Buscar

Segunda Guerra Mundial(SET DEZ 1939)

Prévia do material em texto

Setembro a Dezembro de 1939
 
 
Os beligerantes
 
A invasão alemã da Polônia a 1o de setembro e a entrada da França e da Grã-Bretanha no conflito a 3 de setembro marcaram, não tanto o começo de uma nova guerra, como a abertura da fase mais intensa de uma guerra que já estava em desenvolvimento. Até onde já então tinha ido era uma questão de interpretação. Uma possível opinião era a de que ela, de qualquer modo, jamais tinha cessado, durante os anos que decorreram desde 1914. Um ponto de vista mais moderado, como o emitido pelo capitão Liddell Hart, poderia ser o de que o rebentar da rebelião espanhola, em julho de 1936, fôra o seu ponto de partida. Mas, para qualquer observador informado estava pelo menos claro que a luta, armadas por um período considerável antes de se recorrer às hostilidades, fôra conduzida de modo incruento, mas com crescente intensidade.
 
É que agora estava mundialmente reconhecido que a guerra moderna consistia em algo mais do que no choque de homens armados. Era uma luta de nações a utilizar todos os recursos à sua disposição para a derrota dos adversários e para proteger-se a si mesmas contra a destruição. Como Hobbes já escreveu, "a natureza da guerra consiste não na luta propriamente dita, mas na conhecida aptidão para isto". Exércitos, marinhas e forças aéreas eram as últimas reservas a serem colocadas na balança. Mas, embora estas pudessem garantir a decisão final, não a poderiam fazer quando não apoiadas. Elas não passam da ponta de lança que deve apoiar-se na haste representada pelo total esforço nacional. Da extensão dos recursos nacionais em capacidade industrial e permanente poder econômico, mesmo mais que o efetivo das forças armadas, depende a resistência daquela haste e o grau do poder ofensivo que a impulsiona. Um sumário do potencial de guerra dos beligerantes ao começar o conflito representa uma estimativa de seus recursos econômicos e a sua posição estratégica, não menos que a sua força em campo.
 
Para começar, os três beligerantes mais importantes eram, em grau variado, nações industriais. Numa guerra em que as forças em luta dependiam de armamento mecânico e da vasta quantidade de munições e suprimentos que essas armas exigiam, este era o requisito essencial. Entre esses beligerantes, a Alemanha indubitavelmente levava vantagem. Sua capacidade industrial, a segunda depois da dos Estados Unidos, era em bruto igual às da Grã-Bretanha e França combinadas. Além disto, enquanto os esforços das indústrias britânica e francesa eram dirigidos principalmente para a satisfação das necessidades comuns da coletividade em tempo de paz, a indústria alemã já estava organizada para finalidades de guerra. O Plano de Quatro Anos de 1936, que colocou o total da economia germânica sob a direção do general Goering, visava tornar a Alemanha imune da derrota fosse pelas armas ou pelo bloqueio. Canhões ao invés de manteiga, era o seu lema. "Vivemos numa fortaleza", disse Goering; e nessa fortaleza as energias dos oitenta milhões de habitantes eram concentradas antes de mais nada nos propósitos da defesa.
 
Os aliados ao contrário, tinham dado poucos passos a fim de controlar sua economia para finalidades de guerra. Os governos da França e Grã-Bretanha, é verdade, se tinham outorgado altos poderes de regulamentação da indústria, importação e câmbio estrangeiro. Mas, afora os passos em favor da nacionalização da indústria de armas que tinham sido dados pelo governo Blum, a França pouco fez para aplicar esses controles. Mesmo os planos das indústrias bélicas específicas que a Inglaterra tinha projetado em conexão com o rearmamento foram aplicados apenas moderadamente, e não foi senão em junho de 1939 que receberam coordenação central através do estabelecimento de um Ministério de Suprimentos. A economia desses dois países funcionava numa base essencialmente civil, quando a guerra rebentou.
 
Porém, apesar da Alemanha parecer possuir sob este aspecto uma vantagem inicial, esta devia ser considerada de várias maneiras. Em primeiro lugar, o próprio fato dos gêneros de consumo terem sido reduzidos de maneira tão drástica em benefício do rearmamento deixava pequena margem para maior intensificação dos esforços produtivos em favor das finalidades bélicas. Algo poderia ter sido feito, naturalmente, pelo racionamento, que reduziria ainda mais o consumo ordinário e deixaria disponíveis para as indústrias de guerra, tanto os trabalhadores como os materiais. O general von Fritsch tinha uma vez observado: "Embora se possa terminar uma guerra com cartões de racionamento, jamais se deve começá-la assim." Mas, o general von Fritsch tinha perdido o prestígio desde a sua demissão do posto de comandante-em-chefe em fevereiro de 1938, como resultado de sua oposição à invasão da Áustria. E não muito depois que a guerra começou foi revelado que ele encontrara a morte na Polônia durante a realização de uma perigosa operação de reconhecimento. Qual a natureza dessa operação, ou por que um general de tão alta projeção tinha sido encarregado de efetuá-la, eram perguntas em torno das quais o mundo especulava à vontade.
 
Assim, a guerra, no tocante à Alemanha, iniciou-se com cartões de racionamento. Uma série de decretos estabeleceu ferozes restrições em artigos como gêneros alimentícios, vestuário, sabão e automóveis. "Quanto à carne" - declara o rotundo Goering a uma assistência alemã no dia 9 de setembro - "pode-se dizer que nós a consumimos demais de qualquer maneira. Com menos carne ficaremos mais magros e necessitaremos de menos fazenda para o nosso vestuário." Mas com um standard de vida já próximo ao mínimo, e falta de trabalho mesmo antes da irrupção da guerra a Alemanha já parecia estar no cume dos seus esforços econômicos.
 
A França e a Grã-Bretanha, por outro lado, tinham ainda uma margem muito considerável e a qual ainda poderia ser incrementada por meio de cooperação eficiente. Já então elas tinham assentado coordenar seus esforços militares em caso de guerra. Quando esta rebentou, elas trataram de estender essa coordenação à esfera econômica. Um acordo comercial a 17 de novembro foi seguido de um tratado financeiro a 12 de dezembro. Juntos, constituíam eles um arranjo de um alcance sem precedentes. Significaram praticamente uma fusão de seus recursos em materiais bélicos, alimentos e tonelagem de navegação, bem como créditos no exterior. Uma política comum de compras no estrangeiro foi estabelecida não apenas para evitar competições na aquisição, mas também para regulamentar a importação de acordo com a produção e para elaborar um plano simples de distribuição, entre os dois países, das mercadorias necessárias a ambos. Os ativos no câmbio estrangeiro seriam utilizados em comum; o câmbio foi fixado em 176,5 francos para a libra; foram estabelecidas consultas e ações comuns sobre preços e créditos; a assistência financeira a outros países seria dividida numa base de 40 /o da parte da França e 60 da parte da Grã-Bretanha. "Por estes meios" - disse o comunicado aliado sobre o acordo de novembro - "arranjos foram feitos para a entrada em ação, dois meses depois do começo das hostilidades, da organização da comum atividade de ambos os países, a qual, no último conflito, só foi obtida no fim do terceiro ano." O acordo de dezembro realizou essa finalidade com muito maior perfeição que a existente durante a Grande Guerra.
 
Em segundo lugar, a indústria, seja na paz ou na guerra, depende das matérias-primas; e neste ponto a Alemanha estava em franca desvantagem. O seu próprio suprimento de gêneros alimentícios foi estimado como sendo apenas 83% adequado, com deficiências em frutas, legumes e especialmente em gordura. Em matérias-primas industriais, a Alemanha normalmente importava um terço de suas necessidades, a despeito de seus esforços para fomentar a produção interna e para obter sucedâneos. Em suprimentos especiais, ela tinha um superavit apenas em carvão, potássio e magnésio. Sofria de deficiências particularmente em matérias vitaiscomo algodão, borracha, petróleo e ferro em bruto. Era verdade que os territórios propriamente ditos da Grã-Bretanha e França também careciam de muitos desses suprimentos. Mas, alguns podiam ser obtidos nos seus impérios, e os dois países tinham ainda acesso a outras fontes estrangeiras. Para a Alemanha tal acesso constituía um problema de solução muito mais difícil, já que seus inimigos retinham o domínio do mar.
 
Pelo lado militar, a Alemanha teve outra vantagem inicial que parecia, entretanto, de difícil extensão no futuro. Em relação ao exército, de fato, qualquer disparidade existente se mostrava favorável aos aliados. O exército efetivo de 850.000 homens da Alemanha via-se diante de uma força francesa de 708.000 e britânica de 250.000. Cada lado poderia colocar entre dois e três milhões de homens sob mobilização total. Em teoria, a Alemanha, com uma população acima de 80 milhões, deveria ser capaz de manter um equilíbrio numérico. Mas, na realidade, as exigências da produção interna esperava-se fossem mais sérias na Alemanha que na França ou Grã-Bretanha. Uma tentativa de cálculo pôs o total do potencial humano alemão em três e meio milhões contra cinco milhões da Grã-Bretanha e França. E no caso dessas reservas, a ausência de um treinamento militar geral na Alemanha depois de 1919, conquanto modificada pela existência de organizações semimilitares, parecia afetar a qualidade dos seus recrutas, comparadas com os da França. Outro defeito atribuído à Alemanha era o pequeno número de oficiais competentes nos postos de responsabilidade, de capitão a coronel. O Estado-Maior alemão pode ter retido todo o seu antigo brilho, mas os oficiais superiores pareciam constituir um ponto decididamente fraco na sua máquina militar.
 
