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A AMPLIAÇÃO DO TERMO DOCUMENTO HISTÓRICO Francis Borba Dias Soares, Marcelo Navarini Schlottfeldt, Roger Renan Brendler Camargo, Vitor Augusto Elwanger Betat Prof. Gabriel Pedroso da Fontoura Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Licenciatura em História (HID19) – Seminário da Prática II 21/10/2017 RESUMO A ampliação do que utilizar e o que pode ser utilizado como documento histórico, foi um assunto bastante debatido principalmente no século XIX e XX tendo como intuito expandir o campo de possibilidades do historiador. Este artigo faz uma breve caminhada pelos séculos apresentados, buscando explicitar os principais momentos e necessidades que fizeram o documento histórico sofrer revoluções ao passar dos tempos. Como desenvolvimento, este artigo busca também fazer um apanhado geral de como os documentos históricos são trabalhados em sala de aula. Palavras-chave: Documento, histórico, historiador. 1 INTRODUÇÃO Uma das principais discussões que permeiam o ensino da história e os historiadores nas últimas décadas, se refere ao uso de fontes históricas e a maneira como as mesmas podem e devem ser utilizadas para a fundamentação de trabalhos, teses e ideias. Iniciando pela percepção mais difundida, o documento histórico, fonte esta que será debatida neste trabalho, seria um conjunto de folhas de papel, escrito por alguém importante. O documento que, para a escola histórica positivista do fim do século XIX e do inicio do século XX, será o fundamento do fato histórico, ainda que resulte da escolha, de uma decisão do historiador, parece apresentar-se por si mesmo como prova histórica. A sua objetividade parece opor-se à intencionalidade do monumento. Além do mais, afirma-se essencialmente como um testemunho escrito (LE GOFF. 1980, p.283). Porém, desde o século XX, principalmente com a ascensão da Escola dos Annales, o conceito de documento histórico vem sendo ampliado, muito pela necessidade do historiador, que visa conseguir dar andamento em suas pesquisas a partir de resquícios diferenciados de fonte. A Escola dos Annales, no século XX, colaborou ainda mais para o alargamento da noção de fonte. Ao determinar que a busca do historiador seria guiado por tudo que fosse humano, Marc Bloch demonstra que ao mesmo tempo em que se amplia o campo do historiador, amplia-se, necessariamente, a tipologia de sua fonte (KARNAL; TATSCH. 2015, p.14). Anteriormente, acontecimentos históricos, aspectos e particularidades ocorridas, poderiam ser atestadas apenas por documentos oficiais ou documentos que fossem considerados totalmente verdadeiros, sendo assim, documentos não oficiais, fantasiosos ou até mesmo mitológicos, eram prontamente invalidados e seus aspectos totalmente desconsiderados. Nos tempos atuais, é muito mais fácil validar um documento e atestar a sua legitimidade, seja por conhecimento da história, ou pela química e física que conseguem a partir de testes específicos mensurar a validade dos mesmos. Além disso, com a ressignificação do uso dos documentos oficiais, os documentos fantasiosos, mitológicos e até mesmo ilegítimos, estão sendo analisados de outra forma. Assim, o documento escrito clássico passou a ser somado ao documento arqueológico, à fonte iconográfica, ao relato oral (quando possível), a analises seriais e a todo e qualquer mecanismo que possibilite uma interpretação (KARNAL; TATSCH. 2015, p.14). Com isso, este trabalho tem o intuito de fazer uma pesquisa documental, fundamentando e expandindo o debate sobre a utilização e a análise de documentos históricos. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O Início do século XIX, era fortemente amparado pelo testemunho histórico, ou seja, o documento escrito era a única expressão de que se valiam os historiadores ou ainda, o único caminho possível para que se fosse possível mensurar a “verdade” contida no passado. Para Coulanges a “[...] a única habilidade (do historiador) consiste em tirar dos documentos tudo o que eles contém e em não acrescentar nada do que ele não contém. O melhor historiador é aquele que se mantém o mais próximo possível dos textos” (COULANGES apud MEIRELLES 2002, p.143). Chesnaux, mesmo em uma época dominada pelo positivismo e por suas crenças sobre o documento histórico, já indicava algumas particularidades oriundas do século em questão e que impossibilitavam a visão concreta