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Crimes eleitorais praticados por agentes públicos: uma análise do contexto da corrupção eleitoral e seus reflexos na democracia brasileira (Trabalho de Conclusão)

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CENTRO UNIVERSITÁRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO 
ITAJAÍ – UNIDAVI 
PRÓ- REITORIA DE ENSINO – PROEN 
COLEGIADO DE ÁREA DAS CIÊNCIAS SOCIALMENTE APLICÁVEIS – CSA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
CRIMES ELEITORAIS PRATICADOS POR AGENTES 
PÚBLICOS: uma análise do contexto da corrupção eleitoral 
e seus reflexos na democracia brasileira 
 
 
JÚLIA RAFAELA VIEIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DO SUL 
2018 
CENTRO UNIVERSITÁRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO 
ITAJAÍ – UNIDAVI 
PRÓ- REITORIA DE ENSINO – PROEN 
COLEGIADO DE ÁREA DAS CIÊNCIAS SOCIALMENTE APLICÁVEIS – CSA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
CRIMES ELEITORAIS PRATICADOS POR AGENTES 
PÚBLICOS: uma análise do contexto da corrupção eleitoral 
e seus reflexos na democracia brasileira 
 
 
JÚLIA RAFAELA VIEIRA DA SILVA 
 
Trabalho de Curso submetido ao Centro 
Universitário para o Desenvolvimento do Alto 
Vale do Itajaí - UNIDAVI, como requisito parcial 
a obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
 
 
 
Orientador: Professor Carlos Alberto Moraes. 
 
 
 
 
RIO DO SUL-SC 
2018
AGRADECIMENTOS 
 
 
Antes de tudo, agradeço a Deus pelo sopro de vida e por permitir que eu 
chegasse até aqui, tornando realidade mais um de meus sonhos e cumprindo o seu 
propósito em minha vida. 
Aos meus avós paternos, Renata e Moacir (quase sem palavras para 
expressar e com a alma embargada pela emoção), pela luta incansável para ver-me 
completar esta etapa, jamais medindo esforços para ajudar-me de todas as formas 
possíveis. A vocês, o meu amor, admiração e gratidão eterna. 
Ao meu namorado, noivo e, hoje, esposo, Neto. Agradeço por sua 
compreensão nos momentos turbulentos dessa caminhada, apoio e incentivo 
despendidos para que eu acreditasse no invisível, sempre com amor e carinho. 
A minha querida irmã Luana, pelo companheirismo e fidelidade na vida. 
Aos meus tios, Sandra e Dênis, pelo carinho com que sempre me 
entusiasmaram a continuar lutando pelos meus objetivos. 
Aos meus sogros, Eonice e Valdenir, pela compreensão diante de minhas 
ausências e pelo amor fraterno com que me acolheram em seus corações. Amo-os, 
obrigada por sonharem comigo. 
A minha amiga Aline, parceira de estudos desde o Ensino Médio, pela 
amizade duradoura, conversas construtivas e pelo suporte durante a vida 
acadêmica. Grata por termos nos reencontrado, você sempre será especial para 
mim. 
Ao Professor e orientador do presente trabalho acadêmico, Prof. Carlos 
Alberto Moraes, pela paciência, dedicação e contribuições fundamentais para a 
construção do tema. Foi um prazer tê-lo como mestre nesta jornada. 
A todos os professores do Curso de Direito da UNIDAVI, pelos 
ensinamentos que contribuíram essencialmente para a minha formação acadêmica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“SOMOS O QUE FAZEMOS, MAS SOMOS, PRINCIPALMENTE, O QUE FAZEMOS 
PARA MUDAR O QUE SOMOS”. 
Eduardo Galeano 
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
 
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte 
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando o Centro Universitário para o 
Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca 
Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. 
 
Rio do Sul-SC, 14 de maio de 2018. 
 
 
JÚLIA RAFAELA VIEIRA DA SILVA 
Acadêmico(a) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
Ac. 
AgR-REspe 
AgR-RO 
Art. 
Acórdão 
Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral 
Agravo Regimental em Recurso Ordinário 
Artigo 
CE/1965 
CP/1940 
CPC/2015 
Código Eleitoral de 1965 (Lei n. 10.406/2001) 
Código Penal 
Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015) 
CPP 
CRFB/1988 
LC 
Código de Processo Penal (Decreto-Lei n. 3.689/1941) 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
Lei Complementar 
LE 
REspe 
Lei das Eleições (Lei n. 9.504/1997) 
Recurso Especial Eleitoral 
STF Supremo Tribunal Federal 
STJ 
TSE 
UFIR 
Superior Tribunal de Justiça 
Tribunal Superior Eleitoral 
Unidade Fiscal de Referência 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ROL DE CATEGORIAS 
 
 
Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do 
seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. 
 
Agente Público 
Reputa-se agente público quem exerce, ainda que transitoriamente ou sem 
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra 
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos órgãos ou 
entidades da administração pública direta, indireta ou fundacional.1 
 
Corrupção Eleitoral 
É a ação comissiva ou omissiva, praticada por agente público ou candidato a cargo 
eletivo, no período eleitoral, com o objetivo de obter vantagem indevida para si ou 
para outrem, relegando a plano secundário os legítimos interesses da população, em 
busca de interesses privados.2 
 
Crime Eleitoral 
“São as condutas criminosas que atentam contra o processo eleitoral.”3 
 
Democracia 
“Exprime-se como um governo do povo, sendo um regime político que se finca 
substancialmente na “soberania popular”, compreendendo-se os direitos e garantias 
eleitorais, as condições de elegibilidade, as causas de inelegibilidade e os 
mecanismos de proteção disciplinados em lei para impedir as candidaturas viciadas 
e que atentem contra a moralidade pública eleitoral [...].”4 
 
 
1 BRASIL. Lei n. 9.504 de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L9504compilado.htm>. Acesso em: 2 mai. 2018. Art. 73, 
§ 1º da LE. 
2 Este Conceito Operacional foi elaborado pela autora da presente dissertação, a partir de pesquisa 
realizada na obra de GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 8 
ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 51. 
3 BEM, Leonardo Schmitt de; CUNHA, Mariana Garcia. Direito Penal Eleitoral. 2 ed. São Paulo: 
Conceito Editorial, 2011, p. 33. 
4 RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 7 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007, p. 26. 
Democracia Representativa 
“A democracia representativa pressupõe um conjunto de instituições que disciplinam 
participação popular no processo político, que vem a formar os direitos políticos que 
qualificam a cidadania, tais como as eleições, o sistema eleitoral, os partidos 
políticos etc., como constam dos arts. 14 a 17 da Constituição [...]. Na democracia 
representativa a participação popular é indireta, periódica e formal, por via das 
instituições eleitorais que visam a disciplinar as técnicas de escolha dos 
representantes do povo [...]”5. 
 
 
5 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. São Paulo: Malheiros, 
2014, p. 139. 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho de curso tem como objeto os crimes eleitorais praticados por 
agentes públicos: uma análise do contexto da corrupção eleitoral e seus reflexos na 
democracia brasileira. Para isso, a pesquisa inicia com a apresentação do 
fundamento básico do Direito Eleitoralista, qual seja, a democracia. A consagração 
do mencionado regime no Brasil deveria significar a plena e efetiva participação 
popular nas decisões do Estado, aliada a satisfação do povo comestas decisões e a 
representação política de seus representantes. No entanto, vê-se a 
institucionalização de uma corrupção no setor público, agravada diariamente pela 
conduta de representantes do povo que relegam ao plano secundário o interesse 
público, fomentando o descrédito da população no Estado e nas suas instituições 
democráticas. Nesse contexto, busca-se apresentar os fundamentos do Estado 
Democrático de Direito e do Direito Eleitoral, analisando-se as práticas corruptivas 
de agentes públicos e a sua influência no seio popular, notadamente no âmbito da 
democracia representativa. Por fim, diante do contexto fático e desvirtuante que se 
encontra a política no Brasil, aliado ao modo comprometido da população entender a 
dinâmica do “jogo” eleitoral, avalia-se a possibilidade de uma mudança cultural de 
consciência política da sociedade, a fim de efetivar-se o ideal democrático. O 
método de abordagem utilizado na elaboração desse trabalho de curso foi o indutivo 
e o método de procedimento foi o monográfico. O levantamento de dados foi através 
da técnica da pesquisa bibliográfica. Os ramos de estudo foram nas áreas do Direito 
Eleitoral e do Direito Constitucional. Nas considerações finais, comprova-se que a 
corrupção eleitoral representa uma grave ameaça à democracia representativa no 
Brasil. 
 