Onde a Alemanha tinha a maior preponderância era no ar. Embora, faltassem estatísticas precisas, tinha ela provavelmente 10.000 a 12.000 aviões, dos quais talvez 6.000 eram de primeira linha. A força combinada anglo-francesa era certamente menor que esta, talvez de uns 20%. Essa inferioridade quantitativa, entretanto, pode, em certos pontos, ter sido modificada pela superioridade qualitativa. Havia motivos para crer-se que os aviões britânicos eram mais bem construídos e que os velozes caças alemães careciam de flexibilidade de manobras alcançada por seus rivais britânicos. E aqui novamente a rápida expansão da Alemanha envolveu um problema de pilotos treinados e, particularmente, de comandantes de esquadrilha. Sob esse aspecto, e no tocante ao seu pessoal, a força aérea britânica era provavelmente, para o seu tamanho, a mais poderosa da Europa.
 
No ar, as perdas e deterioração combinadas, calculava-se, deveriam atingir em tempo de guerra 90% mensais. Em capacidade de substituição, como efetivo inicial, a Alemanha partiu com vantagem, vantagem que se esperava fosse temporária, apenas. Contra a sua produção de 1.000 a 1.200 por mês havia a produção britânica de 700 a 800 e francesa de possivelmente 200 aparelhos. Em perto de um ano, cálculos aceitáveis punham a produção aliada apenas ligeiramente atrás da alemã, estimada em 1.500 aparelhos por mês, e creditou-lhes cerca de 8.400 aparelhos contra possíveis 9.300 da Alemanha. Além disso, a Grã-Bretanha estava desenvolvendo no Canadá uma indústria aeronáutica e campos de treino para pilotos cuja contribuição seria certamente de primeira importância. Mesmo os cálculos mais moderados acreditavam que qualquer resto de superioridade alemã dificilmente perduraria até depois da primavera.
 
 
 
 
A situação estratégica
 
Quando se consideraram as exigências que a guerra haveria de impor a esses diferentes recursos, tomou-se logo evidente uma diferença entre os dois adversários. Se bem que a Alemanha não tivesse possessões imperiais, ela também estava livre de obrigações imperiais. Não tinha necessidade de dispersar forças para proteção de colônias ou para defesa de rotas comerciais. Como em 1914, podia concentrar seus esforços; e uma vez mais, sua posição geográfica lhe permitia operar em linhas interiores. Um estudo da situação estratégica, na verdade, dificilmente era possível sem compará-la com a de 1914.
 
O primeiro e mais evidente dos fatos era o de que em 1939, em contraste com a situação de 1914, a Alemanha estava sozinha. A aliança com a Itália, entusiasticamente exaltada pelos dois sócios como um "pacto de aço", tinha menos de quatro meses de idade quando a guerra estourou. Imediatamente, a despeito dos protestos de sua continuada lealdade à aliança, a Itália assumiu uma atitude de determinada neutralidade - atitude simbolizada pela reforma ministerial de 31 de outubro que eliminou do governo os principais partidários da Alemanha. O discurso do conde Ciano na Câmara das Corporações, a 16 de dezembro, revelou que a Itália tinha estipulado uma paz de três anos a fim de poder completar seus preparativos militares, que a Alemanha entrou em guerra com a Polônia a despeito dos esforços italianos para evitar as hostilidades e que o acordo germano-soviético era tudo menos bem-vindo. O tom oficial dos pronunciamentos italianos era ainda favorável à Alemanha, mas isto parecia motivado menos pela afeição ao Reich do que por uma insistente irritação em relação à Grã-Bretanha e França. Parecia cada vez mais provável que a Itália ainda uma vez aceitaria as condições mais atraentes que qualquer dos lados lhe oferecesse.
 
Esta atitude de parte da Itália, e ainda mais o pacto germano-soviético, tiveram importante influência sobre o outro membro do grupo anti-comintern. A vitória do general Franco na Espanha tinha sido proclamada por ele mesmo e pelos que o apoiavam como um triunfo sobre o Bolchevismo. Qualquer projeto que a Alemanha alimentasse em relação ao auxílio espanhol como sinal de gratidão pela sua assistência a Franco viu-se gravemente diminuído em conseqüência do tratado com a Rússia. Em qualquer caso seria discutível que a Espanha se movimentasse sem que primeiro a Itália assim procedesse. Assim, a neutralidade espanhola estava assegurada para o momento. Essa situação momentânea livrou os aliados da ameaça vital que de outra forma teria recaído sobre a sua posição no Mediterrâneo - resultado atribuível pelo menos tanto à boa sorte como à boa política.
 
Na outra ponta do Mediterrâneo, a situação era definitivamente mais favorável aos aliados do que tinha sido em 1914. A Turquia então se colocara ao lado da Alemanha. Agora ela não somente se mantinha neutra, mas também decidida a resistir a qualquer agressão alemã na região balcânica. Um tratado definitivo de assistência mútua no Mediterrâneo oriental, incluindo garantias específicas à Grécia e à Romênia, foi firmado entre a Turquia e os Aliados, em 19 de outubro. Seguiu-se-lhe um acordo comercial entre a Turquia e a Grã-Bretanha completado por conversações militares entre os três Estados. Foi assim assegurada aos Aliados uma coordenação dos esforços defensivos nos Bálcãs e no Oriente Próximo.
 
O outro aliado da Alemanha em 1914 foi a Áustria-Hungria. O império dos Habsburgos tinha sido liquidado em Versalhes; mas o seu resultado final fôra a absorção pela Alemanha nazista desses antigos territórios habsburguenses, a Áustria e a Tchecoslováquia. Podia considerar-se que esta absorção compensava em parte o desaparecimento do antigo aliado alemão, especialmente do ponto de vista estratégico. A dominação da Boêmia, aquela "fortaleza construída por Deus no coração da Europa", ficou assim uma vez mais assegurada. Havia vantagens econômicas também na aquisição tanto do parque industrial como das recursos naturais, se bem que essas vantagens não estivessem de maneira alguma isoladas uma da outra. Do ponto de vista puramente militar, por outro lado, o aumento do potencial humano estava longe do equivalente do antigo exército austríaco. Pelo contrário, a presença de uma população hostil e cheia de ressentimentos na Áustria e na Tchecoslováquia poderia tornar-se um problema sério que dificultaria os esforços de guerra do Reich.Mas, se era verdade que a Alemanha se encontrava sozinha, não era menos verdadeiro que enfrentava um número menor de inimigos. No oeste, naturalmente, o efetivo comparado desses inimigos tinha toda a aparência de ser maior que em 1914. A preponderância naval britânica era ainda mais esmagadora. O exército francês era considerado quase unanimemente - e só os alemães discordavam disso - como o melhor do mundo. As defesas terrestres da França, um monumento das convicções e da resolução de André Maginot, eram consideradas fortes a ponto de tornar um suicídio qualquer assalto direto; e embora isto tornasse mais tentador um ataque de flanco através da Bélgica ou da Suíça, considerava-se que o alto comando francês estaria preparado para fazer frente a tal manobra. A contrabalançar tudo isto, entretanto, havia o fato de que se a Alemanha não podia invadir a França, esta enfrentava igual dificuldade para invadir a Alemanha. E no leste, onde a Rússia czarista tinha se lançado à invasão em 1914, havia agora a União Soviética no pleno vigor de recente amizade para com o Terceiro Reich.
 
Isto eliminou o perigo, considerado pelo Estado-Maior, de uma guerra em duas frentes. Não eliminara de todo a segunda frente. Mas pelo menos a Polônia parecia oferecer um problema menos formidável; e a Alemanha, com o lançar de todo o seu peso contra o inimigo mais fraco, poderia esperar eliminá-la do quadro antes que os antagonistas mais fortes pudessem trazer todo o seu poderio para o oeste.
 
A campanha da Polônia
 
A Polônia, como nação, havia muito se acostumara a viver perigosamente. Sua situação no Báltico tornou-lhe o território uma estrada natural de exércitos em marcha para leste ou oeste; sua carência em defesas naturais fê-la presa de vizinhos poderosos e vorazes. Entre 1772 e 1796, a Áustria, a Rússia e a Prússia tinham decidido extinguir o Estado polonês. Sua opressão continuou no decorrer de todo o século dezenove. Mas, embora os poloneses tenham sido vencidos e divididos, jamais foram subjugados. O espírito do nacionalismo polonês sobreviveu a todos os esforços de dominação, e o sonho do Estado polonês revivido permaneceu sendo a finalidade de todos os patriotas poloneses. Com o irromper da guerra de 1914, sua oportunidade chegou. Um chefe militar emergiu na pessoa de Pilsudski; um Comitê Nacional Polonês foi formado na França e obteve o apoio dos aliados para a independência polonesa; e em 1919 um Estado livre polonês mais uma vez foi tornado existente.
 
Desde então, até a sua morte, em 1935, Pilsudski foi a figura dominante na Polônia. Depois que morreu, az tarefa da chefia ficou a cargo de dois homens - o coronel Beck, ministro dos negócios exteriores, e o marechal Smigly-Rydz, comandante-chefe do exército. Sua tarefa era manter a independência da nação num momento em que ela se tornava gradualmente mais ameaçada. Um ataque pela Alemanha ou pela Rússia; uma guerra entre a Alemanha e a Rússia; um acordo entre a Alemanha e a Rússia, a expensas da Polônia - tudo isto era possível, e tudo isto ameaçava a existência da Polônia. Os líderes poloneses procuraram preparar-se para tais eventualidades com a organização de um exército eficiente, a manutenção de uma atitude correta, e onde possível amigável, em relação tanto à Rússia como à Alemanha e a procura de apoio alemão e francês. Embora desejassem a paz, não pretendiam comprá-la à custa de sacrifícios que pudessem ameaçar a independência polonesa. Quando Hitler apresentou exigências que envolviam tal ameaça, os poloneses estavam plenamente resolvidos a lutar antes que render-se.
 
A Polônia sobre a qual se despencou a avalancha alemã era um país de trinta e cinco milhões de habitantes, dois terços dos quais viviam da agricultura. Era tudo, menos um país opulento. O padrão de vida do campônio polonês era bem mais baixo que o do alemão. Era um país de poucos recursos industriais, e com pouco capital disponível para financiar o desenvolvimento da indústria. A aquisição da Alta Silésia significou-lhe a posse de uma área industrial com importantes depósitos carboníferos. Havia alguns depósitos de óleo ao sul, nas proximidades dos Cárpatos. Todos os esforços foram feitos pelo governo para a organização de uma indústria pesada na região sul-central, uma indústria cuja natureza e localização eram influenciadas por considerações de ordem militar. Mas, embora esses esforços tivessem determinado certos progressos, a organização econômica da Polônia era ainda tudo menos adequada a propósitos bélicos.
 
