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Direito Penal no Tempo e no Espaço


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LEI PENAL NO TEMPO
 A lei penal também sofre a ação implacável do tempo, tendo portanto, seu período de vigência, compreendido entre a data que entra em vigor, até a data em que uma nova lei regendo sobre a mesma matéria, começa a vigorar. 
 Citando Damásio de Jesus, “entre estes dois limites, entrada em vigor e cessação de sua vigência; situa-se sua eficácia”; sendo assim, a lei não alcança os fatos ocorridos antes ou depois do dois limites extremos, ou seja, não retroage nem tem ultra-atividade; trata-se do Princípio “ Tempus Regit Actum”.
 Segundo Cezar Bitencourt, “os integrantes da Escola Clássica, já defendiam o principio da Irretroatividade Penal, embora alguns pensadores e doutrinadores, o aceitassem com grandes reservas”.
 O Direito Penal por ser dinâmico, procurando sempre acompanhar a evolução cultural do povo; percebeu que, ao menos em tese, as leis novas são melhores que as antigas, e teriam melhores condições para fazer justiça.
 E assim, viu-se a necessidade de conciliar, no âmbito da sucessão de leis no tempo, o principio Tempus Regit Actum; com o da aplicação da lei posterior sempre que for mais favorável ao indivíduo.
 A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 5º, XL, diz: “ A lei não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Recepcionando assim o Principio da Retroatividade da lei penal mais benigna. Assim como, a reforma penal de 1984, que alterou toda a parte geral do Código de 1940, adotando a mesma orientação, quando prescreve no parágrafo único do artigo 2º: “ A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença transitada em julgado”.
PRINCIPIOS DA LEI PENAL NO TEMPO
IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL: respeitando o Principio da Legalidade e da Anterioridade da lei, (Art.5º,XXXIX, C.F.) (Art. 1º
 , C.P.); o principio da Irretroatividade da lei penal, traz segurança e liberdade ao cidadão.
 Jescheck, sustenta que essa proibição, fundamenta-se na idéia de segurança jurídica, que se resume num dos principios regentes do Estado de Direito; segundo o qual as normas penais não podem modificarem-se após suas execuções em prejuízo ao cidadão.
 O principio da Irretroatividade da lei penal, também tem a finalidade de proteger o cidadão contra o próprio legislador, impedindo que este criminalize novas condutas já cometidas por aquele, que por desconhecimento a circunstância, não tem como nem porquê evita-la.
 Esse princípio conhecido como “Nullum crimen, nulla poena sine praevia lege”, foi cunhado por Feurbach, no inicio do século XLX, e está inscrito no Artigo 1º do C.P. e no Artigo 5º da C.F. Esse princípio tem vigência somente em relação à lei mais severa.
 Esse princípio limita-se às normas penais e caráter material, incluindo as medidas de segurança.
2 – RETROATIVIDADE E ULTRATIVIDADE DA LEI PENAL:
 A lei posterior quando for mais benéfica, retroagirá alcançando os fatos cometidos antes de sua vigência. 
 A lei anterior já revogada, quando for mais favorável, terá ultratividade e prevalecerá mesmo ao tempo de vigência da lei nova.
 Assim, pode-se resumir o conflito do Direito Intertemporal no seguinte princípio: “ o da retroatividade e ultratividade da lei mais benéfica”.
 Por outro lado, toda lei penal, que de alguma forma, agrave os direitos de liberdade e as consequências penais diretas do crime, criminalize condutas, restrinja a liberdade (provisoriamente ou não); é lei penal mais grave, e não retroage.
HIPÓTESES DE CONFLITO DE LEI PENAL NO TEMPO:
 Em regra geral temos o principio da Atividade da lei penal no período de sua vigência. 
Exceção: a extratividade que se aplica quando, no conflito intertemporal, se fizer presente uma lei mais benéfica.
 São espécies desta atividade estendida: a retroatividade e a ultratividade:
Retroatividade: aplica-se quando a lei revogadora for mais benéfica (atinge todos os fatos cometidos antes/teoria da ladeira escorregadia);
Ultratividade: aplica-se quando a lei revogada for mais benéfica (atinge todos os fatos cometidos, mesmo depois de sua revogação).
