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Gisele Gomes Maia Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX Sumário 03 CAPÍTULO 4 – Por que ler a literatura brasileira? ...............................................................05 Introdução ...................................................................................................................05 4.1 A influência da Revolução Industrial e das ideologias ...................................................06 4.2 O Realismo: a representação da sociedade brasileira ...................................................08 4.2.1 A literatura de Machado de Assis ......................................................................09 4.2.2 A literatura de Raul Pompéia .............................................................................11 4.3 O Naturalismo: Literatura e Ciência ...........................................................................12 4.3.1 A literatura de Aluísio Azevedo ..........................................................................13 4.4 Como ensinar a Literatura Brasileira: estratégias e novas metodologias ..........................14 Síntese ..........................................................................................................................18 Referências Bibliográficas ................................................................................................19 05 Capítulo 4 Introdução Olá! Você já parou para pensar na necessidade de ler Literatura Brasileira? Já refletiu sobre as relações que a Literatura tem com a sociedade em que é produzida? Precisamos refletir sobre essas questões! Ao estudarmos a Literatura e a sua busca por uma identidade nacional devemos ter em mente que essa evolução, no caso do Brasil, não é por acaso: a nossa Literatura, tal qual o nosso país, nasce colonizada e, sob as mais diversas influências, busca se afirmar, refletir sobre o seu lugar no mundo. Ler Literatura Brasileira significa ler a si mesmo; é ler a sua sociedade transformada em arte; é ver os seus conflitos, as suas dúvidas, os seus anseios, os seus sentimentos e os pensamentos representados em livros de autores famosos inclusive fora do Brasil, como é o caso de Machado de Assis. Isso tudo por quê? Porque, mais do que mera arte, a Literatura é um espelho da sociedade, de nós mesmos. Quando lemos uma obra literária, mesmo de séculos atrás, estamos vendo refleti- das ali as nossas histórias, o nosso passado. Há um sentimento de pertencimento, quando lemos nossa Literatura, tanto como arte quanto como registro histórico de uma época. Vemos refletida no texto a nossa língua de maneira intrínseca: a arte literária acontece pela língua e sobre ela discursa, a registra, a recria (BRAIT, 2010). Além disso, hoje, a Literatura tornou-se uma disciplina, um saber, um conhecimento construído com o método científico. As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) estabelecem o ensino de Literatura como cumprimento do Inciso III do Art. 35 da Lei 9.393/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que trata dos objetivos a serem alcançados pelo Ensino Médio: III) aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desen- volvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico (apud OCN, MEC, 2008, p. 53). Por isso, todo o caminho que temos percorrido até aqui aponta para um único horizonte: a im- portância da Literatura Brasileira como conhecimento a ser construído, aprendido e ensinado, não só como manifestação artística, mas também como instrumento de reflexão sobre a socieda- de, proporcionando o pensamento crítico. Por isso, estudamos as suas origens e a sua evolução, e vamos dar continuidade a essa trajetória agora! Neste capítulo, veremos o cenário social, político e cultural do período que compreende o Realis- mo e o Naturalismo no Brasil, além de discutir ideias e metodologias para o ensino de Literatura no Ensino Médio. Está pronto para recomeçar? Por que ler a literatura brasileira? 