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Portfólio - História da Psicologia

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NATÁLIA SILVEIRA LISBÔA
PORTFÓLIO: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
Trabalho apresentado à disciplina de História da Psicologia, da Faculdade de Psicologia, do Centro de Ciências da Vida, como parte das atividades exigidas para aprovação.
Orientador: Prof. Dr. Wagner de Lara Machado
PUC-CAMPINAS
2017
SUMÁRIO
Comportamentalismo: Pavlov e Watson
Introdução											05
Pavlov											06
Watson											08
Apropriação crítica										09
Referências											10
Comportamentalismo: Thorndike e Skinner
Introdução 											12
Thorndike											12
Skinner											14
Apropriação crítica										16
Referências											17
Neocomportamentalismo: Bandura e Rotter
Introdução											18
Bandura											18
Rotter												20
Apropriação crítica										22
Referências											22
Psicanálise: Freud
Introdução											24
Influências sobre a Psicanálise								24
Alguns conceitos da teoria psicanalítica freudiana					25
Legado											26
Apropriação crítica										26
Referências											27
Psicanálise: pós-freudianos
Introdução											28
Carl Jung											28
Anna Freud											29
Melanie Klein										30
Apropriação crítica										31
Referências											33
A Fenomenologia
Introdução											34
O pensamento de Husserl									34
Influência de Husserl para a psicologia							35
Apropriação crítica										36
Referências											37
A Gestalt
Introdução											38
Os princípios de organização da percepção						39
Expansão e importância da Gestalt							40
Apropriação crítica										40
Referências											42
O movimento Humanista
Introdução											43
A Psicologia Humanista 									44
Carl Rogers											45
Apropriação crítica										47
Referências											49
O movimento cognitivista
Introdução											51
Neisser											52
Piaget												53
Apropriação crítica										54
Referências											54
O movimento Interacionista e Histórico-Cultural
Introdução											56
As teorias interacionistas									56
A teoria sócio-interacionista								57
Apropriação crítica										58
Referências											59
Avaliação psicológica
Introdução										60
Prática no Brasil									60
Validação										62
Apropriação crítica									63
Referências										63
Psicologia Positiva
Introdução										64
Martin Seligman									65
Mihaly Csikszentmihalyi								65
Principais conceitos, crítica e contribuições					65
Apropriação crítica									66
Referências										66
1 – COMPORTAMENTALISMO: PAVLOV E WATSON
1.1. Introdução
No início do século XX a Psicologia americana havia crescido mais do que a europeia. Cresceu no país o número de laboratórios, psicólogos e publicações científicas. A American Psychological Association (APA) foi criada em 1892, e dois anos depois foi a criação do Psychological Review, um dos principais periódicos sobre psicologia até hoje (FREITAS, 2008). A Psicologia de Wundt já havia passado por diversas revisões: os psicólogos americanos rejeitaram a introspecção, a psicologia experimental e a investigação dos elementos da mente. 
Em 1913, o psicólogo John Watson publicou o artigo “A Psicologia como um Comportamentalista a vê”, estabelecendo as bases de uma nova corrente que pretendia romper tanto com o estruturalismo de Wundt e Titchener quanto com o funcionalismo. Isto porque enquanto o objeto de estudo da psicologia, tanto de funcionalistas quanto estruturalistas, era a consciência, os Comportamentalistas propuseram o estudo do comportamento (SCHULTZ, SCHULTZ, 2000).
A psicologia Comportamentalista de Watson pretendia lidar com o comportamento de forma objetiva, observável. Eles entendiam que o comportamento seria uma resposta do indivíduo a um estímulo externo, uma mudança que ocorre no ambiente. Caberia a esses psicólogos descobrir quais estímulos provocam determinados comportamentos em ambientes complexos. Para esses psicólogos, a psicologia deveria ser empírica e fornecer descrições objetivas em termos de estímulo e resposta (CANÇADO; SOARES; CIRINO, 2015). John Watson.
Segundo Schultz e Schultz (2002), há três grandes tendências que influenciaram a obra de Watson: 
as tradições filosóficas do mecanicismo e objetivismo. O Mecanicismo do século XVII entendia o universo como uma grande máquina; os processos naturais, o universo e a mente humana poderiam ser mecanicamente determinados e explicados pelas leis da física, em uma analogia com o funcionamento de um relógio. No século XVIII Auguste Comte (1798-1857) propôs o Positvismo, que afirmou que a ciência deveria ser baseada somente em fenômenos naturais e fatos objetivamente observáveis, cuja verdade não é discutível. No século XX, o positivismo e o mecanicismo eram muito fortes dentro da ciência. O resultado disso para os trabalhos de Watson foi a ciência do comportamento, que concebia o ser humano como uma máquina que reagia aos estímulos externos.
a psicologia funcional, cujos psicólogos estavam levando a psicologia a aplicações fora dos laboratórios, abandonando o estudo da experiência consciente da forma pura proposta por Wundt e Titchener (SCHULTZ; SCHULTZ, 2000). Aos poucos, psicólogos funcionalistas passaram a defender uma psicologia objetiva que tivesse como foco o comportamento, e não a consciência. Essa noção culminou no manifesto de Watson em 1913 (SCHULTZ; SCHULTZ, 2000).
a psicologia animal surgida no final do século XIX e desenvolvida a partir da teoria evolutiva. Desde os primeiros estudos em psicologia animal, houve um movimento no sentido de dar maior objetividade nesse estudo em termos de objeto de estudo e metodologia. No início do século XX, o objeto de estudo e a metodologia da psicologia animal já eram totalmente objetivos: secreções glandulares, reflexos condicionados, atos, comportamentos, tudo isso era objeto de estudo da psicologia animal (CANÇADO; SOARES; CIRINO, 2015). Em meados do século XIX, os russos eram pioneiros no campo de estudo da reflexologia animal. Dentre os pesquisadores empenhados na fisiologia dos reflexos, pode-se destacar Ivan Pavlov, que criou o conceito de reflexo condicionado (JÚNIOR; LOPES; CIRINO, 2015). 
1.2. Pavlov
Pavlov exerceu grande influência para a psicologia comportamentalista, graças a suas pesquisas dos reflexos condicionados, que forneceram a Watson um novo método de estudo do comportamento. 
Ivan Pavlov (1849-1936) foi um renomado fisiologista e médico russo. Durante sua carreira de pesquisador, Pavlov trabalhou pesquisando a função dos nervos cardíacos, o funcionamento das glândulas digestivas primárias na digestão (que lhe rendeu reconhecimento mundial e um Prêmio Nobel em 1904) e os centros nervosos superiores do cérebro em animais (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Sua principal descoberta para a psicologia, a noção de reflexo condicionado, ocorreu acidentalmente durante suas pesquisas em laboratório. Feldman (2015) conta que durante seu trabalho sobre as glândulas digestivas de cães, Pavlov coletava as secreções salivares durante a alimentação dos animais. Pavlov percebeu uma coisa interessante: as vezes, a saliva aparecia na boca dos cães antes da comida ser dada; eles salivavam quando viam a comida ou a pessoa que costumava alimentá-los, e também ao ouvirem seus passos. 
Mais tarde, Pavlov denominou o reflexo da salivação quando o alimento era colocado na boca do cão de reflexo não-condicionado (ou inato), uma resposta reflexa natural do sistema digestivo; não há necessidade de aprendizagem para que isso ocorra. Assim, Pavlov classificou o alimento como um estímulo não-condicionado, que acarreta uma resposta fisiológica não-condicionada. No entanto, salivar ao ver o aplicador ou ouvir seus passos não era um reflexo fisiológico ou não-condicionado. Essa resposta dependia de uma associação entre a visão da comida e sua subsequente ingestão.
Pavlov descobriu que qualquer estímulo poderia produzir a resposta de salivação no cão, desde que ele fosse seguido pela ingestão da comida.Com o tempo, os cães salivavam só de ver uma luz ou ouvir um som de uma campainha que era apresentado anteriormente à ingestão do alimento. A saliva dos cães tornou-se condicionada a esses fatores estimulativos devido à aprendizagem do animal que associou esses estímulos com o ato de se alimentar. Representação do condicionamento clássico de Pavlov.
A genialidade de Pavlov esteve em reconhecer que os cães estavam respondendo não apenas com base em uma necessidade biológica (fome), mas também como resultado de aprendizagem, ou, como ela passou a ser chamada, condicionamento clássico (CANÇADO; SOARES; CIRINO, 2015).
Segundo Schultz e Schultz (2002), a importância de Pavlov reside na sua introdução de uma terminologia mais objetiva no estudo da aprendizagem. Seu estudo sobre o comportamento demonstrou que o comportamento complexo poderia ser reduzido e servir como objeto experimental em condições de laboratório (o que foi importante para Watson). Além disso, o trabalho de Pavlov influenciou o rumo da psicologia para uma maior objetividade no seu objeto de estudo e metodologia, além da base para inúmeros trabalhos sobre aprendizagem, realizados até hoje.
1.3. Watson
John B. Watson (1878-1958) é considerado fundador da psicologia comportamental e foi importante para estabelecer maior objetividade na Psicologia da época.
O comportamentalismo de Watson propôs que a psicologia deveria ser uma ciência do comportamento puramente objetiva, contrariando o estudo introspectivo do fenômeno da consciência. As metas da psicologia seriam a previsão e o controle do comportamento. Ela teria de investigar tanto o comportamento humano como o animal, procurando um esquema de resposta animal unitária, reconhecendo a similaridade entre o homem e o animal (WATSON, 1913). A meta de Watson consistia em reduzir todo comportamento em unidades de estímulo-resposta (SCHULTZ; SCHULTZ, 2000).