 As prováveis hipóteses de choques entre alei nova e a anterior são:
ABOLITIO CRIMINIS: quando a lei nova deixa de considerar crime (descriminaliza) fato anteriormente tipificado como ilícito penal (Art. 2º C.P.);
NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA: quando a lei nova considera crime fato anteriormente não incriminado (criminaliza). É irretroativa pelo princípio “Nullum crime, nulla poena sine praevia lege”;
NOVATIO LEGIS IN PEJUS: quando a lei nova, de qualquer modo, agravar a situação do agente, ela não retroagirá (Art.5º, XL, C.F.).
 Lei anterior será ultra-ativa, se for mais benéfica,
 Lei posterior será irretroativa, se for mais severa.
NOVATIO LEGIS IN MELLIUS: quando a lei nova, mesmo sem descriminalizar, dá tratamento mais favorável ao agente.
Observação:
LEX MITIOR: lei mais benéfica.
LEX GRAVIOR: lei mais grave. 
VACACIO LEGIS: vacância da lei, prazo legal que uma lei tem para entrar em vigor, ou seja, desde sua publicação até o início de sua vigência.
VACACIO LEGIS: Hungria sustenta que, “a lei em período de vacacio, não deixa de ser lei posterior, devendo pois, ser aplicada desde logo, se mais favorável ao réu”.
 Atualmente; Silva Franco, concorda com o mesmo entendimento: ”o efeito retroativo da norma penal benévola, determinado em nível constitucional, parte, portanto, da publicação da lei sucessiva ao fato criminoso, lei essa, que está desde então, porque existe no mundo jurídico; dotada de imediata eficácia, e que não pode ser obstaculizada por nenhum outro motivo”.
LEI INTERMEDIÁRIA E CONJUGAÇÃO DE LEIS: quando há uma sucessão de leis, e a mais favorável não é nem a lei do tempo do fato, nem a última; mas uma intermediária, que não tinha vigência nem ao tempo do fato delitivo, nem no momento da solução do caso.
 De acordo com os princípios gerais do Direito Penal Intertemporal, deve-se aplicar a lei mais favorável.
 Assim, a lei posterior, mais rigorosa, não deve ser aplicada pelo princípio da irretroatividade; nem a lei da época do fato, igualmente mais rigorosa.
 Por princípio excepcional, aplica-se a lei intermediária, por ser a mais benéfica. Nessa hipótese, essa lei tem dupla extra-atividade, é ao mesmo tempo, retroativa e ultrativa.
 Já em relação à conjugação de leis, ou seja, juntar os aspectos favoráveis da lei anterior com os aspectos favoráveis da lei posterior; temos que, alguns autores da doutrina nacional e estrangeira (Fernando Capez, Nelson Hungria, Anibal Bruno, Heleno Fragoso; ...), opõem-se à isto. Eles entendem que o juiz, estaria legislando; criando uma terceira lei.
 Já Cézar Bitencourt, Bustos Ramirez, Frederico Marques, Basileu Garcia e Damásio de Jesus; admitem a conjugação de leis, para favorecer o réu, com seus dispositivos mais benéficos.
 O Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu pela possibilidade da conjugação de leis para beneficiar o acusado.
 Já o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em outubro de 2013, publicou Súmula 501, que veda a combinação de leis; referindo-se, não ficou claro se, especificamente à Lei de Tóxicos; ou se ampliou a outros diplomas legais.
LEIS EXCEPCIONAIS: são as que tem vigência durante situações de emergência.
Nos termos do Art. 3º do C.P., a lei excepcional TEM ultratividade.
Ex: em casos de guerra, rebelião, ou em casos de calamidade pública e epidemias.
LEIS TEMPORÁRIAS: são as que tem vigência previamente fixada pelo legislador.
 Nos termos do Art. 3º do C.P., a lei temporária TEM ultratividade. 
OBS: são exceções à regra geral, visto que são leis autorrevogáveis; isto é; perdem suas vigências automaticamente. No caso da lei temporária, ela traz data fixada no próprio texto para seu fim; e no caso da lei excepcional, sua vigência termina quando encerrar o período anormal.
 O Princípio da Ultratividade, tem como função, impedir que essas leis percam autoridade ou força intimativa, portanto não tem sua força mitigada.
