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PRÁTICA CIVIL - Ação de Anulação de Negócio Jurídico

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE CURITIBA - PARANÁ
JUSTIÇA GRATUITA
ROBERTO RAMALHO, brasileiro, solteiro, empresário, inscrito no RG e CPF, residente e domiciliado na Rua, n., Bairro, Cruzeiro do Sul/PR, CEP, endereço eletrônico, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, através de seu(s) advogado(s), com procuração em anexo, com escritório profissional na Rua, n., Bairro, Município, propor a presente
AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO 
Pelo rito comum em face de DENILSON CUNHA, nacionalidade, estado civil, profissão, inscrito no RG e CPF, residente e domiciliado na Estrada das Conchas, n. 561, Bairro, Curitiba/PR, CEP, endereço eletrônico, pelos fundamentos fáticos e jurídicos que seguem:
DA JUSTIÇA GRATUITA
Preliminarmente, sejam concedidos os benefícios da justiça gratuita nos termos da Lei 1060/50 e artigo 98 do Código de Processo Civil, por não possuir meios capazes de suportar as despesas de um processo judicial sem prejuízo próprio ou de sua família, segue em anexo a declaração de hipossuficiência.
DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO 
Conforme o art. 319, VII do NCPC, o autor pode optar pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. Assim dispõe:
Art. 319. A petição inicial indicará:
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.
Assim, diante do silêncio da parte autora, presume-se pela opção da realização da audiência de conciliação ou de mediação.
DOS FATOS
	Há exatos 2 anos, o autor resolveu fazer um cruzeiro marítimo.
Durante o passeio, após uma grande tempestade, o navio afundou. O autor, prestes a se afogar, e antes de desmaiar, percebeu que alguém o enlaçara pela cintura, evitando assim que ele se afogasse.
 
Ao recobrar os sentidos, numa ilha próxima ao local do naufrágio, o autor encontrou ao seu lado um dos marinheiros do navio: o requerido. Assim, entendeu que o requerido tinha sido a pessoa responsável pelo seu salvamento.
Logo depois, os dois foram resgatados e o autor, ao retornar para casa, doou um imóvel localizado na Estrada das Conchas, n. 561, em Curitiba, no valor de R$350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais) como agradecimento ao requerido que muito comovido, aceitou a doação, passando a residir no local com sua mulher.
Na semana passada, o autor foi visitar o requerido que, após a ingestão de bebida alcoólica, já em estado de embriaguez, confessou que não foi ele quem fizera o salvamento do autor, sendo o verdadeiro salvador outro marinheiro, chamado Paulo José da Silva.
 
Indignado, o autor disse ao requerido que queria desfazer a doação. No entanto, o requerido disse que não devolveria o imóvel, pois muito embora não tenha feito seu salvamento, não pediu nada ao autor, e que se por engano o autor resolveu presenteá-lo, não poderia requerer o imóvel de volta.
Assim, pelos motivos acima expostos, o autor vem requerer a anulação do negócio jurídico celebrado com a parte ré, decorrente do erro cometido.
DO DIREITO
Conforme demonstrado nos fatos, o autor doou um imóvel para o requerido como recompensa, pois pensava que ele o havia salvado de um naufrágio ocorrido em um cruzeiro marítimo.
 
