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Era Vargas

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Era Vargas – do Estado Novo a 54
► ESTADO NOVO:
A geração que chegou ao poder junto com Vargas transformou profundamente a estrutura e a abrangência do poder, que passou a agir sobre setores da sociedade até então mantidos à margem da ação do governo.
Durante o século XX, o Brasil viveu dois períodos ditatoriais – o primeiro, entre 1937 e 1945, e o segundo, de 1964 até 1985.
Retomaremos alguns traços desse primeiro momento, o Estado Novo.
Nesse sentido, exploraremos as formulações ideológicas que procuraram orientar e interpretar as próprias ações do governo.
TEXTO: Radicalização política
Ainda em outubro de 1932, fora criada a Ação Integralista Brasileira – AIB –, movimento inspirado no fascismo italiano que defendia um ideário nacionalista, antiliberal e anti-semita. A AIB tinha como chefe nacional Plínio Salgado e possuía seções em diversos estados do país, congregando elementos das camadas médias urbanas como intelectuais, em sua maioria católicos, profissionais liberais, funcionários públicos e militares. Seu lema era Deus, Pátria e Família, e seus principais ideólogos eram Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale.
Querendo demonstrar sua força política, os integralistas costumavam realizar grandes desfiles em que usavam uniformes que lhes valeram o apelido de camisas-verde. Nas manifestações de rua, os enfrentamentos com os comunistas eram uma constante. A oposição que os integralistas faziam ao regime Vargas era difusa. As críticas ao governo concentravam-se, sobretudo, no seu aspecto liberal.
Já depois de promulgada a Constituição de 1934, em 12 de março de 1935, foi criada a Aliança Nacional Libertadora – ANL –, organização inspirada na proposta das frentes populares surgidas em diversos países da Europa com o objetivo de combater o avanço do nazi-fascismo. A ANL congregava comunistas, socialistas, tenentes, liberais e católicos. Pregando a formação de um governo popular-nacional-revolucionário, transformou-se, assim como a AIB, em um grande movimento de massas. De seu programa faziam parte a luta contra o latifúndio e o imperialismo, a defesa da reforma agrária e das liberdades democráticas, a suspensão do pagamento da dívida externa brasileira e o combate ao nazi-fascismo. Sua oposição a Vargas era nítida. Importantes tenentes que haviam atuado na linha de frente da Revolução de 1930, como Miguel Costa, Hercolino Cascardo, Agildo Barata, João Cabanas, Silo Meireles e Roberto Sisson, romperam radicalmente com o governo e tornaram-se dirigentes da ANL. Luís Carlos Prestes, um dos principais expoentes do tenentismo e agora dirigente comunista, foi escolhido presidente de honra da entidade.
AIB e ANL representavam pólos opostos que contribuíam para tornar tenso o quadro político. O governo aproveitava para pressionar o Congresso a adotar medidas autoritárias.
Ainda em abril de 1935, sob o impacto de várias greves, o Congresso aprovou a Lei de Segurança Nacional. A ANL foi colocada na ilegalidade em 11 de julho, quatro meses após sua fundação. Com seu fechamento, a perspectiva de tomada do poder através de uma insurreição, sempre presente no horizonte dos comunistas e antigos tenentes, ganhou força. Dirigentes do Partido Comunista do Brasil, com o aval da Internacional Comunista, decidiram então promover a derrubada do regime Vargas pelas armas.
Em 23 de novembro de 1935, em nome da ANL, uma revolta foi deflagrada em Natal por sargentos, cabos e soldados do 21° Batalhão de Caçadores. No dia seguinte, o movimento eclodiu em Recife, envolvendo civis e militares. Na noite de 26 para 27, militares do 3° Regimento de Infantaria, sob a liderança de Agildo Barata, rebelaram-se no Rio de Janeiro, enquanto um outro foco surgia no Campo dos Afonsos. Tanto em Recife como no Rio de Janeiro os revoltosos foram rapidamente dominados. Entretanto, em Natal, foi instalado um Governo Popular Revolucionário, sob a liderança de João Praxedes de Andrade, sapateiro, membro da direção regional do PCB. O governador do Rio Grande do Norte, Rafael Fernandes, e demais autoridades asilaram-se no consulado italiano, e durante quatro dias os rebeldes dominaram a situação.
O fracasso dos levantes comunistas desencadeou intensa reação por parte da polícia política. Para as elites civis e militares do país, o comunismo tornou-se o inimigo número um. Com o apoio de 2/3 dos parlamentares, Vargas conseguiu aprovar uma série de medidas repressivas que iriam cercear cada vez mais o Poder Legislativo. O estado de sítio foi decretado em todo o território nacional por 30 dias, e prorrogado depois por mais 90.
Entre o final de 1935 e o início de 1936, centenas de civis e militares foram presos em todo o país. Entre os prisioneiros estava Pedro Ernesto, prefeito do Distrito Federal, acusado de manter ligações com membros da ANL. A administração Pedro Ernesto havia se caracterizado por inovações na área de saúde e educação, e por uma maior aproximação com os setores populares. A prisão de diversas lideranças comunistas e a apreensão de documentos em seu poder forneceram a justificativa para a decretação, em março de 1936, do estado de guerra, que vigoraria até meados de 1937. Conferindo ao governo poderes de repressão quase ilimitados, a medida, aprovada pelo Congresso, diferentemente do estado de sítio, tornava vulneráveis até mesmo os parlamentares. Dois dias após a decretação do estado de guerra, foram presos os deputados oposicionistas Otávio da Silveira, Domingos Velasco, João Mangabeira e Abguar Bastos, e o senador Abel Chermont.
Também em 1936, foi criada a Comissão Nacional de Repressão ao Comunismo, encarregada de investigar a participação de funcionários públicos e outros em atos e crimes contra as instituições políticas e sociais. O atestado de ideologia passou a ser exigido para todos os que exercessem cargos públicos e sindicais. Instituiu-se o Tribunal de Segurança Nacional para julgar os acusados de envolvimento com a revolta de 1935.
Finalmente, em 10 de novembro de 1937, o perigo de uma nova revolta comunista foi a justificativa apresentada pelo governo para dar o golpe do Estado Novo.
 - x –
O governo Vargas iniciou-se com o movimento armado de 1930, que derrubou o governo de Washington Luís e pôs fim à chamada República Velha.
Getúlio Vargas foi chefe do Governo Provisório de 1930 a 1934, quando se tornou presidente eleito indiretamente pela Assembleia Nacional Constituinte.
Em 1937, assumiu a chefia do governo ditatorial, que durou até 1945.
Vargas voltou ao poder, pelo voto direto, em 1950 e, em 24 de agosto de 1954, resolveu a crise político-militar daquele momento, pondo fim a sua vida.
TEXTO: A Revolução de 30 
A Revolução de 1930, que pôs fim à Primeira República, foi, para muitos historiadores, o movimento mais importante da história do Brasil do século XX. Foi ela quem, para o historiador Boris Fausto, acabou com a hegemonia da burguesia do café, desenlace inscrito na própria forma de inserção do Brasil, no sistema capitalista internacional. Na Primeira República, o controle político e econômico do país estava nas mãos de fazendeiros, mesmo se as atividades urbanas [fossem] o pólo mais dinâmico da sociedade. Entre 1912 e 1929, a produção industrial cresceu cerca de 175%. No entanto, a política econômica do governo continuava privilegiando os lucros das atividades agrícolas. Mas, com a crise mundial do capitalismo em 1929, a economia cafeeira não conseguiu manter-se. O Presidente Washington Luís – 1926-1930 –, com algumas medidas, tentou conter a crise no Brasil, mas em vão. Em 1929, a produção brasileira chegava a 28,941 milhões, mas só foram exportados 14, 281 milhões de sacas, e isto em um momento em que existiam imensos estoques acumulados.
O maior partido de oposição ao partido republicano de Washington Luís era a Aliança Liberal. Era liderado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Dorneles Vargas. Mesmo sendo apoiado por muitos políticos que tinham sido influentesna Primeira República, como os ex-presidentes Epitácio Pessoa e Artur Bernardes, seu programa apresentava um certo avanço progressista: jornada de oito horas, voto feminino, apoio às classes urbanas. A Aliança Liberal foi muito influenciada pelo tenentismo, que foi um movimento de jovens militares que defendiam a moralização administrativa e cujo slogan era representação e justiça. Nas eleições de 1930, a Aliança Liberal perdeu, vencendo o candidato republicano Júlio Prestes. Mas, usando como pretexto o assassinato do aliancista João Pessoa por um simpatizante de Washington Luís, João Dantas, Getúlio Vargas e seus partidários organizaram um golpe que, em outubro de 1930, tirou Washington Luís do poder. Getúlio Vargas tomou posse do governo no dia 3 de novembro 1930, data que ficou registrada como sendo o fim da Primeira República.
No início de seu governo, com a centralização do poder, Vargas iniciou a luta contra o regionalismo. A administração do país tinha que ser única e não, como ocorria na República Velha, ser dividida pelos proprietários rurais. Muitas medidas que tomou no plano econômico financeiro não resultaram de novas circunstâncias, mas das circunstâncias impostas pela crise mundial. O Brasil dependia demais do comércio do café para que o novo presidente o abandonasse. Para controlar a superprodução e a crise no Brasil, Vargas mandou destruir todos os estoques de café. Mesmo, com a crise mundial, conhecida como crash de 1929, houve uma intensa aceleração do desenvolvimento industrial. Entre 1929 e 1939, a indústria cresceu 125%, enquanto na agricultura o crescimento não ultrapassou 20%. Esse desenvolvimento deu-se por causa da diminuição das importações e da oferta de capitais, que trocaram a lavoura tradicional em crise, pela indústria. Mas, foi a participação do Estado, com tarifas protecionistas e investimentos, que mais influiu nesse crescimento industrial. Diferentemente do que ocorreu na República Velha, começaram a surgir planos para a criação de indústrias de base no Brasil. Esses planos realizar-se-iam com a inauguração da usina siderúrgica de Volta Redonda em 1946.
