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SAMANTHA APARECIDA VIEIRA S L I D E S E L A B O R A D O S P O R XÊNIA HONÓRIO CURRÍCULO: contexto, teoria e prática O estudo do currículo, dentro do campo da educação, é abrangente e complexo: abrangente porque os reflexos de seu estudo são tanto teóricos quanto práticos e estão constantemente em disputa. abrangente e complexo porque essas teorias na prática lutam para: (1) Criar uma hierarquia entre os conhecimentos; (2) Confrontar-se na produção de conceitos pedagógicos; (3) Transformar a realidade por meio do conhecimento; (4) Moldar a escola; (5) Definir a personalidade dos sujeitos. Porém... ... antes de aderir ou aceitar qualquer uma dessas teorias, deve-se levantar diversos questionamentos, como: • Há inúmeros conhecimentos? • Existem conhecimentos mais importantes que outros? • Quais são os conhecimentos mais relevantes? • Há conhecimentos poderosos? • Qual tipo de conhecimento a escola propaga e quais ela deveria propagar? • Que concepções de educação, política e econômica estão por trás dos conhecimentos defendidos pelas diferentes teorias curriculares? Portanto, é importante perceber que... cada teoria possui um foco e um entendimento sobre educação, pedagogia, filosofia e sociologia do conhecimento, política, economia e, portanto, sobre o currículo e seus conteúdos. é fundamental que o pedagogo compreenda os sentidos de cada teoria curricular e o que cada uma delas propagou durante a trajetória de discussões sobre o currículo, desde a sua gênese até a sua formação como campo de estudos. Discutir sobre currículo... nos faz pensar no elemento conhecimento. nos leva a associa-lo aos conteúdos transmitidos nas disciplinas que compõem as grades curriculares. Contudo, pensar o “currículo” é ir além dessas questões. Essa perspectiva de organização dos conteúdos é considerada atualmente tradicional, arcaica e vinculada a um tipo de teoria pedagógica traduzida por Paulo Freire como: EDUCAÇÃO BANCÁRIA Educação Bancária “Em lugar de comunicar- se, o educador faz ‘comunicados’ e ‘depósitos’ que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. (FREIRE, p. 33, 1987). Fonte: https://br.pinterest.com/pin/463448617875162016/ Quando ultrapassamos essa ideia de currículo e de grade curricular... observamos que há muito mais nas discussões sobre o currículo, e que envolve não somente teorias críticas, mas também pós-críticas. esse caráter polissêmico (com vários significados) das teorias curriculares não deve servir de pretexto para imobilismo das instituições, ele deve ser o eixo para a definição de políticas públicas, orientação e discussão do processo ensino- aprendizagem, assim como para a reflexão sobre currículo, sociedade e formação. Sacristán (2000) argumenta que “o campo do currículo não é somente um corpo de conhecimentos, mas uma dispersa e ao mesmo tempo encadeada organização social” (p. 3). O currículo engloba, portanto, um conjunto de ações de diferentes sujeitos, com habilidades diversas, proporcionais à responsabilidade e a atividade de cada um. Currículo Mas, o que exatamente se entende por currículo? Quando, como e por que nasce sua discussão? A partir de que momento é dado seu reconhecimento como um campo a ser estudado e problematizado na Educação? Surgimento do campo de estudos do currículo Vários elementos fizeram com que surgisse o campo de estudos do currículo, alguns deles são: (...) a formação de um corpo de especialistas sobre currículo, a formação de disciplinas e departamentos universitários sobre currículo, a institucionalização de setores especializados sobre currículo na burocracia educacional do estado, o surgimento de revistas acadêmicas especializadas sobre currículo. (SILVA, 2011, p. 21). O termo curriculum nasce ligado a questões de organização e método. Se iniciou a teorização envolvendo o currículo escolar a partir de 1949, com a publicação do livro Princípios básicos de currículo e ensino, de Ralph Tyler (RANGHETTI e GESSER, 2011). O livro de Tyler • é considerado um clássico das teorias tradicionais, • influencia até os dias de hoje a construção de inúmeros currículos. O modelo de currículo de Tyler é organizado por objetivos Tyler descreve metodicamente cada um dos itens destacados na figura. Ele traça orientações de (...) “como selecionar os objetivos, como selecionar as estratégias de aprendizagem, como organizar essas experiências e como avaliar sua eficácia” (p. 48). É nitidamente um planejamento puramente técnico e mecânico, que não prevê imprevisto e a interação entre os sujeitos. Estudo da vida contemporânea fora da escola Estudo dos conhecimentos científicos acumulados Estudos dos próprios alunos Ao longo do tempo, diferentes significados foram sendo discutidos e atribuídos à reflexão sobre currículo Ou seja, a definição de currículo depende da teoria que a reflete. Mesmo que diferentes teorias busquem responder a uma mesma pergunta, as respostas encontradas variam conforme as concepções sociais, educacionais, políticas e econômicas