de verdade que os documentos deveriam passar: “[...] os fatos históricos são contraditórios como o próprio decorrer da história; eles são percebidos diferentemente (porque diferentemente ocultados) segundo o tempo, o lugar, a classe, a ideologia. Por outro lado, escapam à experimentação direta por sua natureza passada; são suscetíveis apenas de aproximações progressivas, sempre mais próximas do real, nunca acabadas nem completas” (CHESNAUX apud MEIRELLES 2002, p.144). Já é comum dizer que no Século XX iniciou-se a ampliação nos conceitos e possibilidades da utilização de fontes históricas disponíveis ao historiador, isso tudo segundo Karnal e Tatsch, cumpriu o desejo de Bloch às vésperas de sua execução, que anelava dar o estatuto de “documento histórico” a tudo que contivesse a possibilidade de vislumbrar a ação humana. É importante destacar que os conceitos de documento histórico, evoluíram mais do que os historiadores tradicionais gostariam, porém é importante ressaltar que esta evolução se fez necessária para que documentos se tornassem permissivos aos estudos históricos da maneira como atualmente são. Segundo Karnal e Tatsch: Muitas vezes a fonte mítica era a única disponível. Que arqueólogo da península Balcânica poderia prescindir da Ilíada ou da Odisséia de Homero para iluminar suas escavações? Que especialista em Mesopotâmia poderia abrir mão da epopeia de Gilgamesh? Que historiador da Alta Idade Média poderia simplesmente conferir o apodo de fantasiosa a todas as narrativas hagiográficas? O Popo Vuhl poderia ser eliminado como fonte histórica sobre os maias? Todas são narrativas tidas como míticas e todas são hoje indispensáveis a analise histórica. Ainda segundo os autores acima mencionados, “[...]o papel aguenta qualquer ideia, sofre calado qualquer discussão e jamais se rebela contra a pena do autor, contra os dedos do digitador ou contra a tinta rápida da impressora. ” Fazendo alusão assim, que é extremamente necessária a busca pelo novo e pelo desconhecido a partir do que não se tem, no entanto, ainda é importante atestar sempre a veracidade dos documentos e do historiador. Por mais que tenhamos evidenciado que documentos “fantasiosos” possam servir para a análise histórica, a busca de autenticidade continua sendo fundamental. Os famosos Diários de Hitler, por exemplo, foram apresentados com estardalhaço à imprensa pela revista alemã Stern, em abril de 1983. A impressionante saga daqueles cadernos, que teriam sido subtraídos ao caos da Alemanha do fim da Segunda Guerra e levados para a Suíça, incendiou a imaginação mundial. Mal eles começaram a sair em público e a farsa se desfez como um castelo de areia (KARNAL; TATSCH. 2015, p.18). Por fim, é importante ressaltar que a ampliação documental foi um evento essencial para que os historiadores pudessem contar a história do passado e do presente, a partir de tudo o que se tinha ou tem disponível, enriquecendo e expandindo os conceitos. “ A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando estes existem. Mas pode fazer-se, deve fazer-se sem documentos escritos, quando não existem. Com tudo o que a habilidade do historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel, na falta das flores habituais. Logo, com palavras. Signos. Paisagens etelhas. Com as formas do campo e das ervas daninhas. Com os eclipses da lua e a atrelagem dos cavalos de tiro. Com os exames de pedras feitos pelos geólogos e com as análises de metais feitas pelos químicos. Numa palavra, com tudo o que, pertencendo ao homem, depende do homem, serve o homem, exprime o homem, demonstra a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem. 3 METODOLOGIA O documento escrito é uma das principais fontes utilizadas pelas pessoas atualmente, estes facilitam muito para encontrar respostas diretas para as questões em si. Nem sempre utilizando fontes convencionais um trabalho de analise e interpretação se torna fácil, ou que resolverá seus problemas de metodologias. Primeiramente é necessário fazer uma reflexão, para que se possa trabalhar com fonte histórica deste tipo, para que se perceba a natureza deste tipo de conteúdo. Devemos considerar o contexto de produção independente de se tratar de um cartas, livro, jornais ou documentos de instituições publicas ou privadas. Sendo assim, deverá sempre considerar-se o contexto de produção de tal documentação. Considerando o universo das fontes e