restaurante chinês e pediu almoço para viagem. 
— Ei! — Ashley chamou a amiga que surgira na soleira da porta. 
— Entre, entre! — Vanessa falou sorrindo feliz com a surpresa. 
— Acabo de ligar para sua casa, e aqui está você! O que há na sacola? 
— Arroz, frango xadrez e rolinhos primavera. Estou faminta. 
Ela invadiu a cozinha de Vanessa com a mesma familiaridade que a amiga 
mostrava na sua. Sabia onde estavam guardados os pratos, talheres e guardanapos de 
papel. 
— O médico disse que eu já posso trabalhar e fazer tudo o que fazia antes da 
cirurgia. Na saída do consultório, comprei uma máquina de costura nova. 
— Isso é bom, amiga. E você está com ótima aparência. — Vanessa deixou de lado 
um catálogo que consultava e examinou o vestido floral de Ashley, seu penteado mais 
arrojado que o habitual e o discreto salto que usava a fazia parecer mais alta e 
elegante. Embora não estivesse maquiada, Ashley parecia jovem e bonita. Satisfeita 
com aquela transformação, Vanessa tirou dois refrigerantes light da geladeira, ligou a 
secretária eletrônica e sentou-se. 
— Vamos comer. 
— Bonita esta pantalona que está vestindo, Van — Ash comentou. 
— Sabe que nenhuma de minhas roupas me serve mais? Preciso comprar números 
menores e renovar o guarda-roupa. Ou melhor, pretendo costurar. Adquirir tudo me 
custaria os olhos-da-cara. Só não sei o que fazer com os cabelos. 
Vanessa ficou contente por Ashley ter mencionado o assunto do cabelo, sempre 
quisera lhe dar algumas sugestões mais modernas. 
— Tem de voltar cedo para casa, Ash? 
— Não propriamente. Por quê? — indagou ela, estreitando os olhos. 
— Pois bem, quando terminarmos de almoçar, falarei com Charlie, meu 
cabeleireiro. Ele fará maravilhas por você. 
— Verdade? Seria ótimo. Preciso me sentir viva de novo. 
— Oh, Ashley. Dará tudo certo. Trazer comida chinesa foi uma boa idéia, mostra 
que você está bem, cheia de iniciativa e que já retomou as rédeas de sua vida. É isso aí 
amiga. Acredite em si mesma e tudo dará certo. 
Vanessa fez as apresentações, e Ashley inspecionou o salão, onde três 
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esteticistas trabalhavam e quatro mulheres estavam sentadas debaixo de secadores. 
Charlie devia ter a idade delas, era pequeno, de cintura fina, cabelos castanhos 
repicados e adorava falar da mulher e das duas filhas já adultas, contrariando o 
estereótipo de que todo cabeleireiro é gay. 
— Sempre usa esses óculos? — ele perguntou à recém-chegada. 
Vanessa tossiu a fim de alertar o cabeleireiro. Ashley poderia tomar a questão 
como um insulto, embora tivesse sido prevenida de que Charlie falava o que lhe vinha à 
mente. 
— Não me dou bem com lentes de contato — Ashley respondeu, dando de ombros. 
— Mas estou planejando fazer uma cirurgia para corrigir a miopia e eliminar os óculos 
de vez. 
— Não sabia disso, querida — Vanessa interveio. 
— Quando resolveu fazê-lo? 
— Ontem mesmo. Eu te disse que queria um novo visual. 
— Bem, deixe-me dar uma boa olhada em seus cabelos. — Charlie rodeou a nova 
cliente, tocando os fios de leve e depois desfazendo o coque, quando então introduziu 
os dedos até o couro cabeludo e afofou as madeixas escuras. 
— A franja pode ficar, desde que você a escove com regularidade. Quanto ao 
resto, tenho um belo corte em mente. Vou deixar seus cabelos um pouco mais curtos, 
mas ainda poderão ser presos no alto da cabeça, se quiser. 
Charlie gabou-se de seu trabalho com o penteado de algumas celebridades e logo 
se pôs a trabalhar. 
Vanessa instalou-se na área de espera, com uma revista no colo. 
— É casada, Ashley? — indagou o cabeleireiro, obviamente querendo entabular 
uma conversa normal e despretensiosa. 
— Separada, a caminho do divórcio. — Ela suspirou, julgando-se repetitiva. 
— Fui casada por vinte e cinco anos. 
— É triste. A verdade é que está cada dia mais difícil encontrar um homem 
decente. Sei disso porque minha filha foi abandonada três meses atrás e, pasme, por 
causa de outro homem, acredita? — Charlie abriu uma gaveta e pegou uma nova escova. 
— É penoso viver sozinha, numa casa vazia, depois de morar com alguém por tanto 
tempo. Espero que seu marido volte. 
Achando que talvez fosse hora de interferir, Vanessa descartou a revista e veio 
até a cadeira da amiga. 
— Vou dar uma volta lá fora e ver as vitrines — anunciou. 
— Não me apareça com novas roupas — provocou-a Charlie, rindo. 
— Não. Só pretendo dar uma olhada por aí, enquanto você cuida de Ashley. 
Ela saiu e o cabeleireiro olhou firme para Ash. 
— Conheço Vanessa. Voltará com alguma novidade, mas, como sempre digo, seja 
boazinha consigo mesma, menina. 
— O que o levou a ser cabeleireiro, Charlie? — Ashley puxou conversa. 
— Gostava de ver cabelos bonitos desde criança, depois descobri que isso 
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poderia se tornar um bom meio de vida. As mulheres gastam mais do que podem com a 
aparência. Você não consegue se olhar no espelho se seus cabelos estão mal-cuidados, 
não é? 
— Sim, tem toda a razão — ela concordou, lembrando-se de que até pouco mais 
de um mês atrás não costumava nem mesmo se olhar no espelho direito. Só agora 
entendia que isso era porque tinha medo de encarar a figura matronal em que se 
transformara. 
Passou-se uma hora. Ashley ficou nervosa ao ver seus cabelos caindo no colo e no 
chão. Charlie não estaria cortando demais? 
Quando ela começava a se preparar para dizer alguma coisa, Charlie deu o

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