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CENTRO UNIVERSITÁRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ – UNIDAVI PRÓ- REITORIA DE ENSINO – PROEN COLEGIADO DE ÁREA DAS CIÊNCIAS SOCIALMENTE APLICÁVEIS – CSA CURSO DE DIREITO CRIMES ELEITORAIS PRATICADOS POR AGENTES PÚBLICOS: uma análise do contexto da corrupção eleitoral e seus reflexos na democracia brasileira JÚLIA RAFAELA VIEIRA DA SILVA RIO DO SUL 2018 CENTRO UNIVERSITÁRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ – UNIDAVI PRÓ- REITORIA DE ENSINO – PROEN COLEGIADO DE ÁREA DAS CIÊNCIAS SOCIALMENTE APLICÁVEIS – CSA CURSO DE DIREITO CRIMES ELEITORAIS PRATICADOS POR AGENTES PÚBLICOS: uma análise do contexto da corrupção eleitoral e seus reflexos na democracia brasileira JÚLIA RAFAELA VIEIRA DA SILVA Trabalho de Curso submetido ao Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí - UNIDAVI, como requisito parcial a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Carlos Alberto Moraes. RIO DO SUL-SC 2018 AGRADECIMENTOS Antes de tudo, agradeço a Deus pelo sopro de vida e por permitir que eu chegasse até aqui, tornando realidade mais um de meus sonhos e cumprindo o seu propósito em minha vida. Aos meus avós paternos, Renata e Moacir (quase sem palavras para expressar e com a alma embargada pela emoção), pela luta incansável para ver-me completar esta etapa, jamais medindo esforços para ajudar-me de todas as formas possíveis. A vocês, o meu amor, admiração e gratidão eterna. Ao meu namorado, noivo e, hoje, esposo, Neto. Agradeço por sua compreensão nos momentos turbulentos dessa caminhada, apoio e incentivo despendidos para que eu acreditasse no invisível, sempre com amor e carinho. A minha querida irmã Luana, pelo companheirismo e fidelidade na vida. Aos meus tios, Sandra e Dênis, pelo carinho com que sempre me entusiasmaram a continuar lutando pelos meus objetivos. Aos meus sogros, Eonice e Valdenir, pela compreensão diante de minhas ausências e pelo amor fraterno com que me acolheram em seus corações. Amo-os, obrigada por sonharem comigo. A minha amiga Aline, parceira de estudos desde o Ensino Médio, pela amizade duradoura, conversas construtivas e pelo suporte durante a vida acadêmica. Grata por termos nos reencontrado, você sempre será especial para mim. Ao Professor e orientador do presente trabalho acadêmico, Prof. Carlos Alberto Moraes, pela paciência, dedicação e contribuições fundamentais para a construção do tema. Foi um prazer tê-lo como mestre nesta jornada. A todos os professores do Curso de Direito da UNIDAVI, pelos ensinamentos que contribuíram essencialmente para a minha formação acadêmica. “SOMOS O QUE FAZEMOS, MAS SOMOS, PRINCIPALMENTE, O QUE FAZEMOS PARA MUDAR O QUE SOMOS”. Eduardo Galeano TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando o Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Rio do Sul-SC, 14 de maio de 2018. JÚLIA RAFAELA VIEIRA DA SILVA Acadêmico(a) ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS Ac. AgR-REspe AgR-RO Art. Acórdão Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral Agravo Regimental em Recurso Ordinário Artigo CE/1965 CP/1940 CPC/2015 Código Eleitoral de 1965 (Lei n. 10.406/2001) Código Penal Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015) CPP CRFB/1988 LC Código de Processo Penal (Decreto-Lei n. 3.689/1941) Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 Lei Complementar LE REspe Lei das Eleições (Lei n. 9.504/1997) Recurso Especial Eleitoral STF Supremo Tribunal Federal STJ TSE UFIR Superior Tribunal de Justiça Tribunal Superior Eleitoral Unidade Fiscal de Referência ROL DE CATEGORIAS Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. Agente Público Reputa-se agente público quem exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos órgãos ou entidades da administração pública direta, indireta ou fundacional.1 Corrupção Eleitoral É a ação comissiva ou omissiva, praticada por agente público ou candidato a cargo eletivo, no período eleitoral, com o objetivo de obter vantagem indevida para si ou para outrem, relegando a plano secundário os legítimos interesses da população, em busca de interesses privados.2 Crime Eleitoral “São as condutas criminosas que atentam contra o processo eleitoral.”3 Democracia “Exprime-se como um governo do povo, sendo um regime político que se finca substancialmente na “soberania popular”, compreendendo-se os direitos e garantias eleitorais, as condições de elegibilidade, as causas de inelegibilidade e os mecanismos de proteção disciplinados em lei para impedir as candidaturas viciadas e que atentem contra a moralidade pública eleitoral [...].”4 1 BRASIL. Lei n. 9.504 de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L9504compilado.htm>. Acesso em: 2 mai. 2018. Art. 73, § 1º da LE. 2 Este Conceito Operacional foi elaborado pela autora da presente dissertação, a partir de pesquisa realizada na obra de GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 51. 3 BEM, Leonardo Schmitt de; CUNHA, Mariana Garcia. Direito Penal Eleitoral. 2 ed. São Paulo: Conceito Editorial, 2011, p. 33. 4 RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 7 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007, p. 26. Democracia Representativa “A democracia representativa pressupõe um conjunto de instituições que disciplinam participação popular no processo político, que vem a formar os direitos políticos que qualificam a cidadania, tais como as eleições, o sistema eleitoral, os partidos políticos etc., como constam dos arts. 14 a 17 da Constituição [...]. Na democracia representativa a participação popular é indireta, periódica e formal, por via das instituições eleitorais que visam a disciplinar as técnicas de escolha dos representantes do povo [...]”5. 5 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 139. RESUMO O presente trabalho de curso tem como objeto os crimes eleitorais praticados por agentes públicos: uma análise do contexto da corrupção eleitoral e seus reflexos na democracia brasileira. Para isso, a pesquisa inicia com a apresentação do fundamento básico do Direito Eleitoralista, qual seja, a democracia. A consagração do mencionado regime no Brasil deveria significar a plena e efetiva participação popular nas decisões do Estado, aliada a satisfação do povo comestas decisões e a representação política de seus representantes. No entanto, vê-se a institucionalização de uma corrupção no setor público, agravada diariamente pela conduta de representantes do povo que relegam ao plano secundário o interesse público, fomentando o descrédito da população no Estado e nas suas instituições democráticas. Nesse contexto, busca-se apresentar os fundamentos do Estado Democrático de Direito e do Direito Eleitoral, analisando-se as práticas corruptivas de agentes públicos e a sua influência no seio popular, notadamente no âmbito da democracia representativa. Por fim, diante do contexto fático e desvirtuante que se encontra a política no Brasil, aliado ao modo comprometido da população entender a dinâmica do “jogo” eleitoral, avalia-se a possibilidade de uma mudança cultural de consciência política da sociedade, a fim de efetivar-se o ideal democrático. O método de abordagem utilizado na elaboração desse trabalho de curso foi o indutivo e o método de procedimento foi o monográfico. O levantamento de dados foi através da técnica da pesquisa bibliográfica. Os ramos de estudo foram nas áreas do Direito Eleitoral e do Direito Constitucional. Nas considerações finais, comprova-se que a corrupção eleitoral representa uma grave ameaça à democracia representativa no Brasil. Palavras-chave: Crimes eleitorais; corrupção eleitoral; democracia; democracia representativa. ABSTRACT The present work of course has as object the electoral crimes practiced by public agents: an analysis of the context of the electoral corruption and its reflexes in the Brazilian democracy. For this, the research begins with the presentation of the basic foundation of Electoral Law, that is, democracy. The consecration of the aforementioned regime in Brazil should signify full and effective popular participation in the decisions of the State, allied with the satisfaction of the people with these decisions and the political representation of their representatives. However, there is the institutionalization of corruption in the public sector, aggravated daily by the conduct of representatives of the people who relegate the public interest to the secondary level, fomenting the discredit of the population in the State and its democratic institutions. In this context, the aim is to present the foundations of the Democratic State of Law and Electoral Law, analyzing the corruptive practices of public agents and their influence in the popular sphere, especially within the framework of representative democracy. Finally, in view of the factual and deviant context of politics in Brazil, together with the committed way of the population to understand the dynamics of the electoral "game", the possibility of a cultural change of political consciousness of society is evaluated, in order to democratic ideal. The approach method used in the elaboration of this course work was the inductive one and the procedure method was the monographic one. The data collection was through the technique of bibliographic research. The fields of study were in the areas of Electoral Law and Constitutional Law. In the final considerations, it is proved that electoral corruption represents a serious threat to representative democracy in Brazil. Keywords: Electoral crimes; electoral corruption; democracy; representative democracy. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 13 DIREITO ELEITORAL: FUNDAMENTOS E ASPECTOS GERAIS .......................... 13 1.1 A DEMOCRACIA .......................................................................................... 13 1.1.1 Democracia participativa ou direta ........................................................... 14 1.1.2 Democracia representativa ou indireta .................................................... 15 1.1.3 O Estado Democrático de Direito ............................................................. 16 1.2 CONCEPÇÃO DO DIREITO ELEITORAL .................................................... 18 1.2.1 Fontes normativas ..................................................................................... 19 1.2.1.1 Constituição Federal ................................................................................. 20 1.2.1.2 Código Eleitoral ......................................................................................... 22 1.2.1.3 Lei das Inelegibilidades ............................................................................. 22 1.2.1.4 Lei dos Partidos Políticos .......................................................................... 24 1.2.1.5 Lei das Eleições ........................................................................................ 24 1.2.1.6 Normas Regulamentares: as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral ... 25 1.2.1.7 Aplicação subsidiária da legislação civil e penal ao Direito Eleitoral ......... 26 CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 29 CRIMES ELEITORAIS .............................................................................................. 29 2.1 CONCEITOS ................................................................................................ 29 2.2 NATUREZA JURÍDICA: CRIME COMUM OU CRIME POLÍTICO? .............. 30 2.3 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES ELEITORAIS.................. 32 2.3.1 Crimes puros ou específicos .................................................................... 33 2.3.2 Crimes eleitorais acidentais ou inespecíficos ......................................... 33 2.4 CRIMES ELEITORAIS EM ESPÉCIE: PREVISÃO LEGAL .......................... 34 2.4.1 Captação ilícita de sufrágio (Art. 299 do Código Eleitoral e art. 41-A da Lei das Eleições) ..................................................................................................... 34 2.4.2 Condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral (Arts. 73 a 77 da Lei das Eleições) ................................................................................... 36 2.4.2.1 Utilização de bens móveis ou imóveis públicos em benefício de candidatos, partidos ou coligações (art. 73, I) ........................................................... 37 2.4.2.2 Utilização de materiais e serviços custeados pelos Governos ou Casas Legislativas (Art. 73, II) .............................................................................................. 38 2.4.2.3 Utilização de servidores públicos em campanha eleitoral, durante o horário de expediente (Art. 73, III) ......................................................................................... 39 2.4.2.4 Utilização promocional de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social (Art. 73, IV) .......................................................................................... 40 2.4.2.5 Realização de movimentação de servidores públicos (Art. 73, V) ............ 41 2.4.2.7 Vedação à realização de despesas com publicidade que excedam a média de gastos públicos (Art. 73, VII) ................................................................................ 45 2.4.2.8 Vedação à revisão geral da remuneração de servidores públicos (Art. 73, VIII) 45 2.4.3 Divulgação de pesquisa eleitoral fraudulenta (Art. 33, § 4º, da Lei das Eleições)................................................................................................................... 46 CAPÍTULO 3 .............................................................................................................48 CORRUPÇÃO ELEITORAL E SEUS REFLEXOS NA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA .................................................................................................. 48 3.1 CORRUPÇÃO ELEITORAL ......................................................................... 48 3.2 A CRISE DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA ........................................ 49 3.2.1 A representatividade dos agentes públicos ............................................ 52 3.2.1.1 Agente público: corrupto ou corruptor? ..................................................... 55 3.3 A TOMADA DE DECISÃO FRENTE AOS VALORES ÉTICOS E SOCIAIS .. 57 3.4 AS CAUSAS E EFEITOS DA CORRUPÇÃO ELEITORAL, ESPECIALMENTE SOBRE A DEMOCRACIA NO BRASIL ....................................... 60 3.4.1 A ameaça da base democrática e a necessidade de modificação da consciência popular ................................................................................................ 63 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 68 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS................................................................... 71 11 INTRODUÇÃO O objeto do presente Trabalho de Curso são os crimes eleitorais praticados por agentes públicos: uma análise do contexto da corrupção eleitoral e seus reflexos na democracia brasileira. O seu objetivo institucional é a produção do Trabalho de Curso como requisito parcial a obtenção do grau de Bacharel em Direito pelo Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI. O objetivo geral deste trabalho de curso é investigar se a prática de crimes eleitorais por agentes públicos ameaça a democracia representativa. Os objetivos específicos são: a) investigar as condutas ilícitas dos agentes públicos; b) analisar o contexto da corrupção eleitoral; c) discutir os efeitos dos crimes eleitorais praticados por agentes públicos e/ou pretensos candidatos; d) demonstrar a ilegitimidade das condutas que desequilibram o pleito eleitoral e ameaçam a democracia no Brasil. Na delimitação do tema levanta-se o seguinte problema: a prática de crimes eleitorais por agentes públicos ameaça a democracia representativa? Para o equacionamento do problema levanta-se a seguinte hipótese: supõem-se que a prática de crimes eleitorais por agentes públicos ameace a democracia representativa. O Método de abordagem a ser utilizado na elaboração desse trabalho de curso será o indutivo; o Método de procedimento será o monográfico; o levantamento de dados será através da técnica da pesquisa bibliográfica. A seleção do tema deu-se em razão da inquietude com o modo de fazer política no Brasil. A história indica uma herança cultural adquirida na época colonial e que atualmente revela uma situação de grave violação ao regime democrático consagrado no Estado brasileiro. Não obstante o conjunto de ordenamentos que buscam reprimir as práticas ilegais e abusivas do pleito eleitoral, o quadro de desvio de finalidade por parte de nossos representantes torna-se amplamente conhecido pela sociedade diariamente. Diante dessa relevante questão social que nos alcança, a escolha do tema busca identificar, apontar e avaliar os principais mecanismos de desvio de conduta utilizados por pretensos candidatos a fim de se elegerem, 12 assinalando os atos de corrupção que influem no enfraquecimento da democracia representativa. Principia-se, no Capítulo 1, com a abordagem do fundamento