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literatura brasileira origens seculos XIX 1

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Gisele Gomes Maia
Literatura Brasileira: 
Origens ao Século XIX
Sumário
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CAPÍTULO 1 – O que é literatura e quando se inicia a brasileira? .......................................05
Introdução ....................................................................................................................05
1.1 Literatura: conceito que transita no tempo ...................................................................06
1.1.1 Textos literários e não literários e as características que os diferenciam .................09
1.2 Por que e como se aprende Literatura na escola? ........................................................11
1.2.1 O trabalho do texto literário em sala de aula .....................................................15
1.3 Literatura e história: o descobrimento do Brasil e as manifestações culturais ...................18
1.4 A formação da Literatura Brasileira ............................................................................19
Síntese ..........................................................................................................................21
Referências Bibliográficas ................................................................................................22
Capítulo 1 
05
Introdução
De uma maneira generalista, todos sabemos o que quer dizer Literatura. Se você procurar em 
qualquer dicionário, irá se deparar com incontáveis definições, principalmente no que diz res-
peito à Literatura como manifestação artística: “o conjunto de obras literárias produzidas em 
um país”; “o conjunto de livros que tratam de temas de interesse universal”; “textos com valor 
estético reconhecido”, entre outras possibilidades. 
Com tantas definições, claramente não podemos entender o conceito de Literatura como algo 
definitivo ou unânime. Há momentos, inclusive, em que esses próprios significados parecem 
contradizer uns aos outros.
Figura 1 - Literatura é apenas o conjunto de livros publicados em uma determinada sociedade?
Fonte: Tischenko Irina, Shutterstock, 2016.
Por essa razão, neste capítulo, buscaremos discutir e relativizar o conceito de Literatura, entender 
a sua função e como se dá a sua construção no cenário brasileiro. Vamos também refletir: por 
que ensinamos/aprendemos Literatura na escola? Qual a função desse conhecimento em nossos 
cotidianos e nas habilidades e competências a serem desenvolvidas na Educação Básica?
Assim, ao se tornar um professor de Literatura, mais do que transmitir conhecimentos sobre obras 
literárias, você estará apto a desenvolver leitores literários, uma conquista essencial para a for-
mação cidadã.
Bom estudo!
O que é literatura e quando 
se inicia a brasileira?
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Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX
1.1 Literatura: conceito que transita no tempo
No ano de 2016, um dos maiores prêmios de Literatura do mundo, o Nobel, causou polêmica ao 
premiar o músico Bob Dylan. A questão veio à tona justamente porque, apesar do lirismo presen-
te em suas composições e de ter livros publicados, Dylan é reconhecido por suas canções. Esse 
episódio levou os críticos literários ao debate sobre os limites do conceito de Literatura. A música 
pode ser considerada Literatura? Quais as características da obra de Bob Dylan que o levaram 
a ganhar o prêmio? A resposta a essa pergunta gera uma ampla discussão teórica e acadêmica.
Figura 2 - O músico Bob Dylan, premiado com o Nobel de Literatura, em 2016.
Fonte: Christian Bertrand, Shutterstock, 2016.
Conceitos como Arte, Literatura e Cultura perpassam pela subjetividade do indivíduo que o 
analisa e, por isso, não trazem parâmetros delimitadores exatos do objeto de estudo a que se 
referem. Temos muitas definições do que seja Literatura dentro do escopo desta disciplina. Assim, 
para iniciar nossa reflexão, destacamos aqui alguns autores que se propuseram a tratar do tema. 
Observemos a definição apresentada no Dicionário de Termos Literários de Massaud Moisés 
(2008, p. 310-311)
Problema fulcral e permanente, situado na base de todas as controvérsias críticas e teóricas, o 
conceito de “Literatura” tem sido amplamente examinado, sem conduzir a resultados definitivos. [...]
Primitivamente, o vocábulo designava o ensino das primeiras letras. Com o tempo, passou a 
significar “arte das belas letras” e, por fim, “arte literária”. [...]
Tal amplitude semântica, de resto entranhada na etimologia do vocábulo, tinha a sua razão 
de ser: desde a origem a Literatura condiciona-se à letra escrita, impressa ou não. Refere-se 
assim, a uma prática que só pode ser verificada quando produz determinado objeto: a obra 
escrita. [...] Em suma: a Literatura pressupõe o documento, o texto, o manuscrito, impresso, 
datilografado, em papel, lâmina de metal, de papelão etc., destinado à leitura, não à audição.
Nessa definição, Moisés atribui a existência de Literatura a seu suporte, ou seja, para ser Lite-
ratura, em sua concepção, é preciso que esteja eternizada em documento escrito - ainda que 
saibamos que as primeiras manifestações literárias, em especial as poéticas, tiveram sua origem 
e preservação na oralidade. Assim, a Literatura se constitui não apenas da produção, mas de-
pende também da circulação dos textos literários e, naturalmente, de seus receptores – leitores.
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Figura 3 - Dos rolos de pergaminhos até os atuais e-books, a Literatura já passou por diversos suportes.
Fonte: Anna Kucherova, Shutterstock, 2016.
A partir dessa hipótese, verificaremos, em alguns episódios da história do livro e da leitura, as 
influências e novidades que a materialidade das obras literárias trouxe ao que chamamos hoje 
de Literatura.
O pesquisador da história do livro e da leitura e sua recepção, Roger Chartier (1994, p. 8), 
descreve que os livros “são objetos cujas formas comandam, se não a imposição de um sentido 
exato ao texto que carregam, ao menos os usos de que podem ser investidos e as apreciações às 
quais são suscetíveis”. Essa afirmação do autor nos faz pensar se fazer a leitura de Dom Casmur-
ro, obra de Machado de Assis, em uma edição de luxo, com capa de couro e letras douradas, 
poderia trazer significações diferentes de ler o mesmo conteúdo em uma edição escolar de bolso 
em papel jornal. E seria essa experiência também diferente de ler a mesma obra por meio de um 
leitor de e-book, como o kindle ou o kobo? 