Palavras-chave: Crimes eleitorais; corrupção eleitoral; democracia; democracia 
representativa. 
ABSTRACT 
 
 
The present work of course has as object the electoral crimes practiced by public 
agents: an analysis of the context of the electoral corruption and its reflexes in the 
Brazilian democracy. For this, the research begins with the presentation of the basic 
foundation of Electoral Law, that is, democracy. The consecration of the 
aforementioned regime in Brazil should signify full and effective popular participation 
in the decisions of the State, allied with the satisfaction of the people with these 
decisions and the political representation of their representatives. However, there is 
the institutionalization of corruption in the public sector, aggravated daily by the 
conduct of representatives of the people who relegate the public interest to the 
secondary level, fomenting the discredit of the population in the State and its 
democratic institutions. In this context, the aim is to present the foundations of the 
Democratic State of Law and Electoral Law, analyzing the corruptive practices of 
public agents and their influence in the popular sphere, especially within the 
framework of representative democracy. Finally, in view of the factual and deviant 
context of politics in Brazil, together with the committed way of the population to 
understand the dynamics of the electoral "game", the possibility of a cultural change 
of political consciousness of society is evaluated, in order to democratic ideal. The 
approach method used in the elaboration of this course work was the inductive one 
and the procedure method was the monographic one. The data collection was 
through the technique of bibliographic research. The fields of study were in the areas 
of Electoral Law and Constitutional Law. In the final considerations, it is proved that 
electoral corruption represents a serious threat to representative democracy in Brazil. 
 
 
Keywords: Electoral crimes; electoral corruption; democracy; representative 
democracy. 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11 
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 13 
DIREITO ELEITORAL: FUNDAMENTOS E ASPECTOS GERAIS .......................... 13 
1.1 A DEMOCRACIA .......................................................................................... 13 
1.1.1 Democracia participativa ou direta ........................................................... 14 
1.1.2 Democracia representativa ou indireta .................................................... 15 
1.1.3 O Estado Democrático de Direito ............................................................. 16 
1.2 CONCEPÇÃO DO DIREITO ELEITORAL .................................................... 18 
1.2.1 Fontes normativas ..................................................................................... 19 
1.2.1.1 Constituição Federal ................................................................................. 20 
1.2.1.2 Código Eleitoral ......................................................................................... 22 
1.2.1.3 Lei das Inelegibilidades ............................................................................. 22 
1.2.1.4 Lei dos Partidos Políticos .......................................................................... 24 
1.2.1.5 Lei das Eleições ........................................................................................ 24 
1.2.1.6 Normas Regulamentares: as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral ... 25 
1.2.1.7 Aplicação subsidiária da legislação civil e penal ao Direito Eleitoral ......... 26 
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 29 
CRIMES ELEITORAIS .............................................................................................. 29 
2.1 CONCEITOS ................................................................................................ 29 
2.2 NATUREZA JURÍDICA: CRIME COMUM OU CRIME POLÍTICO? .............. 30 
2.3 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES ELEITORAIS.................. 32 
2.3.1 Crimes puros ou específicos .................................................................... 33 
2.3.2 Crimes eleitorais acidentais ou inespecíficos ......................................... 33 
2.4 CRIMES ELEITORAIS EM ESPÉCIE: PREVISÃO LEGAL .......................... 34 
2.4.1 Captação ilícita de sufrágio (Art. 299 do Código Eleitoral e art. 41-A da 
Lei das Eleições) ..................................................................................................... 34 
2.4.2 Condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral (Arts. 
73 a 77 da Lei das Eleições) ................................................................................... 36 
2.4.2.1 Utilização de bens móveis ou imóveis públicos em benefício de 
candidatos, partidos ou coligações (art. 73, I) ........................................................... 37 
2.4.2.2 Utilização de materiais e serviços custeados pelos Governos ou Casas 
Legislativas (Art. 73, II) .............................................................................................. 38 
2.4.2.3 Utilização de servidores públicos em campanha eleitoral, durante o horário 
de expediente (Art. 73, III) ......................................................................................... 39 
2.4.2.4 Utilização promocional de distribuição gratuita de bens e serviços de 
caráter social (Art. 73, IV) .......................................................................................... 40 
2.4.2.5 Realização de movimentação de servidores públicos (Art. 73, V) ............ 41 
2.4.2.7 Vedação à realização de despesas com publicidade que excedam a média 
de gastos públicos (Art. 73, VII) ................................................................................ 45 
2.4.2.8 Vedação à revisão geral da remuneração de servidores públicos (Art. 73, 
VIII) 45 
2.4.3 Divulgação de pesquisa eleitoral fraudulenta (Art. 33, § 4º, da Lei das 
Eleições)................................................................................................................... 46 
CAPÍTULO 3 .............................................................................................................48 
CORRUPÇÃO ELEITORAL E SEUS REFLEXOS NA DEMOCRACIA 
REPRESENTATIVA .................................................................................................. 48 
3.1 CORRUPÇÃO ELEITORAL ......................................................................... 48 
3.2 A CRISE DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA ........................................ 49 
3.2.1 A representatividade dos agentes públicos ............................................ 52 
3.2.1.1 Agente público: corrupto ou corruptor? ..................................................... 55 
3.3 A TOMADA DE DECISÃO FRENTE AOS VALORES ÉTICOS E SOCIAIS .. 57 
3.4 AS CAUSAS E EFEITOS DA CORRUPÇÃO ELEITORAL, 
ESPECIALMENTE SOBRE A DEMOCRACIA NO BRASIL ....................................... 60 
3.4.1 A ameaça da base democrática e a necessidade de modificação da 
consciência popular ................................................................................................ 63 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 68 
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS................................................................... 71 
 
 
11 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O objeto do presente Trabalho de Curso são os crimes eleitorais 
praticados por agentes públicos: uma análise do contexto da corrupção eleitoral e 
seus reflexos na democracia brasileira. 
O seu objetivo institucional é a produção do Trabalho de Curso como 
requisito parcial a obtenção do grau de Bacharel em Direito pelo Centro Universitário 
para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI. 
O objetivo geral deste trabalho de curso é investigar se a prática de 
crimes eleitorais por agentes públicos ameaça a democracia representativa. 
Os objetivos específicos são: a) investigar as condutas ilícitas dos 
agentes públicos; b) analisar o contexto da corrupção eleitoral; c) discutir os efeitos 
dos crimes eleitorais praticados por agentes públicos e/ou pretensos candidatos; d) 
demonstrar a ilegitimidade das condutas que desequilibram o pleito eleitoral e 
ameaçam a democracia no Brasil. 
Na delimitação do tema levanta-se o seguinte problema: a prática de 
crimes eleitorais por agentes públicos ameaça a democracia representativa? 
Para o equacionamento do problema levanta-se a seguinte hipótese: 
supõem-se que a prática de crimes eleitorais por agentes públicos ameace a 
democracia representativa. 
O Método de abordagem a ser utilizado na elaboração desse trabalho de 
curso será o indutivo; o Método de procedimento será o monográfico; o 
levantamento de dados será através da técnica da pesquisa bibliográfica. 
A seleção do tema deu-se em razão da inquietude com o modo de fazer 
política no Brasil. A história indica uma herança cultural adquirida na época colonial 
e que atualmente revela uma situação de grave violação ao regime democrático 
consagrado no Estado brasileiro. Não obstante o conjunto de ordenamentos que 
buscam reprimir as práticas ilegais e abusivas do pleito eleitoral, o quadro de desvio 
de finalidade por parte de nossos representantes torna-se amplamente conhecido 
pela sociedade diariamente. Diante dessa relevante questão social que nos alcança, 
a escolha do tema busca identificar, apontar e avaliar os principais mecanismos de 
desvio de conduta utilizados por pretensos candidatos a fim de se elegerem, 
 
12 
 
 
assinalando os atos de corrupção que influem no enfraquecimento da democracia 
representativa. 
Principia-se, no Capítulo 1, com a abordagem do fundamento primeiro do 
Direito Eleitoral, qual seja, a democracia e suas formas, buscando-se elucidar a 
conceituação do regime democrático e do Estado Democrático de Direito. Adiante, 
discorre-se acerca das fontes normativas do Direito Eleitoral, ressaltando sua 
abrangência e relevância na compreensão da dinâmica eleitoral e constitucional, 
finalizando com a concepção do termo corrupção eleitoral na atualidade. 
O Capítulo 2 trata especificamente dos crimes eleitorais disciplinados 
legalmente, apresentando os conceitos e a discussão acerca da sua natureza 
jurídica, assim como a sua classificação doutrinária. Em seguida, ordena-se os 
crimes eleitorais em espécie, abordando seus principais aspectos e a busca pela 
garantia da legitimidade das eleições. 
O Capítulo 3 dedica-se a expor a atual crise democrática enfrentada no 
país, resultado da má representação política dos agentes públicos e candidatos a 
cargos eletivos, refletindo, ainda, sobre a identidade do agente público. 
Sucessivamente, passa-se a analisar a relação entre ética pública e a política, 
apresentando as causas e efeitos das práticas corruptivas no regime democrático 
brasileiro, e, por fim, a verificação dos resultados de tais atos, inclusive a suposta 
ameaça à sustentação da democracia, frente a necessidade de uma mudança da 
cultura política no Brasil. 
O presente Trabalho de Curso encerrar-se-á com as Considerações 
Finais, nas quais serão apresentados pontos essenciais destacados dos estudos e 
das reflexões acerca dos crimes eleitorais praticados por agentes públicos, assim 
como do contexto da corrupção eleitoral e seus reflexos na democracia brasileira. 
 