A partir de 1930, a sociedade brasileira viveu importantes mudanças. Acelerou-se o processo de urbanização e a burguesia começa a participar cada vez mais na vida política. Com o progresso da industrialização, a classe operária cresceu muito. Vargas, com uma política de governo dirigida aos trabalhadores urbanos, tentou atrair o apoio dessa classe que era fundamental para a economia, pois tinha em mãos o novo motor do Brasil: a indústria. A criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em 1930, resultou em uma série de leis trabalhistas. Parte delas visava ampliar direitos e garantias do trabalhador: lei de férias, regulamentação do trabalho de mulheres e crianças.
Todo esse processo de desenvolvimento, no Brasil, foi acompanhado por uma verdadeira revolução cultural e educacional que acabou garantindo o sucesso de Vargas em sua tentativa de transformar a sociedade. Como disse Antônio Cândido, não foi o movimento revolucionário que começou as reformas [do ensino]; mas ele propiciou a sua extensão para todo o país. Em 1920, reformas promovidas separadamente por Sampaio Dória, Lourenço Filho, Anísio Teixeira e Fernando Campos já buscavam a renovação pedagógica. A partir de 1930, as medidas para a criação de um sistema educativo público foram controladas oficialmente pelo governo. Essa vontade de centralizar a formação e de torná-la acessível aos mais pobres ficou clara com a criação do Ministério da Educação e Saúde em novembro de 1930. Seu primeiro ministro foi Francisco Campos – 1930-1932. Com a difusão da instrução básica, Vargas acreditava poder formar um povo mais consciente e mais apto às exigências democráticas, como o voto, e uma elite de futuros políticos, pensadores e técnicos. 
Em 1931, o governo decretou a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas. Essa aproximação entre Estado e Igreja também foi marcada pela inauguração, a 12 de outubro de 1931, da estátua do Cristo Redentor no Corcovado. O historiador Boris Fausto afirmou que a Igreja, em troca, levou a massa da população católica a apoiar o novo governo. Em relação ao ensino superior, o governo procurou estabelecer as bases do sistema universitário, investindo nas áreas de ensino e pesquisa. Foram contratados jovens professores europeus como Claude Lévy-Strauss que se tornaria, mais tarde, o criador da antropologia estruturalista.
Além de haver um desenvolvimento educacional, houve uma verdadeira revolução cultural em relação à República Velha. O modernismo, tão criticado antes de 1930, tornou-se o movimento artístico principal a partir do golpe de Vargas. A Academia de Letras, tão admirada antes, não tinha mais nenhum prestígio. A cultura predominante era a popular que, com o rádio, desenvolveu-se por todo o Brasil. Como analisou Antônio Cândido, nos anos 30 e 40, por exemplo, o samba e a marcha, antes praticamente confinados aos morros e subúrbios do Rio, conquistaram o país e todas as classes, tornando-se um pão-nosso quotidiano de consumo cultural.
No entanto, foram os intelectuais partidários da Revolução de 1930, como Caio Prado Júnior, quem tiveram um papel essencial no processo de desenvolvimento cultural do Brasil. Sérgio Buarque de Holanda, com Raízes do Brasil principalmente, influenciou muito o desenvolvimento do nacionalismo no Brasil. Nesse ensaio, Sérgio Buarque de Holanda buscou entender como se fez o processo da formação do Brasil como nação. Analisou a história desde a chegada dos ibéricos à América até os anos 1930. Esse livro, como apontou Antônio Cândido, formou a mentalidade de muitos estudantes a partir de 1936, quando foi publicado. Nesse livro, Sérgio Buarque de Holanda não só analisa o passado mas também dá os objetivos brasileiros para o futuro, principalmente no último capítulo do livro – Nossa Revolução.
Raízes do Brasil demonstrou que a independência do Brasil não se fez em 1822, pois a formação de uma nação não só se devia entender em relação à administração. O Brasil, para o autor, só seria independente quando não houvesse mais marcos, a não ser o passado, da era colonial. O retrato que Sérgio Buarque fez do livro é extremamente comparativo e psicológico. O conceito de homem cordial, que estudou em seu quinto capítulo, caracterizou o brasileiro como tendo uma personalidade única, diferente da dos europeus. Mas, como disse, com a simples cordialidade não se criam os bons princípio. Por isso, defendeu tanto a industrialização e a centralização do poder, pois eram características da era pós-30
Sérgio Buarque de Holanda, com Giberto Freyre, formavam uma nova ala de intelectuais inovadores do Brasil. São os fundadores da Universidade de Ciências Sociais do Brasil e são os pioneiros dos movimentos nacionais e a favor da democratização da sociedade. Raízes do Brasil e também outros livros como Casa-Grande e Senzala de Gilbetro Freyre, quebra com todos os pensamentos expostos antes da Revolução de 1930. Como aponta Renato Ortiz, o que era mestiço torna-se nacional. Na República Velha, como o mostra Os Sertões de Euclides da Cunha, todas as raças que não fossem brancas eram inferiores. Mas, com suas obras, o entendimento popular da escravidão transformou-se muito. Sérgio Buarque de Holanda entende que não adianta mais separar o mundo em classes, mas uni-las para formar uma nação.
Vem daí a crítica dos sociólogos dos anos 1930 aos movimentos integralistas – fascismo brasileiro – e comunistas. Nisso ele foi importantíssimo para a Revolução de 1930, pois os grupos extremistas já estavam bem fortes e, com sua obra-prima, queriam até tomar o poder. Mesmo não sendo oficialmente marxista, sua análise do processo histórico que abriria, no futuro, a total independência do país em relação à agricultura e à Europa.
 - x –
A geração que chegou ao poder junto com Vargas transformou, profundamente, a estruturae a abrangência do poder, que passou a agir sobre setores da sociedade até então mantidos à margem da ação do governo.
Foi nesse tempo que se consolidou a crença de que, no Estado, do Estado e pelo Estado, viria a solução dos problemas brasileiros.
Dessa crença, derivaram inúmeras iniciativas do governo que marcaram, pelo menos, 60 anos da história brasileira.
Obs: Foi por meio dessas iniciativas que o Brasil deixou de ser um país agrícola, com a maioria de sua população vivendo no campo, para chegar ao que é hoje, ou seja, uma sociedade urbano-industrial com todos os problemas decorrentes dessa transformação ocorrida em tão curto espaço de tempo.
O golpe do Estado de 10 de novembro de 1937, que deu origem ao chamado Estado Novo, com o próprio Vargas à frente, significou a vitória de um projeto de governo modernizador e autoritário.
É preciso lembrar que, no mesmo dia do golpe de Estado que implanta a ditadura do Estado Novo, foi outorgada pelo presidente uma constituição – a quarta constituição da história brasileira.
Essa constituição foi elaborada pelo jurista Francisco Campos, Ministro da Justiça do novo regime, e aprovada, previamente, por Vargas e por seu Ministro da Guerra, General Eurico Dutra.
A principal característica dessa constituição era a enorme concentração de poderes nas mãos do chefe do Executivo.
TEXTO: Estado Novo – um golpe na democracia
Com a promulgação da Constituição de 1934, chegou ao fim o chamado governo provisório, instaurado com a vitória da Revolução de 1930. A nova Constituição, elaborada por uma Assembleia Nacional Constituinte, introduziu, no país, uma nova ordem jurídico-política, que consagrava a democracia, com a garantia do voto direto e secreto, da pluralidade sindical, da alternância no poder, dos direitos civis e da liberdade de expressão dos cidadãos. Particularmente, para as mulheres, a Constituição de 1934 representou uma enorme conquista: pela primeira vez, tornavam-se eleitoras e elegíveis. Mas a Constituição durou pouco. Três anos depois, antes mesmo que a primeira eleição, a qual elegeria o novo presidente, se realizasse, Getúlio Vargas deu um golpe, para manter-se no poder, e instaurou uma ditadura, conhecida como Estado Novo.
Assim, em 10 de novembro de 1937, foi outorgada uma nova Constituição, idealizada e redigida pelo Ministro da Justiça, Francisco Campos. A nova Carta incluía vários dispositivos semelhantes aos encontrados em constituições de regimes autoritários vigentes na Europa, como as de Portugal, Espanha e Itália. Com o Congresso Nacional fechado e com a decretação de rigorosas leis de censura, Vargas pôde conduzir o país sem que a oposição pudesse se expressar de forma legal.
Para os construtores desse novo Estado, era preciso deixar para trás aquilo que seria o causador de todos os males da nação – o liberalismo. Para eles, a decretação do Estado Novo era o complemento da Revolução de 1930, cujos ideais estavam sendo traiçoeiramente atingidos pela Constituição liberal de 1934. A crise da liberal-democracia exigia uma solução que somente um poder forte, autoritário, estaria em condições de oferecer. O intervencionismo estatal iniciado em 1930, ainda que de forma não ostensiva, seria intensificado e se tornaria a marca dos novos tempos.