primeiro do Direito Eleitoral, qual seja, a democracia e suas formas, buscando-se elucidar a conceituação do regime democrático e do Estado Democrático de Direito. Adiante, discorre-se acerca das fontes normativas do Direito Eleitoral, ressaltando sua abrangência e relevância na compreensão da dinâmica eleitoral e constitucional, finalizando com a concepção do termo corrupção eleitoral na atualidade. O Capítulo 2 trata especificamente dos crimes eleitorais disciplinados legalmente, apresentando os conceitos e a discussão acerca da sua natureza jurídica, assim como a sua classificação doutrinária. Em seguida, ordena-se os crimes eleitorais em espécie, abordando seus principais aspectos e a busca pela garantia da legitimidade das eleições. O Capítulo 3 dedica-se a expor a atual crise democrática enfrentada no país, resultado da má representação política dos agentes públicos e candidatos a cargos eletivos, refletindo, ainda, sobre a identidade do agente público. Sucessivamente, passa-se a analisar a relação entre ética pública e a política, apresentando as causas e efeitos das práticas corruptivas no regime democrático brasileiro, e, por fim, a verificação dos resultados de tais atos, inclusive a suposta ameaça à sustentação da democracia, frente a necessidade de uma mudança da cultura política no Brasil. O presente Trabalho de Curso encerrar-se-á com as Considerações Finais, nas quais serão apresentados pontos essenciais destacados dos estudos e das reflexões acerca dos crimes eleitorais praticados por agentes públicos, assim como do contexto da corrupção eleitoral e seus reflexos na democracia brasileira. 13 CAPÍTULO 1 DIREITO ELEITORAL: FUNDAMENTOS E ASPECTOS GERAIS 1.1 A DEMOCRACIA A palavra tem origem do grego, onde “demos” significa “povo” e “kratia” ou “kratos”, quer dizer “governo”. A mais popular definição para a democracia é “governo do povo”, concepção nuclearmente defendida por teóricos como Jean- Jacques Rousseau, que afirmava a vontade geral como elemento crucial para a legítima soberania do povo, fundando-se, a partir dessa compreensão, as bases da democracia como governo do povo6. Na obra intitulada “A Democracia”, de Renato Janine Ribeiro, o autor discorre acerca do termo afirmando que não importa necessariamente quem esteja no governo (se apenas uma pessoa ou um grupo de pessoas), o que interessa para a democracia é que o poder, em última análise, seja do povo. O poder do povo consiste, portanto, em escolher o indivíduo ou grupo de pessoas que governa, controlando a forma de atuação de seus governantes7. No mesmo sentido, Reinaldo Dias ensina que: Atualmente a ideia de democracia evoluiu e se identifica, basicamente, com a democracia política que, de um modo geral, pode ser definida como uma forma de governo em que o poder político não pertence a nenhum grupo determinado e limitado de pessoas ou a uma pessoa, mas, na forma do direito, a todo o povo8. Por sua vez, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira e Camila Medeiros de Albuquerque Pontes Luz de Pádua Cerqueira, explanam este conceito afirmando que se trata de um regime político onde a participação do povo é permitida no processo decisório, assim como a sua influência na gestão dos 6 GODOY, Miguel Gualano de. Constitucionalismo e democracia: uma leitura a partir de Carlos Santiago Nino e Roberto Gargarella. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 36-37. 7 RIBEIRO, Renato Janine. A Democracia. 3 ed. São Paulo: Publifolha, 2013, p. 9. 8 DIAS, Reinaldo. Ciência Política. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 175. 14 empreendimentos do Estado9. Nessa perspectiva, a democracia constitui a mola mestra do Direito Eleitoral, a partir de onde se encontram embasados todos os princípios que norteiam as normas materiais e processuais que lhe são afetas10. 1.1.1 Democracia participativa ou direta Na Grécia antiga, especificamente em Atenas, nascedouro da democracia, o poder era exercido pelo povo diretamente, através da praça pública11. Era a denominadademocracia direta, a qual durou cerca de dois séculos, onde o poder decisório das questões políticas fundamentais era atribuído a todos os cidadãos atenienses12. Historicamente, a democracia participativa ou direta caracteriza-se quando o povo exerce por si, os poderes governamentais, elaborando as leis, administrando e julgando13. Nesse sentido, a democracia direta pode ser entendida como autogovernante, ou seja, um regime político sem representantes ou mecanismos de representatividade14. O notável filósofo suíço Rousseau, em sua obra “Do contrato social”, afirmava a democracia direta como o único modelo legítimo do supremo poder exercido pelo povo15, caracterizando-a pela participação direta e pessoal da cidadania na formação dos atos de governo16. Ocorre que este modelo político defendido por notáveis filósofos e pensadores do século XVIII, demonstrou-se inviável em razão do fator dimensional. É que a efetivação de uma democracia puramente direta, literal e autogovernante, 9 CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua; CERQUEIRA, Camila Medeiros de Albuquerque Pontes Luz de Pádua. Tratado de direito eleitoral: direito material eleitoral parte I. Tomo I. São Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 183. 10 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 38. 11 RIBEIRO, Renato Janine. A Democracia. 3 ed. São Paulo: Publifolha, 2013, p. 10. 12 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 111. 13 LENZA, Pedro. Direito eleitoral esquematizado. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 112. 14 SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada. São Paulo: Ática, 1994, p. 156. 15 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 112. 16 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 143. 15 somente seria possível em grupos relativamente pequenos de pessoas17. Esse fator de inviabilidade da democracia direta se dá em virtude da enorme dificuldade encontrada em reunir todos os cidadãos do Estado para deliberar acerca dos assuntos políticos, fazendo com que se chegue à conclusão de que a democracia direta não é um modelo viável em qualquer Estado18. 1.1.2 Democracia representativa ou indireta O governo representativo deu-se em meio à aristocracia. Tem-se que as primeiras formas de representação ocorreram através do sufrágio censitário, o qual atribuía apenas a uma parcela do povo o direito de participar da vida política, excluindo os mais pobres. Contudo, ao final do século XIX, o sufrágio censitário começou a ser abandonado, dando espaço à implementação do sufrágio universal19. Com o direito de voto estendido à (quase) todo o povo, esse modelo de governo passou a ser conhecido como democracia representativa, onde o povo governa indiretamente, através dos governantes que elege. Dessa forma, segundo o próprio nome pressupõe, a democracia representativa caracteriza-se pela escolha dos representantes pelo povo, os quais passam a agir presumidamente no interesse da sociedade20. Nas palavras de José Afonso da Silva: Democracia indireta, chamada democracia representativa, é aquela na qual o povo, fonte primária do poder, não podendo dirigir os negócios do Estado diretamente, em face da extensão territorial, da densidade demográfica e da complexidade dos problemas sociais, outorga as funções de governo aos seus representantes, que elege periodicamente21. Essa ideia de democracia implica necessariamente no mandato político, isto é, a outorga de poderes dos eleitores ao eleito, para que este exerça o poder em 17 SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada. São Paulo: Ática, 1994, p. 156. 18 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 112. 19 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 113-114. 20 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 113-114. 21 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 71. 16 nome do povo (eleitores). Logo, tem-se o eleitorado como mandante e o eleito como mandatário22. É nessa perspectiva que se diz que a participação popular nesse regime democrático é indireta, periódica e formal, vez que os eleitores escolhem os seus representantes por via das instituições eleitorais23. Contudo, a democracia indireta não pode ser resumida a escolha de autoridades governamentais que representem a vontade do povo. Há no contexto dessa ordem democrática um ponto decisório fundamental, o qual ultrapassa a mera função designatória de um representante, qual seja, a adesão do povo a uma política governamental, através do seu consentimento, conferindo legitimidade ao representante eleito24. Rubens Beçak retrata o assunto citando diversos estudiosos que lembraram a questão: A respeito, Paulo Bonavides refere que, já em 1698, Algernon Sidney perorava no sentido de que os membros do Parlamento não seriam meros “emissários desta ou daquela circunscrição eleitoral”, mas representantes “de todo o reino” [...]25. Não obstante, à luz das garantias e direitos dos cidadãos, cabe a ordem democrática criar ou consolidar instrumentos eficientes que assegurem a participação social em todas as áreas, inclusive o incentivo à fé nos valores da solidariedade e da cooperação26. 