06 Laureate- International Universities Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX 4.1 A influência da Revolução Industrial e das ideologias Duas revoluções desencadearam os processos históricos que influenciaram fortemente a produ- ção literária do Brasil e dos outros países: a Revolução Francesa, de 1789 a 1799; e a Revolução Industrial, que começou no século XVIII e se estendeu até meados do século XIX. A Revolução Industrial, segundo Cotrim (2002), teve papel determinante no contexto histórico em que a Literatura Realista/Naturalista se desenvolveu: • substituição da manufatura doméstica pela grande indústria como unidade básica de produção: se antes o trabalho era artesanal e um trabalhador produzia um produto, agora cada trabalhador é especializado em uma parte dos produtos, produzidos em grande escala. • urbanização: ao longo do século XIX, o processo de substituição do trabalho provocou o êxodo rural, culminando na urbanização, e grandes cidades se formaram, como Londres, Paris e Manchester. • trabalhadores industriais e proprietários de fábricas: o camponês e o artesão deram lugar ao trabalhador industrial, classe que trabalhava para os proprietários de fábricas; os capitalistas pagavam salários aos trabalhadores das indústrias. Essa relação entre os trabalhadores e os donos das fábricas desencadeou movimentos até então desconhecidos: grandes cidades com bairros formados de operários que moravam em cortiços em condições precárias, com salários baixos, provocando insatisfação. Os resultados? Pobreza, greves... conflitos que vão perdurar até hoje e que vão suscitar o Manifesto Comunista (1848), de Marx e Engels, por exemplo. Figura 1 - Mulheres trabalhando em máquinas têxteis após a Revolução Industrial: a máquina substitui o artesão. Fonte: Everett Historical, Shutterstock, 2017. 07 Esse período, de acordo com Cotrim (2002), também é marcado por movimentos filosóficos e ideológicos que, como veremos mais à frente, terão influência direta na Literatura de então: • positivismo: surgido em 1830, no Curso de Filosofia Positiva, com os lemas “viver para o outro”; “viver às claras” e “ordem e progresso”, o positivismo só admite a existência das verdades positivas, aquelas consideradas científicas postuladas a partir do experimentalismo, da observação e da constatação. A metafísica é abandonada como meio de análise; • evolucionismo: Darwin propõe a teoria da seleção natural em seu livro A Origem das Espécies, publicado em 1859, postulando que um organismo pode gerar outro com características diferentes de si e caso venham a constituir uma vantagem evolutiva, isso se torna uma vantagem para a sobrevivência do novo indivíduo no meio. • darwinismo social: teoria desenvolvida por Herbert Spencer postula que o universo evolui e que essa evolução é um progresso na perspectiva positivista. Assim, Spencer aplicou a lei do mais forte às estruturas sociais. Nesse sentido, a seleção natural se aplicaria à sociedade na forma de cooperação e união de indivíduos em favor de um grupo, preservando-se, então, não um indivíduo, mas um grupo mais coeso, tornando-se um grupo hegemônico; • laicização: processo de explicação imanente do mundo e de seus fenômenos, ou seja, com os avanços da ciência e o surgimento de novas ideias, a interferência divina não era mais a única explicação para diversos temas humanos. Um momento marcante para esse processo foi o Renascimento: movimento que ocorreu entre os séculos XIV e XVI, resultando em profundas transformações artísticas, políticas, culturais, científicas e filosóficas; • determinismo: Hippolyte Taine, em sua teoria, defende que o comportamento humano é determinado por três fatores: o meio, a raça e o momento histórico. Na França, os nomes que mais se destacam no realismo literário são o de Émile Zola e Gustave Flaubert,este autor de Madame Bovary, publicado em 1857, obra que narra o tédio, o adultério e a falência de uma família de classe média francesa, chocando o público de sua época e tendo papel principal na gênese do Realismo. Em Portugal, os introdutores do realismo literário foram Eça de Queirós e Antero de Quental. VOCÊ SABIA? Figura 2 - Memorial de Madame Bovary, na França, a obra que inaugurou o Realismo Universal na Literatura. Fonte: Pack-Shot, Shutterstock, 2017. 