RETROATIVIDADEDAS LEIS PENAIS EM BRANCO: (lei que depende de outro ato normativo para que tenha sentido, já que seu conteúdo é incompleto)
Quando o complemento da norma penal em branco também for lei (homogênea), sua revogação retroagirá em benefício do agente , tornando atípico o fato cometido.
Quando o complemento for ato normativo infralegal, sua supressão somente repercutirá sobre a conduta, quando a norma complementar não tiver sido editada em uma situação temporária ou de excepcionalidade.
Segundo Cezar Bitencourt; as leis penais em branco não são revogadas em consequência da revogação de seus complementos. Tornam-se apenas temporariamente inaplicáveis por carecerem de elemento indispensável à configuração da tipicidade. Recuperam, contudo, a validez e a eficácia, com o surgimento d nova norma integradora, que, sendo mais grave, não pode retroagir para atingir fato praticado antes de sua existência.
Para Fernando Capez; não interessa se o complemento advém da lei ou de ato infralegal, pois a retroatividade dependerá exclusivamente do caráter temporário ou definitivo da norma.
RETROATIVIDADE DA LEI PROCESSUAL: no Direito Intertemporal, entende-se como lei Processual aquela que disciplina o processo e o procedimento, sem relação direta como o direito de punir do Estado.
A lei Processual não se submete ao principio da extra-atividade da lei penal mais benéfica (ultratividade e retroatividade).
TEMPO DO CRIME:
“ Artigo 4º do C.P.: Considera-se praticado o crime, no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.”
Assim, não importa o momento do resultado.
“Artigo 13 do C.P.: O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.”
“Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.”
Adota-se assim, a TEORIA DA ATIVIDADE: pois é nesse momento, no da ação, que o indivíduo exterioriza sua vontade, violando o preceito proibitivo. 
Obs: Exceções à Teoria da Atividade:
- o marco inicial da prescrição abstrata ( ou propriamente dita ) - é aquela que leva em consideração a pena máxima em abstrato prevista no tipo, já que não se sabe a pena que será aplicada ao sujeito -, começa à partir do dia em que o crime se consuma;
- nos crimes permanentes, começa no dia em que cessa a permanência;
- nos crimes de bigamia, de falsificação e alteração de assentamento do registro civil; na data em que o fato se torna conhecido (Art. 111, C.P.);
Em relação à Súmula 711 do STF; entende Cezar Bitencourt; ser inconstitucional, por afrontar o principio da reserva legal; quando determina a aplicação retroativa de lei penal mais grave; para a hipótese de crime continuado; pois estaria impondo pena (mais grave) inexistente na data do crime para aqueles fatos cometidos antes de sua vigência.
LEI PENAL NO ESPAÇO
 A lei penal, em decorrência do Princípio de Soberania, tem vigência em todo o território nacional de um Estado politicamente organizado.
 Em certos casos, tem-se a necessidade de que os efeitos da lei penal ultrapassem os limites territoriais para regular fatos ocorridos além de sua soberania, ou então, a ocorrência de determinada infração penal pode afetar a ordem jurídica de dois ou mais Estados soberanos.
 Temos então a necessidade de limitar a eficácia espacial da lei penal, disciplinando qual lei deve ser aplicada nesses casos.
“Artigo 5º,caput,C.P.: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de Convenções, Tratados e regras de Direito Internacional; ao crime cometido em território nacional.
Paragráfo 1º: Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional; as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou à serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
Paragráfo 2º: É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquela em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas, em porto ou mar territorial do Brasil.”
PRINCIPIO DA TERRITORIEDADE: aplica-se a lei penal brasileira aos fatos puníveis praticados no território nacional, independentemente da nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico lesado.
PRINCIPIO DA TERRITORIEDADE TEMPERADA: o ordenamento penal brasileiro é aplicável aos crimes cometidos em território nacional, de modo que, ninguém; nacional, estrangeiro ou apátrida; residente ou em trânsito pelo Brasil, poderá subtrair-se à lei penal brasileira por fatos criminosos aqui praticados, salvo quando normas de Direito Internacional, dispuserem em sentido contrário.
TERRITÓRIO NACIONAL: no ponto de vista material: compreende o espaço delimitado por fronteiras geográficas; sob o aspecto jurídico: abrange todo o espaço em que o Estado exerce a sua soberania.
