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historia da regiao aula 12

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Aula 12
Modernização 
econômica e 
movimentos sociais 
no Rio de Janeiro 
na Primeira 
República
Eliana Vinhaes Barçante
História da Região
106 
Meta da aula
Discutir o panorama da economia da cidade do Rio de Janeiro na Primeira República, 
os movimentos sociais na cidade em tempo de rebelião e a contribuição da prefeitura 
de Pedro Ernesto à cidade.
Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
1. descrever a economia da cidade do Rio de Janeiro;
2. analisar as formas de participação e rebeldia dos trabalhadores no Rio de Janeiro;
3. identificar o papel de Pedro Ernesto, na prefeitura do Rio de Janeiro.
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
 107
INTRODUÇÃO
O Rio de Janeiro viverá uma série de mudanças e reformas 
para recuperar sua capacidade econômica e introduzir-se na 
etapa da modernidade na Primeira República. Nesse processo, 
conviverá entre luzes e sombras, no palco das contradições entre 
capital e trabalho. A Primeira República e a década de 1920, mais 
especificamente, vão demonstrar como a cidade vitrine do Brasil vai 
administrar e consolidar um modelo de República, e remodelar sua 
imagem para superar as perdas econômicas, advindas da crise da 
economia cafeeira. O comércio urbano e a criação de fábricas vão 
absorver os trabalhadores, sem evitar conflitos e rebeliões.
Trata-se, portanto, de se estudar o Rio de Janeiro que se ordena 
para atender às exigências do mundo do trabalho.
Neste processo, a prefeitura de Pedro Ernesto vai trazer uma 
contribuição para o ordenamento e a inclusão do trabalhador nos 
destinos do Brasil.
A economia do Rio de Janeiro: o Rio 
comercial
O país passa de Monarquia a República. Nesse contexto, 
vários conflitos na disputa pelo poder vão marcar essa trajetória, 
com a emergência de novos problemas e novas vozes que clamam 
por soluções.
A cidade do Rio de Janeiro sintetiza, na época, as questões 
principais que inquietam a nação. A tensão da capital da República 
enquadrava o nível das disputas e indefinições contidas no processo 
de consolidação da ordem e das instituições republicanas.
Perseguia-se uma construção harmoniosa nesse mosaico 
político contraditório e tenso. A instabilidade política refletia outra 
crise – a da economia agroexportadora. A crise internacional do 
História da Região
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comércio do café, associada a um déficit das contas externas do 
país, exigia das elites republicanas o estabelecimento urgente de um 
equilíbrio de forças políticas que garantisse a pacificação do Estado 
republicano, para se enfrentar a questão da economia nacional. 
A imagem turbulenta seria agravada com o atentado contra 
o presidente da República, Prudente de Moraes, em 5 de novembro 
de 1897. Saiu ileso, mas o marechal Bittencourt que se atracou com 
o soldado assassino, acabou falecendo. Alguns setores urbanos 
estavam associados ao atentado, como o jacobinismo florianista, 
na figura de Lauro Sodré, exigindo a elaboração de um pacto de 
poder, para marginalizar as emergentes e ativas forças políticas 
cariocas e colocar a responsabilidade pela ordem política nacional 
nas mãos das oligarquias agrárias. O desprestígio do Exército, 
por sua atuação truculenta em Canudos e a tentativa de assassinar 
Prudente de Moraes, juntamente com os setores da oposição civil 
estavam desgastados. 
As bases desse novo pacto de poder pretendiam excluir as 
forças urbanas da Capital Federal, como Campos Sales definiu:
É de lá (dos estados) que se governa a República, por cima 
das multidões que tumultuam agitadas, nas ruas da capital 
da União (SARMENTO, 2001, p. 36).
A ação, portanto, da elite política fluminense, durante a 
Primeira República, tem a incumbência de administrar os conflitos 
internos, buscar alianças com grupos oligárquicos regionais, para 
garantir a autonomia estadual, revalidando o federalismo, mas em 
oposição às incursões intervencionistas do governo central, afinado 
com Minas e São Paulo.
Mas as disputas sucessivas contribuíram para sua fragmen-
tação, sem que eliminasse de seu objetivo o projeto comum, qual seja 
recuperar na República um passado de grandeza e prosperidade 
vivido no Império (FERREIRA, 1994, p. 22).
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
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O deputado estadual André Werneck apontava para um 
cenário que explica algumas das cisões e conflitos. Fazendo uma 
crítica a Alberto Torres, justifica sua posição, alegando a necessidade 
de solucionar a crise da agricultura fluminense.
Atende ao Objetivo 1
1. Leia o texto a seguir:
Desconhecendo em absoluto a situação econômica do estado que finge administrar, 
não tendo bebido nas tradições a grandeza do seu passado, não havendo percorrido, 
e bem assim jamais tendo viajado e penetrado nos outros estados cafeeiros da União, 
não pode avaliar das verdadeiras causas que fazem as finanças do nosso estado cair em 
profunda decadência e, de envolta com esse descalabro, a fortuna particular; também 
não pode ajuizar dos verdadeiros motivos que agem para fazer a decadência dos 
outros prósperos municípios e a tendência constante e progressiva de emigração dos 
seus habitantes (...). Há bem poucos anos era o estado do Rio de Janeiro o primeiro da 
União, representava nas finanças internacionais a riqueza do Brasil; hoje, à proporção 
que outros estados da República aumentam as suas rendas, crescem de população 
recebendo em massa imigrantes espontâneos, o nosso estado, ao inverso desse 
espetáculo animador, apresenta o mais triste cenário: territórios enormes abandonados 
em virtude do esgotamento de suas terras, cidades em ruínas, população emigrando, 
movida pelas dificuldades naturais e pelas que foram criadas pelo atual governo; daí, 
como consequência, o decréscimo assustador da renda pública (FERREIRA, 1994, p. 20).
A partir das considerações acima, avalie as características básicas da economia do Rio 
de Janeiro, que precederam as atividades comerciais e urbanísticas que se desenvolverão 
a seguir, na década de 1920:
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Resposta Comentada
O texto fala do declínio da economia cafeeira do sudeste fluminense, quando a crise vai arrastar 
a elite do café a uma situação de penúria e empobrecimento. Atribui à falta de braços para a 
lavoura, com a abolição no fim do século XIX, a situação da crise, atribuindo à incompetência das 
lideranças políticas tal descalabro. Denota a necessidade de novas soluções para o agrofluminense, 
que reverta a crise do início da República. É um libelo em favor da agricultura fluminense.