Sob o ponto de vista da defesa, a geografia era de pouca vantagem para os poloneses. Os Cárpatos formavam-lhe uma fronteira natural ao sul; mas a absorção pela Alemanha da Boêmia e Morávia e a ocupação da Eslováquia, que ocorreu a 18 de agosto, fez desses limites naturais um prolongamento de flanco de uma fronteira já por si muito longa para ser eficientemente defendida. No oeste, havia algumas fortificações a cobrir a Silésia, e certo número de importantes cidades tinham sido também fortificadas. Mas nada havia que lembrasse a linha Maginot para deter o invasor. O choque principal tinha de ser aparado diretamente pelo exército polonês.
 
O exército polonês era bem treinado e bom em qualidade. Com trinta e duas divisões de primeira linha e trinta divisões de reserva, ele somava perto de um milhão de homens; e mobilizações subseqüentes aumentaram esse total para milhão e meio. Mas ele era ainda inferior às forças alemães, não somente em número, como em equipamento. Havia deficiência de artilharia pesada, canhões anti-tanques e canhões anti-aéreos. Embora teoricamente possuísse uma divisão blindada, esta tinha sido relegada, ou obrigada a ser relegada, em favor de uma força móvel de cavalaria. E, sobretudo, a sua força aérea, embora composta de 1.200 aviões, iria mostrar-se de uma fatal fraqueza no conjunto da organização defensiva da Polônia.
 
De acordo com a estratégia alemã, deveria ser desfechado um golpe esmagador que obtivesse a rápida e completa eliminação da Polônia como beligerante. Contava ela obter isto durante o período que a França e a Inglaterra necessitariam fazer com que suas forças tomassem posição, e antes que uma ofensiva maior pudesse ser desfechada por essas potências no ocidente. Para tal propósito, das 90 divisões de infantaria mais 8 divisões blindadas, três quartas partes, isto é, mais de um milhão de homens, eram concentradas contra a Polônia, ficando a cargo da defesa no ocidente 20 divisões de reserva de tropas veteranas.
 
Os planos alemães foram baseados num ataque envolvente por dois exércitos principais em direção a Varsóvia. Cada uma dessas forças principais ia, por sua vez, realizar uma série de ataques que resultariam no amplo movimento final. Ao norte, o Corredor deveria ser cortado por ataques procedentes da Pomerânia e da Prússia Oriental, enquanto uma segunda força na Prússia Oriental devia provocar uma diversão avançando diretamente rumo a Varsóvia. Ao sul, duas forças deviam envolver a Silésia e depois dirigir-se para nordeste a fim de fazer junção com uma terceira força atacando na direção de Lodz. Exércitos do norte e sul iriam então convergir num movimento final para esfacelar o que restasse da defesa polonesa.
 
Para fazer frente a esse ataque, os poloneses planejaram uma resistência retardadora em certo número de pontos próximos à fronteira. Atrás dessas forças avançadas, três grupamentos principais tomariam posição para proteger Varsóvia e o triângulo industrial mais ao sul. Numa série de ações retardadoras, essas forças recuariam afinal até a linha fluvial interior do Narew-Bug-Vístula-San, onde seria travada a batalha decisiva.
 
Três fatores foram primariamente responsáveis pela desorganização desse plano defensivo. Primeiro, a mobilização polonesa ainda estava incompleta quando o golpe foi desfechado. A mobilização alemã já começara a 9 de agosto, e estava bem encaminhada pelo dia 20 do mesmo mês. Mas, desejosos de evitar provocação - desejo encorajado pelaGrã-Bretanha e França - os poloneses retardaram a mobilização geral até 31 de agosto, o dia em que precedeu o ataque germânico. Embora a semana precedente tivessem tomado as medidas preliminares, isto significava que os poloneses careciam de tempo para desenvolver por completo os seus planos. Segundo, a eficácia do ataque aéreo alemão foi devastadora e total. O bombardeio das estradas de ferro da Polônia desorganizou completamente os transportes e comunicações e tornou difícil a coordenação. Os ataques às bases aéreas polonesas, auxiliados por um serviço de espionagem de grande eficiência, destruíram a quase totalidade da força aérea polonesa mesmo antes dela deixar o solo. Dentro de dois dias, os alemães tinham o domínio completo do ar, e o exército polonês foi deixado às cegas. Terceiro, a velocidade e a audácia do avanço mecanizado alemão ultrapassaram todas as previsões. Os poloneses contavam com más estradas e com a lama polonesa para neutralizarem os tanques e transportes. Mas, os rios estavam pouco profundos e as chuvas tinham cessado, e assim esses obstáculos naturais deixaram de desempenhar todo o papel que lhes fôra atribuído. O avanço arrojado das colunas mecanizadas alemães levava-as, de quando em quando, a perder por completo o contacto com o grosso da tropa, e em muitos lugares mostrou-se extremamente dispendioso, mas a sua contribuição para a desorganização das forças polonesas valeu plenamente esse preço.
 
Os dois primeiros dias da campanha demonstraram a natureza arrasadora do ataque alemão. Lançando-se sobre as forças polonesas ainda não preparadas e antes que elas se pudessem estabelecer em posições defensivas adequadas, os alemães levaram por diante a primeira linha dos defensores em direção à Varsóvia e à linha do Vístula. Ao norte, os movimentos combinados partidos de Posen e da Prússia Oriental ameaçavam flanquear as forças polonesas e obrigaram-nas a retirar para o sul. Isto permitiu que as forças alemães fizessem junção a 5 de setembro e cortassem o Corredor, embora a resistência ainda continuasse em torno de Gdynia e da península de Hela. Ao sul, os alemães avançaram rapidamente sobre o distrito industrial da Silésia, e com a captura de Cracóvia a 6 de setembro a região inteira estava em suas mãos. Em ambas as frentes, forças alemães mecanizadas progrediram com o fim de romper as comunicações e cortar a retirada polonesa. Esses dois movimentos de pinça, ao norte e ao sul, abriram o caminho ao avanço principal pelo centro, o qual a 7 de setembro chegou até a importante cidade de Lodz.
 
A primeira fase da campanha foi assim completada em uma semana. A resistência inicial dos poloneses tinha sido esmagada e áreas contendo recursos importantes transpostas pelos invasores. Os alemães não tinham sido bem sucedidos entretanto no plano de destruir ou mesmo separar os principais exércitos poloneses. A sua resistência estava mostrando sinais de revigoramento, e os poloneses recuaram para linhas defensivas mais curtas a fim de fazer frente ao ataque alemão concentrado, que agora convergia sobre eles. A segunda fase mostrou o aumento dos ataques de flanco, os quais fizeram com que os poloneses recuassem incessantemente, precipitando a convergência das unidades alemães sobre a região de Varsóvia. Uma penetração de elementos mecanizados alcançou os subúrbios da capital a 8 de setembro, embora não tenha sido senão no dia 15 que o exército alemão chegou diante da cidade. Entrementes, incursões partidas do norte desenvolveram-se para leste até Brest Litovsk, e, ao sul um forte destacamento mecanizado foi lançado em direção a Lemberg com o objetivo de cortar a linha de comunicação com a Romênia. No dia 16, a região de Varsóvia fôra praticamente cercada e o avanço meridional chegara bastante além do Vístula. Mas, conquanto as comunicações polonesas tenham sido rompidas e o comando militar estivesse mostrando sinais de desorganização, a crescente severidade da resistência deu esperança de que uma defesa eficaz ainda pudesse ser organizada na Polônia oriental.
 
Esta era a situação quando, a 17 de setembro, a União Soviética efetuou uma invasão do leste. O governo russo anunciou que, segundo o seu ponto de vista, o Estado Polonês tinha cessado de existir, e que os tratados com ele concluídos, tais como o pacto de não-agressão de 1932, tinham perdido o valor. Em conseqüência, a União Soviética achou necessário, intervir para proteger seus irmãos de sangue na Polônia. Ao mesmo tempo, Berlim declarou que a intervenção havia tido lugar com o pleno conhecimento e aprovação do governo alemão.
 
Para o destino da Polônia, este foi o golpe decisivo. Embora os russos tenham encontrado pequena resistência, essa nova invasão completou a desorganização das defesas polonesas e impediu a possibilidade de criar uma verdadeira frente a leste. É verdade que na área de Varsóvia continuaram a ser travados duros combates por cerca de três semanas. Conquanto os alemães tenham exigido a sua rendição no dia 17, a própria Varsóvia manteve heróica resistência sob constante bombardeio e privações crescentes até o dia 27. A fortaleza de Modlin resistiu até o dia 29; na península de Hela a resistência continuou até o dia 2 de outubro; e uma força de 16.000 poloneses ao norte de Lublin manteve a luta até o dia 5 de outubro. Estas porém não passaram de lutas isoladas, e os esforços da Polônia como Estado ruíram com a invasão russa.
 
Mesmo antes de terminada a luta, os despojos tinham sido repartidos pelos conquistadores. Após uma temporária "divisão militar" que trouxe a Rússia até o Vístula, o acordo de 29 de setembro fixou uma fronteira mais para o leste e seguindo linhas gerais etnográficas. Assim, a Rússia se contentou com menos de metade da Polônia, deixando para a Alemanha a porção mais rica, mas adquirindo uma população de cerca de 12 milhões, racial e economicamente aparentados aos camponeses russos. Da parte restante a Alemanha anexou as seções ocidentais ao Reich e criou ao centro uma província teoricamente autônoma de 112.000 km² e de uma população acima de 13.000.000, como uma espécie de território em que poloneses e judeus ficassem segregados dos outros habitantes do Reich.
 