Refletindo acerca dessa suposição, temos o fato de que todas as transformações dos suportes da 
leitura trouxeram mudanças significativas para a forma como se escreve e, consequentemente, 
para o ato de ler. As novas maneiras de manusear o texto e as novas formas de divulgação e 
produção alteraram os procedimentos e as possibilidades oferecidas ao escritor e ao leitor.
Por exemplo: a transição do rolo para o códice, que se apresentava como um feixe encadernado de 
tábuas de madeira ou couro, afetou significativamente a construção e a recepção dos textos, tra-
zendo maior interação do leitor com o texto. A possibilidade de tocar as palavras que compunham 
a história possibilitou ao leitor demarcar mais facilmente a leitura, armazenar a palavra escrita de 
maneira mais eficaz e, principalmente, ter certa mobilidade na leitura, uma vez que, no suporte an-
terior (o rolo) as duas mãos precisavam ser utilizadas para o manuseio. Essa transição ainda acar-
retou a modificação da organização do texto, que não precisava mais ser dividido de acordo com a 
capacidade de um rolo, e trouxe também a facilidade de seu transporte, manipulação e consumo.
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Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX
Figura 4 - Rolo de papiro: restrição à manipulação e ao consumo dos textos.
Fonte: kalomirael, Shutterstock, 2016.
Assim, os primeiros livros, ainda feitos por escribas, tinham as mais diversas formatações, mate-
riais,tamanhos e encadernações. Havia, por exemplo, os enormes livros de cultos, construídos 
para leitura a distância, que foram produzidos pela Igreja Católica no século V. Essas obras bus-
cavam propiciar a leitura coletiva, uma vez que os livros ainda não eram acessíveis à população.
Mais tarde, no século XV, por volta do ano de 1450, o jovem Gutenberg produziu a primeira 
bíblia impressa e, assim, outra revolução ocorreu. Até então, o livro tinha o valor da sua unicida-
de, uma vez que era produzido artesanalmente por escribas. A partir da invenção de Gutenberg, 
o livro começou a ser produzido em maior escala, de maneira rápida, uniforme e muito mais 
barata, o que representou a mais notável contribuição da invenção da imprensa para o mundo 
da leitura: a ampliação da quantidade de leitores.
O invento de Gutenberg provocou uma verdadeira revolução, ao permitir a circula-
ção do conhecimento. Segundo o portal Imprensa Nacional, do Governo Federal, em 
1997, a revista Time-Life escolheu o feito de Gutenberg como a invenção mais impor-
tante do segundo milênio. Ainda segundo a mesma fonte, a Catholic Encyclopedia diz 
tratar-se de um impacto cultural praticamente sem paralelo na Era Cristã.
VOCÊ SABIA?
A imprensa ampliou muito as possibilidades de veículos de comunicação que abrangiam o gran-
de público, como os jornais e revistas. Dessa forma, promoveu o acesso ao texto escrito, seja 
para fins práticos (documentos, contratos, anúncios) ou de entretenimento. Vale destacar que, 
também por meio dela, surgiu o livro na forma como o conhecemos hoje. Regina Zilberman 
(2000, p. 107) explica sua importância:
O livro, enquanto objeto material, contudo, não se restringe ao estado de peça indiferente, soma de 
papel, tinta e cola. A adoção dessa forma na posição de suporte da escrita prescreveu determinados 
modos de leitura: no Ocidente, onde se expandiu em escala industrial desde o século XV, 
incrementando-se a produção depois do século XIX, obriga a que se leia da esquerda para direita, 
de cima para baixo e sempre para frente. Experiências de vanguarda propuseram outras instruções 
ao leitor, mas, ao desmontar o modelo tradicional, acabaram por confirmá-lo pelo avesso.
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Assim, a partir da possibilidade de publicação em série de obras escritas, produzidas por autores 
que detinham algum conhecimento e/ou inspiração em tratar dos anseios humanos, a Literatura 
passou a ter o formato que conhecemos hoje.
1.1.1 Textos literários e não literários e as características que os diferenciam
Como estudamos anteriormente, há inúmeras definições para o termo Literatura. Incluem-se 
desde o valor estético de determinados textos e a consagração de materiais de alguns autores 
considerados “homens de letras”; o conjunto de obras de um determinado tempo e lugar ou 
mesmo a denominação da disciplina que estudamos e ensinaremos aos nossos alunos.
Portanto, mesmo sendo notadamente abrangente, o conceito de Literatura ainda causa polêmica 
nos ambientes intelectuais e acadêmicos. Para alguns críticos literários, a ideia de Literatura se 
associa à arte e, portanto, à estética - é caso de Hegel, Descartes, Lukács, Baudelaire, entre 
outros. Nessa visão, só podem ser considerados literários os grandes clássicos e seus autores, 
valorizando-se o valor estético que o texto literário deve ter, quase que sacralizando a criação. 
Há também os que aceitam quaisquer manifestações escritas como Literatura, pois a entendem 
como o registro de uma determinada sociedade em uma determinada época. Ainda existe a de-
finição de Literatura mais comumente ouvida em salas de aula e textos didáticos: “A literatura é 
a arte da palavra”.
Primeiramente, vamos explorar a ideia de que Literatura é o conjunto de obras consagradas 
(clássicas) escritas por autores que possuem algum dom em expressar verbalmente os anseios 
humanos por meio da palavra escrita, ou seja, os chamados “homens de letras”. 
Ao dissertar sobre o que hoje chamamos Literatura, Aristóteles, em sua obra A Poética, já defen-
dia a ideia de que a arte é uma imitação da realidade, imitação essa sensível, ou seja, trata-se 
da arte (e então da Literatura) como forma de interpretação do mundo real em uma visão ideal.