08 Laureate- International Universities Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX É no Realismo que temas como o adultério, a hipocrisia da sociedade e da religião e segredos “sujos” de família são explorados e expostos nas obras literárias, buscando sempre a objetivida- de do relato, o que contribui ainda mais para o retrato que nem todos querem ver ser mostrado. No caso específico do contexto histórico brasileiro, o tráfico de escravos, extinto em 1850, con- tribuiu para o declínio da economia açucareira, e o despertar de ideias abolicionistas, liberais e republicanas se deu nas classes médias urbanas, cujos intelectuais eram fortemente influenciados pelos movimentos filosóficos que vimos. Assim que, para Bosi (2006, p.163), “a poesia social de Castro Alves e Sousândrade, o romance nordestino de Franklin Távora, a última ficção citadina de Alencar já diziam muito, embora em termos românticos, de um Brasil em crise.” A transição entre o que denominamos Romantismo e Realismo se deu nas transformações sociais e na expressão artística: estilos e temas transmutam- -se do subjetivo para a objetividade. “[...] do Romantismo ao Realismo, houve uma passagem do vago ao típico, do idealizante ao factual.” (BOSI, 2006, p. 173). A Literatura Realista/Naturalista revelará um Brasil que não servia ao entretenimento; o Brasil fruto das contrações econômicas, sociais, políticas e intelectuais. Vamos conferir? 4.2 O Realismo: a representação da sociedade brasileira O Realismo será instaurado em um Brasil em crise: econômica, com o declínio da escravidão, e política, com o descrédito da monarquia e o fortalecimento dos ideais republicanos. A vida intelectual do país também passava por grandes mudanças: a partir de1870, surge a Escola de Recife, que reunia intelectuais como Tobias Barreto, Sílvio Romero e outros, aproximando-se das ideias europeias ligadas ao Positivismo, ao Evolucionismo e, principalmente, à filosofia alemã (MOISÉS, 1999). A República (do latim res publica, “coisa pública”) é uma estrutura política de Estado ou forma de governo em que o povo governa por meio de representantes eleitos. Assim, a República significa um modelo político em que prevalece o interesse geral dos cidadãos nas políticas de Estado. Na época do Realismo, eram essas ideias que abalavam o se- gundo reinado de Dom Pedro II e acabaram culminando na Proclamação da República, em 1889. Machado de Assis, no livro Esaú e Jacó, descreve o último baile do Império, na Ilha Fiscal, no Rio de Janeiro. VOCÊ SABIA? Principalmente na prosa, a linguagem realista trata de temas do cotidiano - inclusive os mais de- licados - evitando a subjetividade romântica. Bosi (2006, p. 167) assim define: “Há um esforço, por parte do escritor anti-romântico, de acercar-se impessoalmente dos objetos, das pessoas.” A linguagem do Realismo procura atender ao objetivo: sem expressão pessoal, apenas a narração/ descrição de seu objeto. 09 Moisés (1999) observa que a prosa naturalista seguiu três direções: • realismo exterior - objetividade na descrição da realidade concreta; • realismo interior - a essência de seres e coisas como realidade concreta, daí a investigação psicológica dos personagens; • regionalismo - obras em que se misturam as duas direções anteriores, que se circunscrevem a espaços geográficos mais limitados. Seguindo uma narrativa muitas vezes lenta pela descrição detalhada, o autor realista interpreta o caráter de seu personagem, em uma análise psicológica e comportamental, além de deixar clara a relação entre causa e efeito determinista. O escritor realista volta-se para o mundo exte- rior negando o sentimentalismo e a reflexão metafísica. A explicação racional, quase científica, marcará os romances dessa fase. O escritor Coelho Neto (1864 - 1934), membro da Academia Brasileira de Letras, que ajudou a fundar, é considerado um dos melhores cronistas do final do século XIX no Brasil. Suas principais obras são Imortalidade, romance (1926); Contos da vida e da morte, contos (1927); A Cidade Maravilhosa, contos (1928); Bazar, crônicas (1928) e Fogo Fátuo, romance (1929). VOCÊ O CONHECE? Bosi (2006, p.169), a esse respeito, observa: “Desnudam-se as mazelas da vida pública e os contrates da vida íntima; e buscam-se para ambas causas naturais (raça, clima, temperamento) ou culturais (meio, educação) que lhes reduzem de muito a área de liberdade. O escritor realista tomará a sério as suas personagens e se sentirá no dever de descobrir-lhes a verdade, no sentido positivista de dissecar os móveis do seu comportamento.” Vamos conhecer alguns escritores do período? 4.2.1 A literatura de Machado de Assis Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, em 1839. Filho de um mulato e de uma portuguesa, sua família era muito pobre, tendo o jovem Machado trabalhado desde criança para ajudar no sustento da casa (MOISÉS, 1999). 