Portanto, esta fala de Werneck sintetiza as aflições dos setores 
agrários fluminenses, diante do declínio da economia cafeeira. 
Representa a preocupação com os destinos do estado do Rio de Janeiro.
De fato, o Rio de Janeiro enfrentava grandes problemas quando 
o setor cafeeiro deixou de articular o conjunto da produção e perdeu 
seu lugar de eixo dinâmico do Brasil, em finais do século XIX.
Portanto, com grandes dificuldades para seus produtos 
hegemônicos, a economia fluminense vai buscar alternativas para 
superação de tamanha gravidade.
O processo de diversificação econômica vai sendo efetivado 
no estado do Rio. Essa diversificaçãovisava ao reaproveitamento de 
máquinas e mão de obra subutilizadas, e a minimização de custos, 
dentro de uma economia agrária e marcada profundamente pela 
importação de gêneros alimentícios. A diversificação econômica 
contempla a chamada vocação agrária, mas incorpora alternativas 
para a economia fluminense. Segundo Sonia Mendonça, a partir de 
1903, houve uma tendência ascendente das exportações fluminenses 
de gêneros de primeira necessidade (MENDONÇA, 1986, p. 178).
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Entretanto, não somente da agricultura sobreviveu a economia 
do Rio de Janeiro. Várias fábricas foram implantadas no estado, 
ainda em finais do século XIX. Já em 1907, o Rio era o quarto 
colocado em relação ao valor percentual bruto da produção 
industrial do país. O Distrito Federal colocava-se em primeiro lugar 
com 30,2% da produção industrial brasileira (FERREIRA, 1994, 
p. 51). Mas esta expansão fabril fluminense não se originou da 
acumulação de capital local, segundo Marieta de Moraes Ferreira. A 
descapitalização da agricultura, com a crise do produto fluminense, 
mais a extinção do trabalho escravo desloca o capital agrário para 
os setores comerciais financeiros, localizados na cidade do Rio de 
Janeiro. Portanto, as principais empresas implantadas no estado 
do Rio surgiram articuladas com as atividades comerciais daquela 
cidade (FERREIRA, 1994, p. 52).
As transformações econômicas e sociais, advindas da fase 
entre 1914-18, com a Guerra Mundial, vão introduzir um novo perfil 
ao Rio de Janeiro. O crescimento fabril e a urbanização intensa vão 
colocar em cena novos segmentos da sociedade, como a burguesia 
industrial, o proletariado urbano, as camadas médias, que até então 
estiveram afastados do poder.
A crise cafeeira vai exigir uma ruptura com o eixo do sistema 
econômico. A inflação polariza uma série de descontentamentos 
na cidade. As décadas de 1920 a 1960 foram de prosperidade 
e de acumulação de prestígio para alguns setores sociais. O Rio 
de Janeiro expandiu-se para os subúrbios, com sua população 
crescendo e deslocando-se para as áreas afastadas do centro da 
cidade. Na trajetória inversa, acompanhou a linha das praias da 
Guanabara, visualizando o oceano Atlântico. 
História da Região
112 
Figura 12.1: A cidade caminha em direção à zona sul, na orla marítima.
Fonte: http://theurbanearth.files.wordpress.com/2008/06/beira-mar.jpg
Aperfeiçoou seus equipamentos urbanos. Muitas unidades 
urbanas instalaram-se na cidade. Até a Primeira Guerra Mundial, 
o Rio será o estado mais desenvolvido industrialmente, sendo 
progressivamente acompanhado por São Paulo que o vai suplantar.
O Rio desenvolve, no mundo urbano, cada vez mais, serviços 
sofisticados, como centro do comando bancário, destacando-se 
como a sede de escritórios centrais de inúmeras empresas e o maior 
hóspede de visitantes estrangeiros. Tudo corria bem para os setores 
prósperos da cidade. Era a cidade que seguia uma trajetória para 
a civilização. Nesse processo, pretendia ocultar a cidade velha e 
preparar-se para o advento do progresso. A cidade exibia-se, na 
década de 1920, como aquela que se quer incorporar no Novo 
Mundo. Recebe, no centenário de 1922, a Exposição Internacional. 
Desta exposição, permanece como marco o prédio da Academia 
Brasileira de Letras. O morro do Castelo vai sofrer o desmonte, 
simbolizando a ruptura com o passado colonial indesejável. 
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Figura 12.2: O desmonte do morro do Castelo.
Fonte: http://api.ning.com/files/WxJwajlUoFsexeLxUujYMQ92aOBER7*n4eTMcHzROh9
Dj7CgBiTdg3uOgvuDGlPxWKw-ObJLPAzFUDpEcChZAhW7kc40P3Ly/MorrodoCasteloI.JPG
Seus despojos serviriam de aterro para o que seria o futuro 
Aeroporto Santos Dumont. Este segmento do centro da cidade 
revelava lembranças do passado, que havia sido preservado por 
Pereira Passos. O desmonte, iniciado por Carlos Sampaio em 1920, 
vai ser concluído por Henrique Dodsworth Martins, entre 1937-45. 
Mais uma lembrança do passado havia desaparecido na poeira da 
modernidade. Desapareceu a antiga igreja do Colégio dos Jesuítas 
e a Igreja dos Capuchinhos, próxima ao trabalho das lavadeiras e 
vizinha dos cultos de candomblés. Muitos prédios foram demolidos, 
em sua maioria, cortiços e barracos pobres. 
O Passeio Público foi reformado e foram demolidas construções 
que impediam a visualização dos Arcos da Carioca. Este foi um 
monumento colonial que foi preservado para a posteridade.
O desmonte do morro do Castelo permitiu o aterro, na área do 
aeroporto, mas ocupou a área da praia do Russel e a faixa litorânea, 
que se estendeu até a Glória. Carlos Sampaio abriu a avenida Rui 
Barbosa. Caminhava-se em direção à zona sul.
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114 
Figura 12.3: Avenida Rio Branco na década de1920.
Fonte: http://spf.fotolog.com/photo/47/27/96/derani/1206735861_f.jpg
Figura 12.4: Avenida Central na década de 1920.
Fonte: http://carrosantigos.files.wordpress.com/2008/08/b6.jpg
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Figura 12.5: Ruas do morro do Castelo, 1920.