Esperava-se que quando Hitler acabasse com a Polônia faria um apelo de paz aos aliados, sob o fundamento de que o objetivo original da guerra estaria desaparecido. Tal apelo foi sugerido no discurso de Hitler em Dantzig: a 19 de setembro; e a 6 de outubro, dirigindo-se ao Reichstag, ele sugeriu um ajuste fundado nas conquistas alemães já existentes e das necessidades ainda insatisfeitas. Tão pouco contribuiu esta iniciativa para uma base aceitável que a Itália, dois dias antes, virtualmente refutou qualquer intenção de se associar a um esforço alemão de paz. "As propostas contidas no discurso do chanceler alemão" - disse Mr. Chamberlain a 12 de outubro - "são vagas e incertas e não contêm sugestão alguma para reparar os erros cometidos em relação à Tchecoslováquia e à Polônia... Seria ainda necessário perguntar-se por que meios práticos o governo alemão pretende convencer o mundo de que a agressão cessará e os tratados serão cumpridos." Sob tais condições, a paz estava ainda longe de ser alcançada; e com o fim da campanha polonesa, os esforços militares seriam concentrados na frente ocidental.
 
A frente ocidental
 
Ao começar a guerra o problema imediato dos aliados no ocidente foi dar auxílio eficaz à Polônia. Uma assistência direta era visivelmente impossível, a menos que eles estivessem preparados para arriscar a perigosa empresa de forçar o Báltico. Uma assistência indireta somente se poderia tornar efetiva com o levar uma pressão ao ocidente capaz de forçar os alemães a afrouxar a tenaz na Polônia e consagrar suas principais energias à defesa da Renânia. Mas esta também era uma empresa cujo preço poderia ser nada menos que ruinoso se desenvolvesse um ataque frontal às defesas permanentes da muralha ocidental ou da Linha Siegfried.
 
Estas defesas eram a resposta alemã à LinhaMaginot francesa. Esta última tinha sido construída no decorrer de um período de anos e a um custo de cerca de 500.000.000 de dólares. Consistia numa série de fortificações subterrâneas, intercaladas de casamatas e fortins de defesa circular, cobrindo a fronteira desde Luxemburgo até a Suíça, e estendendo-se em certos pontos numa profundidade de 40 km. Nessas fortificações interligadas, uma guarnição poderia manter-se durante um período prolongado sem auxílio de fora; e sob sua cobertura os exércitos franceses poderiam concentrar-se e manobrar sem recear um ataque de surpresa. As linhas alemães eram uma série de posições independentes, construídas sob o princípio de defesa em profundidade e dispostas de maneira a submeter a um mortal fogo cruzado quaisquer forças que penetrassem naquela zona. Seu término foi apressado desde 1937 com nada menos de meio milhão de homens, que nela trabalharam durante a crise de 1938. Embora diferentes na construção, ambas tinham isto em comum: uma progressiva resistência de defesa contra forças atacantes com a finalidade de desgastá-las a um ponto tal que pudessem ser destruídas por contra-ataques antes de terem transposto a última das fortificações.
 
Foi contra esta posição que os exércitos franceses começaram a movimentar-se ao rebentar a guerra. A 5 de setembro, um comunicado francês anunciou: "Nossas tropas tomaram contacto com o inimigo em todos os pontos de nossa fronteira entre o Rheno e o Mosela." Durante os dez dias seguintes, eles ocuparam uma área de cerca de 100 milhas quadradas dentro da fronteira alemã. O avanço caracterizou-se por uma deliberação cautelosa que mostrou a intenção de evitar qualquer inútil perda de vidas e de completar cada estágio da operação antes de proceder-se ao seguinte. No dia 12, foi anunciada forte resistência alemã, e contra-ataques alemães tiveram início no dia 15. E quando a resistência polonesa ruiu, apenas os postos avançados tinham sido tomados e as fortificações principais ainda estavam adiante. Mas com a queda da Polônia desapareceu a urgência imediata, e a Alemanha estava livre para mandar o grosso de seus exércitos para a frente ocidental.
 
Pelos meados de outubro, uma série de ofensivas locais foi lançada contra os franceses. Nesse meio termo, contudo, o comando francês decidira "retrair para outras posições as divisões francesas que entraram em ofensiva em território alemão com a finalidade de indiretamente levar assistência aos exércitos poloneses". No fim do mês elas se tinham retirado até às suas próprias fronteiras e as operações ficaram reduzidas a incursões ocasionais e choques de patrulhas intercaladas de duelos de artilharia.
 
Enquanto os franceses efetuavam tais operações, as tropas britânicas avançavam em maciças correntes através do Canal. A 11 de outubro, Mr. Hore-Belisha anunciou que durante as primeiras cinco semanas de guerra 158.000 homens tinham sido transportados à França e deu a entender que outros movimentos estavam em progresso. A 10 de dezembro foi anunciado que tropas britânicas estavam ocupando uma seção da Linha Maginot, entrando em contacto com o inimigo.
 
O inimigo nesse meio tempo não mostrou intenção alguma de efetuar um ataque direto contra a Linha Maginot. Ao invés, havia sinais de que a idéia de um ataque de flanco através dos Países Baixos estava uma vez mais exercendo uma atração sobre os líderes alemães. À medida que tropas transferidas da Polônia começaram a concentrar-se nas fronteiras belga e holandesa e a imprensa alemã verberava com intensidade crescente a Holanda pela sua fraqueza em aceitar a violação de seus direitos pelos britânicos, o alarme nesses países aumentava. A 1o de novembro o governo holandês, que realizara inundações preliminares, proclamou o estado de sítio em certos distritos fronteiriços. A 6 de novembro o rei dos belgas fez uma repentina e secreta visita à rainha Guilhermina em Haia, e no dia seguinte os dois soberanos enviaram às potências beligerantes um apelo de paz e uma oferta de seus bons ofícios. No dia 9, a Bélgica aumentou suas forças para 600.000 homens e a Holanda inundou outras áreas.
 
Havia argumentos persistentes de que a Alemanha se tinha decidido a atacar a 12 de novembro; mas se isto era verdade, sobreveio uma mudança de intenção. Possivelmente a solidariedade dos dois governos neutros teve seus efeitos, mesmo que seu apelo de paz não tenha dado resultado. Respostas cautelosas da Grã-Bretanha e França no dia 12 eram seguidas, a 14, pela rejeição alemã, sob o fundamento de que as respostas britânica e francesa constituíam uma recusa. Mas embora a tensão se atenuasse, as tropas alemães permaneceram na fronteira. Foi talvez a título de advertência, à vista do prosseguimento do perigo, que a França anunciou no começo de dezembro o reforçamento e a extensão da Linha Maginot, que cobriria as fronteiras suíça e belga com uma linha defensiva que, disse o porta-voz francês, com otimismo cauteloso; "pode muito bem ser descrita como formidável." Em conexão com essas operações terrestres, houve uma circunstância notável a ausência de qualquer atividade aérea intensa. Os reides mortíferos esperados contra centros civis não se concretizaram. As próprias comunicações atrás das linhas foram poupadas ao bombardeio. Os franceses foram capazes de fazer avançar suas tropas; aos alemães foi permitido trazer suas forças da Polônia ao ocidente sem interferência do ar. Os dois lados pareciam pouco desejosos de começar, ou devido ao receio às represálias ou por medo da opinião neutra. Houve ativos vôos de reconhecimento, e a Royal Air Force efetuou extensos vôos para distribuição de propaganda em território alemão. Mas a não ser choques ocasionais entre patrulhas, as operações militares foram pouco apoiadas pelo ar. Foi mais em relação à guerra marítima que a aviação mostrou a maior atividade.
 
A guerra no mar
 
A preponderância naval da força aliada no mar era muito maior em 1939 do que fôra em 1914. As frotas britânica e francesa juntas somavam perto de dois milhões de toneladas; a frota alemã alcançava apenas 235.000. Contra os quinze navios ingleses e sete franceses de grande tonelagem (não se incluindo oito porta-aviões), a Alemanha tinha sete navios de grande tonelagem, e, destes sete, dois datavam da última guerra e três eram couraçados de bolso. A disparidade não era tão grande como estes números possam indicar, pois que os aliados tinham de guardar as principais rotas marítimas, inclusive o Mediterrâneo, e não havia meio de forçar a inferior armada alemã a uma batalha decisiva. Mas, embora pudesse estar na posição de realizar sérios danos, a Alemanha dificilmente ameaçaria o domínio aliado nos mares.
 
Trazer essa ameaça ao máximo de sua eficácia era a tarefa de Erich Raeder, o chefe do almirantado alemão. Havia muitas indicações de que ele estava disposto a pôr em prática e desenvolver a tradição de Tirpitz. Era um marinheiro experimentado que tinha lutado nos bancos de Dogger e na Jutlândia durante a última guerra, e que alimentava as recordações da batalha em que seu navio tinha sido afundado e as da derrota final que fez com que a frota da Alemanha Imperial fosse posta a pique pela própria tripulação em Scapa Flow. Segundo parecia estava preparado para conduzir a guerra marítima com desenfreada crueldade, utilizando-se de toda a arma que parecesse capaz de quebrar o poderio naval britânico ou de derrotar o bloqueio instalado pelo inimigo. Em particular, fizera um estudo meticuloso da guerra submarina, que acreditava ser o meio mais provável para a consecução desses fins.
 
Contra ele, do lado britânico, erguia-se Winston Churchill. Ao romper da guerra, o homem que tinha sido o Primeiro Lord do Almirantado em 1914 fôra novamente chamado ao Gabinete para ocupar esse posto e trazer o peso de sua experiência uma vez mais à tarefa de manter livres os caminhos marítimos da Grã-Bretanha e varrer dos oceanos os navios alemães. Era uma tarefa que já ele executara com vigor e imaginação sob circunstânciasmuito mais difíceis. Se tais qualidades pudessem novamente obter sucesso, Mr. Churchill as tinha em abundância.
 
