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AULA 3 - ARRANJOS ATÔMICOS Nota de aula retirada dos livros Materiais de Engenharia de Ângelo Fernando Padilha e Ciência e Engenharia dos Materiais – Uma Introdução de Willian Callister. Sites para consulta: http://www.matsceng.ohio-state.edu/mse205/lectures/chapter3/index_chap3.htm http://www.chem.ox.ac.uk/icl/heyes/structure_of_solids/Strucsol.html http://www.ndt- ed.org/EducationResources/CommunityCollege/Materials/Structure/solidstate.htm http://academic.pgcc.edu/~ssinex/struc_bond/structure_and_bonding.htm http://cst-www.nrl.navy.mil/lattice/ (mostra as várias estruturas, de vários materiais em perspectivas variadas) 1. INTRODUÇÃO A importância dos arranjos atômicos, para o estudo da tecnologia dos materiais, deve-se ao fato que eles determinam as propriedades que os materiais devem apresentar. Os arranjos atômicos são classificados em: Estruturas moleculares que apresentam um agrupamento de átomos. Este tipo de arranjo está presente nos materiais poliméricos; Estruturas cristalinas que apresentam um arranjo repetitivo de átomos, materiais metálicos, porém, podem aparecer nos materiais poliméricos e nos materiais cerâmicos; Estruturas amorfas que apresentam um arranjo sem nenhuma regularidade, sendo encontrada nos materiais cerâmicos. 2. TIPOS DE ESTRUTURAS (ARRANJOS ATÔMICOS) As propriedades dos materiais dependem do arranjo de seus átomos. Estes arranjos podem ser classificados em: Estruturas moleculares - agrupamentos de átomos. Estruturas cristalinas - arranjo repetitivo de átomos. 2.1. SÓLIDOS CRISTALINOS Uma substância pode ser considerada cristalina quando os átomos (ou moléculas) que a constitui estão dispostos segundo uma rede tridimensional bem definida e que é repetida por milhões de vezes, criando a chamada ordem de longo alcance. Como exemplo tem-se os metais e a maior parte dos materiais cerâmicos. 2.2. SÓLIDOS AMORFOS OU NÃO-CRISTALINOS Estes materiais, de forma geral, não apresentam regularidade na distribuição dos átomos, ou seja, não apresentam ordem de longo alcance e podem ser considerados como líquidos extremamente viscosos, sendo exemplos os vidros, piche e uma ampla variedade de polímeros. Da Figura 1 à Figura 4 são apresentadas as distribuições dos átomos em gases, líquidos, sólidos amorfos e em cristais respectivamente. Do lado direito das figuras são apresentados os gráficos das funções probabilidade de se encontrar um átomo em função da distância, W(r), para os quatro casos mencionados. A Figura 1 refere-se a um gás, nas condições normais de pressão e temperatura. Sabe- se que um gás contém cerca de 1019 átomos/cm3. A partir de uma determinada distância δ, denominada livre caminho médio, a probabilidade de se encontrar um átomo vizinho é constante. Figura 1: Distribuição dos átomos em um gás e sua respectiva função de distribuição em função do raio. A Figura 2 mostra a distribuição dos átomos num líquido. O líquido contém cerca de 1022 átomos/cm3. Observe que no caso dos líquidos existe uma posição r para a qual a probabilidade de se encontra outro átomo é máxima. Esta posição r é associada com a ordem de curto alcance. Figura 2: Distribuição dos átomos em um líquido e sua respectiva função de distribuição em função do raio. A Figura 3 mostra a distribuição atômica no caso de sólidos amorfos. A exemplo dos líquidos existe uma posição para a qual a probabilidade de se encontrar um átomo é máxima, também sendo associada esta probabilidade à ordem de curto alcance. Figura 3: Distribuição dos átomos em um sólido amorfo e sua respectiva função de distribuição em função do raio. A Figura 8 mostra a distribuição dos átomos para um sólido cristalino. Num cristal tem-se cerca de 1023 átomos/cm3. A função W(r) apresenta neste caso valores máximos para determinadas posições. Para as posições entre os máximos, a função W(r) se iguala a zero. Figura 4: Distribuição dos átomos em um sólido cristalino e sua respectiva função de distribuição em função do raio. Os materiais cristalinos apresentam uma propriedade denominada de anisotropia. A anisostropia indica que o material apresenta em suas direções espaciais as mesmas características em propriedades como, constantes elásticas, constantes ópticas, condutividade elétrica, condutividade térmica, dilatação térmica e até a reatividade química de suas superfícies depende da orientação cristalina. No caso dos materiais amorfos eles são normalmente isotrópicos, ou seja, podem possuir diferentes propriedades em função da posição espacial. Por exemplo, no caso de um compósito com fibra de vidro, ele tem uma deformação maior no sentido da força aplicada perpendicularmente à orientação das fibras em relação à força aplicada no sentido das fibras. 