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FATORES BIOLÓGICOS QUE INFLUENCIAM NO DESEMPENHO ESPORTIVO DE ATLETAS NEGROS E BRANCOS NAS PROVAS DE VELOCIDADE DO ATLETISMO E NATAÇÃO

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0 
 
FACULDADE METODISTA GRANBERY- FMG 
CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
 
 
 
 
 
 
DENISE APARECIDA MACHADO PINTO 
GLEYSON CUSTÓDIO DA SILVA 
 
 
 
 
 
FATORES BIOLÓGICOS QUE INFLUENCIAM NO DESEMPENHO ESPORTIVO 
DE ATLETAS NEGROS E BRANCOS NAS PROVAS DE VELOCIDADE DO 
ATLETISMO E NATAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JUIZ DE FORA 
2015 
1 
 
DENISE APARECIDA MACHADO PINTO 
GLEYSON CUSTÓDIO DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FATORES BIOLÓGICOS QUE INFLUENCIAM NO DESEMPENHO ESPORTIVO 
DE ATLETAS NEGROS E BRANCOS NAS PROVAS DE VELOCIDADE DO 
ATLETISMO E NATAÇÃO 
 
 
 
 Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado pelos discentes Denise 
Aparecida Machado Pinto e Gleyson 
Custódio da Silva como requisito para 
obtenção do grau de bacharéis em 
Educação Física. 
 
ORIENTADOR: PROF. MS. ROBERTO 
CARLOS LACORDIA 
 
 
 
 
 
 
JUIZ DE FORA 
2015 
2 
 
DENISE APARECIDA MACHADO PINTO 
GLEYSON CUSTÓDIO DA SILVA 
 
 
FATORES BIOLÓGICOS QUE INFLUENCIAM NO DESEMPENHO ESPORTIVO 
DE ATLETAS NEGROS E BRANCOS NAS PROVAS DE VELOCIDADE DO 
ATLETISMO E NATAÇÃO 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção 
do título de Bacharel em Educação Física pela Faculdade Metodista Granbery. 
 
 
 
Juiz de Fora, 17 de junho de 2015. 
 
 
 
Professor Ms. Roberto Carlos Lacordia – Orientador 
Faculdade Metodista Granbery 
 
 
Professora Esp. Ana Carla Leite Gonçalves – Examinadora 
Faculdade Metodista Granbery 
 
 
Professor Dr. Jeferson Macedo Vianna - Examinador 
Universidade Federal de Juiz de Fora 
 
 
 
JUIZ DE FORA 
2015 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho ao meu pai pelo 
simples fato de ser meu papito. Assim 
como dedico à minha irmã pelo amor que 
nos une. E à minha mãe, que não está aqui 
para presenciar esse momento, mas 
sempre me ensinou que o conhecimento 
ninguém pode tirar de mim. (Denise) 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho aos meus pais, sem 
eles eu nada seria. Às minhas irmãs, pela 
paciência e admiração. (Gleyson) 
 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Denise Aparecida Machado Pinto 
Agradeço a Deus por sempre atender minhas preces. Ao meu pai, Selmar, por 
sempre me apoiar. À minha irmã e amiga, Aninha, por estar sempre comigo. Vocês 
são o que mais amo. 
Agradeço ao meu parceiro de TCC, minha dupla, meu amigo, Gleyson (Glee), 
por ser o melhor. Você mora no meu coração com vista privilegiada para o esterno e 
não paga aluguel! 
Agradeço a todos que se alegram comigo e que torceram para que este 
momento chegasse. Aos que amo mais que bolo de cenoura com cobertura de 
chocolate, obrigada! 
Agradeço à professora Ana Carla e ao professor Dr. Jeferson Vianna que 
gentilmente aceitaram participar da banca. Obrigada por dividirem seu conhecimento. 
Agradeço ao nosso (des)orientador, Roberto Carlos Lacordia (Beto), por aceitar 
essa missão. Com você esse trabalho se tornou possível! Obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Gleyson Custódio da Silva 
Primeiramente, agradeço a Deus por tornar possível esta oportunidade. 
Aos meus pais, Cláudio e Fátima, por me tornarem o que sou hoje. Às minhas irmãs, 
que apesar das brigas, amo muito. 
Agradeço a todos os professores da Faculdade Metodista Granbery pelo 
conhecimento adquirido, aos professores pelos locais por onde passei em estágios e 
práticas pedagógicas. 
Agradeço aos meus amigos, vizinhos de rua e aqueles da época de 
Clorindo Burnier que hoje ainda são meus amigos de coração, aos amigos feitos 
durante toda a minha caminhada na faculdade (não citarei nomes para não ser 
injusto). Aos amigos feitos durante o intercâmbio na Itália, onde passamos momentos 
inesquecíveis. Um agradecimento mais que especial a minha parceira de TCC, minha 
super amiga, super atleta, “maravilinda”, sensacional e parceira na porção de batata 
frita com queijo, Denise Machado. Obrigada por todos esses momentos 
proporcionados na faculdade e por não pagar aluguel para morar no seu coração com 
vista privilegiada para o esterno (risos). 
Agradeço aos professores Ana Carla e Jeferson Vianna por aceitarem 
participar de nossa banca. 
E outro agradecimento especial ao nosso (des)orientador Roberto Carlos 
Lacordia (Beto), por aceitar nosso projeto e torná-lo possível. Muito Obrigado! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Nenhum homem poderá revelar-vos nada, 
senão o que já está meio adormecido na 
aurora do vosso entendimento". 
 
Khalil Gibran 
(Denise) 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Sii meno curioso della gente, e più curioso 
delle idee”. 
“Seja menos curioso sobre as pessoas e 
mais curioso sobre as ideias”. 
 
Marie Curie 
(Gleyson) 
 
9 
 
RESUMO 
 
A observação das provas de velocidade do atletismo e da natação e a evolução dos 
recordes nessas modalidades apontam para a predominância de atletas negros e 
brancos, respectivamente, nas pistas e nas piscinas. Esses esportes representam a 
tradição e despontam com grande número de praticantes. O objetivo deste estudo foi 
o de descrever os fatores biológicos que influenciam no desempenho esportivo de 
brancos e negros nas provas de velocidade do atletismo e da natação. Bem como, 
relacionar os mecanismos da locomoção humana com a possível vantagem étnica, 
descrever os parâmetros corporais tidos como ideais para o melhor desempenho e, 
comparar o perfil corporal de negros e brancos e confrontá-los com os parâmetros 
corporais ideais para o melhor desempenho nas duas modalidades. Como 
metodologia, foi utilizada a revisão bibliográfica baseada, principalmente, em Bejan, 
Jones e Charles (2010), Migliorati (2013) e Pinto e Silva (2013). Por fim, conclui-se 
que existem diferenças biológicas entre negros e brancos que podem influenciar no 
desempenho em alto nível dos dois esportes, tais como: diferenças morfológicas, 
funcionais, cineantropométricas. 
 
Palavras-chave: Desempenho esportivo. Atletismo. Natação. Etnia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figura 1: Recordes mundiais 100m nado livre .......................................................... 16 
Figura 2: Recordes mundiais 100m rasos ................................................................. 17 
Figura 3: Modelos de predição da locomoção humana ............................................. 28 
Figura 4: Linhas de orientação sobre o desempenho esportivo e etnia .................... 29 
Figura 5: Estatura e altura sentado entre populações .............................................. 38 
Figura 6: Posição dos centros de gravidade em negros e brancos ........................... 39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................12 
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 14 
2.1 Do desempenho esportivo à evolução dos recordes mundiais .................... 14 
2.2 Características de negros e brancos ............................................................... 17 
2.3 Características do atletismo e da natação ...................................................... 21 
2.3.1 Características do atletismo ............................................................................. 21 
2.3.2 Características da natação ............................................................................... 24 
2.4 Mecanismos de locomoção humana: o nadar e o correr ............................... 26 
2.5 Histórico dos estudos sobre as diferenças étnicas no desempenho........... 28 
3 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 35 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 44 
 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A prática de atividades físicas vem crescendo nas últimas décadas, e o que 
motiva as pessoas em geral, são os benefícios à saúde, a busca pela estética, pela 
interação social ou a busca de rendimento esportivo. Estar em consonância com este 
padrão imposto pelo século XXI proporciona à atletas amadores vivenciar novas 
experiências corporais. Para atletas profissionais, é o trabalho de uma vida que 
assume contornos de alto rendimento visando os melhores resultados. Assim, o 
desempenho esportivo depende da dedicação do treinamento e de mais uma série de 
fatores que constroem as grandes equipes e os grandes atletas, elegendo mitos e 
criando heróis. 
O mundo esportivo encanta e chama atenção para as disputas de títulos, 
finais de campeonatos, quebras de recordes, atraindo os holofotes da mídia, de 
patrocinadores, espectadores e comunidade esportiva. Nesse contexto os olhares se 
direcionam para dois esportes de destaque e tradição que rendem juntos mais de 25% 
das 306 medalhas em disputa nas Olimpíadas. O atletismo e a natação trazem a 
emoção do “photo finish” da chegada onde o mínimo detalhe pode significar o primeiro 
ou o segundo lugar. 
É possível reparar que na final das provas de velocidade do atletismo existe 
a grande predominância de atletas negros e que o mesmo fato se repete nas piscinas 
com atletas brancos, dominando as provas velozes da natação. O desempenho de 
negros e brancos, notadamente, é inversamente proporcional. Por isso, o francês 
Christophe Lemaitre (recordista francês nos 100 metros rasos, com o tempo de 9.92 
segundos), ganhou destaque extra pista, assim como o americano Cullen Jones nas 
piscinas (Medalha de prata nos 50 metros nado livre nas Olimpíadas de Londres em 
2012), chamando atenção não para as técnicas ou marcas, mas para a cor da pele. 
Ao observar a discrepância existente no resultado e na participação de 
atletas negros e brancos, surgiu o questionamento que viesse explicar possíveis 
vantagens de um grupo sobre outro nessas modalidades. Como estes são esportes 
que englobam grande número de praticantes e, tendo em vista a busca constante pelo 
melhor desempenho de atletas, o presente estudo justifica-se por contribuir para o 
esclarecimento e exposição das variáveis que influenciam no desempenho de atletas 
negros e brancos nas provas de velocidade de atletismo e natação. Interessando 
13 
 