10 Laureate- International Universities Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX Figura 3 - Machado de Assis, o introdutor do Realismo no Brasil e nosso maior escritor. Fonte: Gian Salero, Shutterstock, 2017. Começou na imprensa trabalhando em tipografias e mais tarde como revisor. Seu primeiro poe- ma, Ela, foi publicado em 1855. Casou-se em 1869 com Carolina Xavier de Novais, sua companheira por toda a vida e com grande influência sobre Machado e sua obra. Entre alguns cargos no serviço público e a celebrada carreira de escritor e cronista, Machado fundou a Academia Brasileira de Letras em 1896, sendo seu primeiro presidente. Já no auge da carreira e da vida, perde a esposa em 1904, o que lhe causa profunda depressão, levando-o à morte quatro anos depois. Seus romances dividem-se em duas categorias: os da fase “imatura”, com ecos do estilo românti- co ainda, são Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878); a fase madura começa em grande estilo, com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), que inaugura o Realismo no Brasil, seguido do que Machado produziu de melhor: Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908). O escritor também produziu contos de altíssimo valor, publicados em obras como Contos Flu- minenses, (1870), Histórias da Meia-Noite, (1873), Papéis Avulsos, (1882), Histórias sem Data, (1884) e Relíquias da Casa Velha, (1906). Entre seus textos mais famosos estão O Alienista e Pai contra mãe. A seguir, vamos ler um trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em que o próprio Brás Cubas narra suas memórias após sua morte, denominando-se um defunto-autor: ...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil. — Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma Universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra coisa um filho que me faz isto... Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudiu-mos na cara. — Vês, peralta? é assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma. (ASSIS, 1997, p. 36)11 O trecho exemplifica muito a ironia fina de Machado (amor contado em tempo e dinheiro), além de exibir mazelas daquela época: filhos de pais abastados que eram explorados por mulheres, mandados para Portugal para estudar. Essas são cenas típicas do período de Machado, que o escritor tão bem retratou em seu estilo reflexivo e pessimista. VOCÊ QUER VER? Em 2001, foi lançado o filme Memórias Póstumas de Brás Cubas, adaptação do ro- mance homônimo de Machado de Assis. Sob a direção de André Klotzel, o longa narra a história do defunto-autor Brás Cubas, suas desventuras amorosas com Marcela e Virgília e seus insucessos na vida. Como forma de ilustração ao livro de Machado, o filme procura ser fiel ao enredo original e retrata bem o século XIX. O livro se encerra com uma das frases mais famosas de Machado de Assis, e que bem pode re- sumir não só o personagem Brás Cubas, mas também seu criador: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. 4.2.2 A literatura de Raul Pompéia Raul d’Ávila Pompéia nasceu no Rio de Janeiro, em 1863. Cursou Direito em São Paulo, onde tomou conhecimento das ideias abolicionistas e republicanas. Morou um período no Recife (PE) e retornou ao Rio de Janeiro, onde trabalhou em diversos cargos públicos. Figura 4 - Selo comemorativo do centenário de O Ateneu, de Raul Pompéia, obra muito representativa do Realismo brasileiro. Fonte: rook76, Shutterstock, 2017. Por volta de 1892 começaram os sintomas da doença mental que o levaria ao suicídio, em 1895. Autor também de numerosos contos e crônicas, seus principais romances são Uma tragédia no Amazonas (1880), Microscópios (1881), O Ateneu (1888) e Canções sem metro (1900). 12 Laureate- International Universities Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX A seguir, vamos ler um trecho de O Ateneu. Misto de ficção e memória, diário e romance, conta a história das experiências de sofrimento de um menino ingênuo no internato de Aristarco Argolo de Ramos: Como escurecia, o diretor fez o clarim chamar à forma. Debaixo do aguaceiro que não cessava, o colégio alinhou-se como bem pôde. Muitos, queixando-se de saúde delicada, obtiveram dispensa desta inoportuna disciplina de equilíbrio; seguiram adiante para o portão abrigado do jardim... Após, fomos os outros, em marcha regular, pingando de molhados. A fita vermelha dos gorros desbotava-se-nos pelo rosto