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Relatório de Seminário A Internet enquanto espaço discursivo. Prof. GilBF

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A Internet enquanto espaço discursivo 
A comunicação em fóruns online 
 
Relatório de Seminário I 
Prof. Doutor Gil Baptista Ferreira 
Ano letivo 2017/2018 
Aluno: Francisco Fontes 
 
Mestrado em Comunicação Social: Novos Media 
Escola Superior de Educação de Coimbra 
 
 
 
Resumo 
O presente relatório procura interrogar sobre a possibilidade de deliberação na blogosfera. 
Parte da abordagem à internet como promessa para o ideário habermiano de democracia 
deliberativa para analisar as plataformas específicas que são os blogues. Referencia ainda um 
estudo de caso com blogues políticos em Portugal. 
 
Palavras Chave: Deliberação; blogues; blogosfera; 
 
Prólogo 
«O papá está a dizer ‘caramba!’ ao computador.» 
Estas palavras tornaram-se o código familiar para o modo como a minha comunidade 
virtual se infiltrou na nossa realidade. (…) A princípio, pareceu-me fria a ideia de 
uma comunidade apenas acessível através de um ecran de computador, mas depressa 
constatei a emoção que o correio eletrónico e as teleconferências podem causar (…). 
Interesso-me pelas pessoas que vim a conhecer desse modo, e interesso-me 
profundamente pelo futuro do meio que nos permite reunir (Rheingold, 1996, p. 13). 
 
O archaios das Comunicações Mediadas por Computador (CMC) inscrita no prólogo 
da obra de referência A Comunidade Virtual faz um relato acutilante sobre o modo 
como estas tecnologias entraram na vida das pessoas, se impuseram, e a 
transformaram radicalmente, em algo de diferente, ao ponto de hoje elas serem quase 
os “membros”, o “cérebro” e o “coração” nos seus quotidianos. 
 
Desde meados do década de 90 que expressões como “democracia digital”, 
“ciberdemocracia” ou “democracia eletrónica” se tornam correntes nos estudos sobre 
comunicação política, lançando grandes expetativas sobre outros modos de participação 
democrática sustentados no potencial das novas infraestruturas tecnológicas e dos 
computadores em rede (Ferreira, 2010, p. 99). 
Os mais entusiastas encaram o novo ambiente tecnológico como um meio que oferece 
múltiplas possibilidades ao revigoramento da discussão pública e decisão política. 
Os defensores da “democracia eletrónica”, segundo Ferreira (2012, p. 42), veem nela 
condições para corresponder aos requisitos básicos da teoria sobre a esfera pública 
democrática de Jürgen Habermas. 
[É] um meio universal, anti-hierárquico, complexo e exigente, na medida em que oferece 
acesso universal, comunicação não coerciva, liberdade de expressão, agenda sem restrições, 
comunicação fora das tradicionais instituições políticas e gera opinião pública mediante 
processos de discussão – por tudo isto, a internet é anunciada como o mais bem conseguido 
meio de comunicação (Ferreira, 2010, p. 103). 
 
Blogosfera e deliberação 
Com o surgimento de uma nova fase da história da internet, a denominada Web 2.0, ressurge 
o idealismo que lhe estava associado, reforçado por um conjunto de novas ferramentas 
comunicacionais. No presente relatório de Seminário será analisado o bloguismo enquanto 
forma discursiva capaz de contribuir para o ideal de democracia deliberativa. 
Parte-se da comunicação apresentada na sessão de Seminário pelo Prof. Doutor Gil Baptista 
Ferreira, com o título “A Internet enquanto espaço discursivo: A comunicação em fóruns 
online”, em que apresenta um estudo de caso sobre blogues políticos em Portugal. 
Segundo dados divulgados em 2007 pela Technorati (motor de busca especializado em 
blogs), por dia eram criados uma média de 120.000 blogs; ou seja, o equivalente a três novas 
páginas a cada dois segundos (Globo.com). 
Trata-se, por conseguinte, de uma plataforma específica, que se poderá traduzir em português 
por “diário da rede” (resultante da contração dos termos em inglês web e log), e que muito 
popular entre os internautas, de fácil utilização e acessível de forma gratuita a quem está 
ligado à internet através de um computador ou de outro equipamento com usos similares. 
Num ambiente em que a internet é aceite como uma grande esperança para o revigorar da 
participação política - embora persistam as interrogações sobre a forma como poderá 
contribuir para uma esfera pública virtual -, a blogosfera desperta uma atenção particular. 
Segundo Ferreira (2012, p. 77), é “no âmbito deste enquadramento que a crescente 
importância da blogosfera vem emprestar consistência à ideia de um novo espaço 
deliberativo”, pelas características da plataforma, designadamente da facilidade de 
administração de conteúdos e pela interatividade que proporciona (2015, p. 5). 
No entanto, para que a deliberação seja possível, segundo o autor, terão de se verificar um 
conjunto de condições prévias: 
Como condição de partida, a capacidade dos indivíduos para discutirem os assuntos públicos 
entre si é um elemento essencial para o desenvolvimento da opinião pública e para a 
promoção do envolvimento cívico. Consequentemente, nos seus termos mais rigorosos e 
simultaneamente mais gerais, um discurso deve obedecer à racionalidade e o debate público 
deve possuir como objectivo a obtenção de um consenso racional (cf. Elster, 1997: 3). Por 
seu turno, para que a deliberação ocorra, o debate público deve ocorrer entre um grupo 
heterogéneo de pessoas com perspectivas divergentes (2012, p. 79). 
 