A principal arma de ataque da Alemanha contra a frota britânica era o submarino, de que o Reich possuía, segundo cálculos, 65 quando a guerra rebentou. Embora a sua eficácia contra navios de grande tonelagem devidamente cercados de destróieres fosse julgada limitada, não era de modo algum desprezível. Isto foi demonstrado a 18 de setembro, quando uma combinação de circunstâncias permitiu a um submarino alemão afundar o Courageous, antigo couraçado transformado em porta-aviões. Mais extraordinário ainda foi o feito do submarino que a 14 de outubro penetrou em Scapa Flow e pôs a pique o navio de batalha Royal Oak, causando uma perda de 812 vidas. O pleno significado desse feito apenas se patenteou mais tarde, quando foi revelado que o mesmo resultou no abandono de Scapa Flow como a base principal, em favor de um ancoradouro menos acessível. Outra perda temporária foi sofrida nos princípios de dezembro, quando um couraçado da classe de Queen Elizabeth, mais tarde identificado como sendo o Barham, foi atingido por um torpedo, mas conseguiu chegar a um porto.
 
Mas também a Grã-Bretanha tinha submarinos, os quais, de modo algum, se encontravam inativos. Em dezembro, dois feitos marcantes foram noticiados. O submarino Salmon, realizando um cruzeiro no mar do Norte, registrou uma combinação única de desapontamento e triunfo. Em certa altura, o transatlântico Bremen pareceu não lhe escapar, quando regressava cautelosamente de Murmansk a um porto pátrio. Mas quando o Salmon se preparam para lhe mandar um tiro à proa, aviões alemães surgiram e forçaram o submarino a emergir. Ter-lhe-ia sido assim mesmo possível torpedear o Bremen, mas em obediência às leis de guerra o Salmon susteve o fogo e deixou o transatlântico escapar. Em compensação, pouco depois o submarino realizou o notável feito de afundar um submarino alemão; e, no dia seguinte, achou-se diante de uma presa ainda mais importante, quando avistou a frota alemã numa de suas raras excursões pelo mar do Norte. A divisão consistia em um couraçado de bolso, dois cruzadores de batalha, dois cruzadores pesados e do cruzador leve Leipzig. Tomando posição com cautela, o Salmon mandou seis torpedos e em seguida mergulhou, procurando refúgio. O seu comandante, contudo, teve tempo ainda para ver que um dos projéteis atingiu o Leipzig; e um instante depois duas explosões indicaram que um dos cruzadores pesados, possivelmente o Blucher, também tinha sido atingido. E poucos dias depois um pequeno submarino inglês, o Úrsula, realizou ousada operação na embocadura do Elba, mergulhando sob uma rede de proteção de seis destróieres para torpedear um cruzador de 6.000 toneladas da classe do Köln e escapando incólume.
 
Foi, contudo, e uso de aviões contra vasos de guerra que representou um novo aspecto da guerra naval, aspecto em torno de cuja eficiência houve muita discussão entre os técnicos. Os resultados, depois de três meses de guerra, eram ainda inconcludentes. No primeiro reide da guerra, efetuado pela Royal Air Force contra o canal de Kiel, acreditou-se haverem sido causados sérios danos a um couraçado de bolso e que projéteis atingiram outro navio de guerra. Em dezembro; quando foram intensificados os reides britânicos contra as bases da costa nazistas, em parte para contrabalançar a atuação das esquadrilhas alemães de incursão e de lançamento de minas, a caça aérea à frota germânica foi levada a efeito vigorosamente. A 3 de dezembro foi anunciado que uma forte formação de bombardeiros britânicos tinham atacado uma divisão naval alemã nas vizinhanças de Heligoland, fazendo sobre o navio impactos diretos com bombas pesadas. Mas as defesas alemães foram enrijecidas, e o reide seguinte, a 18 de dezembro, resultou no mais vigoroso encontro aéreo até então travado. Os alemães, de fato, clamaram que 52 aviões britânicos tinham tomado parte no reide e que, destes, 36 foram abatidos - um número de baixa maior que o verdadeiro efetivo da esquadrilha britânica. A Grã-Bretanha reconheceu a perda de 7 aparelhos ingleses contra 12 alemães, e apresentou isto como um resultado satisfatório da atuação de aviões de bombardeio diante dos novos caças Messerschmitt, que em número considerável, haviam tomado parte na ação.
 
Os alemães, por sua vez, tentaram vários reides que, apesar de suas afirmações, não foram coroados de êxito. A 27 de setembro e 9 de outubro a frota repeliu ataques sem sofrer perdas, e a persistente afirmativa alemã sobre o afundamento de Ark Royal desfez-se gradualmente em face da evidência cada vez mais nítida de que o porta-aviões continuava intacto. Um ataque a 16 de outubro contra navios ancorados no Firth of Forth teve resultados algo melhores. Nenhuma avaria foi causada nos navios propriamente ditos, conquanto o cruzador Southampton tenha recebido um impacto de refilão; e as baixas, como as ocorridas no cruzador Edinburgh e no destróier Mohawk, foram resultantes de estilhaços de bombas. No dia seguinte, num ataque a Scapa Flow, foi atingido por impactos o velho Iron Duke, que estava em uso como navio-base, mas deles não resultaram baixa. Tendo todos esses reides resultado em baixas para os atacantes, suas pequenas vantagens devem ter parecido desencorajadoras. Pelo mês de dezembro, os aviadores alemães, depois de darem buscas pela principal frota britânica nas Shetlands, voltaram a sua atenção para navios de pesca e embarcações leves de preferência às presas menos vulneráveis e mais perigosas.
 
Mas o aspecto mais ativo da guerra no mar foi a campanha submarina contra a navegação mercante. O afundamento do navio de passageiros Athenia no primeiro dia da guerra, foi uma clara indicação de que uma guerra submarina irrestrita seria recomeçada no ponto em que tinha terminado em 1918. Com centenas de navios britânicos a seguir sua tarefa individual ao rebentar a guerra, a proteção tornou-se difícil a princípio e as perdas eram naturalmente sérias. Mas os ingleses haveriam de aplicar rapidamente as lições aprendidas na guerra anterior. A organização de um sistema de comboios, a resposta mais eficaz aos submarinos, foi rapidamente posta em prática e mostrou resultados imediatos. De conformidade com as declarações de Mr. Churchill a 6 de dezembro, as perdas em navios mercantes britânicos no mês de outubro eram a metade do que foram em setembro, e em novembro se limitaram a dois terços do que tinham sido em outubro. Embora a Grã-Bretanha tivesse dois mil navios sempre no mar, e entre cem e cento cinqüenta a entrar e sair diariamente dos portos britânicos, 110.000 toneladas para cada mil toneladas afundadas, as perdas totais eram de 340.000 toneladas. (Ao fim desse ano, as perdas tinham atingido a 460.000 toneladas). Mas a Grã-Bretanha começara a guerra com 21.000.000 de toneladas, e entre capturas de navios inimigos, transferências de pavilhões neutros e novas construções, ela recuperou cinco sextos de suas perdas.
 
Em face dessas defesas, a Alemanha recorreu a dois expedientes: - ataques dos submarinos contra navios neutros e lançamento indiscriminado de minas. As perdas neutras causadas pelos submarinos aumentavam gradualmente à medida que a guerra progredia; e as perdas neutras causadas pelas minas eram o dobro das da Grã-Bretanha. Essas minas espalhadas ao longo da costa britânica estavam em muitos casos equipadas com dispositivos magnéticos capazes de fazê-las explodir sem contacto direto. Parece que algumas dessas minas foram lançadas por aviões. Para combater tais ataques a Grã-Bretanha acrescentou uma extensa varre-minas à caça ininterrupta e implacável aos submarinos. Mr. Churchill calculou que de dois a quatro submarinos tinham sido destruídos cada semana. Isto, disse ele, "era uma soma superior à que esperávamos da potência alemã em substituir os seus submarinos e respectivos capitães e tripulações treinadas... Ao receber informações de que a Alemanha, durante o ano de 1940, terá um total de 400 submarinosem serviço e de que eles estão fabricando esses barcos pelo sistema de produção em série, fico a pensar se eles estão preparando capitães e tripulações para os submarinos com um método similar." Sua declaração de que 144 prisioneiros arrebanhados em submarinos estavam na Inglaterra, pode ser comparada com a situação do fim de 1916, quando 180 prisioneiros representaram uma perda de 46 submarinos alemães. Nessa base, a Alemanha, ao fim da primeira semana de dezembro de 1939, deve ter perdido 36 submarinos ou mais da metade de sua frota de pré-guerra. Além disso, a Grã~ Bretanha, pelos fins de dezembro, anunciou a intenção de colocar uma barragem de minas protetoras de 800 km. de comprimento e 50 a 70 km. de largura ao longo de sua costa oriental.
 
Mas além dos submarinos, das minas e dos bombardeiros, havia uma ameaça cuja eliminação era tarefa da marinha. Esta consistia nos navios mercantes armados em guerra. Lembranças dos estragos causados pelo Emden durante a última guerra tornaram a Grã-Bretanha particularmente vigilante em relação a esse perigo. Ele poderia provir de navios mercantes alemães armados, tais como o Windhuk, que escapuliu do porto de Lobite na África Ocidental Portuguesa a 17 de novembro. Ou poderia vir de navios de guerra alemães capazes de livrar-se das patrulhas britânicas, e particularmente dos três couraçados de bolso cuja combinação de velocidade e capacidade ofensiva tornavam-nos particularmente adequados a reides contra a navegação comercial.
 