1.1.3 O Estado Democrático de Direito A composição do Estado Democrático de Direito reúne os princípios do Estado Democrático e do Estado de Direito, formando um novo conceito que supera 22 CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua; CERQUEIRA, Camila Medeiros de Albuquerque Pontes Luz de Pádua. Tratado de direito eleitoral: direito material eleitoral parte I. São Paulo: Premier Máxima, 2008, p. 189. 23 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 139. 24 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 140. 25 BEÇAK, Rubens. Democracia: hegemonia e aperfeiçoamento. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 23. 26 SILVEIRA, José Néri. Democracia representativa e processo eleitoral. Estudos Eleitorais. Brasília, v. 2, n. 2, mai./ago. 2006. 17 a simples reunião de seus respectivos elementos27. Na origem, a ideia de Estado de Direito advém do liberalismo, que divide o Estado de Direito em três pontos característicos, quais sejam, a submissão à lei, a divisão de poderes e a garantia dos direitos individuais28. Contudo, José Afonso da Silva ensina que o Estado de Direito nem sempre caracterizará um Estado Democrático. De acordo com o autor, o Estado Democrático se fundamenta no princípio da soberania popular (poder do povo), tendo como objetivo principal a realização deste princípio democrático como forma de garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana29. Em suma, descreve a existência do Estado Democrático de Direito da seguinte forma: A democracia que o Estado Democrático de Direito realiza há de ser um processo de convivência social numa sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I), em que o poder emana do povo, e deve ser exercido em proveito do povo, diretamente ou por representantes eleitos (art. 1º, parágrafo único); participativa, porque envolve a participação crescente do povo no processo decisório e na formação dosatos de governo; pluralista, porque respeita a pluralidade de idéias, culturas e etnias e pressupõe assim o diálogo entre opiniões e pensamentos divergentes e a possibilidade de convivência de formas de organização e interesses diferentes da sociedade; há de ser um processo de liberação da pessoa humana das formas de opressão que não depende apenas do reconhecimento formal de certos direitos individuais, políticos e sociais, mas especialmente da vigência de condições econômicas suscetíveis de favorecer o seu pleno exercício30. Por sua vez, ao dissertar sobre o Estado Democrático de Direito, Alexandre de Moraes aduz que: O Estado Democrático de Direito, que significa a exigência de reger-se por normas democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo, bem como o respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias fundamentais, proclamado no caput do artigo, adotou, igualmente, no seu parágrafo único, o denominado princípio democrático, ao afirmar que "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição".31 Convém destacar que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 restabeleceu a democracia no Brasil após um longo período sob o domínio da 27 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 114. 28 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 114-115. 29 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 119. 30 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. 2014, p. 121-122. 31 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 41. 18 ditatura militar, trazendo mudanças históricas na seara do Direito Eleitoral, tais como a instituição do voto obrigatório aos maiores de 18 anos e do voto facultativo aos jovens entre 16 e 18 anos e para os maiores de 70 anos32. Nesse sentido, à luz da Carta Magna de 1988, o princípio democrático é instituído expressamente pelo art. 1º, assim como seu parágrafo único, os quais estabelecem os princípios estruturantes e fundamentais da República brasileira, notadamente a consagração do Estado Democrático de Direito. 1.2 CONCEPÇÃO DO DIREITO ELEITORAL O Direito Eleitoral é o ramo do direito público que disciplina as normas regulamentadoras do direito de votar, ser votado e a forma com que se darão as eleições33. Ao discorrer sobre o assunto, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira e Camila Medeiros de Albuquerque Pontes Luz de Pádua Cerqueira ensinam que o Direito Eleitoral é responsável por assegurar a participação popular ativa e passiva no processo de escolha de seus representantes, vejamos: Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público (Direito Constitucional) que visa o direito ao sufrágio, a saber, o direito público subjetivo de natureza política que confere ao cidadão a capacidade eleitoral ativa (de eleger outrem – direito de votar - alistabilidade) e capacidade eleitoral passiva (de ser eleito - elegibilidade), bem como o direito de participar do governo e sujeitar-se à filiação, à organização partidária e aos procedimentos criminais e cíveis (inclusive regras de votação, apuração, etc.) e, em especial, à preparação, regulamentação, organização e apuração das eleições34. Na lição de Roberto Moreira de Almeida, Direito Eleitoral é: [...] o ramo do Direito Público constituído por normas e princípios disciplinadores do alistamento, da convenção partidária, do registro de candidaturas, da propaganda política, da votação, da apuração e da diplomação dos eleitos, bem como das ações, medidas e demais garantias relacionadas ao exercício do sufrágio popular35. 32 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 39. 33 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 37. 34 CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua; CERQUEIRA, Camila Medeiros de Albuquerque Pontes Luz de Pádua. Tratado de direito eleitoral: direito material eleitoral parte I. Tomo I. São Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 175. 35 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 19 Em outras palavras, é possível descrever este campo do direito como um sub-ramo que busca normatizar as diversas situações político-eleitorais que existem, isto é, os direitos políticos, os agentes políticos, as agremiações políticas e a própria eleição36. Uma vez compreendida a abrangência do Direito Eleitoral, não é difícil perceber que esta disciplina jurídica tem o seu bojo maior esculpido no Direito Constitucional, o qual abarca institutos centrais, tais como a soberania popular, a democracia, o sufrágio, os direitos políticos, o mandato político, o voto e os partidos políticos. Nesse sentido, Luiz Vicente Cernicchiaro e Paulo José da Costa Jr. descrevem o Direito Eleitoral como um dos ramos mais dinâmicos do Direito Constitucional, uma vez que envolve tanto os supremos interesses políticos da comunidade, quanto a responsabilidade pelo mecanismo adequado capaz de garantir a democracia37. 1.2.1 Fontes normativas Segundo o dicionário de Língua Portuguesa, o vocábulo fonte, na linguagem figurada, é compreendido como “[...] 3. Local de origem de alguma coisa; origem, procedência, proveniência [...]”38. O termo fonte é utilizado, portanto, para referenciar a origem de algo, isto é, a sua procedência, o lugar onde nasceu ou, ainda, onde surgiu. No campo do Direito Eleitoral, coexistem duas espécies de fontes: as fontes materiais e as fontes formais. As fontes materiais são os múltiplos fatores externos que influenciam o legislador na elaboração das leis, podendo compreender tendências e fenômenos diversos da sociedade. Já as fontes formais, caracterizam-se como os meios ou 43. 36 BARRETTO, Rafael. Direito eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 27. 37 CERNICCHIARO, Luiz Vicente; COSTA JR., Paulo José da. Direito penal na Constituição. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 26 e 30, apud CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua; CERQUEIRA, Camila Medeiros de Albuquerque Pontes Luz de Pádua. Tratado de direito eleitoral: direito material eleitoral parte I. Tomo I. São Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 175. 38 MICHAELIS. Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/fonte/>. Acesso em: 6 mar. 2018. 20 mecanismos através dos quais “os juízos jurídicos são fundamentados”39. Por sua vez, Roberto Moreira de Almeida destaca outra classificação referente as fontes do Direito Eleitoral, distinguindo-as entre fontes indiretas e fontes diretas. Esta, referindo-se as normas de aplicação primária e, àquela, definindo as normas de aplicação subsidiária, ou seja, que podem ser utilizadas de forma supletiva no âmbito do Direito Eleitoral40. Neste norte, a CRFB/1988 constitui a fonte pioneira do Direito Eleitoral, da qual decorrem as premissas básicas de todo o ordenamento eleitoralista, sendo sua observância de caráter estritamente obrigatório na elaboração de novas normas jurídicas, sob pena de inconstitucionalidade do ato. 1.2.1.1 Constituição Federal O alicerce principal do Direito Eleitoral é sem sombra de dúvidas o DireitoConstitucional. A Constituição Federal é a lei soberana de um Estado, composta por um conjunto de normas que regula a elaboração de outras normas de natureza infraconstitucional41. Para Alexandre de Moraes: Constituição deve ser entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos42. Nos dizeres de Reinaldo Dias: Considerando o aspecto material, a Constituição é o complexo de normas jurídicas fundamentais, escritas ou não, que constituem o referencial de um ordenamento jurídico. Em sentido formal, constitui o conjunto de normas legislativas que ocupam uma posição especial e suprema no ordenamento jurídico e que regulam as funções e os órgãos fundamentais do Estado. Estas normas são formuladas por órgãos especiais, ou através de procedimentos mais rigorosos que aqueles que correspondem às leis 39 GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 30. 40 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 45 e 47. 41 LUCON, Paulo Henrique dos Santos; VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Código Eleitoral Interpretado. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 434. 42 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 29. 21 ordinárias. A Constituição é a norma suprema, que determina o sistema de produção do direito. Goza de supremacia, ou seja, de nível superior às demais normas do ordenamento jurídico, que não a podem contradizer. Juntamente com a rigidez constitucional, essa supremacia é garantida pelo controle jurídico da constitucionalidade das leis, que comprova a adequação do direito positivo à Constituição43. É possível considerar que o Direito Eleitoral eclode a partir do art. 1º da Carta Magna, que dispõe “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...]”44. O parágrafo único do mesmo dispositivo também aponta para uma evidência do nascedouro do Direito Eleitoral, ao mencionar: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”45. O termo que merece destaque no dispositivo constitucional é Estado Democrático de Direito. A ideia de democracia – veremos mais adiante – está intimamente ligada à concentração do poder político nas mãos do povo. Nesse sentido, ao Direito Eleitoral cumpre o papel de efetivar e garantir o exercício da democracia (sistema político adotado pela CRFB/1988), na medida em que são as normas estabelecidas por ele que irão garantir que o povo exerça o seu direito ao sufrágio de forma livre. Nas palavras de Flávio Cheim Jorge, Ludgero Liberato e Marcelo Abelha Rodrigues: “[...] é a adoção da democracia representativa que faz nascer o Direito Eleitoral, para regular o sufrágio, meio pelo qual são escolhidos os representantes”46. A Carta Magna é, assim, a fonte primária do Direito Eleitoral brasileiro, onde estão introduzidos os princípios eleitorais fundamentais, as disposições acerca da forma e sistema de governo, além de normas gerais referentes aos direitos políticos, competência legislativa e organização da Justiça Eleitoral, cabendo ao Código Eleitoral e às leis complementares estabelecerem os limites dos direitos 43 DIAS, Reinaldo. Ciência Política. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 226. 44 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 10 mai. 2018. 45 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 10 mai. 2018. 46 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 39. 22 políticos e outras especificações47. 1.2.1.2 Código Eleitoral O Código Eleitoral, promulgado pela Lei Ordinária n. 4.737/1965, foi recepcionado em parte pela Carta Magna de 1988 com status de Lei Complementar, nos termos de seu artigo 12148. A Lei n. 4.737/1965 cuidou de relacionar e regulamentar os direitos de votar e ser votado, a composição e competência da Justiça Eleitoral, as regras referentes ao alistamento, ao registro de candidaturas, à propaganda política, aos sistemas eleitorais e aos atos preparatórios das eleições, assim como estabeleceu as regras atinentes à votação, à apuração dos votos e à diplomação dos candidatos eleitos49. Contudo, é salutar destacar que muitos dispositivos de seu texto foram revogados pela própria CRFB/1988, assim como pelas legislações supervenientes que derrogam o Código Eleitoral. São exemplos práticos a Lei das Inelegibilidades (LC n. 64/90), a Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/95) e a Lei das Eleições (Lei n. 9.504/1997), as quais também constituem fontes essenciais e diretas do Direito Eleitoral. 1.2.1.3 Lei das Inelegibilidades A Lei Complementar n. 64/1990 foi promulgada em atendimento ao preceito estampado na CRFB/1988, especificamente em seu art. 14, parágrafo nono, que determinou, além dos casos de inelegibilidade previstos em seu teor, a criação de Lei Complementar que estabelecesse outros casos de inelegibilidade e seus respectivos prazos de cessação, a fim de garantir a moralidade e a legitimidade do 47 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 45-46. 48 Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais. BRASIL. Lei n. 4.737 de 15 de julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4737compilado.htm>. Acesso em: 29 mar. 2018. 49 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 46. 23 processo eleitoral50. A autorização constitucional para a criação de outras hipóteses de inelegibilidade decorre da necessidade de preservação da soberania popular. Uma vez adotado o modelo de governança baseado na democracia representativa, é evidente que quem elegerá os mandatários que exercerão o poder em nome do povo, será o próprio povo51. Para tanto, é crucial que as pessoas que pretendem exercer o direito de ser votado e exercer qualquer mandato político possuam reputação ilibada e idoneidade ética e moral. É sob esse escopo que a Carta Magna determinou a criação de outras hipóteses de inelegibilidade, a fim de que os pretensos candidatos se submetam ao crivo das hipóteses legais relacionadas à vida pregressa do candidato, à moralidade de sua atuação, a lisura das eleições, a igualdade dos candidatos, a proteção contra o abuso de poder político, de poder econômico e de autoridade, selecionando, assim, as pessoas que poderão e aquelas que não poderão ser candidatas a um cargo eletivo52. A Lei Complementar n. 64/90 foi alterada pela superveniência da Lei Complementar n. 135/2010 (Lei da Ficha Limpa), a qual ampliou as causas de inelegibilidade previstas na LC n. 64/90, atribuindo-lhe um caráter mais rígido, na medida em que adotou o prazo uniformede oito anos de inelegibilidade e considerou inelegíveis os condenados por órgão judicial colegiado em decisão não transitada em julgado, nos casos que deixou expressamente disposto no art. 1º, inciso I, alínea e, da Lei das inelegibilidades53. 50 Art. 14, § 9º. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 29 abr. 2018. 51 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 111. 52 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 111. 53 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de inelegibilidade comentada. São Paulo: Atlas, 2014, p. 4. 24 1.2.1.4 Lei dos Partidos Políticos A Lei n. 9.096/1995 dispõe sobre a criação dos partidos políticos brasileiros, o funcionamento parlamentar, a filiação partidária, a prestação de contas, o fundo partidário, o acesso gratuito ao rádio e à televisão e, ainda, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da CRFB/1988. A Lei dos Partidos Políticos constitui uma das principais legislações do Direito Eleitoral, assumindo grande relevância em virtude de suas disposições estruturantes dos Partidos Políticos, essencial para a efetivação da democracia representativa, uma vez que para disputar qualquer pleito eleitoral, é indispensável que o cidadão se encontre filiado à um Partido Político54. Assim, todas as regras atinentes aos Partidos Políticos e os seus respectivos procedimentos estão previstas na Lei n. 9.096/95, a qual consagrou a autonomia dos Partidos Políticos, em consonância com a Carta Magna de 1988. 