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CARTILHA SOBRE ETAPAS DO PROCESSO

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CARTILHA SOBRE ETAPAS DO 
PROCESSO DE CALEIRO E CURTIMENTO – COMING
Nesta cartilha apresentamos um breve relato sobre cada etapa de nossos processos, desde o remolho de um couro salgado, passando pela depilação e caleiro, desencalagem, píquel e curtimento para transformação da pele (material perecível) em couro (material estável e imputrescível).
ATENÇÃO: Manuseie produtos químicos sempre de maneira adequada, usando EPI’s para a prática e mantendo a atenção a cada movimento! Cuide de sua saúde!
REMOLHO
A etapa do remolho é fundamental para o bom andamento dos processos seguintes. O remolho, como o nome mesmo diz, tem a finalidade de reumectar as peles, devolvendo a água que estas perderam durante o período de salga. No remolho buscamos dar uniformidade ao lote, de forma que todas as peles tenham o mesmo nível de umidade e se tornem mais próximas possível de um “couro verde”.
No remolho é fundamental, portanto, que tenhamos nível de banho sempre acima do nível das peles, de forma que as mesmas tenham água de sobra para puxar.
É nesse processo que buscamos limpar a sujeira como esterco e sangue, além de extrair o sal do interior do corte. Para acelerar o remolho usamos produtos alcalinos (que elevam o pH) e tensoativo para permitir a entrada de água mais rapidamente para interior da pele, fazendo também um desengraxe na superfície dos pelos.
DEPILAÇÃO
Nesta etapa a intenção é a retirada total dos pelos e da camada mais superficial da pele, que se chama epiderme, ambos compostos por queratina e outras proteínas. Para isso utilizamos depilantes a base de enxofre. O volume de banho deve ser curto, apenas tendo o suficiente para diluição e distribuição dos produtos no fulão. Isso por que na depilação a ideia é evitar o inchamento das peles, o qual ocorreria com mais facilidade na presença de maior volume de banho. Além do mais, nessa etapa desejamos atrito entre as peles. Elas precisam esfregar uma na outra para que a ação de depilação seja facilitada e mais garantida. Muito banho faz com que o couro inche e o pelo seja cortado superficialmente, formando rugas e rufas.
Quando utilizamos reciclo de caleiro, para uma boa depilação é importante que este seja muito bem controlado no dia a dia. O reciclo em boas condições é fundamental para o padrão do processo. Um reciclo com muita gordura, denso ou com °Bé elevado, prejudica a depilação e os processos seguintes também são afetados.
CALEIRO
No caleiro, diferente da depilação, a ideia é inchar o couro através do afastamento das fibras (abertura) com um agente alcalino. Nesse momento a Cal Hidratada promove o afastamento das fibras, porém sem banho não há inchamento suficiente. Excesso de banho também não é um fator positivo, uma vez que dilui muito a concentração dos produtos. Assim sendo, temos que limitar um volume ideal para que a cal possa distribuir e fazer sua ação de maneira uniforme.
No caleiro não buscamos desengraxar as peles, somente abrir as fibras para facilitar os processos subsequentes. O caleiro é o alicerce, a base, do couro wet-blue. O processo de curtimento é muito dificultoso com um caleiro deficiente.
Assim como na depilação, o reciclo influencia muito nessa etapa. O °Bé elevado no reciclo exerce pressão sobre as peles e não deixa elas incharem. Consequentemente a abertura das fibras não se faz completa e isso acarreta em atrasos no atravessamento dos produtos das etapas seguintes.
DESENCALAGEM
A desencalagem é a etapa em que visamos retirar a cal utilizada no caleiro, para que posteriormente o cromo possa se fixar no local onde a cal estava ligada, ou seja, nas fibras. De toda cal que utilizamos no caleiro, apenas 33% se fixam no couro, o restante fica apenas depositado sobre as fibras, não tendo ligação química.
Desta forma a lavagem inicial se faz fundamental com bastante água. Temos que cobrir os couros para tirar toda aquela cal que não está ligada, o que proporciona uma economia nos produtos utilizados na desencalagem, afinal usa-se desencalante apenas para aquela parte de cal ligada quimicamente às fibras.
Após a lavagem inicial, quanto mais seco estiver o fulão para iniciarmos a desencalagem, melhor. Isso concentra o banho e, através da pressão pela reação, conseguimos extrair a cal mais rapidamente. Não se assuste, com ela sai a água que estava no couro. Afinal o couro inchou no caleiro com água. Só a cal não faria este trabalho completamente.
Controle final:
O ideal é finalizarmos a desencalagem em pH entre 8,5 a 9,5, de forma que abaixo disso estamos com indicação de produto ácido sobrando! Temperatura em torno de 32°C.
PURGA
Etapa em que desejamos realizar uma limpeza interfibrilar através da adição de enzimas pancreáticas. Para uma boa ação, de maneira uniforme, novamente aumentamos o volume de banho. A purga atua melhor em determinada faixa de pH e Temperatura. Portanto devemos procurar uma estabilização do pH em torno de 8,5 – 9,5 e uma temperatura na casa dos 34°C. Para isso continuamos o processo no mesmo banho da desencalagem, que já possui essas propriedades ao final da etapa. 