 Componentes do território nacional:
- solo ocupado pela corporação política;
- rios, lagos, mares interiores, golfos, baías e portos;
- mar territorial: 12 milhas marítimas;
- zona contígua: estende-se de 12 milhas ás 200 milhas, não chega a compor o território nacional, pois outros países não reconhecem; 
- zona econômica exclusiva: faixa que se estende das 12 milhas ás 200 milhas marítimas, Decreto lei 1.098/70; não admitido por outros países;
- espaço aéreo: é o espaço acima de seu território nacional e mar territorial. É definido por três teorias:
a- Absoluta liberdade do ar: nenhum Estado domina o ar, sendo permitido a qualquer Estado utilizar o espaço aéreo, sem restrições;
b – Soberania limitada ao alcance das baterias anti-aéreas: representaria, concretamente, os limites de domínio do Estado;
c – Soberania sobre a coluna atmosférica: o país subjacente teria domínio total sobre seu espaço aéreo, limitado por linhas imaginárias perpendiculares, incluindo o mar territorial.
- o espaço cósmico: não pode ser objeto de apropriação nacional;
- navios e aeronaves: os navios podem ser públicos ou privados:
a- Navios Públicos: sãos de guerra, os em serviços militares, em serviços públicos ( policia marítima, alfândega, etc...), e aqueles colocados á serviço de Chefes de Estado ou representantes diplomáticos.
 Esses, independentemente, de se encontrarem em mar territorial brasileiro, mar territorial estrangeiro ou em alto-mar; são considerados Território Nacional. Qualquer crime cometido dentro dos navios públicos, deve se julgado pela justiça brasileira (Art. 5º, 1º, I, do C.P.). 
 Os crimes praticados em navios públicos estrangeiros, em águas territoriais brasileiras, serão julgados de acordo com a lei da bandeira que ostentem.
 O marinheiro de um navio público que descer em um porto estrangeiro e lá cometer um crime; será processado de acordo com a lei local.
b – Navios Privados: são os mercantes, de turismo, etc..., tem tratamento jurídico diferente:
1 - quando em alto-mar: seguem a lei da bandeira que ostentam;
2 – quando estiverem em portos ou mares territoriais estrangeiros: seguem a lei do país em que se encontrem (Art. 5º, 1º, II parte C.P.).
Obs: as aeronaves também podem ser pública ou privadas, e a elas se aplicam os mesmos princípios utilizados para os navios (Art. 5º, 1º e 2º, C.P.).
LUGAR DO CRIME:
“Artigo 6º do C.P.: Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.”
Algumas teorias procuram precisar o Locus commissi delicti:
Teoria da ação ou da atividade: lugar do delito é aquele em que se realizou a conduta típica, sendo irrelevante o local de produção do resultado;
Teoria do resultado ou do evento:lugar do delito é aquele em que ocorreu o evento ou resultado, ou seja, onde o crime se consumou, não importando a ação ou intenção do agente;
Teoria da intenção: lugar do delito é aquele em que, segundo a intenção do agente, deveria ocorrer o resultado;
Teoria do efeito intermediário ou do efeito mais próximo: lugar do delito é aquele em que a energia movimentada pela atuação do agente alcança a vítima ou o bem jurídico;
Teoria da ação a distância ou da longa mão: Lugar do delito é aquele em que se verificou o ato executado;
Teoria limitada da ubiquidade: lugar do delito tanto pode ser o da ação como o do resultado;
TEORIA PURA DA UBIQÜIDADE, MISTA OU UNITÁRIA: lugar do delito tanto pode ser o da ação como o do resultado, ou ainda o lugar do bem jurídico atingido (Art. 6º do C.P.). É a teoria adotada pelo direito brasileiro. 
 
Aplicação da Teoria da Ubiqüidade nas várias hipóteses:
- nos crimes conexos: não se aplica, devendo cada crime ser julgado pelo país onde foi cometido, uma vez que, não constituem propriamente uma unidade jurídica.
Ex: furto cometido na Argentina e receptação praticada no Brasil. No Brasil, só será julgado o crime de receptação.
- no crime complexo: tomado o delito como um todo, aplica-se a regra do Artigo 6º do C.P., sem cindir-se a figura típica, mesmo que o resultado juridicamente relevante se verifique em outro lugar e o delito-meio no território nacional.
- na co-autoria, participação ou ajuste: o crime dá-se tanto no lugar da instigação ou auxílio, como no resultado.