Watson demonstrou sua teoria de respostas emocionais condicionadas ao realizar experimentos com Albert, um bebê de 11 meses. Schultz e Schultz (2002) contam que Albert era uma criança que havia sido criada praticamente desde seu nascimento no ambiente hospitalar. Era saudável e no geral inabalável, não havia demonstrado sinais de medo ou raiva antes do experimento, sendo escolhido justamente por conta da sua tranquilidade. Watson desejava produzir nele uma resposta condicionada de medo de ratos brancos. Experimento de Watson com o pequeno Albert.
Durante o experimento, era exposto para o bebê um rato branco enquanto produzia-se um barulho atrás de sua cabeça, ao bater uma barra de aço com um martelo. Depois de pouco tempo, apenas a visualização do rato passou a provocar sinais de medo na criança, o que foi inclusive generalizado a outros estímulos similares, como animais ou objetos brancos peludos. Watson indicou que todos os medos, aversões e ansiedades do adulto eram gerados do condicionamento durante a infância, não surgindo de conflitos inconscientes como acreditava Freud (SCHULTZ; SCHULTZ, 2000).
Foi com sua proposta comportamentalista de uma sociedade baseada no comportamento cientificamente modelado e controlado, livre de mitos, costumes e convenções, que Watson chamou atenção de um público já desacreditado em dogmas religiosos, atraindo pessoas como Skinner (SCHULTZ; SCHULTZ, 2000).
Com seu livro Behaviorism, Watson recebeu críticas do New York Herald Tribune, afirmando sobre uma possível esperança que as ideias propostas nele, causavam na sociedade. 
Embora a carreira de Watson na psicologia tenha sido rápida e o comportamentalismo watsoniano tenha sido substituído por métodos de estudo mais recentes, suas contribuições foram muito significativas, defendendo a ciência do comportamento como sendo completamente objetiva (FALCONE, 2015).
1.4. Apropriação crítica: “Aprendizado, Behaviorismo e propaganda”
No artigo “Aprendizado, Behaviorismo e propaganda”, os autores Leopoldo Duarte e Nathália Vasconcellos indicam alguns usos de conceitos do Behaviorismo em estratégias de propagandas.
Segundo os autores, a publicidade tem como objetivo primário captar uma necessidade do cliente e direcioná-la a um produto específico, torná-la desejo. Ela faz isso apresentando uma necessidade (existente ou não), condicionando a saciedade dessa necessidade com o bem ou serviço oferecido e gerando uma resposta fazendo com que consumidores ajam de um modo específico: efetuando a compra do bem ou serviço apresentado.
Os autores contam que Watson, no final da vida, começou a trabalhar em uma grande firma de publicidade de Nova York. A ele é atribuída a respeitabilidade do uso do cigarro pelas mulheres. Um anúncio da marca Lucky Strike tinha a frase de efeito “Pegue um Lucky em vez de um doce”. Com toda a imagem de glamour associada ao uso feminino de cigarro demonstrada por estrelas do cinema hollywoodianom esta campanha pode ter sido bem-sucedida – segundo os autores – também por posicionar o cigarro como um substituto de engordativos doces. Nesse sentido, as propagandas funcionariam principalmente como um primeiro estímulo convidativo a compra (já que atualmente o primeiro contato de um indivíduo com um produto passa pelas campanhas publicitárias). O comportamento do consumidor seria moldado a partir da vontade de parar de comer doce, e invés disso, fumar.
Outro estudo sobre as necessidades de consumidores, do ponto de vista da propaganda, permitiu verificar como se estabelece a preferência pelas marcas na cabeça do consumidor. Segundo pesquisas, um indivíduo muito sedento, num verão tropical, poderá aprender com facilidade o nome do refrigerante com o qual saciou a sua sede. Baseados nesses estudos, os publicitários conseguem direcionar de forma otimizada a comunicação, de forma que a sua marca esteja presente na cabeça do consumidor, quando este tiver alguma necessidade primária.
Além disso, os autores também apontam que há estudos que comprovam que para o sucesso da aprendizagem do consumidor em relação a marca desejada é indispensável a constante (re)apresentação da marca através de propagandas. De acordo com esses estudos, as propagandas devem ser contínuas para que não sejam esquecidas ou substituídas a logo prazo.
7.5. Referências
CANÇADO, C. R. X.; SOARES, P. G.; CIRINO, S. D. O behaviorismo: uma proposta de estudo do comportamento. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2015, p. 205-222.
DUARTE, L.; VASCONCELLOS, N. Aprendizado, Behaviorismo e propaganda. Universidade Federal Fluminense. Disponível em <http://www.uff.br/ensaiosdemarketi
ng/artigos%20pdf/1/artigoseis.pdf>. Acesso em 24 de novembro de 2017.
FALCONE, E. M. O. As bases teóricas e filosóficas das abordagens cognitivo-comportamentais. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2015, p. 223-244.
FELDMAN, R. S. Introdução à Psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.
FREITAS, R. H. (Org.). História da psicologia: pesquisa, formação, ensino. Rio de Janeiro: Centro Edelstein, 2008.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S.E. História da Psicologia Moderna. 16. ed. São Paulo: CULTRIX, 2002.
WATSON, J. Psychology as the Behaviorist Views it. Psychological Review, v. 20, n. 2, p. 158-177, 1913. Disponível em <http://cursa.ihmc.us/rid=1GQY6PMKW-TYL8S
WHWG/Psychology%20as%20the%20Behaviorist%20Views%20It.pdf>. Acesso em 15 de outubro de 2017.
2 – COMPORTAMENTALISMO: THORNDIKE E SKINNER
2.1. Introdução
No início do século XX a orientação pragmática da ciência dos Estados Unidos, herdada de Descartes, Comté e Darwin, trouxe a necessidade dos pesquisadores americanos procurarem alcançar uma psicologia que pudesse trazer resultados práticos para a população. O estruturalismo e o funcionalismo já vinham sendo criticados por ter como um dos meios de recolher dados a introspecção, que perdia sua credibilidade no mundo científico.
Após o lançamento do manifesto de Watson em 1913, surgiuo movimento Behaviorista. Watson almejava uma psicologia objetiva, reducionista e mecanicista. Para ele a psicologia devia estudar o comportamento e desconsiderar o mentalismo, já que não caberia a ela estudar tais tópicos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Em 1924, dez anos depois de Watson ter lançado o Behaviorismo, o movimento estava popularizado nos Estados Unidos. É claro que essa popularização foi seguida pela ramificação do movimento em algumas vertentes, que possuíam ideias semelhantes e divergentes.
O chamado Behaviorismo Metodológico (ou metafísico), de Watson, foi o ponto de partida para os estudos sobre o comportamento. Essa vertente não nega a existência da mente, mas nega-lhe status científico ao afirmar que a psicologia não poderia estudá-la pela sua inacessibilidade. Já o Behaviorismo Radical nega a existência da mente e assemelhados, mas aceita estudar eventos internos, como o pensamento e a emoção (FALCONE, 2015) .
Enquanto Watson foi o principal representante do Behaviorismo metafísico, Skinner foi o principal do radical. 	E assim como Pavlov foi uma importante influência para os estudos de Watson, Thorndike foi um autor que influenciou muito as posteriores pesquisas de Skinner.
2.2. Thorndike
Edward Lee Thorndike (1874 – 1948) foi um dos primeiros psicólogos a ter sua formação inteira realizada nos Estados Unidos. Também foi pioneiro na realização de experimentos controlados com descrição detalhada das atividades dos animais sem se deter na introspecção como abordagem (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). 
Os experimentos de Thorndike eram realizados geralmente com gatos privados de alimentos. Os animais eram colocados em uma gaiola de onde poderiam escapar puxando uma argola, pressionando algum botão ou alguma outra maneira que interessasse o pesquisador. Fora da gaiola havia um pedaço de carne. Caso o gato fosse bem-sucedido ao tentar escapar da gaiola, seria recompensado com alimento (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). 
Thorndike registrou quanto tempo os animais levavam para descobrir como se libertarem da gaiola, e percebeu que conforme se repetia a situação, o tempo gasto diminuía. O autor considerou que isso indicava uma medida de aprendizagem dos animais. Todos os gatos haviam descoberto o modo de escapar da caixa por meio de tentativa e erro: conforme os animais passavam pelo mesmo processo diversas vezes, menor era a quantidade de tentativas e erros, demonstrando que eles aprendiam quais ações traziam recompensas e quais não geravam nada. Essa foi a base da “Lei do Efeito” de Thorndike (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).Edward Lee Thorndike, autor da Lei do Efeito.
A Lei do Efeito de Thorndike refere-se a efeitos emocionais: sugere que as respostas seguidas pela satisfação são mais propensas a voltar a ocorrer quando a situação se repete. Por outro lado, se a situação é seguida por desconforto, as ligações com a situação serão mais fracas, e o comportamento de resposta é menos provável de ocorrer quando a situação é repetida. Ele também acreditava que o organismo faria uma conexão direta entre o estímulo e a resposta sem qualquer consciência de que a conexão existia (CANÇADO; SOARES; CIRINO, 2015).
Os estudos de Thorndike foram de grande influência para a psicologia, principalmente os americanos, na área da educação. Sua Lei do Efeito e experimentos com animais geraram contribuições para a psicologia comportamentalista, para o trabalho de Skinner e para as teorias funcionalistas.
No entanto, apesar de fazer uso de experimentos controlados e de trabalhar com dados empíricos, Thorndike foi criticado por utilizar termos mentalistas como “satisfação” e “desconforto” em suas explicações. Essas explicações eram cada vez menos aceitas pela academia americana que buscava alternativas ao modelo mentalista. Esse afastamento culminou em 1913 no surgimento do Behaviorismo, uma nova maneira de se pensar a Psicologia (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
2.3. Skinner
Burrhus Frederick Skinner (1904-1990) permaneceu durante muitos anos como o mais destacado comportamentalista da América, tendo atraído um grupo leal e amplo de seguidores. Seu interesse pela Psicologia foi despertado após ler sobre as experiências de condicionamento de Watson e Pavlov, e suas maiores influências foram os estudos de Thorndike, Pavlov, Darwin, Loeb e Mach (FALCONE, 2015).