Fonte: ht tp://api.ning.com/fi les/7xoswFprdyoaQgQn0EK5kXgW7wU0k5r-
RjRqgSkpZFssLDKIT81gHDqeLmhMgIvYDsI3fTt-HJZJCOagMbreXOE4tWTYHoHu/
bRJMorrodoCastelodescidadcadade1920.jpg
Figura 12.6: O bonde na praça Tiradentes da década de 1920.
Fonte: http://api.ning.com/files/YRmdM4KMevl-Z6jyiJerPlkubWB1i7MXjOGftQ-
gpXMvaI1MxtZBTcOLzDaeNOTiV0r*pB5R3hXpZ6shUHeCmk3JWoQRZRzc/
BondenaPaTiradentesdcadade20.jpg
História da Região
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As imagens mostram as remodelações pelas quais vai 
passar o Rio urbano, para atender às demandas do comércio, da 
modernização e do progresso.
Desde os anos 1920, Copacabana inicia sua verticalização. A 
paisagem era vista à longa distância. Com o advento dos elevadores 
em 1916 e a produção nacional de cimento em 1926, os prédios 
tendem a se verticalizar, possibilitando maior arejamento, mais belas 
paisagens e imponência de suas instalações.
O Rio também iniciou uma acelerada eletrificação, seguida pelo 
uso de veículos. Em 1910, o Rio já tinha uma frota de 615 veículos.
O estilo art déco foi escolhido para a construção de edifícios 
verticais, nos anos 1920-30. Em 1921, foi criado o Instituto de 
Arquitetos do Brasil. A profissão teve sua ascendência. Os projetos 
modernizadores passaram a ser valorizados no mercado imobiliário 
em ascensão (LESSA, 2001).
Alguns prédios notáveis foram construídos, como: a Câmara 
Municipal e o Palácio Tiradentes – antiga Cadeia Velha –, em 1922; 
o Hotel Glória, em 1920, na base do outeiro da Glória, vai compor 
a paisagem de conforto e luxo para hóspedes ilustres; o Parque da 
Gávea, com o Museu da Cidade, vai ser remodelado, utilizando o 
mesmo prédio recuperado do século XIX.
Nos anos 1920, ficava bem explícita a hierarquização socioes-
pacial da cidade. A cidade é pensada de forma urbanística e Prado 
Jr. contrata o arquiteto Agache, em 1922, para executar um plano 
geral de modernização da cidade. Ele projeta um plano, que vai 
atender às principais questões da época, levando em consideração a 
formação da cidade, o surgimento das favelas e as novas propostas 
de urbanização. Cria maior funcionalidade socioespacial, com novos 
eixos de circulação, visando à especialização do espaço urbano, 
isto é, as instalações urbanas deveriam atender às necessidades da 
modernidade ascética, limpa, bem nascida.
Veja o que escreve o sambista Ari Kerner, em 1927, sobre o 
Plano Agache:
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Seu Agache anda solto e preparado,
quem for feio fuja dele,
para não ser remodelado
(LESSA, 2001, p. 257).
Figura 12.7: Perspectiva do Centro e dos bairros do Rio de Janeiro. Plano 
Agache, 1922.
Fonte: h t tp://www.f i lo.uba.ar/conten idos/inves t igacion/ins t i tu tos/geo/
geocritica2010/666_PettiPinheiro_archivos/image001.jpg
O impacto cirúrgico sobre a cidade vai se ampliando, 
abrindo novos espaços urbanizados e remodelados. Entretanto, 
este modelo urbanístico não privilegia as classes populares. A elas 
cabia se deslocar para os subúrbios, que vão emergindo, ao longo 
da estrada de ferro.
O Rio Comprido foi progressivamente ocupado na gestão de 
Paulo de Frontin. Os sucessivos aterros e drenagens garantiram a 
ocupação e expansão do Rio em direção à zona norte.
Como desdobramento da reforma sanitária, é iniciado o 
saneamento das baixadas circundantes do Rio (LESSA, 2001).
História da Região
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O crescimento do Rio desdobrou-se para outras áreas, criando 
novos polos comerciais. Madureira vai se consolidar como um desses 
polos, posteriormente. E esta cidade aberta é a confluência do olhar 
de todos os brasileiros. O carioca cordial seria o habitante desejável 
a uma cidade civilizada, sem medo e que eliminava qualquer 
temor dos visitantes. O atraso, a sujeira e a pestilência já estavam 
exorcizados. A cidade passa a se olhar de forma dinâmica. O 
carioca cordial! Esse processo de construção da imagem do carioca, 
branco, dinâmico, civilizado vai conviver com o rescaldo do projeto 
civilizatório que teima em negar suas contradições. O capitalismo 
vai penetrando no Brasil e trazendo consigo suas lutas sociais, os 
seus conflitos inerentes ao modelo. Como reação às desigualdades, 
o nascente proletariado desenvolveu várias formas organizativas 
para sobreviver, nos interstícios da cidade maravilhosa. 
Na outra face da modernidade, o anarcossindicalismo e 
o socialismo vão se disseminar entre o mundo do trabalho, que 
não desfruta das benesses da cidade vitrine. A década de 1920 
é também tempo de tensões políticas crescentes. São vários os 
segmentos e variadas as reivindicações, ora contra a miséria 
dos salários operários, ora como as reivindicações tenentistas, 
incorporando a denúncia de fraudes eleitorais, ora dissidências 
decorrentes das formas autoritárias da Primeira República. A Revolta 
da Vacina expressa bem o descuido do Estado em esclarecer a 
população sobre os benefícios da vacina, impondo-lhe uma prática 
que a assustava, por desconhecimento de seus reais benefícios.
Portanto, o panorama do Rio de Janeiro no início da Primeira 
República, nas décadas de 1910-20, vai conviver com luzes e 
sombras.
As luzes da cidade vitrine marcada pela remodelação do 
espaço urbano, favorecendo novas relações comerciais e as sombras 
dos conflitos, decorrentes do tratamento discriminatório imposto às 
classes populares, vistas como a síntese da desordem, do perigo, 
das epidemias indesejáveis.
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
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Atende ao Objetivo 2
2. Leia o texto a seguir:
Moço, vá para o comércio. A carne seca é a base da riqueza das nações. Não se fie 
em períodos, mande à fava o estilo e atire-se, de faca em punho, às malas de carne 
seca se quer engordar, se quer ter consideração nesse país. Um pai de juízo não deve 
mandar o filho ao colégio: a carta do ABC é subversiva. Para o armazém, para os 
tamancos (SEVCENKO, 1999, p. 91).