- no delito permanente e no crime continuado: nas ações consideradas juridicamente como unidade, o crime tem-se por praticado no lugar em que se verifica um dos elementos do fato jurídico.
- nos delitos habituais: o Locus delicti é o de qualquer dos fatos (singulares, análogos ou repetidos), que pertencem á figura delitiva, pois o “tipo” serve de elo entre os diversos atos.
- no caso de delito plurilocal ( a conduta e o resultado ocorrem dentro do território nacional, mas em locais diferentes): aplica-se a teoria do resultado, prevista no Artigo 70 do C.P.P, a competência será determinada pelo lugar em que se consumar a infração ou, no caso de tentativa, pelo local em que for praticado o último ato de execução.
Ex: o estelionato onde a vítima foi ludibriada em uma cidade, mas entregou o dinheiro em outra. A cidade onde ocorreu o resultado será a competente para julgar o caso.
 Já nos crimes dolosos contra a vida; o juízo competente será o do local da ação, tendo em vista a conveniência na instrução do fato.
 “Conflito de competência: se o interesse do processo é a busca da verdade real, tem-se que a ação penal deve desenvolver-se no local que facilite a melhor instrução.”
- nos crimes de menor potencial ofensivo, sujeitos à lei 9.099/95, Lei dos Juizados Especiais: foi adotada a teoria da atividade; Artigo 63 da lei 9.099/95: “A competência do juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração.”
PRINCIPIO REAL, DE DEFESA OU DE PROTEÇÃO: permite a extensão da jurisdição penal do Estado titulardo bem jurídico lesado, para além dos seus limites territoriais, fundamentado na nacionalidade do bem jurídico lesado (Art. 7º, I, do C.P.),independentemente do local em que o crime foi praticado ou da nacionalidade do agente infrator.
PRINCIPIO DA NACIONALIDADE OU DA PERSONALIDADE: aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente, pouco importando o local onde o crime foi praticado. Tem o objetivo de impedir a impunidade de nacionais por crimes praticados em outros países, que não sejam abrangidos pelo critério da territorialidade.
 Apresenta-se sob duas formas:
- Personalidade ativa: quando considera-se somente a nacionalidade do autor ( Art. 7º, II, b, C.P.);
- Personalidade passiva: quando importa somente se a vitima do delito é nacional (Art. 7º, 3º, C.P.).
PRINCIPIO DA UNIVERSALIDADE OU COSMOPOLITA: por esse principio, as leis penais devem ser aplicadas a todos os homens, onde quer que se encontrem.
 Aplica-se a lei nacional a todos os fatos puníveis, sem levar em conta o lugar do delito, a nacionalidade do autor ou do bem jurídico lesado ( Art. 7º, II, a do C.P.).
 Esse princípio é característico da cooperação penal internacional, porque permite a punição, por todos os Estados, de todos os crimes que forem objeto de tratados e de convenções internacionais. 
PRINCIPIO DA REPRESENTAÇÃO OU DA BANDEIRA (PAVILHÃO): é um principio subsidiário. Quando houver deficiência legislativa ou desinteresse de quem deveria reprimir, aplica-se a lei do Estado em que está registrada a embarcação ou aeronave, cuja bandeira ostenta, aos delitos praticados em seu interior.
Obs: Principios adotados pelo código penal brasileiro:
 O código penal brasileiro adotou como regra: o PRINCIPIO DA TERRITORIALIDADE.
E como exceção, os princípios:
- real ou de proteção; 
- universal ou cosmopolita; 
- nacionalidade ativa;
- nacionalidade passiva;
- representação ou bandeira.
EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA: as situações de aplicação extraterritorial da lei penal brasileira; estão previstas no Artigo 7º do C.P., e constituem exceções do principio geral da territorialidade. 
 
Formas de Extraterritorialidade:
a – INCONDICIONADA: aplica-se a lei brasileira sem qualquer condicionante, na hipótese de crimes praticados fora do território nacional, ainda que o agente tenha sido julgado no estrangeiro (Art. 7º, I, do C.P.).
São os crimes: 
- contra a vida e a liberdade do Presidente da República;
- contra o patrimônio ou a fé pública da União, do distrito federal, de estado, território, município, empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo poder público;
- contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
- de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
b- CONDICIONADA: aplica-se a lei brasileira quando satisfeitos certos requisitos ( Art. 7º, 3º, II, C.P.).