Tornou-se cedo evidente que pelo menos dois navios estavam ao largo empenhados exatamente nessa atividade. A 2 de outubro um cargueiro britânico, o Clement, foi afundado por um corsário ao largo da costa brasileira. A 9 de outubro, o Deutschland, que já tinha afundado o cargueiro britânico Stonegate, revelou sua presença no Atlântico norte pela captura do cargueiro americano City of Flint - começando assim um episódio misto de drama e comédia que findou quando o navio, tentando alcançar a Alemanha, procedente de Murmansk via costa norueguesa, foi levado ilegalmente ao porto de Haugesund pela tripulação alemã de presa, e conseqüentemente apreendido pelas autoridades norueguesas e entregue aos seus proprietários americanos. Seis semanas depois, ao largo da costa meridional da Islândia, o Deutschland, em companhia de um vaso de guerra alemão de tipo mais leve, topou com o navio mercante armado Rawalpindi, que foi posto a pique depois de uma luta heróica, mas sem esperança contra forças superiores. Com a aproximação de um cruzador britânico, o Deutschtand desapareceu nos nevoeiros setentrionais; e se ele efetuou outras depredações quaisquer, estas não foram reveladas ao mundo.
 
Estava claro então que também um segundo corsário estava em atividade. O afundamento do Clement a 2 de outubro abriu um caminho que conduziu através do Atlântico sul até Moçambique, onde o African Shell foi capturado a 15 de novembro por um navio mais ou menos identificado como sendo o Admiral Scheer. Então o caminho voltou-se para a América do Sul, onde teve um fim a 13 de dezembro.
 
Nessa data o corsário, então pela primeira vez identificado como sendo o Admiral Graf Spee, estava navegando rumo sul ao longo da costa uruguaia quando avistou o vapor francês Formose escoltado pelo cruzador britânico Exeter, de 10.000 toneladas. O comandante alemão, capitão Langsdorff, imediatamente ofereceu batalha. Mas as probabilidades a seu favor ficaram reduzidas quando os dois cruzadores leves, Ajax e Achilles, acorreram rapidamente ao chamado do Exeter para tomar parte no combate.
 
Mesmo assim, o capitão alemão deve ter tido razões para achar que o seu navio era superior à força combinada dos seus adversários. Seus armamentos mais pesados eram os seis canhões de 205 mm do Exeter. Os dois cruzadores leves dispunham apenas de canhões de 150 mm. O Graf Spee tinha duas torres cada uma das quais com três canhões de 279 mm, cujo alcance era três mil metros maior que o de qualquer canhão do Exeter e cinco mil metros maior que o dos canhões do Ajax e do Achilles. Seus projéteis eram de 300 kg., comparados com as de 124 kg. que eram os projéteis mais pesados do Exeter. Tanto em alcance como em capacidade de ofensiva, o navio alemão era definitivamente superior.
 
Do que ele carecia era velocidade. Seus 25 nós eram suficientes para um navio tão pesadamente armado; mas os cruzadores britânicos tinham uma velocidade de 32 nós, que usaram com brilhante vantagem. A batalha iniciou-se às seis horas "numa bela manhã com mar amplo" (como a descreveu mais tarde o comandante do Ajax); e quando os navios britânicos com a sua velocidade superior colocaram-se entre o Graf Spee e o Alto mar, o comandante alemão não teve oportunidade de evitar a batalha mesmo que assim o quisesse.
 
Nas primeiras fases do encontro foi o Exeter que levou a pior. Os cruzadores mais leves levaram algum tempo para chegar ao alcance de tiro, e isto permitiu ao Graf Spee concentrar-se contra o seu adversário mais formidável. Nas quatro horas seguintes, suas granadas pesadas fizeram entre 40 e 50 impactos no Exeter, danificando sua roda de leme e pondo fora de ação seus canhões mais pesados. Pelas 10 horas da manhã, com apenas um de seus canhões de 203 mm. disparando, e este mesmo manejado à mão, o Exeter estava praticamente forçado a ficar fora de qualquer intervenção efetiva na batalha.
 
A esse tempo, entretanto, tanto o Ajax como o Achilles estavam em luta e se aproximando rapidamente do Graf Spee... O Ajax movia-se entre o navio alemão e a costa, ficando o Achilles ao outro lado, e os canhões de 150 mm. dos dois cruzadores martelavam com ferocidade no decorrer de uma batalha móvel rumo ao sul. Os cruzadores britânicos fizeram uso eficaz de cortinas de fumaça para cobrir seus movimentos e de sua velocidade para manobrar sobre o Graf Spee e forçá-lo a dividir seu fogo. Pelo meio da tarde o Graf Spee encontrava-se numa situação séria, com a popa danificada e a torre de controle destruída, e com tantos feridos entre a sua tripulação que sua capacidade de luta estava seriamente diminuída. Mas, embora tentasse escapar, o Exeter avariado ainda o perseguia, cortando-lhe a retirada rumo norte, e os dois cruzadores leves utilizavam-se agora das cortinas de fumaça para mais se aproximar do Graf Spee e martelar-lhe os costados de uma distância de fogo incrivelmente pequena. Os impactos que eles colocaram na proa justamente acima da linha d'água fizeram enormes estragos e asseguraram a vitória britânica. Um impacto no Ajax, que lhe deixou em ação apenas duas de suas quatro torres, deu ao Graf Spee uma trégua muito necessária e a chegada da escuridão permitiu-lhe escapar para procurar, a toda velocidade, segurança neutra em Montevidéu. Quando à meia-noite ele avistou pela primeira vez os contornos do porto, estava reduzido a um navio completamente derrotado.
 
A fase seguinte foi uma batalha diplomática em torno do tempo que ele tinha o direito de permanecer naquele porto. A Alemanha clamou para que lhe fosse dado tempo de refazer-se. A Grã-Bretanha insistiu em que não lhe fosse permitido fazer reparos. Depois de proceder a uma investigação, as autoridades uruguaias ordenaram ao capitão Langsdorff, apesar dos seus protestos, partisse às 8 horas da noite de domingo de 17 de dezembro. É claro que isto não permitiria ao Graf Spee recobrar sua capacidade combativa; e havia informes de que seus recentes adversários, que o aguardavam vigilantes na embocadura do Rio da Prata, tinham sido grandemente reforçados por unidades ainda mais poderosas. Parecia uma alternativa entre enfrentar a derrota em face de forças superiores ou submeter-se ao internamento pelo resto da guerra. Cumprindo ordens diretas do governo alemão, o capitão Langsdorff optou por uma terceira solução. As 6,30 da noite do dia 17 levou seu navio para fora do porto, desembarcou a tripulação, e meteu-o a pique nos baixios distantes três milhas da costa. Três dias depois, o capitão Langsdorff suicidou-se em BuenosAires, onde ele e a maioria de sua tripulação tinham encontrado refúgio.
 
Este fim ignominioso de uma belonave antes tão altiva acentuou ainda mais a importância vital de todo o episódio. Foi mais tarde sublinhado pela revelação de que o único reforço à esquadra britânica tinha sido o cruzador pesado Cumberland, que substituiu o Exeter avariado. O Graf Spee não teria a enfrentar força alguma superior que a que antes se encontrara. O fato era, contudo, que essa mesma força lhe tinha sido demasiada. Antes da batalha do Rio da Prata era crença geral que apenas os mais novos cruzadores de batalha poderiam enfrentar os couraçados de bolso. Agora ficou demonstrado que navios bem menores, mas de maior velocidade, lidando com perícia e ousadia acima de todos os louvores, tinham podido enfrentar decididamente o orgulho da frota alemã. O mito do couraçado tinha sido destruído logo na primeira prova.
 
A guerra econômica e os neutros
 
Nenhum desses esforços navais, naturalmente, representou um fim em si próprio. Atrás da luta nos mares ocultava-se a firme vontade de cada lado de preservar sua própria vida econômica e de arruinar a do antagonista. Nessa frente econômica realizava-se uma luta vital e possivelmente decisiva em que todo o poderio dos beligerantes estava empenhado.
 
A primeira tarefa de cada nação era a de assegurar os suprimentos essenciais à sua vida nacional e capacidade bélica. Isto significava não apenas assegurar suas necessidades primárias por meio da importação; significava também acesso continuado aos mercados de exportação, através dos quais as importações pudessem ser pagas. Hitler, antes da guerra, tinha descrito a Alemanha como uma nação que tinha que exportar ou morrer. Para a Grã-Bretanha, e numa extensão bem menor da França, tal necessidade também era vital. Na guerra como na paz, disse Mr. Chamberlain a 20 de setembro, "nossas vidas dependem da corrente ininterrupta de comércio, e é nossa política fundamental preservar, o mais possível, as condições do comércio normal".
 
O corolário inevitável disto foi um esforço por todos os meios possíveis para interromper o comércio do inimigo. Mr. Chamberlain descreveu o objetivo britânico como sendo o de desorganizar a estrutura econômica alemã tornando-lhe impossível a condução da guerra. Objetivo idêntico era visado pela Alemanha em relação à Inglaterra. As armas germânicas eram o submarino e o corsário comercial, juntamente com a pressão diplomática sobre vizinhos neutros subjugados, afinal, pela ameaça de uma invasão armada. As armas aliadas eram o bloqueio submarino da Alemanha e uma diplomacia apoiada pelo poderio econômico.
 
Está claro que para um ataque assim, e ainda mais para a defesa essencial, o controle do mar era muito mais vital para os aliados do que para a Alemanha. A Inglaterra em particular era altamente vulnerável a um bloqueio eficaz. Dependia ela da importação de 75% de seus gêneros alimentícios e da quase totalidade de suas matérias-primas industriais, exceção feita ao carvão e ao minério de ferro. A França também, embora em matéria de alimentação fosse praticamente auto-suficiente, tinha de trazer de fora suas matérias-primas essenciais. Com o controle do mar, entretanto, quase todas as suas necessidades poderiam ser satisfeitas pelos países marginais da costa Atlântica. A Alemanha sob tais circunstâncias ficaria impedida de manter contacto direto com esses países; e para a obtenção de um terço das matérias-primas que normalmente importava, ela tinha que depender antes de tudo de seus vizinhos do continente.
 
Nessa guerra econômica, portanto, as nações neutras ocuparam uma posição de importância vital. Mesmo antes da irrupção de hostilidades armadas elas tinham sido o teatro principal da guerra não declarada. Essa luta cresceu agora de intensidade; e fora dos campos de batalha propriamente dito, os neutros ofereciam passagem para um ataque econômico de flanco, por meio do qual poderia ser dado um golpe capaz de ser final e decisivo.
 