1.2.1.5 Lei das Eleições A Lei n. 9.504/1997 representa um significativo avanço prático na estrutura e dinâmica do Direito Eleitoral. Isso porque antes de sua promulgação eram redigidas leis próprias a cada eleição, o que não colaborava para a agilidade e eficiência da Justiça Eleitoral. Com o advento da Lei das Eleições, unificou-se em apenas um ordenamento normas de natureza material e processual, prevendo, assim, as regras atinentes ao registro de candidatos, as convenções partidárias, as coligações, a arrecadação, gastos e prestação de contas de campanha, as pesquisas eleitorais, as propagandas políticas, ao direito de resposta, as condutas vedadas, entre outras disposições de natureza material55. Acerca das disposições de natureza processual, Flávio Cheim Jorge, Ludgero Liberato e Marcelo Abelha Rodrigues, pontuam três disposições que merecem destaque: a primeira, refere-se ao tipo legal inserido no art. 41-A, intitulado 54 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 55. 55 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 56. 25 de “Captação Ilícita de Sufrágio”, que objetiva punir os candidatos que pretendam influenciar ilicitamente na livre escolha do eleitor, seja doando, oferecendo, prometendo ou entregando, ao eleitor, com o fim de obter seu voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza56. Em segundo lugar, chamam a atenção para o art. 73 e seguintes do mesmo diploma, o qual recebe a denominação “Das Condutas Vedadas aos Agentes Públicos em Campanhas Eleitorais”. Do mesmo modo como anda todo o ordenamento eleitoral, esta parte da LE cuidou de resguardar a máquina pública, impedindo que os candidatos a utilizem para sua autopromoção, contribuindo, assim, para uma disputa eleitoral mais equilibrada, pautada na isonomia entre os candidatos e na vedação ao abuso do poder político57. Além disso, a Lei n. 9.504/1997 estabeleceu um procedimento sumaríssimo e documental para penalizar o descumprimento das normas relativas ao pleito eleitoral, prevendo diversas minúcias que estão previstas a partir do art. 96 da Lei das Eleições58. 1.2.1.6 Normas Regulamentares: as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral As resoluções ou instruções são as normas emitidas no âmbito da Justiça Eleitoral, pelo Tribunal Superior Eleitoral, que detém o poder regulamentar para editar atos normativos, tratando de esmiuçar as leis eleitorais, conforme autorização legal prevista no art. 1º, parágrafo único, do Código Eleitoral, e art. 105, da Lei das Eleições59. As resoluções editadas pelo TSE se enquadram na classificação de fonte indireta, não obstante figurarem como uma das fontes de maior relevância na seara do Direito Eleitoral, haja vista que elucidam as lacunas da legislação eleitoralista. Tratam-se, na expressão de Roberto Moreira de Almeida, de normas editadas no 56 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 56-57. 57 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 57. 58 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 57. 59 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 66. 26 exercício de poder regulamentar, isto é, “secundum legem”60. Nesse viés, é de competência da Justiça Eleitoral a edição de atos que regulamentem as normas do CE/1965, sendo que, na hipótese de conflito entre resoluções ou instruções normativas e a CRFB/1988, por certo, prevalecerá a norma maior e aquelas de caráter infraconstitucional61. No ensinamento de Paulo Henrique dos Santos Lucon e José Marcelo Menezes Vigliar, as resoluções emitidas pelo TSE possuem força de Lei Ordinária, afirmando a autorização legal para a interposição de Recurso Especial Eleitoral em caso de sua violação. Ainda, destacam que eventual excesso de poder regulamentar pode justificar o controle de constitucionalidade do ato62. Na hipótese, indicam a jurisprudência consolidada nesse sentido: Art. 21, § 1º, do RISTF. Ausência de direito líquido e certo. Razões divergentes da jurisprudência da corte. Invocação de resoluções do TSE. Possibilidade. Partidos políticos. Norma do art. 6º, § 1º, da Lei nº 9.504/97. Arguição de inconstitucionalidade. Não cabimento. Agravo Regimental desprovido. As resoluções da Justiça Eleitoral, originadas das consultas formuladas aos seus tribunais, possuem forca normativa, servindo à aplicação do disposto no art. 21, § 1º, do RISTF. As regras constitucionais atinentes aos partidos políticos não se conflitam com o disposto no art. 6º, § 1º, da Lei nº 9.504/97. Agravo Regimental a que se nega provimento63. (Grifou-se). Portanto, as resoluções dos Tribunais Eleitorais constituem elemento fundamental para dirimir imprecisões na aplicação das normas jurídicas eleitoralistas e estabelecer limites e critérios para cada região64. 1.2.1.7 Aplicação subsidiária da legislação civil e penal ao Direito Eleitoral Assim como as instruçõesnormativas dos Tribunais Eleitorais, há outras 60 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 48. 61 LUCON, Paulo Henrique dos Santos; VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Código Eleitoral Interpretado. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 2. 62 LUCON, Paulo Henrique dos Santos; VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Código Eleitoral Interpretado. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 2. 63 AgRMS no 3119, j. 27/2/03, Rel. Min. Raphael de Barros Monteiro Filho, DJ 09/05/03, p. 165. 64 CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua; CERQUEIRA, Camila Medeiros de Albuquerque Pontes Luz de Pádua. Tratado de direito eleitoral: direito material eleitoral parte I. Tomo I. São Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 856. 27 legislações de aplicação indireta ou supletiva ao Direito Eleitoral, tais como os Códigos de Processo Civil e Penal e o Código Penal de 1940. A aplicação das normas processuais eleitorais encontra um grande desafio na lacuna da legislação. Na ausência de normas aptas a regulamentarem os procedimentos eleitorais, cabe aos operadores do direito a utilização de outros diplomas como norma de aplicação subsidiária. Nesse sentido, determinou o art. 364 do Código Eleitoral65, a aplicação supletiva do CPP ao Direito Eleitoral nos casos de julgamento de crimes eleitorais ou crimes comuns conexos, inclusive na fase de recursos e execução. Seguindo a mesma orientação, o CP/1940 já previa em seu art. 1266 a aplicação de suas regras gerais aos fatos tipificados como crime pela legislação especial67. Na seara cível, contudo, não houve a criação de nenhuma disposição que indicasse a aplicação subsidiária de dispositivos civis à procedimentos eleitorais. No tocante a isso, a doutrina é assente no sentido de que é possível extrair conceitos nucleares de seu ordenamento. Nesse viés, Roberto Moreira de Almeida afirma que: O Direito Civil fornece ao Direito Eleitoral, dentre outros, os conceitos de domicílio, pessoa física e jurídica, capacidade, responsabilidade, direitos de personalidade, decadência e prescrição. Também fixa graus de parentesco e regramentos para casamento, união estável e união homoafetiva [...]68. Ainda, Flávio Cheim Jorge, Ludgero Liberato e Marcelo Abelha Rodrigues fazem referência as mesmas definições trazidas pela legislação civil, acrescentando outras, quais sejam, os conceitos fundamentais de capacidade jurídica, nulidade, anulabilidade, dolo, fraude, coação, cônjuge, parentes consanguíneos, afins e adotivos com as graduações correspondentes69. 65 Art. 364. No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns que lhes forem conexos, assim como nos recursos e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á, como lei subsidiária ou supletiva, o Código de Processo Penal. BRASIL. Lei n. 4.737 de 15 de julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4737compilado.htm>. Acesso em: 29 mar. 2018. 66 Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 10 mai. 2018. 67 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 57. 68 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 47. 