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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI Engenharia Química Laboratório de Engenharia Química I Viscosímetro de Stokes Clara de Oliveira Hespanhol, Jéssica Carolaine Vieira de Azevedo, Thales Ribeiro de Souza Resumo O experimento realizado tem como objetivo determinar a viscosidade da glicerina através do Viscosímetro de Stokes. Primeiramente determinou-se a densidade das esferas e do fluido utilizado, com o auxílio de uma proveta e de um picnômetro respectivamente. Pesou-se e mediu-se o diâmetro de cada esfera. Logo após, colocou-se cada uma das esferas na superfície de um tubo de acrílico preenchido com glicerina, cronometrou-se o tempo de queda e mediu-se o percurso percorrido pelas esferas. Realizou-se o experimento em triplicata para cada uma das três esferas. De acordo com a literatura, a 20ºC, a viscosidade da glicerina vale 1,41 P.s e o valor encontrado a 22ºC foi de 1,15 P.s, o que apresenta um erro significativo. Palavras-chave: Viscosidade, Glicerina, Stokes Introdução A viscosidade é uma propriedade física definida como a medida da fricção interna de um fluido, isto é, a resistência que um fluido oferece à deformação por cisalhamento, tipo de tensão gerado por forças aplicadas em sentidos opostos, porém, em direções semelhantes no material analisado (1-2). Esta fricção torna-se aparente quando uma camada de fluido move-se em relação à outra camada, assim à medida que aumenta a viscosidade do fluido, aumentam as forças de atrito e é necessária mais energia para que ocorra o cisalhamento, que acontece sempre que o fluido é fisicamente movido ou distribuído (5). Considerando-se uma camada de fluido contido ente duas placas, calcula-se a viscosidade aplicando uma força F sobre uma dessas placas de forma que o fluido se mantenha em movimento. Ao atingir o regime permanente, a seguinte equação pode ser utilizada para medição (1-4): 𝐹௫ 𝐴⁄ = 𝜇 𝑉 𝑌 ⁄ (1) Fx= Força exercida sobre a placa; A= Área da placa; 𝜇= Viscosidade; V= Velocidade; Y= Espessura da placa. O gradiente de velocidade dv/dx é uma medida de mudança na velocidade onde as camadas intermediárias movem-se uma em relação às outras. O termo F/A indica a força por unidade de área requerida para produzir cisalhamento. Refere-se, como “tensão de cisalhamento” ou “τ”. Ao se aplicar o gradiente de velocidade na direção Y e substituindo o primeiro termo da equação pela força de resistência do fluido,−𝜏, tem-se a lei de Newton da viscosidade (4): 𝜏௫ = −𝜇 𝑑𝑣௫ 𝑑𝑌⁄ (2) Existem dois tipos de viscosímetros, primários e secundários, onde os primários medem a tensão e a taxa de deformação de um fluido de forma direta. Já o tipo secundário não mede a tensão de deformação diretamente, ele mede o tempo de queda livre de uma esfera em um fluido (2). O Viscosímetro de Stokes é do tipo secundário, é um instrumento simples e barato. Contudo, apresenta algumas desvantagens como: funciona apenas para líquidos transparentes, não se presta a medições instantâneas, utiliza um grande volume de fluido e a a faixa de viscosidade que pode ser lida é estreita, por causa da limitação do número de Reynolds (5). Laboratório de Engenharia Química I – 2º semestre/2018 2 Experimental Materiais Para a realização do experimento, foram necessários os seguintes materiais: Viscosímetro de Stokes; 3 Esferas de aço de diferentes diâmetro; Glicerina; Paquímetro; Balança; Picnômetro; Proveta graduada; Pinça; Cronômetro; Ímã; Régua; Termômetro. Métodos Como metodologia selecionou-se as esferas a serem inseridas no tudo de acrílico, mediu-se o diâmetro e pesou-se cada uma delas. Com uma proveta, determinou- se o volume das esferas para determinar suas densidades. Para determinar a densidade aplicou-se a seguinte formula: 𝑑 = 𝑚 𝑉 (3) Onde, d= densidade/massa específica da esfera; m= massa da esfera; V= volume da esfera, que é correspondente ao volume deslocado na proveta ao inserir a esfera. Para determinar a densidade da esfera, é necessário utilizar o picnômetro. Mas primeiramente, faz-se necessário calibrar o picnômetro com água destilada, para descobrir o seu real volume, através da equação abaixo: 𝑉ô௧ = 𝑚á௨𝑥 𝑑á௨ (4) A massa da água é