assim, a todos os profissionais da área esportiva, biológica e da saúde, praticantes 
das duas modalidades, técnicos e estudantes que pretendem aprofundar-se na área. 
Esse estudo tem o objetivo geral de descrever os fatores biológicos que 
influenciam no desempenho esportivo de atletas brancos e negros nas provas de 
velocidade do atletismo e da natação. E como objetivos específicos relacionar os 
mecanismos da locomoção humana com a possível vantagem étnica nas provas de 
velocidade do atletismo e natação, descrever os parâmetros corporais tidos como 
ideais para o melhor desempenho nas duas modalidades, comparar o perfil corporal 
de negros e brancos e confrontá-los com os parâmetros corporais ideais para o melhor 
desempenho nas duas modalidades. 
A metodologia empregada para alcançar as metas propostas para a 
discussão deste assunto é a revisão bibliográfica disponível em livros, artigos, 
periódicos e bancos de dados. Todo o arcabouço teórico utilizado culminou neste 
trabalho acadêmico que se alicerçou, principalmente, nos estudos de Bejan, Jones e 
Charles (2010), Migliorati (2013) e Pinto e Silva (2013). Tais autores contribuíram para 
cientificidade e embasamento das teorias envolvidas no desempenho esportivo de 
atletas negros e brancos nas provas rápidas de atletismo e natação. 
O estudo é relevante por seu aspecto singular em comparar o desempenho 
de dois grupos étnicos em duas modalidades distintas com mecânicas de 
deslocamento tão características. Além de trazer à luz a inquietação do porquê das 
últimas quebras de recordes demonstrarem a predominância de negros nas pistas de 
atletismo e brancos nas piscinas, ambos em provas onde a principal característica é 
a velocidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
 
 A revisão de bibliografia deste estudo aborda conteúdos como: teorias do 
desempenho esportivo à evolução dos recordes mundiais; características de negros 
e brancos; características do atletismo e da natação; mecanismos de locomoção 
humana: o nadar e o correr e diferenças étnicas no desempenho esportivo. 
 
2.1 Do desempenho esportivo à evolução dos recordes mundiais 
 
Melhorar o desempenho é o objetivo de atletas profissionais e, por que não 
dizer, de atletas amadores. Todo atleta quer melhorar suas marcas, bater recordes, 
melhorar sua performance. Isso se torna possível com o desenvolvimento de técnicas 
e de muito treinamento, também depende de uma série de fatores, exigindo tempo e 
dedicação. 
Kiss et al. (2004) acreditam que as variáveis que atuam sobre o 
desempenho esportivo estão sujeitas a fatores biológicos, psicológicos e ambientais, 
indicando uma condição global que irá incluir aspectos biológicos, psicofisiológicos e 
socioculturais, se integrando em diversos níveis. Para os autores, o desempenho 
esportivo: 
 
[...] é a consequência de vários processos internos em diferentes 
níveis, não apenas de elaboração e de decisão do movimento, mas de 
inúmeras regulações autonômicas tais como da frequência cardíaca, 
frequência respiratória, substratos energéticos, temperatura, equilíbrio 
hidroeletrolítico e hormonal, as quais sofrem influências motivacionais 
e emocionais; todos esses processos adaptados às interferências de 
fatores ambientais, com especial ênfase ao Treinamento Físico. Esses 
fatores atuam direta e indiretamente sobre o substrato genético, 
determinando um resultado real em determinado instante e situação, 
que numa visão holística denominamos Condição Global. (2004, p. 90) 
 
O desempenho esportivo é um fenômeno complexo que deve considerar 
três dimensões: a orgânica, a motora e a cultural (BÖHME e KISS, 1999). Essas 
variáveis de interferência e constituição do desempenho esportivo vão incidir ainda 
sobre uma modalidade esportiva determinada que irá exigir do atleta requisitos e uma 
condição específica. Seguindo essa linha de raciocínio, para que ocorra um nível 
ótimo de performance, deve existir harmonia entre atleta e seus aspectos biológicos, 
15 
 
psicológicos,sociais, culturais, emocionais, sua modalidade esportiva, bem como seu 
treinamento. 
Ao observar as provas de velocidade da natação e do atletismo, percebe-
se diferenças no desempenho entre negros e brancos. Certamente que esta 
observação se encontra sedimentada nas condições e fatores que levam ao alto nível 
de desempenho esportivo e, assim sendo, oferece elementos e subsídios suficientes 
que possibilitam a comparação entre atletas negros e brancos nas provas de 
velocidade do atletismo e da natação. 
Deste modo, a comunidade científica tem suscitado as seguintes questões: 
Por que atletas negros teriam alguma vantagem nas provas de velocidade do 
atletismo? Ou, por que atletas brancos tem predominância nas provas rápidas da 
natação? Até onde o ser humano é capaz de superar seus limites e estabelecer novos 
recordes? 
Para Becker (2012) o alto desempenho de um atleta em uma modalidade 
esportiva, depende de uma variedade de características genéticas de ordem 
morfológica, metabólica e funcional, além de aspectos psicológicos, cognitivos e 
sociais, sendo que o progresso dos recordes não é conquistado apenas em função do 
talento, mas também do aperfeiçoamento biomecânico dos movimentos, da 
metodologia de treinamento, bem como das altas capacidades de reserva do aparelho 
locomotor de cada indivíduo. 
Esses fatores não genéticos explicariam alguns casos de exceção que 
surgem nas modalidades a serem estudadas. Negros ou brancos levariam alguma 
vantagem no atletismo ou na natação, mas não bastaria ser negro ou ser branco para 
que esta vantagem se consolidasse de fato. Para as corridas de velocidade, por 
exemplo, é preciso analisar a força, a potência e a energia envolvida para se obter um 
desempenho satisfatório (YAMASHITA, 2013). 
O ser humano tem sido capaz de superar seus limites e estabelecer novos 
recordes, mas até quando isso seria possível? Já se passaram seis anos desde que 
as últimas marcas foram instituídas, desde o momento em que esse conjunto de 
condições esteve harmonizado perfeitamente para que ocorresse a quebra de um 
recorde. Coincidência, ou não, o recordista dos 100 metros rasos é um negro, Usain 
Bolt (JAM), e o recordista dos 100 metros estilo livre é um branco, César Cielo (BRA). 
Em breve, superar os limites será humanamente impossível, mas até lá, cada 
milissegundo se tornará precioso para alcançar um novo tempo. 
16 
 
Através da análise dos recordes mundiais nas provas velozes do atletismo 
e da natação, pode ser observada a evolução dos atletas no decorrer das décadas. 
Com base nesses dados pode ser destacado o grande domínio dos atletas brancos 
nas provas velozes da natação e negros nas provas rápidas do atletismo. 
Na Figura 1, são apresentados os dados dos recordes realizados na prova 
de 100 metros nado livre entre os anos de 1905 a 2009. Tal recorde foi quebrado por 
42 vezes, e em três destas oportunidades foram realizados por atletas asiáticos (1912, 
1918, 1920). O restante dos recordes foi conquistado exclusivamente por atletas 
brancos, nesta prova nenhum atleta negro obteve recorde mundial. 
 
Figura 1 - Recordes mundiais nos 100 metros nado livre masculino. 
 
Já na prova dos 100 metros rasos, os recordes foram quebrados 46 vezes 
no período de 1912 a 2009, ano em que ocorreu a última quebra. Na Figura 2, 
observa-se que atletas brancos tiveram breve domínio no início da contabilização das 
marcas mundiais e em algumas poucas vezes nos anos que se seguiram até 1967. 
Asiáticos obtiveram o recorde mundial nesta modalidade em uma única oportunidade 
(1935). 
A Figura 2 revela ainda que negros dominaram amplamente a prova nas 
últimas cinco décadas. Seus tempos prevaleceram sobre os demais a partir do ano 
de 1968. Nesse mesmo ano, a barreira dos 10 segundos foi quebrada, elevando para 
outro nível os 100 metros rasos e o prestígio de atletas que viessem a realizar o feito. 
Fonte: Bejan, Jones e Charles (2010) 
17 
 
Isso vem traduzir a conexão que geralmente se faz dos negros serem indivíduos 
velozes, ao menos no atletismo. 
 
Figura 2 - Recordes mundiais nos 100 metros rasos masculino. 
 
A partir da análise destes dados verifica-se o melhor desempenho dos 
atletas negros ou brancos em determinada modalidade. É de se considerar que 
quanto mais alto o impacto da genética sobre uma característica, maior será o efeito 
dos genes no desempenho (VANCINI e LIRA, 2005). 
 Kube (1990), já afirmava que os indivíduos deveriam conhecer sua 
genética para saber seus limites e potencialidades, explorando melhor suas 
diferenças entre eles e os outros indivíduos, escolhendo uma atividade em que suas 
respostas fisiológicas fossem as mais satisfatórias. Neste caso, se faz necessário 
reconhecer negros e brancos. 
 