 
 
 
13 
 
 
CAPÍTULO 1 
 
 
DIREITO ELEITORAL: FUNDAMENTOS E ASPECTOS GERAIS 
 
 
1.1 A DEMOCRACIA 
 
A palavra tem origem do grego, onde “demos” significa “povo” e “kratia” ou 
“kratos”, quer dizer “governo”. A mais popular definição para a democracia é 
“governo do povo”, concepção nuclearmente defendida por teóricos como Jean-
Jacques Rousseau, que afirmava a vontade geral como elemento crucial para a 
legítima soberania do povo, fundando-se, a partir dessa compreensão, as bases da 
democracia como governo do povo6. 
Na obra intitulada “A Democracia”, de Renato Janine Ribeiro, o autor 
discorre acerca do termo afirmando que não importa necessariamente quem esteja 
no governo (se apenas uma pessoa ou um grupo de pessoas), o que interessa para 
a democracia é que o poder, em última análise, seja do povo. O poder do povo 
consiste, portanto, em escolher o indivíduo ou grupo de pessoas que governa, 
controlando a forma de atuação de seus governantes7. 
No mesmo sentido, Reinaldo Dias ensina que: 
 
Atualmente a ideia de democracia evoluiu e se identifica, basicamente, com 
a democracia política que, de um modo geral, pode ser definida como uma 
forma de governo em que o poder político não pertence a nenhum grupo 
determinado e limitado de pessoas ou a uma pessoa, mas, na forma do 
direito, a todo o povo8. 
 
Por sua vez, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira e Camila 
Medeiros de Albuquerque Pontes Luz de Pádua Cerqueira, explanam este conceito 
afirmando que se trata de um regime político onde a participação do povo é 
permitida no processo decisório, assim como a sua influência na gestão dos 
 
6 GODOY, Miguel Gualano de. Constitucionalismo e democracia: uma leitura a partir de Carlos 
Santiago Nino e Roberto Gargarella. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 36-37. 
7 RIBEIRO, Renato Janine. A Democracia. 3 ed. São Paulo: Publifolha, 2013, p. 9. 
8 DIAS, Reinaldo. Ciência Política. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 175. 
 
14 
 
 
empreendimentos do Estado9. 
Nessa perspectiva, a democracia constitui a mola mestra do Direito 
Eleitoral, a partir de onde se encontram embasados todos os princípios que norteiam 
as normas materiais e processuais que lhe são afetas10. 
 
 
1.1.1 Democracia participativa ou direta 
 
Na Grécia antiga, especificamente em Atenas, nascedouro da 
democracia, o poder era exercido pelo povo diretamente, através da praça pública11. 
Era a denominadademocracia direta, a qual durou cerca de dois séculos, onde o 
poder decisório das questões políticas fundamentais era atribuído a todos os 
cidadãos atenienses12. 
Historicamente, a democracia participativa ou direta caracteriza-se 
quando o povo exerce por si, os poderes governamentais, elaborando as leis, 
administrando e julgando13. Nesse sentido, a democracia direta pode ser entendida 
como autogovernante, ou seja, um regime político sem representantes ou 
mecanismos de representatividade14. 
O notável filósofo suíço Rousseau, em sua obra “Do contrato social”, 
afirmava a democracia direta como o único modelo legítimo do supremo poder 
exercido pelo povo15, caracterizando-a pela participação direta e pessoal da 
cidadania na formação dos atos de governo16. 
Ocorre que este modelo político defendido por notáveis filósofos e 
pensadores do século XVIII, demonstrou-se inviável em razão do fator dimensional. 
É que a efetivação de uma democracia puramente direta, literal e autogovernante, 
 
9 CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua; CERQUEIRA, Camila Medeiros de Albuquerque 
Pontes Luz de Pádua. Tratado de direito eleitoral: direito material eleitoral parte I. Tomo I. São 
Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 183. 
10 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 38. 
11 RIBEIRO, Renato Janine. A Democracia. 3 ed. São Paulo: Publifolha, 2013, p. 10. 
12 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40 ed. São Paulo: 
Saraiva, 2014, p. 111. 
13 LENZA, Pedro. Direito eleitoral esquematizado. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 112. 
14 SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada. São Paulo: Ática, 1994, p. 156. 
15 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40 ed. São Paulo: 
Saraiva, 2014, p. 112. 
16 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. São Paulo: Malheiros, 
2014, p. 143. 
15 
 
 
somente seria possível em grupos relativamente pequenos de pessoas17. 
Esse fator de inviabilidade da democracia direta se dá em virtude da 
enorme dificuldade encontrada em reunir todos os cidadãos do Estado para deliberar 
acerca dos assuntos políticos, fazendo com que se chegue à conclusão de que a 
democracia direta não é um modelo viável em qualquer Estado18. 
 
 
1.1.2 Democracia representativa ou indireta 
 
O governo representativo deu-se em meio à aristocracia. Tem-se que as 
primeiras formas de representação ocorreram através do sufrágio censitário, o qual 
atribuía apenas a uma parcela do povo o direito de participar da vida política, 
excluindo os mais pobres. Contudo, ao final do século XIX, o sufrágio censitário 
começou a ser abandonado, dando espaço à implementação do sufrágio universal19. 
Com o direito de voto estendido à (quase) todo o povo, esse modelo de 
governo passou a ser conhecido como democracia representativa, onde o povo 
governa indiretamente, através dos governantes que elege. Dessa forma, segundo o 
próprio nome pressupõe, a democracia representativa caracteriza-se pela escolha 
dos representantes pelo povo, os quais passam a agir presumidamente no interesse 
da sociedade20. 
Nas palavras de José Afonso da Silva: 
 
Democracia indireta, chamada democracia representativa, é aquela na qual 
o povo, fonte primária do poder, não podendo dirigir os negócios do Estado 
diretamente, em face da extensão territorial, da densidade demográfica e da 
complexidade dos problemas sociais, outorga as funções de governo aos 
seus representantes, que elege periodicamente21. 
 
Essa ideia de democracia implica necessariamente no mandato político, 
isto é, a outorga de poderes dos eleitores ao eleito, para que este exerça o poder em 
 
17 SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada. São Paulo: Ática, 1994, p. 156. 
18 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40 ed. São Paulo: 
Saraiva, 2014, p. 112. 
19 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40 ed. São Paulo: 
Saraiva, 2014, p. 113-114. 
20 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40 ed. São Paulo: 
Saraiva, 2014, p. 113-114. 
21 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. São Paulo: Malheiros, 
2014, p. 71. 
16 
 
 
nome do povo (eleitores). Logo, tem-se o eleitorado como mandante e o eleito como 
mandatário22. 
É nessa perspectiva que se diz que a participação popular nesse regime 
democrático é indireta, periódica e formal, vez que os eleitores escolhem os seus 
representantes por via das instituições eleitorais23. 
Contudo, a democracia indireta não pode ser resumida a escolha de 
autoridades governamentais que representem a vontade do povo. Há no contexto 
dessa ordem democrática um ponto decisório fundamental, o qual ultrapassa a mera 
função designatória de um representante, qual seja, a adesão do povo a uma política 
governamental, através do seu consentimento, conferindo legitimidade ao 
representante eleito24. 
Rubens Beçak retrata o assunto citando diversos estudiosos que 
lembraram a questão: 
 
A respeito, Paulo Bonavides refere que, já em 1698, Algernon Sidney 
perorava no sentido de que os membros do Parlamento não seriam meros 
“emissários desta ou daquela circunscrição eleitoral”, mas representantes 
“de todo o reino” [...]25. 
 
Não obstante, à luz das garantias e direitos dos cidadãos, cabe a ordem 
democrática criar ou consolidar instrumentos eficientes que assegurem a 
participação social em todas as áreas, inclusive o incentivo à fé nos valores da 
solidariedade e da cooperação26. 
 