69 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito 28 No que tange à legislação processual civil, o recente CPC (Lei n. 13.105/2015) cuidou de contemplar em seu art. 1570 a hipótese de lacuna da lei processual eleitoral, dispondo que nestes casos, caberá a aplicação supletiva da norma processual civil71. Diante das diversas fontes normativas de que se utiliza o Direito Eleitoral, observa-se que a Carta Magna de 1988, além de prever a proteção jurídica à bens como os da dignidade da pessoa humana, vida e patrimônio, também cuidou de abranger a proteção penal sobre os bens jurídicos existentes no campo eleitoralista, são os denominados crimes eleitorais, que trataremos no capítulo posterior72. O próximo capítulo, assim, irá tratar das definições e classificações trazidas pela doutrina acerca dos crimes eleitorais, assim como cuidará da análise de alguns tipos penais eleitorais em espécie. eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 57. 70 Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 10 mai. 2018. 71 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 58. 72 GONÇALVES, Luiz Carlos dos Santos. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 2. 29 CAPÍTULO 2 CRIMES ELEITORAIS 2.1 CONCEITOS O Direito Penal Eleitoral, busca garantir a regularidade das eleições através da incriminação de condutas que ameacem a legitimidade do processo eleitoral e do voto livre, tudo com o escopo de blindar a democracia de práticas que afrontem seus princípios basilares73. São os denominados crimes eleitorais. Os crimes eleitorais são assim designados a fim de especificar a concepção do crime em geral, objetivando sobretudo a guarda de bens e valores político-eleitorais, de caráter eminentemente público e indispensáveis à legítima ocupação de cargos eletivos e, logo, para o regular exercício da democracia74. Na concepção de Marino Pazzaglini Filho e Maria Fernanda Pessatti de Toledo, a legislação eleitoral tipifica como crimes as transgressões a ordem eleitoral, consideradas como graves, praticadas mediante ação ou omissão dolosa, especialmente durante o transcurso do processo eleitoral, por candidatos, agentes públicos e demais eleitores envolvidos75. Em outras palavras, Antonio Carlos da Ponte aduz que: Crimes eleitorais são condutas descritas na lei como atentatórias à lisura, transparência, correta formação e desenvolvimento do processo eleitoral, que tem como resposta penal destinada a seus responsáveis a imposição da correspondente sanção penal, sem prejuízo da suspensão dos direitos políticos76. André Ramos Tavares apud obra intitulada “Ilícitos Eleitorais”, do Tribunal Superior Eleitoral, conceitua: 73 PAZZAGLINI FILHO, Marino; TOLEDO, Maria Fernanda Pessatti de. Eleições municipais. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 150. 74 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 2. 75 PAZZAGLINI FILHO, Marino; TOLEDO, Maria Fernanda Pessatti de. Eleições municipais. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 150. 76 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 32. 30 É a conduta, prevista expressamente em lei, cuja ocorrência acarreta a aplicação de sanção penal. Diz-se, tecnicamente, que essas condutas constituem tipos penais eleitorais. Os valores eleitorais constitucionais basilares, tais como a liberdade de votar, a igualdade, o sigilo do voto, a democracia, e outros,devem ser protegidos por meio da criminalização das condutas a eles contrárias. [...]77. Nesse sentido, resta considerar que os crimes eleitorais se caracterizam como infrações previamente descritas na legislação eleitoral, punidas criminalmente, que dizem respeito a todo o processo eleitoralista e aos indivíduos envolvidos nele. 2.2 NATUREZA JURÍDICA: CRIME COMUM OU CRIME POLÍTICO? A discussão acerca da natureza dos crimes eleitorais encontra grande relevância no contexto do Direito Penal Eleitoral. A respeito, debate-se sobre o seu enquadramento nas categorias de crime comum ou crime político. Na definição trazida pelo jurista Damásio de Jesus, os crimes comuns se caracterizam por lesar bens jurídicos do cidadão, da família ou da sociedade, ao passo que os crimes políticos atingem a segurança interna ou externa do Estado ou, ainda, a sua personalidade78. José Jairo Gomes conceitua os crimes comuns como aqueles que podem ser cometidos por qualquer pessoa. Com relação aos crimes políticos, se caracterizariam pelo seu objeto, qual seja, atingir a configuração político-ideológico- jurídica do Estado a fim de aniquilá-la ou substituí-la79. Ao nosso ver, competia a Constituição Federal a elucidação do conceito de crime político, no entanto, o Estado-legislador limitou-se a mencionar o termo em seus artigos 5ª, inciso LII (vedação da extradição), 109, inciso IV (competência do juiz federal para o julgamento de crime político) e 102, inciso II, alínea b (autorização para recurso ordinário perante o STF em caso de crime político). Diante do silêncio da Lei Maior é que o Supremo Tribunal Federal – STF passou a utilizar-se dos dispositivos da Lei de Segurança Nacional (Lei n. 7.170/1983) para estabelecer os 77 TAVARES, André Ramos. Crime de corrupção eleitoral. Guia das eleições. Belo Horizonte: Fórum, 2012. p. 36-37, apud BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Ilícitos Eleitorais. Brasília/DF, 2013, p. 7. 78 JESUS, Damásio de. Direito Penal. 32 ed. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 250. 79 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 6-7. 31 critérios identificadores do crime político. Nesse sentido, vejamos o teor parcial do mérito do julgamento do Recurso Criminal n. 1468, do Rio de Janeiro, que traça as linhas mestras da caracterização do crime político, in verbis: [...] 1. Como a Constituição não define crime político, cabe ao intérprete fazê-lo diante do caso concreto e da lei vigente. 2. Só há crime político quando presentes os pressupostos do artigo 2º da Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/82), ao qual se integram os do artigo 1º: a materialidade da conduta deve lesar real ou potencialmente ou expor a perigo de lesão a soberania nacional, de forma que, ainda que a conduta esteja tipificada no artigo 12 da LSN, é preciso que se lhe agregue a motivação política. Precedentes [...]80. (Grifou-se). Correntemente, com base na definição extraída da Lei n. 7.170/83, a doutrina se apropriou de dois critérios distintivos para os crimes políticos e comuns, a saber: o objetivo e o subjetivo81. Nesse viés, recente acórdão que compõe a jurisprudência da Corte Superior menciona os referidos critérios: PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ORDINÁRIO CRIMINAL. ART. 102, II, “B”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SABOTAGEM EM USINA HIDRELÉTRICA. ART. 15 DA LEI 7.170/83. MOTIVAÇÃO POLÍTICA. AUSÊNCIA. INAPLICABILIDADE DA LEI DE SEGURANÇA NACIONAL. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. CRIME COMUM. NÃO CONFIGURAÇÃO. CONDUTA ATÍPICA. RECURSO DESPROVIDO. 1. Crimes políticos, para os fins do artigo 102, II, b, da Constituição Federal, são aqueles dirigidos, subjetiva e objetivamente, de modo imediato, contra o Estado como unidade orgânica das instituições políticas e sociais e, por conseguinte, definidos na Lei de Segurança Nacional, presentes as disposições gerais estabelecidas nos artigos 1º e 2º do mesmo diploma legal. 2. “Da conjugação dos arts. 1º e 2º da Lei nº 7.170/83, extraem-se dois requisitos, de ordem subjetiva e objetiva: i) motivação e objetivos políticos do agente, e ii) lesão real ou potencial à integridade territorial, à soberania nacional, ao regime representativo e democrático, à Federação ou ao Estado de Direito. Precedentes” [...]82. (Grifou-se). De acordo com Damásio de Jesus, o critério objetivo leva em consideração o objeto jurídico tutelado, isto é, o ordenamento político do país, interessando para este critério, portanto, se o delito lesou ou expôs a perigo de dano o interesse jurídico estatal. Por outro lado, o critério subjetivo depende inteiramente da intenção do agente ao cometer o delito. Sendo assim, havendo interesse político, 80 STF – RC n. 1468/RJ – Tribunal Pleno – Rel. Min. Maurício Corrêa – Dj 16-8-2000. 81 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 55. 82 RC 1472, Tribunal Pleno, Rel. Min. Dias Toffoli, Rev. Ministro Luiz Fux, unânime, j. 25/05/2016. 32 existe crime político e, não havendo, haverá o crime comum83. Para Kimura “os crimes eleitorais [...] são políticos porque atentam contra o acesso e exercício do poder político e contra a organização do Estado”84. Na concepção de José Jairo Gomes, a afirmação pura de que um crime é político em razão de ofender o Estado é extremamente superficial, haja vista que qualquer crime leva a sociedade como sujeito passivo. Assim, considera que os crimes eleitorais possuem natureza de crime comum85. Ao oposto, Antonio Carlos da Costa defende uma terceira concepção denominada teoria objetivo-subjetiva, asseverando que “os crimes eleitorais puros ou específicos são crimes políticos, enquanto os delitos eleitorais acidentais são crimes comuns, detentores de características especiais e próprias”86. Ademais, resta-nos esclarecer que não há um consenso na doutrina com relação a natureza dos crimes eleitorais, em que pese o entendimento já consolidado pela Corte Superior, de que os crimes comuns são abrangidos a todos os tipos penais, inclusive aos delitos eleitorais, logo, possuem natureza de crime comum87. 