Dessa forma, surge uma associação entre Literatura e ficção. Entretanto, nem todo texto de fic-
ção é considerado como literário. E há, ainda, textos que são fieis na maneira como retratam a 
sociedade, sendo verdadeiros documentos históricos (como é o caso de Os Sertões, de Euclides 
da Cunha) e, mesmo assim, são consagrados como obras clássicas da Literatura.
O termo Literatura, da forma como conhecemos, é recente. Até 1800, Literatura era o conjunto 
de todos os textos escritos produzidos em uma determinada sociedade (CULLER,1999). Apenas 
há pouco mais de duzentos anos a Literatura se tornou a denominação dada a um conjunto de 
obras que praticam uma função social, refletindo e, ao mesmo tempo, registrando a sociedade 
diante de um determinado contexto histórico-cultural.
No entanto, reconhecer essas características em um texto é algo complexo e que ainda varia de 
acordo com diversos fatores externos, como o tempo, o uso da linguagem, a intertextualidade, a 
promoção da reflexão, o despertar de emoções etc.
Para todos esses aspectos, o estabelecimento de parâmetros que os avaliem não é algo concreto 
e que possa ser medido. Todos eles perpassam, ao contrário, pela subjetividade do leitor e da 
crítica literária, que, representada pela academia, acaba por oferecer uma chancela ao que 
deve ou não ser considerado boa Literatura, em especial no que concerne a textos produzidos 
na contemporaneidade. 
Pensando, por exemplo, a respeito da Literatura como o conjunto de obras que possuem valor 
estético, como poderíamos delimitar o que é ou não belo, diante da abstração desse termo?
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Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX
Observe os dois textos abaixo, que relatam a morte por afogamento de um cidadão:
Homem é encontrado morto em lagoa de Teresina
Na manhã de ontem (12), mais um caso misterioso de afogamento foi registrado em Teresina. 
Um homem de 58 anos foi encontrado morto em uma lagoa na divisa dos bairros Mafrense e 
Nova Brasília, zona Norte da cidade.
O caso está sendo investigado por agentes do 7º Distrito Policial. De acordo com o tenente Silva, 
do 9º Batalhão da Polícia Militar, que atendeu a ocorrência, o corpo foi encontrado por uma 
criança que brincava no local:
“Aquela região é cheia de lagoas, cheia de mato”, frisa.
Jornal O Dia, 13/03/2009
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava 
no Morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Manuel Bandeira
Qual dos dois textos poderíamos chamar de literário? Quais características revelam isso?
Você pode observar que o primeiro texto, publicado em um jornal, tem como objetivo principal 
de comunicação informar sobre a morte de um homem. Já o segundo texto, divulga a notícia 
da morte de João Gostoso utilizando-se de algumas características peculiares da escrita: a ver-
sificação, a organização discursiva, que cria certo suspense, e o elemento surpresa ao final do 
poema, revelando que após “beber, cantar e dançar” – atividades realizadas por pessoas que 
aparentam estar felizes – o homem comete suicídio. Esse trabalho rebuscado com a linguagem 
e a sequência dos fatos narrados no poema provocam reações e sentimentos no leitor (surpresa; 
reflexão sobre o motivo de João Gostoso cometer suicídio; um olhar crítico a respeito das con-
dições nas quais João Gostoso possivelmente vivia etc.). Isso parece trazer literariedade ao texto 
de Manuel Bandeira.
Agora, refletindo sobre o caráter estético do poema de Bandeira, essa qualidade permanecequestionável. Conseguimos ver a beleza desse texto, em especial nos efeitos de sentido que ele 
produz. Em outros momentos da história, no entanto, como no período Clássico e mesmo no 
Parnasianismo, o texto poético deveria se apresentar perfeitamente construído, com linguagem 
rebuscada, métricas perfeitas, referências a obras da Antiguidade etc., para ser considerado 
belo. Essa comparação reforça, além da subjetividade, a temporalidade do conceito de belo.
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No livro Cultura Letrada: Literatura e Leitura, Márcia Abreu, professora da Universidade 
Estadual de Campinas (Unicamp) reflete sobre o conceito e a função da Literatura em 
diferentes hipóteses que podem ser refutadas por meio de obras consagradas. A relati-
vização do conceito é muito interessante e, ao final, ela ainda apresenta sugestões da 
abordagem do texto literário em sala de aula. Vale conferir.
VOCÊ QUER LER?
Considerando as proposições discutidas anteriormente, creditando-se a impossibilidade de se-
rem elaborados parâmetros para conceituar literatura e refletindo-se sobre a sua função, tam-
bém nos apoiamos nas palavras de Antonio Candido (1980, p. 76):
A literatura é pois um sistema vivo de obras, agindo uma sobre as outras e sobre os leitores; e 
só vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a. A obra não 
é produto fixo, unívoco ante qualquer público; nem este é passivo, homogêneo, registrando 
uniformemente o seu efeito. São dois termos que atuam um sobre o outro, e aos quais se junta 
o autor, termo inicial desse processo de circulação literária, para configurar a realidade da 
literatura atuando no tempo. 
A afirmação acima nos remete à autonomia da Literatura e ao fato de que, para a sua existência, 
é preciso a interação entre ela, seus produtores e receptores. Em diferentes épocas e lugares, di-
vergem também os efeitos do texto escrito sobre a sociedade, o que leva a diversas concepções de 
crítica e teoria literária, que agregam valores diferentes a uma mesma obra, em épocas distintas.
Jonathan Culler (1999, p. 29), apesar de apresentar alguma resistência quanto a essa ideia, 
acaba admitindo, em sua tentativa de discutir o que é literatura:
(...) É tentador desistir e concluir que a literatura é o que quer que uma dada sociedade trata 
como literatura – um conjunto de textos que os árbitros culturais reconhecem como pertencentes 
à literatura.