Explicite o conceito de mundo do trabalho, referente ao Rio de Janeiro, na década de 
1920, descrito acima.
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Resposta Comentada
O conceito pragmático de trabalho excluía as veleidades do mundo intelectual. O comércio 
garantia o pão de cada dia. Os estudos poderiam ser enganosos para os que precisavam se 
sustentar e a seus filhos; portanto, o autor separa os mundos: de um lado, os que trabalham, 
de outro, os que pensam.
História da Região
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O Rio de Janeiro em tempos de rebelião: 
o mundo do trabalho
Neste cenário, iniciam-se as reações operárias, que vão 
paralisar São Paulo, em 1917, e a seguir, o Distrito Federal, em 1919. 
Em 1922, funda-se o Partido Comunista do Brasil, no Rio de Janeiro. 
Ainda no Rio de Janeiro, há a reação dos Dezoito do Forte, revolta que 
deu início ao tenentismo. Neste ambiente de desilusão e insatisfação, 
podemos acrescentar a chegada em massa do imigrante português, 
que veio em grande parte do norte rural de Portugal. Este imigrante 
dirigiu-se para a cidade e constituiu-se em uma grande comunidade 
estrangeira no Rio de Janeiro e na cidade de Santos. O imigrante 
veio formar o suporte principal da força de trabalho, substituindo o 
trabalhador nacional, quase em todas as funções, com exceção do 
trabalho subalterno. Nesta medida, o operariado brasileiro passou por 
uma série de conflitos com os estrangeiros. Em busca de um mercado 
de trabalho, competia com estrangeiros que o ocupavam.
Durante a Primeira República, muitas reportagens e artigos 
são publicados pela imprensa local e destacavam a ação dos 
indesejáveis na cidade. Definidos assim, por serem considerados 
aqueles que vão contribuir para a desordem pública e, portanto, 
nocivos à sociedade e perigosos à segurança pública. Eram 
aqueles que contestavam a propriedade, o trabalho, a família, a 
moral cristã e os poderes constituídos. Eram vistos como desviantes 
dos padrões de comportamento socialmente aceitos e, portanto, 
desordeiros (MENEZES, 1996). Progressivamente, o xenofobismo 
luso vai se alastrando entre os trabalhadores nacionais, que lutavam 
para garantir empregos no mercado de trabalho urbano. Novos 
movimentos imigratórios vão produzir reações dos nacionais, ou 
engajar a massa trabalhadora em novas demandas.
Eram considerados hóspedes perigosos por serem vistos como 
inimigos cotidianos das forças encarregadas da manutenção da ordem 
pública, universalizada pelo alto. Estavam inseridos no mundo do 
trabalho e do crime e destacavam-se como protagonistas no embate 
entre as forças da ordem e as contestações sob diversas formas.
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
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Neste mundo do trabalho, identificavam-se como anarquistas 
e marxistas e escreveram seus protestos nos sindicatos e nas ruas. 
Propagavam o discurso da revolução social, num cotidiano marcado 
pela repressão. Na base da militância, destacaram-se imigrantes 
pobres, que não tiveram condições de concretizar o sonho vitorioso 
de volta à sua pátria. Buscavam, então, amenizar as condições de 
vida a eles imposta por um progresso que se alimentava da exclusão 
(MENEZES, 1996, p. 91). Esses personagens protagonizaram o 
drama urbano no cotidiano carioca. O Rio de Janeiro decidia-se por 
esta opção cirúrgica, isto é, afastar os indesejáveis do convívio das 
elites urbanas modernas, em defesa da ordem que se configurava na 
cidade vitrine da modernidade. Os estrangeiros eram considerados 
nocivos e viciosos, e atrapalhavam o modelo de civilização e 
progresso. Eram alvos frequentes da ação policial.
Liberdade, fraternidade, igualdade, abundância e felicidade 
compunham as aspirações que conformavam a agenda da 
propaganda libertária quese alastrava entre Rio e São Paulo.
Neste contexto das quatro primeiras décadas republicanas, 
com maior contundência a partir de 1917, centenas de imigrantes 
foram compulsoriamente enviados para seus países de origem 
com a alegação de problemas político-ideológicos. Os anarquistas 
foram os primeiros afetados, até 1922, quando os membros do 
Partido Comunista passaram a ser alvos preferenciais da repressão 
(MENEZES, 1996).
As raízes ideológicas eram diversas, entre militantes anarquistas. 
Ora a defesa da comuna revolucionária, ou a crença no potencial 
revolucionário das massas via terror; ora a fé numa hipotética bondade 
humana que explicava a violência como ato necessário e transitório, 
ou a importância da educação formadora da nova sociedade; ora 
a exigência das práticas grevistas, como ato revolucionário, visando 
destruir a ordem burguesa; ora enaltecendo os sindicatos, como 
instrumento legítimo de intervenção no caminho da mudança social 
(MENEZES, 1996, p. 97).
História da Região
122 
Figura 12.8: Manifestação anarquista.
Fonte: http://api.ning.com/files/hf8rQvgZnfnZ9H55lp6Kf-ajWPcn97TBukjftpZCIFP4s7ZV-
Q7vRcT*kudLgR*31GH-TKN2ehMrD8**AG9PYTTAWVNyHhhc/GREVEDE1917.jpg
A urbanização excludente foi o caldo de cultura que alimentou 
a força de contestação mais permanente e disseminada, nas 
primeiras décadas republicanas. Foram os anarquistas, que com 
suas ações diferenciadas, alteraram a cultura política da cidade.
Veja o que descrevia um jornal operário do ano de 1919:
Daqui se depreende claramente que no método anarquista 
cabe o principal papel à ação individual. O que não quer 
dizer, como muitos pensam, que o indivíduo deva desprezar 
o concurso dos outros e agir sempre isoladamente.
A ação individual é a base do método anarquista porque é a 
base do método mais lógico e mais prático em todas as ações 
da vida. Não podemos convencer ninguém da bondade do 
que pregamos, se não o provamos com atos. E os atos não 
resultam somente das palavras. “Desenvolver largamente a 
iniciativa individual, dando campo limpo à sua ação, sem 
desprezar o concurso dos que nos são afins (MENEZES, 
1996, p. 97-98).