2.2 Características de negros e brancos 
 
Ao observar as diversas características entre atletas negros e brancos é 
possível verificar que todos possuem em suas características genéticas um traço que 
o distingue e o torna único, o que de certa forma, pode interferir no exercício específico 
a ser aplicado no treinamento desportivo. 
Fonte: Bejan, Jones e Charles (2010). 
18 
 
Verifica-se que as diferenças se mostram importantes para a prática de 
desportos específicos e em provas específicas, no caso, provas de velocidade do 
atletismo e da natação. Embora a individualidade biológica tenha de ser respeitada, 
um grupo homogêneo de maior amplitude (negros ou brancos) sofrerá interferência 
direta de suas características preponderantes como a densidade óssea, a altura do 
centro de gravidade, etc. 
Cada indivíduo possui uma capacidade singular de resposta ao 
treinamento, mas alguns padrões serão recorrentes em seu grupo étnico, podendo 
resultar em alguma vantagem nas competições. Os traços fenotípicos referentes a 
cada um desses grupos serão agrupados de acordo com as características físicas em 
comum. Esses dados indicam o que pode ser medido sem o auxílio de análises 
laboratoriais através da simples observação. 
O quadro a seguir, apresenta uma definição sobre os negros e os brancos. 
 
Tabela 1 - Características de negros e brancos segundo Marques (1987). 
NEGROS BRANCOS 
Pele escura; 
Pele entre clara e quase chocolate, 
com uma coloração rosada nas faces; 
Cabelo crespo, sistema piloso do rosto e 
corpo pouco desenvolvido; 
Cabelo mole, ondulado ou liso com 
várias colorações desde louro ao 
negro; 
Testa alta e reta; Testa reta; 
Olhos grandes, cor castanha escura; Olhos horizontais, castanhos ou claros; 
Nariz achatado e de abas largas; Nariz afilado; 
Lábios grossos; Lábios delgados; 
Rosto pequeno, um tanto quanto 
achatada; 
Forma da cabeça muito variada: 
braquicéfalo, mesocéfalo e 
dolicocéfalo; 
Estatura variada; Face ortognata; 
Membros inferiores longos. Queixo mediano. 
 
Definir o estereótipo de raça não é tarefa simples e sempre gera polêmica. 
A literatura mostra que classificar os seres humanos em brancos, negros ou qualquer 
19 
 
que seja a cor não é possível, pois do ponto de vista bioquímico não existe 
sustentação para tal afirmação. 
O documento The Race Concept da UNESCO (Organização das Nações 
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), publicado em Paris em 1950, afirma 
a não cientificidade de raças humanas e, portanto, a inexistência de raças 
biologicamente diferentes dentro da espécie humana (AAPA,1996; MIGLIORATI, 
2013). A UNESCO apresenta ainda outros dez pontos em sua declaração para raça, 
de 1964: 
 
1. Diferenças biológicas entre os seres humanos refletem tanto fatores 
hereditários e a influência dos ambientes natural e social. Na maioria 
dos casos, essas diferenças são devidas à interação deambos. O grau 
em que ambiente ou a hereditariedade afeta qualquer traço particular 
varia muito. 
2. Há grande diversidade genética dentro de todas as populações 
humanas. Raças puras, no sentido de populações geneticamente 
homogêneas, não existem na espécie humana, hoje, nem há qualquer 
evidência de que eles já existiram no passado. 
3. Há óbvias diferenças físicas entre as populações que vivem em 
diferentes regiões do mundo. [...] Diferenças genéticas entre 
populações comumente consistem em diferenças na frequência de 
todos os traços herdados, incluindo aqueles que são ambientalmente 
maleáveis. 
4. [...] A complexidade da história humana torna difícil determinar a 
posição de certos grupos em classificações. Subcategorias 
multiplicadas não podem corrigir as inadequações dessas 
classificações [...]. 
5. [...] Os recursos humanos, que têm valor biológico universal para a 
sobrevivência da espécie não são conhecidos por ocorrer com maior 
frequência em uma população do que em qualquer outra [...]. 
6. [...] Por muitos milênios, o progresso humano, em qualquer campo 
tem sido com base na cultura e não em melhoramento genético [...]. 
7. Em parte como resultado de fluxo gênico, as características 
hereditárias das populações humanas estão em um estado de fluxo 
perpétuo [...]. 
8. As consequências biológicas do acasalamento dependem apenas 
da constituição genética do casal, e não em suas classificações raciais 
[...]. 
9. Não há concordância necessária entre características biológicas e 
culturais a grupos definidos [...]. 
10. Ambientes físicos, culturais e sociais influenciam as diferenças de 
comportamento entre indivíduos na sociedade [...] A capacidade 
genética para o desenvolvimento intelectual é um dos traços 
biológicos de nossa espécie essencial para sua sobrevivência. Esta 
capacidade genética é conhecida por diferenciar indivíduos. Os povos 
do mundo de hoje parecem possuir potencial biológico igual para 
assimilar qualquer cultura humana. (AAPA, 1996, p. 569-570) 
20 
 
 Raça, etnia e cor podem ser consideradas sinônimas. Estas são 
frequentemente utilizadas e às vezes confundidas no cotidiano. A utilização da 
nomenclatura relacionada à classificação humana, determinante para predizer quem 
são brancos e quem são negros, é uma questão a ser definida nesta revisão. O 
politicamente correto e aceitável nem sempre será consenso. O que usualmente é 
apresentado como categoria racial humana, por exemplo, nada mais é que uma 
construção social e não uma entidade biológica (PENA, 2005). Ainda a respeito dessa 
discussão Pena continua a dizer: 
 
Por exemplo, a palavra ‘raça’ pode ser usada de muitas maneiras. 
Uma delas é no sentido morfológico, fenotípico, denotando um 
conjunto de caracteres físicos (por exemplo, cor da pele ou textura do 
cabelo) que nos permite identificar indivíduos como pertencentes a um 
certo grupo. Assim, fala-se da raça negra, da raça branca e assim por 
diante. No Brasil, a palavra ‘cor’ é usada como seu sinônimo nesse 
contexto. [...] pode ser usada em um sentido biológico, para 
caracterizar uma população geneticamente diferenciada, isto é, uma 
subespécie. (p. 322-323) 
 
O Brasil, por exemplo, pode ser considerado um país onde a miscigenação 
racial é uma herança histórica, tem nas feições de seu povo um retrato fiel dessa 
mistura de índios, negros e brancos. Essa composição torna difícil conferir a um 
indivíduo características exclusivamente de uma etnia ou de outra. Como atestar que 
um indivíduo é de tal cor apenas pelo julgamento daquilo que é visto? Características 
étnicas vão além da cor da pele. Outros fatores classificatórios podem até influenciar 
no desempenho esportivo ou indicar um melhor rendimento para/em um esporte que 
para/em outro. 
Constava no primeiro Censo oficial do Brasil, em 1872, três vocábulos 
raciais mais utilizados a época para designar cor: o preto, o pardo (posteriormente 
substituído por mestiço em um breve período) e o branco. Essas nomenclaturas eram 
amplamente usadas pela população. Com a imigração asiática, a categoria amarela 
foi criada. Foi após o Censo de 1991, que foi contemplada a quinta categoria, a 
indígena. Então, a classificação passou a englobar “cor ou raça”. Blumenbach (1752-
1840) faz referência nova a Oceania e a classificação em cinco raças em seus estudos 
tentando uma amostragem dos cinco continentes: branca ou caucásica, amarela ou 
mongólica, negra o etiópica, vermelha ou americana e parda ou malaya (MIGLIORATI, 
2013). 
21 
 
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu um estudo 
sobre o sistema classificatório de cor ou raça utilizado pelo Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE) em suas pesquisas. Segundo o estudo, a forma de 
enquadramento de um indivíduo se dá de três maneiras: a auto atribuição, a 
heteroatribuição e a identificação de grandes grupos populacionais. Para o 
desenvolvimento desse trabalho, o texto vai ater-se à terceira maneira citada (a 
identificação de grandes grupos populacionais), por se basear em técnicas biológicas, 
como a análise de DNA. 
 De acordo com o IPEA (2003), “quanto mais apurada se torna a tecnologia 
de definição da origem ancestral via DNA, mais ‘raças’ ficam disponíveis para o 
enquadramento”. Na prática, isso quer dizer que é cada vez mais difícil determinar 
uma origem racial para um indivíduo, a “raça” deixa de ser uma realidade biológica e 
assume caráter de realidade sociocultural, completamente distinta (IPEA, 2003). 
 O mesmo pensamento pode ser verificado em Kube (1990), “quanto mais 
um determinado caráter biológico for influenciado por fatores do meio ambiente, mais 
difícil se torna a análise no aspecto genético”. Segundo Kube, a preocupação gira em 
torno das características determinadas pelo genótipo, mas ocorrem influencias do 
meio e de seus elementos. 
 Para este estudo, foram utilizados os termos, grupo étnico, para fazer 
referência à classificação de um indivíduo segundo sua “raça”; negro, para fazer 
referência ao indivíduo de pele negra (ou escura) e; branco, ao indivíduo de pele 
branca (ou clara). A escolha dessa nomenclatura se deve ao seu frequente 
aparecimento na literatura para formulação deste conteúdo, uma vez que, se faz 
necessária a diferenciação de quem são estes dois grupos. 
 