que as sustentam. Vejamos alguns conceitos para o termo “currículo”: Agora é sua vez! Analise e explique o diversos conceitos de currículo apresentados no texto. Conceitua-se currículo como..., na perspectiva de: Apple (1994): Moreira e Silva (1994): Veiga-Neto (2009): Silva (2011): Goodson (2013): Sacristán (2013): Diferentes autores pensam o currículo de forma diversa. Fica claro que existem alguns traços semelhantes, porém não podemos afirmar que exista um consenso sobre o conceito currículo. Conceitua-se currículo como..., na perspectiva de: Apple (1994): o currículo nunca é um conjunto neutro de conhecimento. [...] Ele é sempre parte de uma tradição seletiva, resultado da seleção de alguém, da visão de algum grupo acerca do que seja conhecimento legítimo. Moreira e Silva (1994): é [...] um termo de produção e de política cultural, no qual os materiais existentes funcionam como matéria- prima de criação, recriação e, sobretudo, de contestação e transgressão (p. 28). Veiga-Neto (2009): é um artefato escolar, trata de conteúdos e de modos de ensinar e aprender. É também uma máquina de espacialização e temporalização (p.32). Conceitua-se currículo como..., na perspectiva de: Silva (2011): [...] o currículo é lugar, espaço, território, é trajetória, viagem, percurso. Goodson (2013): é uma construção histórica e social, que se tornou ao longo dos anos um elemento fundamental para os estudos que envolvem a escolarização. Sacristán (2013): é aquilo que um aluno estuda. Nesse conceito se cruzam muitas dimensões que envolvem dilemas e situações perante os quais somos obrigados a nos posicionar (p. 16). Diferentes autores pensam o currículo de forma diversa. Fica claro que existem alguns traços semelhantes, porém não podemos afirmar que exista um consenso sobre o conceito currículo. Dimensões que, de acordo com Sacristán (2013), têm a capacidade de regular a construção do currículo. Currículo Transformações sofridas pelos saberes Com a evolução das pesquisas e estudos desse campo, o currículo passou a ser caracterizado e entendido de diversas formas, tais como: Currículo prescrito ou formal – currículo planejado - dos saberes doutos ou sociais aos saberes a ensinar. Currículo real ou em ação – currículo praticado, vivenciado - dos saberes a ensinar aos saberes trabalhados. Currículo oculto – prática implícitas, não expostas claramente - resultado de “todos os efeitos de aprendizagem não-intencionais que se dão como resultado de certos elementos presentes no ambiente escolar”(SILVA 1995). Currículo vazio ou nulo – “campos dos silêncios” ou de “omissões”. Será que o currículo prescrito de fato é praticado no dia a dia da escola? De acordo com Sacristán (2000), “[...] o significado da prática e do currículo na ação pode ser analisado a partir das atividades que preenchem o tempo no qual transcorre a vida escolar, ou que se projetam nesse tempo, e em como se relacionam umas tarefas com outras” (p. 207). (são todos os conteúdos, atividades etc. vivenciados pelos sujeitos em formação escolar). “[...] a estrutura da prática obedece a múltiplos determinantes, tem sua justificativa em parâmetros institucionais, organizativos, tradições metodológicas, possibilidades reais dos professores, dos meios e condições físicas existentes” (p. 201). Isto significa que na prática – o currículo real - também estão implícitos valores, comportamentos e ideologias – o currículo oculto - e não apenas conteúdos previamente planejados ou prescritos – o currículo formal. Reflexão Para Sacristán (2000) “[...] a prescrição de mínimos e diretrizes curriculares para um sistema educativo ou para um nível do mesmo supõe um projeto de cultura comum para os membros de uma determinada comunidade, à medida que afeta a escolaridade obrigatória pela qual passam todos os cidadãos”. Será que um projeto de curricular comum não cria hierarquia de conhecimento ou de cultura? Reflexão Desde 2014 o ministério da educação brasileiro vem discutindo a Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Aprovada em 15/12/2017. Você já ouviu falar sobre essa base? A BNCC é o currículo? A Base não é currículo, é um conjunto de referenciais sobre os quais as escolas, por meio de processos críticos e criativos, elaborarão seus planos curriculares. Acessar o site do MEC para maiores informações: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base Dessa forma, há diferentes orientações e organizações curriculares Agora é sua vez! Analise cada uma das orientações que estruturam/organizam o currículo e explique para a turma o que você entendeu. https://pt.123rf.com/photo_15225858_3d-pessoas- --homens,-pessoa-no-grupo.