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
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Os anarquistas foram os primeiros a apontar para projetos de 
organização da sociedade, a partir da livre associação de cidadãos 
iguais. Sem dúvida, incomodaram profundamente as elites, que 
para eles voltaram seus alvos principais de ataque. Suas teses não 
estimulavam delitos, entretanto, distorcidos pela ótica dominante, 
tenderam a ser vistos como os criminosos mais perigosos da época, 
prenunciadores de morte iminente.
O cientista Lombroso, que associava biotipo à tendência 
ao crime, apregoava, dentro dos princípios da Frenologia, que 
os menos esclarecidos e as classes menos cultas patrocinavam as 
sedições que impediam o avanço do progresso. Visão compactuada 
pelas elites, na tentativa de conter as contradições desencadeadas 
por suas opções econômicas e políticas na cidade, esta versão 
forneceu munição à violência policial contra negros e pobres, sobre 
o mundo do trabalho. 
O movimento anarquista difundiu-se na capital. Foi um 
movimento de ideias, valores e comportamentos que se disseminou 
entre segmentos médios da população. Atingiu os setores 
profissionais nos quais os estrangeiros faziam-se muito presentes, 
destacando-se o setor comercial e das oficinas. Este setor fundiu-se 
ao movimento operário, tornando o anarcosindicalismo uma forte 
expressão do mundo do trabalho. Foi um movimento apropriado 
pelos excluídos urbanos, que conviviam no cotidiano da cidade, 
com ações conhecidas como os quebra-quebras de configuração 
pluriclassista (MENEZES, 1996, p. 100).
O início do século XX conviveu com as organizações operárias, 
numa cidade tensa e desigual. Podemos citar as Revolta da Vacina 
(1904) e o Primeiro de Maio (1906), maior manifestação operária 
no centro do Rio. Esta manifestação sem precedentes no Rio de 
Janeiro intimidou o governo, a polícia e as elites. Uma multidão 
foi para as ruas, aglomerando-se entre a praça Mauá e a praça 
Marechal Floriano, concentrando-se na avenida Central (Rio Branco), 
emitindo doutrinas anarquistas, destemidamente. Clamavam por 
liberdade e igualdade. Como não houve repressão policial, a 
Frenologia
Estudo das funções 
intelectuais e do 
caráter humano, 
baseado na 
conformação do 
crânio.
História da Região
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manifestação teve um caráter pacífico e dispersou-se ao final de 
muitas falas contundentes (RODRIGUES, 1972, p. 265-266). Ambos 
demonstraram o potencial de revolta dos trabalhadores organizados, 
expressando a contestação do modelo de relação entre capital, 
trabalho e Estado.
Figura 12.9: Manifestação operária de 1º de maio, no Rio de Janeiro.
Fonte: http://passapalavra.info/wp-content/uploads/2009/09/1-de-maio-no-rj-1919-
revista-da-semana-10-de-maio-1919-3.jpg
Atende ao Objetivo 2
3. Observe a pintura modernista Os operários, de Tarsila do Amaral. Refletindo sobre seus 
elementos principais, relacione-a ao contexto estudado e aos movimentos operários no Rio 
de Janeiro:
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
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Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_x72TMvDexU/SAvRj5T4E3I/AAAAAAAAAUQ/
rLMA8L5KafY/s400/OPERARIOS50%5B1%5D.jpg
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Resposta Comentada
A pintura de Tarsila explicita o mundo do trabalho. Remete-nos ao trabalho coletivo. Destaca o 
homem do povo, anônimo, pobre, trabalhador. Portanto, esta tela pode ser interpretada como 
uma homenagem ao operário de várias etnias e sexos que labuta por sua sobrevivência e luta 
por seus direitos. Remete-nos a Tempos modernos, de Charlie Chaplin.
Por trás da cena do conjunto de operários, aparece a chaminé da fábrica, que os oprime, com 
a exploração e liberta-os, por garantir sua sobrevivência.
História da Região
126 
Em 1922, o Partido Comunista é fundado. Desencadeou 
confrontos ideológicos entre anarquistas comunistas e comunistas 
marxistas leninistas, até 1930. Estes confrontos aconteceram 
dominantemente nas organizações sindicais. O PCB defendia a 
unicidade sindical, os anarquistas lutavam pela pluralidade. Por sua vez, 
ficaram em evidência duas concepções irreconciliáveis de revolução. A 
ruptura entre Marx e Bakunin, em meados do século XIX, difundiu-se no 
mundo do trabalho da cidade do Rio de Janeiro. Os anarquistas foram 
circunscritos às uniões operárias, vinculadas aos setores artesanais e 
comerciais, agregando contingente expressivo de portugueses.
Este embate pode ser demonstrado pela ruptura que ocorreu 
na Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro, que era 
majoritariamente dominada por anarquistas. A transferência de 
seu controle para os comunistas, com o apoio dos sindicatos dos 
padeiros, marmoristas, canteiros e carpinteiros exigiu o surgimento 
de uma nova Organização: a Federação dos Operários do Rio de 
Janeiro, apoiada na União dos Artífices em Sapatos e em alguns 
dissidentes do antigo Centro Cosmopolita, no qual se projetavam 
trabalhadores da construção civil (MENEZES, 1996, p. 120).
O Rio de Janeiro viveu sua rebeldia progressivamente 
reprimida pelas forças republicanas.
A perseguição política aosanarquistas foi intensa, mesmo com 
o surgimento do PCB, Partido Comunista Brasileiro, cuja intervenção 
organizada no movimento sindical, ainda que em oposição aos 
anarquistas, poderia ter aplacado a violência contra os anarquistas. 
O que não ocorreu. Os comunistas tinham uma presença limitada, 
no interior do movimento operário e os anarquistas amedrontavam 
as elites, por sua ação junto aos segmentos populares. Em outubro 
de 1930, com o fim da Primeira República, o golpe aos movimentos 
sociais foi progressivamente se ampliando.
Portanto, a década de 1920, a caminho dos anos 30 conviveu 
com as angústias decorrentes da violência sobre o mundo do trabalho, a 
disputa acirrada por emprego nas atividades urbanas, o estranhamento 
aos estrangeiros que vão disputar trabalho na cidade do Rio.
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
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Pedro Ernesto: um prefeito para o Rio de 
Janeiro
Pedro Ernesto foi um homem atento ao seu tempo, egresso das 
transformações sociais e culturais que marcaram a década de 1920. 
