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Psicopatologia do Trabalho Universidade de Brasília Faculdade de Tecnologia Engenharia de Produção Ergonomia e Comportamento Humano Professora: Márcia Longen Zindel 1 Psicopatologia do Trabalho ► Origens e desenvolvimento da psicopatologia do trabalho Temas Abordados ► Antecedentes importantes ► Contribuições importantes ► Stress Ocupacional ► Principal enfoque ► Os impactos do trabalho sobre a dimensão psíquica ► Mecanismos psicológicos de defesa e estratégias defensivas ► Perspectivas do Stress Ocupacional ► Fontes de pressão no trabalho 2 Psicopatologia do Trabalho Iniciou-se na França, logo após a II Guerra Mundial, a partir de contribuições da chamada "psiquiatria social". A principal contribuição foi a publicação em 1987 do livro de Christophe Dejours, "A loucura do trabalho.” A psiquiatria social foi um movimento liderado por alguns psiquiatras franceses e que adquiriu maior importância nos anos 50, no período pós-guerra. Origens e desenvolvimento 3 Psicopatologia do Trabalho - A consolidação do trabalho como um campo de estudo a partir da contribuição da sociologia, as ciências de gestão, a psicotécnica, a psicologia e medicina do trabalho, etc. - As exigências de adaptação e de readaptação ao sistema produtivo em decorrências das necessidades impostas pela II Guerra. Interrogações sobre o papel do trabalho na gênese da doença mental. Antecedentes importantes - A modernização crescente da indústria francesa. - Criação de políticas de prevenção no campo da saúde e de um conjunto de medidas destinadas à promoção de uma higiene social. 4 Psicopatologia do Trabalho Contribuições mais importantes Paul Sivadon - A contribuição maior para o campo da saúde mental no trabalho foi: A sistematização de uma nova forma de abordar o doente mental: a ergoterapia. Através dessa abordagem, o trabalho passa a ser reconhecido especialmente pelo seu valor de integração social . Foi o primeiro a empregar pela primeira vez o termo psicopatologia do trabalho. Compreensão do valor terapêutico do trabalho no tratamento de doentes mentais. Reconheceu o trabalhador no doente mental, ao constatar o potencial patogênico de certas formas de organização do trabalho. - Estudou o trabalho como fonte de crescimento e evolução do psiquismo humano até as formas perversas de organização da atividade laboral, gerando pressões e conflitos insuperáveis e possibilitando a emergência da doença 5 Psicopatologia do Trabalho Contribuições mais importantes Louis Le Guillant Integra também a chamada psiquiatria social francesa. Procura compreender as possíveis relações entre alienação mental e alienação social, isto é, ele se interroga sobre as repercussões patológicas do condicionamento social e da alienação no trabalho. Propõe um esboço de uma psicopatologia social, ou seja, procura verificar o papel do meio no surgimento e no desaparecimento dos distúrbios mentais. Dessa forma, a doença mental no trabalho seria conseqüência de toda uma trajetória do indivíduo que se adicionaria a um contexto de trabalho repleto de contradições e de exigências. 6 Psicopatologia do Trabalho Contribuições mais importantes É considerado o maior representante da psicopatologia no trabalho. Se interessa pela investigação das conseqüências mentais do trabalho, mesmo quando não surgem doenças mentais propriamente ditas. Segundo ele, o objeto de estudo da Psicopatologia do Trabalho é o sofrimento. Segundo Dejours, o grande enigma para a Psicopatologia do Trabalho não é a doença mental e sim a normalidade, isto é, o que importa realmente é compreender as estratégias defensivas adotadas pelos trabalhadores com a finalidade de evitar a doença e preservar seu equilíbrio psíquico. Christophe Dejours 7 Psicopatologia do Trabalho Contribuições mais importantes Christophe Dejours Propõe a mudança do nome da disciplina para "Psicodinâmica do Trabalho“ considera esta segunda denominação mais adequada na medida em que amplia o campo da investigação, permitindo um olhar para o sofrimento, mas também para o prazer no trabalho. Dejours não admite que o trabalho seria causador de doenças mentais, podendo no máximo desencadeá-las e, ainda assim, sob certas circunstâncias bastante específicas. Segundo ele, "ao se dar a normalidade como objeto, a psicodinâmica do trabalho abre perspectivas mais amplas que (...) não dizem respeito apenas ao sofrimento, mas também ao prazer no trabalho; não apenas ao homem, mas ao trabalho; não apenas à organização do trabalho, mas às situações de trabalho no detalhe rigoroso de sua dinâmica interna". 