 
1.1.3 O Estado Democrático de Direito 
 
A composição do Estado Democrático de Direito reúne os princípios do 
Estado Democrático e do Estado de Direito, formando um novo conceito que supera 
 
22 CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua; CERQUEIRA, Camila Medeiros de Albuquerque 
Pontes Luz de Pádua. Tratado de direito eleitoral: direito material eleitoral parte I. São Paulo: 
Premier Máxima, 2008, p. 189. 
23 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 139. 
24 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 140. 
25 BEÇAK, Rubens. Democracia: hegemonia e aperfeiçoamento. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 23. 
26 SILVEIRA, José Néri. Democracia representativa e processo eleitoral. Estudos 
Eleitorais. Brasília, v. 2, n. 2, mai./ago. 2006. 
17 
 
 
a simples reunião de seus respectivos elementos27. 
Na origem, a ideia de Estado de Direito advém do liberalismo, que divide 
o Estado de Direito em três pontos característicos, quais sejam, a submissão à lei, a 
divisão de poderes e a garantia dos direitos individuais28. Contudo, José Afonso da 
Silva ensina que o Estado de Direito nem sempre caracterizará um Estado 
Democrático. 
De acordo com o autor, o Estado Democrático se fundamenta no princípio 
da soberania popular (poder do povo), tendo como objetivo principal a realização 
deste princípio democrático como forma de garantia dos direitos fundamentais da 
pessoa humana29. Em suma, descreve a existência do Estado Democrático de 
Direito da seguinte forma: 
 
A democracia que o Estado Democrático de Direito realiza há de ser um 
processo de convivência social numa sociedade livre, justa e solidária (art. 
3º, I), em que o poder emana do povo, e deve ser exercido em proveito do 
povo, diretamente ou por representantes eleitos (art. 1º, parágrafo único); 
participativa, porque envolve a participação crescente do povo no processo 
decisório e na formação dosatos de governo; pluralista, porque respeita a 
pluralidade de idéias, culturas e etnias e pressupõe assim o diálogo entre 
opiniões e pensamentos divergentes e a possibilidade de convivência de 
formas de organização e interesses diferentes da sociedade; há de ser um 
processo de liberação da pessoa humana das formas de opressão que não 
depende apenas do reconhecimento formal de certos direitos individuais, 
políticos e sociais, mas especialmente da vigência de condições 
econômicas suscetíveis de favorecer o seu pleno exercício30. 
 
Por sua vez, ao dissertar sobre o Estado Democrático de Direito, 
Alexandre de Moraes aduz que: 
 
O Estado Democrático de Direito, que significa a exigência de reger-se por 
normas democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo, bem 
como o respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias 
fundamentais, proclamado no caput do artigo, adotou, igualmente, no seu 
parágrafo único, o denominado princípio democrático, ao afirmar que "todo 
o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou 
diretamente, nos termos desta Constituição".31 
 
Convém destacar que a Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988 restabeleceu a democracia no Brasil após um longo período sob o domínio da 
 
27 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 114. 
28 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 114-115. 
29 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 119. 
30 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 121-122. 
31 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 41. 
18 
 
 
ditatura militar, trazendo mudanças históricas na seara do Direito Eleitoral, tais como 
a instituição do voto obrigatório aos maiores de 18 anos e do voto facultativo aos 
jovens entre 16 e 18 anos e para os maiores de 70 anos32. 
Nesse sentido, à luz da Carta Magna de 1988, o princípio democrático é 
instituído expressamente pelo art. 1º, assim como seu parágrafo único, os quais 
estabelecem os princípios estruturantes e fundamentais da República brasileira, 
notadamente a consagração do Estado Democrático de Direito. 
 
 
1.2 CONCEPÇÃO DO DIREITO ELEITORAL 
 
O Direito Eleitoral é o ramo do direito público que disciplina as normas 
regulamentadoras do direito de votar, ser votado e a forma com que se darão as 
eleições33. Ao discorrer sobre o assunto, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua 
Cerqueira e Camila Medeiros de Albuquerque Pontes Luz de Pádua Cerqueira 
ensinam que o Direito Eleitoral é responsável por assegurar a participação popular 
ativa e passiva no processo de escolha de seus representantes, vejamos: 
 
Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público (Direito Constitucional) que visa 
o direito ao sufrágio, a saber, o direito público subjetivo de natureza política 
que confere ao cidadão a capacidade eleitoral ativa (de eleger outrem – 
direito de votar - alistabilidade) e capacidade eleitoral passiva (de ser eleito - 
elegibilidade), bem como o direito de participar do governo e sujeitar-se à 
filiação, à organização partidária e aos procedimentos criminais e cíveis 
(inclusive regras de votação, apuração, etc.) e, em especial, à preparação, 
regulamentação, organização e apuração das eleições34. 
 
Na lição de Roberto Moreira de Almeida, Direito Eleitoral é: 
 
[...] o ramo do Direito Público constituído por normas e princípios 
disciplinadores do alistamento, da convenção partidária, do registro de 
candidaturas, da propaganda política, da votação, da apuração e da 
diplomação dos eleitos, bem como das ações, medidas e demais garantias 
relacionadas ao exercício do sufrágio popular35. 
 
32 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 39. 
33 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 37. 
34 CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua; CERQUEIRA, Camila Medeiros de Albuquerque 
Pontes Luz de Pádua. Tratado de direito eleitoral: direito material eleitoral parte I. Tomo I. São 
Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 175. 
35 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 
19 
 
 
 
Em outras palavras, é possível descrever este campo do direito como um 
sub-ramo que busca normatizar as diversas situações político-eleitorais que existem, 
isto é, os direitos políticos, os agentes políticos, as agremiações políticas e a própria 
eleição36. 
Uma vez compreendida a abrangência do Direito Eleitoral, não é difícil 
perceber que esta disciplina jurídica tem o seu bojo maior esculpido no Direito 
Constitucional, o qual abarca institutos centrais, tais como a soberania popular, a 
democracia, o sufrágio, os direitos políticos, o mandato político, o voto e os partidos 
políticos. 
Nesse sentido, Luiz Vicente Cernicchiaro e Paulo José da Costa Jr. 
descrevem o Direito Eleitoral como um dos ramos mais dinâmicos do Direito 
Constitucional, uma vez que envolve tanto os supremos interesses políticos da 
comunidade, quanto a responsabilidade pelo mecanismo adequado capaz de 
garantir a democracia37. 
 
 
1.2.1 Fontes normativas 
 
Segundo o dicionário de Língua Portuguesa, o vocábulo fonte, na 
linguagem figurada, é compreendido como “[...] 3. Local de origem de alguma coisa; 
origem, procedência, proveniência [...]”38. O termo fonte é utilizado, portanto, para 
referenciar a origem de algo, isto é, a sua procedência, o lugar onde nasceu ou, 
ainda, onde surgiu. No campo do Direito Eleitoral, coexistem duas espécies de 
fontes: as fontes materiais e as fontes formais. 
As fontes materiais são os múltiplos fatores externos que influenciam o 
legislador na elaboração das leis, podendo compreender tendências e fenômenos 
diversos da sociedade. Já as fontes formais, caracterizam-se como os meios ou 
 
43. 
36 BARRETTO, Rafael. Direito eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 27. 
37 CERNICCHIARO, Luiz Vicente; COSTA JR., Paulo José da. Direito penal na Constituição. 2ª ed. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 26 e 30, apud CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de 
Pádua; CERQUEIRA, Camila Medeiros de Albuquerque Pontes Luz de Pádua. Tratado de direito 
eleitoral: direito material eleitoral parte I. Tomo I. São Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 175. 
38 MICHAELIS. Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: 
<http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/fonte/>. Acesso em: 6 
mar. 2018. 
20 
 
 
mecanismos através dos quais “os juízos jurídicos são fundamentados”39. 
Por sua vez, Roberto Moreira de Almeida destaca outra classificação 
referente as fontes do Direito Eleitoral, distinguindo-as entre fontes indiretas e fontes 
diretas. Esta, referindo-se as normas de aplicação primária e, àquela, definindo as 
normas de aplicação subsidiária, ou seja, que podem ser utilizadas de forma 
supletiva no âmbito do Direito Eleitoral40. 
Neste norte, a CRFB/1988 constitui a fonte pioneira do Direito Eleitoral, da 
qual decorrem as premissas básicas de todo o ordenamento eleitoralista, sendo sua 
observância de caráter estritamente obrigatório na elaboração de novas normas 
jurídicas, sob pena de inconstitucionalidade do ato. 
 
 
1.2.1.1 Constituição Federal 
 
O alicerce principal do Direito Eleitoral é sem sombra de dúvidas o DireitoConstitucional. A Constituição Federal é a lei soberana de um Estado, composta por 
um conjunto de normas que regula a elaboração de outras normas de natureza 
infraconstitucional41. 
Para Alexandre de Moraes: 
 
Constituição deve ser entendida como a lei fundamental e suprema de um 
Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à 
formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de 
governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos 
cidadãos42. 
 