Assim, é possível perceber a extrema importância da crítica literária na elaboração de parâme-
tros de literariedade dos textos, pois é ela que, em meio a uma cada vez mais vasta produção 
literária, alimenta e define dentre tais produções o que permanecerá e o que se perderá com o 
tempo. Registre-se que, além dela, leitores, autores e instituições mediadoras de leitura (como 
as editoras, livrarias, escola etc.) também são capazes de promover a interação entre os textos 
literários e a sociedade.
1.2 Por que e como se aprende 
Literatura na escola?
Primeiramente, definimos o escopo do que chamamos Literatura, compreendendo-a como a pro-
dução bibliográfica que contém literariedade e é representada por (bem como reflete) uma deter-
minada sociedade - no nosso caso, a brasileira. Assim, é naturalmente muito importante que os 
cidadãos brasileiros conheçam e interajam com a nossa Literatura, pois é ela que divulga a nossa 
cultura e nos faz refletir sobre o mundo em que vivemos. No entanto, levar alunos da Educação 
Básica ao interesse pelo texto literário, frente a tantas tecnologias e às mídias contemporâneas 
às quais têm acesso (como as redes sociais, os jogos, os filmes etc.), parece uma missão quase 
impossível. Mas será mesmo? Como podemos formar, mais do que conhecedores de Literatura, 
verdadeiros leitores? Que métodos e estratégias têm sido pensados para atingirmos esse objetivo 
tão nobre e necessário?
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Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX
Figura 5 - Estudantes em uma biblioteca representando a Literatura como fonte de pesquisa e entretenimento.
Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2016.
A Literatura Brasileira aparece como conteúdo a ser ministrado na disciplina de Língua Portugue-
sa, em especial no Ensino Médio, ainda que o trabalho com o texto literário já possa e deva ser 
desenvolvido desde os anos iniciais da Educação Básica.
Tradicionalmente, o ensino de Literatura na escola seguia uma abordagem cronológica dos mo-
vimentos literários e vida e obra de seus principais autores. No entanto, até mesmo o documento 
oficial que regulamenta o ensino de Língua Portuguesa no país, os Parâmetros Curriculares Na-
cionais (PCN, 2000, p. 16), evidencia os problemas dessa abordagem:
A história da Literatura costuma ser o foco da compreensão do texto; uma história que nem 
sempre corresponde ao texto que lhe serve de exemplo. O conceito de texto literário é discutível. 
Machado de Assis é literatura, Paulo Coelho não. Por quê? As explicações não faziam sentido 
para o aluno.
Outra situação de sala de aula pode ser mencionada. Solicitamos que alunos separassem de 
um bloco de textos, que iam desde poemas de Pessoa e Drummond até contas de telefone 
e cartas de banco, textos literários e não-literários, de acordo como são definidos. Um dos 
grupos não fez qualquer separação. Questionados, os alunos responderam: “Todos são não-
literários, porque servem apenas para fazer exercícios na escola”. E Drummond? Responderam: 
“Drummond é literato, porque vocês afirmam que é, eu não concordo. Acho ele um chato. Por 
que Zé Ramalho não é literatura? Ambos são poetas, não é verdade? 
Devido a isso, muito se tem questionado o tratamento dado ao ensino de Literatura nas escolas, 
inclusive, por grande parte dos materiais didáticos disponíveis. De maneira geral, esse incômodo 
ocorre devido à ênfase que esses materiais dão para o estudo histórico de Literatura, privile-
giando a memorização de datas e biografias dos autores, em detrimento de uma análise mais 
profunda das histórias que documentam a nossa sociedade ao longo dos séculos. 
Tais conhecimentos, apesar de importantes, não podem ser a essência do trabalho com a Lite-
ratura, pois, mais do que ensinar períodos literários, é preciso entender as aulas de Literatura 
como um espaço no qual há a oportunidade de explorar um texto literário, interpretando-o e 
articulando-o com a realidade do aluno que, a partir de uma leitura crítica, poderá ser levado a 
questionar comportamentos, fatos, situações cotidianas.
As competências e habilidades a serem trabalhadas nas aulas de Língua Portuguesa são citadas 
no documento Parâmetros Curriculares (2000, p. 20-22):
 • considerar a Língua Portuguesa como fonte de legitimação de acordos e condutas sociais e como 
representação simbólica de experiências humanas manifestas nas formas de sentir, pensar e agir 
na vida social;
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 • analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos, mediante 
a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção 
(intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de ideias e escolhas);
 • confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes manifestações da linguagem verbal;
 • compreender e usar a Língua Portuguesa como língua materna, geradora de significação e 
integradora da organização do mundo e da própria identidade.
Observe que todos esses itens podem e devem ser abordados por meio do texto literário, que dá 
margem para o aluno observar o mundo (real ou fictício) e refletir sobre ele, analisá-lo e criar, 
assim, suas próprias convicções.
Como professor, é fundamental que você conheça os objetivos do ensino de Língua 
Portuguesa e Literatura. Assim, segue o link para os Parâmetros Curriculares Nacionais:
Ensino Fundamental: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues.pdf>.
Ensino Médio: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf>.VOCÊ QUER LER?
O internacionalmente reconhecido educador Paulo Freire (2000, p. 76, grifo nosso) também 
refletiu sobre a importância do ensino de leitura e Literatura para a formação cidadã:
Ler um texto não é “passear” licenciosamente, pachorrentamente, sobre as palavras. É 
apreender como se dão as relações entre as palavras na composição do discurso. É tarefa de 
sujeito crítico, humilde, determinado. Ler, enquanto estudo, é um processo difícil, até penoso, 
às vezes, mas sempre prazeroso também. Implica que o (a) leitor (a) se adentre na intimidade 
do texto para apreender sua mais profunda significação.