em fios sanguíneos. [...] No colégio, tivemos ordem de subir a descanso nos dormitórios. Preventivo louvável de prudência, depois dos excessos e da tempestade sofrida. O descanso foi simplesmente um prolongamento da pândega do passeio. Para cessar a desordem, tocou-se a estudo... Baixamos ao salão geral. Aristarco, reassumindo a dureza olímpica da seriedade habitual, apresentou- se e perguntou asperamente se pretendíamos que a vida passasse a ser agora um piquenique perpétuo na desmoralização. Tacitamente negamos e a tranqüilidade normal entrou nos eixos. (POMPÉIA, 1976, apud MOISÉS, 1999, p. 289-290) De um Realismo interior, como podemos observar pela narrativa memorialística empregada pelo autor, o romance, embora escrito em primeira pessoa, não foge à objetividade realista: narra os acontecimentos com ricos detalhes materiais, com algumas cenas de extremo erotismo, inclusi- ve. É um romance fundamental para o Realismo brasileiro. Ao lado de Machado de Assis, Raul Pompéia soube conjugar narrador-personagem e objetividade narrativa com descrições sóbrias e claras. 4.3 O Naturalismo: Literatura e Ciência Paralelo ao Realismo, o Naturalismo surge, no Brasil e no mundo, como uma vertente cientificista da nova tendência literária do final do século XIX. Bosi (2006, p.169) cita uma frase de Émile Zola, mestre naturalista francês: “... escolhi perso- nagens soberanamente dominadas pelos nervos e pelo sangue, desprovidas de livre-arbítrio, arrastadas a cada ato de sua vida pelas fatalidades da própria carne...”. Esse é o espírito dos romances naturalistas: uma visão determinista e mecanicista do homem, cientificismo que permeia a narrativa e personagens patológicos, muitas vezes agindo e vivendo no limite do irracional. Características que se manifestam também na relação de trabalho entre operários x industriais: A redução das criaturas ao nível animal cai dentro dos códigos anti-românticos de despersonalização; mas o que uma análise mais percuciente atribuiria ao sistema desumano de trabalho, que deforma os que vendem e ulcera os que compram, à consciência do naturalista aparece como um fado de origem fisiológica, portanto inapelável. (BOSI, 2006, p. 191) No Brasil, escritores como Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de Souza e Manuel de Oliveira Paiva escreveram romances que pendiam mais para o estilo naturalista, com histórias de grupos humanos marginalizados, cuja existência era tabu e quase proibida na Literatura: os homossexuais, por exemplo (NASCIMENTO, 2010). 13 Figura 5 - Temas tabus são representados nos Romances Naturalistas, como a homossexualidade. Fonte: oneinchpunch, Shutterstock, 2017. Conforme observa Nascimento (2010): Em O Cortiço, Aluísio Azevedo aborda a homossexualidade a partir de personagens emblemáticas tais como Albino e Léonie. Em torno destes, o autor tece uma rede de relações sociais em que se misturam delicadezas e promiscuidade, numa associação das práticas sexuais e homoafetivas com “o sujo” (p.361). O texto naturalista, portanto, traz à luz concepções deterministas/evolucionistas que viam as relações homoafetivas, homoeróticas como patologias. Léonie, assim como Albino e Botelho, representam aquilo que, no século XIX, seriam chagas sociais, cicatrizes na face de uma sociedade que se pretendia asséptica, regida por uma moral burguesa pautada na heteronormatividade. Suas práticas sexuais comporiam quadros das patologias, daquilo que deve ser combatido, tratado, para assim não perturbar a ordem asséptica que se almejavam (p. 363). Com sua busca pela fidelidade ao real, o Romance Naturalista representa o seio da sociedade em que nasce sem máscaras ou “disfarces”, prenunciando a reflexão social que o Modernismo fará e, como já observado, servindo de registro histórico de seu tempo. Michel Foucault (1926 - 1984) foi um filósofo, historiador das ideias, teórico social, filólogo e crítico literário francês. Suas teorias e ideias abordam as relações entre po- der e conhecimento e como esses elementos são usados como uma forma de controle social por meio de instituições da sociedade. VOCÊ O CONHECE? Vamos conhecer o escritor naturalista mais celebrado entre nós. 4.3.1 A literatura de Aluísio Azevedo Aluísio Tancredo Gonçalves Azevedo nasceu no Maranhão, em 1857. É em sua terra natal que inicia a sua trajetória de escritor, com Uma Lágrima de Mulher, publicado em 1880. Já no ano seguinte escreve uma obra que lhe dará renome nacional: O Mulato, considerado o marco inicial do Naturalismo no Brasil. 