Controle final: pode-se realizar o controle do caimento dos couros (ver se estão macios, caídos) e também o teste da digital, apertando com o dedo sobre a flor e verificando se a digital fica marcada na pele.
LAVAGENS
Esta etapa é essencial para o restante do processo. Uma lavagem mal feita implica no consumo maior de ácido, pois existe a sobre de “cal” ou pH alcalino oriundo da desencalagem/purga. Além disso os sais de amônio geram um cheiro de podre se tiverem contato com o ácido, e este cheiro, sendo forte, pode permanecer até a montagem de um sofá, por exemplo.
Nas lavagens, o ideal é, inicialmente, esgotar ao máximo a purga, completar com água, deixar que a água tenha bom tempo de contato com os couros e depois esgotar bem, permitindo que a próxima repetição seja com o maior volume de água limpa possível.
Controle final: Volume de banho após esgotamento deve ser seco e não pode ter cheiro algum.
PÍQUEL/CONDICIONAMENTO
Atualmente trabalhamos com condicionamento das peles para o recebimento do cromo. Isso significa que não realizamos o atravessamento do ácido no corte do pele. O baixo volume de banho facilita para a etapa posterior, que é a de curtimento, concentrando o cromo ofertado. Nessa etapa ainda temos peles. Só chamaremos de Couro após a adição do Cromo.
Controle final: pH dentro da faixa indicada na formulação, corte com VBC indicando pH baixo na superfície da pele, temperatura sempre abaixo de 34°C.
CURTIMENTO
Realizado por meio da adição do cromo, a etapa de curtimento requer tempo determinado para que o curtente penetre no corte de maneira uniforme. Para isso é fundamental que todas as etapas que citamos até aqui sejam cumpridas da forma ideal. Para facilitar o atravessamento do cromo muitas coisas influencia. Além da qualidade do caleiro, o volume de banho, que deve ser curto, o controle da temperatura, o pH do meio, entre outros. Para couros em espessura integral isso tudo fica ainda mais notável. Os atrasos nessa etapa ocorrem devido a qualquer deslize nas etapas anteriores, os quais devem ser apurados e controlados justamente para que não se tenha essa dificuldade.
Controles finais: pH conforme indicado em fórmula, corte 100% atravessado e temperatura na casa dos 34°C – 36°C. Acima disso a temperatura pode afetar a qualidade da basificação.
MASCARAMENTO/NEUTRALIZAÇÃO
A neutralização da acidez ocorre por meio de agentes alcalinos. Muito utilizado para a produção de couros wet-blue, o Formiato de Sódio é capaz de igualizar e garantir uma distribuição uniforme do cromo no lote. Para isso é interessante que desde então o processo passe a ser trabalhado em maior volume de banho (cerca de um palmo acima dos couros). É indicado que se use após o completo atravessamento do cromo em couros de espessura integral, pois com a elevação do pH através de sua utilização, o atravessamento é prejudicado para couros dessa espessura.
BASIFICAÇÃO
A basificação é a etapa que visa fixaro cromo nas fibras do couro por meio da elevação do pH. O Cromo passa a se fixar com pH acima de 3,2 e é para isso que utilizamos o basificante. É fundamental a presença de banho para que o basificante não tenha contato direto com o couro, diminuindo riscos de manchamentos por reatividade, e permitindo que os couros fiquem com tonalidade mais igualizada através de uma boa distribuição. O basificante é um produto de difícil dissolução. Para dissolver ele mais facilmente elevamos a temperatura, porém isso merece certos cuidados, pois o aquecimento não pode ser rápido. O rápido aquecimento dissolve o basificante mais rapidamente e com isso ele se torna mais fino, fazendo com que a reação ocorra superficialmente nos couros. Isso causa o esverdeamento. A basificação precisa penetrar no corte, assim como o cromo, por isso é um processo que demanda de tempo para estar completo. Com o aquecimento o tamanho da molécula do cromo é expandido e através disso os couros tem certo enchimento.
Controles finais: temperatura em torno de 48°C garante uma melhor fixação do curtente propiciando resistência a altas temperaturas. pH deve estar entre 3,6 – 3,8. Com os processos de basificação mais rápidos atualmente, é arriscado terminar o processo com pH mais elevado. Antigamente, com maior tempo, o basificante dissolvia mais e podíamos finalizar processos até em torno de pH4,0.
TESTE DE RETRAÇÃO
Esse teste comprova se o couro está bem curtido. Como é o Cromo que possibilita que o couro tenha resistência à altas temperaturas, conferindo maciez e elasticidade, submetemos amostras do final do processo à elevada temperatura durante tempo pré-determinado. Se o Cromo estiver bem fixado ele protege a fibra e ela não encolhe. Caso contrário, se pelos mais variados motivos citados aqui ele não estiver fixado de maneira ideal, os couros irão retrair. O teste para couro integral deve ser realizado durante pelo menos 2 min em água previamente fervida. Para couros divididos, dependendo da espessura, cerca de 1min em água fervente já indicam a qualidade do produto.

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