2.3 Características do atletismo e da natação 
 
2.3.1 Características do atletismo 
 
O Atletismo é um dos esportes mais praticados em todo o mundo, presente 
em todas as edições das Olimpíadas da era moderna. Suas modalidades são de 
origens milenares e consiste nos movimentos naturais do homem: Correr, saltar, 
arremessar e lançar. 
22 
 
A corrida de velocidade é uma das principais modalidades do atletismo 
moderno. Nela se destaca o homem mais rápido nos 100m e 200m rasos, 110m e 
200m com barreiras em suas proporções regionais, nacionais, continentais e mundial. 
Os primeiros relatos sobre as provas de velocidade no atletismo datam do 
ano de 776 a.C., onde Coroebus de Elis venceu a prova conhecida como stadion, no 
estádio Olímpia, com um percurso de pouco menos de 200 metros, se tornando o 
primeiro campeão olímpico de que se tem notícia. Nos primeiros Jogos da 
Antiguidade, essa era a única competição da modalidade (VIEIRA e FREITAS, 2007). 
Vieira e Freitas (2007) comentam que outras provas foram surgindo, sem 
que o atletismo jamais perdesse sua importância e popularidade. Além dos eventos 
isolados de corrida, saltos e arremessos, fazia também grande sucesso na Grécia 
Antiga, o pentatlo (salto em distância, lançamento de disco, lançamento de dardo, luta 
e stadion) que surgiu com a intenção de premiar o atleta mais completo. Durante todas 
as edições em que ocorreram os Jogos Olímpicos da Antiguidade (776a.C. a 393 
d.C.), muitas guerras foram interrompidas para que os atletas pudessem realizar suas 
façanhas. 
O Atletismo foi um dos nove esportes integrados na primeira edição dos 
Jogos Olímpicos da Era Moderna, disputados em Atenas no ano de 1896. Foi 
distribuído em doze modalidades, todas masculinas e, pela primeira vez aconteceria 
a prova de 100 metros rasos. Tal modalidade acompanhou de perto a evolução do 
treinamento esportivo com as frequentes quebras de recordes desde o ano de 1912, 
quando os recordes começaram a ser computados (VIEIRA e FREITAS, 2007). 
Pode-se medir essa evolução ao analisar o primeiro recorde realizado na 
prova, feito pelo americano Dom Lippincott, com o tempo de 10.6s e o último recorde 
marcado pelo jamaicano Usain Bolt, com o tempo de 9.58s, no ano de 2009 (BEJAN, 
JONES e CHARLES, 2010). 
O Atletismo é regido pela International Association of Athletics Federation 
(IAAF), fundada no ano de 1912 após a união de dezessete federações nacionais a 
fim de padronizar regras, equipamentos e critérios para registros de recordes 
mundiais. Hoje, com a massificação desse esporte nas últimas décadas, a IAAF, conta 
com cerca de duzentos e doze federações e sete confederações continentais que 
realizam competições na sua área de atuação (IAAF, 2015). 
No Brasil, temos a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) fundada no 
ano de 1977. Contudo, antes da criação da CBAt, o desporto brasileiro era 
23 
 
representado pela extinta Confederação Brasileira de Desportos (CBD) que atuava 
desde 1914, inclusive como uma das entidades afiliadas a IAAF. 
Vários são os fatores que influenciam o desempenho nas provas de 
velocidade do atletismo, entre eles, fatores antropométricos como o tamanho dos 
membros inferiores e superiores, quantidade de gordura corporal, posição do centro 
de gravidade, densidade óssea, etc. Valores antropométricos e de composição 
corporal tem forte correlação com a especificidade da modalidade e o nível de 
performance atlética (HEYARD e STOLARCZK, 1996 apud ALBUQUERQUE, 2008). 
Na corrida de velocidade, o centro de gravidade do corpo é um importante 
indicador para prever a performance, porém não o único. Para Albuquerque (2008) os 
fatores associados à composição corporal têm sido bastante estudados, em algumas 
pesquisas determinaram que uma baixa porcentagem de gordura corporal e elevada 
quantidade de massa isenta de gordura são encarados como desejáveis em corridas 
de velocidade (ALBUQUERQUE, 2008; PAROLIS e OLIVEIRA, 2008; NASCIMENTO 
e SOUZA, 2007). Os velocistas são mais fortes e mais pesados em comparação a 
corredores especialistas em outras provas e esses são predominantemente 
mesomorfos (ALBUQUERQUE, 2008; PAROLIS e OLIVEIRA, 2008). 
Para Parolis e Oliveira (2008), uma grande massa muscular pode oferecer 
algumas vantagens na saída da corrida de velocidade no começo dos estágios de 
aceleração, pois a grande área da secção-transversa de um músculo pode 
desenvolver uma maior força. Também, para este autor, a força muscular absoluta 
parece ter um papel mais relevante na fase inicial da corrida (tempo de contato do pé 
com o solo é de aproximadamente 400 milésimos de segundos), anteriormente a fase 
em que o atleta desenvolve a maior velocidade possível (quando o tempo de contato 
reduz para cerca de 100 milésimos de segundos). 
Vários fatores afetam a duração de cada uma destas fases, pois a corrida 
de cada atleta, varia em relação à contribuição em que cada uma das fases representa 
em relação ao tempo total. Dentre essas variáveis que interferem no desempenho 
temos os fatores externos (força e direção do vento, a temperatura ambiente, a rigidez 
e resistência da superfície da pista) e outros internos como a motivação, técnica, 
condição física, fadiga, dentre outros (PREUSSLER E SANTIAGO, 2010). 
A força e direção do vento são fatores importantes no desempenho, essa 
variável obtém tanta importância no rendimento e resultado final, que a IAAF, define 
a homologação dos recordes para as provas de 100m e 200m, a presença de vento 
24 
 
com velocidade máxima de 2,0 m/s. Provas disputadas com a velocidade do vento 
superior a este limite não são homologadas. 
 Além do vento, outro fator que pode interferir no desempenho das provas 
de velocidade do atletismo é a densidade do ar. Esta é uma grandeza que depende 
das condições do meio, dentre elas a temperatura, altitude e umidade. Portando, ao 
disputar provas em diversos locais, com densidades do ar diferentes, o atleta com a 
mesma velocidade sofre resistência do meio com valores distintos (PREUSSLER e 
SANTIAGO, 2010), influenciando assim no seu rendimento final da prova. 
 
2.3.2 Características da natação 
 
A natação, assim como o atletismo, é um esporte bastante praticado em 
todo o mundo. É um desporto onde a mecânica da técnica e o ambiente são totalmente 
diferente da corrida de velocidade do atletismo. O homem primitivo já nadava por 
questões de sobrevivência, para buscar alimentos ou em outras situações como a de 
fugir de um perigo em terra, entrando no meio líquido e se locomovendo. Segundo 
Vieira e Freitas (2006): 
[...] a atividade física que consiste em movimentar braços e pernas 
para fazer o deslocamento dentro d’água é quase intuitiva e tão antiga 
quanto o próprio homem. Ela já era praticada nas comunidades 
primitivas, em que os homens nadavam para fugir de predadores e 
inimigos, para garantir a sobrevivência e até mesmo por diversão. 
Mas, desde aqueles primórdios até os dias de hoje, muita coisa 
mudou. O homem evoluiu e a natação também. (VIEIRA e FREITAS, 
2006, p.11) 
 
A Natação também fez parte dos nove esportes integrantes dos Primeiros 
Jogos Olímpicos da Era Moderna. As modalidades em disputa foram os 100m, 500m 
e 1200m. Anos mais tarde, em 1908, foi fundada a Fédération Internationale de 
Natation Amateur (FINA) com a união das associações de oito países da Europa. Hoje, 
a FINA conta com 194 afiliados de todo o mundo. No Brasil, a Natação é regida pela 
Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). 
As provas que determinam quem é o nadador mais veloz são os 50m e 
100m nado livre, podendo ser realizadas em piscinas curtas (25 metros) ou piscinas 
longas (50 metros, padrão olímpico). O brasileiro César Cielo é recordista mundial nas 
25 
 
provas em piscina olímpica de 50m e 100m livres, com os tempos de 20.91s e 46.91s, 
respectivamente. 
Na Natação, o melhor desempenho é aliado à capacidade de gerar força 
propulsora e minimizar a resistência ao avanço no meio líquido, que é maximizado 
com a melhoria do padrão biomecânico, da composição corporal e de alguns dos 
componentes das qualidades físicas, como por exemplo, força, velocidade e outros 
(PACHECO, et al. 2009; MAGLISCHO, 1999 apud BOCALINI, et al.2009). 
Os fatores antropométricos que caracterizam a população de nadadores e 
sua influência tem sido bastante estudados nos últimos anos. Para Fernandes, 
Barbosa e Vilas-Boas (2002) fatores como o peso, a altura, índice 
envergadura/estatura, o comprimento e a superfície dos segmentos corporais, o 
somatotipo e composição corporal, são variáveis determinantes do rendimento da 
natação. O tamanho dos braços, mãos, pernas e pés influenciam no comprimento de 
braçada e a frequência de braçada, variáveis essas que se combinam para alcançar 
determinada velocidade. Portanto quanto maiores essas variáveis, mais eficiente será 
o atleta e menos ações motoras serão necessárias para percorrer uma mesma 
distância (GRIMSTOM, 1986 apud CAPUTO, 2006; FERNANDES, BARBOSA e 
VILAS-BOAS, 2002). 
Diversos estudos têm mostrado mudanças nas características 
antropométricas dos nadadores e a melhora na performance ao longodas últimas 
décadas. As décadas de 1960 à 1990, demonstram que nadadores olímpicos 
aumentaram sua estatura sem aumento correspondente na massa corporal 
(CAPUTO, 2006). 
Castro et al. (2005) mostraram que nadadores velocistas, fundistas e 
triatletas de alto nível possuem envergadura maior que a estatura. Maiores medidas 
de envergadura permitem desenvolver maior força propulsiva, sendo que este é um 
fator primordial para a performance na natação (PACHECO, 2009). Indivíduos 
maiores levam desvantagem em provas de longa distância. Por isso, os melhores 
nadadores de longa distância são menores e mais leves, enquanto em provas de 
velocidade, nadadores mais altos e com maior massa muscular podem nadar mais 
rápido, principalmente porque eles podem produzir grandes quantidades de energia 
em um curto período de tempo (CHATARD, 1990 apud CAPUTO, 2006). 
26 
 
A técnica do nado influencia o arrasto 1 e, consequentemente, o gasto 
energético na natação. A resistência da água ou arrasto é a principal força a ser 
vencida durante a locomoção aquática. Como a densidade da água é 
aproximadamente 800 vezes maior que a do ar (998,2 vs. 1,205kg·m1 a 20ºC e 
760mmHg), isso requer elevado gasto energético. Outra importante característica da 
locomoção aquática é a grande quantidade de energia que é transferida para a água 
durante a realização do movimento. Ao contrário da maioria das atividades terrestres 
(onde o impulso é realizado contra a terra que não pode ser acelerada), durante o 
nado a propulsão é feita contra a água, a qual pode sofrer aceleração. 
Dessa forma, para gerar força propulsora o nadador acelera determinada 
massa de água transferindo uma quantidade de energia cinética. Isso faz com que 
uma parte da energia produzida pelo nadador seja utilizada para movimentá-lo para 
frente (CAPUTO, 2006). 
 