Assim, se torna perceptível o potencial transformador da leitura, que oferece a possibilidade 
ao leitor de adentrar novos mundos, conhecer novas culturas e compará-las com a sua própria 
realidade e experiência. 
Portanto, o principal objetivo do ensino de Literatura, mais do que formar um bom conhecedor de 
Literatura, é formar um leitor literário. Isso significa que é preciso levar o aluno ao amadurecimen-
to como leitor, de forma que não basta que ele aprenda somente a decodificar e compreender um 
texto, mas, sim, que seja capaz de dialogar com ele criticamente; estabelecer relações entre as 
histórias que lê e o mundo em que vive; fazer inferências; compreender contextos históricos e so-
ciais, comparar com outros textos lidos, questionar comportamento e atitudes de personagens etc.
Para Colomer e Camps (2002, p. 29):
Assim, apesar do reconhecimento espontâneo da afirmação ler é entender um texto, a escola 
contradiz, com certa frequência, tal afirmação ao basear o ensino de leitura em uma série 
de atividades que se supõe que mostrarão aos meninos e às meninas como se lê, mas nas 
quais, paradoxalmente, nunca é prioritário o desejo de que entendam o que diz o texto. [...] O 
distanciamento dessas práticas educativas de qualquer busca de significado não se baseiam, 
naturalmente, em uma perversidade intrínseca da escola, mas são consequência de uma 
concepção leitora que permaneceu vigente durante séculos, até que os avanços teóricos nesse 
campo, nas últimas décadas, a puseram em questão.
Considerando tais avanços teóricos, propomos aqui uma abordagem do ensino de leitura literá-
ria que, desde a escolha do livro até as avaliações, tenha como intenção principal levar o aluno 
a pensar o mundo em que vive a partir das obras literárias com as quais tem contato.
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A controvérsia quanto ao ensino de Literatura já se inicia pelo questionamento do que deve ou 
não ser considerado Literatura no contexto escolar. Há professores que defendem o espaço para 
todo “tipo” de Literatura na escola, pensando-a como atrativo para que o aluno alcance níveis 
de leitura “superiores”. Em outras palavras, por meio de textos com linguagem mais acessível e 
temas mais populares, o aluno seria “preparado” para ampliar sua competência leitora até che-
gar aos grandes clássicos. Contrariamente, há outros que pensam que a escola deve privilegiar 
o ensino de obras literárias clássicas, pois essas serão as “cobradas” pelos vestibulares. 
A escola de hoje, democrática e inclusiva, não pode ter como função principal apenas encaminhar 
o aluno para a universidade, mas, precisa ser um espaço de transformação social que valorize o 
indivíduo e a comunidade na qual ele está inserido. É necessário prepará-lo para construir um olhar 
crítico sobre o mundo em que vive, tornando-o capaz de fazer as suas próprias escolhas - de forma 
consciente e coletiva.
A visão do ensino de leitura a partir de obras que atendam o gosto dos alunos como ponte para 
“leituras mais qualificadas” deve ser desmitificada. O objetivo de qualquer leitura é analisar um 
determinado contexto; compará-lo com a realidade; pensar no quanto ficção e realidade têm 
influências entre si; estabelecer diálogos entre leituras, experiências e hipóteses construídas, 
levando o aluno, por meio da Literatura, a apreender a realidade em que vive e a que almeja 
construir. Isso é possível trabalhando-se com obras de variados níveis, gêneros e tempos.
É ainda preciso considerar se as leituras “excelentes” para um professor, graduado em Letras, 
leitor proficiente, também são as mais atraentes para o adolescente contemporâneo, que está 
descobrindo seus gostos por meio da própria experiência com a leitura. Sobre essa questão, 
Abreu (2006, p. 109) sugere:
Desta forma, nas escolas, os livros preferidos pelos alunos podem (e devem) ser lidos e 
discutidos em classe, levando-se em conta os objetivos com que foram produzidos, os gêneros 
de escritos a que pertencem seu funcionamento textual. Estes livros podem ser comparados 
com textos eruditos, não para mostrar como os últimos são superiores aos primeiros, mas para 
entender e analisar como diferentes grupos culturais lidam e lidaram com questões semelhantes 
ao longo do tempo.
Propomos, então, que a escolha do livro a ser trabalhado se dê, não só de acordo com o interes-
se dos alunos (gosto, faixa etária, identificação com a obra etc.), mas também em sintonia com 
os interesses previstos no currículo escolar e na proposta pedagógica da escola, trazendo leituras 
que levem os educandos a pensarem sobre o contexto em que vivem. Além disso, é muito impor-
tante considerar a idade, os interesses e as necessidades dos alunos. Naturalmente, o trabalho 
com a obra escolhida terá também a influência do currículo e das expectativas de aprendizagem 
para o ano em questão- e principalmente - deverá oferecer uma experiência de leitura positiva, 
promovendo a identificação do leitor, bem como ampliando a sua visão de mundo. 
1.2.1 O trabalho do texto literário em sala de aula
Há variados métodos para se trabalhar o texto literário em sala de aula: estratégias de leitura 
compartilhada; questionários e suplementos oferecidos pelas próprias editoras; rodas de leitura 
etc. O fundamental é que os alunos, ao entrarem em contato com um texto, se sintam instigados 
a fazer perguntas sobre ele, o contexto que apresenta e, por exemplo, os comportamentos das 
personagens, fazendo analogias à própria realidade. 
De forma prática, como podemos fazer isso? Quais as ações e as atividades capazes de levar o 
aluno a estabelecer essas relações com o texto literário? Aqui, segue uma sugestão de estrutura 
para abordar textos literários em sala de aula. 