Para o autor, o organismo humano “é uma máquina, e o ser humano, como qualquer outra máquina, se comporta de manieras previsíveis e regulares em resposta às forças externas, os estímulos, que o afetam” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 280). 
Skinner propôs um sistema no qual as explicações dadas para o comportamento do organismo em termos de causa e efeito são substituídas por descrições das relações funcionais entre as alterações ambientais e o comportamento. Para ele, o que interessava não era especular o que ocorria dentro do organismo ou o que ocorria na relação entre estímulo e resposta, mas sim a descrição do comportamento para o estudo científico (CANÇADO; SOARES; CIRINO, 2015). Burrhus Frederick Skinner, autor da teoria de Condicionamento Operante.
O condicionamento clássico desenvolvido por Pavlov é um tipo de aprendizagem no qual um estímulo neutro passa a produzir uma resposta depois de ser emparelhado com um estímulo que naturalmente produz aquela resposta. Envolve pareamento: apresentação de um estímulo neutro seguido de um estímulo incondicionado, algumas vezes (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). 
O condicionamento operante desenvolvido por Skinner, por sua vez, é a aprendizagem na qual uma resposta voluntária é reforçada ou enfraquecida, dependendo de suas consequências favoráveis ou desfavoráveis. As respostas operantes operam sobre o meio, ou seja, são voluntárias e considera-se as consequências. “Diferentemente do condicionamento clássico, em que os comportamentos originais são as respostas biológicas naturais à presença de um estímulo (como comida, água ou dor), o condicionamento operante aplica-se a respostas voluntárias, que um organismo realiza deliberadamente para produzir um resultado desejável” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Para demonstrar o condicionamento operante, Skinner realizou um experimento com ratos. Ele colocava o ratinho que fora privado de alimento em uma gaiola com uma alavanca que quando pressionava, liberava comida. No início, Skinner deixou o ratinho se movimentar livremente e explorar o novo ambiente. Neste processo de exploração, o rato pressionava a alavanca por acaso, liberando comida. Mais tarde, o rato pressionava a alavanca novamente e recebia mais comida, e com o tempo a frequência de resposta de pressionar a barra aumentava (FELDMAN, 2015).Skinner e seus instrumentos para as experiências com ratos.
O conceito de reforço é importante para a melhor compreensão do condicionamento operante desenvolvido por Skinner. Reforço é o processo pelo qual um estímulo aumenta a probabilidade de que um comportamento anterior se repita novamente. No caso dos ratos, o fato de receber comida após apertar a barra faz com que o comportamento seja aumentado devido ao estímulo da comida. Punição tem a proposta inversa do reforço: seu objetivo é diminuir a probabilidade de um comportamento ocorrer novamente (FELDMAN, 2015).
Outro conceito importante desenvolvido por Skinner é o de modelagem, descrito como sendo um processo de ensinar um comportamento complexo reforçando comportamentos cada vez mais próximos ao comportamento desejado. Dessa forma, cada passo da modelagem avança ligeiramente além do comportamento aprendido anteriormente, permitindo que a pessoa relacione o novo passo ao comportamento aprendido anteriormente. O experimento de modelagem foi feito com pombos que eram treinados para bicar determinado local de sua gaiola em um curto período de tempo; no início do experimento, a pomba era reforçada toda vez que se virava para o local designado; depois se retirava o reforço para essa ação e só era oferecido a comida quando ela se virasse naquela direção, assim sucessivamente até que o bico dela tocasse o lugar certo (FELDMAN, 2015).
Os resultadosde Skinner em suas pesquisas concluíram que o comportamento de um organismo não seria influenciado somente por alterações ambientais antecedentes, Grande parte do comportamento seria influenciada por suas consequências. Um organismo, ao comportar-se, produz modificações no ambiente que, por sua vez, alteram a forma como o indivíduo se comporta (FALCONE, 2015).
2.4. Apropriação crítica: “Por que o reforço derrota a punição”
O título dessa seção refere-se a um item do capítulo do livro de Feldman sobre condicionamento operante. 
Nele, o autor conta que a punição é utilizada com frequência por pais como caminho mais rápido para mudar um comportamento que não deve continuar ocorrendo. Um pai pode não ter uma segunda chance de advertir uma criança a não correr em uma rua movimentada, e assim, punir a primeira ocorrência desse comportamento pode ser sábio. Em alguns casos de crianças autistas que costumam ferir-se rasgando a pele ou batendo a cabeça na parede, lhes são dados pequenos choques elétricos para extinguir esse tipo de comportamento autodestrutivo (pelo menos até uma outra solução ser tomada).
Contudo, a punição apresenta diversas desvantagens. 
A punição costuma ser ineficaz se não for aplicada logo após o comportamento indesejável. 
Ela também é ineficaz se o indivíduo recebendo a punição puder sair do ambiente em que ela está sendo aplicada (um trabalhador que é repreendido pelo chefe, por exemplo, pode sair da firma ao invés de melhorar seu comportamento). 
A punição pode transmitir ao receptor a ideia de que agressão física é uma coisa permissível. Pais que batem nos filhos ensinam que a agressão é uma resposta aceitável para certos comportamentos. 
A punição pode diminuir a autoestima do indivíduo que a recebe se ele não compreender as razões por que está sendo punido.
A punição não fornece informação sobre qual seria um comportamento alternativo mais desejado. 
Para contribuir para comportamentos mais desejáveis no futuro, a punição deve ser acompanhada por informações sobre o comportamento que está sendo punido e informações sobre como o comportamento pode ser melhorado. Em síntese, reforçar um comportamento desejado é uma técnica mais apropriada para modificar o comportamento do que simplesmente o uso de punição.
2.5. Referências
CANÇADO, C. R. X.; SOARES, P. G.; CIRINO, S. D. O behaviorismo: uma proposta de estudo do comportamento. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2015, p. 205-222.
FALCONE, E. M. O. As bases teóricas e filosóficas das abordagens cognitivo-comportamentais. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2015, p. 223-244.
FELDMAN, R. S. Introdução à Psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S.E. História da Psicologia Moderna. 16. ed. São Paulo: CULTRIX, 2002.
3 – NEOCOMPORTAMENTALISMO: BANDURA E ROTTER
3.1. Introdução
Em 1930, o comportamentalismo em suas formas metodológica e radical havia vencido todas as abordagens anteriores (estruturalismo e funcionalismo) nos Estados Unidos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Ao final dos anos 1960 iniciou-se um movimento de insatisfação com os modelos estritamente comportamentais. Embora muitos modelos de condicionamento tenham apontado a existência de processos cognitivos, eles só foram estudados amplamente a partir daí (FALCONE, 2015).
As correntes neocomportamentalistas apresentam, relativamente ao Behaviorismo, concepções mais complexas e elaboradas a respeito da aprendizagem. Essas teorias entendem a aprendizagem como mudanças observáveis de comportamento (FIGUEIREDO, s.d.). 
Para esses estudiosos, as variáveis estímulo, resposta e condicionamento não eram suficientes para o entendimento da aprendizagem, sendo assim necessário compreender os detalhes cognitivos dos processos mentais que afetam o ser humano. Conceitos como “empatia”, “motivação” e “percepção” estariam ligados a esse pensamento (FALCONE, 2015). 
Ainda de acordo com Falcone (2015), outro ponto fundamental do neocomportamentalismo é o papel do ambiente no processo de aprendizagem, que serve como mecanismo de apoio sobre o indivíduo. Em consequência deste apoio, a mudança do ou no ambiente pode, possivelmente, causar a mudança do comportamento do indivíduo.
Dois representantes do movimento neocomportamentalista serão estudados a seguir: Albert Bandura e Julian Rotter.
3.2. Bandura
Albert Bandura (1925-) é um psicólogo canadense naturalizado americano. No período em que desenvolveu seu mestrado e doutorado, Bandura foi influenciado pelo comportamentalismo e pela teoria da aprendizagem. A partir do início dos anos 1960, ele propôs uma versão do comportamentalismo inicialmente definida como abordagem sócio-comportamentalista, mas depois denominada teoria cognitiva social (BANDURA, 1986 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Bandura realizou experimentos de forma sistemática e replicável, concentrando sua atenção na observação do comportamento de sujeitos humanos em interação. Além disso, foi um dos críticos mais poderosos do modelo operante de condicionamento (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).Albert Bandura.
Para Bandura, um dos problemas do modelo operante é que ele pressupõe que o indivíduo somente aprenderá após a ocorrência de reforçadores que se sucedem a sua resposta. Se toda aprendizagem ocorresse por meio desse condicionamento, seria difícil aprendermos a pilotar um avião, por exemplo. Segundo o autor, comportamentos podem ser aprendidos mesmo na ausência de reforços diretamente vivenciados (FALCONE, 2015).
A teoria de aprendizagem de Bandura por modelação (observação dos comportamentos e das consequências destes em outras pessoas) não pressupõe tentativa, se dá pela simples observação, sem a necessária reprodução do comportamento. Uma parte considerável da aprendizagem social é desenvolvida pela exposição a modelos da vida real que desempenham, intencionalmente ou não, padrões de comportamento que podem ser imitados pelos outros. Nos grupos sociais, estamos constantemente imitando atitudes de algumas pessoas e ao mesmo tempo sendo modelo para outras (FALCONE, 2015).
Para demonstrar sua teoria de aprendizagem por modelação, Bandura realizou em 1961 o famoso experimento do “Jõao Bobo" com crianças. Nesse estudo, ele e sua equipe queriam verificar se a observação de comportamentos agressivos levaria à imitação dos comportamentos agressivos por crianças.