14 Laureate- International Universities Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX Indo morar no Rio de Janeiro, o escritor trabalha muito na imprensa e na criação de seus roman- ces, além de ter seguido também carreira diplomática, já que não conseguia viver apenas de sua literatura, servindo em países como Japão e Argentina, onde faleceu em 1913. Sua obra também conta com títulos importantes para o Naturalismo no Brasil, como Casa de Pensão (1884), O Coruja (1890), O Cortiço (1890) e O Livro de Uma Sogra (1895). Vamos ler um trecho de O Cortiço, que narra a morte do personagem Firmo, excelente exemplo da tônica naturalista: Soltaram-no então. O capoeira, mal tocou com os pés em terra, desferiu um golpe com a cabeça, ao mesmo tempo que a primeira cacetada lhe abria a nuca. Deu um grito e voltou-se cambaleando. Uma nova paulada cantou-lhe nos ombros,e outra em seguida nos rins, e outra nas coxas, outra mais violenta quebrou-lhe a clavícula, enquanto outra logo lhe rachava a testa e outra lhe apanhava a espinha, e outras, cada vez mais rápidas, batiam de novo nos pontos já espancados, até que se converteram numa carga continua de porretadas, a que o infeliz não resistiu, rolando no chão, a gotejar sangue de todo o corpo. A chuva engrossava. Ele agora, assim debaixo daquele bate-bate sem tréguas, parecia muito menor, minguava como se estivesse ao fogo. Lembrava um rato morrendo a pau. Um ligeiro tremor convulsivo era apenas o que ainda lhe denunciava um resto de vida. Os outros três não diziam palavra, arfavam, a bater sempre, tomados de uma irresistível vertigem de pisar bem a cacete aquela trouxa de carne mole e ensangüentada, que grunhia frouxamente a seus pés. Afinal, quando de todo já não tinham forças para bater ainda, arrastaram a trouxa até a ribanceira da praia e lançaram-na ao mar. Depois, arquejantes, deitaram a fugir, à toa, para os lados da cidade (AZEVEDO, 1997). Podemos observar a animalização do ser humano sob dois pontos de vista: o do próprio Firmo, comparado a um rato morrendo, e a de seus agressores, tomados de selvageria no ato de assas- sinar um homem. Há certo tom de cientificismo também nas imagens construídas pelo autor: a “trouxa de carne mole”, o corpo de Firmo, é dividida em partes na descrição da agressão, quase como uma autópsia. 4.4 Como ensinar a Literatura Brasileira: estratégias e novas metodologias O ensino de Literatura Brasileira sempre teve alguns entraves para a sua plena realização: con- teúdo distante da realidade do aluno; foco na historiografia literária; imposição de livros para leitura obrigatória dos alunos, geralmente acompanhada da ameaça da “prova”, entre outros. São muitos os motivos, por isso, é importante refletirmos um pouco sobre estratégias e metodo- logias para o ensino do texto literário. Quando falamos de ensino de Literatura, automaticamente remete-se à questão da leitura. No senso comum, ensinar Literatura e fomentar a leitura são dois processos que ocorrem concomi- tantemente. Isso é em parte verdade. Abordar o ensino de Literatura apenas pelo viés historiográfico é um erro porque dá-se mais ênfase ao contexto histórico, características gerais da escola literária e biografia do autor do que o efetivo contato com o texto literário. 15 Figura 6 - O ensino de Literatura precisa utilizar recursos tecnológicos para se adequar à realidade dos alunos do Ensino Médio, despertando o gosto pela leitura. Fonte: Black Jack, Shutterstock, 2017. O livro A Leitura e o Ensino de Literatura, de Regina Zilberman, traz ensaios que reco- nhecem a importância de o professor investir no despertar do gosto da leitura pelos alunos, examinando todos os aspectos históricos e culturais que cercam essa delicada questão. Pontua que a responsabilidade dessa função pertence à sociedade, não só à escola. Vale a pena ler! VOCÊ QUER LER? No Ensino Médio é preciso que o aluno tenha mais contato com o texto da escola literária que estuda do que com a teoria da literatura. É papel da escola proporcionar ao aluno a leitura dos grandes escritores de nossa literatura, e não se faz isso por meio de resumos ou pela simples exposição do conteúdo de um livro. Por isso, segundo Nascimento e Oliveira (2012, p.4), é preciso que o professor faça um trabalho que possa considerar