a diferença entre o valor da massa do picnômetro cheio de água e vazio. A temperatura da água também foi medida para determinar o valor de sua massa específica correspondente. Em seguida, encheu o o picnômetro com a glicerina; e o tampou de modo a transbordar o excesso de glicerina. Limpou e secou o picnômetro para medir a massa do picnômetro contendo a glicerina. Através da equação (5), tornou-se possível encontrar a massa específica da glicerina, onde a massa da glicerina é a subtração da massa lida do picnometro cheio de glicerina com a massa da vidraria vazia: 𝑑 = 𝑚 𝑉ô௧ (5) Por último, utilizou-se o viscosímetro de Stokes para auxiliar a encontrar a viscosidade da glicerina. A partir de um Δz do tubo fixado e previamente medido, cronometrou-se o tempo de queda para cada esfera. Foi realizado em triplicata para cada esfera. A partir destes dados coletados, é possível encontrar a velocidade de queda para cada esfera, que será utilizado nos próximos cálculos. Resultados e Discussão Os dados preliminares são apresentados a seguir nas tabelas 1 e 2. Tabela 1. Dados medidos durante o experimento Massa picnômetro (mp) 0,024467 Kg Massa picnômetro + água (mp+a) 0,0590179 Kg Massa Picnômetro + glicerina (mp+g) 0,062780 Kg Altura do percurso (h) 0,637 m Densidade da água a 22°C (ρa) 997,8 Kg/m³ Utilizando os dados da Tabela 1, calculou-se o volume do picnômetro e a densidade da glicerina através das fórmulas (6) e (7), respectivamente. 𝑉 = (𝑚ା) − (𝑚) 𝜌 (6) 𝜌 = ൫𝑚ା൯ − (𝑚) 𝑉 (7) No experimento a densidade da glicerina foi de 1106,89 kg/m3 a 22 °C. Na literatura (6), consta o valor de 1261 Kg/ m3 para a densidade da glicerina a 20 °C. O valor experimental foi 12,256% menor do que o valor da literatura. Essa diferença entre os valores pode ser oriunda da diferença de temperatura de 2 °C , de Laboratório de Engenharia Química I – 2º semestre/2018 3 contaminantes presentes da glicerina, como contaminação pelos equipamentos, e erros de procedimento. O volume das esferas foi determinado pela diferença de volume deslocado em uma proveta. Esses volumes são apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Volume deslocado por cada esfera utilizada Esfera Volume de água (m³) Volume de água + esfera (m³) Volume da esfera (m³) 1 0,000005 0,0000051 0,0000001 2 0,000005 0,0000053 0,0000003 3 0,000005 0,000007 0,000002 Os demais dados referentes às esferas, bem como suas respectivas densidades (calculadas através da fórmula (8)) estão dispostos na Tabela 3. 𝜌 = 𝑚 𝑉 (8) Tabela 3. Dados das esferas Esfera Diâmetro (m) Massa (kg) Volume (m³) Densidade (kg/m³) 1 0,0056 0,00085 0,000000091 9340,65 2 0,0071 0,002042 0,000000187 10919,78 3 0,0127 0,008258 0,000001072 11847,014 Na Tabela 4 são apresentados os tempos de queda das esferas no fluido realizados em triplicata. . Tabela 4. Tempo de queda das esferas Esfera Tempo 1 (s) Tempo 2 (s) Tempo 3 (s) Tempo médio (s) 1 2,79 2,75 2,62 2,72 2 2,12 2,15 1,95 2,073 3 1,27 1,23 1,52 1,34 Utilizando todos os dados já apresentados calculou-se, para cadaesfera, a velocidade terminal, a área frontal de impacto, viscosidade e número de Reynolds através das fórmulas (9), (10), (11) e (12), respectivamente. 𝑉 = ℎ 𝑡 (9) 𝐴 = 𝜋𝑑² 4 (10) 𝜇 = 𝑉𝑔𝑑 (𝜌 − 𝜌) 12𝐴𝑉 (11) 𝑅𝑒 = 𝜌𝑉𝑑 𝜇 (12) Onde V = velocidade terminal (m/s); h = altura do percurso (m); tm = tempo médio (s); A = área frontal de impacto (m2); d = diâmetro da esfera (m); μ = viscosidade (Pa.s); Ve = volume da esfera (m3); g = aceleração da gravidade (m/s2); ρe = densidade da esfera (Kg/m3); ρg = densidade da glicerina (Kg/m3); Re = número de Reynolds. Os valores calculados são apresentados na Tabela 5. O experimento foi realizado em triplicata, o erro experimental obtido para a determinação da viscosidade da glicerina foi calculado pela fórmula (13), do desvio padrão da média. 