2.4 Mecanismos da locomoção humana: o nadar e o correr 
 
Para entender a relação de atletas negros e brancos com o desempenho 
nas provas de velocidade no atletismo e na natação, torna-se necessário saber como 
funcionam os mecanismos da locomoção humana, analisar técnicas e como deve ser 
o corpo ideal do atleta para o máximo do rendimento nesses dois esportes. 
Correr e nadar se desenvolvem em ambientes físicos muito diferentes, a 
mecânica de mover o corpo com as pernas em contato com a terra firme é muito 
diferente do que é requerido para mover um corpo em flutuação através de um fluido 
liquido (BEJAN e MARDEN, 2006). 
De modo geral, os animais maiores se locomovem mais rápido, ondulam 
seus corpos e membros com menos frequência e podem exercer forças maiores 
(BEJAN, JONES e CHARLES, 2010). 
Para prever a evolução nos esportes de velocidade, Bejan, Jones e Charles 
(2010) modelaram o corpo humano como um cilindro de altura (H) e diâmetro (D), e 
também esquematizaram o corpo humano como uma única escala de comprimento, 
definido como Lb (L1+L2). 
 
1 Caracteriza-se arrasto como uma força externa que atua sobre o corpo do nadador, com a mesma 
direção, mas em sentido oposto ao vetor de deslocamento (RAMOS, 2011). 
27 
 
Estes mesmos autores comentam que a escala de velocidade de 
deslocamento na vertical é a mesma escala de velocidade de deslocamento para 
frente. Na natação, a escala de comprimento vertical da trajetória do corpo é D. A 
escala de tempo em que se leva é o tempo (t) da Lei de Queda dos Corpos, de Galileu, 
t ~ (D/g)1/2 (Onde g é o valor da força de gravidade). A escala de velocidade para baixo 
e para frente para a natação é na ordem de: 
 
Vswim ~ (gD)1/2 
 
Para a natação, a escala de comprimento vertical correta é proporcional à 
distância L2 medida a partir do centro de gravidade para a parte superior da cabeça 
(Figura 3, d). Para um observador que se desloca na horizontal com a mesma 
velocidade do nadador, o corpo de quem está nadando é uma espécie de gangorra 
que oscila em torno do seu próprio centro de gravidade e gera ondas de água. Quando 
o braço L2 é mais longo, o tronco sofre menos resistência com a água, gerando assim, 
maior velocidade, portando indivíduos com L2 maior (ou seja, um baixo centro de 
gravidade) tem vantagem em relação a indivíduos com mesma H, porém com L2 
menor. 
 Na corrida, a escala de comprimento vertical do corpo humano é H, e a 
escala de tempo de queda para baixo e para frente é t ~ (H/g)1/2, a velocidade de 
queda para frente é na ordem de: 
 
Vrun ~ (gH)1/2 
 
Massa e altura são requisitos fundamentais para a velocidade. Durante o 
ciclo de locomoção da corrida, o corpo não se desloca a partir da altura H (parte 
superior da cabeça), o que desloca é o centro de gravidade do corpo a partir do L1 
definido na Figura 3 (c). Com L1 maior, os membros inferiores são maiores, 
ocasionando assim, menos frequência de passadas durante o movimento da corrida, 
executando menos força e menos gasto energético. Corredores com L1 maior, tem 
vantagem na velocidade de corrida se comparados com indivíduos de mesmo H, 
porém com L1 menor. 
28 
 
A Figura 3 explica os modelos usados para predizer as regras de 
dimensionamento da locomoção humana, demonstrando como elas atuam no meio 
terrestre e no meio aquático. 
 
Figura 3 – Modelos para predizer as regras de dimensionamento da 
locomoção humana. 
 
 
Legenda: (a) uma escala, (b) duas escalas. As escalas 
de comprimento do deslocamento para frente: (c) L1 
para corrida, e (d) L2 para a natação. 
 
Fonte: Bejan, Jones e Charles (2010). 
 
2.5 Histórico dos estudos sobre as diferenças étnicas no desempenho 
 
Em grande parte das pesquisas relacionadas às diferenças individuais ou 
em grupo no esporte tem se concentrado na questão “natureza versus cultura”. A 
tentativa é a de responder as seguintes perguntas: Em que medida as diferenças entre 
os grupos étnicos são determinadas por influências biológicas, como os genes, ou por 
condições ambientais, como o acesso a oportunidades? (MIGLIORATI, 2013). 
Quando os fatores ambientais se enfatizam, a suposição é que as 
diferenças podem ser alteradas, mas, no entanto, quando são os fatores biológicos 
29 
 
que se enfatizam, grande parte das hipóteses fazem com que as diferenças de grupo 
sejam estáveis e imutáveis (MARTIN e PARKER, 1995 apud MIGLIORATI, 2013). 
Para Migliorati (2013), o debate sobre a relação entre o desempenho esportivo e etnia 
refere-se a abordagens pelas quais cientistas, pesquisadores e especialistas tem 
discutido o assunto. 
Existem três linhas de orientação a este respeito: O primeiro é o chamado 
Biológico/Genético, onde a biologia é um determinante nas diferenças físicas e 
esportivas, o segundo é o Sociológico/Cultural que considera as circunstâncias e as 
condições ambientais como fatores desencadeantes destas diferenças, o terceiro é 
uma espécie de “terceira via” que compreende as outras duas. 
 A Figura 4 demonstra a relação existente entre estas três linhas de 
orientação, propondo qual linha de pensamento estudos relacionados ao esporte e 
pertença étnica devem se orientar. 
 
Figura 4 - Linhas de orientação sobre o desempenho esportivo e etnia. 
 
Fonte: Migliorati (2013) 
 
A partir da segunda metade do século XIX, sobretudo em países como os 
Estados Unidos e Grã-Bretanha, nasce a ideia de superioridade e inferioridade racial 
relacionada com as atividades humanas específicas. Interessados apenas em manter 
e consolidar sua própria posição de domínio e de poder, fundamentada com o 
colonialismo e a escravidão. 
Desta maneira nasce e se desenvolve uma antropologia de classificações 
que fazem referência precisamente nas possibilidades de medir e determinar asdiferenças entre as raças, isto é, que seja possível justificar sua hierarquização 
segundo os valores dominantes. Era habitual acreditar que os povos ocidentais eram 
mais fracos fisicamente e mentalmente, ao mesmo tempo em que se difundia a crença 
30 
 
de que a supremacia dos brancos era uma soma de qualidades morais e intelectuais, 
pois as demais raças não eram capazes de conseguir resultados parecidos porque 
careciam destas qualidades (GOBINEAU, 1853 apud MIGLIORATI, 2013). 
Da mesma maneira, acreditava-se que as capacidades físicas dos povos 
africanos e asiáticos eram boas para a curta distância, porém inferiores a respeito dos 
brancos no que se diz respeito a resistência e duração. Este estereótipo está presente 
no livro intitulado Essai sur l’inégalité des races humaines escrito por Joseph Arthur 
de Gobineau em 1853, no qual ele propõe a subdivisão das raças em amarelos, 
brancos e negros, foi neste momento amplamente aceito que se atribuiu a cada raça 
peculiaridades específicas. 
Em uma hipotética escala de valores, Gobineau põe em vértice a raça 
branca, o que implica em atribuir os melhores valores do ser humano: amor pela 
liberdade, lealdade, progresso e busca pela espiritualidade. Seguem para os asiáticos 
o seu amor visceral pelos bens materiais e pelo comércio, e na parte mais baixa da 
escala se encontram os negros, portadores de sentimentos “baixos” que são a força 
e poucas capacidades intelectuais. 
Sobre obras como esta, a medicina e a ciência realizam investigações 
destinadas a buscar evidências científicas desta hierarquia. Sobretudo, afirma que a 
ideia do domínio dos povos ocidentais se deve a evolução cultural de que esta raça 
foi capaz, entretanto a evolução das outras raças segue exclusivamente canais 
biológicos, que no século XX se definiram como genéticos. 
Destaca-se que esta linha de pensamento presente em todos os discursos 
racistas, influencia nas competições desportivas, devido ao fato de que muitos estão 
convencidos que o domínio dos negros em alguns esportes como o basquete e o 
atletismo se deve exclusivamente a características biológicas/genéticas, em vez de 
dedicação aos treinos, esforço e a capacidade racional de melhora que tem o ser 
humano (MIGLIORATI, 2013). 
Durante o século XX as práticas esportivas autônomas provocaram um 
crescimento do interesse da opinião pública sobre o esporte, consequentemente 
multiplicaram-se os estudos sobre a questão das diferenças entre raças. Em 
decorrência disto, apareceu o problema de buscar e encontrar uma causa para 
explicar porque muitos atletas negros se sobressaem em várias modalidades 
esportivas. 
31 
 