a leitura literária uma possibilidade de interação entre imaginação e raciocínio, emoção e inteligência; que as informações do texto selecionado, como gerador de atividades, possibilitem ao aluno perceber os processos realmente importantes para dar-lhe significado. Assim, vamos pensar: qual é o papel do professor ao ensinar Literatura? Em primeiro lugar, é preciso seguir um currículo. Sobre isso, Carvalho e Domingo (2012, p. 67) afirmam que [...] as atividades de leitura executadas durante as aulas de literatura, precisam antes de tudo, atender uma demanda gerada pelo currículo formal que prescreve um conjunto de diretrizes que servem para organizar as práticas pedagógicas em torno da leitura literária. A partir dessa imbricação, todas as crises do currículo e por extensão da educação, deixam de ser um problema interno e exclusivo da escola e tornam-se uma questão de concepção. 16 Laureate- International Universities Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX O professor pode, então, face ao currículo, marcar algumas posições. A primeira delas deve ser a de priorizar o texto literário. Essa proposta, presente em teóricos como Cereja (2005), também é prerrogativa de documentos legais, como as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (MEC, 2006): Quando propomos a centralidade da obra literária, não estamos descartando a importância do contexto histórico-social e cultural em que ela foi produzida, ou as particularidades de quem a produziu (até porque tudo isso faz parte da própria tessitura da linguagem), mas tomando – para o ensino da Literatura – o caminho inverso: o estudo das condições de produção estaria subordinado à apreensão do discurso literário. Estamos, assim, privilegiando o contato direto com a obra, a experiência literária, e considerando a história da Literatura uma espécie de aprofundamento do estudo literário (MEC, 2008, p. 76-77). Tendo o texto como ponto de partida, o professor pode traçar sua rota. E essa rota exige paisa- gens variadas: é preciso estratégias que envolvam o aluno, que façam com que ele atribua novos sentidos ao que está lendo, que explore todo o universo digital que temos como ferramenta. O meio literário, hoje, também é digital. Grandes escritores, como Augusto de Campos, já pos- suem sites com conteúdo interativo - o texto com que o leitor pode “brincar”, que vai além do livro impresso e utiliza diversos outros recursos para ganhar nova vida face ao leitor. Como pontuam Dessbesell e Fruet (2012, p.46): Mediante o avanço das tecnologias, o ensino da Literatura nas escolas vem passando por uma crise, ocasionada não só pelas formas de ensino inadequadas, mas também pela proliferação da cultura de massa. Essa crise pode apresentar dois pólos antagônicos: o do perigo e o das oportunidades. Isso atenta para o fato de que a Literatura precisa ser trabalhada como objeto estético e não como objeto histórico ou moral, como pontua Braga (2006), pois a Literatura pode representar uma história social [...]. Cabe ao professor aproveitar as oportunidades. Os filmes são excelentes recursos para ensinar literatura. É claro que os filmes não são repro- duções integrais da obra literária, nem podem substituí-la, mas são recursos muito interessantes como ilustração e mesmo para uma análise comparativa. Caso Uma boa sugestão para o trabalho com Realismo/Naturalismo utilizando uma obra clássica é o uso do filme Madame Bovary, de 2014, da diretora Sophie Barthes. O adultério, tema tabu na sociedade brasileira do século XIX, pode ser usado como exemplo na obra inspirada no romance homônimo de Flaubert em comparação com o adultério de Virgília e Brás Cubas em Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, ou às traições de Luísa, protagonista do romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós. O professor pode comparar a exposição mais liberal do escritor francês com a narrativa mais tímida e irônica do nosso Machado, aproveitando para discutir temas caros ao Naturalismo, como a dominação dos instintos sobre o ser humano, por exemplo, um dos motivos da traição. Além disso, é preciso lembrar que textos literários e suas adaptações para o cinema podem ser motes para trabalhos que envolvam elementos culturais, políticos, linguísticos, sociais e etc. Cereja (2005, p. 188) corrobora esse ponto de vista quando afirma: “Não se pode esquecer que o texto literário é um rico material tanto para a aquisição de conhecimentoquanto para a discussão em torno de temas que envolvem o estar do ser humano no mundo. Ele tem, portanto, um papel formador, pedagógico”. A tecnologia pode ser aliada do professor nesse processo de uso pedagógico do texto literário: o ce- lular em sala de aula não precisa ser o inimigo do trabalho docente, mas o meio pelo qual o aluno acessará determinado vídeo que tenha a ver com o conteúdo de literatura que está sendo ensinado. 