2.3 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES ELEITORAIS As infrações eleitorais estão previstas desde a Constituição Federal de 1988, até os ordenamentos eleitoralistas brasileiros, a saber, no Código Eleitoral (Lei n. 4.737/1965), na Lei das Eleições (Lei n. 9.504/97), na Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar n. 64/90), além de diversas outras leis esparsas. Ainda assim, a legislação eleitoral não cuidou de classificar os crimes eleitorais de forma específica, apenas prevendo e destacando as principais condutas merecedoras da tutela penal. Em razão da ausência de classificação das leis, a doutrina vem buscando apresentar algumas classificações de acordo com cada figura típica eleitoral e o bem jurídico que se objetiva resguardar. 83 JESUS, Damásio de. Direito Penal. 32 ed. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 250. 84 KIMURA, Alexandre Issa. Manual de Direito Eleitoral. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 245. 85 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 9. 86 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 56. 87 REspe n. 16048, São Carlos, SP, Rel. Min. José Eduardo Alckmin, j. 16.3.2000. 33 2.3.1 Crimes puros ou específicos A designação de determinado crime eleitoral como crime puro ou específico advém da sua previsão exclusivamente eleitoralista. Os crimes assim denominados referem-se a matériatipicamente eleitoral, previstos, portanto, somente nas leis eleitorais88. Acerca do tema, José Jairo Gomes aponta que “chama-se puro o crime eleitoral em que a conduta é assim descrita tão só na legislação eleitoral, não encontrando correspondente na legislação penal comum”89. À título exemplificativo, temos o crime de boca de urna, tipificado no art. 39, § 5º, inciso II, da Lei n. 9.504/1997 (LE), o crime de inscrição fraudulenta de eleitor, previsto no art. 289 da Lei 4.737/1965 (CE/1965) e o crime de divulgação de fatos inverídicos na campanha eleitoral, mencionado no art. 323 do mesmo estatuto legal. 2.3.2 Crimes eleitorais acidentais ou inespecíficos Os delitos classificados como acidentais são assim designados por apresentarem previsão fora da normativa eleitoral, assim como em virtude de tutelarem outros bens jurídicos, em que pese sempre alcançando itens de interesse eleitoralista90. Na concepção de José Jairo Gomes, os crimes eleitorais inespecíficos não apresentam previsão exclusivamente na seara da tutela penal comum, mas seriam tipificados como crime tanto na legislação eleitoral quanto na legislação comum. Neste caso, destaca o autor, o delito somente será considerado eleitoral se o fato possuir características que ofendam, de fato, os bens jurídicos eleitorais91. Na mesma linha de pensamento assevera Antonio Carlos da Ponte que “os crimes 88 GONÇALVES, Luiz Carlos dos Santos. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 16. 89 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 12. 90 GONÇALVES, Luiz Carlos dos Santos. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 16. 91 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 12. 34 eleitorais acidentais são aqueles cujos bens, interesses e valores são protegidos tanto pela legislação penal quanto pela legislação eleitoral”92. Cita-se como exemplo para a presente classificação o delito de falsificação de documento público (previsto no art. 348 do CE/1965 e também no art. 297 do CP), assim como os crimes contra a honra cometidos durante o período de propaganda eleitoral (arts. 324 a 327 do CE/1965) e o crime de corrupção eleitoral (art. 299 do CE/1965). 2.4 CRIMES ELEITORAIS EM ESPÉCIE: PREVISÃO LEGAL Consoante já destacado no item 2.3, embora os crimes eleitorais estejam previstos majoritariamente no Código Eleitoral de 1965, existem infrações dispostas em diversas outras leis componentes do sistema eleitoral. No que concerne as disposições criminais específicas do Código Eleitoral, é importante lembrar que esta legislação foi promulgada sob a égide da Constituição de 1946, isto é, num contexto histórico-social completamente diverso do atual, razão pela qual muitas disposições foram extintas expressa, ou tacitamente, e, outras, simplesmente por não terem sido recepcionadas pela Carta Magna de 198893. O presente tópico busca relacionar os principais crimes eleitorais previstos no ordenamento jurídico brasileiro, com enfoque nas infrações mais recorrentes durante o período eleitoral, as quais caracterizam a corrupção que ocorre na democracia brasileira. 2.4.1 Captação ilícita de sufrágio (Art. 299 do Código Eleitoral e art. 41-A da Lei das Eleições) Seguindo as capitulações legais acerca da corrupção descritas no Código Penal94, o legislador eleitoral unificou os institutos da corrupção ativa e passiva, 92 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 65. 93 JORGE, Flávio Cheim; LIBERATO, Ludgero; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Curso de direito eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 54. 94 Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal 35 criando o tipo penal eleitoral previsto no art. 299 do CE/65, comumente denominado de corrupção eleitoral95. Com efeito, assim prevê o dispositivo em comento: Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita: [...]96. De plano, convém realçar que esse delito apresenta modalidade ativa e passiva. A corrupção eleitoral ativa se caracteriza pelos termos “dar, oferecer, prometer”. Nesta modalidade não é requisito que o sujeito ativo do delito seja o próprio candidato a determinado cargo eletivo, tendo em vista que qualquer pessoa pode praticar as condutas de dar, oferecer ou prometer vantagem indevida para o eleitor votar ou abster-se de votar em determinado candidato97. No que concerne à corrupção passiva (solicitar ou receber), há duas correntes acerca da definição do sujeito ativo. Antonio Carlos da Ponte acredita tratar-se de crime próprio, isto é, que “só pode ser praticado pelo eleitor”, admitindo, contudo, a coautoria e a participação de outros eleitores98. Em percepção contrária, José Jairo Gomes defende que esta interpretação é equivocada. De acordo com o autor: Na modalidade passiva, a solicitação ou o recebimento de vantagem também pode ser “para conseguir ou prometer abstenção”, conforme registrado no próprio tipo legal. Uma pessoa cujos direitos políticos estejam suspensos, portanto um não eleitor, pode solicitar ou receber vantagem ou benefício (para si, para outrem, para si e para outrem) para obter voto de terceiro ou para conseguir abstenção de outrem [...]99. Análogo ao tipo penal eleitoral previsto no art. 299 do Código Eleitoral, a Lei das Eleições estabeleceu em seu art. 41-A a tipificação da mesma conduta, vantagem: [...] BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 10 mai. 2018. 95 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva: 2016, p. 105. 96 BRASIL. Lei n. 4.737 de 15 de julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4737compilado.htm>. Acesso em: 29 mar. 2018. 97 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 53. 98 PONTE, Antonio Carlos da. Crimes eleitorais. 2 ed. São Paulo: Saraiva: 2016, p. 122. 99 GOMES, José Jairo. Crimes eleitorais e processo penal eleitoral. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 53-54. 36 contudo, criou um elemento temporal do tipo penal consistente no registro da candidatura100. A conduta do tipo penal eleitoral em análise reflete acerca de uma antiga realidade brasileira: a compra e venda de votos. A corrupção eleitoral ou captação ilícita de sufrágio ofende e ameaça a lisura e legitimidade do pleito eleitoral, contribuindo para que candidatos mal-intencionados cheguem à representatividade popular através de ações que tornam ilegítimos seus mandatos. 2.4.2 Condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral (Arts. 73 a 77 da Lei das Eleições) Consoante amplamente ressaltado até o momento, o objetivo primordial do Direito Eleitoral consiste na garantia da normalidade e legitimidade das eleições, de forma a promover o pleno exercício do direito ao sufrágio e, consequentemente, a
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