O desenvolvimento econômico, através da industrialização, era a grande meta estadonovista e, para viabilizar esse propósito maior, foram criados vários órgãos de apoio em áreas estratégicas, como o Conselho Nacional do Petróleo, o Conselho Federal de Comércio Exterior, e a Coordenação de Mobilização Econômica – esta, instituída em 1942, com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
O Estado Novo parece ter nascido, vivido e morrido sob a égide das transformações mundiais. Se o florescimento de regimes autoritários na Europa encorajou o presidente Vargas a instaurar no país um regime político autoritário, esse mesmo regime conheceu o apogeu e a queda sob a influência da Segunda Guerra.
Do ponto de vista político-administrativo, o conteúdo da Constituição era fortemente centralizador, ficando a cargo do Presidente da República a nomeação das autoridades estaduais e dos interventores. Aos interventores, por seu turno, cabia nomear as autoridades municipais.
A intervenção estatal na economia, tendência que, na verdade, vinha desde 1930, foi intensificada com a criação de órgãos técnicos voltados para esse fim.
Ganhava destaque também o estímulo à organização sindical em moldes corporativos, uma das características presentes nos regimes fascistas, como o da Itália, então em vigor.
Nesse mesmo sentido, o Parlamento e os partidos políticos eram descartados, considerados produtos espúrios da democracia liberal.
A própria vigência da Constituição, segundo seu Artigo 187, dependeria da realização de um plebiscito que a referendasse, o que também jamais foi feito.
OBS: A Constituição previa a convocação de uma câmara corporativa com poderes legislativos, o que, no entanto, jamais aconteceu.
TEXTO: Política e administração
No dia 10 de novembro de 1937, depois de fechar o Congresso e assinar uma nova Constituição, Vargas fez um pronunciamento, transmitido pelo rádio, em que procurava justificar a instauração do novo regime. Em sua Proclamação ao povo brasileiro, defendia o golpe como a única alternativa possível, diante do clima de desagregação e de afronta à autoridade em que mergulhara a nação. Referia-se, entre outras coisas, ao perigo do comunismo, lembrando a radicalização política que atingira o país. Anunciava, ainda, uma série de medidas com que pretendia promover o bem-estar e o desenvolvimento da nação.
Entre essas medidas, destacavam-se a submissão dos governadores dos estados ao governo federal e a eliminação dos órgãos legislativos, o que levaria à criação de novas interventorias e departamentos administrativos. O jogo político-representativo era eliminado em nome da eficiência e da racionalidade do Estado. O argumento para fortalecer o Poder Executivo era que a Constituição de 1934, com seu liberalismo, o havia enfraquecido e o tornado vulnerável aos interesses privados. Por isso, fora outorgada a Constituição de 1937, que concentrava o poder político nas mãos do Presidente da República.
O golpe foi seguido de uma forte repressão, a cargo da polícia política, que atingiu não apenas os comunistas ou os liberais, mas mesmo aqueles que advogavam uma ideologia semelhante à do novo regime e supunham ser seus aliados: os integralistas. Foi assim que, junto com os demais partidos políticos, a Aliança Integralista Brasileira foi fechada por decreto presidencial. Em reação, seria deflagrado o levante integralista em maio de 1938, logo desbaratado.
A propaganda do regime e a repressão a seus opositores seriam duas faces do Estado Novo muito bem representadas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP. Criado para difundir a ideologia do Estado Novo junto às camadas populares e, a partir do ideário autoritário do regime, contribuir para a construção da identidade nacional, o DIP exercia também uma forte censura aos meios de comunicação, suprimindo eventuais manifestações de descontentamento.
Fiel ao princípio de que era necessário aplacar as disputas políticas para promover o desenvolvimento do país, também no plano administrativo o governo do Estado Novo buscou eficiência e racionalidade. Procurou implantar, no recrutamento do funcionalismo, a lógica da formação profissional, da capacidade técnica e do mérito, em substituição à da filiação partidária ou da indicação política. Para tanto, foi criado em 1938 um órgão especialmente voltado para a reforma e a modernização da administração pública, o Departamento Administrativo do Serviço Público – DASP. Anos mais tarde, a preocupação com a formação de pessoal para atuar na administração daria origem à Fundação Getúlio Vargas – FGV. Foi o desejo de dispor de informações estatísticas confiáveis que levou à valorização do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Na área econômica, criaram-se, duranteo Estado Novo, inúmeros conselhos e órgãos técnicos, cuja função era promover estudos e discussões, assessorar o governo na elaboração e na execução de suas decisões e, ainda, propiciar o acesso de setores empresariais ao aparelho estatal. Das negociações entre governo e empresariado resultariam, por exemplo, a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI –, destinado a formar mão-de-obra para a indústria, assim como os estudos para a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC –, destinado a promover a difusão e o aperfeiçoamento do ensino comercial no país.
A tendência à intervenção na atividade econômica, expressa no aparecimento das primeiras companhias estatais, fez com que, a partir de 1937, ficasse difícil separar o binômio Estado e economia.
 - x –
O Estado se dedicou a construir a imagem de Vargas como líder máximo do regime, e a atuação do governo em diferentes frentes – a legislação trabalhista, a reforma educacional, a reforma administrativa, entre outras – foi objeto de intensa propaganda.
Essa foi uma das caraterísticas mais marcantes do Estado Novo.
A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados introduziu novas variáveis na política brasileira.
Foi a partir de então que o Estado Novo começou seu declínio, ao mesmo tempo em que Vargas conservava imenso apoio popular.
A política brasileira passou a se dividir em dois campos, o do getulismo e o do antigetulismo, que iriam marcar ainda, por muitos anos, a política brasileira.
No Estado Novo, podemos observar a presença de uma proposta de modernização cultural agregada a um movimento de restauração da tradição, constituindo uma ideologia nacionalista extremamente orgulhosa.
Um novo ufanismo foi criado e pode ser percebido inclusive em letras da música popular, como no caso de Aquarela do Brasil, composta por Ari Barroso em 1939.
TEXTO: Educação, cultura e propaganda
Nomeado ministro da Educação no início do governo constitucional de Getúlio Vargas, em 1934, Gustavo Capanema manteve-se à frente do ministério durante todo o Estado Novo. Manteve igualmente o grupo de intelectuais que o assessorava, do qual faziam parte Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Rodrigo Melo Franco de Andrade e outros. Os projetos que vinham sendo desenvolvidos tiveram continuidade, o que resultou na implantação definitiva de órgãos como a Universidade do Brasil, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o Instituto Nacional do Livro. Também foi consumada a reforma do ensino secundário e foi estimulado o ensino profissionalizante, que permitiria a criação do Senai e do Senac. A afirmação dos princípios católicos na condução do ensino superior se faria com a abertura das Faculdades Católicas, que daria origem à criação da Pontifícia Universidade Católica. Modernizar a educação, incentivar a pesquisa e preservar as raízes culturais brasileiras foram metas almejadas pelos intelectuais que cercavam o ministro Capanema, mas essas metas nem sempre foram alcançadas, pois muitas vezes esbarravam nos procedimentos centralizadores e burocráticos do regime.
No DIP, sob a liderança de Lourival Fontes, iriam reunir-se os remanescentes do modernismo conservador representado pela corrente dos verde-amarelos. Foi esse grupo que traçou efetivamente as linhas mestras da política cultural do governo voltada para as camadas populares. Uma das metas fundamentais do projeto autoritário era obter o controle dos meios de comunicação, garantindo assim, tanto quanto possível, a homogeneidade cultural. A ideologia do regime era transmitida através das cartilhas infanto-juvenis e dos jornais nacionais, passando também pelo teatro, a música, o cinema, e marcando presença nos carnavais, festas cívicas e populares.
Em 1940, a Rádio Nacional foi encampada pelo governo. Logo em seguida, foi a vez dos jornais A Manhã e A Noite. O jornal A Manhã, sob a direção de Cassiano Ricardo, e a revista Cultura Política, sob a direção de Almir de Andrade, tornaram-se os porta-vozes do regime. Ambas as publicações contavam com a colaboração de intelectuais das mais diversas correntes. Já a revista Ciência Política reunia intelectuais de pouca projeção, voltando-se basicamente para a doutrinação das camadas populares. Buscava-se construir a imagem de uma verdadeira simbiose entre o governo e os intelectuais. Ao assumir sua cadeira na Academia Brasileira de Letras, em 1943, Vargas estaria simbolicamente corporificando essa comunhão de interesses. O curioso disso tudo é que, se a imprensa foi uma peça fundamental na definição e na difusão da ideologia do Estado Novo, seria também através dela que a imagem do regime começaria a ruir.
Seguramente, o rádio foi um dos veículos de maior eficiência na difusão do projeto político-pedagógico estadonovista. A Rádio Nacional contava com expressiva verba oficial para manter o melhor elenco da época, incluindo músicos, cantores, radio atores, humoristas e técnicos. Em seus programas, transmitiam-se os padrões de comportamento e valores desejáveis. Buscando monopolizar a audiência popular, o governo instituiu concursos musicais em que a opinião pública elegia seus astros favoritos. A apuração era feita no DIP, e o resultado era transmitido durante o programa Hora do Brasil. Em agosto de 1941, foi criado o Repórter Esso, jornal radiofônico inspirado no modelo norte-americano com notícias procedentes da United Press International – UPI. A Rádio Mauá, diretamente ligada ao Ministério do Trabalho, e autodenominando-se a emissora do trabalho, popularizava a imagem de Vargas.
Com o objetivo de incentivar as manifestações cívicas, o governo deu apoio ao projeto orfeônico de Villa-Lobos. As apresentações de canto orfeônico eram comuns durante as grandes concentrações populares no estádio do Vasco da Gama. O povo era considerado uma espécie de matéria bruta a ser elaborada pelo saber das elites. Baseado nesse raciocínio, o governo justificava seu controle e fiscalização sobre as mais diversas expressões culturais. Até mesmo a linguagem popular era alvo desse tipo de controle.