17 Outro recurso muito interessante são as adaptações. Obras clássicas, de leituras muito densas, podem ser lidas em adaptações para o público infanto-juvenil, transformadas em histórias em quadrinhos e etc. O livro “O e-mail de Caminha”, de Ana Elisa Ribeiro, por exemplo, subverte toda a linguagem da carta de Pêro Vaz de Caminha, mantendo o conteúdo original, transforman- do a carta em e-mails e posts do Twitter. A autora do livro compreendeu que a linguagem tecnológica está aí e já permeia tudo. A internet é um amplo campo de pesquisa em que há todo tipo de conteúdo literário. Cabe ao professor filtrar esse conteúdo, selecionar o que mais se ajusta à sua turma, sem perder de vista os verda- deiros sentidos de se estudar literatura no Ensino Médio. Os sites com conteúdo interativo de Literatura são excelentes sugestões para trabalhar com os alunos utilizando recursos tecnológicos em sala de aula: • http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/. Acervo de obras literárias, com dados sobre o autor e fatos históricos associados à obra. • http://www.brasiliana.usp.br. O Projeto Brasiliana, da Universidade de São Paulo, disponibiliza mais de três mil títulos, entre obras literárias e documentos históricos. VOCÊ QUER LER? Sabemos que só a tecnologia não é promotora de aprendizagem, por isso o trabalho autoral do professor é tão importante. É ele quem faz a diferença no ensino de Literatura em sala de aula. Um trabalho bem estruturado faz diferença na apresentação do texto literário. Aqui vai mais uma sugestão para a estruturação do trabalho docente com Literatura: Rildo Cos- son, em Letramento literário: teoria e prática, de 2006, propõe duas sequências para os profes- sores: uma básica, para o Ensino Fundamental, e uma expandida, para o Ensino Médio. A sequência básica compreende quatro etapas: • motivação - que consiste na preparação do aluno para a leitura do texto literário; • introdução - onde ocorre a apresentação do autor e da obra; • leitura - alunos e professores leem; • interpretação - alunos e professores interpretam, coletivamente, os sentidos do texto. A sequência expandida, embora tenha as mesmas etapas que a básica, é diferente na quarta etapa. A interpretação compreende dois estágios: compreensão global do texto, inclusive alguns aspectos formais; e aprofundamento de um ponto que seja importante para o objetivo que o professor queira alcançar. Cosson (2006) e Cereja (2005) propõem duas formas de trabalho que têm como chave a inter- textualidade. Um trabalho eficiente com o texto literário deve levar em conta suas relações com o contexto de produção, a mensagem contemporânea que interpreta e sua conexão com outros textos e outras mídias, como filmes, músicas, adaptações, releituras e etc., buscando sempre despertar no aluno não só o gosto pela leitura, mas a consciência da importância da Literatura de seu país, de suas origens, sem delimitar a criatividade e a inovação. SínteseSíntese Neste capítulo você teve a oportunidade de: • reconhecer as principais características literárias e as influências do Realismo e do Naturalismo, contribuindo para um olhar crítico sobre a sociedade, a história e a cultura brasileira; • conhecer um pouco de Machado de Assis, Raul Pompéia e Aluísio Azevedo, lendo um pouquinho de suas obras, e perceber como elas se inserem no contexto do Realismo e do Naturalismo; • identificar estratégias e metodologias de ensino de Literatura com ênfase no Ensino Médio, reconhecendo que o trabalho intertextual é fundamental para que o texto não se perca na abordagem simplista ou na historiografia literária somente. 19 Referências ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Globo, 1997. ______. Obra completa. Portal Domínio Público. Disponível em: http://machado.mec.gov.br/. Acesso em: 24 mar. 2017. AZEVEDO, Aluísio. Seleção de obras. 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