3. SISTEMAS CRISTALINOS O arranjo mais estável dos átomos em um cristal será aquele que minimiza a energia livre por unidade de volume, ou seja: preserva a neutralidade elétrica; satisfaz o caráter direcional das ligações covalentes; minimiza as repulsões íon-íon; agrupa os átomos de forma mais compacta possível. A grande maioria dos sólidos é cristalina. Os cristais encontrados naturalmente tiveram uma formação ou crescimento lento ao longo dos processos geológicos e são geralmente muito maiores do que aqueles produzidos artificialmente. Para se avaliar o grau de repetição em uma estrutura cristalina é necessário definir-se qual a unidade estrutural que esta sendo repetida. Esta unidade estrutural repetitiva é chamada de célula unitária. A célula unitária apresenta uma descrição completa da estrutura . Figura 5: À esquerda podem-se observar várias unidades estruturais que podem ser usadas para descrever uma estrutura cristalina, sendo a unidade mais simples chamada de célula unitária. À direita pode-se observar a geometria de célula unitária representada de forma tridimensional Auguste Bravais mostrou que os pontos do reticulado podem estar arranjados de 14 maneiras diferentes, nos denominados reticulados de Bravais que são formados por 7 sistemas diferentes, chamados sistemas de Bravais que podem ser vistos na Figura 6. Um reticulado espacial é um arranjo infinito, tridimensional, de pontos e no qual todo ponto tem a mesma vizinhança e se chama ponto do reticulado. É importante destacar que a cada ponto do reticulado pode estar associado mais de um átomo. Figura 6: Ilustração com os 14 reticulados de Bravais. Os reticulados da Figura 6 podem ser classificados em 5 tipos: primitivos (P), que apresentam pontos reticulares apenas nos vértices da célula; de corpo centrado (I), que apresentam pontos reticulares no interior da célula; de faces centradas (F), que apresentam pontos reticulares no centro das suas faces; de bases centradas (C),que apresentam pontos reticulares nas faces perpendiculares ao eixo c; romboédrico ou trigonal (R). Os diferentes tamanhos e formas dos reticulados da Figura 6 podem ser descritos em termos de até 3 parâmetros de reticulado ou de rede (a, b, c) e de até 3 ângulos (α, β, γ). A Tabela 1 apresenta os parâmetros de rede e os ângulos característicos para cada um dos 7 sistemas de Bravais. Tabela 1: Parâmetros e ângulo de rede para os 7 sistemas de Bravais. 3.1. ESTRUTURA CRISTALINA DOS METAIS Os átomos metálicos podem ser considerados como esferas rígidas. Sua grande maioria se cristaliza com estruturas cristalinas muito simples, conforme pode ser visto na Tabela 2. Existem vários casos de metais com estruturas mais complexas. Um exemplo é o urânio, que apresentaestrutura ortorrômbica. Outro extremo é o caso do polônio α, que se cristaliza com estrutura cúbica simples. Tabela 2: Estrutura cristalina para metais puros. Vários elementos apresentam no estado sólido diferentes estruturas cristalinas. A denominação para isto é alotropia. Quando o sólido é uma substância composta, a denominação habitualmente usada é polimorfismo. Estas mudanças de estruturas geralmente ocorrem em função de variações de temperatura e pressão. Elas causam variações de volume, e estes valores normalmente são altos para serem acomodadas elasticamente em um sólido cristalino produzindo no final uma deformação plástica (permanente). A Figura 7 apresenta as células unitárias cúbica de faces centradas e cúbica de corpo centrado respectivamente, supondo-se serem os átomos esferas rígidas. Se os parâmetros de rede das duas estruturas da Figura 7 forem conhecidos, isto é, determinados