Nos dizeres de Reinaldo Dias: 
 
Considerando o aspecto material, a Constituição é o complexo de normas 
jurídicas fundamentais, escritas ou não, que constituem o referencial de um 
ordenamento jurídico. Em sentido formal, constitui o conjunto de normas 
legislativas que ocupam uma posição especial e suprema no ordenamento 
jurídico e que regulam as funções e os órgãos fundamentais do Estado. 
Estas normas são formuladas por órgãos especiais, ou através de 
procedimentos mais rigorosos que aqueles que correspondem às leis 
 
39 GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 30. 
40 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 
45 e 47. 
41 LUCON, Paulo Henrique dos Santos; VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Código Eleitoral 
Interpretado. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 434. 
42 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 29. 
21 
 
 
ordinárias. A Constituição é a norma suprema, que determina o sistema de 
produção do direito. Goza de supremacia, ou seja, de nível superior às 
demais normas do ordenamento jurídico, que não a podem contradizer. 
Juntamente com a rigidez constitucional, essa supremacia é garantida pelo 
controle jurídico da constitucionalidade das leis, que comprova a adequação 
do direito positivo à Constituição43. 
 
 É possível considerar que o Direito Eleitoral eclode a partir do art. 1º da 
Carta Magna, que dispõe “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela 
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em 
Estado Democrático de Direito [...]”44. O parágrafo único do mesmo dispositivo 
também aponta para uma evidência do nascedouro do Direito Eleitoral, ao 
mencionar: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes 
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”45. 
O termo que merece destaque no dispositivo constitucional é Estado 
Democrático de Direito. A ideia de democracia – veremos mais adiante – está 
intimamente ligada à concentração do poder político nas mãos do povo. Nesse 
sentido, ao Direito Eleitoral cumpre o papel de efetivar e garantir o exercício da 
democracia (sistema político adotado pela CRFB/1988), na medida em que são as 
normas estabelecidas por ele que irão garantir que o povo exerça o seu direito ao 
sufrágio de forma livre. Nas palavras de Flávio Cheim Jorge, Ludgero Liberato e 
Marcelo Abelha Rodrigues: “[...] é a adoção da democracia representativa que faz 
nascer o Direito Eleitoral, para regular o sufrágio, meio pelo qual são escolhidos os 
representantes”46. 
A Carta Magna é, assim, a fonte primária do Direito Eleitoral brasileiro, 
onde estão introduzidos os princípios eleitorais fundamentais, as disposições acerca 
da forma e sistema de governo, além de normas gerais referentes aos direitos 
políticos, competência legislativa e organização da Justiça Eleitoral, cabendo ao 
Código Eleitoral e às leis complementares estabelecerem os limites dos direitos 
 
43 DIAS, Reinaldo. Ciência Política. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 226. 
44 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 
de outubro de 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 10 mai. 
2018. 
45 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 
de outubro de 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 10 mai. 
2018. 
46 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 39. 
22 
 
 
políticos e outras especificações47. 
 
 
1.2.1.2 Código Eleitoral 
 
O Código Eleitoral, promulgado pela Lei Ordinária n. 4.737/1965, foi 
recepcionado em parte pela Carta Magna de 1988 com status de Lei Complementar, 
nos termos de seu artigo 12148. 
A Lei n. 4.737/1965 cuidou de relacionar e regulamentar os direitos de 
votar e ser votado, a composição e competência da Justiça Eleitoral, as regras 
referentes ao alistamento, ao registro de candidaturas, à propaganda política, aos 
sistemas eleitorais e aos atos preparatórios das eleições, assim como estabeleceu 
as regras atinentes à votação, à apuração dos votos e à diplomação dos candidatos 
eleitos49. 
Contudo, é salutar destacar que muitos dispositivos de seu texto foram 
revogados pela própria CRFB/1988, assim como pelas legislações supervenientes 
que derrogam o Código Eleitoral. São exemplos práticos a Lei das Inelegibilidades 
(LC n. 64/90), a Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/95) e a Lei das Eleições (Lei 
n. 9.504/1997), as quais também constituem fontes essenciais e diretas do Direito 
Eleitoral. 
 
 
1.2.1.3 Lei das Inelegibilidades 
 
A Lei Complementar n. 64/1990 foi promulgada em atendimento ao 
preceito estampado na CRFB/1988, especificamente em seu art. 14, parágrafo nono, 
que determinou, além dos casos de inelegibilidade previstos em seu teor, a criação 
de Lei Complementar que estabelecesse outros casos de inelegibilidade e seus 
respectivos prazos de cessação, a fim de garantir a moralidade e a legitimidade do 
 
47 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 
45-46. 
48 Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de 
direito e das juntas eleitorais. BRASIL. Lei n. 4.737 de 15 de julho de 1965. Institui o Código 
Eleitoral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4737compilado.htm>. Acesso em: 
29 mar. 2018. 
49 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 
46. 
23 
 
 
processo eleitoral50. 
A autorização constitucional para a criação de outras hipóteses de 
inelegibilidade decorre da necessidade de preservação da soberania popular. Uma 
vez adotado o modelo de governança baseado na democracia representativa, é 
evidente que quem elegerá os mandatários que exercerão o poder em nome do 
povo, será o próprio povo51. 
Para tanto, é crucial que as pessoas que pretendem exercer o direito de 
ser votado e exercer qualquer mandato político possuam reputação ilibada e 
idoneidade ética e moral. É sob esse escopo que a Carta Magna determinou a 
criação de outras hipóteses de inelegibilidade, a fim de que os pretensos candidatos 
se submetam ao crivo das hipóteses legais relacionadas à vida pregressa do 
candidato, à moralidade de sua atuação, a lisura das eleições, a igualdade dos 
candidatos, a proteção contra o abuso de poder político, de poder econômico e de 
autoridade, selecionando, assim, as pessoas que poderão e aquelas que não 
poderão ser candidatas a um cargo eletivo52. 
A Lei Complementar n. 64/90 foi alterada pela superveniência da Lei 
Complementar n. 135/2010 (Lei da Ficha Limpa), a qual ampliou as causas de 
inelegibilidade previstas na LC n. 64/90, atribuindo-lhe um caráter mais rígido, na 
medida em que adotou o prazo uniformede oito anos de inelegibilidade e considerou 
inelegíveis os condenados por órgão judicial colegiado em decisão não transitada 
em julgado, nos casos que deixou expressamente disposto no art. 1º, inciso I, alínea 
e, da Lei das inelegibilidades53. 
 
 
 
 
 
50 Art. 14, § 9º. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua 
cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato 
considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a 
influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na 
administração direta ou indireta. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República 
Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 29 abr. 
2018. 
51 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 111. 
52 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 111. 
53 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de inelegibilidade comentada. São Paulo: Atlas, 2014, p. 4. 
24 
 
 
1.2.1.4 Lei dos Partidos Políticos 
 
A Lei n. 9.096/1995 dispõe sobre a criação dos partidos políticos 
brasileiros, o funcionamento parlamentar, a filiação partidária, a prestação de contas, 
o fundo partidário, o acesso gratuito ao rádio e à televisão e, ainda, regulamenta os 
arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da CRFB/1988. 
A Lei dos Partidos Políticos constitui uma das principais legislações do 
Direito Eleitoral, assumindo grande relevância em virtude de suas disposições 
estruturantes dos Partidos Políticos, essencial para a efetivação da democracia 
representativa, uma vez que para disputar qualquer pleito eleitoral, é indispensável 
que o cidadão se encontre filiado à um Partido Político54. 
Assim, todas as regras atinentes aos Partidos Políticos e os seus 
respectivos procedimentos estão previstas na Lei n. 9.096/95, a qual consagrou a 
autonomia dos Partidos Políticos, em consonância com a Carta Magna de 1988. 
 
