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Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br Disciplina: Prática Jurídica III Período: 9º Professor: Paulo Sérgio Pereira da Silva Universidade Salgado de Oliveira EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS NOME DO ADVOGADO, brasileiro, casado, advogado, OAB/... sob n. ..., com endereço profissional na ..., com fulcro no artigo 5º, LXVIII da Constituição Federal e artigo 648, VI e VII do CPP, vem impetrar HABEAS CORPUS com pedido de liminar inaudita altera pars em favor do paciente ROGÉRIO DE PAULA E SILVA, brasileiro, casado, construtor, nascido em 25.01.1973, portador da Carteira de Identidade nº 3190978-2271885, apontando como autoridade coatora o Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal da Comarca de Aparecida de Goiânia – Goiás, pelas razões fáticas e de direito abaixo deduzidas: I. DOS FATOS 2. Em 04 de fevereiro de 1993 foi o paciente denunciado como incurso nas penas do artigo 121, § 3º e artigo 129, § 6º na forma do artigo 70, todos do Código Penal, por supostamente ter, em acidente automobilístico, ocorrido em 21 de novembro de 1991, provocado a morte da vítima Juacy Freire Machado e lesões corporais em Alexandre Andrade Pires Campos (fls. 02/04). Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br 3. A denúncia foi recebida em 10 de março de 1993 pelo MM. Juiz de Direito José Carlos de Oliveira (fl. 02). 4. Frustrada a tentativa de citação pessoal do paciente foi determinado pelo magistrado sua citação por edital com a designação do dia 19 de novembro de 1993 para o interrogatório (fl. 72). 5. Nessa data, não tendo o paciente comparecido, foi decretada sua revelia com a nomeação de defensor, bem como designada data para realização de audiência de instrução e julgamento (fl. 74). 6. Em 18 de maio de 1995 compareceu aos autos o paciente Rogério de Paula e Silva questionando a citação editalícia e requerendo a designação de data para seu interrogatório. 7. Em 19 de junho de 1995, o Dr. José Carlos de Oliveira, que até então havia produzido todos os atos decisórios, proferiu o seguinte despacho (fl. 93): Compulsando os autos, constato que se trata de fato do qual tive a oportunidade de presenciá-lo, razão por qual não me sinto em condições de atuar no mesmo como juiz. Por isso, dou-me por suspeito. Encaminhe-se os autos ao meu substituto legal. Intimem-se. 8. Os autos foram em seguida encaminhados ao Dr. Silvio Rabuske, que por também ter presenciado o fato narrado na denúncia, noticiou sua suspeição (fl. 94). 9. Com isso os autos foram encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, onde o então Presidente, Desembargador Homero Sabino de Freitas designou para atuar neste processo o MM. Juiz de Direito da Comarca de Hidrolândia. 10. Para tanto foi elaborado Decreto Judiciário, de nº 1898, que estende “a jurisdição e competência do Dr. Ari Ferreira de Queiroz, Juiz de Direito da Comarca de Hidrolândia (1ª entrância), com finalidade de oficiar nos autos do processo criminal nº 193/93, em que figura como indiciado, Rogério de Paula Silva e vítimas Juacy Freire Machado e Alexandre Pires de Campos, em tramitação na comarca de Aparecida de Goiânia (fls. 100/101). Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br 11. Foi então expedida Carta Precatória à Comarca de Marianópolis, Tocantins, para Interrogatório do Paciente (fls. 105/109). 12. O ato jurisdicional, contudo, não se efetivou por ter autoridade deprecada entendido, que por força dos dispositivos da Lei nº 9.099/95, era indispensável à presença da vítima ou seus representantes legais (fl. 110). 13. Com isso os autos foram novamente conclusos ao Dr. Ari Ferreira de Queiroz, que proferiu o seguinte despacho: “Ante o não cumprimento da carta precatória, dê vista ao Ministério Público, para, se for o caso, emendar por aditamento, a denúncia. [...]” (fl. 111). 14. Assim recomendado, o representante Ministerial, sem qualquer justificativa ou fato novo, aditou a denúncia, dando nova definição jurídica ao fato imputado ao paciente, tipificando-o na conduta descrita nos artigos 121, caput e 129, caput, na forma do artigo 70, todos do Código Penal (fls. 113/115). 