Atraídos pelo rendimento destes atletas, médicos e cientistas se 
empenharam em analisar suas características físicas em busca de dados científicos 
que justificassem o altíssimo rendimento de suas extraordinárias capacidades 
atléticas. Deste modo, a antropometria se converteu em um fator determinante: a 
medição das diferentes partes do corpo, da massa muscular, das extremidades, das 
características do crânio, incluindo também o exame do cabelo e dos dedos, captaram 
a atenção de médicos que queriam descobrir o “segredo” do êxito esportivo dos atletas 
negros (MILLER, 1998). 
Os anos da década de 1930 foram muito importantes na história do debate 
entre o desempenho atlético e raça. Por uma parte, as teorias racistas e 
segregacionistas parecem chegar a sua máxima expressão e inclusive nos regimes 
ditatoriais e políticos que os tomam como bandeira. Por outra parte, a grande aparição 
de atletas negros que dominaram alguns eventos esportivos como as Olimpíadas de 
1932 em Los Angeles e as de 1936 em Berlin, em plena Alemanha nazista, colocaram 
em questão o centro da opinião pública. 
Atletas como Eddie Tolan, Ralph Mercalfe, Eulace Peacock e, 
especialmente, Jesse Owens dominaram as modalidades de corrida de velocidade e 
saltos, consequentemente desencadearam grandes controvérsias entre os 
pesquisadores (MIGLIORATI, 2013). 
Nestes anos se definem claramente, as teorias sobre a explicação dos 
resultados obtidos por atletas negros em algumas modalidades esportivas. Por um 
lado, alguns argumentavam que as vitórias são frutos de uma herança genética da 
raça através dos séculos, quando os povos africanos tinham que sobreviver em 
ambientes hostis, o que permitiu adquirir capacidades superiores para a corrida e 
saltos. Por outro lado, há aqueles que acreditam na validez das teses sociológicas e 
culturais, ou seja, consideram que esta superioridade é um produto de 
condicionamentos ambientais (PEREIRA e SOUZA, 2005). 
Estas especulações atraíram a atenção do antropólogo William Montague 
Cobb, um dos primeiros a estudar as diferenças entre raças em função do rendimento 
esportivo. Em 1936 publicou um livro intitulado “Race and Runners” em que 
apresentava medições de características físicas do atleta afro-americano de elite e as 
comparou com atletas brancos e com as características de Jesse Owen, a quem lhe 
atribuía em primeira pessoa. Este livro se concentrou especialmente nos corredores 
negros mais velozes e se deu conta que estes atletas não apresentavam 
32 
 
características em comum e que havia diferenças profundas entre eles. Estas 
características eram todas heterogêneas: musculatura, altura, força e também o 
temperamento, estilo e foco na competição. 
Três anos mais tarde, em 1939, Eleanor Methenv, realizou uma pesquisa 
com 51 estudantes brancos e 51 estudantes negros. Nesse estudo os participantes 
foram submetidos a mensurações antropométricas para verificar se os atletas afro-
americanos apresentavam vantagens objetivas em alguns esportes. 
Metheny (1939 apud MIGLIORATI, 2013) concluiu que os negros da 
amostra possuíam braços e pernas mais fortes, quadris mais estreitos e ossos mais 
grossos e pesados. Estas características físicas, típicas em jovens negros, podiam 
comportar vantagens em algumas modalidades esportivas e desvantagens em outras. 
Os jovens negros analisados possuíam uma capacidade torácica inferior e, 
consequentemente, menos resistência a esforços aeróbicos de longa duração. Este 
aspecto se transformou, na segunda metade do século XX, uma verdade para muitos 
comentaristas esportivos, treinadores e pesquisadores que acreditavam que os atletas 
negros eram inferiores nas competições de longa duração. 
Nos anos de 1960, a atenção dos pesquisadores se concentrou no 
rendimento dos atletas que participaram dos Jogos Olímpicos. Neste momento os 
jogos se mesclam de reivindicações e aspectos políticos que se sobrepõem ao 
esporte e o tema da superioridade atlética de alguns grupos étnicos também 
acompanha as competições esportivas. 
Nestes anos se tornaram populares as medições do médico britânico 
James Tanner, que durante as Olimpíadas de Roma em 1960 analisou uma amostra 
de atletas e obteve resultados similares às de Matheny em 1939, no que diz respeito 
às diferenças físicas “raciais” significativas. Também analisou que algumas 
características dos negros podiam apresentar vantagens nas corridas de velocidade, 
no salto em distância e no salto em altura, e apresentavam desvantagens nas 
modalidades que implicavam maior resistência e esforço como a maratona (TANNER, 
1964 apud MIGLIORATI, 2013). 
Na mesma época Smith (1964) explanou as opiniões de antropólogos como 
Carleton S. Coon e Edwad E. Hunt, segundo os quais as características herdadas 
durante a evolução humana são devidas a adaptação ao meio ambiente e pode 
determinar um papel importante na superioridade de algumas raças com respeito a 
outras modalidades esportivas. 
33 
 
Kane (1971 apud FLEMING, 2007) publicou sobre pesquisas de alguns 
autoresem relação às diferenças antropométricas e fisiológicas que resultariam 
vantagens dos negros em determinadas modalidades esportivas. Este autor cita 
conclusões de estudos realizados por Tanner, que existem diferenças raciais no 
tamanho dos membros, da largura dos quadris e na circunferência total dos braços 
dos negros. Estas seriam significativamente maiores em relação aos brancos, porém 
com um percentual de massa gorda subcutânea menor. 
Kane também cita o antropólogo Robert Malina, que caracterizava as 
propriedades dos afro-americanos, em média, com membros mais largos, quadris e 
tornozelos mais estreitos e que essas propriedades poderiam dar vantagens em 
diversos esportes. Por último, Kane afirma que os afro-americanos tinham tendões 
maiores e menos músculos que os brancos e, consequentemente, uma maior 
“hiperextensibilidade” que os beneficiaria nos saltos. 
Além disso, com base em informações e observações de muitos 
treinadores, ressalta que os atletas negros encaram e controlam as emoções melhor 
que os brancos em situações de estresse. Também afirma que essa suposta 
superioridade física dos afro-americanos é pelo fato da escravidão, pois os fatores 
históricos são determinantes. Em respeito a essa afirmação formula duas hipóteses: 
A primeira, que essa prática tem determinado uma espécie de seleção natural cujo 
resultado seria a sobrevivência dos indivíduos com melhores características. A 
segunda, que o comércio de escravos justificaria que eles foram escolhidos por seus 
“donos” levando em conta determinadas características como a força. 
Migliorati (2013) comenta que as teses de Kane foram rebatidas por 
diversos pesquisadores da época, principalmente o sociólogo Harry Edwards (1973), 
ele afirma que podem existir maiores diferenças entre indivíduos que pertencem ao 
mesmo grupo étnico do que indivíduos de diferentes etnias, também afirma que os 
resultados sobre as diferenças físico-raciais que explicariam a superioridade atlética 
dos negros, procedem de estudos realizados sobre um número muito limitado de 
atletas se for comparado com a amostra representativa da população afro americana. 
Em resposta as hipóteses de Kane, da maior capacidade de controle 
emocional dos atletas negros, este mesmo autor apresenta outros trabalhos científicos 
que demonstram uma tese oposta, afirmando que as teses de Kane não têm nenhuma 
validade científica. 
34 
 
Em relação às teorias ligadas ao período da escravidão, ele argumenta que 
os atletas afro-americanos contemporâneos são descendentes de muito anos de 
cruzamentos genéticos, e de que não seriam “as crianças puras” dos escravos que 
trabalhavam em lavouras e que, mesmo que tenha acontecido uma seleção, esta não 
pode ter atuado sobre os aspectos físicos e psicológicos, tal como apontava Kane. 
O debate iniciado por Kane e Edwards teve grande repercussão nos 
estudos de Jensen (1969), que defende que o coeficiente intelectual vem determinado 
pela genética mais do que por fatores ambientais. Ele relata as diferenças entre raças 
na genética e na biologia, e defende que estas diferenças são hereditárias, 
especialmente em grupos étnicos que permaneceram isolados durante séculos. 
Para Jensen, o cérebro funciona de maneira diferente e apresenta 
características distintas entre indivíduos que pertencem a diferentes grupos étnicos. 
Os defensores da ideia de inferioridade ou superioridade genética entre atletas 
brancos e negros encontram apoio, neste sentido nas teorias de Jensen, se as 
diferenças anatômicas beneficiam os negros em alguns esportes, parece evidente que 
eram inferiores intelectualmente. 
Entretanto, destaca-se que a década de 1970 representou um crescimento 
na participação dos afro-americanos nas competições esportivas profissionais. Em 
alguns casos, a presença dos atletas negros superou em grande média a dos brancos. 
Nesses anos, a consciência de pertencer a uma etnia se transforma em grandes 
reivindicações sociais e políticas. O esporte profissional se converte em um trampolim 
para os jovens negros que sonham em demonstrar, através do esporte, sua força e 
capacidades (MIGLIORATI, 2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
3 DISCUSSÃO 
 