Os blogues têm como uma das suas caraterísticas a interatividade, ao estarem desenhados de 
modo a permitirem aos leitores deixar comentários, responder a comentários entre si, e ainda 
criar interações com outros blogues; ou seja, com outras comunidades de leitores e de 
comentadores de blogues. 
Como é sabido, deliberação é sobretudo uma prática de intercompreensão em que indivíduos 
e grupos definem problemas, negoceiam interesses, procuram soluções que se adequem a 
determinada comunidade, reivindicam direitos e conquistam um estatuto, politicamente 
valorizado e reconhecido (Ferreira, 2012, p. 49). 
 
Contudo, é comum verificar-se algo diverso. Segundo Ferreira (2012, p. 82), os autores dos 
blogues “controlam, quer os conteúdos que produzem”, quer os pontos de vista apresentados 
em comentários por parte de leitores”, e por critérios pessoais também escolhem as ligações 
a outros blogues e fontes de informação. 
O mesmo autor, acrescenta ainda ser comum: 
a homofilia dos grupos primários, isto é, a propensão para os blogues se associarem a blogues 
ou sites com uma orientação ideológica ou partidária semelhante à sua. Por seu lado, os 
leitores tendem igualmente a escolher os blogues cujos autores possuem critérios semelhantes 
aos seus próprios acerca do que é importante, e que observam eventos e temas com uma lente 
interpretativa próxima da sua (Ferreira, 2012, p. 82). 
 
Considerações finais 
 
Em suma, observa Ferreira (2015, p. 34) que em geral as diversas comunidades organizadas 
na blogosfera “não se estruturam em torno da construção discursiva de um consenso, nem 
aceitam pontos de vista divergentes”, ao contrário “silenciam vozes discordantes e estimulam 
o aparecimento de pequenos grupos de indivíduos com a mesma opinião”. 
 
Deste modo, os blogues são um espaço de debate entre indivíduos com diferentes pontos de 
vista. Não fomentam a partilha de pontos de vista de autores e leitores no sentido da procura 
de um consenso, e ao longo do tempo vão caminhando no reforço da polarização política. 
 
Daí se conclui, segundo Ferreira, que o conceito de deliberação “não se aplica ao tipo de 
comunicação que se encontra generalizada nos blogues políticos” (2015, p. 32). Embora 
reconheça que os participantes na blogosfera desejem participar, trocar opiniões, “mas não 
mudam de opinião, nem procuram opiniões diferentes” (2012, p. 86).No estudo de caso que realizou com blogues políticos em Portugal, em torno da ideia de 
“austeridade”, Ferreira identificou alguns caraterísticas apontadas na revisão da literatura, 
destacando três aspetos: a existência de homofilia entre blogues, a tendência de se cruzarem 
os que têm a mesma inclinação ideológica e de os leitores lerem blogues alinhados com as 
suas preferências ideológicas e partidárias (2015, p. 34). c 
 
Em conclusão, Ferreira afirma que: 
 
Se a designada Web 2.0 pode fornecer verdadeiras avenidas para quem pretender levar a cabo 
processos deliberativos, sabe-se que essa é uma realidade pouco usual em toda a blogosfera 
(2012, p. 85). É verdade que a blogosfera promove a participação e oportunidades de 
envolvimemto. De facto, um olhar atento mostrará que isso será possível à custa de alguma 
flexibilização dos conceitos de participação e envolvimento nas interações digitais (2015, p. 
35). 
 
 
 
Referências 
 
Ferreira, G. B. (Primavera/ Verão de 2010). Internet e Deliberação a Discussão Pólítica em Fóruns 
Online. Media & Jornalismo, Vol. 9, N.º1(N.º 16), 99-114. 
Ferreira, G. B. (2012). Novos media e vida cívica: Estudos sobre deliberação, internet e jornalismo. 
Covilhã: Livros LabCom, Ubi. 
Ferreira, G. B. (2015). Web 2.0 and deliberation. The ongoing practice of political debate in 
weblogs. Comunicação Pública [Online], 10(18). doi:10.4000/cp.997 
Globo.com. (s.d.). Número de Blogs é grande, mas ritmo de criação de novas páginas já não é tão. 
Globo.com. Obtido em 20 de junho de 2018, de 
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,AA1510372-5602,00.html 
Rheingold, H. (1996). A Comunidade Virtual. Lisboa: Gradiva.

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