Os neutros ocidentais estavam conseqüentemente sob forte pressão diplomática de ambos os lados logo desde o começo. A Suécia era particularmente importante para os alemães em virtude do seu minério de ferro que fornecia 41% das importações alemães desse gênero. A Holanda e a Bélgica, embora de menor significação como fontes de suprimento, eram importantes como possíveis canais através dos quais material de fora poderia infiltrar-se na Alemanha. Mas, os esforços alemães pareciam obter sucesso relativamente pequeno. A 14 de novembro, suas conversações com a Suécia sofreram interrupção, segundo parecia, porque a Alemanha exigia praticamente o monopólio do comércio sueco. A 27 de dezembro, em contraste, a Grã-Bretanha foi capaz de concluir um acordo que prometia atrair a Suécia à órbita comercial aliada. Seguiram-se-lhe acordos com a Islândia e a Bélgica. e pelo fim do ano havia boas perspectivas de relações satisfatórias entre os aliados e os neutros da Europa ocidental.
 
Na Europa oriental a situação era algo mais complexa. Tratava-se de uma área em que o comércio alemão tinha realizado um avanço dominador nos anos que precederam a guerra, e a qual poderia fornecer algo como 20% da importação normal da Alemanha. Mas, a base desse comércio indicou um aspecto vulnerável da economia alemã. Este era a carência de fundos líquidos para o livre comércio exterior. Sua reserva oficial em ouro, cerca de 77 milhões de marcos, estava bem abaixo de 1% de sua circulação fiduciária. Suas inversões no estrangeiro, em contraste com as de 1914, eram negligenciáveis. As reservas de ouro e câmbio estrangeiro de todas as fontes podiam perfazer um total de dois bilhões de marcos, mas mesmo isto pagaria apenas um terço das importações alemães em 1938. Em conseqüência, seu comércio exterior tinha sido construído predominantemente sobre uma base bilateral de trocas; e em vista das exigências da economia de guerra, parecia duvidoso que a Alemanha pudesse realizar as exportações de mercadorias necessárias ao pagamento das importações de que ela tanto precisava.
 
Neste particular, os aliados estavam numa posição muito mais flexível. Antes da guerra, pouco mais que 1,5°/o do seu comércio era feito com a Europa sul oriental. Mas, para o caso de excluir a Alemanha daquela área, os aliados tinham grande vantagem de serem capazes de pagar à vista. Os estoques de ouro da Grã-Bretanha perfaziam 560 milhões de libras esterlinas e suas inversões no exterior eram estimadas em 1.172.000.000 de libras esterlinas. A França tinha reservas de ouro no valor de 1.702.000.000 de dólares e haveres no estrangeiro entre 90 e 180 bilhões de francos.
 
Este era o potencial econômico que os aliados utilizaram para atrair os neutros não expostos à pressão de bloqueio. "Temos contratos consolidados" - disse o Ministro da Guerra Econômica da Grã-Bretanha - "de uma espécie que, em tempos de paz, faria estremecer os sóbrios homens de negócios." Comprava-se de países com que os aliados em tempo de paz tinham pouco ou nenhum negócio, mas dos quais a Alemanha poderia obter produtos essenciais. Eram pagos preços mais altos do que o necessário para a compra desses mesmos produtos em outra parte. A Turquia, que se recusara a renovar seu tratado comercial com o Reich quando esse expirou no fim de agosto, foi recompensada com um empréstimo substancial e compras aliadas de todo o seu estoque de cromo, figos e uvas. O cobre da Iugoslávia, que normalmente ia para a Alemanha, foi atraído para os aliados, que também lhe compraram toda a safra de ameixa exportável. Em torno da Romênia travava-se intensa luta. Em março, a Alemanha firmou um acordo que colocou à sua disposição grande parte dos recursos da Romênia, especialmente petróleo de que ela tão desesperadamente necessitava. Após o rebentar da guerra, foram entabuladas negociações no sentido de aumentar a exportação de petróleo romeno para o Reich e da obtenção de uma taxa mais favorável de câmbio. No dia 20 de dezembro foi anunciadoque a Romênia tinha concordado em elevar suas exportações de petróleo para a Alemanha a um mínimo de 130.000 toneladas mensais sobre as 80.000 toneladas que tinham prevalecido desde o rompimento da guerra, e a acelerar a entrega de outras 260.000 toneladas, que seriam objeto de acordo prévio. A taxa de câmbio de 40 lei para o marco, que a Alemanha desejava fosse elevada a 60, foi em verdade elevada a 49. Dois dias mais tarde, entretanto, sob pressão aliada, essa taxa foi reduzida a 44,75 para o que dissesse respeito a todas as exportações importantes, com exceção do feijão soja. Era claro que mesmo neste caso a pressão financeira aliada não era de modo algum negligenciável. A importância de suas reservas em caixa foi indicada pelas estatísticas do comércio britânico no mês de dezembro, as quais mostravam uma importação de 86 milhões de libras esterlinas contra uma exportação de 42 milhões de libras esterlinas. Somente enérgicas medidas financeiras puderam fazer com que uma balança comercial tão adversa pudesse ser conscienciosamente equilibrada por esses métodos de guerra econômica.
 
No caso dos países que careciam de comunicações diretas com a Alemanha, o progresso foi menos dispendioso. Na América do Sul, onde o cumprimento pela Alemanha de seus acordos de troca não mais era possível, os aliados tinham possibilidades de insistir na obtenção de termos favoráveis. O significado disto foi ilustrado por uma circular endereçada pelo Departamento Argentino de Controle Cambial aos importadores e homens de negócios a 20 de novembro, acentuando que o volume das vendas aos aliados dependeria do montante que estes comprassem da Argentina. No caso da Espanha, a interrupção das ligações comerciais estabelecidas com a Alemanha pelo governo de Franco, e a necessidade desesperadora que este tinha de câmbio estrangeiro, fizeram com que a Espanha entrasse em acordo sobre a venda de minério de cobre e de ferro aos aliados. Mas, de todos esses fatos, o de importância mais vital foi a mudança dos termos da Lei de Neutralidade adotada pelos Estados Unidos.
 
A lei original foi adotada como resolução em 1935, tomando em 1937 a forma de medida permanente. Seu primeiro objetivo foi evitar que os Estados Unidos ficassem envolvidos numa guerra, em conseqüência de compromissos econômicos. Com este propósito, a lei proibia a venda de munições ou a concessão de empréstimos a beligerantes. Mas, era natural que nisso houvesse também um desejo de continuar o comércio de modo tão extenso quanto possível, sem arriscar-se a uma guerra. E quando a crise na Europa se revelou, tornou-se claro que o sentimento do povo americano orientava-se de modo crescente em favor dos aliados e ansioso por não se ver envolvido na luta - sentimento ardentemente compartilhado pela administração Roosevelt.
 
Quando a guerra rebentou, portanto, o presidente primeiro aplicou a lei existente por uma proclamação a 5 de setembro, e depois convocou uma sessão especial do Congresso para o dia 21 de setembro a fim de serem discutidas emendas à lei, especialmente a supressão do embargo absoluto de armas. A nova lei, conforme foi aprovada a 4 de novembro, provocou uma diferença fundamental no projeto aliado para a obtenção de suprimentos americanos. Ao invés da proibição, foi adotado o princípio do cash and carry com respeito a vendas aos beligerantes. Nenhum armamento lhes poderia ser levado por navios americanos e todos os títulos referentes a mercadorias exportadas aos beligerantes tinham que ser transferidos antes que essas mercadorias deixassem o território americano. A interdição dos empréstimos a beligerantes foi mantida; mas foi possível então aos aliados, por meio de um uso cuidadoso de seus recursos em numerário, chamar para seu lado a capacidade produtiva da indústria americana. Embora os navios americanos estivessem proibidos de entrar na zona de guerra, e assim não fossem de utilidade para os aliados, havia ao menos a compensação de que essa mesma decisão teria a probabilidade de evitar, para os americanos, quaisquer prejuízos importantes, conseqüentes do bloqueio aliado.
 
A eficácia do bloqueio foi uma das lições mais edificantes da última guerra. Mal rebentou a nova conflagração, foram postos em execução planos destinados a reviver e fortalecer os métodos que então tinham sido utilizados. O Ministério da Guerra Econômica foi instituído na Grã-Bretanha sob a chefia de Mr. Ronald Cross. A lista de contrabando absoluto emitida pelo ministério incluiu não apenas armas e munições mas também combustíveis, máquinas de transporte e animais, artigos de comunicação e "moedas, metais preciosos em barras, dinheiro corrente, provas de débito". O contrabando condicional, que poderia ser aplicado se assim o desejasse o governo alemão ou suas forças armadas, compreendia "toda a sorte de gêneros alimentícios preparados ou não, forragens, vestuário e artigos e materiais usados para a sua produção." A 8 de setembro, cinco portos de controle de Kirkwall a Haifa, foram instituídos; neles os navios deveriam ser revistados. Outros portos de controle seriam mais tarde acrescentados a esse número. A 1o de dezembro esta medida foi reforçada pelo sistema de navicert - revista nos portos neutros das cargas de exportação e a emissão de certificados àqueles que estivessem sujeitos à denominação de contrabando, certificados esses que lhes facilitariam a passagem pelo controle.
 