São várias as pesquisas realizadas sobre as diferenças biológicas entre 
indivíduos negros e brancos, atletas e não atletas. Alguns desses estudos relatam as 
diferenças em apenas um esporte ou no desempenho de forma geral, porém são 
pouquíssimas aquelas que se relacionam às provas velozes de dois esportes 
realizados em meios tão distintos, como é o atletismo e a natação. 
Na maioria dos estudos encontrados, foram abordados o fator 
biológico/genético, principalmente a composição corporal, para justificar a 
superioridade dos negros nas provas velozes do atletismo e brancos nas provas 
rápidas da natação. 
Segundo McArdle, Katch, Katch (2011), as diferenças raciais no somatotipo 
podem afetar o desempenho atlético. Nadadores competitivos de ambos os sexos em 
geral possuem níveis mais altos de gordura corporal que os corredores de curta e 
longa distância. A gordura, por ser menos densa que a água, poderia ajudar na 
flutuação do atleta. Diversos estudos apontam diferenças entre indivíduos negros e 
brancos sobre a quantidade de massa gorda em relação à massa corporal total 
(MARQUES, 1987; CINTRA, 1997; DEURENBERG, 1998; WAGNER, HEYWARD, 
2000; FERNÁNDES, 2003; WALTS et al. 2008), estes estudos mostram que 
indivíduos negros tendem a ter menor percentual de gordura corporal e, 
consequentemente, uma porcentagem maior de massa magra se comparados aos 
brancos. 
Marques (1987) aponta que os negros apresentam 38% menos gordura do 
que os brancos, Fernándes et al. (2003) apresenta diferenças no percentual de 
gordura nas populações negras, brancas e asiáticas. O autor verificou que os 
asiáticos, em média, possuem o percentual de gordura corporal maior se comparado 
aos brancos. Os negros são os que tiveram, segundo este estudo, o menor percentual 
de massa gorda comparada às outras populações. 
Walts et al. (2008) argumenta que os negros americanos apresentavam 
maior quantidade de massa muscular em comparação à população branca. Quanto à 
determinação da gordura corporal, Fox (1986 apud CINTRA, 1997) explica que as 
células adiposas não produzem energia para ser utilizada pelos músculos, 
consequentemente um maior percentual de gordura é deletério em termos de 
desempenho. 
36 
 
O percentual de gordura dos nadadores, em nível de rendimento, é um 
pouco maior se confrontado com os de velocistas e fundistas de atletismo. Este é um 
fator que pode facilitar a flutuação na água. 
Em relação à massa muscular, Carter et al. (2010 apud MIGLIORATI 2013) 
defende que a massa muscular das pernas de indivíduos negros é maior se 
comparado com os brancos, este fator seria um facilitador para a corrida de 
velocidade. 
Estudos têm atribuído aos negros uma maior densidade nos ossos 
comprometendo a sua flutuação e, por conseguinte, menos propensos a serem 
campeões em natação (MARQUES, 1987; POLLITZER e ANDERSON, 1989; 
BRANDÃO e VIEIRA, 1999; WAGNER, HAYWARD, 2000; BEJAN, JONES e 
CHARLES, 2010; SALLES, PEREIRA e SOUZA, 2010; MAJUMDER e CHOUDHRY, 
2014). 
Segundo Pereira (1968 apud MARQUES, 1987), negros têm ossos 70% 
mais pesados se comparados com brancos. Salles, Pereira e Souza (2010) afirmam 
que a diferença na massa óssea entre indivíduos negros e brancos teria origem racial, 
Pollitzer e Anderson (1989) comentam que essas diferenças raciais no osso começam 
antes mesmo do nascimento. Diferenças no comprimento e peso dos ossos do negro 
e branco (enquanto fetos) são seguidas por um maior peso do esqueletodo negro em 
comparação a crianças brancas. 
Estes mesmos autores apresentaram estudos que analisaram os 
seguimentos inteiros de esqueletos de cadáveres negros e brancos, concluíram que 
os esqueletos dos homens negros são mais densos que os esqueletos dos homens 
brancos. Merz et al. (1956 apud WAGNER e HAYWARD, 2000) utilizaram radiografias 
do fêmur para medir o conteúdo mineral ósseo dos esqueletos de 203 negros e 
brancos de estatura semelhante, com idade de 16 anos. O peso médio do fêmur e 
peso do esqueleto de homens e mulheres negros foram maiores aos de homens e 
mulheres brancos. A circunferência óssea também foi maior para os indivíduos 
negros. 
Diante da notória diferença da densidade óssea entre indivíduos negros e 
brancos, Bejan, Jones e Charles (2010) sugerem que esse fato pode sim ser relevante 
na flutuação, porém não é relevante em relação à velocidade horizontal na corrida e 
na natação. 
37 
 
Medidas antropométricas de grandes populações mostram que existem 
diferenças sistemáticas entre negros, brancos e asiáticos. Diversos estudos afirmam 
que negros tem membros inferiores mais longos se comparado aos brancos 
(MARQUES, 1987; DEURENBERG, 1998; BRANDÃO e VIEIRA, 1999; WAGNER E 
HEYWARD, 2000; SANTOS e FUJÃO, 2003; BEJAN, JONES e CHARLES, 2010; 
MCARDLE, KATCH, KATCH, 2011; PINTO e SILVA, 2013). 
Os africanos negros possuem os membros inferiores proporcionalmente 
maiores do que europeus, as amostras do Leste têm os membros inferiores 
proporcionalmente mais curtos, sendo a diferença mais marcante nos japoneses, 
menor nos chineses e coreanos e ainda menos nos tailandeses e vietnamitas. Se 
considerarmos apenas os dados europeus, estes sugerem que os membros inferiores 
contribuem mais para as diferenças de estatura do que o tronco. 
As populações da Turquia, do Oriente Médio e da Índia, classificados como 
Indo-mediterrâneos têm proporções similares a dos europeus, mas possuem uma 
estatura total menor. Todas estas diferenças se relacionam com condições ambientais 
(SANTOS e FUJÃO, 2003). 
Brandão e Vieira (1999) verificaram que crianças negras apresentam maior 
comprimento de membros inferiores em relação ao tronco comparadas às crianças 
brancas. Quanto à coluna lombar, a raça negra apresenta altura dos corpos vertebrais 
menores que os indivíduos brancos. Já Wagner e Heyward (2000) observaram 
também que negros tem antebraços e pernas mais longos do que brancos, porém os 
brancos possuem tamanho relativo do tronco maior se comparados aos negros. 
Himes (1988 apud BEJAN, JONES e CHARLES, 2010) compilou dados de 
tamanhos do tronco e estatura de 17 grupos de militares ao redor do mundo, como 
consta na Figura 5. 
38 
 
Figura 5 - Estatura e altura sentado de 17 grupos de homens militares de 
diversas populações. 
 
Fonte: Bejan, Jones e Charles (2010). 
 
Analisando esses dados, pode-se observar que os europeus possuem 
estatura e tamanho dos troncos mais altos, os negros americanos possuem estatura 
aproximada aos seus compatriotas brancos, porém possuem troncos menores se 
comparados aos brancos americanos. 
Para McArdle, Katch, Katch (2011) a partir de uma perspectiva mecânica, 
um velocista negro de mesma estatura em relação aos brancos, possui um corpo mais 
leve e mais esbelto a ser impulsionado. Em comparação com negros e brancos, os 
atletas asiáticos possuem pernas mais curtas, em relação aos componentes da parte 
superior do tronco, o que constitui uma característica dimensional benéfica nas provas 
de distâncias mais longas e no levantamento de pesos. 
Marques (1987) diz que os negros estão mais bem preparados para as 
provas de saltos e corridas de velocidade, pois possuem membros inferiores mais 
longos e tronco curto. O tronco mais curto e pernas mais longas influencia na 
capacidade de flutuação na água do indivíduo negro, as pernas ficam mais profundas 
em relação a linha da água, ou seja, as pernas atingiam maior profundidade. Os 
brancos por sua vez efetuam maior distância de deslize na água, pelo fato de ter um 
tronco maior fazendo com que o corpo permaneça mais próximo da linearidade 
possível com a superfície da água. 
Examinando o tamanho do tronco e os membros inferiores, atletas negros 
seriam mais eficientes em atividades de velocidade do atletismo, porque seus 
membros inferiores possuem constituição adequada às exigências físicas destas 
39 
 
atividades (PEREIRA e SOUZA, 2003; MCARDLE, KATCH, KATCH, 2011; PINTO e 
SILVA, 2013). Relacionando o tamanho dos membros inferiores com o tronco, estudos 
associam estas medidas ao centro de gravidade corporal. Este fator seria essencial 
para que se obtenha êxito em diversas modalidades esportivas (BEJAN, JONES e 
CHARLES, 2010; NEAGU, 2010; PINTO e SILVA, 2013). 
O centro de gravidade do corpo não tem uma posição fixa, mas varia de 
pessoa para pessoa, a partir de uma sequência de movimentos para outro. O centro 
de massa se move na mesma direção que os movimentos do corpo, ele pode ir para 
cima, sempre que levantarmos membros superiores ou inferiores, e ele vai para baixo 
sempre que os membros voltam para a posição normal. 
Em média, 3% é a ordem de grandeza que diferencia as posições dos 
centros de gravidades para os corpos de brancos e negros. Essa diferença poderia 
explicar o porquê negros têm membros inferiores maiores e os indivíduos brancos têm 
os troncos bem mais desenvolvidos. A relação entre o posicionamento do centro de 
gravidade entre negros e brancos daria uma vantagem de 1,5% no tempo total para 
os negros em provas de velocidade do atletismo, e os mesmos 1,5% de vantagem 
para os brancos nas provas rápidas de natação, o que pode parecer pouco, porém 
em esportes que são definidos por detalhes essa diferença pode ser fundamental para 
a definição do campeão (BEJAN, JONES e CHARLES, 2010; PINTO e SILVA, 2013). 
A Figura 6 demonstra as diferenças existentes em relação ao centro de 
gravidade de negros e brancos, evidenciando o dos negros ligeiramente mais alto. 
 