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• Antes da leitura
Uma das primeiras ações, ainda antes da leitura, é instigar a curiosidade do leitor pelo 
livro a ser lido. Isso pode ser feito por meio de revelações sobre o autor; da apresentação 
de fatos históricos que ocorreram no contexto da obra ou de curiosidades relativas ao 
enredo. O objetivo, nessa etapa, é sensibilizar o aluno para a leitura da obra, levantando 
seu conhecimento prévio e induzindo-o a se interessar pelo texto.
• Durante a leitura
As etapas do texto podem ser exploradas tanto do ponto de vista estrutural (análise 
dos recursos da narrativa utilizados pelo autor, progressão do enredo, manipulação 
da linguagem etc.) quanto do ponto de vista social (averiguação dos fatos e, 
consequentemente, da coerência do texto; a caracterização das personagens e a distinção 
do grau de importância de cada uma delas no enredo; a comparação entre a ficção 
e a realidade; a análise da verossimilhança etc.). A ideia é promover a identificação 
entre o leitor e a obra. Mesmo em um texto “fantástico” do ponto de vista do educador, 
algumas situações cotidianas, sentimentos, impressões e reações poderão ser percebidas 
e, portanto, analisadas pelos alunos.
Atividades que se prendem a questões como “descreva física e psicologicamente as 
personagens da obra”, “faça um resumo da história” ou “analise espaço e tempo onde 
ocorre a narrativa”, como vemos em muitos manuais didáticos, prendem o aluno ao texto 
de uma forma não crítica.
• Após a leitura
Asugestão é levar o aluno a estabelecer diálogos entre a leitura e outros textos e experiências 
que já fazem parte de seu repertório. A promoção de debates e a criação de espaços para 
que os alunos questionem os comportamentos das personagens de uma obra, baseados 
em suas próprias experiências, podem ser boas oportunidades para a realização de uma 
atividade de leitura produtiva, que não cerceie as inúmeras possíveis interpretações de um 
texto por parte do leitor - dando chances de, muitas vezes, o professor ser surpreendido 
de forma bastante positiva. 
Outra proposta é promover a interação do aluno com a obra. Para isso, podem-se indicar ati-
vidades como: pedir aos alunos que escrevam cartas aos personagens ou ao autor da obra; 
dar-lhes a possibilidade de criar um novo desfecho; promover tribunais de julgamentos sobre o 
comportamento das personagens; reescrever trechos da obra numa linguagem ou em um cenário 
mais atual; transpor a narrativa literária para um roteiro teatral etc. Todas as iniciativas que le-
vem o aluno a pensar um texto mais criticamente, em vez de recebê-lo com passividade, podem 
propiciar experiências valiosas. Ao final da leitura, o aluno deve ter ampliado seu olhar crítico, 
aproximando as histórias lidas da realidade em que vive, tomando-as como amostras dessa rea-
lidade para estimular possíveis transformações.
Quanto à avaliação do trabalho com a leitura literária, o objetivo não deve ser aferir se os alunos se 
apropriaram de dados e fatos das obras, mas verificar a capacidade que o aluno teve em relacionar 
o texto com o a realidade e o olhar crítico que conseguiu desenvolver sobre o tema estudado.
Por exemplo, em um estudo sobre Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é de extrema importância 
que o aluno reflita criticamente sobre a seca no nordeste e o consequente problema da imigração.
Se nós, professores, buscarmos estratégias para desenvolver o trabalho com a Literatura em sala 
de aula dessa forma, o ensino de obras literárias voltará a fazer sentido para o jovem contempo-
râneo, autônomo e protagonista de sua própria aprendizagem.
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Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX
VOCÊ QUER VER?
Manifesto por um Brasil Literário
O escritor Bartholomeu Campos de Queirós (1944-2012) deu um belo depoimento 
sobre o direito à Literatura. Segundo ele, é quando a pessoa descobre um livro que 
“conversa com ela”, que nasce um leitor. Você pode conferir no link abaixo: <https://
www.youtube.com/watch?v=6vVfeTrSYM8>.
Após toda essa reflexão sobre o ensino de Literatura na escola, apresentamos uma sugestão de 
abordagem de um texto literário em sala de aula, na prática, já para o Ensino Fundamental. 
Partimos da premissa que textos não canônicos também fazem parte de um corpus literário e já 
podem ser trabalhados a partir deste período de aprendizagem.
CASO
Oficina de leitura e escrita baseada na obra A Droga da Obediência, de Pedro Bandeira. Propos-
ta de Atividade para alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. 
• Antes da Leitura
Objetivo: trabalhar o contexto de produção da obra; estabelecer relações entre o lido/
vivido ou conhecido (conhecimento de mundo).
Para iniciar o trabalho, o professor apresenta ao aluno a obra e o contexto no qual ela foi 
escrita com questionamentos simples como “Vocês já ouviram falar de Pedro Bandeira?”. 
A partir daí, incentiva situações como a análise da capa e da materialidade do livro, 
propondo que sejam levantadas hipóteses, a partir delas. Quem os alunos imaginam que 
sejam “Os Karas”, apontando para a definição que aparece na contracapa “o avesso dos 
coroas, o contrário dos caretas” - expressões que talvez não façam parte do repertório dos 
alunos nos tempos de hoje, portanto, podem também ser esclarecidas neste momento. 
Nessa direção, é interessante propor algumas reflexões: por que o título “A Droga da 
Obediência”? A obra foi publicada pela primeira vez em 1984, em um Brasil que ainda 
vivia à sombra de uma ditadura política. Que relação esse contexto pode ter com uma 
história com esse título?