 
1.2.1.5 Lei das Eleições 
 
A Lei n. 9.504/1997 representa um significativo avanço prático na 
estrutura e dinâmica do Direito Eleitoral. Isso porque antes de sua promulgação 
eram redigidas leis próprias a cada eleição, o que não colaborava para a agilidade e 
eficiência da Justiça Eleitoral. 
Com o advento da Lei das Eleições, unificou-se em apenas um 
ordenamento normas de natureza material e processual, prevendo, assim, as regras 
atinentes ao registro de candidatos, as convenções partidárias, as coligações, a 
arrecadação, gastos e prestação de contas de campanha, as pesquisas eleitorais, as 
propagandas políticas, ao direito de resposta, as condutas vedadas, entre outras 
disposições de natureza material55. 
 Acerca das disposições de natureza processual, Flávio Cheim Jorge, 
Ludgero Liberato e Marcelo Abelha Rodrigues, pontuam três disposições que 
merecem destaque: a primeira, refere-se ao tipo legal inserido no art. 41-A, intitulado 
 
54 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 55. 
55 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 56. 
25 
 
 
de “Captação Ilícita de Sufrágio”, que objetiva punir os candidatos que pretendam 
influenciar ilicitamente na livre escolha do eleitor, seja doando, oferecendo, 
prometendo ou entregando, ao eleitor, com o fim de obter seu voto, bem ou 
vantagem pessoal de qualquer natureza56. 
Em segundo lugar, chamam a atenção para o art. 73 e seguintes do 
mesmo diploma, o qual recebe a denominação “Das Condutas Vedadas aos Agentes 
Públicos em Campanhas Eleitorais”. Do mesmo modo como anda todo o 
ordenamento eleitoral, esta parte da LE cuidou de resguardar a máquina pública, 
impedindo que os candidatos a utilizem para sua autopromoção, contribuindo, assim, 
para uma disputa eleitoral mais equilibrada, pautada na isonomia entre os 
candidatos e na vedação ao abuso do poder político57. 
Além disso, a Lei n. 9.504/1997 estabeleceu um procedimento 
sumaríssimo e documental para penalizar o descumprimento das normas relativas 
ao pleito eleitoral, prevendo diversas minúcias que estão previstas a partir do art. 96 
da Lei das Eleições58. 
 
 
1.2.1.6 Normas Regulamentares: as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral 
 
As resoluções ou instruções são as normas emitidas no âmbito da Justiça 
Eleitoral, pelo Tribunal Superior Eleitoral, que detém o poder regulamentar para 
editar atos normativos, tratando de esmiuçar as leis eleitorais, conforme autorização 
legal prevista no art. 1º, parágrafo único, do Código Eleitoral, e art. 105, da Lei das 
Eleições59. 
As resoluções editadas pelo TSE se enquadram na classificação de fonte 
indireta, não obstante figurarem como uma das fontes de maior relevância na seara 
do Direito Eleitoral, haja vista que elucidam as lacunas da legislação eleitoralista. 
Tratam-se, na expressão de Roberto Moreira de Almeida, de normas editadas no 
 
56 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 56-57. 
57 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 57. 
58 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 57. 
59 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 66. 
26 
 
 
exercício de poder regulamentar, isto é, “secundum legem”60. 
 
Nesse viés, é de competência da Justiça Eleitoral a edição de atos que 
regulamentem as normas do CE/1965, sendo que, na hipótese de conflito entre 
resoluções ou instruções normativas e a CRFB/1988, por certo, prevalecerá a norma 
maior e aquelas de caráter infraconstitucional61. 
No ensinamento de Paulo Henrique dos Santos Lucon e José Marcelo 
Menezes Vigliar, as resoluções emitidas pelo TSE possuem força de Lei Ordinária, 
afirmando a autorização legal para a interposição de Recurso Especial Eleitoral em 
caso de sua violação. Ainda, destacam que eventual excesso de poder regulamentar 
pode justificar o controle de constitucionalidade do ato62. Na hipótese, indicam a 
jurisprudência consolidada nesse sentido: 
 
Art. 21, § 1º, do RISTF. Ausência de direito líquido e certo. Razões 
divergentes da jurisprudência da corte. Invocação de resoluções do TSE. 
Possibilidade. Partidos políticos. Norma do art. 6º, § 1º, da Lei nº 9.504/97. 
Arguição de inconstitucionalidade. Não cabimento. Agravo Regimental 
desprovido. As resoluções da Justiça Eleitoral, originadas das 
consultas formuladas aos seus tribunais, possuem forca normativa, 
servindo à aplicação do disposto no art. 21, § 1º, do RISTF. As regras 
constitucionais atinentes aos partidos políticos não se conflitam com o 
disposto no art. 6º, § 1º, da Lei nº 9.504/97. Agravo Regimental a que se 
nega provimento63. (Grifou-se). 
 
Portanto, as resoluções dos Tribunais Eleitorais constituem elemento 
fundamental para dirimir imprecisões na aplicação das normas jurídicas eleitoralistas 
e estabelecer limites e critérios para cada região64. 
 
 
1.2.1.7 Aplicação subsidiária da legislação civil e penal ao Direito Eleitoral 
 
Assim como as instruçõesnormativas dos Tribunais Eleitorais, há outras 
 
60 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 
48. 
61 LUCON, Paulo Henrique dos Santos; VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Código Eleitoral 
Interpretado. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 2. 
62 LUCON, Paulo Henrique dos Santos; VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Código Eleitoral 
Interpretado. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 2. 
63 AgRMS no 3119, j. 27/2/03, Rel. Min. Raphael de Barros Monteiro Filho, DJ 09/05/03, p. 165. 
64 CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua; CERQUEIRA, Camila Medeiros de Albuquerque 
Pontes Luz de Pádua. Tratado de direito eleitoral: direito material eleitoral parte I. Tomo I. São 
Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 856. 
27 
 
 
legislações de aplicação indireta ou supletiva ao Direito Eleitoral, tais como os 
Códigos de Processo Civil e Penal e o Código Penal de 1940. 
A aplicação das normas processuais eleitorais encontra um grande 
desafio na lacuna da legislação. Na ausência de normas aptas a regulamentarem os 
procedimentos eleitorais, cabe aos operadores do direito a utilização de outros 
diplomas como norma de aplicação subsidiária. 
Nesse sentido, determinou o art. 364 do Código Eleitoral65, a aplicação 
supletiva do CPP ao Direito Eleitoral nos casos de julgamento de crimes eleitorais ou 
crimes comuns conexos, inclusive na fase de recursos e execução. Seguindo a 
mesma orientação, o CP/1940 já previa em seu art. 1266 a aplicação de suas regras 
gerais aos fatos tipificados como crime pela legislação especial67. 
Na seara cível, contudo, não houve a criação de nenhuma disposição que 
indicasse a aplicação subsidiária de dispositivos civis à procedimentos eleitorais. No 
tocante a isso, a doutrina é assente no sentido de que é possível extrair conceitos 
nucleares de seu ordenamento. 
Nesse viés, Roberto Moreira de Almeida afirma que: 
 
O Direito Civil fornece ao Direito Eleitoral, dentre outros, os conceitos de 
domicílio, pessoa física e jurídica, capacidade, responsabilidade, direitos de 
personalidade, decadência e prescrição. Também fixa graus de parentesco 
e regramentos para casamento, união estável e união homoafetiva [...]68. 
 
Ainda, Flávio Cheim Jorge, Ludgero Liberato e Marcelo Abelha Rodrigues 
fazem referência as mesmas definições trazidas pela legislação civil, acrescentando 
outras, quais sejam, os conceitos fundamentais de capacidade jurídica, nulidade, 
anulabilidade, dolo, fraude, coação, cônjuge, parentes consanguíneos, afins e 
adotivos com as graduações correspondentes69. 
 
65 Art. 364. No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns que lhes forem conexos, 
assim como nos recursos e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á, como lei subsidiária 
ou supletiva, o Código de Processo Penal. BRASIL. Lei n. 4.737 de 15 de julho de 1965. Institui o 
Código Eleitoral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4737compilado.htm>. 
Acesso em: 29 mar. 2018. 
66 Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta 
não dispuser de modo diverso. BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código 
Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. 
Acesso em: 10 mai. 2018. 
67 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 57. 
68 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 
47. 
69 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
28 
 
 
No que tange à legislação processual civil, o recente CPC (Lei n. 
13.105/2015) cuidou de contemplar em seu art. 1570 a hipótese de lacuna da lei 
processual eleitoral, dispondo que nestes casos, caberá a aplicação supletiva da 
norma processual civil71. 
Diante das diversas fontes normativas de que se utiliza o Direito Eleitoral, 
observa-se que a Carta Magna de 1988, além de prever a proteção jurídica à bens 
como os da dignidade da pessoa humana, vida e patrimônio, também cuidou de 
abranger a proteção penal sobre os bens jurídicos existentes no campo eleitoralista, 
são os denominados crimes eleitorais, que trataremos no capítulo posterior72. 
O próximo capítulo, assim, irá tratar das definições e classificações 
trazidas pela doutrina acerca dos crimes eleitorais, assim como cuidará da análise 
de alguns tipos penais eleitorais em espécie. 
 