15. Em 05/09/1997, foi recebido, pela Drª Wanessa Resende Fuso, o aditamento à denúncia (fl. 116). 16. Expedida nova Carta Precatória, foi o paciente interrogado (fls. 127/129). 17. Apresentada Defesa prévia (fls. 130/131), iniciou-se a instrução processual. 18. Inicialmente foi inquirido o Juiz de Direito José Carlos de Oliveira1 (fl. 146/148). Em seguida, o também Juiz de Direito Sílvio José Rabuske (fl. 204/205) e o Oficial de Justiça Neil Armstrong Gonçalves Ribeiro (fls. 206/207). 19. Empós, tendo o Dr. José Carlos de Oliveira, manifestado seu impedimento em presidir o feito (fl. 209), foram os autos encaminhados a esta Egrégia Corte, tendo o DD. Presidente, Dr. Byron Seabra Guimarães, designado, por coincidência, o mesmo magistrado que presidiu o feito por Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br alguns anos, o Dr. Desclieux F. da Silva Júnior, titular da Vara das Fazendas Públicas, para presidir o feito em questão (fl. 211). 20. Contudo, o novo dirigente processual, ao analisar a marcha processual, encontrou defeitos de representação do paciente, e com o mister de suprir eventuais nulidades, chamou o feito a ordem, anulando as inquirições já realizadas (fls. 213/214). 21. Realizada nova audiência de instrução, foram novamente inquiridos o Dr. Sílvio José Rabuske (fls. 232/236) e o Dr. José Carlos de Oliveira (fl. 238/241). 22. Em seguida, foi realizada audiência de inquirição de testemunha arrolada na Defesa Prévia. O Ato jurisdicional em questão foi conduzido pela MM. Juíza de Direito, Titular da 2ª Vara Cível, Drª Maria do Socorro Afonso da Silva (fls. 257/258). 23. Ato seguinte, o Dr. José Carlos de Oliveira determinou a intimação das partes para apresentação de alegações finais (fl. 285). 24. O Ministério Público reiterou os termos do aditamento da denúncia (fls. 286/296). 25. O defensor do paciente, mesmo regularmente intimado, deixou de apresentar suas alegações (fl. 302). 26. Com isso, foi determinada a intimação pessoal do paciente (fl. 303). 27. Mesmo existindo nos autos, inúmeras notícias do endereço do réu na Comarca de Palmas – Tocantins, foi tentada e frustrada sua citação no endereço constante da denúncia (fls. 307/308).28. O mesmo magistrado que inicialmente presidiu o feito, recebendo a denúncia e em seguida foi ouvido como testemunha. 29. Foi então nomeado defensor dativo, que apresentou alegações finais, requerendo, alternativamente, a decretação da prescrição ou “absolvição por falta de provas” (fls. 310/314). Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br 30. Em seguida, em 13 de outubro de 2005, foi proferida decisão, pronunciando o paciente como incurso nas penas dos artigos 121, caput e 129, caput, na forma do artigo 70, todos do Código Penal (fls. 316/325). 31. Não tendo o paciente sido encontrado para intimação pessoal da decisão de pronúncia, foi decretada sua prisão preventiva (fls. 346/348). II. DO DIREITO 32. A marcha processual que ora se tenciona obstar o prosseguimento é no mínimo peculiar. Iniciou-se há quase 15 (quinze) anos, foi conduzida por inúmeros juízes, que ingressaram e se retiraram da direção processual por intermédio de critérios substituição e decretos de nomeação de constitucionalidade duvidosa. Em uma mesma demanda, um ilustre e digno magistrado atuou como dirigente processual, após como testemunha e, em seguida, novamente como dirigente processual. 33. Com isso, passaram-se os anos, as provas se esvaíram, a lembrança dos fatos se apagando da memória das testemunhas, a família da vítima ficou se resposta e o nome do acusado, por estes anos todos, foi maculado pela pecha de um processo criminal. 34. O feito em questão é uma demonstração quase que didática de como um processo não deve ser conduzido. A quantidade de nulidades e irregularidades processuais da presente marcha processual é tamanha, que se fosse enumerada, uma a uma, ensejaria um sem números de páginas. 35. Por império do devido processo legal deveriam todas estas nulidades, de pronto, demonstradas. Contudo, por medida de utilidade, demonstrar-se-á somente algumas, as mais flagrantes, e que per se, já maculam de forma inconteste a regularidade deste processo penal e atingem inexoravelmente a validade da intenção punitiva estatal. II.1. DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE: PRESCRIÇÃO II.1.1. DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ENTRE A DATA DE RECEBIMENTO DA DENÚNCIA E A DATA DO SEU ADITAMENTO Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br 36. Conforme demonstrado no tópico supra, que relata a marcha processual, os fatos sob judice ocorreram no dia 21 de novembro de 1991. 