Foi durante o Estado Novo que surgiu o chamado samba da legitimidade, em que se buscava converter a figura do malandro na figura exemplar do operário de fábrica. O DIP incentivava os compositores a exaltar o trabalho e abandonar a boemia. Também através do samba se ensinava a repudiar o comunismo como ameaça à nacionalidade – Glória ao Brasil, 1938. Procurando construir uma imagem positiva do governo junto aos artistas, em 1939 Vargas criou o dia da Música Popular Brasileira.
Com construções arquitetônicas sólidas como o Ministério da Guerra e a estação da Central do Brasil, procurava-se demonstrar a força e pujança do regime. Mas também se ousava nos pilotis e nos painéis do edifício-sede do Ministério da Educação. Foi essa combinação entre conservadorismo e arrojo a marca do Estado Novo na área cultural.
 - x –
O regime instaurado em 1937 procura apresentar, na pena de seus intelectuais, duas fortes características – o novo e o nacional. Daí a expressão comumente utilizada à época – o Novo Estado Nacional. 
É novo porque...
...procura modernizar o país.
...pela primeira vez, volta-se oficialmente para as verdadeiras raízes da nacionalidade.
Ao procurar as verdadeiras tradições do país, o Novo Estado Nacional entra em contato com o que temos de mais nacional e recusa a importação dos modelos liberais.
TEXTO: Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Os chamados patrimônios históricos e artísticos têm, nas modernas sociedades, a função de representar, simbolicamente, a identidade e a memória da nação. O pertencimento a uma comunidade nacional é produzido com a ideia de propriedade – daí a palavra patrimônio – sobre um conjunto de bens: relíquias, monumentos, cidades históricas, entre outros.
No Brasil, o reconhecimento da necessidade de proteger o patrimôniohistórico e artístico já havia sido apontado nos anos 20, época em que se registraram iniciativas locais e estaduais. Em 1936, Mário de Andrade foi solicitado a preparar [...] a criação de uma instituição nacional de proteção do patrimônio. Foi esse o documento usado nas discussões preliminares sobre a estrutura e os objetivos do SPHAN, criado afinal por Decreto Presidencial assinado em 30 de novembro de 1937.
O decreto de criação do SPHAN definia o patrimônio histórico e artístico nacional como o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja do interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Eram também classificados como patrimônio monumentos naturais, bem como sítios e paisagens que importem conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana.
O SPHAN estava subordinado ao Ministério da Educação, e foi o ministro Capanema quem convidou Rodrigo Melo Franco de Andrade para dirigir a instituição recém-fundada. De 1937 até 1969, quando morreu, Rodrigo Melo Franco de Andrade manteve seu cargo de Diretor do Patrimônio. A instituição veio a ser, posteriormente, Departamento, Instituto, Secretaria e, de novo, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN –, como se chama atualmente.
O projeto original de Mário de Andrade recebeu modificações significativas trazidas pela orientação de Rodrigo Melo Franco de Andrade, ao longo dos 30 anos, em que esteve à frente do SPHAN. Durante esse período, o SPHAN norteou sua política pelas noções de tradição e de civilização, dando especial ênfase à relação com o passado. Os bens culturais classificados como patrimônio deveriam fazer a mediação entre os heróis nacionais, os personagens históricos, os brasileiros de ontem e os de hoje. Essa apropriação do passado era concebida como um instrumento para educar a população a respeito da unidade e permanência da nação.
Ao longo das décadas em que Rodrigo Melo Franco de Andrade e seu grupo estiveram à frente do SPHAN, os tombamentos incidiram, majoritariamente, sobre a arte e a arquitetura barrocas concentradas em Minas Gerais, principalmente nos monumentos religiosos católicos.
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Diferentes instrumentos de educação coletiva foram criados ou desenvolvidos visando educar o povo e promover o ensino de bons hábitos.
O rádio, o cinema educativo, o esporte, a música popular, participavam desse objetivo comum de integrar os indivíduos ao novo Estado nacional.
Todas essas iniciativas tinham como pressuposto a ação do Estado como salvador do povo.
Em inúmeras obras dos intelectuais que se tornaram ideólogos do regime, aparece a proposta de uma cultura política...
OBS: Ou seja, a visão política que procura, na cultura, o cerne da nacionalidade, e que faz da realização. Do incentivo a bens culturais uma atividade precípua do Estado.
Esse novo modelo de relações entre a cultura e a política foi implementado por meio de políticas governamentais desenvolvidas por agências de governo encarregadas da montagem ideológica do regime. 
OBS: Uma dessas agências foi o Departamento de Imprensa e Propaganda-DIP. O DIP foi criado em 1939, a partir do antigo Departamento de Propaganda e Difusão Cultural.
Sabemos que o controle sobre a isenção de taxas para importação de papel constituía um dos eixos da censura...
Isentavam-se os colaboradores... aplicava-se o imposto aos demais.
OBS: O braço repressivo do DIP deixou poucos documentos escritos.
TEXTO: Imprensa
Praticamente, durante todo o seu primeiro governo, de 1930 a 1945, o presidente Getúlio Vargas manteve uma relação conflituosa com a imprensa. O controle sobre ela, exercido pelo DIP durante o Estado Novo, pode ter contornado problemas, mas, certamente, não os eliminou. Foi com a ajuda da imprensa que, em 1945, o regime começou a cair.
Logo de início, os jornais de maior circulação do Rio de Janeiro e São Paulo apoiaram a Aliança Liberal e a Revolução de 1930. Entretanto, instalado o regime revolucionário, a situação começou a mudar. Em fevereiro de 1932, em uma época em que o Brasil podia ser chamado de o país dos tenentes, ocorreu o empastelamento do Diário Carioca, jornal que apoiara com entusiasmo os revolucionários de 1930, mas se mostrou desiludido logo nos primeiros meses do Governo Provisório, passando a defender a constitucionalização do país. A destruição do jornal por elementos ligados ao Clube 3 de Outubro desencadeou uma crise entre os revolucionários. Maurício Cardoso, então ministro da Justiça, exigiu a apuração das responsabilidades, mas Vargas mostrou-se reticente. Diante disso, Maurício Cardoso, juntamente com outros políticos gaúchos, afastou-se do governo.
A esmagadora maioria da imprensa, nesse período, principalmente a da capital da República, era contrária a Vargas. Os tenentes, tendo à frente João Alberto, contribuíram com recursos financeiros para a criação de alguns jornais de apoio ao governo, entre eles O Radical, fundado em junho de 1932. Mas, foi durante o Estado Novo que Vargas aprofundou, ao mesmo tempo, seu controle e suas incompatibilidades com a imprensa.
A razão fundamental do descontentamento dos jornais com o novo regime foi que a Constituição de 1937 aboliu a liberdade de expressão. Todos os meios de comunicação e de expressão, como o teatro, o cinema, o rádio ou os jornais, foram submetidos à censura prévia. Mais que isso: foi atribuído à imprensa o caráter de serviço de utilidade pública, o que obrigava todos os jornais a publicar comunicados do governo. O não-cumprimento dessa exigência levava à prisão o diretor do jornal. O DIP ficou encarregado de executar essas e outras medidas impostas logo a seguir, como a que exigia o registro dos jornais e dos jornalistas no próprio DIP. Se esse foi o primeiro passo no sentido de permitir ao governo eliminar vários jornais, em 1940 o cerco se fechou com o decreto que exigia o registro anual no DIP para a importação de papel de imprensa. Nesse período, dezenas de jornais deixaram de circular, e centenas não conseguiram registro. Um dos jornais mais atingidos foi O Estado de S. Paulo, mantido fechado ou sob intervenção enquanto seu proprietário, Júlio de Mesquita Filho, partia para o exílio.
Apesar da repressão, surgiu, nessa época, uma imprensa clandestina que publicava jornais, folhetins e tabloides. Era o caso do tabloide carioca Liberdade, que denunciava o amordaçamento da imprensa. Em São Paulo, orientadas por professores e estudantes da USP, surgiram publicações que seriam divulgadas por todo o país, como Folha Dobrada (1939) e Resistência (1944).
Tendo em vista a situação de rigorosa censura, que vigorou durante o Estado Novo, é compreensível que a derrubada do regime tenha-se iniciado via imprensa. Em 8 de fevereiro de 1945, Virgílio de Melo Franco, um dos líderes da Revolução de 1930 que rompera com Vargas, deu uma entrevista ao jornal O Globo reclamando plena liberdade para as eleições que se anunciavam e, em seguida, empenhou-se na articulação de um acordo entre todos os jornais do Rio de Janeiro para que estampassem, em um mesmo dia, uma notícia que tivesse sido vetada ou não submetida à censura do DIP. Além disso, Virgílio e Luís Camilo de Oliveira Neto conseguiram que José Américo de Almeida desse uma entrevista ao jornalista Carlos Lacerda. O texto, de teor francamente antiditatorial, foi entregue a vários jornais; mas coube ao Correio da Manhã dar o golpe de misericórdia na censura à imprensa, publicando a entrevista em 22 de fevereiro, com enorme repercussão. Em sua edição do mesmo dia, à tarde, O Globo lançou publicamente a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República.
Nos meses seguintes vários fatores iriam contribuir para uma crise que culminaria, em outubro, com a queda de Vargas e o fim do Estado Novo.- x –
O DIP preparava o material de divulgação para ser publicado em jornais e revistas não oficiais em todo o país.