Em um depoimento, o próprio Pedro Bandeira se posicionou a respeito desse tema:
[...] A Droga da Obediência era uma metáfora que protestava contra a ditadura militar na 
qual eu vivi toda a minha vida de jovem adulto. O golpe militar ocorreu quando eu acabara 
de fazer 22 anos e só iria terminar em 1985, depois que eu tivesse feito 43. E, aos 22 anos, 
eu vinha tentando moldar meu futuro trabalhando como ator de teatro e como jornalista, duas 
profissões que imediatamente foram vitimadas por uma das grandes crueldades de qualquer 
ditadura: a censura. [...] Assim, a minha Droga da Obediência seria uma metáfora crítica à 
censura do regime militar, seria a droga do “cala-boca”, da imposição de apenas uma forma 
de pensar e de agir e a negação de qualquer “heresia” ou opinião contrária. Seria a droga da 
Inquisição, do livro único, do pensamento único, das fogueiras da Torquemada, da iconoclastia 
de Teodósio I, de Hitler, de Stalin, de Mao, de Mussolini, de Garrastazu Médici e do delegado 
Fleury. (Apud LAJOLO, 2009)
A contextualização do livro pode gerar uma rica discussão de temas importantes para a 
formação cidadã. Essa introdução permite, inclusive, um trabalho interdisciplinar com 
História, para ampliar ainda mais o conhecimento e a criticidade dos alunos em relação 
ao período da Ditadura no Brasil.
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• Após a leitura
Objetivo: identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a 
narrativa; reconhecer efeitos de ironia ou humor decorrentes de expressões do texto, entre 
outros. Dicas:
• sugerimos desenvolver uma ou mais atividades, sempre levando em consideração o 
planejamento didático e os objetivos de ensino. Possibilidades: o livro A Droga da 
Obediência é uma narrativa de aventura policial que traz à tona o desaparecimento 
de estudantes, que estão sendo utilizados como cobaias de uma droga que os torna 
extremamente obedientes e sem personalidade. Assim, uma das primeiras propostas 
de atividade pode ser a produção de textos de gêneros variados relacionados ao 
sumiço dos estudantes (matéria para um jornal impresso, post para o facebook; 
notícia em TV com diferentes abordagens - séria e sensacionalista; notificação e 
campanha de segurança produzida pela delegacia do bairro para a população etc.).
• chamamos a atenção para o fato de, na obra de Pedro Bandeira, “Os Karas” serem 
utilizadas várias formas de comunicação, além da Língua Portuguesa. Há a presença 
de códigos de linguagem corporal e também de escrita, como o “TENIS POLAR”. 
Assim, a sugestão é que os alunos analisem e testem esses códigos. Essa atividade 
trará um momento lúdico e de reflexão sobre o funcionamento da linguagem e os 
objetivos da comunicação.
• propomos a análise das personagens, em especial as que compõem o grupo “Os 
Karas”. Assim, os alunos poderão avaliar de forma crítica o comportamento de cada 
um deles, como, por exemplo, a liderança (que beira à arrogância) da personagem 
Miguel; as habilidades atléticas de Magrí; os atributos físicos e o carisma de Calu; 
a inteligência de Crânio e suas estratégias para realizar importantes descobertas e a 
curiosidade, a coragem e a ousadia de Chumbinho. A partir daí, os alunos podem 
escolher seu personagem favorito e, talvez, até mesmo interpretá-lo. Para isso, seria 
ainda necessário que os alunos produzissem um roteiro, a partir da narrativa, fazendo 
a transposição do gênero e excluindo a figura do narrador.
• indicamos a produção de uma narrativa de aventura, a partir da seguinte orientação: 
imagine que os Karas se mudaram para a sua escola e, assim como Chumbinho no livro, 
você quer se tornar um deles. Narre um episódio, contando como você os conheceu e 
passou a fazer parte do grupo, além de uma aventura que tenha vivido com eles. 
Essa foi uma proposta de atividade com umtexto literário não tradicional, um texto de literatu-
ra infantojuvenil, para iniciar os nossos alunos do Ensino Fundamental na percepção do texto 
literário e suas funções. Ela mostra como o texto literário oferece possibilidades de um trabalho 
educativo muito além dos conhecimentos factuais, lembrando que o desenvolvimento de qual-
quer atividade em sala de aula deve ir ao encontro da intencionalidade do professor e das ne-
cessidades de aprendizagem dos alunos. 
1.3 Literatura e história: o descobrimento 
do Brasil e as manifestações culturais
É comum nas escolas que a história do Brasil comece a ser contada a partir de 1500, com a 
chegada das caravelas de Pedro Álvares Cabral. No entanto, quando aportaram por aqui, os 
portugueses já encontraram nosso país habitado por nativos indígenas. Esse fato chamou bas-
tante a atenção desses navegantes, que registraram suas primeiras impressões sobre nosso país, 
na carta para o rei D. Manuel I, redigida por Pero Vaz de Caminha:
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Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX
“[...] Neste dia os vimos mais de perto e mais à nossa vontade, por andarmos quase todos 
misturados: uns andavam quartejados daquelas tinturas, outros de metades, outros de tanta 
feição como em pano de ras, e todos com os beiços furados, muitos com os ossos neles, 
e bastantes sem ossos. Alguns traziam uns ouriços verdes, de árvores, que na cor queriam 
parecer de castanheiras, embora fossem muito mais pequenos. E estavam cheios de uns 
grãos vermelhos, pequeninos que, esmagando-se entre os dedos, se desfaziam na tinta muito 
vermelha de que andavam tingidos. E quanto mais se molhavam, tanto mais vermelhos ficavam. 
Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. [...].
Os europeus, ao adentrarem aqui, inseriram sua cultura e até mesmo suas crenças. Nossa colo-
nização, portanto, se iniciou na exploração econômica e comercial de muitos recursos naturais 
que aqui existiam e isso trouxe consequências para as origens de nossa Literatura. Para Alfredo 
Bosi (1994, p. 11):
O problema das origens da nossa literatura não pode formular-se em termos de Europa, onde 
foi a maturação das grandes nações modernas que condicionou toda a história cultural, mas 
nos mesmos termos das outras literaturas americanas, isto é, a partir da afirmação de um 
complexo colonial de vida e de pensamento. 