Pensou um projeto político de construção de um Partido Autonomista 
do Distrito Federal, que se estenderia para o conjunto da sociedade 
brasileira, um projeto de transformações que administrasse as 
tensões de seu tempo. Montou uma base de apoio com o objetivo 
de renovação da sociedade.
Desde a década de 1910, vários pensadores passaram 
a se dedicar a uma busca pela chamada realidade brasileira, 
desvencilhada dos ufanismos, idealizações românticas e de posições 
cientificistas que ocultavam uma postura de inferioridade, frente o 
mundo desenvolvido. Tentava desvendar um Brasil escondido em um 
projeto constitucional liberal, que teimava em emergir numa nova 
dinâmica que demandava adequar-se às instituições e leis vigentes.
Pedro Ernesto inseria-se no modelo do novo homem, tão desejado 
pela sociedade. Como médico de formação, colocava-se entre os 
chamados homens de ciência, capazes de conhecer a realidade, isenta 
de paixões. O discurso sanitarista e eugenista, que vinha do século XIX 
e deixava raízes no século XX, marcou sua práxis. A aceitação de sua 
imagem estava vinculada à sua formação, identificada como aquele 
que diagnostica a realidade, como o próprio corpo humano.
As novas ideias que surgem na década de 1920 repousavam 
no conhecimento, na formação cultural e científica, e estes homens 
mais iluminados estariam aptos a conhecer a realidade e atuar sobre 
ela. Oscilava entre a concepção de que o bom administrador deveria 
ser engenheiro ou militar e agora médico, para melhor entender 
os percalços da sociedade. Durante as grandes obras públicas, 
os engenheiros eram uma categoria profissional escolhida para o 
Executivo municipal, pois teria maior sensibilidade para planificar 
a cidade. Agora, para sanear a cidade, os médicos eram mais 
indicados para o momento da cidade.
História da Região
128 
Foram atribuições bem desempenhadas por Pereira Passos e 
Paulo de Frontin, que deram “respostas precisas às questões urbanas, 
construindo uma metrópole de contornos europeus, pavimentando 
ruas e abastecendo casas de água” (SARMENTO, 2001, p. 130).
Mas novas questões passam a demandar soluções. A crise 
econômica dos anos 1920, associada à questão sócia, teimava 
exigir novas estratégias, como vimos.
O crescimento da população, os conflitos entre trabalhadores 
nacionais e estrangeiros, as novas perspectivas políticas adotadas, 
os libelos do mundo do trabalho avolumavam-se progressivamente. 
As demandas pelo equilíbrio, pautadas na visão positivista-orgânica, 
passaram a exigir maior cuidado com o corpo social, no caminho 
de atender aos mais pobres e desvalidos da cidade.
O projeto renovador de Pedro Ernesto vai se identificar com 
estas referências. A concentração da riqueza, de um lado, e da 
pobreza, de outro passam a exigir a atuação do Estado. De início, 
algumas medidas assistencialistas atenderam às necessidades mais 
imediatas das populações mais pobres. Entretanto, o diagnóstico 
do aumento da pobreza passa a exigir reformas mais profundas. 
Caberia, portanto, ao Estado esta tarefa de minimizar as dificuldades 
das forças sociais. Argumenta-se, então, que seria responsabilidade 
do Estado “promover e manter o bem estar da população e dar 
proteção às camadas mais pobres, buscando a elevação física, 
moral e cultural deste segmento” (SARMENTO, 2001, p. 131).
Mas havia outras inquietações que se expressavam como 
reflexo da estrutura da sociedade, considerando as relações de 
produção. A agricultura arcaica era vista como um dos fatores 
desencadeadores das grandes contradições sociais. Pensava-se, 
então, que o Brasil precisava entrar definitivamente na ordem 
industrial, pois este processo resultaria em benefícios para toda a 
sociedade, estimulando um mercado de trabalho livre. O Estado 
ficaria com a atribuição de preparar as camadas populares para 
seu ingresso nas novas relações de produção.
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
 129
Segundo urbanistas (Giulio Carlo Argan), a melhor definição 
para o urbano não estava associada diretamente ao seu caráter 
espacial, construído e objetivado, mas a um sistema de serviços cuja 
potencialidade seria ilimitada (ARGAN, 1992, p. 215; SARMENTO, 
2001, p. 147).
Este novo homem buscaria sua inserção nas sociedades 
urbanas industrializadas, que garantiriam a sua sobrevivência. Sua 
vida urbana estaria assentada neste cenário básico, de garantia de 
serviços sanitários, iluminação, abastecimento de água e esgoto. O 
homem novo estaria apto a se agregar à nova ordem econômica e 
social, com o status de cidadão pleno. Assim estaria preparado para 
estabelecer novas relações políticas e o Estado regularia o controle 
e o ordenamento deste conjunto, na esfera urbana.
Pedro Ernesto chegou ao Executivo municipal, em 1931. Sua 
esfera de atuação como prefeito incidiu sobre a política educacional 
e de saúde, como alavancas para o impulso do desenvolvimento 
social da população do Rio de Janeiro. Nova práxis política 
instituiu-se, criando canais de comunicabilidade entre o Estado e a 
população. As forças do trabalho eram prioridade. Sua inserção 
era a meta. Sua postura enquanto administrador priorizava inserir 
a sociedade carioca, nos quadros da modernidade.
Dois eixos principais orientavam-no: o recurso ao mérito 
proveniente do conhecimento e o papel do Estado como fomentador 
da elevação das massas, retirando-as da miséria e da inferioridade 
social.
Esta fala de Pedro Ernesto elucida bem seu pensamento:
Uma política nova, de amplas diretrizes reconstrutoras, bem 
merecia ter como cenário o Distrito Federal, cuja população 
inteligente e culta constitui, no Brasil, a mais segura garantia 
do eixo dos propósitos renovadores que nos animam 
(SARMENTO, 2001, p. 136).
História da Região
130 
Para Pedro Ernesto, não bastava que se construíssem novos 
hospitais e postos de saúde, mas que se alterasse o funcionamento da 
rede pública de saúde, substituindo os conhecidos prontos socorros 
por hospitais policlínicos, atendendo à população, nos tratamentos 
e acompanhamentos ambulatoriais.