8 Psicopatologia do Trabalho Stress Ocupacional As abordagens stress ocupacional e psicopatologia do trabalho representam duas correntes disciplinares que analisam de que forma a dinâmica e natureza das exigências do trabalho atuam sobre a saúde mental e física dos trabalhadores, desencadeando diferentes psicopatologias e manifestações de caráter psicossomático. 9 Psicopatologia do Trabalho Principal enfoque As pressões potencialmente capazes de pôr em risco o equilíbrio psíquico e saúde mental do indivíduo derivam da forma como o trabalho está organizado. Dessa forma a organização do trabalho representa o principal fator de discussão do prazer e sofrimento no seu contexto, pois concretiza a possibilidade de o trabalho se tornar equilibrante ou fatigante, fonte de realização ou de alienação para aquele que o realiza. 10 Psicopatologia do Trabalho Principal enfoque 11 Psicopatologia do Trabalho Os impactos do trabalho sobre a dimensão psíquica Os estímulos externos e internos transformam-se no aparelho psíquico em energia pulsional, que dispõe de três vias de descarga: a psíquica, a motora e a visceral. Caso essa energia não seja dispendida pela via psíquica e motora, ela acumula-se no aparelho psíquico como uma carga psíquica, originando-se a tensão psíquica. Dessa forma, a via visceral será demandada, já que a tensão não pode permanecer por longo período no aparelho psíquico. A tensão acumulada na via visceral poderá dar lugar à astenia e as patologias. 12 Psicopatologia do Trabalho Os impactos do trabalho sobre a dimensão psíquica 13 Psicopatologia do Trabalho Os impactos do trabalho sobre a dimensão psíquica Existiria algum tipo de trabalho ou organização do trabalho mais adequado à saúde mental do homem? 14 Segundo Dejours, o prazer ou o sofrimento no trabalho depende do grau que o mesmo oferece à livre-atividade do aparelho psíquico. O trabalho equilibrante traz prazer e é mentalmente saudável. Permite a contínua descarga psíquica do indivíduo. O trabalho fatigante opõe-se a livre atividade do aparelho psíquico, impedindo a descarga da tensão e repercutindo negativamente sobre a estrutura mental e corpo do trabalhador. Psicopatologia do Trabalho Os impactos do trabalho sobre a dimensão psíquica 15 Psicopatologia do Trabalho Os impactos do trabalho sobre a dimensão psíquica 16 Mecanismos psicológicos de defesa e estratégias defensivas Psicopatologia do Trabalho Os principais estudos sobre psicopatologia no trabalho são centrados nos mecanismos utilizados pelos trabalhadores para manter a sua saúde física e psíquica, ou seja, quais os mecanismos utilizados para manter a normalidade. Os estudos demonstram que parte da regulação emocional e física dos trabalhadores deve-se a utilização de estratégias individuais e coletivas de defesa. Tais mecanismos de defesa têm como principal função tornar possível a permanência dos trabalhadores em uma realidade permeada pela pressão e rigidez. 17 Psicopatologia do Trabalho Mecanismos psicológicos de defesa e estratégias defensivas SUBLIMAÇÃO É o mais eficaz dos mecanismos de defesa, na medida em que canaliza os impulsos para uma postura socialmente útil e aceitável. REPRESSÃO É a operação psíquica que pretende fazer desaparecer, da consciência, impulsos ameaçadores, sentimentos, desejos,ou seja, conteúdos desagradáveis, ou inoportunos RACIONALIZAÇÃO É um processo pelo qual o sujeito procura apresentar uma explicação coerente do ponto de vista lógico, ou aceitável do ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação, uma idéia, um sentimento, etc., cujos motivos verdadeiros não percebe. 18 PROJEÇÃO Operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro- pessoa ou coisa- qualidades, sentimentos, desejos e mesmo “objetos”que ele desconhece ou recusa nele. DESLOCAMENTO É um processo psíquico através do qual o todo é representado por uma parte ou vice-versa.Também pode ser uma idéia representada por uma outra, que, emocionalmente, esteja associada à ela. IDENTIFICAÇÃO É o processo psíquico por meio do qual um indivíduo assimila um aspecto, uma característica de outro, e se transforma, total ou parcialmente, apresentando-se conforme o modelo desse outro. Mecanismos psicológicos de defesa e estratégias defensivas Psicopatologia do Trabalho 19 REGRESSÃO É o processo psíquico em que o Ego recua, fugindo de situações conflitivas atuais, para um estágio anterior. SUBSTITUIÇÃO Processo pelo qual um objeto valorizado emocionalmente, mas que não pode ser