Inicialmente, as crianças participantes do experimento foram divididas em três grupos. O primeiro grupo de crianças assistiu um modelo (homem adulto) agredindo um boneco João-Bobo em uma sala cheia de brinquedos. O segundo grupo assistiu um outro modelo brincando com o boneco João-Bobo na sala cheia de brinquedos. O terceiro grupo não assistiu nenhum modelo. 
Após isso, as crianças eram convidadas a entrar numa sala cheia de brinquedos em que podiam interagir com os bonecos. As crianças que haviam observado o modelo agressivo também agiram de forma agressiva com o boneco João-Bobo, batendo, chutando, jogando e gritando com ele, bem mais do que as crianças dos outros dois grupos. Experimento com o boneco João-Bobo, importante para a teoria social-cognitiva.
O fato mais surpreendente evidenciado pelo experimento foi de que as crianças mudaram seu comportamento sem que tivessem sido recompensadas por suas aproximações ao novo comportamento, o que não se encaixava ao padrão de aprendizagem por condicionamento. Com isso, Bandura demonstrou que o comportamento é formado e modificado em situações sociais, ou seja, na interação com outras pessoas (FELDMAN, 2015).
A modelação, para Bandura, envolveria processos cognitivos como atenção, julgamento sobre o modelo e as consequências do comportamento. O conceito mais importante da teoria de Bandura é o de auto-eficácia, descrita como nosso sentido de auto-estima, sensação de eficiência para lidar com os problemas da vida. A força da convicção da pessoa sobrea sua própria eficácia influencia no quanto ela vai tentar enfrentar as situações dadas, impactando na iniciação e persistência de seus comportamentos. Pessoas com baixo senso de auto-eficácia desistem mais facilmente de tentar resolver problemas se seus esforços iniciais fracassam (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Ainda de acordo com Schultz e Schultz (2002), pesquisas mostram que essas crenças afetam muitos aspectos do comportamento humano, incluindo a escolha de carreira, a persistência em procurar o emprego certo, a excelência com que realizamos nosso trabalho e muitos elementos vinculados com a nossa saúde física e mental.
3.3. Rotter
Julian Rotter (1916-2014) foi o primeiro psicólogo americano a usar o termo “teoria da aprendizagem social”. Assim como Bandura, Rotter criticou Skinner por estudar sujeitos individuais isolados, afirmando que aprendemos nosso comportamento em interações sociais. Rotter estudou sujeitos humanos em interação social em laboratório (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). 
Para o autor, as pessoas sempre percebem a si mesmas como seres conscientes, capazes de influenciar as experiências que afetam a vida. O comportamento humano seria afetado tanto por estímulos externos como pela natureza, sempre mediados por fatores cognitivos. Esses fatores que afetam o comportamento são:
1) Expectativas que possuímos acerca do resultado do nosso comportamento.	
2) Estimativas da probabilidade de que um comportamento particular leva a um certo reforço, a partir das quais ajustamos nosso comportamento.	
3) Atribuição de valores e graus de importância a diferentes reforços em diferentes situações.	
4) Expectativas e experiências subjetivas, que determinam os efeitos que diferentes experiências externas têm sobre nós.	Julian Rotter.
Portanto, para Rotter, o comportamento depende da percepção que temos de cada situação (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
A teoria de Rotter também se ocupa das nossas crenças acerca da fonte de controle do nosso reforço. Para ele, algumas pessoas têm um centro de controle interno, e outras, externo. Pessoas com centro de controle interno acreditam que o reforço depende de seu próprio comportamento, e pessoas com centro de controle externo acreditam que o reforço depende de forças exteriores. Esse último grupo de pessoas acredita que suas respostas pouca diferença fazem em termos dos reforços que recebem, e por isso não tentam muito melhorar ou mudar sua situação. Pessoas de centro de controle interno acreditam que estão no controle de sua vida (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Os estudos de Rotter sobre os centros de controle interno e externo proporcionaram o fundamento de novas pesquisas em várias disciplinas. O seu quadro pioneiro de aprendizagem social transformou as abordagens comportamentais da personalidade e da psicologia clínica (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
3.4. Apropriação crítica: o que governa a aprendizagem observacional?
O artigo de João Serapião Aguiar, “Aprendizagem Observacional”, traz quatro subprocessos que governam e determinam a aprendizagem observacional, de acordo com a teoria social cognitiva de Bandura.
Processos de atenção: o sujeito precisa prestar atenção no modelo para imitar seu comportamento. A atenção permite a seleção de estímulos que funcionarão como modelo.
Processos de retenção: o sujeito precisa ser capaz de se lembrar do que observou. Segundo Bandura, a aprendizagem observacional poderia ser facilitada pela introdução de pistas que chamassem atenção para aspectos que deveriam ser observados e memorizados pelo observador.
Processos de produção: o sujeito precisa ser capaz de reproduzir o que observou. Ele envolve análise das consequências do comportamento e uma elaboração do comportamento.
Processos motivacionais: o sujeito deve estar motivado para cogitar realizar um comportamento. Envolve imaginar e antecipar. Daí a relevância de bandura dada ao senso de auto-eficácia, a confiança que a pessoa deposita em suas capacidades de alcançar objetivos em situações específicas.
 3.4. Referências
AGUIAR, J. S. Aprendizagem Observacional. Revista de Educação, PUC-Campinas, v. 3, n. 5, p. 64-68, 1998. Disponível em <https://periodicos.puc-campinas.
edu.br/seer/index.php/reveducacao/article/viewFile/438/418>. Acesso em 25 de novembro de 2017.
FALCONE, E. M. O. As bases teóricas e filosóficas das abordagens cognitivo-comportamentais. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2015, p. 223-244.
FELDMAN, R. S. Introdução à Psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.
FIGUEIREDO, D. D. L. As abordagens comportamentalistas e neocomportamentalistas. Disponível em < http://nead.uesc.br/arquivos/Biologia/blo
co2/M2_EP_U2.pdf>. Acesso em 24 de novembro de 2017.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S.E. História da Psicologia Moderna. 16. ed. São Paulo: CULTRIX, 2002.
4 – A PSICANÁLISE: FREUD
4.1. Introdução
O termo psicanálise e o nome Sigmund Freud (1856 – 1939) estão entre os mais importantes da história da civilização por modificarem a maneira como pensamos a nosso próprio respeito (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Quando Freud lançou seu primeiro livro em 1895 na Áustria, o funcionalismo estava começando a se desenvolver nos Estados Unidos. Ao contrário de Wundt e Titcher, à época, a psicanálise não surgiu no âmbito da psicologia acadêmica (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). 
O surgimento da psicanálise se deu na Europa pós-Iluminista, onde eram amplamente aceitas ideais da ciência pragmática e do Positivismo, o que fez com que a ciência empírica tomasse lugar de preceitos e dogmas religiosos. Já nos estudos em medicina, Freud observava na universidade de Viena a idéia de grande valorização da razão e do pensamento científico. Logo, a psicanálise foi desenvolvida em um ambiente marcado pela crítica racional científica e hostilidade em relação a pensamentos contrários a isso (RODRIGUES; GROPPO, 2013). 
4.2. Influências sobre a Psicanálise
Bock, Furtado e Teixeira (2009) descrevem quatro principais influências sobre a obra de Freud:
1) Associacionismo derivado do empirismo inglês, que argumentava que o funcionamento de toda a vida mental humana ocorreria a partir de associações, combinações e conexões de idéias com origem nas sensações proporcionadas pela experiência e pelos sentidos. 
2) O Estruturalismo, que na psicanálise freudiana assume a função de formar o psiquismo através de estruturas comuns a todos os indivíduos, variando sua manifestação de acordo com a cultura e sociedade.
3) A obra de Charles Darwin, que, ao propor uma linha sucessória na evolução das espécies, estimula a psicologia a pensar o ser humano como animal primitivo e então explorar seus mais naturais impulsos como moduladores do comportamento humano complexo. As idéias de Darwin são frequentemente exploradas na medida em que Freud se propõe a explicar determinados comportamentos a partir de necessidades básicas da espécie, como por exemplo, sexualidade.
4) Jean-Martin Charcot. Charcot foi um dos mestres de Freud no Hospital de Salpêtrière e com ele estudou e ajudou pacientes com sintomas histéricos. Por Charcot, Freud foi apresentado à técnica da hipnose, método que permitia o tratamento de diversas perturbações de ordem psíquica, em especial a histeria. 
4.3. Alguns conceitos da teoria psicanalítica freudiana
Freud nomeou a mente humana de psique e a comparou com um iceberg. Ele propôs uma estrutura de controle composta pelo id (constituído de impulsos primitivos e que obedece ao Principio do Prazer, segundo o qual todo desejo deve ser imediatamente satisfeito), pelo ego (que atua sob comando do Princípio da Realidade, segundo o qual não podemos ter tudo o que desejamos) e pelo superego, (voz internalizada dos pais e do código moral da sociedade). Essas estruturas seriam forças contraditórias que causariam conflitos psicológicos subjacentes a todo o sofrimento humano. 
Freud inventou o método terapêutico especifico da psicanalise e chamou de livre associação, a fim desubstituir o hipnotismo no tratamento da neurose. A associação livre e os sonhos formam o que Freud chama de via régia para o inconsciente. Na associação livre o paciente é orientado a dizer o que lhe vier à cabeça. É essencial que ele se obrigue a informar literalmente tudo que ocorrer à sua auto percepção, não dando margens a objeções críticas que procurem pôr certas associações de lado, com base no fundamento de que sejam irrelevantes ou inteiramente destituídas de sentido. A psicanálise valoriza mais o inconsciente que o consciente do sintoma, por isso a  associação livre é como regra fundamental da psicanálise, constitui um convite a que o sujeito da experiência tome distância da consciência, como condição de poder dizer a verdade sobre o sintoma que o invade (MOURA, 2009).