Além de editar uma importante revista intitulada Cultura Política, o governo tinha, no jornal A Manhã, dirigido por Cassiano Ricardo – outro modernista que veio trabalhar para o regime –, uma importante matriz de divulgação.
OBS: Um outro braço do DIP pode ser considerado o da propaganda, ou seja, da difusão ideológica.
TEXTO: A manhã
O jornal A manhã, órgão oficial do Estado Novo, esteve sob a direção de Cassiano Ricardo, de maio de 1941 até meados de 1945. Conforme depoimento do próprio Cassiano Ricardo, o jornal pretendia divulgar as diretrizes propostas pelo regime junto a um público o mais diversificado possível. A Constituição de 1937, por exemplo, era exposta de forma didática, aparecendo, diariamente, nas páginas do matutino.
A manhã dispunha de excelente documentação iconográfica e exibia uma paginação extremamente moderna para os padrões jornalísticos da época. Seu corpo de colaboradores contava com intelectuais de grande projeção, como Múcio Leão, Afonso Arinos de Melo Franco, Cecília Meireles, José Lins do Rego, Ribeiro Couto, Roquete Pinto, Leopoldo Aires, Alceu Amoroso Lima, Oliveira Viana, Djacir Menezes, Umberto Peregrino Vinicius de Moraes – crítica cinematográfica –, Eurialo Canabrava – crítica de ideias –, Gilberto Freyre e outros. O jornal publicava dois tabloides semanais que alcançaram grande repercussão: Autores e livros, sob a direção de Múcio Leão, e Pensamento na América, dirigido por Ribeiro Couto.
Autores e livros é uma rica fonte de análise historiográfica, pois oferece uma verdadeira genealogia da vida intelectual brasileira. Além do mais, traduz com nitidez a concepção de literatura adotada pelo projeto político-ideológico do Estado Novo. Concebida como reflexo do meio e do espaço, a literatura deveria ser o espelho da nacionalidade. O movimento modernista da década de 1920 evidentemente era criticado por ter-se afastado dessa concepção documental. Outra característica do projeto literário do regime era considerar as regiões geográficas como arquipélagos culturais carentes de unificação e centralização. Essas ideias estavam na origem de um projeto ideológico de grande envergadura, de reconstituição da história da cultura brasileira, levado a cabo pelo suplemento Autores e livros.
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Por fim, o DIP possuía um terceiro braço, o do mecenato, que, muitas vezes, confundiu-se com o da propaganda.
O DIP realizava concursos de trabalhos sobre Getúlio Vargas. A biografia vencedora a cada ano era publicada pelo DIP.
O mecenato do DIP se fazia presente também na produção de filmes, na radiodifusão, na música erudita e popular.
A montagem do projeto cultural do Estado Novo, principalmente aquele ligado ao DIP, teve como figura fundamental Lourival Fontes.
Lourival foi, por assim dizer, o cérebro e a eminência parda dessa política, sendo difícil até hoje recuperar e reconstruir seus passos.
OBS: Os festejos do aniversário do Presidente, dia 10 de abril -mesma data do dia do índio-, davam ocasião a inúmeras comemorações enaltecedores da pessoa de Vargas e do regime que ele comandava.
TEXTO: Retratos do Brasil
Paulo Prado escreveu, em 1928, seu famoso livro Retrato do Brasil, que tinha como subtítulo Ensaio sobre a tristeza brasileira. A tristeza, o romantismo, a luxúria e o vício da imitação eram apontados como os maiores problemas da nacionalidade. Dois outros livros, O país do carnaval, de Jorge Amado, e Maquiavel e o Brasil, de Otávio de Farias, ambos de 1931, expressavam o clima intelectual da época, marcado pela idéia de crise e incerteza.
Diferentes diagnósticos sobre os males brasileiros estavam presentes nas coleções publicadas nos anos 1930. A Brasiliana, fundada e dirigida por Fernando de Azevedo na Companhia Editora Nacional, reeditou inúmeras obras de viajantes. Problemas políticos contemporâneos e Documentos brasileiros – essa última sucessivamente dirigida por Gilberto Freyre, Otávio Tarquínio de Sousa e Afonso Arinos de Melo Franco na Editora José Olympio – traduziam a necessidade de reinterpretar o passado, de compreender a realidade brasileira, de exprimir a consciência social dos anos 30. A Coleção Azul, da Editora Schmidt, publicava os textos polêmicos da época. São exemplos os livros Brasil errado, de Martins de Almeida, Introdução à realidade brasileira, de Afonso Arinos de Melo Franco, O sentido do tenentismo, de Virgílio Santa Rosa, e A gênese da desordem, de Alcindo Sodré.
As mudanças na indústria do livro introduzidas nos anos 1920 por Monteiro Lobato foram incorporadas por outras casas editoras. Destacou-se, na época, a Editora Globo, de Porto Alegre, que contou com a colaboração do escritor Érico Veríssimo, divulgou valores da literatura gaúcha e traduziu importantes autores da literatura mundial.
Outro polo de ação cultural do Estado Novo foi o Ministério da Educação e Saúde.
Seu titular de 1934 até 1945, Gustavo Capanema, atuou como um ponto de contato entre correntes contraditórias da política brasileira.
Na gestão de Capanema, foi marcante a influência de figuras da Igreja com a presença e o poder do laicato católico.
Alceu Amoroso Lima, Padre Leonel Franca e Cardeal Leme podem ser considerados como os garantidores, em nome da Igreja, do acordo político firmado com o Estado.
Esse acordo acertou o apoio da Igreja ao governo, que, em troca, garantiria a aprovação das chamadas emendas religiosas na Constituição de 1934.
Essas emendas incluíram, entre outros pontos, a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas.
OBS: Foi no bojo desse acordo que Capanema foi indicado para o Ministério.
TEXTO: Liga Eleitoral Católica
Na década de 1920, a crescente urbanização, a secularização da cultura e a fundação do Partido Comunista do Brasil enfraqueceram visivelmente a influência tradicional do catolicismo. Para fazer frente a tais mudanças, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Sebastião Leme, liderou um movimento destinado a defender os ideais cristãos na vida política nacional. Foi com esse intuito que foram criados a revista A Ordem (1921) e o Centro Dom Vital (1922), sob a direção de Jackson de Figueiredo. Foi somente no final da década de 1920, quando Alceu Amoroso Lima assumiu a direção do Centro Dom Vital e de A Ordem, que a Igreja conseguiu se tornar uma força político-social expressiva.
Em 1932, com o objetivo de articular-se com o mundo da política, o grupo católico, tendo novamente à frente dom Leme, criou a Liga Eleitoral Católica – LEC –, que teve como secretário geral Alceu Amoroso Lima. Dom Leme optou por essa estratégia em nome da segurança da comunidade católica e frequentemente lembrava, nas páginas da revista A Ordem, as virtudes da concessão e do compromisso àqueles que se opunham a Vargas e pretendiam formar um partido católico de oposição.
Congregando intelectuais e segmentos da classe média, a LEC teve uma participação expressiva nas eleições de 1933 para a Assembleia Nacional Constituinte. Sua atuação consistiu em supervisionar, selecionar e recomendar ao eleitorado católico os candidatos aprovados pela Igreja, mantendo uma postura apartidária. Argumentava-se não haver necessidade de um partido católico, quando as mais variadas agremiações partidárias aceitavam os postulados da Igreja. Numerosos deputados foram eleitos com o apoio da LEC, entre eles Luís Sucupira, Anes Dias, Plínio Correia de Oliveira e Morais Andrade.
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A construção do prédio do MEC – ícone da arquitetura moderna no país –, a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do Instituto Nacional do Livro e da Rádio MEC são algumas das experiências nacionalistas e patrióticas desse ministério.
Por outro lado, o fechamento da Universidade do Distrito Federal e a reforma do ensino secundário segundo o modelo do fascismo italiano marcam igualmente os temposde Capanema.
TEXTO: Ministério da Educação
O Ministério da Educação foi criado no Brasil em 14 de novembro de 1930 com o nome de Ministério da Educação e Saúde Pública. Sua criação foi um dos primeiros atos do Governo Provisório de Getúlio Vargas, que havia tomado posse em 3 de novembro.
O primeiro ministro da Educação, Francisco Campos, veio de Minas Gerais. Sua nomeação foi uma compensação do governo federal a Minas pela participação na Revolução de 1930, mas resultou também da pressão de setores conservadores da Igreja Católica, liderados por Alceu Amoroso Lima. Francisco Campos já acumulava uma experiência de reformador da educação em Minas Gerais na década de 1920. A reforma que fez no ensino primário e normal do estado foi pioneira no país. Seguia os postulados da Escola Nova, que haviam chegado ao Brasil pelas mãos de educadores como Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo após a I Guerra Mundial.
As principais medidas tomadas por Francisco Campos na pasta da Educação e Saúde Pública datam de abril de 1931. Nessa ocasião, foi assinado um decreto que afirmava ser preferível o sistema universitário ao das escolas superiores isoladas e que estabelecia, como exigência para a fundação de uma universidade, a existência de três unidades de ensino superior - as Faculdades de Direito, Medicina e Engenharia ou, no lugar de uma delas, a Faculdade de Educação, Ciências e Letras. Outra medida importante foi a reforma do ensino secundário.
Com a demissão de Francisco Campos, em 16 de setembro de 1932, outro mineiro assumiu o ministério: Washington Pires. Em 25 de julho de 1934, esse seria substituído por Gustavo Capanema, igualmente representante de Minas Gerais.