Quanto à educação pública, ficaria a atribuição de formação 
dos novos cidadãos, aptos à nova sociedade. Cercou-se de 
grupos de intelectuais, identificados com seus propósitos. A figura 
emblemática do movimento de renovação educacional do Rio de 
Janeiro foi Anísio Teixeira, pertencente ao grupo de pioneiros da 
escola nova, que já em fins da década de 1920 haviam lançado a 
ideia de revolucionar o ensino no Brasil. Um componente do grupo,Fernando Azevedo, havia participado da administração Prado Jr., 
assumindo o cargo na Diretoria-Geral da Instrução Pública. Na sua 
gestão, surge a Escola Normal, na Tijuca. Coube a Anísio aprofundar 
as reformas iniciadas por Azevedo e montar no Distrito Federal um 
laboratório de práticas educacionais. Anísio deu carta branca e 
apoio a Fernando Azevedo.
Para Anísio, a educação deveria atuar no meio social como 
promotora do processo de mudanças na sociedade, conservando 
valores fundamentais norteadores da vida social. Via a educação 
como fator de transformação e mudança e, portanto, responsável pela 
promoção do progresso. Pensava formas de viabilizar este processo 
de avanço no plano econômico, articulado com a modernização 
das estruturas sociais. Esta articulação reflete seu projeto de formar 
o trabalhador para a nova ordem econômica. Para Anísio:
A democracia é definida como o regime realizador da 
justiça social e que se apoia fundamentalmente em critérios 
determinados pelo saber. Esta é atingida pela via da 
educação que seleciona os indivíduos não por critérios 
socioeconômicos, mas a partir de critérios de merecimento, 
reconhecidos como válidos e legítimos (...) (GUIMARÃES, 
1982, p. 42; SARMENTO, 2001, p. 141).
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
 131
Para Anísio Teixeira, a escola deveria estar voltada para uma 
visão formativa, fazendo críticas à escola informativa. Propõe uma 
escola com fortes laços de responsabilidade com o corpo social, pois 
capacitaria o cidadão para a vida produtiva, dentro da sociedade 
democrática. A pedagogia escola novista negava os princípios 
de transmissão autoritária e repetitiva do conhecimento, buscando 
ideias criativas e flexíveis, presentes nas vertentes educacionais da 
época. Era um projeto que presumia uma tendência autonomista 
e individualista, considerando a educação um bem individual, 
oferecido em igualdade de condições para o novo cidadão. Para 
tanto, pensava-se a educação como um bem, trabalhado de forma 
descentralizada, cabendo ao poder central assistir às iniciativas 
regionais, autônomas. O respeito pelas liberdades individuais 
capacitaria o cidadão a atuar livremente no sistema político vigente.
Atende ao Objetivo 3
4. Leia o texto a seguir:
(...) A municipalização do ensino primário não é uma reforma nem administrativa nem 
pedagógica, embora também seja tudo isto: é principalmente, uma reforma política 
e o reconhecimento definitivo da maioridade de nossas comunidades municipais. 
“E o princípio que reivindica é, acima de tudo, o princípio da autonomia municipal 
(SARMENTO, 2001, p. 142).
Comente o parágrafo, identificando o papel pedagógico na municipalização do ensino.
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Resposta Comentada
Para Anísio Teixeira, a municipalização estava intrinsecamente vinculada à autonomia regional. 
A partir da qual, a educação do homem novo, voltado para sua participação como cidadão, 
impunha uma autonomia de valores e práticas ligadas ao conhecimento da realidade, sobre a 
qual iria interferir. Podemos pensar neste educador como precursor da renovação da educação 
e da história regional.
Mas, para Anísio, a viabilidade deste projeto não estava 
subordinada à construção de instalações educacionais de Ensino 
Básico, mas a preparar uma geração de educadores aptos a 
desempenharem as novas perspectivas pedagógicas. Dentro desta 
visão, foi criado o Instituto de Educação, como polo responsável de 
formação e aperfeiçoamento dos futuros regentes da rede educacional 
carioca. Acreditava Anísio Teixeira que estava capacitando a rede 
pública de material humano à altura da função que lhe caberia 
desempenhar.
Investiu na dotação de salas de aula no município, anteriormente 
desprovida de assistência educacional. Foram inaugurados 26 novos 
prédios escolares, subordinados ao Plano regulador de Construção 
Escolar, direcionados a bairros proletários dos subúrbios cariocas e 
a regiões semirrurais da Zona Oeste.
Cria também, a Universidade do Distrito Federal, livre das 
determinações da igreja ou das arcaicas organizações de ensino, 
voltada para a pesquisa e produção de conhecimento. A inauguração 
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
 133
da UDF coroava a reforma educacional do Rio de Janeiro, que 
pretendia ser eficaz para a transformação da sociedade, através da 
educação e da saúde pública, possibilitando uma forma de perceber 
e lidar com os problemas sociais (SARMENTO, 2001, p. 147).
No embate das concepções de formação da sociedade, 
há a presença de Francisco Campos que divergia da Escola 
Nova, apontando para o perigo de investir na educação para a 
democracia, uma vez que, para ele, esta democracia passava por 
substancial revisão no mundo. Para Francisco Campos, não era 
conveniente o estabelecimento de um regime político que apontasse 
para o crescimento e possível ascensão política das massas urbanas. 
O perigo se configuraria em conter o irracionalismo na cultura de 
massas. Caberia ao Estado construir a legitimação simbólica de seu 
poder sobre as massas, atuando sobre seu inconsciente e regulando 
a vida social. Eram perspectivas distintas, as de Anísio Teixeira e 
Francisco Campos, relacionadas à forma de inserção das massas 
na sociedade vigente. Campos era um representante da conduta da 
política educacional federal, centralizadora.
A Igreja, antiga aliada de Campos, via a ideologia cristã 
como forte aliada na construção simbólica do poder autoritário. 
Portanto, os intelectuais católicos concordavam com Campos sobre 
a falência dos regimes liberais e enaltecia os valores religiosos como 
fundamento ideológico para a consolidação moral do país.
Alceu de Amoroso Lima, líder do Centro Católico Dom Vital, 
afina-se com Francisco Campos e desencadeia sua ira sobre a 
experiência autônoma de Anísio Teixeira, no Rio de Janeiro. Para 
ele, Pedro Ernesto, aliado de Anísio Teixeira, que defendia um ensino 
laico para a educação, andava flertando com os marxistas.
A questão do papel político das massas urbanas era a grande 
discussão do momento, com o projeto político social de Pedro Ernesto. 