Os estágios psicossexuais propostos por Freud descrevem a personalidade como sendo desenvolvida ao longo da infância através de uma serie de estágios em que as energias da busca do prazer do ID tornam-se focadas em determinadas áreas erógenas. A libido seria uma energia por trás da maioria dos comportamentos. Se os estágios psicossexuais fossem concluídos com êxito, formaria-se uma personalidade saudável. Se não, fixações poderiam ocorrer. A fixação é um foco persistente em um estágio psicossexual. Até que este conflito seja resolvido, o indivíduo mantém-se “preso” nesta fase. Por exemplo, uma pessoa que está fixada na fase oral pode buscar essa estimulação fumando ou bebendo (CHERRY, 2016).
Os sonhos seriam fenômenos psíquicos em que realizamos desejos inconscientes. Satisfaz-se o desejo, porém continua-se a dormir. O homem precisaria dormir para descansar o corpo e principalmente, para sonhar. Quando o homem dorme, a consciência “desliga-se” parcialmente para que o inconsciente entre em atividade, produzindo o sonho através do id, os desejos reprimidos (LOPES, 2012). 
4.4. Legado
Freud foi muito importante para a formação da teoria do inconsciente e sobre as forças que atuam sobre o desenvolvimento. Além disso, mostrou que alguns problemas mentais não tinham origem biológica, mas psicológica, propondo a psicoterapia para tratar tais problemas, e não eletrochoque, lobotomia, etc. Formalizou de modo cientifico os pensamentos de alguns filósofos que tratavam do inconsciente e desenvolveu a teoria psicossexual do desenvolvimento, que mostrou que as crianças já possuem sexualidade e que os seres humanos são movidos por conflitos. Além disso, a contribuição mais importante foi o lançamento das bases para uma escola muito influente até os dias atuais (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
4.5. Apropriação crítica: “O Espelho” e a psicanálise
Em seu blog pessoal, Francisco Pinheiro traz uma breve análise do filme “Stalker”, do cineasta russo Andrei Tarkovski, sob a perspectiva psicanalítica.
Na trama, existe um lugar denominado “Zona” em que, segundo lendas locais, todos os seus desejos podem ser realizados. Com receio das possíveis consequencias da entrada de alguém no lugar, a políticia vigia o local constantemente e proíbe a entrada de qualquer pessoa. Os “Stalkers” são pessoas que têm a habilidade de entrar e sobreviver na Zona. Assim, um escritor e um cientista que querem entrar lá contratam um stalker para guiá-los, passando por rotas misteriosas.
A conclusão da análise de Francisco é que a Zona representaria o inconsciente, em que todos os desejos podem ser realizados. No filme, percebe-se a questão do desejo humano e a busca por satisfazer esses desejos (entrando na zona). Na verdade, o filme representa toda a influência que o cinema sofreu após o surgiento da psicanálise. O próprio fato de o filme ter poucas falas, não explicitar nomes de personagens, tempo e local da história também remetem para um mundo inabitado, desconhecido e que guarda segredos, assim como o inconsciente na obra de Freud. 
4.6. Referências
BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 
CHERRY, K. As 5 fases do desenvolvimento psicossocial segundo Freud. Blog Psicoativo. 2016. Disponível em <http://psicoativo.com/2016/04/as-5-fases-do-desen
volvimento-psicossexual-de-freud.html>. Acesso em 26 de novembro de 2017.
LOPES, R. B. Os sonhos na concepção de Freud. Blog PSICOLOGADO Artigos. 2012. Disponível em <https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/os-sonhos-na-concepcao-de-freud> . Acesso em 26 de novembro de 2017.
MOURA, J. O método da associação livre. Blog PSICOLOGADO Artigos. 2009. Disponível em <https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/o-metodo-da-associ
acao-livre>. Acesso em 26 de novembro de 2017.
PINHEIRO, F. Stalker, vestígios da influência psicanalítica freudiana na obra de Andrey Tarkovsky. Blog Um Francisco, 2011. Disponível em < https://umfrancisco.w
ordpress.com/2011/05/08/stalker-vestigios-da-influencia-psicanalitica-freudiana-na-o
bra-de-andrey-tarkovsky/>. Acesso em 26 de novembro de 2017.
RODRIGUES, M. H.; GROPPO, L. A. O contexto científico na formação da psicanálise e a figura de Sigmund Freud perante a religião. Revista Eletrônica de Filosofia, v. 10, n. 2, p. 247-258, 2013. 
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S.E. História da Psicologia Moderna. 16. ed. São Paulo: CULTRIX, 2002.
5 – A PSICANÁLISE: PÓS-FREUDIANOS
5.1. Introdução
Vinte anos após a fundação da Psicanálise, o movimento dividiu-se em várias correntes que adotaram mais ou menos pontos desenvolvidos por Freud, corrigindo o que consideravam inadequações nas formulações freudianas.
Os neofreudianos aceitavam os fundamentos e premissas centrais da psicanálise, mas ao longo dos anos modificaram e ampliaram certos aspectos do sistema freudiano. Além disso, eles diminuíam a ênfase sobre as forças biológicas como influências sobre a personalidade e favoreceram as forças sociais e psicológicas. O desenvolvimento da personalidade, para os pós-freudianos, seria determinado mais por forças psicossociais do que psicossexuais (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Freud reagiu com desaprovação aos que abandonaram seus ensinamentos.
A seguir encontram-se as ideias de cinco pensadores pós-freudianos.
5.2. Carl Jung (1875-1961)
Jung iniciou o que se denomina “psicologia analítica”, em total desacordo com a teoria freudiana. Os dois permaneceram unidos por um tempo mas devido à divergências de pensamento, precisaram seguir cada um seu próprio caminho (SILVEIRA, s.d.).
Jung estudou mitologia, cultura e literatura, religião e alquimia, interessado em saber os efeitos psíquicos desses temas nos homens e em fazer analogia com o funcionamento da psique (SILVEIRA, s.d.).	
Na psicologia analítica,  o psicólogo deixaria o paciente livre, mas fazendo intervenções quando necessário e conduzindo ou orientando o discurso de modo a manter o indivíduo nele, não permitindo que ele perca o foco e vá para caminhos que, muitas vezes, podem ser distrações a serviço da resistência e de mecanismos de defesa. Além disso, a psicologia analítica utiliza também outras ferramentas além do discurso verbal. Elas podem ser expressões artísticas de todos os tipos, como desenhos, pinturas, associação de mitologia e contos de fadas ao discurso do paciente... Todas essas técnicas proporcionam o diálogo entre consciente e inconsciente, ativando o desenvolvimento da personalidade (SILVEIRA, s.d.).Carl Jung.
Assim como Freud, Jung aceita a existência do inconsciente, um repositório de memórias e puls]oes reprimidas da consciência. No entanto, Jung acrescentou que o inconsciente possuía outro aspecto além do pessoal, que seria sua parte coletiva, onde estariam presentes os arquétipos, que são imagens primordiais herdadas por todos devido ao fato de tais situações terem se repetido tantas vezes nas psiques na história da humanidade (SILVEIRA, s.d.).
A psicologia junguiana está basicamente interessada no equilíbrio entre os processos conscientes e inconscientes e no aperfeiçoamento do intercâmbio dinâmico entre eles, lutando sempre contra a unilateralidade e buscando sempre o equilíbrio entre os pares de opostos, conscientizando-ose integrando-os à consciência (SILVEIRA, s.d.).
5.3. Anna Freud (1895-1982)
A filha mais nova de Freud trabalhou principalmente com o desenvolvimento teórico e terapêutico da psicanálise em crianças. Como o pai, ela também pensou a constituição do sujeito a partir de seus instintos (ATIE, s.d.). 
Anna Freud acreditava que a análise infantil era completamente distinta da análise adulta. Isto porque dada a imaturidade da criança, lhe faltariam muitas qualidades e posturas essenciais para se efetivar um tratamento psicanalítico. Assim, a autora se dedicou ao estudo dos aspectos que diferenciariam a análise de crianças da de adultos (ATIE, s.d.). 
Um dos aspectos fundamentais que afetaria as reações terapêuticas dos adultos e das crianças, é a motivação para o tratamento. Enquanto o paciente adulto é motivado a procurar ajuda visando à normalidade, isto é, tem uma expectativa de êxito, seja ela direcionada para o trabalho ou para o prazer sexual, para a criança a procura de tratamento se dá através de uma ótica completamente diferente: na criança, a motivação para o tratamento passa pela dependência em relação a seus pais, já que a procura deste não é realizada pelo próprio paciente, mas por seus responsáveis. Nesse sentido, a criança que vai ao encontro do analista sofre uma influência dos pais (ATIE, s.d.).
Anna Freud propôs um trabalho analítico para crianças que tenha como objetivo o fortalecimento do ego do paciente, a fim de dar-lhe condições de fazer uma adaptação bem-sucedida à realidade. Deveria-se conscientizar a criança da sua doença e incutir nela sentimentos de confiabilidade em relação à análise e ao analista, instalando um vínculo forte que impeça a interrupção do trabalho de análise (ATIE, s.d.).
Na obra de Anna Freud, mais importante do que pensar a constituição da subjetividade, tida como inata, é tentar reconstruir essa subjetividade na intenção de adaptá-la à realidade (ATIE, s.d.).Anna Freud.
5.4. Melanie Klein (1882-1960)
Melanie Klein aprofundou-se na dimensão psicológica da teoria psicanalítica, com o intuito de estudar a mente das crianças de tenra idade, suas fantasias, medos, angústias, etc (OLIVEIRA, 2007). 
Sua primeira tarefa foi desenvolver uma técnica de análise que viabilizasse o acesso ao inconsciente da criança, já que não é esperado que uma criança pequena colabore com a técnica da associação livre. Ela desenvolveu então a análise através da brincadeira: por meio da atividade lúdica (brinquedos, desenhos, jogos, bolas, bonecas), a autora interpretava as fantasias, as angústias, e outras manifestações do inconsciente da criança, as quais eram expressas de maneira simbólica (OLIVEIRA, 2007). 