experimentalmente pode-se definir e determinar o raio dos átomos (r) ou raio atômico. Figura 7: À esquerda a célula unitária CFC e à direita a célula unitária CCC. Considerando-se a estrutura CFC, pode-se calcular o raio atômico por meio da diagonal da face do cubo, ou seja: ra 42 No caso da estrutura CCC,observe que tem-se 4 raios na diagonal do cubo, logo: ra 43 A estrutura cristalina da substância influencia diretamente sobre o valor do raio atômico e conseqüentemente sobre o parâmetro de rede. De forma geral, a vizinhança do átomo influencia diretamente sobre o raio e parâmetro de rede. Para um mesmo átomo, quanto maior for o número de vizinhos próximos maior será a força de repulsão entre os elétrons, aumentando o raio atômico. Ao número de vizinhos próximos ao átomo em uma estrutura da-se o nome de número de coordenação. No caso das estruturas CCC e CFC, tem-se 8 e 12 vizinhos respectivamente. Existem vazios entre as esferas. Estes vazios recebem o nome de interstícios. Considerando-se o volume da estrutura ocupado pelos átomos e o volume vazio dos interstícios, pode-se determinar o chamado grau de ocupação ou fator de empacotamento atômico – FEA, determinado por: célula da Volume célula da átomos dos Volume FEA No caso da estrutura CFC, o número de átomos que estão efetivamente em uma célula cúbica de face centrada é resultado da soma dos átomos presentes em seus vértices, mais aqueles localizados em suas faces ,logo Número de vértices = 8 Número de átomos por vértice = 1/8 Número de faces = 6 Número de átomos por face = 1/2 Número total de átomos = 8.1/8 + 6.1/2 = 4 Volume de 1 átomo 3. 3 4 rVA Volume total ocupado pelos átomos AV x célula na átomos de númeroATV 33 . 3 16 . 3 4 4 rrπ.VAT Volume da célula unitária, 216 2 4 3 3 3 r r aVC Fator de Empacotamento, 74,0 216 1 .. 3 16 3 3 r rFEA A Figura 8 ilustra um cristal com estrutura hexagonal compacta (HC) cujo o FEA é 0,74. Esta estrutura também pode se apresentar como simples, onde o FEA é 0,60. Para a estrutura HC compacta o empilhamento dos seus planos basais, ocorre com máxima densidade atômica. Observe que o empilhamento neste caso é do tipo ABABAB.... A estrutura CFC também pode ser obtida pelo empilhamento de seus planos mais compactos. Os planos mais compactos da estrutura CFC são aqueles que contêm as diagonais do cubo, conforme ilustra a Figura 9. Neste caso, a seqüência de empilhamento é do tipo ABCABCABC..... Figura 8: À esquerda um cristal com estrutura HC com arranjo dos átomos no reticulado e à direita a seqüência de empilhamento dos seus planos de máxima densidade atômica (planos basais). Os cristais com a estrutura HC compacta e estrutura CFC podem ser descritos pelo empilhamento de planos de máxima densidade atômica, pois os planos de máxima densidade atômica das duas estruturas são idênticos. A diferença é a seqüência de empilhamento. A estrutura CCC não apresenta planos de máxima densidade atômica, como às estruturas CFC e HC sendo este o motivo da descrição destes cristais por meio do empilhamento de planos cristalinos serem menos freqüente. A estrutura CCC (FEA é 0,68) também apresenta planos, que embora não sejam de máxima densidade atômica, apresentam maior densidade atômica que os outros. O empilhamento destes planos na seqüência ABABAB.... gerando a estrutura CCC. Figura 9: Modelo de um cristal com estrutura CFC. À esquerda o arranjo dos átomos no reticulado. Ao centro e direita a seqüência de empilhamento dos planos de máxima densidade atômica. 3.2. OS CRISTAIS IÔNICOS A ligação predominante na maioria dos materiais cerâmicos é a iônica. Suas estruturas cristalinas são compostas de íons ao invés de átomos eletricamente neutros, como no caso dos metais. Portanto, nos materiais cerâmicos iônicos, além do tamanho relativo dos cátions e ânions, deve-se ter neutralidade elétrica. O número de coordenação, que neste caso é o número de ânions envolvendo um cátion, depende da relação entre o raio iônico do cátion (rc) e o raio iônico do ânion (ra); rc/ra. A Tabela 3 relaciona o número de coordenação com a relação entre os raios dos cátions e dos ânions. Tabela 3: Raio atômico de alguns ânions e cátions Na Figura 10 é apresentado cloreto de césio (CsCl) que é um cristal iônico. Figura 10: Célula unitária cúbica simples do cloreto de césio (CsCl). Tomando-se os valores dos raios iônicos do Cs+ e do Cl- obtém-se para a relação rc/ra o valor 0,94. De acordo com a Tabela 4, o número de coordenação esperado é 8. Tabela 4: Número de coordenação em função da razão entre o raio do cátion e anion. Deve-se acentuar que a estrutura mostrada na Figura 10 é cúbica simples e não cúbica de corpo centrado, pois a estrutura é neste caso definida pelos ânions. Também observe na mesma Figura que o número de anions que rodeiam o cátion é 8. O segundo exemplo que será apresentado é o do cloreto de sódio (NaCl) ou sal gema. A relação entre o raio iônico do cátion e o raio iônico do ânion é neste caso 0,56. De acordo com a Tabela 4, o número de coordenação esperado é 6. A Figura 11 mostra a célula unitária do NaCl, onde pode-se notar que realmente 6 ânions rodeiam ou envolvem cada cátion. Figura 11: À esquerda a célula unitária cúbica de faces centradas do cloreto de sódio. À direita a célula unitária cúbica de faces centradas do BaTiO3. 3.3. OS CRISTAIS COVALENTES Numerosos materiais cerâmicos têm um determinado caráter covalente nas suas ligações químicas. Para alguns, principalmente nitretos e carbonetos, este caráter covalente é predominante. O exemplo mais familiar de cristal covalente é o diamante, em que cada átomo de carbono está ligado (por ligações covalentes) a quatro outros átomos de carbono, conforme ilustra a Figura 12. Outros elementos do grupo IV A da tabela periódica apresentam este tipo de estrutura: germânio, silício e estanho cinza. O carboneto de silício β (β - SiC ) é outro exemplo típico de cristal cerâmico predominantemente covalente. Na sua estrutura CFC, cada átomo de silício tem quatro átomos de carbono como vizinhos, e cada átomo de carbono têm também quatro átomos de silício como vizinhos, conforme ilustra a Figura 12. Figura 12: À esquerda e ao centro a estrutura cúbica do diamante. À direita a célula unitária cúbica de faces centradas do SiC. As regiões cristalinas dos termoplásticos também são constituídas de cristais covalentes. A Figura 13 apresenta a estrutura ortorrômbica do polietileno. Note que cada posição doreticulado é ocupada por vários átomos. Figura 13: Estrutura ortorrômbica do polietileno. 3.4. MATERIAIS POLICRISTALINOS A maior parte dos materiais são compostos por um conjunto de pequenos cristais ou grãos. Como a orientação cristalográfica é aleatória, o encontro de dois grãos forma uma superfície na qual existe um desarranjo atômico. Esta superfície é conhecida como contorno de grão . A Figura 14 mostra os estágios da solidificação apartir do estado líquido na formação de um material policristalino. Figura 14: Representação dos estágios de solidificação de um material policristalino. Acima e a esquerda a nucleação de cristais na fase líquida. Acima e a direita o crscimento dos cristais, com obstrução em regiões de fronteira. Abaixo e a esquerda o material solidificado e abaixo e a direita a estrutura de grãos onde as linhas escuras representam os contornos de grãos. Na Figura 15 pode-se visualizar o contorno de grãos em material metálicos. Figura 15: Microestrutura típica do aço com baixo teor de carbono. 3.5. QUASE-CRISTAIS Em meados da década de 1980, alguns pesquisadores observaram figuras de difração de elétrons com simetria icosagonal, ao analisar no microscópio eletrônico de transmissão, ligas alumínio manganês resfriadas ultra - rapidamente a partir do estado líquido. Estas figuras de difração causaram grande sensação no meio científico, pois este tipo de simetria não pode ser justificado com nenhum dos 14 reticulados de Bravais. Estudos mais detalhados mostraram que na verdade a figura de difração obtida pode ser explicada supondo-se que os átomos estão deslocados, com relação a uma estrutura cristalina “perfeita”, em uma condição de organização no espaço, intermediária entre um cristal e um sólido amorfo. Materiais nesta condição são atualmente denominados quase-cristais. A Figura 16 mostra um arranjo de um material quase- cristal. Figura 16: Arranjo dos átomos em um quase-cristal.
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