também o canal de comunicação que é utilizado, deve se registrar todas as informações que conseguir sobre as documentações (mencionadas acima). Após isto, devemos analisar toda e qualquer conteúdo deste documento ou conjunto documental com uma imensa analise do conteúdo escrito. a analise do discurso assim concebido [...] pode efetuar-se: pela semântica, teoria do conteúdo das significações ou, como agora passou a preferir-se, estudo das mencionadas significações que seja ao mesmo tempo gerativo (investimentos sucessivos de sentido em patamares diferentes), sintagmático (e não unicamente classificatório) e geral (não atado com exclusividade a um único sistema significante); ou pela semiótica, que se ocupa da expressão das significações e de sua produção, em outras palavras, em especificar como se chega a significar alguma coisa. (CARDOSO, 1997, p.538). Sendo assim, devemos considerar que o documento é uma construção e um discurso que pode conter adaptação do autor de acordo com suas fontes. Contudo, é importante ressaltar que nem tudo o que é escrito pelo autor deve ser levado como certeza absoluta, fantasias para enriquecimento e atratividade do texto. Dentre as possibilidades os documentos podem ser analisados pela criticidade do mesmo. A crítica externa, refere-se do documento em si, determinando assim a veracidade do documento ou sua falsidade, sendo que se for cópia ou documento original, qual o seu suporte, digital ou impresso. Pode-se verificar se o mesmo passou por alguma forma de alteração. A critica externa deve analisar a proveniência do documento com dados sobre sua autoria, local, data de produção ou elaboração. A critica interna, em sua analise necessita conter aspectos da credibilidade do conteúdo, de maneira oposta a critica externa, que a analise a forma. Deve se fazer uma minuciosa leitura do texto, para que proceda a interpretação do seu conteúdo. Deve-se questionar o documento para buscar compreender o que o autor queria transmitir e qual o contexto de sua produção. Devemos ter cuidado ao realizar buscas na internet devido a existência de milhares de arquivos verídicos e inverídicos nos quais devido ao excesso de conteúdo pode ser prejudicial a pesquisa é necessário ser mais seletivo ao pesquisar, priorizando documentos de maior relevância e maior antiguidade. Por fim, nenhuma abordagem deve ser analisada de forma definitiva e muito detalhada durante as fases de pesquisa. Durante os processos de construção da pesquisa é importante manter-se alerta e assimilar todos os contextos que a envolvem. No ato de interpretar a realidade histórica o autos Lucien Febvre deixa ao historiador, no livro Combates pela História o alerta: ‘’...é preciso saber pensar.’’ quando referido leitura de documentos históricos, possuindo a habilidade de desconstruir os mesmos em discursos implícitos e explícitos. Tal habilidade pode ser exercitada principalmente pelo professor em sala de aula, utilizando a comparação, a observação e a interpretação de fatos e acontecimentos em ordem de verificar sua veracidade. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos considerar qualquer tipo de vestígio deixado pelo homem como um documento histórico, porém, dependemos muito da capacidade do profissional de analisar a informação obtida e chegar a conclusões mais próximas da realidade. Ao mesmo ponto em que não podemos tomar a informação obtida como verdade absoluta, pois sem a analise de outras fontes correlacionadas não podemos notar a verdadeira intenção do autor em produzir tal documento, podendo ser criado de forma tendenciosa ou parcial. É também importante que o professor saiba utilizar documentos históricos de forma crítica em sala de aula, criando nos alunos um senso crítico ao analisar documentos de diversas fontes para melhor interpretar o objeto de estudo. 5 REFERÊNCIAS KARNAL, Leandro; TATSCH, Flavia Galli. O Historiador e Suas Fontes: A Memória Evanescente. Editora Contexto, 2015. LE GOFF. História e Memória. Editora da Unicamp, 1990. MEIRELLES, William Reis. Ler, Ouvir e Ver. A Revolução documental na pesquisa histórica: Uma abordagem das formas da construção da história. História e Ensino, Londrina, 2002 CARDOSO, Ciro Flamarion. História e Paradigmas Rivais. In: Cardoso e Vainfas, 1997. FEBVRE, L. Combates pela História. Lisboa: Editorial Presença, 1977. Vol. 1 pág 57.
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