Dois conceitos importantes da teoria de Klein são “posição esquizo-paranóide” e “posição depressiva”. Estes seriam períodos normais do desenvolvimento de crianças, instalados por necessidade (OLIVEIRA, 2007). 
O bebê nasceria imerso na posição esquizo-paranóide, cujas principais características são a fragmentação do ego; a divisão do objeto externo (o seio da mãe) em seio bom e seio mau – o primeiro é aquele que a gratifica infinitamente enquanto o segundo somente lhe provoca frustração – agressividade e realização de ataques sádicos dirigidos à figura materna (OLIVEIRA, 2007). 
A partir da elaboração e superação destes sentimentos emerge a posição depressiva. Esta tem como principais atributos: a integração do ego e do objeto externo (mãe/seio), sentimentos afetivos e defesas relativas à possível perda do objeto em decorrência dos ataques realizados na posição anterior. Estas posições continuam presentes pelo resto da vida, alternando-se em função do contexto, embora a posição depressiva predomine num desenvolvimento saudável (OLIVEIRA, 2007).Melanie Klein.
5.5. Apreciação crítica: Donald Winnicott (1896-1971)
Winnicott, pediatra e psicanalista, constatou que boa parte dos problemas emocionais parecia ter origem nas etapas precoces do desenvolvimento. 
Seus estudos concentraram-se na relação mãe-bebê, pois para ele as bases da saúde mental de qualquer indivíduo são moldadas na primeira infância pela mãe, através do meio ambiente fornecido por esta (Winnicott, 1948). Em seu trabalho, Winnicott focaliza no crescimento emocional do bebê e também nas qualidades da mãe para satisfazer as necessidades específicas do bebê (Valler, 1990 apud SANTOS, s.d.).
Para esse autor, um bebê não existe sozinho, é parte de uma relação. Sempre que encontramos um bebê, encontramos a maternagem, alguém que exerça a função de mãe e proporcione um ambiente onde o bebê possa evoluir e desenvolver seu potencial de desenvolvimento. (SANTOS, s.d.).
Como os bebês possuem uma dependência absoluta no início da vida, eles precisam de uma mãe que esteja identificada com eles, que seja capaz de atender prontamente às suas necessidades. Se a mãe proporciona uma adaptação suficientemente boa, a linha de vida da criança é perturbada muito pouco por reações à intrusão. A falha materna prolongada provoca fases de reação à intrusão e as reações interrompem o desenvolvimento do bebê. Todas as experiências que afetam o bebê seriam armazenadas em seu sistema de memória, possibilitando a aquisição de confiança no mundo, ou pelo contrário, de falta de confiança (Winnicott, 1999 apud SANTOS, s.d.).Donald Winnicott.
Winnicott fala em maternagem “suficientemente boa” para fortalecer o ego materno e do bebê, satisfazendo a sua dependência absoluta (SANTOS, s.d.). Daí a importância dos sentimentos da mãe durante a gestação, parto e puerpério e do desenvolvimento de um estado psicológico denominado por ele de “preocupação materna primária”, para se avaliar a qualidade do vínculo mãe- bebê. A “preocupação materna primária” se caracteriza como um estado de verdadeira fusão emocional com seu bebê. Somente neste estado a mãe consegue sentir-se no lugar do seu bebê (capacidade de empatia), correspondendo às suas necessidades.
Nos primeiros meses da vida do bebê, a “mãe suficientemente boa” assume a função de holding. O Holding, caracterizado pela maneira como o bebê é sustentado no colo pela sua mãe, significa a firmeza com que é amado e desejado como filho. No início do desenvolvimento o cuidado com o bebê se dá em torno do termo “segurar”. O “segurar” o bebê - pegando-o no colo com firmeza, impedindo que caia, acalentando-o, aquecendo-o, amamentando-o, etc. – pode resultar em circunstâncias satisfatórias e acelerar o processo de maturação. Com a repetição desses cuidados a mãe ajuda o bebê a assentar os fundamentos de sua capacidade de sentir-se real (Winnicott, 1999 apud SANTOS, s.d.).
5.6. Referências
ATIE, F. Anna Freud: o analista como educador. Disponível em < http://www.psy.m
ed.br/textos/frida_atie/textos/dissertacao_frida_atie/annafreud_atie.pdf>. Acesso em 25 de novembro de 2017.
OLIVEIRA, M. P. Melanie Klein e as fantasias inconscientes. Winnicott E-prints, v. 2, n. 2, p. 80-98, 2007. Disponível em <https://files.comunidades.net/psicanjeremias/Mel
anie_Klein_e_as_fantasias_do_inconsciente.pdf>. Acesso em 25 de novembro de 2017.
SANTOS, C. A relação mãe-bebê: uma visão winnicottiana. PUC-Rio. Disponível em <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/4350/4350_5.PDF>. Acesso em 25 de novembro de 2017.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S.E. História da Psicologia Moderna. 16. ed. São Paulo: CULTRIX, 2002.
SILVEIRA, R. S. Principais conceitos da psicologia analítica de Jung. Centro Apoio – Departamento Psicológico. Disponível em <http://www.apoiopsicologico.psc.br/prin
cipais-conceitos-psicologia-analitica-jung/>. Acesso em 27 de novembro de 2017.
6 – A FENOMENOLOGIA
6.1. Introdução
O pensamento de Edmund Husserl (1859-1938) deu origem a uma das mais férteis correntes da filosofia moderna: a fenomenologia. Essa corrente influenciou o movimento existencialista, e juntas as duas escolas constituem uma das importantes matrizes filosóficas da psicologia do século XX (SÁ, 2015).
A palavra fenomenologia vem do grego phainómenon, que se traduz como: “aquilo que se manifesta”e vem também de logia que é traduzido como: “estudo”, desse modo, etimologicamente falando, fenomenologia pode ser entendida como “estudo daquilo que se manifesta”. O termo já havia sido usado por Aristóteles, Kant e Hegel, mas foi Husserl que aprofundou o estudo e uso do termo e deu um conteúdo novo à essa palavra (BELLO, 2004).Edmund Husserl.
A fenomenologia husserliana propõe a observação e descrição prévia do fenômeno, sem que aquele para o qual o fenômeno se mostra esteja mergulhado em seus pré-conceitos. A fenomenologia estuda um conjunto de fenômenos e define como eles se manifestam, seja através do tempo ou do espaço. Essa matéria estuda a essência das coisas e como elas são percebidas no mundo (BELLO, 2004). 
A fenomenologia mostrou-se uma alternativa muito boa para a estruturação de uma abordagem para o estudo do homem no inicio do século XIX, quando os psicólogos começaram a questionar a adequação do modelo das ciências naturais para a psicologia científica (SÁ, 2015). 
6.2. O pensamento de Husserl
Husserl sugere para a filosofia uma atitude crítica, na qual deve-se apresentar evidências para que algo seja admitido, a fim de evitar construções metafísicas (SÁ, 2015). 
A “epoché” husserliana consiste numa suspensão momentânea da “atitude natural” com a qual nós nos relacionamos com as coisas do mundo. Isso consiste em deixar provisoriamente de lado todos os preconceitos, teorias, definições, etc., que usamos para conferir sentido às coisas. Tal suspensão da nossa atitude natural diante do mundo tem como finalidade apreender na consciência as coisas no sentido de captá-las como elas são em si mesmas: "a fenomenologia procura enfocar o fenômeno, entendido como o que se manifesta em seus modos de aparecer, olhando-o em sua totalidade, de maneira direta, sem a intervenção de conceitos prévios que o definam e sem basear-se em um quadro teórico prévio que enquadre as explicações sobre o visto" (NASCIMENTO, s.d.). 
Segundo Husserl, os objetos do mundo se apresentam sob diversas perspectivas. Uma cadeira diante de mim pode ser apreendida sob diversas variações de perfil. Na epoché, o objeto deve ser submetido às diversas variações possíveis de perfil no intuito de se apreender a essência desse mesmo objeto, isto é, aquilo que permanece inalterado nele. Nesse sentido, a redução fenomenológica (epoché) seria uma maneira de se depurar o fenômeno a fim de se alcançar o objeto com total evidência. (DARTIGUES, 2005, p. 25).
Dito de outra forma, a atitude fenomenológica ou transcendental significa uma reestruturação da nossa compreensão natural do mundo, o qual não é visto mais como algo “em si” e “por si”, simplesmente posto ao sujeito que dele faz experiência. Ele se torna correspondente intencional da consciência (TRIPICCHIO, 2008). 
A fenomenologia por assim dizer, pode ser entendida como o estudo metodológico que procura entender a vivência dos pacientes no mundo em que vivem e como eles ainda percebem o mundo. Essa é uma matéria que busca estudar a essência das coisas e como elas são percebidas no mundo. Propõe ainda que as coisas existem a partir da significação que se dá a elas, colocando que o material só é material pois, atribuímos isso a ele.
6.3. Influência de Husserl para a psicologia
A partir da fenomenologia “pura” de Husserl, muitos pesquisadores desenvolveram aplicações do método fenomenológico, dirigido a estudar a relação entre o sujeito e o mundo: as fenomenologias da percepção, da imaginação, da emoção, da linguagem, das religiões, etc. Alguns dos mais famosos expoentes do pensamento fenomenológico foram Martin Heidegger (1889-1976) e Jean-Paul Sartre (1905-1980). No entanto, a influência mais direta da fenomenologia foi sobre a psicologia da Gestalt (SÁ, 2015).
6.4. Apropriação crítica: o Existencialismo
Em seu artigo “As influências da fenomenologia e do existencialismo na psicologia”, Roberto Sá identifica as duas correntes como importantes linhas de força no campo de produções e pesquisas atuais em psicologia.