possuído, é inconscientemente substituído por outro, que geralmente se assemelha ao proibido. FANTASIA É um processo psíquico em que o indivíduo concebe uma situação em sua mente, que satisfaz uma necessidade ou desejo, que não pode ser, na vida real, satisfeito. Psicopatologia do Trabalho Mecanismos psicológicos de defesa e estratégias defensivas 20 COMPENSAÇÃO É o processo psíquico em que o indivíduo procura compensar alguma deficiência, pela imagem que tem de si próprio, por meio de um outro aspecto que o caracterize, que ele, então, passa a considerar como um trunfo. NEGAÇÃO A tendência a negar sensações dolorosas. Psicopatologia do Trabalho Mecanismos psicológicos de defesa e estratégias defensivas 21 Psicopatologia do Trabalho Perspectivas do Stress Ocupacional O stress é um fenômeno relacionado a adaptação do indivíduo as demandas do ambiente e reflete todo um conjunto de reações e de respostas do organismo, fundamentais para a preservação de sua integridade. Os estímulos psíquicos e físicos presentes no ambiente, quando percebidos como pressões, podem ou não descompensar o equilíbrio e a homeostase do seu corpo. Nesse processo vários mecanismos psicofísicos entram em ação, para restabelecer o equilíbrio e ajustar o organismo as pressões do ambiente. As sociedades modernas apresentam um grande número de agentes stressores, o que exige permanente adaptação do homem ao seu meio. 22 Psicopatologia do Trabalho Fontes de pressão no trabalho → Fatores intrínsecos e extrínsecos ao trabalho (condições de salubridade, jornada de trabalho, ritmo de trabalho, riscos potenciais à saúde, sobrecarga de trabalho, introdução de novas tecnologias, etc 23 → Papel do indivíduo na organização. → Relacionamento interpessoal (superiores, colegas,subordinados) Psicopatologia do Trabalho Fontes de pressão no trabalho 24 → A carreira e a realização (satisfação pessoal obtida a partir da realização de expectativas de crescimento do indivíduo) → A estrutura e o clima da organização (ameaças potenciais a integridade do indivíduo, sua autonomia, sua identidade) Psicopatologia do Trabalho Fontes de pressão no trabalho 25 → A interface casa-trabalho (eventos pessoais fora do trabalho). Psicopatologia do Trabalho Fontes de pressão no trabalho 26 Psicopatologia do Trabalho Fontes de pressão no trabalho 27 Reações crônicas, de médio ou longo prazo: Dores psicossomáticas; hipertensão; insônia; problemas de pele; obesidade etc. Reações ao stress Psicopatologia do Trabalho FISIOLÓGICAS/SOMÁTICAS Reações agudas, de curto prazo: Aumento da freqüência cardíaca; aumento da pressão arterial; tensão muscular; imunidade debilitada. 28 Reações de longo prazo: isolamento Psicopatologia do Trabalho Reações ao stress EMOCIONAIS Reações agudas, de curto prazo: - Irritação; decepção, frustração; medo; cansaço, saturação, monotonia; Reações crônicas, de médio ou longo prazo: resignação, insatisfação; estados depressivos; medo do fracasso; incapacidade de se desligar do trabalho. 29 Reações crônicas, de médio ou longo prazo: Consumo exagerado de nicotina, álcool e medicamentos; aumento das faltas; intensificação de comportamento passivo no tempo livre. Psicopatologia do Trabalho Reações ao stress COMPORTAMENTOS INDIVIDUAIS Reações agudas, de curto prazo: Eficiência inconstante, erros freqüentes; abandono de ações de controle das atividades. 30 Reações crônicas, de médio ou longo prazo Isolamento Psicopatologia do Trabalho Reações ao stress COMPORTAMENTOS SOCIAIS Reações agudas, de curto prazo: Conflitos; brigas; agressões. 31 EFEITOS DO STRESS NO ORGANISMO 32 Psicopatologia do Trabalho REFERÊNCIAS CODO, W. et al. Indivíduo, trabalho e sofrimento: uma abordagem interdisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. DEJOURS, C. Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações. O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1993. ________. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento trabalho. São Paulo: Atlas, 1994. ________. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: FGV, 2000. ________. A loucura do trabalho: estudo de Psicopatologia do Trabalho. São Paulo: Cortez, 1998. JACQUES, Maria da Graça e CODO. Saúde mental & trabalho. Petrópolis: Atlas, 2002. LADEIRA, Marcelo B. O processo de stress ocupacional e a psicopatologia do trabalho. Revista de Administração, São Paulo v. 31, n.1, p. 64-74, jan/mar.1996. LIMA, Maria Elisabeth. A Psicopatologia do trabalho: origens e desenvolvimento recentes na França. Psicologia Ciência e Profissão, 1998, 18 (2), 10-15. 33