-liderane-equipe.html Diferentes orientações e organizações curriculares De acordo com Rosa (2016), “[...] o termo organização curricular refere-se ao modo como elementos específicos são estruturados e incorporados no espaço escolar para o atendimento de alunos de diferentes idades e contextos, que podem ser modificados a qualquer tempo, desde que exista interesse” (p. 50). Dito de outra forma: o termo “organização curricular” refere-se a maneira como o currículo é estruturado ou ainda a partir de que elementos ele é organizado. GRUPO Nº 01 Orientações e organizações curriculares Orientações curriculares que servem como parâmetro para analisar os diferentes modelos de organizações curriculares no contexto brasileiro: Currículo com base no conteúdo (ou nos objetivos); Currículo com base na experiência do aluno; Currículo com base no legado tecnológico e eficientista; Currículo com ênfase na interação entre teoria e prática. GRUPO Nº 01 Currículo com base no conteúdo Essa orientação pode ser evidenciada “[...] em práticas realizadas pelos jesuítas no início da colonização brasileira. Fundamentada numa filosofia religiosa, enciclopedista e academicista” (ROSA, 2016, p. 43). Os elementos que compõem essa organização não são dinâmicos. Na verdade, são lineares, disciplinares, baseados em conhecimentos estanques, estruturados em tempos e espaços predefinidos. GRUPO Nº 02 Currículo com base na experiência do aluno Nesta orientação, a organização se estrutura a partir de elementos mais dinâmicos, que valorizam a interação entre os sujeitos formadores e em formação. As atividades são organizadas de acordo com a experiência e interesse do aluno, e o professor é um facilitador do processo ensino/ aprendizagem. GRUPO Nº 03 Currículo com base no legado tecnológico e eficientista Essa orientação “[...] pode ser comparada à tendência tecnicista de currículo, fomentada, principalmente, durante a era Vargas ocorrida entre os anos de 1930 e 1945” (ROSA, 2016, p. 44). Os elementos tem foco na preparação, na produção e em resultados. O currículo se estrutura em conhecimentos lineares. O professor é o elo entre o saber e o aluno, e ele deverá transmiti-lo, mensurando-o e controlando-o. Figura 4: elementos da orientação “currículo com base no legado tecnológico e eficientista”. GRUPO Nº 04 Currículo com ênfase na interação entre teoria e prática Essa orientação ‘[...] pode ser comparada à teoria pós-crítica do currículo, que vem particularmente sendo fomentada atualmente. Programas que tentam, de certa forma, atender a demandas do contexto social se encaixam nessa perspectiva’ (ROSA, 2016, p. 45). Os elementos desta orientação estruturam uma organização mais dialógica, na qual o contexto político, social e econômico são valorizados, bem como as diferenças entre os sujeitos. Não existe hierarquia de conhecimentos. Figura 5: elementos da orientação “currículo com ênfase na interação entre teoria e prática”. GRUPO Nº 05 Percebe-se assim que... todas essas orientações são baseadas em correntes teóricas que estão em disputa no contexto brasileiro. essas orientações variam conforme as concepções sociais, educacionais, políticas e econômicas que as sustentam. http://psicopedagogia19.blogspot.com.br GRUPO Nº 06 Vamos resolver? (IFB – 2017 – Q 15) O currículo refere-se aos programas e conteúdos de cada componente curricular e também expressa os princípios e metas do projeto educativo de uma instituição. Considerando uma perspectiva crítica do currículo, marque a alternativa CORRETA: a) O currículo deve ser utilizado para a reprodução de uma visão de mundo hegemônica. b) O currículo é um documento formal e estabelecido pelo sistema educacional que deve ser seguido pelas instituições de ensino, pois visa uma igualdade educacional. c) O conhecimento estabelecido na organização curricular do currículo é neutro, cabe ao professor dar uma direção a esse conhecimento. d) A organização curricular deve levar em consideração as relações entre os sujeitos e o espaço-tempo em que se situam. e) É importante evitar, sistematicamente, que situações ocorridas na escola tragam contextos diferentes daqueles que estão devidamente planejados e incluídos no currículo. Vamos resolver? (IFB – 2017 – Q 33) Sobre a natureza e especificidade do saber escolar, é CORRETO afirmar que: a) consiste na mera transposição didática, cuja característica principal é a seleção de conteúdos que sejam passíveis de serem aprendidos pelos alunos; b) sua produção e veiculação acontece através de trajetórias simples, em processos de várias dimensões; c) o saber escolar é um conjunto de conhecimentos, valores, técnicas, recursos, etc., oriundos de uma cultura global da sociedade e organizados para fins de ensino; d) as disciplinas escolares apresentam a mesma trajetória, embora façam parte da história dos currículos; e) a elaboração de currículos e programas, bem como a valorização de seus elementos, obedecem a modelos e hierarquização municipais. Referências VIEIRA, Samantha Aparecida Moura Martins. Currículo:teoria e prática. Rio de Janeiro: SESES, 2017. Sugestões de leitura: MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. Currículo: Questões atuais. 4. ed. RJ: Papirus, 1997. SACRISTÁN, J. Gimeno; O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000. SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
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