São os crimes:
- que por tratado ou convenção, o Brasil obrigou-se a reprimir;
- praticados por brasileiros;
- praticados em aeronaves ou em embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados;
- praticados por estrangeiros contra brasileiro, fora do Brasil;
LEI PENAL EM RELAÇÃO ÁS PESSOAS: 
 O principio da Territorialidade, faz reservas aos tratados, convenções e regras de Direito Internacional, dando origem ás imunidades diplomáticas. 
 Há igualmente exceções decorrentes de normas de direito público interno que originam as imunidades parlamentares.
 As imunidades – diplomáticas e parlamentares – não estão vinculadas à pessoa autora de infrações penais, mas as funções eventualmente por ela exercidas, não violando assim, o preceito constitucional da Igualdade de todos perante á lei.
IMUNIDADE DIPLOMÁTICA: se estende á todos agentes diplomáticos ( embaixadores, secretários das embaixadas, pessoal técnico e administrativo das representações), e funcionários das organizações internacionais ( ONU, OEA, etc...), quando em serviço, incluindo seus familiares; e chefes de Estado estrangeiro ( incluindo os membros de sua comitiva ), que visitam o país.
 O diplomata é dotado de inviolabilidade pessoal, pois não pode ser preso, nem submetido a qualquer procedimento ou processo, sem autorização de seu país.
IMUNIDADE PARLAMENTAR: a imunidade, como prerrogativa parlamentar, é do Parlamento, e somente por via reflexa pode ser entendida como uma prerrogativa de caráter pessoal. Sendo então um direito do próprio Parlamento, e não do parlamentar, é irrevogável.
 É um privilégio de direito público interno e de cunho personalíssimo (não pode ser estendida à ninguém).
As imunidades parlamentares podem ser de duas espécies: 
- imunidade material ou absoluta (penal, civil, disciplinar e política);
- imunidade formal ou relativa ou processual:
IMUNIDADE MATERIAL: refere-se a inviolabilidade do parlamentar (senador, deputadofederal, deputado estadual, vereador), no exercício do mandato, por suas palavras, opiniões e votos (Arts. 53, caput, 27, 1º e 29, VIII da C.F.).
 O termo inicial da imunidade ocorre com a diplomação do parlamentar (Art. 53, 1º, C.F,), e encerra-se com o término do mandato.
IMUNIDADE FORMAL: refere-se à prisão, ao processo, a prerrogativa de foro (Art. 53, 4º, e 102, I, b, da C.F. e Art. 84 do C.P.P. ), refere-se ao processo e julgamento.
EXTRADIÇÃO: “é o ato pelo qual um Estado entrega um indivíduo acusado de fato delituoso ou já condenado como criminoso à justiça de outro Estado, competente para julgá-lo ou puní-lo ( Hildebrando Accioly).”
A extradição pode ser:
- Ativa: em relação ao Estado que a reclama;
- Passiva: em relação ao Estado que a concede;
- Voluntária: quando há anuência do extraditando;
- Imposta: quando há oposição do extraditando;
- Reextradição: quando o Estado que obteve a extradição (requerente), torna-se requerido por um terceiro Estado, que solicita a entrega da pessoa extraditada.
 O principio básico, que orienta o instituto da extradição reside no fato de que a punição do crime deve ser feita no local em que foi praticado, como resposta da comunidade ao abalo que a infração penal lhe causou.
PRINCIPIOS E CONDIÇÕES DE EXTRADIÇÃO
Quanto ao delito: 
- Principio da Legalidade: (Art. 91, I, da lei 6.815/80 – Estatuto do Estrangeiro): não haverá extradição se o crime imputado ao extraditando não estiver especificado em tratado ou convenção internacional.
Esse principio, segundo Cezar Bitencourt, encontra-se mitigado pelo principio da reciprocidade.
- Principio da Especialidade: significa que o extraditando não poderá ser julgado por fato diverso daquele que motivou a extradição.
- Principio da Identidade da Norma ou Dupla Incriminação: (Art. 77, II, do E.E.): o fato que origina o pedido de extradição deve consistir em crime também no país ao qual a extradição foi solicitada.