37. Em 04 de fevereiro de 1993 foi oferecida denúncia, imputando ao paciente as condutas descritas nos artigos 121, § 3º e 129, § 6º, na forma do artigo 70, todos do Código Penal. 38. Em 10 de março de 1993 foi a denúncia recebida, tendo ocorrido nesta data, por força do disposto no artigo 117, I do Código Penal, a interrupção da contagem do prazo prescricional. 39. Ocorre, contudo, que em meados de 1997 (não é possível precisar o dia, pois a petição não é datada!) foi a denúncia aditada, modificando-se a capitulação constante da exordial de homicídio e lesão corporal culposos para homicídio e lesão corporal dolosos. 40. No dia 05 de setembro de 1997 foi o aditamento à denúncia recebido. 41. Ocorre, contudo, que tal decisão malfere o disposto no artigo 43, II, do Código de Processo Penal, porquanto não poderia o magistrado a quo ter recebido a denúncia eis que já extinta a punibilidade do paciente pela ocorrência da prescrição, em sua modalidade propriamente dita. 42. Note. A imputação perpetrada ao paciente, até a data do recebimento do aditamento à denúncia amoldava-se ao disposto nos artigos 121, § 3º, cuja pena máxima é de 03 (três) anos de reclusão, e artigo 129, § 6º, de reprimenda máxima de 01 (um) ano de detenção. 43. Assim, considerando o disposto no artigo 109 do Código Penal, a prescrição, calculada com base na pena máxima cominada, operar-se-ia, para o crime de homicídio culposo no prazo de 08 (oito) anos (inteligência do artigo 109, IV) e para o crime de lesão corporal culposa, no prazo de 04 (quatro) anos (cf. artigo 109, V). 44. Outrossim, considerando que o paciente, nascido em 25.01.1973 (cf. documento de identidade de fl. 30), possuía na data dos fatos narrados como crime, 21.11.1991, menos de 21 anos (precisamente, 18 anos, 09 meses e 26 dias), aplica-se o redutor constante do artigo 115 do Código Penal. Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br 45. Assim, os prazos prescricionais, foram reduzidos para 04 (quatro) anos em relação ao crime descrito no artigo 121, § 3º e 02 (dois) anos para o crime previsto no artigo 129, § 6º. 46. Com isso, tendo a denúncia sido originalmente recebida no dia 10.03.1993 em 10.03.1995 ocorreu a prescrição da pretensão punitiva em relação ao crime de lesão corporal culposa e em 10.03.1997, em relação ao crime de homicídio culposo. 47. Desta feita, ainda que o recebimento da denúncia fosse causa interruptiva da prescrição, na data em que foi realizado, ou seja, que alterou a capitulação da conduta do agente, já havia ocorrido a extinção da punibilidade. 48. Ou seja, enquanto não recebido o aditamento da denúncia, a imputação perpetrada ao impetrado era que norteava a intenção punitiva estatal, devendo nela se basear o cálculo da prescrição. 49. Ainda se falasse que o réu não se defende da capitulação constante da denúncia, mas dos fatos nela narrados, ainda sim, considerando que a denúncia narra, essencialmente, conduta característica de crime culposo, o cálculo da prescrição, antes do recebimento do aditamento, deve obedecer a adequação típica da denúncia. 50. Assim, por já estar extinta a punibilidade do impetrante em relação a estes crimes, não poderia o magistrado a quo ter acolhido o aditamento de denúncia, cujos requisitos de validade e existência são os mesmos de uma denúncia (art. 43). 51. Nesse sentido, precedente do TJ/MG: O aditamento para retificação da denúncia não pode ser acolhido quando, em tal ensejo, já tenha ocorrido a prescrição do crime capitulado no libelo inicial. 1 52. Destarte, não merece prosperar a presente marcha processual, devendo, de plano, ser decretada a extinção da punibilidade do impetrante pela ocorrência da prescrição em sua modalidade propriamente dita. II.1.2. DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ENTRE A DATA DE RECEBIMENTO DA DENÚNCIA E A DECISÃO DE 1 TJMG. Relator Correia de Almeida in RT 421/345. Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br PRONÚNCIA. DA NÃO INTERRUPÇÃO DA MARCHA PROCESSUAL PELO RECEBIMENTO DO ADITAMENTO À DENÚNCIA 53.Na remota hipótese desta Corte não acatar a anterior demonstração de extinção da punibilidade ocorrida entre o recebimento da denúncia e o recebimento do aditamento à denúncia levando-se em conta a tipificação realizada na primeira peça acusatória (artigos. 121, § 3º e 129, § 6º), alternativamente, demonstrar-se-á, a ocorrência da prescrição levando-se em conta a tipificação realizada no aditamento à denúncia (arts. 121, caput e 129, caput). 54. Ocorre que mesmo considerando a pena máxima cominável aos crimes de homicídio doloso e lesão corporal dolosa há prescrição da pretensão punitiva entre a data do recebimento da denúncia a decisão da pronúncia. 55. Tal argumentação tem seu fundamento calcado no fato de que a decisão que recebe o aditamento à denúncia não constituir, no caso em questão, causa interruptiva da prescrição. 56. Explica-se. Há inicialmente que se classificar as espécies de aditamento à denúncia. O aditamento poderá ser: i) próprio, quando acrescenta fatos novos ou corréus, cuja descoberta somente se deu no curso da instrução; ii) impróprio, quando retifica, esclarece ou integra a denúncia inicial 2 . 57. Na primeira hipótese, por se tratar de fato novo, o aditamento reveste-se de características de nova denúncia, devendo seu recebimento, por conseguinte, interromper a contagem do prazo prescricional. 58. Todavia, na segunda hipótese, tratando-se tão somente de nova capitulação de fatos já conhecidos, o recebimento do aditamento não tem o condão de interromper a prescrição. 59. Admitir-se o contrário ensejaria a criação de uma nova hipótese de causa interruptiva da prescrição, carreando verdadeira analogia in malam partem. 2 Classificação adotada pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do HC 23.493/RS. Relator Ministro Félix Fischer. Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br 60. Senão, veja-se excerto do já citado voto do Ministro Félix Fischer do Superior Tribunal de Justiça: [...] o aditamento (pelo seu recebimento) pode, ou não, (a par da quaestio em torno do inserido no art. 117 § 1º do C.P.), interromper o prazo prescricional ex vi art. 117, inciso I do Código Penal. Interrompe, sim, quando sob tal denominação a peça acusatória adicional apresenta o caráter, propriamente, de denúncia. Fora daí a alteração pode, conforme o caso, modificar o referido prazo, mas não tem o condão de interrompê-lo. A mera retificação decorrente de lapso ou obscuridade fática na exteriorização da imputatio e calcada, principalmente, em dados previamente conhecidos se insere na modalidade de aditamento impróprio que não deve ter força interruptiva.[...]” 3 61. No mesmo sentido, precedente do STF: O aditamento à denúncia não configura causa de interrupção da prescrição, por ausência de previsão legal. 4 62. Assim, considerando que a denúncia fora inicialmente recebida em 10 de março de 1993, e a decisão de pronúncia ocorreu somente em 13 de outubro de 2005, ou seja, mais de 12 anos após, ultrapassou-se o prazo máximo para exercício da intenção punitiva, que, no caso, tendo em conta a menoridade relativa do paciente, seria de 10 (dez) anos. 63. Desta forma resta sobejamente evidenciada a extinção da punibilidade pela ocorrência da prescrição em 02 (duas) situações: 64. Primeiro, na modalidade propriamente dita, levando-se em conta a primeira imputação perpetrada ao paciente, ocorrida entre o recebimento da denúncia e o recebimento do aditamento à denúncia. 65. Segundo, na modalidade propriamente dita, levando-se em conta a segunda imputação perpetrada ao paciente, ocorrida entre o recebimento da denúncia e a decisão de pronúncia. II.2. DA NULIDADE ABSOLUTA DA DECISÃO DE PRONÚNCIA PELA FUNDAMENTAÇÃO CALCADA EM DEPOIMENTO DE MAGISTRADO QUE HAVIA ATUADO NO PROCESSO 3 Ibidem. 4 Supremo Tribunal Federal. Relator Ministro Carlos Veloso. HC 84606 / SP. J. 05/10/2004. DJ 28.10. 2004, p. 51. Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br 66. Conforme acima aduzido e demonstrado na narrativa da marcha processual, quando iniciada a persecução, atuou como dirigente processual o nobre Magistrado Dr. José Carlos de Oliveira, que, em juízo de prelibação, recebeu a denúncia e designou a citação e data para interrogatório do réu, ora paciente. 