Gustavo Capanema chefiou o Ministério da Educação por um longo período, de 1934 a 1945. Foi marcante a presença de intelectuais famosos junto ao ministro, como consultores, formuladores de projetos, defensores de propostas educativas ou autores de programas de governo. Durante toda sua gestão Capanema contou com a fidelidade do poeta Carlos Drummond de Andrade como seu chefe de gabinete, e recebeu também a colaboração de Mário de Andrade, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Heitor Villa-Lobos e Manuel Bandeira, entre outros representantes da cultura, da literatura e da música nacionais.
O ministério Capanema ficou conhecido pelas grandes reformas que promoveu. Projetos iniciados na gestão de Francisco Campos foram amadurecidos e implementados. Entre eles destacam-se a reforma do ensino secundário e o grande projeto de reforma universitária, que resultou na criação da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi também nessa época que se definiu uma política de preservação do patrimônio cultural do país, que culminou na criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN –, concebido por Mário de Andrade e dirigido por Rodrigo Melo Franco de Andrade. Merecem destaque, ainda, a criação do Instituto Nacional do Livro e a construção do edifício-sede do Ministério da Educação no Rio de Janeiro, marco da moderna arquitetura brasileira, com painéis de autoria de Cândido Portinari.
Mas a gestão de Capanema seria também marcada pelos efeitos da política autoritária e centralista do Estado Novo. Foi assim que, em 1939, foi fechada a Universidade do Distrito Federal. Também sob sua direção se desenvolveu uma dura ação repressiva contra as escolas mantidas pelas colônias alemãs no sul do país. Foram fechadas mais de duas mil escolas, sobretudo depois de 1942, quando o Brasil rompeu relações com a Alemanha. Esse ato do governo ficou conhecido como a nacionalização do ensino.
Do ponto de vista da saúde pública, a segunda atribuição do ministério, houve uma preocupação de atender às populações do interior. Em 1937, foi criado o Serviço Nacional de Febre Amarela, o primeiro serviço de saúde pública de dimensão nacional, e em 1939, o Serviço de Malária do Nordeste. Vários hospitais, colônias e asilos foram construídos para o tratamento de outras endemias, como a tuberculose e a lepra. Em 1941, o Departamento Nacional de Saúde assumiu o controle da formação de técnicos em saúde pública.
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O projeto ideológico do Estado Novo permitiu a convivência entre correntes contraditórias, ou seja, pensadores e pensamentos de diferentes vertentes puderam ter presença e atuação destacadas na estrutura governamental.
Diversos artistas – como Cândido Portinari – e intelectuais – como Mário de Andrade – colaboraram com o Ministério da Educação na gestão de Gustavo Capanema.
O apelo maior do ministério e do governo era o de agregar todas as correntes ou ideias que contribuíssem para a construção da identidade nacional.
As experiências ou iniciativas interpretadas como ameaças à identidade nacional eram rechaçadas.
O ensino em língua estrangeira nas escolas das colônias do sul do Brasil, por exemplo, foi visto como ameaça à identidade nacional e foi sumariamente reprimido.
TEXTO: Os intelectuais e o Estado
Já nos anos 1920, o campo da arte e cultura era dominado por uma discussão sobre a identidade e os rumos da nação. A ideologia revolucionária, formulada nos primeiros anos da Era Vargas, veio revelar fortes pontos de contato com as propostas antiliberais desde então defendidas por intelectuais como Oliveira Viana, Azevedo Amaral e Francisco Campos, que se tornou o primeiro ministro da Educação.
Para esses autores, os principais responsáveis pela crise brasileira eram as oligarquias rurais que se haviam apoderado do Estado graças às deficiências do modelo de governo liberal-federalista introduzido pela Constituição de 1891, incapaz de resolver os problemas nacionais. A experiência liberal, não só brasileira, mas mundial, esgotara-se, e com ela instrumentos clássicos como os partidos políticos e o Congresso. Caberia ao governo central tomar as rédeas do poder e ditar as diretrizes do desenvolvimento brasileiro. Essas ideias eram compartilhadas pelas lideranças tenentistas, que, no início do Governo Provisório, ocupavam cargos estratégicos nos estados e na administração central.
Mas Vargas não se cercou apenas de tenentes. Sua política cultural envolveu a nomeação de intelectuais para postos de destaque e a criação de diversos órgãos capazes de atraí-los para junto do governo. Assim, em 1930, o arquiteto Lúcio Costa foi indicado para a direção da Escola Nacional de Belas Artes. Manuel Bandeira foi convidado, em 1931, para presidir do Salão Nacional de Belas Artes. Em 1932, o escritor José Américo de Almeida assumiu a pasta da Viação e Obras Públicas. Gustavo Capanema foi nomeado, em 1934, ministro da Educação e Saúde Pública, e convidou o poeta Carlos Drummond de Andrade para chefiar seu gabinete. Mário de Andrade iria assumir, em 1935, a direção do Departamento de Cultura da Municipalidade de São Paulo. Foi ele quem indicou, juntamente com Manuel Bandeira, o nome de Rodrigo Melo Franco de Andrade para organizar e dirigir o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, principal instituição de proteção dos bens culturais do país que seria criada logo após o golpe do Estado Novo.
O governo Vargas também tinha um grande projeto universitário. As primeiras iniciativas nessa área, contudo, não couberam ao governo federal: foram a Universidade de São Paulo, criada em 1934 por Armando Sales, e a Universidade do Distrito Federal, criada em 1935 por Pedro Ernesto. Data somente de julho de 1937 a lei de criação da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A participação dos intelectuais na vida nacional respaldava-se na crença de que eles eram uma elite capaz de salvar o país, pois estavam sintonizados com as novas tendências do mundo e atentos às diversas manifestações da cultura popular. Os artistas e intelectuais tratavam em suas obras das questões sociais que estavam na ordem do dia e participavam do debate político-ideológico entre a direita e a esquerda quemobilizava o mundo. Nos livros publicados por uma indústria editorial em expansão, aprofundava-se a temática da cultura negra, indígena e caipira. Através da literatura proletária e do romance regionalista fazia-se a crítica dos valores da sociedade patriarcal e oligárquica identificados com o tempo passado. Interessava agora retratar a vida do homem comum das cidades e dos sertões.
Em 1933, Gilberto Freyre publicou Casa Grande e Senzala, obra que modificava o enfoque da questão das raças formadoras do país e fazia a defesa da colonização portuguesa, expressa na ideia da democracia racial. Caio Prado Jr. escreveu Evolução política do Brasil, livro de orientação marxista que enfatizava a participação das camadas populares na história nacional. Em 1936, Sérgio Buarque de Holanda publicou Raízes do Brasil. Nessa obra, o autor se contrapunha a Gilberto Freire ao ressaltar a necessidade de o país superar as raízes culturais portuguesas como condição para entrar na modernidade.
Na década de 1930, houve um debate intelectual e político sobre que matriz regional expressaria melhor a nacionalidade. Além da sociedade nordestina retratada por Gilberto Freyre, tinha-se, nos textos de Cassiano Ricardo, a defesa da sociedade bandeirante como modelo para a democracia brasileira. Alceu Amoroso Lima, por sua vez, apontava na sociedade mineira traços do espírito de família e de religiosidade que seriam os verdadeiros valores da civilização brasileira.
Após a Revolução de 1930, observou-se uma tendência de diversificação cultural e, ao mesmo tempo, de integração política nacional, que permitiu realizar aspirações já formuladas nos anos 1920. A cultura se beneficiou das mudanças na educação, na literatura e nos estudos brasileiros, assim como da melhoria da qualidade do livro e do crescimento do mercado editorial.
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A ideologia do Estado Novo – ao pretender juntar novo e nacional, modernização e tradição –, construiu uma cultura política na qual os intelectuais tiveram um papel de destaque. 
Os intelectuais procuraram estabelecer uma relação direta entre a revolução modernista de 1922 e o Estado Novo...
...recuperando a denúncia à cópia dos anos 20...
...retomando a descoberta do Brasil realizada pelos modernistas de 1922.
Nesse processo, os intelectuais do Estado Novo desenharam também o Estado como tutor, como um pai frente a uma sociedade imatura, que necessitava ser orientada.
TEXTO: Semana de Arte Moderna
A Semana de Arte Moderna realizou-se no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. A conferência de Graça Aranha intitulada A emoção estética da arte moderna abriu o evento. Houve ainda palestras, conferências e discursos de escritores como Ronald de Carvalho, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Entre os pintores que participaram da Semana estavam Anita Malfati, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Oswaldo Goeldi, John Graz, Zina Aita, Inácio da Costa Ferreira, João Fernando de Almeida Prado, Antônio Paim Vieira e Alberto Martins Ribeiro. Tomaram parte também os escultores Vitor Brecheret, Wilhelm Haerberg e Hildergardo Leão Veloso, e os arquitetos Antônio Garcia Moya e Georg Przyrembel.
Os músicos modernistas que participaram da Semana foram Villa-Lobos, Guiomar Novaes, Ernani Braga, Frutuoso Viana, Paulina D'Ambrosio, Lucília Villa-Lobos, Alfredo Corazza, Pedro Vieira, Antão Soares, Orlando Frederico e outros coadjuvantes. A dança teve a contribuição de Yvonne Daumierie.
Vários outros escritores estiveram presentes, dando apoio aos conferencistas. Entre eles, Guilherme de Almeida, Agenor Barbosa, Plínio Salgado, Cândido Mota Filho, Renato de Almeida, Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Prado, Henri Mugnier, Rubens Borba de Morais e Luís Aranha.