 
 
 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 57. 
70 Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, 
as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. BRASIL. Lei n. 
13.105 de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 10 mai. 2018. 
71 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 58. 
72 GONÇALVES, Luiz Carlos dos Santos. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São 
Paulo: Atlas, 2015, p. 2. 
29 
 
 
CAPÍTULO 2 
 
 
CRIMES ELEITORAIS 
 
 
2.1 CONCEITOS 
 
O Direito Penal Eleitoral, busca garantir a regularidade das eleições 
através da incriminação de condutas que ameacem a legitimidade do processo 
eleitoral e do voto livre, tudo com o escopo de blindar a democracia de práticas que 
afrontem seus princípios basilares73. São os denominados crimes eleitorais. 
Os crimes eleitorais são assim designados a fim de especificar a 
concepção do crime em geral, objetivando sobretudo a guarda de bens e valores 
político-eleitorais, de caráter eminentemente público e indispensáveis à legítima 
ocupação de cargos eletivos e, logo, para o regular exercício da democracia74. 
Na concepção de Marino Pazzaglini Filho e Maria Fernanda Pessatti de 
Toledo, a legislação eleitoral tipifica como crimes as transgressões a ordem eleitoral, 
consideradas como graves, praticadas mediante ação ou omissão dolosa, 
especialmente durante o transcurso do processo eleitoral, por candidatos, agentes 
públicos e demais eleitores envolvidos75. 
Em outras palavras, Antonio Carlos da Ponte aduz que: 
 
Crimes eleitorais são condutas descritas na lei como atentatórias à lisura, 
transparência, correta formação e desenvolvimento do processo eleitoral, 
que tem como resposta penal destinada a seus responsáveis a imposição 
da correspondente sanção penal, sem prejuízo da suspensão dos direitos 
políticos76. 
 
André Ramos Tavares apud obra intitulada “Ilícitos Eleitorais”, do Tribunal 
Superior Eleitoral, conceitua: 
 
73 PAZZAGLINI FILHO, Marino; TOLEDO, Maria Fernanda Pessatti de. Eleições municipais. 1 ed. 
São Paulo: Atlas, 2016, p. 150. 
74 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, 
p. 2. 
75 PAZZAGLINI FILHO, Marino; TOLEDO, Maria Fernanda Pessatti de. Eleições municipais. 1 ed. 
São Paulo: Atlas, 2016, p. 150. 
76 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 32. 
30 
 
 
 
É a conduta, prevista expressamente em lei, cuja ocorrência acarreta a 
aplicação de sanção penal. Diz-se, tecnicamente, que essas condutas 
constituem tipos penais eleitorais. Os valores eleitorais constitucionais 
basilares, tais como a liberdade de votar, a igualdade, o sigilo do voto, a 
democracia, e outros,devem ser protegidos por meio da criminalização das 
condutas a eles contrárias. [...]77. 
 
Nesse sentido, resta considerar que os crimes eleitorais se caracterizam 
como infrações previamente descritas na legislação eleitoral, punidas criminalmente, 
que dizem respeito a todo o processo eleitoralista e aos indivíduos envolvidos nele. 
 
 
2.2 NATUREZA JURÍDICA: CRIME COMUM OU CRIME POLÍTICO? 
 
A discussão acerca da natureza dos crimes eleitorais encontra grande 
relevância no contexto do Direito Penal Eleitoral. A respeito, debate-se sobre o seu 
enquadramento nas categorias de crime comum ou crime político. 
Na definição trazida pelo jurista Damásio de Jesus, os crimes comuns se 
caracterizam por lesar bens jurídicos do cidadão, da família ou da sociedade, ao 
passo que os crimes políticos atingem a segurança interna ou externa do Estado ou, 
ainda, a sua personalidade78. 
José Jairo Gomes conceitua os crimes comuns como aqueles que podem 
ser cometidos por qualquer pessoa. Com relação aos crimes políticos, se 
caracterizariam pelo seu objeto, qual seja, atingir a configuração político-ideológico-
jurídica do Estado a fim de aniquilá-la ou substituí-la79. 
Ao nosso ver, competia a Constituição Federal a elucidação do conceito 
de crime político, no entanto, o Estado-legislador limitou-se a mencionar o termo em 
seus artigos 5ª, inciso LII (vedação da extradição), 109, inciso IV (competência do 
juiz federal para o julgamento de crime político) e 102, inciso II, alínea b (autorização 
para recurso ordinário perante o STF em caso de crime político). Diante do silêncio 
da Lei Maior é que o Supremo Tribunal Federal – STF passou a utilizar-se dos 
dispositivos da Lei de Segurança Nacional (Lei n. 7.170/1983) para estabelecer os 
 
77 TAVARES, André Ramos. Crime de corrupção eleitoral. Guia das eleições. Belo Horizonte: 
Fórum, 2012. p. 36-37, apud BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Ilícitos Eleitorais. Brasília/DF, 
2013, p. 7. 
78 JESUS, Damásio de. Direito Penal. 32 ed. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 250. 
79 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, 
p. 6-7. 
31 
 
 
critérios identificadores do crime político. 
Nesse sentido, vejamos o teor parcial do mérito do julgamento do Recurso 
Criminal n. 1468, do Rio de Janeiro, que traça as linhas mestras da caracterização 
do crime político, in verbis: 
 
[...] 1. Como a Constituição não define crime político, cabe ao intérprete 
fazê-lo diante do caso concreto e da lei vigente. 2. Só há crime político 
quando presentes os pressupostos do artigo 2º da Lei de Segurança 
Nacional (Lei nº 7.170/82), ao qual se integram os do artigo 1º: a 
materialidade da conduta deve lesar real ou potencialmente ou expor a 
perigo de lesão a soberania nacional, de forma que, ainda que a conduta 
esteja tipificada no artigo 12 da LSN, é preciso que se lhe agregue a 
motivação política. Precedentes [...]80. (Grifou-se). 
 
Correntemente, com base na definição extraída da Lei n. 7.170/83, a 
doutrina se apropriou de dois critérios distintivos para os crimes políticos e comuns, 
a saber: o objetivo e o subjetivo81. Nesse viés, recente acórdão que compõe a 
jurisprudência da Corte Superior menciona os referidos critérios: 
 
PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ORDINÁRIO CRIMINAL. ART. 
102, II, “B”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SABOTAGEM EM USINA 
HIDRELÉTRICA. ART. 15 DA LEI 7.170/83. MOTIVAÇÃO POLÍTICA. 
AUSÊNCIA. INAPLICABILIDADE DA LEI DE SEGURANÇA NACIONAL. 
ABSOLVIÇÃO MANTIDA. CRIME COMUM. NÃO CONFIGURAÇÃO. 
CONDUTA ATÍPICA. RECURSO DESPROVIDO. 1. Crimes políticos, para 
os fins do artigo 102, II, b, da Constituição Federal, são aqueles dirigidos, 
subjetiva e objetivamente, de modo imediato, contra o Estado como unidade 
orgânica das instituições políticas e sociais e, por conseguinte, definidos na 
Lei de Segurança Nacional, presentes as disposições gerais estabelecidas 
nos artigos 1º e 2º do mesmo diploma legal. 2. “Da conjugação dos arts. 
1º e 2º da Lei nº 7.170/83, extraem-se dois requisitos, de ordem 
subjetiva e objetiva: i) motivação e objetivos políticos do agente, e ii) 
lesão real ou potencial à integridade territorial, à soberania nacional, 
ao regime representativo e democrático, à Federação ou ao Estado de 
Direito. Precedentes” [...]82. (Grifou-se). 
 
De acordo com Damásio de Jesus, o critério objetivo leva em 
consideração o objeto jurídico tutelado, isto é, o ordenamento político do país, 
interessando para este critério, portanto, se o delito lesou ou expôs a perigo de dano 
o interesse jurídico estatal. Por outro lado, o critério subjetivo depende inteiramente 
da intenção do agente ao cometer o delito. Sendo assim, havendo interesse político, 
 
80 STF – RC n. 1468/RJ – Tribunal Pleno – Rel. Min. Maurício Corrêa – Dj 16-8-2000. 
81 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 55. 
82 RC 1472, Tribunal Pleno, Rel. Min. Dias Toffoli, Rev. Ministro Luiz Fux, unânime, j. 25/05/2016. 
32 
 
 
existe crime político e, não havendo, haverá o crime comum83. 
Para Kimura “os crimes eleitorais [...] são políticos porque atentam contra 
o acesso e exercício do poder político e contra a organização do Estado”84. 
Na concepção de José Jairo Gomes, a afirmação pura de que um crime é 
político em razão de ofender o Estado é extremamente superficial, haja vista que 
qualquer crime leva a sociedade como sujeito passivo. Assim, considera que os 
crimes eleitorais possuem natureza de crime comum85. 
Ao oposto, Antonio Carlos da Costa defende uma terceira concepção 
denominada teoria objetivo-subjetiva, asseverando que “os crimes eleitorais puros 
ou específicos são crimes políticos, enquanto os delitos eleitorais acidentais são 
crimes comuns, detentores de características especiais e próprias”86. 
Ademais, resta-nos esclarecer que não há um consenso na doutrina com 
relação a natureza dos crimes eleitorais, em que pese o entendimento já 
consolidado pela Corte Superior, de que os crimes comuns são abrangidos a todos 
os tipos penais, inclusive aos delitos eleitorais, logo, possuem natureza de crime 
comum87. 
 