67. 02 (dois) anos após esta decisão, e tão somente tanto tempo após, o magistrado, como que num estalo de memória, apercebeu-se que havia presenciado o fato narrado na denúncia e, corretamente, consignou sua suspeição. 68. Empós, considerando que o substituto automático, Dr. Sílvio Rabuske, também havia presenciado o fato supostamente criminoso, foi designado, em decreto de constitucionalidade questionável8, o Dr. Ari Ferreira de Queiroz, para conduzir o feito em questão. Este, de pronto, determinou a expedição de Carta Precatória para interrogatório do réu. 69. Entretanto, o ato de cooperação jurisdicional não se realizou, retornando ao juízo de origem. 70. Com isso, o então magistrado, sem que qualquer fato novo (nota-se que o Inquérito Policial há muito já havia se encerrado e a instrução processual sequer iniciado), os autos foram novamente encaminhados ao representante do Ministério Público, que como em um passe de mágica, notou que os fatos narrados na denúncia caracterizavam não crime culposo, mas doloso, em sua espécie eventual (assunção do risco). 71. A denúncia foi então emendada, não para acrescentar fato novo ou corréu, mas para dar nova definição jurídica a um fato já sobejamente narrado na exordial. 72. Na oportunidade, foram ainda, arroladas novas testemunhas, dentre elas, o Dr. José Carlos de Oliveira, o mesmo que, após mais de 02 (dois) anos como dirigente processual, deu-se por suspeito para continuar na condução da marcha por ter presenciado os fatos sob judice. 73. Com isso, o Dr. José Carlos de Oliveira foi inquirido como testemunha, tendo seu relato fornecido valioso subsídio para decisão que pronunciou o ora paciente (cf. se verifica, ad exemplum, na fl. 323). 74. Observa-se pois, situação fática e jurídica peculiar. Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br 75. Em uma mesma marcha processual, um mesmo sujeito atuou como magistrado e como testemunha. Ou seja, o mesmo juiz que recebeu a denúncia, determinando a integralização da relação processual, tempos após, participou da produção da prova. 76. A designação de juiz para atuar em processo judicial específico e já em trâmite, inexistindo notícia de prévio critério de designação de substituto legal configura evidente ofensa ao princípio constitucional do juízo natural. 77. Não se que questiona aqui, em hipótese alguma, a isenção e correçãodo nobre Magistrado, de conduta inquestionavelmente ilibada. O que justifica a presente insurreição é a confusão de funções processuais. 78. Tendo o magistrado em questão, recebido à denúncia, tornou-se, inequivocamente impedido de atuar em outra função no mesmo processo. Admitir-se o inverso, poderia ensejar o precedente de que em um mesmo processo, pode a mesma pessoa atuar primeiro como juiz, e após, como advogado! 79. Da mesma forma, não se cogita aqui, consignar que um magistrado jamais possa atual como testemunha em um processo. O que se defende é que, tendo o magistrado proferido qualquer ato decisório torna-se impedido de atuar como testemunha. Inadmissível em uma persecução democrática, tal promiscuidade processual. 80. Outrossim, não há que se falar que o Magistrado em questão não proferiu qualquer ato decisório, mas tão somente despachos de expediente que não o vincularam ao feito. 81. Conforme jurisprudência reiterada do Supremo Tribunal Federal a decisão de recebimento da denúncia embora prescinda do dever de motivação consagrado pelo disposto no artigo 93, IX da Constituição Federal tem caráter decisório: Denúncia: recebimento: assente a jurisprudência do STF em que, regra geral - da qual o caso não constitui exceção – “o despacho que recebe a denúncia ou a queixa, embora tenha também conteúdo decisório, não se encarta no conceito de Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br ‘decisão’, como previsto no art. 93, IX, da Constituição, não sendo exigida a sua fundamentação - art. 394 do C.P.P” 5 82. Vê-se, portanto, que há notória vinculação do juiz que recebe a denúncia, com a marcha processual subseqüente, tornando-o, por conseguinte, impedido de atuar como testemunha. 