O movimento filosófico e cultural existencialista surgiu no período entre guerras na França, sendo seu principal articulador o filósofo Jean-Paul Sartre. 
O existencialismo é derivado dos termos “essência” e “existência”. As filosofias da Existência surgirão como uma oposição a toda filosofia clássica a qual é entendida como o estudo das essências, cuja ideia principal seria a compreensão das dimensões estáveis. Os filósofos da existência vão redirecionar as perguntas sobre o homem. Em vez de “o que é o homem” se perguntarão “quem é o homem?”
A força do movimento existencialista na década de 20 pode ser explicada pelo período de muito sofrimento, desespero e angústias que marcou o entreguerras. Estes temas se tornaram os preferidos dos existencialistas, pois estes se preocupavam em falar e refletir sobre o que o homem estava vivendo naquele instante. Existência, ser-no-mundo, liberdade, o outro, a angústia, temporalidade, amor... Esses foram alguns temas abordados pelos filósofos existencialistas. Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.
Os filósofos da existência utilizaram, cada um a partir de uma inspiração pessoal, o método fenomenológico para concretizarem as suas reflexões sobre o homem. A Filosofia da existência pode ser concretizada através de duas grandes características: a primeira é que todos os filósofos e escritores procuram valorizar o homem. A segunda é que todos procuram descrever e explicitar o modo concreto do homem viver, isto é, refletindo sobre a angústia, a liberdade. 
O movimento Existencialista se expandiu fora do contexto europeu a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. Os anos 1950 são considerados como a década de divulgação do movimento existencialista. 
6.5. Referências
BELLO, A. A. Fenomenologia e ciências humanas: psicologia, história e religião. Bauru: EDUSC, 2004.
DARTIGUES, A. O que é a fenomenologia?. São Paulo: Centauro, 2005.
GIOVANETTI, J. P. Impactos das ideias humanistas, fenomenológicas e existenciais na Psicoterapia. Disponível em <https://www.galaxcms.com.br/imgs_re
dactor/1176/files/02%Existencialismo%20humanismo%20e%20fenomenologia.pdf>. Acesso em 25 de novembro de 2017.
NASCIMENTO, C. L. A centralidade da epochê na fenomenologia husserliana. Instituto de Psicologia Fenomenológica. Disponível em: <http://www.ifen.com.br/artigo
s/artigo02.pdf>. Acesso em: 26 out. 2017.
SÁ, R. N. As influências da fenomenologia e do existencialismo na psicologia. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2015, p. 361-380.
TRIPICCHIO, A. Fenomenologia. Blog Rede Psi, 2008. Disponível em: <http://www.r
edepsi.com.br/2008/02/12/fenomenologia/>. Acesso em: 19 out 2017.
7 – A GESTALT
7.1. Introdução
Enquanto o Behaviorismo de Watson e Skinner ia se desenvolvendo nos Estados Unidos, surgiu o movimento Gestalt na Alemanha, entre 1910 e 1912 (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). 
Naquela época, a física se tornava menos atomista à medida que físicos iam reconhecendo e aceitando a noção de campo de força. A noção de atomismo, que tivera tanta influencia no estabelecimento da psicologia, estava sendo reconsiderada. Os físicos estavam começando a pensar em termos de campos ou todos orgânicos – um conceito compatível com a psicologia da Gestalt (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
O Movimento Gestalt constituiu-se como um protesto contra um dos aspectos da psicologia wundtiana: o atomismo ou elementarismo. Os psicólogos gestaltistas criticavam a noção de Wundt de que os elementos da mente eram mantidos juntos pelo “simples” processo de associação e também interpretaram erroneamente que Wundt afirmou que nossa percepção dos objetos constituiria somente na acumulação de elementos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). 
Os gestaltistas acreditavam que havia mais coisas na percepção do que simplesmente visto pelos nossos olhos, e que nossa percepção ia além dos elementos sensoriais fornecidos pelos órgãos dos sentidos. O principal objeto de estudo dessa abordagemé a percepção (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Segundo Schultz e Schultz (2002), as ideias da Gestalt têm quatro grandes influências:
Os trabalhos de Immanuel Kant (1724-1804), que afirmava que, quando percebemos o que denominamos objetos, nossa mente organiza esses elementos sensoriais de uma forma significativa, criando uma experiência única e coerente de percepção.
O professor de física Ernst Mach (1838-1916), que escreveu que nossa percepção de um objeto não muda mesmo que modifiquemos nossa orientação espacial com relação a ele. Por exemplo, uma mesa permanece como tal em nossa percepção se a olhamos de lado ou de cima. 
Christian von Ehrenfels (1859-1932), que ampliou as ideias de Mach. Para ele, a mente se configurava a partir de sensações elementares.
A fenomenologia, uma descrição imparcial da experiência imediata tal como ela ocorre. Envolve experiências ingênuas, e não relatadas por um introspector treinado que segue uma orientação sistemática particular.
Em 1910, Max Wertheimer lançou uma pesquisa sobre percepção de movimento aparente que marca o início formal da Gestalt. Em seu experimento, ele direcionou um feixe de luz para uma tela, onde formou-se um ponto. Então, apagou essa luz e acendeu outra ao lado, formando outro ponto, que depois também se apagara, e repetiu o procedimento cada vez com intervalos menores entre um feixe de luz e outro. Ao diminuir o intervalo de tempo, o autor percebeu que havia uma característica de movimento na percepção, a qual o cérebro produzia uma ponte entre uma imagem e outra. O fenômeno, segundo Wertheimer, nos dá a sensação de movimento mesmo que as imagens estejam paradas (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Após o lançamento de 1910, outros estudos mostraram como nossa percepção permanece constante mesmo quando os dados sensoriais se alteram. A percepção teria uma qualidade de integralidade ou completude não encontrada em nenhuma de suas partes. A percepção seria uma totalidade que é mais do que a soma das partes, dos elementos sensoriais. Pelo contrário, só é possível conhecer as partes a partir do todo (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
O termo Gestalt não tem um significado próprio quando traduzido para o português, porém o mais próximo disso é “configuração” e “forma” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). 
7.2. Os princípios de organização da percepção
Os princípios de organização da percepção foram propostos por Wertheimer em 1923. Ele propôs que percebemos os objetos como totalidades unificadas, e não como aglomerados de sensações individuais. Nesse sentido, a percepção seria orientada por algumas leis de organização da Gestalt, uma série de princípios que descrevem o modo como organizamos fragmentos de formação para compor totalidades significativas (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Uma premissa básica desses princípios é que a organização perceptual ocorre instantaneamente sempre que vemos ou ouvimos diferentes coisas (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Figura e fundo, proximidade, fechamento, simplicidade, semelhança, região comum e conexão são princípios de organização que influenciam a percepção (FELDMAN, 2015). 
Outro conceito importante para a teoria da Gestalt, é o “insight”, evento cognitivo no qual elementos psicológicos do sujeito conferem forma à figura e fazem com que ele compreenda o que vê.Figura e fundo: um dos princípios de organização da Gestalt.
7.3. Expansão e importância da Gestalt
Na metade dos anos 1920, a Gestalt era uma escola coesa, dominante e vigorosa na Alemanha. Após a ascensão do nazismo em 1933, o movimento passou a ocupar uma posição central nos Estados Unidos, onde passou-se a realizar várias pesquisas sobre o tema. Contudo, a Gestalt encontrou barreiras do Comportamentalismo, em auge no país na época, a dificuldade de tradução pois a maioria dos livros estavam escritos em alemão, e a dificuldade de atrair discípulos já que as faculdades para que os líderes da Gestalt foram lecionar não tinham programas de pós-graduação. Tudo isso restringiu o desenvolvimento da Gestalt nos Estados Unidos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
Com o tempo, alguns princípios gestaltistas foram absorvidos pelas áreas da psicologia infantil, psicologia aplicada, psiquiatria, educação, antropologia e da sociologia. A Gestalt influenciou as áreas da percepção e da aprendizagem. Além disso, alguns psicólogos clínicos combinaram Gestalt com Psicanálise. Também consolidou sua presença no cenário das práticas psicológicas, seja como abordagem psicoterapêutica, como alternativa pedagógica ou como instrumento na área de Recursos Humanos das empresas (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002).
7.4. Apropriação crítica: a gestalt-terapia
A Gestalt terapia é uma forma criativa, cientifica e artística de se fazer psicoterapia. Seu objetivo é habilitar os indivíduos a usarem, além da cognição, suas sensações e sentimentos, integrando-os dessa forma com o potencial que a natureza lhes disponibilizou para fazer frente a realidade de cada um. Ela também é conhecida como “terapia do contato” pois trabalha com a consciência de cada um utilizando o todo que cada indivíduo já possui (MARQUES, 2014).
Na Gestalt-terapia, a noção de organismo como um todo é central: os seres humanos são vistos como organismos dotados de potencial em constante relação com o meio onde vivem (MARQUES, 2014).. 
Visto isso, o papel do terapeuta que tem como base essa teoria, é de ser para o indivíduo uma espécie de tela onde são projetados os comportamentos do mesmo e com isso é possível que ele mesmo veja seu próprio potencial ausente. A tarefa do terapeuta é então a de ajudar o indivíduo a perceber como ele se interrompe, evita a conscientização, toma diferentes atitudes, faz diferentes escolhas e assim por diante (MARQUES, 2014)..
A Gestalt defende que as leis da percepção nascem com o ser humano ao invés de serem adquiridas com o passar dos anos. No entanto estudos atuais mostram que a experiência passada tem muita influência na forma como podemos observar o conjunto de figura e fundo (MARQUES, 2014)..
A Gestalt-terapia encontrou seu espaço nos Estados Unidos, na década de 1960, com a eclosão dos movimentos de contracultura. Porém, o seu marco inicial pode ser considerado a publicação, em 1951, de Gestalt Therapy, livro escrito por Fritz Perls e considerado até os dias atuais como a “Bíblia” da Gestalt-terapia (VOGEL, 2012).