𝜎 = ඨ ∑(𝑥 − �̅�)ଶ 𝑛 − 1 (13) Tabela 5. Valores de velocidade terminal, área frontal de impacto, viscosidade e número de Reynolds Esfera Velocida de terminal (m/s) Área frontal de impacto (m²) Viscosida de (Pa.s) Viscosida de média (Pa.s) Re 1 0,234 0,0000246 0,59586 1,15659 ± 0,7401 2,434 2 0,307 0,0000395 0,87831 2,746 3 0,475 0,0001261 1,9956 3,346 O valor previsto da viscosidade da glicerina a 20°C encontrado no roteiro é de 14,1 poise, o que equivale a 1,41 Pa.s. O valor obtido experimentalmente foi de Laboratório de Engenharia Química I – 2º semestre/2018 4 1,1565 (±0,740) Pa.s, 17,978% menor que o valor tabelado. Apesar da diferença entre a viscosidade experimental e a tabelada, já se esperava que o valor da viscosidade experimental fosse menor do que o valor tabelado, pois assim como a densidade, a viscosidade é intimamente relacionada com a temperatura. No caso da glicerina, quanto maior a temperatura menor a viscosidade, logo, a 22°C a viscosidade teria que ser menor do que a 20°C. Além disso, pode ter ocorrido erros de medição, como por exemplo, a dificuldade de cronometrar o tempo de queda das esferas no fluido, a determinação da altura de queda e a baixa pureza da glicerina. Isso originou uma alteração no resultado final. Utilizando a fórmula (14) calculou-se o coeficiente de arrasto. Em seguida, utilizando esses valores e os de número de Reynolds, apresentados na Tabela 6, plotou-se o gráfico CD x Re. 𝐶 = 24 𝑅𝑒 (14) Tabela 6. Valores de coeficiente de arrasto e número de Reynolds Esfera Coeficiente de arrasto Re 1 9,860 2,434 2 8,739 2,746 3 7,172 3,346 Figura 1. Gráfico do Coeficiente de arrasto versus Nº Reynolds Plotou-se, também, o gráfico velocidade terminal x raio, utilizando os dados das Tabelas 3 e 5. Figura 2. Gráfico da Velocidade Terminas versus Raio. Do gráfico da Figura 1, percebe-se que o aumento no número de Reynolds ocasiona o descréscimo do coeficiente de arrasto. A partir do gráfico de velocidade terminal x raio da esfera, constata-se que quanto maior o raio da esfera maior é sua velocidade terminal, o que reduz o tempo de queda das esferas de maior peso como mostra os dados da Tabela 4. Conclusões Através do Viscosímetro de Stokes, foi possível determinar a viscosidade da glicerina. A viscosidade é uma propriedade do fluido, que caracteriza a resistência de um fluido ao escoamento. Então para encontrar o valor da viscosidade da glicerina, foi necessário avaliar as forças que atuam nas esferas metálicas quando estão submersas em glicerina. A densidade da glicerina foi calculada e o valor experimental foi 12,256% menor do que o valor da literatura. O valor da viscosidade encontrado para a glicerina foi 17,978% menor que o valor teórico. A glicerina do laboratório estava a 22°C, enquanto o valor teórico referia-se a 20°C. Logo, esperava-se que o valor da viscosidade experimental fosse menor do que o valor tabelado, pois tanto a densidade quanto a viscosidade são intimamente relacionadas com a temperatura: quanto maior a temperatura, menor a viscosidade e a densidade. Além da diferença de temperatura entre os valores experimentais e teóricos, erros de medição na cronometragem do tempo de queda da esfera e a possível presença de contaminantes (baixa pureza) na glicerina podem ter afetado o valor do resultado final. 9,86 8,739 7,172 0 2 4 6 8 10 12 0 1 2 3 4 C oe fic ie nt e de a rra st o Reynolds 0,234 0,307 0,475 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0 0,002 0,004 0,006 0,008 Ve lo ci da de te rm in al Raio Laboratório de Engenharia Química I – 2º semestre/2018 5 Referências 1. R. W. Fox; A. T. Mcdonald. Introdução à Mecânica dos Fluidos, LTC, Rio de Janeiro, 2001. 2. A. M. Araújo, Mecânica do Fluidos 2, Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Engenharia Mecânica. 3. J. Santos, B. Josiel, J. C. Ferreira, Construção e Caracterização deum Viscosímetro Didático para Utilização em Aulas de Mecânica dos Fluídos,2008. 4. R. B. BIRD; W. E. STEWART; E. N. LIGHTFOOT. Fenômenos de Transporte. Parte I - Transporte de Momento. Rio de Janeiro: LTC, p.11-254, 2004. 5. J. M. A. S. GALLO; Avaliação do comportamento reológico e das propriedades sensoriais de molhos comerciais para salada tratados por irradiação. 2013. 96 f. Dissertação (Mestrado em Ciência na Área de Tecnologia Nuclear). Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Autarquia associada à Universidade de São Paulo. São Paulo. 6. ÇENGEL, YUNUS A. Mecânica dos fluidos – Fundamentos e aplicações. Ed. São Paulo: McGraw- Hill, 2007. 816 p.
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