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O crescimento da estrutura organizacional do Estado, principalmente daquela voltada para a realização de bens culturais, permitiu a incorporação de diversos intelectuais que passaram a integrar as fileiras do Estado Novo. 
Em postos nos ministérios, nos departamentos, nos conselhos, podemos encontrar...
...pensadores pertencentes à vertente conservadora reformista do Rio de Janeiro – como Oliveira Viana.
...autores ligados ao movimento católico – como Alceu Amoroso Lima.
...intelectuais que passaram pelo movimento de renovação literária iniciado em São Paulo – como Cassiano Ricardo.
TEXTO: Modernidade carioca
Os artistas e intelectuais cariocas dos anos 20 reagiam à ideia do modernismo como movimento cultural organizado. Manuel Bandeira, um dos expoentes da poesia modernista, sempre declarou que seus escritos haviam-se inspirado mais na vivência das rodas boêmias cariocas do que em discussões intelectuais.
No Rio de Janeiro, o intercâmbio entre os artistas e intelectuais e as camadas populares ocorria, de fato, muito mais no espaço informal das ruas, dos cafés, das festas de igreja, como a da Penha, das casas de santo, como a da Tia Ciata e dos carnavais. Desde o início do século e, mais acentuadamente, em meados da década de 1910, vários artistas e intelectuais estrangeiros, como Gustavo D'Allara, Paul Claudel – embaixador da França no Brasil –, Darius Millaud e Blaise Cendrars passaram a visitar o Brasil no intuito de conhecer sua literatura, pintura, folclore e música popular. Millaud estabeleceu relações pessoais com Pixinguinha e Donga, inspirando-se em sua música para montar musicais em Paris. Esse diálogo cultural que caracterizava a estética moderna também mobilizou alguns artistas e intelectuais cariocas, como Afonso Arinos, Emílio de Menezes, Bastos Tigre e Hermes Fontes, que frequentavam a república dos compositores populares e os cafés da Lapa.
Fora das rodas boêmias, Graça Aranha, com sua obra A estética da vida (1921), tornou-se o paladino do modernismo e foi convidado a fazer a conferência de abertura da Semana de Arte Moderna de São Paulo. Sérgio Buarque de Holanda e Prudente de Morais Neto, que fundaram, no Rio, em 1924, a revista Estética, compunham, com Ronald de Carvalho e Renato de Almeida, um grupo de intelectuais sintonizados com o movimento modernista paulista.
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Em sua complexa trama de tradição e modernização, o Estado Novo exerceu um apelo substancial sobre a intelectualidade brasileira.
Esse Estado juntava argumentos de racionalidade, planejamento, combate ao regionalismo, às oligarquias e ao mandonismo local.
Os intelectuais que se dedicavam à revista Cultura Política, publicada pelo DIP, por exemplo, esmeravam-se em afirmar a compatibilidade entre modernidade e tradição, entre futuro e passado, entre política e história.
Almir de Andrade, Prudente de Moraes Neto e Rosário Fusco, principais responsáveis pela publicação, foram pródigos em mostrar como a revolução estética de 1922 e a revolução política de 1930 guardavam uma relação de continuidade.
Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia, modernistas que compunham, com Plínio Salgado, o Grupo Verde-Amarelo, dirigiram os jornais A Manhã e A Noite – importantes órgãos da imprensa diária do Estado Novo.
OBS: Os intelectuais apostavam na modernidade que tinha, na intervenção do Estado, o eixo capaz de articular as forças sociais do futuro.
TEXTO: Os intelectuais e o Estado
Já nos anos 1920, o campo da arte e cultura era dominado por uma discussão sobre a identidade e os rumos da nação. A ideologia revolucionária, formulada nos primeiros anos da Era Vargas, veio revelar fortes pontos de contato com as propostas antiliberais desde então defendidas por intelectuais como Oliveira Viana, Azevedo Amaral e Francisco Campos, que se tornou o primeiro ministro da Educação.
Para esses autores, os principais responsáveis pela crise brasileira eram as oligarquias rurais que se haviam apoderado do Estado graças às deficiências do modelo de governo liberal-federalista introduzido pela Constituição de 1891,incapaz de resolver os problemas nacionais. A experiência liberal, não só brasileira, mas mundial, esgotara-se, e com ela instrumentos clássicos como os partidos políticos e o Congresso. Caberia ao governo central tomar as rédeas do poder e ditar as diretrizes do desenvolvimento brasileiro.
Essas ideias eram compartilhadas pelas lideranças tenentistas, que, no início do Governo Provisório, ocupavam cargos estratégicos nos estados e na administração central.
Mas Vargas não se cercou apenas de tenentes. Sua política cultural envolveu a nomeação de intelectuais para postos de destaque e a criação de diversos órgãos capazes de atraí-los para junto do governo. Assim, em 1930, o arquiteto Lúcio Costa foi indicado para a direção da Escola Nacional de Belas Artes. Manuel Bandeira foi convidado, em 1931, para presidir do Salão Nacional de Belas Artes. Em 1932, o escritor José Américo de Almeida assumiu a pasta da Viação e Obras Públicas. Gustavo Capanema foi nomeado, em 1934, ministro da Educação e Saúde Pública, e convidou o poeta Carlos Drummond de Andrade para chefiar seu gabinete. Mário de Andrade iria assumir, em 1935, a direção do Departamento de Cultura da Municipalidade de São Paulo. Foi ele quem indicou, juntamente com Manuel Bandeira, o nome de Rodrigo Melo Franco de Andrade para organizar e dirigir o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, principal instituição de proteção dos bens culturais do país que seria criada logo após o golpe do Estado Novo.
O governo Vargas também tinha um grande projeto universitário. As primeiras iniciativas nessa área, contudo, não couberam ao governo federal: foram a Universidade de São Paulo, criada em 1934 por Armando Sales, e a Universidade do Distrito Federal, criada em 1935 por Pedro Ernesto. Data somente de julho de 1937 a lei de criação da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A participação dos intelectuais na vida nacional respaldava-se na crença de que eles eram uma elite capaz de salvar o país, pois estavam sintonizados com as novas tendências do mundo e atentos às diversas manifestações da cultura popular. Os artistas e intelectuais tratavam em suas obras das questões sociais que estavam na ordem do dia e participavam do debate político-ideológico entre a direita e a esquerda que mobilizava o mundo. Nos livros publicados por uma indústria editorial em expansão, aprofundava-se a temática da cultura negra, indígena e caipira. Através da literatura proletária e do romance regionalista fazia-se a crítica dos valores da sociedade patriarcal e oligárquica identificados com o tempo passado. Interessava agora retratar a vida do homem comum das cidades e dos sertões.
Em 1933, Gilberto Freyre publicou Casa Grande e Senzala, obra que modificava o enfoque da questão das raças formadoras do país e fazia a defesa da colonização portuguesa, expressa na idéia da democracia racial. Caio Prado Jr. escreveu Evolução política do Brasil, livro de orientação marxista que enfatizava a participação das camadas populares na história nacional. Em 1936, Sérgio Buarque de Holanda publicou Raízes do Brasil. Nessa obra, o autor se contrapunha a Gilberto Freire ao ressaltar a necessidade de o país superar as raízes culturais portuguesas como condição para entrar na modernidade.
Na década de 1930, houve um debate intelectual e político sobre que matriz regional expressaria melhor a nacionalidade. Além da sociedade nordestina retratada por Gilberto Freyre, tinha-se, nos textos de Cassiano Ricardo, a defesa da sociedade bandeirante como modelo para a democracia brasileira. Alceu Amoroso Lima, por sua vez, apontava na sociedade mineira traços do espírito de família e de religiosidade que seriam os verdadeiros valores da civilização brasileira.
Após a Revolução de 1930, observou-se uma tendência de diversificação cultural e, ao mesmo tempo, de integração política nacional, que permitiu realizar aspirações já formuladas nos anos 1920. A cultura se beneficiou das mudanças na educação, na literatura e nos estudos brasileiros, assim como da melhoria da qualidade do livro e do crescimento do mercado editorial.
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Mário de Andrade, considerado a figura maior do modernismo, foi o redator de um anteprojeto para a criação de um órgão de defesa do patrimônio, que deu origem ao Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ligado ao Ministério da Educação e Saúde.
OBS: Um dos intelectuais mais importantes na formulação do pensamento sobre a modernidade no Estado Novo foi Cassiano Ricardo, modernista de primeira hora, autor do livro “Martim Cererê”, publicano em 1928; diretor do jornal “A manhã” e autor de “A marcha para o Oeste”, livro que relaciona o Estado Novo ao Movimento das Bandeiras.
TEXTO: Verde-Amarelos
Grupo composto pelos paulistas Plínio Salgado, Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia, Cândido Mota Filho e Alfredo Élis. Ao longo da década de 1920, os verde-amarelos formaram a vertente conservadora do movimento modernista. Para eles, o ingresso do Brasil na modernidade implicava o rompimento radical com toda herança cultural europeia. Seu lema era taxativo: Originalidade ou Morte! O projeto cultural dos verde-amarelos tinha também sua contrapartida política: o autoritarismo aparecia como condição imprescindível para a independência cultural e política do país. Era através do jornal Correio Paulistano que o grupo defendia as suas ideias. Em 1927, esses artigos foram reunidos em uma coletânea com o título O Curupira e o Carão. Em maio de 1929, o grupo publicou o manifesto Nhengaçu Verde Amarelo, em que defendia a integração étnico-cultural sob o domínio da colonização portuguesa, o nacionalismo sentimental e o predomínio das instituições conservadoras.