83. Mutatis Mutandis: Prova. Testemunha. Magistrado. Depoimento de juiz aposentado que praticou atos judiciais de caráter decisório e valorativo da prova até então produzida. Inadmissibilidade. Incompatibilidade entre a posição de julgador e testemunha no processo. Inteligência do art. 252, II do CPP. – O art. 252, II do CPP expressa dois comandos: o primeiro impede o magistrado de exercer jurisdição no processo em que serviu de testemunha, e o segundo proíbe o magistrado de prestar testemunho no processo em que exerceu a jurisdição. Portanto, não pode ser admitido como testemunha o juiz aposentado que praticou atos judiciais de caráter decisório e valorativo da prova até então produzida, por ser incompatível com a posição de julgador e testemunha no mesmo processo 6 . 84. Outrossim, ainda na mesma marcha processual, outra situação no mínimo curiosa é a de que o mesmo Dr. José Carlos de Oliveira, após ter figurado como testemunha, voltou a despachar no feito, determinando a apresentação das alegações finais (fl. 285). 85. Ainda que se saiba que tal despacho teve somente caráter de expediente, sem qualquer conteúdo decisório, demonstra-se, mais uma vez, a confusão e promiscuidade de funções processuais que se instaurou na presente marcha! 86. Assim, frente esta absoluta ausência de delimitação de funções no presente feito e tendo a decisão de pronúncia se fundado essencialmente em depoimento inválido, não resta outra solução a não ser a decretação de nulidade da decisão de pronúncia. 87. Com isso, decretando-se a nulidade da decisão de pronúncia, considerando o lapso temporal desde o recebimento do aditamento à denúncia em 05 de setembro de 1997, já se passaram mais de 10 (dez) anos, 5 Supremo Tribunal Federal. Primeira Turma. Relator Ministro Sepúlveda Pertence. HC 86248/MT. J. 08.11.2005. DJ 02.12.2005, p. 384. 6 TJRO. Câmara Criminal. AP 00.000208-9. Relator Dimas Fonseca. 15.03.2001 in RT 790/688. Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br havendo, por conseguinte, evidente hipótese de extinção da punibilidade em virtude da prescrição da pretensão punitiva. III. DO PEDIDO DE LIMINAR 88. Como é cediço, a concessão da liminar requer a presença dos requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, que no caso, são concomitantes. 89. Vislumbra-se a “fumaça do bom direito” pela verossilhança dos argumentados apresentados na presente impetração, evidenciando nulidade da decisão de pronúncia, e ainda, extinção da punibilidade pela ocorrência da prescrição em 02 (duas) oportunidades. 90. Já o “perigo da demora” se materializa frente a decretação da prisão do paciente (fl. 346/348), que supostamente não foi encontrado após a prolação da decisão de pronúncia. 91. Assim, considerando que a ação penal em questão padece de vícios insanáveis a manutenção da persecutio criminis, bem como do decreto de prisão do paciente, é medida que lhe fere o direito ao devido processo legal, justificando, de plano, a concessão da liminar, inaudita altera pars. IV. DOS PEDIDOS Assim, requer: a) a concessão da liminar, determinando-se a revogação do decreto de prisão do paciente e a expedição de salvo-conduto; b) no mérito, seja concedida a presente ordem de habeas-corpus, decretando-se a extinção da punibilidade do paciente: b.1. quer pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva, entre o recebimento da denúncia e o recebimento do aditamento à denúncia, levando-se em conta a pena máxima cominada aos crimes descritos na primeira imputação; Escola de atualização profissional e capacitação jurídica www.mestrejuridico.com.br Prof. Paulo Sérgio Pereira da Silva Rua João de Abreu, 192 Sl. B-96 Ed. Aton – S. Oeste – Goiânia – GO – CEP 74.120-110 (62) 3215-5444 contato@mestrejuridico.com.br b.2. quer pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva, entre o recebimento da denúncia e a decisão de pronúncia, levando-se em conta a imputação dos fatos narrados no aditamento à denúncia; c) ainda, na remota hipótese desta Corte, não entender ter ocorrido a preclusão temporal da pretensão punitiva, seja decretada a nulidade da decisão de pronúncia ante os argumentos supra delineados. Pede deferimento. Goiânia, ... ADVOGADO OAB/... n. ...
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