Figura 6 - Posição dos centros de gravidade em indivíduos negros e brancos. 
 
 
 
Fonte: Esporte, Rede Globo (2010). 
 
40 
 
Alguns autores discutem a relação do desenvolvimento motor, sistemas 
energéticos e sistema muscular e o de indivíduos negros e brancos com o 
desempenho esportivo (MARQUES, 1987; HAMILTON, 2000; PEREIRA e SOUZA, 
2005; SALLES, PEREIRA e SOUZA, 2010; WALTS et al. 2008; SAILES, 2009; 
MIGLIORATI, 2013). Já com relação ao desenvolvimento motor, crianças negras 
possuem um desenvolvimento avançado se comparado com crianças brancas durante 
os dois primeiros anos de vida e a diferença se torna ainda maior na adolescência. 
Comparando-se a potência muscular entre grupos de negros e brancos 
americanos, relações similares se apresentaram, mas para a força, a tendência é 
maior nos músculos de membros inferiores dos negros americanos (PEREIRA e 
SOUZA, 2005). Os músculos dos membros inferiores de negros contêm enzimas, que 
permitem usar grande quantidade de força mecânica em pequena quantidade de 
tempo (MARQUES, 1987). 
Negros americanos apresentam menos PH intramuscular no repouso e 
durante a contração muscular, utilizam mais a via anaeróbia de produção de energia 
e menos a via aeróbia se comparada com os brancos americanos. Foi demonstrado 
também, que negros da África do Sul apresentam grande resistência à fadiga, 
acúmulo menor de lactato e alta atividade de enzimas oxidativas no músculo 
esquelético dos membros inferiores. Mesmo com incremento progressivo na 
intensidade do exercício, africanos acumulam lactato em menor velocidade do que 
corredores brancos. Apresentam também, durante o exercício, menor quociente 
respiratórioem relação aos brancos submetidos ao mesmo esforço físico. 
(HAMILTON, 2000; PEREIRA e SOUZA, 2005; WALTS, et al. 2008; SALLES, 
PEREIRA e SOUZA, 2010). 
Existe um senso comum de que os atletas afro-americanos tem um número 
maior de fibras musculares de contração rápida (fibras do tipo II). Estas fibras dariam 
benefícios em modalidades esportivas que precisam de agilidade, velocidade, rapidez, 
salto e lançamento. Estas afirmações são utilizadas para justificar o domínio dos afro-
americanos em atividades esportivas como salto em distância, corridas de velocidade, 
basquete, beisebol, futebol americano e boxe. 
Também existe a convicção que os atletas brancos têm um número maior 
de fibras vermelhas, de contração lenta (fibras do tipo I), que, proporcionaria uma 
maior adaptação às modalidades de resistência. Tais afirmações deveriam explicar o 
êxito dos brancos em algumas modalidades esportivas como a maratona, as 
41 
 
modalidades de média e longa distância e a natação. Porém, estas declarações são 
limitadas. No momento os atletas negros africanos vem dominando as modalidades 
de média e longa distância (SAILES, 2009; MIGLIORATI, 2013). 
Outro fator importante que pode influenciar no desempenho é a 
flexibilidade, as articulações precisam de determinado nível de flexibilidade para cada 
desporto. Para a corrida de velocidade, por exemplo, um nível ótimo de flexibilidade 
nas articulações do quadril daria uma boa vantagem na execução dos passos, 
podendo aumentar a amplitude de movimento das pernas, diminuindo a frequência de 
passadas e, consequentemente, um menor tempo de deslocamento com economia 
de energia. 
Para a natação, um nível ótimo de flexibilidade nas articulações do 
tornozelo é imprescindível para o desempenho, pois a flexão plantar visa diminuir o 
arrasto do pé com a água na execução do nado. Ojeta (1973 apud MARQUES, 1987) 
considera que indivíduos com ossos grandes e grande tônus muscular (como no caso 
da etnia negra) são menos flexíveis se comparados a indivíduos de ossos pequenos 
e menor tônus muscular. 
Chrisfoyoletti (1986) realizou uma pesquisa sobre a flexibilidade em 
algumas articulações em escolares de 10 a 14 anos, na cidade de Teresina. Verificou 
que a flexibilidade das articulações estudadas mostrava diferenças com relação à 
etnia dos estudantes pesquisados. Este autor observou em seus resultados que a 
partir dos 11 anos, os brancos são mais flexíveis que os não brancos nas articulações 
do tornozelo e que meninas brancas apresentavam melhor flexibilidade no quadril se 
comparadas às meninas não brancas, entre os meninos acontecia o inverso, os 
meninos não brancos apresentavam melhor flexibilidade de quadril que os demais 
meninos brancos. 
Na pesquisa de Marques (1987) foi comparado o rendimento de brancos e 
negros no aprendizado da natação. Este autor afirma que a dificuldade na flexão 
plantar dos negros atrapalhava a execução do nado crawl, os resultados indicavam 
maior facilidade dos indivíduos brancos para a aprendizagem da natação e que 
brancos tendem a ter melhor flexibilidade nas articulações do tornozelo em relação 
aos negros. A dificuldade de fazer a flexão plantar pelos integrantes do grupo de 
alunos negros, talvez justifique a dificuldade em realizar movimentos mais técnicos do 
fundamento “propulsão de pernas”, o que dentro de uma sequência pedagógica 
correta interfere na coordenação entre movimento de braços com pernas e respiração. 
42 
 
É evidente a diferença biológica entre as diversas populações do planeta, 
essas diferenças podem ser um fator importante para um bom desempenho no 
esporte, porém não o único. Para Migliorati (2013), o rendimento de atletas de 
diferentes grupos étnicos é justificado pelas diferentes condições ambientais a que 
cada um vive e treina. Variáveis políticas, sociais, históricas, ideológicas e culturais 
são tão importantes quanto os fatores biológicos apresentados neste trabalho, 
portanto, o desempenho esportivo é uma integração entre fatores biológicos e sociais. 
Não é possível afirmar, em porcentagem, a influência que estes fatores têm sobre a 
performance dos atletas negros e brancos. O ambiente do atleta é peça fundamental 
para a escolha do esporte e os fatores biológicos irão determinar vantagens se 
estiverem adequados com a modalidade a ser praticada. 
Tendo em vista o grande domínio dos atletas negros nas provas velozes 
do atletismo e brancos nas provas rápidas da natação, destaca-se dois exemplos de 
exceções às regras “criadas” a partir do estereótipo de que negros não sabem nadar 
e brancos não sabem correr rápido. 
O primeiro é o caso do velocista francês Christophe Lemaitre, branco, que 
em 2010 foi o primeiro atleta de cor branca a correr os 100 metros rasos do atletismo 
em menos de 10 segundos (9,97 segundos), vencendo o campeonato europeu de 
atletismo daquele ano, se destacando entre os atletas negros participantes da prova. 
Muita importância é dada para este feito, já que o primeiro homem a correr os 100 
metros rasos no tempo menor que 10 segundos foi o americano Jim Himes ao registrar 
a marca de 9,95 segundos nos Jogos Olímpicos do México, em 1968. Foram 
necessários 42 anos para que um atleta branco conseguisse realizar esse feito. 
Lemaitre é detentor do recorde francês nos 100 metros rasos com o tempo de 9,92 
segundos, em um país onde a maioria dos atletas velocistas são negros. 
O segundo caso, é o do nadador norte-americano Cullen Jones, um 
acidente quase fatal em um tobogã de água o levou a fazer aulas de natação, 
transferindo-o da opção mais convidativa e adequada aos estereótipos, o basquete, 
para as piscinas culturalmente “racistas” nos EUA. Jones, que é negro, foi medalhista 
de prata na prova de 50 metros nado livre nas olímpiadas de Londres em 2012 
vencendo César Cielo (recordista mundial nos 100 e 50 metros nado livre). 
Culturalmente, Cullem Jones poderia ter escolhido o basquete ou o voleibol para 
prática devido à sua altura (1,96m), porém, assim como Lemaitre, fatores sociais 
influenciaram na entrada deles nestes esportes. Atletas de qualquer cor, musculosos 
43 
 
e com ossos pesados, acostumados a se sobressaírem nos esportes de força e 
velocidade, são facilmente perdidos em um esporte como a natação e atletismo 
(PINTO e SILVA, 2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
No esporte de alto nível, principalmente nas provas de velocidade dos aqui 
estudados, o campeão pode ser definido por pequenos detalhes. Fatores que, às 
vezes, não apresentam diferenças significativas nas comparações entre etnias mas 
que poderão determinar quem tem mais facilidade para poder correr mais rápido ou 
nadar velozmente. 
Alguns desses fatores foram descritos sob o crivo dos aspectos biológicos, 
que podem exercer influência decisiva no desempenho esportivo de atletas negros e 
brancos nas provas de velocidade do atletismo e da natação. Eles indicam, de acordo 
com a modalidade, uma ligeira vantagem para uma etnia ou para outra. 
Foram constatadas diferenças pontuais como: cineantropométricas, 
morfológicas e funcionais, expressando relevância na altura do centro de gravidade, 
no tamanho do tronco, tamanho de membros inferiores e superiores, na estatura, na 
densidade óssea, na maior flexibilidade de quadril e tornozelo, no percentual de 
gordura, no PH intramuscular de repouso e de contração muscular, no tipo de fibra 
muscular. 
O estudo cumpriu, também, seus objetivos específicos. Relacionou os 
mecanismos da locomoção humana com uma possível vantagem étnica, descreveu 
os parâmetros corporais tidos como ideais para o melhor

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