 
2.3 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES ELEITORAIS 
 
As infrações eleitorais estão previstas desde a Constituição Federal de 
1988, até os ordenamentos eleitoralistas brasileiros, a saber, no Código Eleitoral (Lei 
n. 4.737/1965), na Lei das Eleições (Lei n. 9.504/97), na Lei das Inelegibilidades (Lei 
Complementar n. 64/90), além de diversas outras leis esparsas. 
Ainda assim, a legislação eleitoral não cuidou de classificar os crimes 
eleitorais de forma específica, apenas prevendo e destacando as principais condutas 
merecedoras da tutela penal. Em razão da ausência de classificação das leis, a 
doutrina vem buscando apresentar algumas classificações de acordo com cada 
figura típica eleitoral e o bem jurídico que se objetiva resguardar. 
 
 
83 JESUS, Damásio de. Direito Penal. 32 ed. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 250. 
84 KIMURA, Alexandre Issa. Manual de Direito Eleitoral. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 245. 
85 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, 
p. 9. 
86 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 56. 
87 REspe n. 16048, São Carlos, SP, Rel. Min. José Eduardo Alckmin, j. 16.3.2000. 
33 
 
 
 
2.3.1 Crimes puros ou específicos 
 
A designação de determinado crime eleitoral como crime puro ou 
específico advém da sua previsão exclusivamente eleitoralista. Os crimes assim 
denominados referem-se a matériatipicamente eleitoral, previstos, portanto, 
somente nas leis eleitorais88. 
Acerca do tema, José Jairo Gomes aponta que “chama-se puro o crime 
eleitoral em que a conduta é assim descrita tão só na legislação eleitoral, não 
encontrando correspondente na legislação penal comum”89. 
À título exemplificativo, temos o crime de boca de urna, tipificado no art. 
39, § 5º, inciso II, da Lei n. 9.504/1997 (LE), o crime de inscrição fraudulenta de 
eleitor, previsto no art. 289 da Lei 4.737/1965 (CE/1965) e o crime de divulgação de 
fatos inverídicos na campanha eleitoral, mencionado no art. 323 do mesmo estatuto 
legal. 
 
 
2.3.2 Crimes eleitorais acidentais ou inespecíficos 
 
Os delitos classificados como acidentais são assim designados por 
apresentarem previsão fora da normativa eleitoral, assim como em virtude de 
tutelarem outros bens jurídicos, em que pese sempre alcançando itens de interesse 
eleitoralista90. 
Na concepção de José Jairo Gomes, os crimes eleitorais inespecíficos 
não apresentam previsão exclusivamente na seara da tutela penal comum, mas 
seriam tipificados como crime tanto na legislação eleitoral quanto na legislação 
comum. Neste caso, destaca o autor, o delito somente será considerado eleitoral se 
o fato possuir características que ofendam, de fato, os bens jurídicos eleitorais91. Na 
mesma linha de pensamento assevera Antonio Carlos da Ponte que “os crimes 
 
88 GONÇALVES, Luiz Carlos dos Santos. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São 
Paulo: Atlas, 2015, p. 16. 
89 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, 
p. 12. 
90 GONÇALVES, Luiz Carlos dos Santos. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São 
Paulo: Atlas, 2015, p. 16. 
91 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, 
p. 12. 
34 
 
 
eleitorais acidentais são aqueles cujos bens, interesses e valores são protegidos 
tanto pela legislação penal quanto pela legislação eleitoral”92. 
Cita-se como exemplo para a presente classificação o delito de 
falsificação de documento público (previsto no art. 348 do CE/1965 e também no art. 
297 do CP), assim como os crimes contra a honra cometidos durante o período de 
propaganda eleitoral (arts. 324 a 327 do CE/1965) e o crime de corrupção eleitoral 
(art. 299 do CE/1965). 
 
 
2.4 CRIMES ELEITORAIS EM ESPÉCIE: PREVISÃO LEGAL 
 
Consoante já destacado no item 2.3, embora os crimes eleitorais estejam 
previstos majoritariamente no Código Eleitoral de 1965, existem infrações dispostas 
em diversas outras leis componentes do sistema eleitoral. 
No que concerne as disposições criminais específicas do Código Eleitoral, 
é importante lembrar que esta legislação foi promulgada sob a égide da Constituição 
de 1946, isto é, num contexto histórico-social completamente diverso do atual, razão 
pela qual muitas disposições foram extintas expressa, ou tacitamente, e, outras, 
simplesmente por não terem sido recepcionadas pela Carta Magna de 198893. 
O presente tópico busca relacionar os principais crimes eleitorais 
previstos no ordenamento jurídico brasileiro, com enfoque nas infrações mais 
recorrentes durante o período eleitoral, as quais caracterizam a corrupção que 
ocorre na democracia brasileira. 
 
 
2.4.1 Captação ilícita de sufrágio (Art. 299 do Código Eleitoral e art. 41-A da 
Lei das Eleições) 
 
Seguindo as capitulações legais acerca da corrupção descritas no Código 
Penal94, o legislador eleitoral unificou os institutos da corrupção ativa e passiva, 
 
92 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 65. 
93 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 
eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 54. 
94 Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da 
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal 
35 
 
 
criando o tipo penal eleitoral previsto no art. 299 do CE/65, comumente denominado 
de corrupção eleitoral95. 
Com efeito, assim prevê o dispositivo em comento: 
 
Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para 
outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar 
voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja 
aceita: [...]96. 
 
De plano, convém realçar que esse delito apresenta modalidade ativa e 
passiva. A corrupção eleitoral ativa se caracteriza pelos termos “dar, oferecer, 
prometer”. Nesta modalidade não é requisito que o sujeito ativo do delito seja o 
próprio candidato a determinado cargo eletivo, tendo em vista que qualquer pessoa 
pode praticar as condutas de dar, oferecer ou prometer vantagem indevida para o 
eleitor votar ou abster-se de votar em determinado candidato97. 
No que concerne à corrupção passiva (solicitar ou receber), há duas 
correntes acerca da definição do sujeito ativo. Antonio Carlos da Ponte acredita 
tratar-se de crime próprio, isto é, que “só pode ser praticado pelo eleitor”, admitindo, 
contudo, a coautoria e a participação de outros eleitores98. Em percepção contrária, 
José Jairo Gomes defende que esta interpretação é equivocada. 
De acordo com o autor: 
 
Na modalidade passiva, a solicitação ou o recebimento de vantagem 
também pode ser “para conseguir ou prometer abstenção”, conforme 
registrado no próprio tipo legal. Uma pessoa cujos direitos políticos estejam 
suspensos, portanto um não eleitor, pode solicitar ou receber vantagem ou 
benefício (para si, para outrem, para si e para outrem) para obter voto de 
terceiro ou para conseguir abstenção de outrem [...]99. 
 
Análogo ao tipo penal eleitoral previsto no art. 299 do Código Eleitoral, a 
Lei das Eleições estabeleceu em seu art. 41-A a tipificação da mesma conduta, 
 
vantagem: [...] BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 10 mai. 
2018. 
95 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva: 2016, p. 105. 
96 BRASIL. Lei n. 4.737 de 15 de julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4737compilado.htm>. Acesso em: 29 mar. 2018. 
97 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, 
p. 53. 
98 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva: 2016, p. 122. 
99 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, 
p. 53-54. 
36 
 
 
contudo, criou um elemento temporal do tipo penal consistente no registro da 
candidatura100. 
A conduta do tipo penal eleitoral em análise reflete acerca de uma antiga 
realidade brasileira: a compra e venda de votos. A corrupção eleitoral ou captação 
ilícita de sufrágio ofende e ameaça a lisura e legitimidade do pleito eleitoral, 
contribuindo para que candidatos mal-intencionados cheguem à representatividade 
popular através de ações que tornam ilegítimos seus mandatos. 
 
 
2.4.2 Condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral (Arts. 73 
a 77 da Lei das Eleições) 
 
Consoante amplamente ressaltado até o momento, o objetivo primordial 
do Direito Eleitoral consiste na garantia da normalidade e legitimidade das eleições, 
de forma a promover o pleno exercício do direito ao sufrágio e, consequentemente, a

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