Ou seja, o Brasil Colônia passou por um longo processo no qual a influência do português e do 
negro, bem como as atividades de exploração exercidas aqui, criaram certo desequilíbrio cultu-
ral. Assim, o autor observa os variados subsistemas regionais que surgiram no país e influencia-
ram a nossa história literária.
Antônio Candido (2009, p.11), outro estudioso das origens de nossa Literatura, no prefácio de 
sua obra Formação da Literatura Brasileira, a coloca como “galho secundário da portuguesa”, 
por ter sido originada a partir desta. Para o autor, somos, assim, dependentes também das Lite-
raturas europeias.
Os primeiros textos produzidos aqui foram cartas e documentos oficiais como o que lemos acima, 
ou seja, gêneros tradicionalmente não literários que tinham por objetivo enviar notícias à corte 
portuguesa sobre o que encontraram por aqui, descrever o Novo Mundo e os habitantes que aqui 
povoavam. Assim, dado o valor de documentação histórica desse material, eles são os primeiros 
indícios, ainda que escritos por portugueses, de textos que descrevem o Brasil, que narram aven-
turas e histórias vividas nesta terra, dando origem aos primeiros registros da Literatura Brasileira.
1.4 A formação da Literatura Brasileira
Se em 1500 não havia o país que hoje chamamos Brasil, podemos dizer que a Literatura Brasi-
leira começa com o descobrimento? 
Após o país Brasil ser formado, consequentemente, ele precisou alcançar a sua identidade cul-
tural, em uma composição miscigenada pela colonização europeia e os nativos indígenas. Na-
turalmente, a Literatura foi um dos caminhos para buscar essa identidade, de maneira mais ou 
menos acentuada, nos diferentes momentos de nossa produção literária.
Os períodos literários que compõem a Literatura Brasileira são:
• Quinhentismo (1500 – 1601)
• Barroco (1601 – 1728) 
• Arcadismo (1768 - 1836)
• Romantismo (1836 – 1881) 
• Realismo e Naturalismo (1881 – 1922)
• Parnasianismo (1882 - 1922)
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• Simbolismo (1893 - 1922)
• Pré-Modernismo (1902 - 1922)
• Modernismo (e suas outras correntes que alcançam a Literatura contemporânea).
O professor Antônio Candido (1918-), sociólogo, dedicou grande parte de sua vida 
aos estudos literários e um de seus grandes feitos foi estudar a Literatura Brasileira do 
ponto de vista sociológico, investigando como a sociedade e a literatura se influen-
ciam. Suas obras de destaque são Literatura e Sociedade (1965) e Formação da Lite-
ratura Brasileira (1975).
VOCÊ O CONHECE?
Antônio Candido diferencia manifestações literárias de Literatura. Segundo Candido (2009, 
p.25), para que exista Literatura, é preciso haver um sistema literário, que ele define como:
[...] a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos 
conscientes de seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes 
tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor 
(de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns a outros. 
O conjunto dos três elementos dá lugar a um tipo de comunicação inter-
humana, a literatura, que aparece sob este ângulo como sistema simbólico, 
por meio do qual as veleidades mais profundas do indivíduo se transformam 
em elementos de contacto entre os homens, e de interpretação de diferentes 
esferas da realidade.
Assim, de acordo com o autor, a Literatura só existe quando faz parte de um sistema, que é um 
conjunto articulado de produtores e receptores de uma obra, ou seja, na visão do autor, não há 
Literatura se não há público. No entanto, autor, obra e público não se conectam por acaso. São 
necessárias instituições que mediam a relação entre eles, como, por exemplo, editores, acade-
mias, tradutores e, também, a escola e os professores.
Representando graficamente, temos que, para a existência de um sistema literário e, portanto, 
Literatura, é preciso:
Autor
Público Obra
Figura 6 – Representação de um sistema literário.
Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em CANDIDO, 2009.
20 Laureate- International Universities
Literatura Brasileira: Origens ao Século XIX
Agora, considere o Brasil pós-colonial. Obviamente, naquele período ainda não havia um pú-
blico leitor formado, nem um sistema de circulação de obras, portanto, ainda não existia um 
sistema literário.
Por essa razão, para o autor, o que é produzido no país antes de o sistema literário estar com-
pletamente formado – fato que ocorre a partir do século XVIII, no Arcadismo - são manifestações 
literárias. No entanto, nem todos concordam com ele. Outros especialistas consideram Literatura 
todos os movimentos literários brasileiros, desde a carta de Pero Vaz de Caminha, e todas as 
escolas literárias listadas acima – em síntese, o conjunto das produções realizadas no Brasil. É 
o caso do também respeitado Alfredo Bosi (1936-), que em sua História Concisa da Literatura 
Brasileira realiza a crítica de cada período literário e seus principais representantes no Brasil.
Para fins metodológicos, seguiremos ao longo da disciplina, por um estudo cronológico dos 
períodos literários que, apesar de não atingirem todo o escopo das obras produzidas no Brasil, 
representam tendências estéticas e discursivas de um determinado contexto histórico, promoven-
do, assim, a identidade de nossa produção literária e a forma como nos representa.
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SínteseSíntese
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• refletir sobre o que é Literatura, no contexto social e no educativo;
• pensarem como a Literatura Brasileira deve ser ensinada e sua influência no comportamento 
humano;
• conhecer as primeiras manifestações culturais ocorridas no Brasil;
• entender, em diferentes perspectivas, como se deu a formação da Literatura Brasileira.
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Referências
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RUSSEL, Gisele Maia. Da página do livro à tela do computador: Um percurso histórico para 
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2009.
Bibliográficas

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