Frederick “Fritz” Salomon Perls foi um médico psiquiatra alemão fundador da Gestalt terapia, que tem como principal ideia a de que a sensação pessoal de realidade é fruto da percepção, da maneira como enxergamos nossas experiências, e não dos fatos e eventos em si. Para ele, a única verdade que alguém pode ter é a sua própria. Perls desenvolveu sua teoria em meados de 1940, quando a abordagem psicanalítica era dominante. Ele achava que a psicanálise era muito rígida, estruturada e generalizada, faltava espaço para a experiência pessoal, além de focar demasiadamente no “porquê” dos comportamentos, sendo pouco prática na resolução efetiva de problemas e angústias do ser humano (VOGEL, 2012).
Na terapia fundada por Fritz, a ação de ressignificar experiências é do paciente, e não do psicólogo. Seu objetivo era que os pacientes se conscientizassem de seu papel ativo como responsáveis da alteração da realidade. Esse novo modo de psicoterapia provocou mudanças profundas na hierarquia terapeuta-paciente (VOGEL, 2012).
Perls acreditava que, uma vez compreendido que nossa realidade é moldada a partir da nossa percepção, teríamos poder sobre duas escolhas: como interpretar o ambiente e como reagir a ele. Nessa terapia, o sujeito é responsável pela forma como age e reage, habilidade descrita por Fritz como “manter estabilidade emocional independentemente do ambiente de homeostase”. O objeto da Gestalt terapia é equilibrar a mente, passando pelas diferentes partes para conseguir o equilíbrio do todo (VOGEL, 2012).
Hoje, a Gestalt-Terapeuta atua através da focalização da sua atenção nas diferentes figuras que aparecem na sessão de psicoterapia, que podem ser: sentimentos, ideias, expressões corporais, e consideraque estas fazem parte de uma totalidade. Entende ainda, que o trabalho em uma parte/figura leva consequentemente a uma mudança na estrutura/todo do cliente (MARQUES, 2014).
7.5. Referências
FELDMAN, R. S. Introdução à Psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.
MARQUES, L. C. O que é Gestalt-Terapia?. Blog Psicologia Explica. 2014. Disponível em <http://www.psicologiaexplica.com.br/o-que-e-gestalt-terapia>. Acesso em 25 de novembro de 2017.
MORAES, M. O gestaltismo e o retorno à experiência psicológica. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2015, p. 341-358.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S.E. História da Psicologia Moderna. 16. ed. São Paulo: CULTRIX, 2002.
VOGEL, A. R. O papel do terapeuta na relação terapêutica na Gestalt-terapia e na terapia de família sistêmica construcionista social. Revista IGT na Rede, v. 9, n. 16, 2012, p. 97-152. Disponível em <http://www.igt.psc.br/ojs/ISSN1807-2526>. Acesso em 25 de novembro de 2017. 
8 – O MOVIMENTO HUMANISTA 
8.1. Introdução 
O movimento Humanista surgiu como um movimento intelectual e filosófico reproduzido no final do século XIV, durante o período da Renascença. Seu fundador foi o poeta italiano Francesco Petrarca (1304-1374).
O antropocentrismo, o homem como centro do mundo, foi o principal conceito presente no movimento Humanista Renascentista. Anteriormente, na Idade Média, as questões do universo humano eram voltadas para Deus e a igreja, que eram os centros guiadores do homem e de seus passos (teocentrismo). Contudo, a evolução do cientificismo transformou o pensamento da época que começou a entender a origem da verdade como, não somente de questões teocentricas, mas também dos próprios seres humanos. Desse modo o rompimento da igreja com a natureza humana foi essencial para o homem adquirir uma nova forma de enxergar o mundo. 
Francesco Petrarca contribuiu para literatura humanista ao reunir cerca de 300 sonetos em sua obra. Petrarca passou boa parte de sua vida viajando pela Europa, em busca de manuscritos que continham textos clássicos, a fim de formar sua própria biblioteca. Os humanistas passaram a corrigir os erros e desvios encontrados nesses textos clássicos, e descobriram a importância do conhecimento de outras civilizações através do seu idioma, história e cultura. Após a morte de Petrarca, o movimento teve apoio de diversos grupos e pessoas influentes em seu tempo. Os humanistas eram religiosos, porém não aceitavam apenas uma mera explicação como verdade plena, era preciso uma reflexão crítica mais aprofundada.
Na idade moderna surge o humanismo ideal ou clássico que está relacionado às mudanças políticas e sociais do liberalismo, além de visar a individualidade, singularidade e liberdade de expressão.
Na idade contemporânea, período que se inicia com a revolução francesa, nasce o humanismo romântico corrente que procura defender a expressão dos sentimentos pela irrestrita liberdade e defesa da individualidade. Também dá grande importância ao sentimento, ressaltando sua prevalência sobre a razão.
Na idade moderna, as teorias estruturalistas e pós-estruturalistas influenciaram humanismo do tipo crítico ao oferecer uma reformulação ontológica da condição humana a partir de uma explicação embasada nas estruturas fundamentais da experiência consciente, assim ele nega os demais humanismos e suas visões utópicas.
As vertentes do humanismo durante as décadas de 60 e 70 foram o individual, marcado pelas teorias de Maslow e Rogers na psicologia, e o social. O movimento individual, mais próximo da Psicologia Humanista, promovia valores que centravam a atenção do indivíduo a si mesmo através da auto expressão, hedonismo e intolerância. O movimento social foi o mais conectado à luta contra injustiças e desigualdades, demarcando uma psicologia envolvida na política, e uma posição contrária ao expansionismo do capitalismo. Ambos os movimentos pregavam conceitos relacionados à contracultura na época.
8.2. Psicologia Humanista
A abordagem humanista na psicologia surgiu nas décadas de 50 e 60, nos Estados Unidos, momento em que as culturas e ideologias ao redor do mundo passavam por transformações decorrentes de eventos históricos. 
A sua ascendência nesse período foi veementemente impulsionada pelo contexto histórico e cultural das décadas de 50, 60 e 70, momento de pós-guerra mundial; bipolarização do mundo em capitalistas e socialistas; e novos conflitos como a Guerra Fria, Revolução Chinesa e a Guerra no Vietnã.
Esses episódios contribuíram para o movimento de contracultura, além do engajamento de jovens em lutas sociais com o objetivo de transformar a conduta e as atitudes da sociedade da época, através de movimentos como o negro, feminista e hippie.
O contexto brasileiro também contribuiu para o crescimento e divulgação do Humanismo no Brasil, visto que atravessou, durante as décadas de 50 a 70, uma crise econômica e o posterior Golpe Militar como medida preventiva a “ameaça comunista”, seguido pela resistência e restrição da liberdade promovidas pelo governo da Ditadura Militar.
8.3. Carl Rogers 
Segundo o psicólogo Abraham Maslow, antes de Carl Rogers (1902 – 1987), o universo clínico era dominado pela psiquiatria médica e pela psicanálise. A postura de Rogers à terapeuta sempre esteve apoiada em sólidas pesquisas e observações clínicas, e sua contribuição para a psicologia foi propor uma terapia mais humanizada, chamada de Terapia Centrada no Cliente ou Abordagem Centrada na Pessoa.
Carl Rogers foi um dos principais responsáveis pelo acesso e reconhecimento dos psicólogos ao universo clínico. Nasceu em Illinois, nos Estados Unidos, no dia 8 de janeiro de 1902. Seu interesse pelas ciências naturais começou aos 12 anos de idade, quando sua família mudou-se para uma fazenda e assim o contato com a agricultura despertou sua vontade pela ciência. 
Ingressou-se na universidade de Wisconsin onde se dedicou inicialmente, estudos em ciências físicas e biológicas. Seu interesse pela psicologia foi depois de se graduar, quando se tornou um pastor no Seminário Teológico Unido em Nova york. Depois, Rogers obteve seus títulos de Mestre em 1928 e Doutor em 1931.
Em 1945, Carl Rogers tornou-se professor de Psicologia na Universidade de Chicago e secretário executivo do Centro de Aconselhamento Terapêutico. Nesse período Rogers formulou uma teoria da personalidade e conduziu pesquisas sobre a psicoterapia. Durante suas pesquisas e sua prática nas clínicas, Rogers atingiu novas formas de pensar a prática psicoterapêutica que era muito diferente das abordagens acadêmicas convencionais. 
Rogers sugeriu que as pessoas têm uma tendência atualizante, ou seja, um desejo de realizar seu potencial e se tornar as melhores pessoas que podem ser. Ele também acreditava que o termo paciente implicava que o indivíduo estava doente, um agente passivo de seu problema que procura sua cura pela terapia. Assim preferiu o termo cliente, que enfatiza a importância do individuo em procurar a ajuda, controlando o seu destino se auto-direcionando.
Inicialmente, Rogers chamava a sua prática de terapia de não-diretiva. Embora seu objetivo fosse ser o mais não-diretivo possível, ele percebia que os terapeutas guiam os seus clientes. Ele também percebeu a busca dos clientes aos seus terapeutas, afim de que mostrem algum tipo de orientação ou direção. Posteriormente, a técnica veio a ser conhecida como Terapia Centrada no Cliente ou Terapia Centrada na Pessoa, também conhecida como terapia Rogeriana.
A característica da Terapia Centrada no Cliente é a do terapeuta não poder se dirigir ao cliente, não fazer julgamentos sobre os sentimentos do cliente, e não oferecer sugestões ou soluções. Em vez disso, o cliente deve ser um parceiro igual no processo terapêutico, tendo em vista que o terapeuta deve sempre demonstrar empatia e aceitação, permitindo que o cliente lidere a discussão, criando assim um ambiente confortável e de não-julgamento ou avaliação. 
Para que

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