O efeito disso tudo foi extremamente amplo. Mesmo os países danubianos sentiram-no de modo prático. A rota normal do comércio da Hungria e da Romênia ia através do mar Negro e do Mediterrâneo aos portos alemães do norte. Agora, a Alemanha era forçada a tentar desenvolver a montante do Danúbio acima; e quando o gelo fechou o rio, no começo de dezembro, os alemães ficaram na dependência do transporte por estrada de ferro, o qual parecia completamente inadequado às suas necessidades de importação de matérias provenientes da Europa sul-oriental. De um modo similar, grande proporção do minério de ferro sueco era normalmente exportada através do porto norueguês de Narvick sobre o Mar do Norte. Uma parte seguia no verão através de Lulea sobre o Báltico. Mas este porto estava fechado ao tráfego marítimo durante os meses hibernais. Mais ainda, o poder inglês de efetivar o bloqueio, com o seu escopo de provocar danos e retardamentos onerosos, forneceu-lhe uma poderosa arma contra qualquer desejo dos neutros de agir como intermediários a favor da Alemanha. Desde o começo, os neutros foram praticamente racionados às suas cotas de importação normais, e uma aquiescência a isto foi um dos aspectos do tratado sueco, indubitavelmente modelo para outros. Sua eficácia é revelada por cifras: durante o primeiro mês da guerra, a Grã-Bretanha capturou 150.000 toneladas mais de navios mercantes alemães do que perdeu em conseqüência de ataques submarinos. Ao fim do ano, os aliados calcularam terem tomado aproximadamente um milhão de toneladas, relativo a 10% de toda a importação anual da Alemanha. E, além disso, entre 400 e 500 navios da frota alemã ficaram imobilizados em portos espalhados por todo o mundo; pois, embora ocasionalmente algum navio escapulisse, - como é o caso da saga do Bremen, que chegou à Alemanha procedente de Nova Iorque, via Murmansk - os acontecimentos mais comuns eram como os do Cap Norte, apreendido em alto mar, o de Columbus, afundado pela própria tripulação afim de evitar a captura, e do Tacoma, internado em Montevidéu. As importações alemães do exterior estavam sendo reduzidas a quase nada - e a Alemanha, que já tinha reduzido as importações para quase o mínimo, pouco podia fazer para minorar os efeitos do bloqueio.
 
Depois das importações, as exportações. Tendo cortado as primeiras, os aliados procuraram estrangular estas, a fim de evitar que a Alemanha pagasse por importações tais como as que realizara. A 21 de novembro foi anunciado que em represália à colocação ilegal e indiscriminada de minas efetuada pela Alemanha, os aliados resolveram capturar todasas exportações alemãs onde quer que as encontrassem. Seguiram-se a isto vigorosos protestos da maioria das nações neutras, mas elas não conseguiram revogar a decisão. A 27 de novembro, o rei Jorge firmou a necessária ordem do Conselho e a 4 de dezembro a medida foi posta em prática.
 
Havia, contudo, um neutro importante não atingido por todas essas medidas - uma potência cujas novas relações com a Alemanha tornavam-se o grande ponto de interrogação no quadro diplomático e econômico e talvez mesmo no militar. Essa nação era a União Soviética.
 
O avanço da Rússia
 
Desde a data do pacto de não-agressão, a Alemanha procurou dar ao mundo a impressão de que suas novas relações com a Rússia eram tão estreitas que seriam capazes de conduzir a quase uma aliança militar. Cada novo acontecimento foi apresentado como um passo para mais perto da cooperação completa. O tratado de 29 de setembro, com a sua promessa de conjugar esforços em favor da paz e de promover consultas mútuas se estes esforços falhassem, foi apresentado como um prenúncio da entrada da Rússia na guerra. E as cláusulas que prometiam uma troca de matérias-primas russas por produtos industriais alemães numa escala que traria a troca de mercadorias ao nível máximo obtido no passado, pareciam indicar uma reviravolta completa das anteriores relações econômicas.
 
Os verdadeiros fatos, entretanto, não estavam inteiramente em harmonia com tais concepções. A falência da oferta de paz de Hitler, conquanto tenha provocado uma nova diatribe do Sr. Molotov contra os aliados, fez com que a Rússia manifestasse o firme desejo de manter sua neutralidade. A troca de produtos, apesar de uma promessa a 9 de outubro de que começaria imediatamente, deixou de desenvolver-se em grau apreciável.
 
Quanto às armas russas, ficou logo claro que elas não tinham outra utilidade senão a de serem logo postas ao serviço do Reich.
 
A verdade era que a Rússia pensou tirar vantagem da única posição em que a guerra a colocara. Nunca desde a Revolução tinha estado ela tão livre do receio de um ataque imediato. A conclusão de um armistício com o Japão a 16 de setembro reforçou essa liberdade. Mas aí havia ainda o receio de que um ataque acabaria por ser dirigido contra ela de parte das potências capitalistas. Sua determinação era tirar vantagem do presente para reforçar sua posição contra essa eventualidade, e particularmente consolidar seus flancos enquanto a Alemanha mantinha o centro ocupado.
 
Seus esforços no flanco meridional não foram, em absoluto, coroados de êxito. Tratava-se aí da Turquia, com a qual a Rússia iniciara negociações a 22 de setembro. Conquanto nenhum detalhe preciso tenha sido revelado, parecia que os objetivos da Rússia eram o fechamento dos Estreitos contra potências externas, e a criação de um bloco balcânico que realizaria um ajuste as espensas da Romênia. De qualquer modo, os turcos recusaram-se a aceitar as exigências russas. Embora as negociações tenham finalizado a 17 de outubro com protestos mútuos de amizade contínua, o máximo assegurado foi afastar a Rússia dos efeitos da aliança anglo-turca firmada dois dias depois. E a ameaça de uma penetração russa ergueu tanto a Itália como as nações balcânicas para a exploração, em seu próprio favor, da possibilidade de um pacto defensivo. Embora no momento o problema da Romênia omitisse de qualquer acordo, era claro que qualquer ameaça direta por parte da Rússia encontraria séria resistência.
 
Na frente setentrional, em contraste, o avanço russo foi espetacular. Ministros dos Estados Bálticos foram convocados a Moscou para negociações. Foram, ouviram e concordaram. Um tratado com a Estônia a 29 de setembro, promovendo a assistência mútua, deu aos Sovietes direitos a guarnições militares e bases navais e aéreas em solo estoniano. Este serviu de modelo para os tratados concluídos com a Letônia a 5 de outubro e com a Lituânia a 10 de outubro, o último dos quais devolveu à Lituânia o distrito de Vilna há muito desejado. Esses tratados tornaram a influência russa suprema numa esfera que sempre tinha sido considerada de influência alemã; e para demonstrar isto, o Reich, a 7 de outubro, convidou todos os cidadãos de origem alemã residentes nesses países a retornarem à Alemanha, com a intenção anunciada de estabelecê-los nos distritos recém-anexados da Polônia. Estava claro que Stalin estava disposto a não ter nas mãos problema nenhum relativo a minorias alemães molestadas.
 
O próximo na lista era a Finlândia; e aqui o avanço veloz e sem obstáculos da Rússia topou com dificuldades. A 9 de outubro foram iniciadas as negociações numa atmosfera que mostrou que o governo finlandês estava pelo menos encarando a possibilidade de resistência. Nos dois dias seguintes os habitantes das cidades mais expostas foram avisados de que deviam evacuá-las como medida de precaução. No dia 14, a Finlândia anunciou que qualquer espécie de aliança estava fora de questão. As negociações, suspensas de uma vez, foram definitivamente rompidas a 13 de novembro. Foi revelado que as exigências russas se referiam principalmente à segurança de Leningrado e do golfo da Finlândia. Para esta finalidade, eles pediram certas ilhas no golfo e uma base naval à entrada de Hangoe; a cessão de um território no istmo de Carélia que removeria a fronteira finlandesa bem para fora do alcance de artilharia contra Leningrado; e um ajuste da fronteira na região de Petsamo. A Rússia, de sua parte, estava pronta a ceder 5.500 km² ao longo da parte média da fronteira. Os finlandeses queriam uma nova discussão em torno da cessão da ilha de Hogland e estavam irremovíveis na recusa de emprestar ou vender o porto de Hangoe, o que, asseguraram, seria inconsistente com a sua política de neutralidade.
 
Pareceu por um momento que a Rússia estivesse disposta a contemporizar na crença de que os finlandeses acabariam finalmente por chegar a um acordo. Mas, na última semana de novembro, esta atitude mudou abruptamente, e uma campanha de injúrias foi lançada subitamente contra o governo finlandês. A 26 de novembro, a Rússia protestou contra um pretenso incidente fronteiriço de tiroteios. A 28, a Rússia denunciou seu pacto de não-agressão com a Finlândia. Uma oferta finlandesa de negociações não foi tomada em consideração e no dia 30 as tropas soviéticas invadiram a Finlândia.
 
O resultado foi uma explosão mundial de indignação. Já tinha havido expressões diretas de simpatia tanto da parte do presidente Roosevelt como dos soberanos escandinavos, que se tinham reunido em conferência a 18 de outubro. A Suécia a 3 de dezembro atuou como intermediária na apresentação a Moscou de uma nova oferta finlandesa; mas a Rússia tinha organizado um governo finlandês próprio em Terijoki dois dias antes, e ignorou a nova medida. Mas, a 2 de dezembro a Finlândia deu um novo passo tendente a obter apoio, apelando para a Liga das Nações baseada nos artigos 11 e 15.
 
A Liga agiu com uma prontidão algo inusitada. Quando um apelo inicial viu-se à frente da asserção russa de que ela não estava em guerra com a Finlândia, o Conselho foi convocado para 9 de dezembro e a Assembléia para 11 do mesmo mês. Quando a Rússia não levou em consideração outro apelo para aceitar a mediação da Liga, estes organismos adotaram uma resolução condenando a URSS como agressora e estabelecendo que ela se colocara fora da Liga das Nações. Apelaram em seguida para os seus membros no sentido de que emprestassem à Finlândia toda a assistência dentro de suas possibilidades.
 
Tornou-se em breve evidente que, embora fosse dada certa assistência por meio de movimentos voluntários e suprimentos, nenhum país estava ainda preparado para efetuar uma ação militar direta em favor da Finlândia. Mas, enquanto aguardavam a ajuda dos outros, os finlandeses mostraram-se extremamente dispostos a defender-se a si mesmos.
 
A invasão russa deu-se em cinco pontos principais. Ao norte, o porto de Petsamo foi capturado e uma expedição mandada rumo sul.

Continue navegando