Na década de 1930, o grupo se bifurcou em dois movimentos distintos: o integralismo e o bandeirismo. Rompendo com o grupo de origem, Plínio Salgado fundou, em 1932, a Ação Integralista Brasileira. Liderado por Cassiano Ricardo, o bandeirismo reuniu o restante do grupo, que recebeu ainda o apoio de mais alguns intelectuais paulistas. O movimento tinha como proposta o fortalecimento do Estado, posicionando-se contra o comunismo e o fascismo. Era preciso defender as fronteiras geográficas e culturais do país, evitando a penetração de ideologias consideradas alienígenas.
Ao longo da década de 1940, Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Candido Mota Filho iriam tornar-se, em diferentes graus, ideólogos do Estado Novo, escrevendo artigos na imprensa diária em que defendiam as bases doutrinárias do regime. Cassiano Ricardo assumiu a direção do jornal A Manhã, porta-voz do regime, e a chefia do departamento político-cultural da Rádio Nacional. Já Candido Mota Filho assumiu a direção do DEIP – Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda – de São Paulo. A trajetória desse grupo ao longo de três décadas revela os vínculos que existiram entre a ideologia autoritária do Estado Novo e a do modernismo.
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Os intelectuais e os artistas modernistas, e também os academicistas, procuraram, cada qual, preservar e ganhar novos espaços nas instituições então criadas.
Os modernos conseguiram-se posicionar dentro do Estado autoritário e conservador por meio da inserção no Ministério da Educação.
O Estado, por meio de Capanema, garantiu o apoio da política cultural oficial aos modernos, seja no concurso do prédio do Ministério da Educação e Saúde, seja na criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sob a direção de Rodrigo Melo Franco de Andrade.
Os modernos tinham, assim, preocupações preservacionistas, pois desejavam cuidar de parte do passado brasileiro representado pela arquitetura colonial barroca das cidades mineiras.
OBS: Os exemplos dessa apropriação entre intelectuais e instituições do governo podem-se multiplicar.
No campo da construção do futuro, é importante lembrar que o Estado Novo pretendeu construir um Estado capazde criar uma nova sociedade e de produzir um sentimento de nacionalidade para o Brasil.
Não por acaso, foram criadas então instituições encarregadas de fornecer dados confiáveis para a ação do governo, como o Conselho Nacional de Geografia, o Conselho Nacional de Cartografia, o Conselho Nacional de Estatística e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Essas agências ajudariam o Estado a formular e implementar suas políticas destinadas a vencer os vazios territoriais e a pouca interação da rede urbana do país.
A noção de vazio territorial atualizava o conceito de sertão, entendido como espaço abandonado desde as denúncias de Euclides da Cunha.
Essa política ganhou visibilidade com um programa específico que anunciava uma Marcha para o Oeste.
OBS: Uma dimensão-chave desse projeto era a geopolítica, que tinha, no território, seu foco principal.
TEXTO: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
Dispor de informações confiáveis e conhecer melhor o território nacional do ponto de vista geográfico eram demandas centrais para o projeto modernizador do governo que Getúlio Vargas instalou no país após a Revolução de 1930.
Em julho de 1934, foi assim criado o Instituto Nacional de Estatística, que só foi efetivamente instalado em 1936 quando foi criado o Conselho Nacional de Estatística. Seu objetivo era coordenar nacionalmente todas as atividades estatísticas das diversas esferas administrativas. Em 1938, o Conselho Nacional de Estatística e o recém-criado Conselho Nacional de Geografia passaram a integrar o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em seus primeiros tempos, o IBGE funcionou como autarquia subordinada à Presidência da República, o que demonstra a importância que se atribuía à geografia e à estatística como braços da ação governamental. Somente em 1967, o IBGE transformou-se em fundação.
O recenseamento de 1940, considerado um dos mais bem-sucedidos na história do país, produziu em seu primeiro volume a obra monumental de Fernando de Azevedo: A Cultura brasileira.
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A Marcha para o Oeste, programa que Getúlio Vargas anunciou em 1940, pretendia ser uma diretriz de integração territorial para o Brasil. Vargas o lançou durante os festejos de inauguração da cidade de Goiânia.
Essa cidade, obra do interventor Pedro Ludovico Teixeira, foi projetada pelo arquiteto Atílio Corrêa Lima, o mesmo que esteve envolvido com a construção da cidade industrial de Volta Redonda, outro projeto estratégico do governo Vargas.
TEXTO: Criação da Companhia Siderúrgica Nacional
Já por ocasião da Revolução de 1930, a criação de uma grande indústria siderúrgica nacional havia sido fixada como um dos objetivos do governo, visando a atender às necessidades não só do desenvolvimento econômico, mas da própria soberania nacional. Foi exatamente a preocupação com a defesa nacional que fez com que, a partir de meados da década, os militares passassem a desempenhar um papel- chave na luta em prol da indústria siderúrgica brasileira.
Em junho de 1939, durante visita aos Estados Unidos do chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro, General Góes Monteiro, o governo norte-americano manifestou sua disposição de cooperar no reequipamento econômico e militar brasileiro, em troca de nossa colaboração nos planos de defesa continental traçados por Washington. Na ocasião, foi enviado ao Brasil um grupo de técnicos da United States Steel e, como resultado das conclusões favoráveis de seus estudos, foi instalada a Comissão Preparatória do Plano Siderúrgico. Contudo, em janeiro de 1940, o governo brasileiro foi informado da decisão daquela empresa de que não iria mais participar da construção da usina no Brasil. 
Embora os motivos dessa desistência nunca tenham ficado claros, é possível que estivessem ligados aos estudos que se faziam, na época, em torno da criação de um novo Código de Minas que proibiria a participação estrangeira na atividade metalúrgica. Em vista da decisão da empresa norte-americana, o governo brasileiro decidiu levar adiante o empreendimento por meio da constituição de uma empresa nacional, com a ajuda de empréstimos estrangeiros. Ainda em 1940, foi criada a Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional, que estabeleceu metas de produção e financiamento e decidiu pela localização da usina em Volta Redonda – RJ.
A embaixada brasileira em Washington foi, então, autorizada a solicitar ao EXIMBANK um crédito de US$17 milhões para a aquisição de maquinaria. O governo norte-americano, entretanto, retardava qualquer definição, e chegou a favorecer o reatamento das negociações entre o Brasil e a United States Steel, solução que, àquela altura, não era mais desejada pelo governo brasileiro.
O lance decisivo viria, por fim, com o discurso pronunciado por Vargas, a bordo do encouraçado Minas Gerais, em 11 de junho de 1940. Contendo alusões simpáticas ao Eixo, o discurso pode ser interpretado como manobra para forçar os Estados Unidos a uma definição favorável à implantação da siderurgia no Brasil. Logo a seguir, uma comissão integrada por Edmundo de Macedo Soares, Guilherme Guinle e Ari Torres foi aos Estados Unidos para negociar o financiamento junto ao EXIMBANK e obteve um empréstimo de US$20 milhões. Paralelamente aos trabalhos da comissão, prosseguiam as negociações entre os governos norte-americano e brasileiro quanto às bases e ao alcance da cooperação econômica e militar entre os dois países, que só se completariam em 1942. Isso não impediu que já em 7 de abril de 1941 fosse criada a Companhia Siderúrgica Nacional, sociedade anônima de economia mista cujo primeiro presidente, nomeado também naquela data, foi Guilherme Guinle.
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O Estado Novo foi pródigo em buscar a integração nacional.
De um lado, o governo estava se empenhando na política de combate ao federalismo, defendendo o país de ameaças de separatismo e enfrentando as lutas ideológicas que, no período, ameaçavam dividir os brasileiros.
De outro lado, o governo criou órgãos como o DNER e o IBGE, e oficializou, em 1942, uma nova divisão regional que interferiu no poder e na autonomia de lideranças estaduais, ao mesmo tempo em que deu apoio à diversidade regional.
Divulgava-se, por meio das escolas, um federalismo cultural, baseado em tipos sociais regionais – o seringueiro, a baiana, o vaqueiro do Nordeste e dos Pampas, o jangadeiro, todos fixados pelos desenhos de Percy Lau, funcionário do IBGE.
No ano de 1943, foram criados os territórios do Amapá, Rio Branco – atual Roraima – e Guaporé – atual Rondônia. Mais tarde, foram criados os territórios de Ponta Porã e Iguaçu, logo extintos.
Entre as políticas de intervenção concreta na realidade visando à integração, vale também lembrar a construção, entre 1930 e 1940, de cerca de 150 prédios para as agências dos Correios e Telégrafos, instrumento que permitia a comunicação nacional.
No início dos anos 40, os poderes públicos federal, estadual e municipal estiveram também envolvidos com projetos de reformulação das cidades antigas, de elaboração de planos diretores, de abertura de grandes avenidas.
Os prefeitos interventores participaram ativamente desse processo, como aconteceu no Rio de Janeiro, com Henrique Dodsworth, em São Paulo, com Prestes Maia, e, em Belo Horizonte, com Juscelino Kubitschek.
OBS: Curitiba, Porto Alegre e Recife também foram objetos de remodelação e receberam grandes obras viárias.
TEXTO: Novas interventorias e departamentos administrativos
Um dos principais mecanismos de centralização político-administrativa utilizados pelo Estado Novo foi o sistema de interventorias. Dentro desse sistema, os executivos estaduais passaram a ser chefiados por interventores diretamente subordinados a Vargas. No lugar das assembleias legislativas foram criados departamentos administrativos, cujos membros eram nomeados também pelo presidente da República e, em alguma medida, exerciam um controle

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