Quanto à pena e a ação penal:
- Principio da Comutação: (Art. 91, III, do E.E.): como corolário do principio da humanidade, a extradição concedida pelo Brasil é condicionada à não aplicação de pena de morte, prisão perpétua ou pena corporal. 
Se o país requerente tiver a cominação de tais penas para o delito imputado, terá de comutá-las em pena privativa de liberdade.
- Principio da Jurisdicionalidade: (Art. 77, VIII do E.E.): que pretende impedir que o extraditado seja julgado, no país requerente, por tribunal ou juízo de exceção. Implicitamente procura garantir o principio do juiz natural.
- Principio Non Bis In Idem ( Arts 77, III e 91, II do E.E.): hà dois aspectos a considerar:
 a - um conflito positivo de competência, que impede a concessão da extradição, quando o Brasil for igualmente cometente para julgar o caso;
b – a necessidade de assumir a obrigação de comutar o tempo de prisão que foi imposta no Brasil, em decorrência do pedido de extradição ( Art. 91, II do E.E.).
- Principio da Reciprocidade (Art. 76 do E.E.): o país requerente assume o compromisso de dar o mesmo tratamento ao país requerido em casos semelhantes, quando a posição de ambos se inverter.
Obs: As condições para a concessão da extradição vem enumeradas no Artigo 77 ( condições negativas ) e no Artigo 78 ( condições positivas ), do Estatuto do Estrangeiro.
Requisitos para a Concessão de Extradição:
- exame prévio pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Art. 102, I, g da C.F.;
- existência de convenção ou tratado firmado com o Brasil, ou na sua falta, o oferecimento de reciprocidade;
- existência de sentença final condenatória ou decreto de prisão cautelar;
- ser o extraditando estrangeiro ( o Brasil não extradita nacionais );
- o fato imputado deve constituir crime perante o Estado brasileiro e o Estado requerente.
Procedimento do Processo de Extradição:
 Iniciando o processo de extradição, o extraditando deve ser preso e colocado a disposição do STF. O entendimento do STF, nesses casos, é de não admitir prisão domiciliar, liberdade vigiada, prisão-albergue, nem mesmo as chamadas medidas alternativas. Na realidade, o STF tem considerado essa privação de liberdade como uma espécie de prisão preventiva, embora seja de natureza obrigatória.
 A tramitação do processo de extradição tem prioridade no STF, podendo ser precedido somente por Habeas Corpus (HC), que é a prioridade número um.
 A defesa do extraditando é limitada e circunscreve-se, fundamentalmente à três aspectos:
- erro quanto à identidade da pessoa extraditanda;
- defeito formal dos documentos apresentados pelo Estado estrangeiro;
- ilegalidade do pedido de extradição.
Limites à Extradição:
 A principal limitação em relação à pessoa; é a não extradição de nacionais.
 O brasileiro nato não pode ser extraditado em nenhuma hipótese.
 O brasileiro naturalizado poderá ser extraditado por crime comum praticado antes da naturalização; ou por envolvimento comprovado em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins.
 O nacional não extraditado responde perante a justiça brasileira.
 Nos casos de delitos religiosos, de imprensa, fiscais e puramente militares; a lei brasileira não é precisa, estabelece um regime facultativo, embora a doutrina e a jurisprudência dominantes manifestem-se no sentido de não se conceder a extradição.
 Em relação aos crimes políticos, o entendimento dominante, é de que somente será proibida a extradição quando se tratar de crime político puro.
 A proibição de extradição não alcança o delito de terrorismo, que é tratado como crime comum para este fim.
 Os delitos contra a humanidade, considerados delitos comuns, não gozam de asilo, e permitem a extradição, bem como os crimes de guerra, contra a paz e genocídio.
DEPORTAÇÃO E EXPULSÃO:
 São medidas administrativas de polícia, com a finalidade comum de obrigar o estrangeiro a deixar o território nacional.
 A deportação consiste na saída compulsória do estrangeiro para o país de sua nacionalidade ou procedência ou para outro que consinta em recebe-lo. (Art. 58 do E.E.).
 A expulsão ocorre quando o estrangeiro atentar, de qualquer forma, contra a segurança nacional, a ordem política e social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular; ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais. 
 
 
 
 
Referências: 
- Tratado de Direito Penal, volume I, Parte Geral,; Bitencourt, Cezar;
- Curso de Direito Penal, volume I, Parte Geral; Capez, Fernando.