Podemos considerar que a proposta de educação popular, com a de 
saúde pública, compunha um esforço de assimilação da população 
urbana à vida política, para sua participação eleitoral, para seu 
História da Região
134 
aprimoramento físico, moral e econômico para atender ao projeto 
de modernização capitalista. A difícil tarefa empreendida por Pedro 
Ernesto, de incorporação destes segmentos sociais se viabilizaria, 
criando-se elos com as massas, não somente pela rede de serviços, 
mas aproximando-os do jogo político partidário, aproximando-os 
do Partido Autonomista (SARMENTO, 2001, p. 151). 
Com as eleições de 1943, fica consagrada a eficáciada arregimentação das massas e da reorganização política do 
Distrito Federal. A bancada carioca na Câmara dos Deputados 
seria composta por seis deputados do Partido Autonomista: em 
comparação com a frente única de oposição, que elegeria quatro 
representantes, a consagração foi enorme. Os resultados obtidos na 
esfera municipal seriam mais evidentes. De vinte e quatro cadeiras 
a serem ocupadas na legislatura da Câmara Municipal do Distrito 
Federal, nada menos do que vinte vereadores seriam eleitos entre 
os autonomistas. 
Mas a aparente coesão das forças políticas cariocas já revelava 
indícios de um progressivo desgaste das relações estabelecidas, 
como projeto de Pedro Ernesto e do Partido Autonomista. Por 
questões programáticas internas e pelo agravamento das disputas 
clientelistas, acabam conduzindo ao esfacelamento do pacto de 
coesão, gerando o desequilíbrio (SARMENTO, 2001, p. 168).
A imagem pública de Pedro Ernesto, calcada no atendimento 
das camadas populares, voltada para o atendimento à saúde, 
à educação, deveria favorecer a criação de laços para uma 
interlocução com o Estado. Nesta trajetória, os laços de identificação 
vão ser redimensionados, apontando para a construção de um projeto 
político, norteado por um Partido e sustentando uma nova condição 
às massas. Agora, poderiam ser arregimentadas em um programa 
partidário. A resposta popular veio de imediato e consagrou estes 
estímulos, nas eleições para a Câmara Municipal. Mas, outras 
forças pretendiam conter um movimento de participação das massas, 
atemorizando a sociedade com o perigo de convulsões sociais. A 
tentativa de consolidação de uma liderança com perfil popular, 
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
 135
identificado com as demandas das massas, acaba sendo obstruída 
por interferência do governo Vargas. Após o encarceramento de 
Pedro Ernesto no vácuo de lideranças locais capazes de substituí-lo, 
gradativamente Vargas passa a ocupar seu lugar, apropriando-se 
do legado deixado pelo ex-prefeito.
O encarceramento de Pedro Ernesto vai ser sentido com 
consternação pelas camadas populares. Muitas manifestações 
passaram a ocorrer frente ao busto do prefeito afastado. Mulheres, 
crianças, lideranças populares e alguns setores, identificados como 
comunistas, faziam suas oposições ao novo prefeito Olímpio de 
Melo, que por sua vez tentava denegrir a imagem de Pedro Ernesto.
Pouco restou da imagem pública daquele que conseguiu 
mobilizar, atrair e organizar as massas. Em seu lugar, construiu-
se a imagem vitoriosa de Vargas, aquele que consolidou as leis 
trabalhistas, grande líder carismático, conhecido como o pai 
dos pobres. Hoje, na praça Afonso Pena, situa-se um estranho 
monumento. Quase despercebidos, podemos identificar dois cães 
em posição de repouso. Observando a placa do monumento, 
podemos ler: 
Fidelidade
Concepção de Benevenuto Berna.
Inspiração do Dr. Pedro Ernesto.
Erigida por iniciativa do vereador Frederico Trota
Inaugurada na gestão do prefeito Negrão de Lima 
(20/1/1957) (SARMENTO, 2001, p. 256)
CONCLUSÃO
Fazendo uma retrospectiva desta aula, podemos concluir que a 
cidade do Rio de Janeiro, nas décadas entre 1920-40, redimensionou 
seu papel no cenário brasileiro. De uma cidade, baluarte da belle 
époque, sofrendo o esgarçamento de suas vielas, ventilando suas 
História da Região
136 
avenidas, higienizando seus cortiços, ampliando suas fronteiras, de 
um lado, para a zona sul, de outro, para os subúrbios e zona oeste, 
vai conviver com a rebeldia dos indesejáveis. A massa urbana vai 
protagonizar, em sua rebeldia, as formas de reação à exclusão e 
ao controle, em nome da ordem das elites. Cidade fabril, cidade 
febril, vai acolher as demandas legítimas das populações pobres 
da cidade, conflitadas pelo desemprego, trabalho insalubre, falta 
de moradia. Com a chegada de Pedro Ernesto, liderança capaz de 
polarizar as demandas mais candentes das massas, estas puderam 
encontrar canais de expressão e atendimento às suas demandas. 
Prontamente, reagiram à liderança de Pedro Ernesto, que será o 
interlocutor entre as massas e o estado. Mas não por muito tempo. 
As oposições se encarregarão de esvaziar seu carisma e a ocupação 
do lugar de interlocutor ficará com Getúlio Vargas, o pai dos pobres.
RESUMO
Esta aula demonstrou como a cidade do Rio de Janeiro 
viabilizou as novas perspectivas de modernidade e progresso, 
reordenando as exigências do mundo do trabalho. A cidade 
expandiu-se e incorporou novas áreas urbanas. Os governos 
estimularam a construção de instalações urbanas diversificadas 
para atender à penetração do capital na esfera da economia. A 
sociedade passou a exigir maior participação e atendimento nas 
áreas de educação e saúde. Destacamos a ação de Pedro Ernesto 
e seu compromisso com a inserção popular no cenário político. 
Informação para a próxima aula
Nossa próxima aula abordará e experiência da construção 
do Estado da Guanabara. Os dilemas da transição do Distrito 
Federal, cidade capital, para Estado da Guanabara, na década de 
Aula 12 – Modernização econômica e movimentos sociais no Rio de Janeiro, na Primeira República
 137
1960. Trataremos da construção do novo estatuto de um estado, 
que não se pretendia ser um estado qualquer, dado a sua trajetória 
no cenário nacional. Embora perdendo espaço em nível nacional, 
possuía uma densidade econômica e política expressiva. Voltada 
para o setor terciário, a expressão da presença do governo na 
economia carioca possuía esta herança de capital. As formas da 
transição serão abordadas para o entendimento do papel do Estado 
da Guanabara na região.

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