Ocorre que, não foi o requerido quem salvou o autor. Mas, o autor, pensando que o requerido era seu salvador, lhe doou um imóvel como recompensa.
Assim, nota-se que no contrato celebrado entre as partes, há um vício de consentimento: o Erro Substancial. Prevê o art.139, II do Código Civil:
Art. 139. O erro é substancial quando:
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
O Erro Substancial (ou essencial) diz respeito à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira à declaração da vontade, ERROR IN PERSONA, desde que tenha influído nesta de modo relevante.
Assim, sobre o Erro Substancial leciona Carlos Roberto Gonçalves : 
“erro substancial ou essencial é o que recai sobre circunstâncias e aspectos relevantes do negócio. Há de ser causa determinante, ou seja, se conhecida à realidade o negócio não seria celebrado”.( GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2005.)
E também, Silvio Rodrigues: 
"Erro é a ideia falsa da realidade, capaz de conduzir o declarante a manifestar sua vontade de maneira diversa da que manifestaria se porventura melhor a conhecesse (...) Diz a lei serem anuláveis os atos jurídicos quando as declarações da vontade emanarem de erro substancial. Conforme define a doutrina, erro substancial é aquele de tal importância que, se fosse conhecida a verdade, o consentimento não se externaria". (Direito Civil – Parte Geral, vol I. São Paulo: Saraiva, 2003, fls. 187/188).
Diante do ilustrado, resta evidenciado que o negócio jurídico celebrado entre as partes, apenas se estabeleceu decorrente do erro substancial ocorrido em relação ao salvador, fato que impõe o reconhecimento da invalidade do negócio jurídico, conforme os art. 138 e 171 do Código Civil:
 
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
	
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
Neste sentido, vem decidindo o egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, in verbis:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. AQUISIÇÃO DE COLCHÃO "REVITALIZADOR CORPORAL PHYSICAL REST". CONSUMIDORA IDOSA E ANALFABETA. RECURSO DA RÉ. ALEGAÇÃO DE DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO. LAPSO TEMPORAL NÃO CONSUMADO. CONDUTA ABUSIVA E ILÍCITA DO VENDEDOR. PRESTAÇÕES EM VALOR SUPERIOR AO CONTRATADO E PROMESSAS DE BENEFÍCIO CURATIVO DO PRODUTO. INSCRIÇÃO NO CADASTRO DE INADIMPLENTES. INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANOS MORAIS FIXADA EM R$ 5.000,00. MANTIDA. RESPEITO AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. 1. "São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio" (art. 138, CC). 2. "São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa" (art. 145, CC). 3. "É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: [...] II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico" (art. 178, CC). 4. Configura ato ilícito ludibriar consumidor, idoso e analfabeto, a adquirir mercadoria, encaminhando posteriormente boletos de cobrança com valores diversos ao contratado, e, por fim, inscrevê-lo no cadastro de inadimplentes, fato que gera o dever de indenizar pelo abalo moral ocasionado. 5. "O valor da indenização do dano moral deve ser arbitrado pelo juiz com base nas peculiaridades da espécie e razoabilidade, de maneira a servir, por um lado, de lenitivo para a dor psíquica sofrida pelo lesado, sem importar a ele enriquecimento sem causa ou estímulo ao abalo suportado; e, por outro lado, deve desempenhar uma função pedagógica e uma séria reprimenda ao ofensor, a fim de evitar a recidiva" (Apelação cível n. 2006.024252-7, rel. Des. Luiz Carlos Freyesleben). Recurso conhecido e desprovido. (TJSC, Apelação Cível n. 2011.012658-0, de Ponte Serrada, rel. Des. Luiz Zanelato, j. 19-07-2012).
Por fim, restando claro que o autor somente celebrou o negócio jurídico, devido o erro substancial ocorrido, requer que seja declarada a anulação do negócio jurídico.
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
a) que sejam concedidos os benefícios da justiça gratuita, ante a declaração de hipossuficiênciae comprovante de renda em anexo.
b) seja designada a audiência de conciliação ou mediação;
c) a citação do requerido através de AR, para, querendo, responder nos termos da presente ação, sob pena de revelia e confissão;
c) a procedência total da demanda, declarando a anulação do negócio jurídico praticado em decorrência do erro substancial; 
d) a expedição de ofício ao Registro de Imóveis de Curitiba, para que seja feita a anotação de litígio na matrícula do imóvel;
e) a condenação do requerido ao pagamento de custas e honorários advocatícios no percentual de 20%, em caso de ingresso em segundo grau de jurisdição;
f) produção de todo o tipo de prova em direito admitida, em especial a prova testemunhal, cujo rol segue abaixo:
 - Paulo José da Silva
Dá-se a causa o valor de R$ 350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais).
Nesses termos,
 Pede Deferimento
Cidade, Dia, Mês Ano.
Advogado
OAB/Estado

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